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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Os Intelectuais, de Paul Johnson - resumido e comentado por Carlos U. Pozzobon

Longo, mas apetitoso. Recomendo ir até o final, pois sobra para o próprio autor (aliás desde antes neste excelente resumo comentado).
Paulo Roberto de Almeida

Blog Resumo de livros, de Carlos U. Pozzobon, neste link:
http://carlosupozzobon.blogspot.com.br/2011/10/os-intelectuais-paul-johnson-harper-row.html

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Os Intelectuais

Rosseau
Shelley
Marx
Ibsen
Tolstoi
Hemingway, Brecht, Sartre e outros
Paul Johnson tem eventualmente publicado artigos nos jornais brasileiros e é mais conhecido como jornalista, historiador free-lancer e escritor britânico. Nascido em 1928, de origem católica, estudou em escola de jesuítas e depois em Oxford, antes de iniciar sua carreira na Europa onde viveu alguns anos antes de retornar a Londres e atuar em diversos jornais ao longo de sua carreira.
Seu livro Intellectuals foi muito apreciado e recebeu uma tradução brasileira. A razão para escrevê-lo está vinculada a sua biografia. Adepto do socialismo moderado, Johnson iniciou sua carreira na esquerda trabalhista britânica. Mudou de posição mais tarde, quando se convenceu do mal causado pelo sindicalismo na estagnação da economia britânica dos anos 70. A partir de então, tornou-se um aliado de Margareth Thatcher (servindo em seu governo), e sua popularidade lhe garantiu sucesso editorial nos cerca de 40 livros que escreveu em sua carreira.
Intellectuals trata de um conjunto de biografias, com 20-30 páginas cada, de escritores relevantes no mundo das ideias dos últimos 300 anos. Inicia com Rousseau, depois Shelley, Marx, Ibsen, Tolstoi, Hemingway, Brecht, Russell, Sartre, Edmundo Wilson, e os menos conhecidos Victor Gollancz, Lillian Hellman, e diversos outros escritores citados no último capítulo, como James Baldwin.
Pode-se descrever o método de Johnson como uma investigação através da mente do escritor, suas relações familiares, afetivas e sexuais como determinantes de sua obra relativamente ao momento histórico de sua vida, característico do método psicanalítico. Através do entendimento da infância, das relações com os pais e da formação escolar na adolescência, Johnson obtém os determinantes da personalidade que definiram o escritor e sua época. Sua descoberta mais impressionante está na similaridade do temperamento entre Rousseau, Shelley, Marx, Tolstoi e outros. Em todos eles, os traços comuns identificam o mesmo tipo de consciência atormentada.
Mas sua investigação não se reduz a isso. Johnson também analisa a veracidade dos dados propostos pelo escritor em sua obra, com documentos e estatísticas de seu tempo, revelando a verdadeira natureza das propostas e objetivos perseguidos pelo autor em sua vida. Obra e vida são, portanto, duas coisas separadas e antinômicas, uma dialógica, como dizem os críticos literários. Perseguindo este princípio dialógico, Johnson acabou nos revelando as contradições, o sentimento de culpa, o comportamento anti-social e inescrupuloso desses autores com relação à imagem que produziam de si mesmos. Assim, Marx, Ibsen, Tolstoi e James Baldwin não pagavam as dívidas que contraíam dos amigos, e não se importavam com isso, achando que seu gênio era o suficiente para que os outros lhes reverenciassem com a sua ‘ajuda’.
Mas ainda faltou alguma coisa no julgamento de Johnson: a ausência de compreensão do espírito artístico e das inconsistências e contradições da mente do artista com relação a sua própria obra. Se Johnson não tivesse se limitado a autores clássicos, e tivesse tentado penetrar nas incoerências de poetas e pintores da avangarde, veria que a obra de arte está irremediavelmente comprometida com problemas mentais que vão da esquizofrenia à paranóia, da irridência à violência intelectual, da presunção à delinquência, da dissidência ao ostracismo. Essa compreensão o faria aceitar com condescendência o caráter atormentado e abusivo do artista, seu radicalismo estéril e seu egoísmo incontrolável, e não como aberrações limitantes e moralmente condenáveis do caráter. Ao não entender que a contradição é a alma do artista, sua vontade um imperativo de criatividade, e a obra uma condição do próprio artista, Johnson se coloca em um campo de distanciamento que acaba por separar o artista de sua obra. Assim, nas descrições e diálogos da psicologia da personagem, ele percebe detalhes extraordinariamente belos, mas não vê que o tumulto interior do artista age como a argila que dará forma àquela beleza. E termina condenando as incoerências das posições políticas e existenciais. Vejamos alguns casos de Johnson para voltar a esta discussão no final deste ensaio.

Rousseau (1712-1778)

Johnson faz uma dissecação do caráter e das posições de Rousseau. A inquietação de Rousseau levava-o a desconfiar do progresso gradual do Iluminismo: em vez disso, queria uma solução mais radical (p. 3).
“Como parte de sua técnica de garantir publicidade, atenção e favores, ele fazia de uma virtude positiva um dos mais repelentes vícios: a ingratidão... Enquanto professava a espontaneidade, ele era de fato um calculista; e como propagandeasse que era o mais moral dos seres humanos, seguia-se que os outros eram logicamente até mais calculistas, e por piores motivos que ele. Daí que em qualquer relação com os outros ele achava que sempre queriam tirar vantagens, e seu comportamento de homem superior era o de simplesmente superá-los. Ele só queria ganhar dos outros. Por causa de sua natureza ímpar, quem o ajudasse estava de fato fazendo um favor a si mesmo (p. 12)”
O egoísmo não tinha limites na personalidade de Rousseau, a ponto de achar que um homem de sua inteligência não poderia criar filhos. Deixando-os em um Orfanato, Rousseau se identificava com a República de Platão, onde as crianças seriam mais virtuosas se educadas e criadas pelo Estado, uma concepção fascista dos tempos antigos, totalmente repelida pela cristandade. Mas esta crueldade foi a raiz do seu totalitarismo incipiente, revelado através de sua posição a favor da educação pública.
Rousseau estando intimamente relacionado com o início do Romantismo, achava que a natureza tinha precedência na vida humana, criando aforismos que marcaram profundamente as próximas gerações, tais como ‘os frutos da terra pertencem a todos nós, e a terra mesma a ninguém’. ‘O homem nasceu livre e em toda a parte encontra-se acorrentado’.
“Rousseau queria substituir a sociedade existente por algo totalmente diferente e essencialmente igualitário; mas, feito isso, a desordem revolucionária não deveria ser permitida. Os ricos e privilegiados, com a força da ordem, seriam substituídos pelo Estado, corporificando a Vontade Geral, ao qual todos deveriam obedecer. Esta obediência tornar-se-ia instintiva e voluntária, uma vez que o Estado, por um processo sistemático de engenharia cultural, deveria inculcar a virtude em todos. O Estado era o pai, a pátria e todos seus cidadãos eram crianças do orfanato paternal (p. 24) ”.
A Vontade Geral em Rousseau era uma premonição antecipada do leninismo e sua teoria do centralismo democrático.
“Leis elaboradas pela Vontade Geral devem, por definição, ter uma autoridade moral. ‘As pessoas que fazem leis para si mesmas não podem ser injustas’. ‘A Vontade Geral está sempre correta’. Considerando que o Estado é ‘bem-intencionado’, a interpretação da Vontade Geral pode ser seguramente deixada a seus líderes uma vez que eles sabem bem que a Vontade Geral sempre favorece a decisão mais apropriada ao interesse público (p. 24) ”.
Johnson percebeu que as ideias germinativas da Vontade Geral em Rousseau seriam mais tarde substituídas pela Ditadura do Proletariado, ou por neologismos criados pelos movimentos revolucionários, e conclui:
“o Estado de Rousseau não é só autoritário: ele é também totalitário, uma vez que ele ordena todos os aspectos da atividade humana, incluindo o pensamento. Sob o Contrato Social, o indivíduo deveria alienar-se com todos os seus direitos, ao conjunto da comunidade (p. 25)”.
Esta doutrina antecipou Mussolini em 150 anos:“Tudo com o Estado, nada fora do Estado, nenhuma coisa contra o Estado”.
Em essência, a submissão do indivíduo ao Estado seria feita pela educação. O indivíduo seria a criança e o Estado o pai.
A aceitação das ideias de Rousseau provinha do fato de que ele se propagandeasse o homem mais virtuoso do seu século. Ele não seria importante se sua fama não caísse como uma luva no acontecimento histórico mais importante após a sua morte: a Revolução Francesa, que em busca de inspiração, tornou Rousseau seu herói e guia: o patrono do radicalismo do Estado de Terror.
Mas o que Johnson nos mostra através da pesquisa com diversos escritores que estudaram a vida e a personalidade de Rousseau? Diderot, seu contemporâneo e com quem conviveu durante muito tempo, considerou-o um “patife, vão como Satã, ingrato, cruel, hipócrita e cheio de malícia”. Para Voltaire, outro contemporâneo, Rousseau era “um monstro de vaidade e vileza”.

Shelley (1792 – 1822)

Foi um dos poetas que renovaram a língua inglesa no século XIX, juntamente com Byron e Keats. Shelley era um porra-louca consumado. Como Rousseau, ele estabeleceu que o propósito da virtude deveria ser compatível com a natureza.
“Seu ensaio A Defence of Poetry tornou-se a declaração mais influente da missão social da literatura desde a antiguidade (p. 28)”.
Enquanto aluno de Oxford, sua personalidade provocativa e irrequieta levou-o a escrever um panfleto em defesa do ateísmo. Para a Inglaterra vitoriana, isso foi um escândalo abominável. Não contente com suas ideias, Shelley enviou o panfleto a nada menos que as próprias autoridades universitárias, o que lhe causou a expulsão da escola e uma terrível discussão com o pai e a família. Para evitar o colapso da proteção paterna (Shelley era filho de uma família abastada), tentou conseguir o apoio de sua mãe e depois de sua irmã, mas foi rejeitado pelo seu radicalismo. Um amigo seu chamado Hunt, a quem Paul Johnson considerava desonesto, tentou persuadir o poeta que os homens de ideias avançadas como eles não tinham a necessidade moral de pagar suas dívidas: o trabalho em prol da humanidade era suficiente em si mesmo (p. 46).
Este caráter saqueador haveria de fazer sucesso no Brasil em todos os tempos, mas se tornou especialmente notável na ideologia do revolucionário, cujo espírito o predispõe a justificar erros pessoais em favor de uma grande causa. Fator determinante dos tempos modernos, essa predisposição acentuada e constante constitui uma psicopatia revolucionária. De fato, a principal característica do indivíduo que constrói em seu imaginário uma grande causa que se propõe redentora da humanidade, independentemente do nome que venha a assumir, reflete-se no relaxamento moral para com as pequenas coisas do cotidiano e nas relações pessoais mais próximas. Tudo se passa como se uma grande causa em abstrato, justificasse pequenas trapaças em concreto.
Shelley tinha esse caráter irascível de querer transformar toda a sociedade e, para isso, acabar até mesmo com a religião. Este inconformismo exasperado, entretanto, não o levou a pregar a violência. Ao contrário, durante muito tempo Shelley se mostrou simpático a ideias de não violência, uma vez que seu temperamento não era voltado para a ação. Ele não tinha o caráter revolucionário de Byron – se restringia à agitação intelectual. Teve um fim trágico na Itália. Morreu pouco antes de completar 30 anos, quando seu barco afundou próximo ao litoral de La Spezia.

Karl Marx (1818 – 1883)

Considero o principal ensaio de Johnson sobre a relação do intelectual com a personalidade abusiva. A vida pessoal de Marx foi completamente contraditória com suas postulações intelectuais. Seu ódio ao capitalismo e aos judeus tem início no seu período estudantil, quando contraiu empréstimos com juros altos, e se prolonga por toda a vida. Em Marx, a predisposição para o ódio estava intimamente relacionada com o desejo de poder. Mais que um iconoclasta, Marx queria revirar a sociedade e não mediu esforços durante toda a sua vida para a consecução deste ideal.
A primeira coisa chocante em Marx é sua desonestidade intelectual. Marx queria criar uma filosofia que fosse científica – expressão que começou a ser usada no século XIX para os fenômenos da natureza, e que Marx incorporou fraudulentamente.
“Ele e seu trabalho não eram científicos. Ele sentiu que tinha descoberto uma explicação científica para o comportamento humano na história, semelhante ao de Darwin na teoria da evolução. A noção de que o marxismo é uma ciência, de uma forma que nenhuma outra filosofia jamais poderia ser, foi implantada como uma doutrina pública nos estados que seus seguidores fundaram de tal forma que ela colore os ensinamentos de todos os assuntos em suas escolas e universidades (p. 61)”.
Mas por mais que seus seguidores chamassem suas doutrinas de científicas, elas não passavam de uma escabrosa coleção de dados destinados a ocultar a verdade. Começando com a situação da classe operária na Inglaterra. Em um ensaio assinado por Engels, Marx se associa na descrição da vida dos operários nas fábricas em 1858, com dados de 1818 (portanto 40 anos depois), e ainda anteriores a uma lei de 1823, que criava inspeções governamentais e exigia condições sanitárias adequadas no ambiente de trabalho. Sua descrição da exploração impiedosa da classe operária não era encontrada no ambiente industrial, mas em alguns setores ainda atrasados da economia, como em padarias, olarias e confecções familiares e estabelecimentos do interior.
Uma das coisas decepcionantes em Marx foi a descoberta de que ele nunca entrou em uma indústria, nunca esteve envolvido com o ambiente de trabalho e sequer se arriscou a entrar em uma mina de carvão. E trabalhando com dados estatísticos, sua atitude era completamente anti-científica para um arauto do socialismo científico. Ele simplesmente ignorava os dados que contradissessem sua teoria já formada: a de que a expansão do capitalismo seria o seu próprio fim. Marx via no aumento e concentração do capital a causa de mais pobreza que, por sua vez, levaria à revolução que iria acabar com o capitalismo. A história mostrou que ocorreu exatamente o contrário, mas não depois da morte de Marx, porém durante seu próprio tempo. Em 1860, sob o capitalismo, os operários já tinham condições de vida bem melhores do que meio século antes.
Engels havia tentado provar que as condições de vida no século XVIII eram melhores do que na revolução industrial no século XIX, quando de fato eram piores. E a revolução industrial, ao dar emprego a milhares de camponeses expulsos da terra, foi uma tábua de salvação para eles.
Autoritário, Marx desprezava as conquistas graduais dos trabalhadores, e frequentemente insultava líderes operários que mostravam as melhorias obtidas por suas reivindicações e movimentos grevistas. Foi o caso de sua discussão com Lassalle, um líder judeu importante na social-democracia alemã de seu tempo. Da mesma forma com Proudhon, a quem acusou no ‘Miséria da Filosofia’ de infantilismo e de grosseira ignorância para com a economia. Um líder alemão, que havia se transladado para os EUA, chamado Hermann Kriege, e de lá havia proposto uma reforma agrária com a distribuição de 160 acres para cada agricultor acendeu a chama da ira de Marx, que desconhecendo totalmente a situação nos EUA, denunciou que eles podiam ser recrutados na base da promessa de terra, mas uma vez que a sociedade comunista se estabelecesse, a terra seria explorada coletivamente.
Sua visão messiânica do proletariado como o redentor da humanidade, sua presunção de ter descoberto as leis da história, o destino da humanidade, fizeram-no progredir cada vez mais em seus erros. Descartando tudo o que não se adequava aos seus propósitos, ele chegou a misturar messianismo com política. Um de seus críticos, o filósofo Karl Jasper, observou:
“O estilo dos textos de Marx não é a de um investigador... ele não cita exemplos ou fatos que possam ir contra a sua teoria, mas somente aqueles que claramente suportam ou confirmam aquilo que ele considera a verdade derradeira. A abordagem geral é a de justificação, não de investigação, porém é a justificação de alguma coisa proclamada como a verdade perfeita com a convicção não de um cientista, mas de um crente (p. 62)”.
“Marx é o caso do teórico cujas motivações não são o amor pela verdade, a busca do conhecimento per se. Ao contrário, seu trabalho é consequência de sua personalidade: seu apreço pela violência, seu apetite pelo poder, sua inabilidade em lidar com o dinheiro (p. 69)”.
Seu estilo de vida boêmio, indiferente aos outros, vivendo de empréstimos nunca quitados, levou-o a uma vida familiar repleta de dissabores. Sua própria mãe chegou a recusar-se a pagar suas dívidas, reduzindo suas relações ao mínimo.
“É atribuída a ela a observação amarga de que ‘Karl deveria se preocupar mais em acumular capital em vez de apenas escrever sobre ele’ (p. 74)“.
Johnson, por fim, desmascara a maior parte dos aforismos que tornaram Marx famoso: ‘os trabalhadores não têm um país’; ‘os proletários não têm nada a perder senão seus grilhões’ (Marat); ‘a religião é o ópio do povo’ (Heine); ‘a cada um conforme suas habilidades, a todos conforme suas necessidades’ (Louis Blanc); ‘trabalhadores de todos os países, uni-vos’ (Karl Schapper); e por fim a ‘ditadura do proletariado’ (Blanqui). Mas Marx foi capaz de produzir seus próprios aforismos como: “a ideia dominante de uma época é a ideia de sua classe dominante (p. 56)”.
Porém, a sentença de Johnson sobre Marx é impiedosa: Marx falhou porque foi anti-científico. Não podendo admitir a melhoria constante como uma natureza intrínseca do capitalismo, e tendo que se condicionar à visão messiânica de seu fim, ele terminou se revelando um intelectual fraudulento.
“Se Marx, então, embora em aparência um scholar, não foi motivado pelo amor da verdade, qual teria sido sua força energizante na vida? Para descobrir isso, temos que examinar mais detidamente seu caráter. É um fato, e em alguns casos um fato melancólico, que a produção massiva do intelecto não surge dos trabalhos abstratos do cérebro e da imaginação; eles estão profundamente enraizados na personalidade. Marx é um exemplo espetacular deste princípio. Já considerei a apresentação de sua filosofia como uma amálgama de sua visão poética, sua habilidade jornalística e seu academicismo. Mas também pode ser mostrado que seu conteúdo real pode estar relacionado com quatro aspectos de seu caráter: seu gosto pela violência, seu apetite pelo poder, sua inabilidade de lidar com dinheiro e, sobretudo, sua tendência em explorar os que estivessem à sua volta (p. 70)”.
Sua ficha como homem violento foi descrita pelos estudos do jovem Marx, seu envolvimento em brigas, duelos, discussões violentas, agressões na universidade e até detenção pela polícia por porte ilegal de arma. Sua propensão para discutir e se intrigar com os outros era notória. Ele não se continha em criticar os que lhe estavam próximos até que não os tivesse dominado totalmente. O irmão de Bruno Bauer chegou a escrever um poema sobre sua personalidade: “O amigo moreno de Trier em fúria atroz / Seu punho maldito fechado, enquanto ruge interminavelmente, / Como se dez mil demônios lhe suspendessem no ar (p. 70)”.
Marx tinha a pele pálida, era baixo e robusto e usava roupas escuras e desbotadas que lhe davam um aspecto de sujo. Johnson garante que, de acordo com descrições de contemporâneos, Marx raramente tomava banho. Johnson chega ao ponto de considerar que a violência em Marx era tal, que parte de seus livros teria sido escrita em estado de fúria. E que, se tivesse tomado o poder em algum lugar, certamente teria sido um ditador cruel e implacável. Bakunin, que foi amigo por um tempo e depois terrivelmente criticado por Marx, deu sua sentença patética: “Marx não acredita em Deus, mas acredita em si mesmo e faz com que todos o sirvam. Seu coração não está cheio de amor, mas de amargura e sente muito pouca simpatia pela raça humana (p. 73)”.
Curiosamente, as relações de Marx não eram a de quem tivesse compaixão para com seus semelhantes. Uma das empregadas da família, uma camponesa chamada Helen Demuth, foi criada de sua mulher escocesa para cuidar das crianças (apenas 2 filhas sobreviveram), e amante de Marx. Em 1951, ela teve um filho de Marx que, concebido às escondidas, foi criado por outra família. Nunca se soube até que ponto Jenny (sua mulher) soube disso. Mas o fato é que Marx permitiu que o filho visitasse a mãe uma vez por semana, entrando pela porta dos fundos. Marx nunca teve relações com esse filho, e mesmo se recusou a reconhecer a paternidade. Seu nome era Freddy, e sua mãe chamada Lenchen pela família, trabalhou toda a sua vida na casa dos Marx, sem nunca ter recebido um vintém.

Ibsen (1828 – 1906)

Ibsen foi uma extraordinária personalidade que enriqueceu o teatro do século XIX e que combinava um medo profundo e uma correspondente covardia com explosões de cólera. Johnson faz um estudo de sua personalidade como poeta e dramaturgo, que obcecado pela própria vaidade, sequioso de poder e dominação sobre os outros se tornava muitas vezes ridículo ao se apresentar vestido de medalhas que colecionava, em uma Noruega provinciana para os padrões escandinavos. Ibsen tinha um cuidado maníaco com o vestir e o apresentar-se. Sua maior paixão era sentir-se superior aos outros e ser cortejado pelo mundo social. O mais importante de sua obra é a luta pela liberação da mulher, que causou sensação com a peça ‘A Casa das Bonecas’, representada até hoje. Johnson acha que o ponto central em Ibsen é o homem seguir sua própria consciência, mesmo quando ela entra em choque com as convenções sociais.
Ibsen teve uma vida juvenil boêmia. No auge da fama, resolveu afastar-se dos homens e manter-se em uma ortodoxia ao ponto de se tornar uma caricatura. Mas o paradoxal é que por trás das ideias de libertação das cadeias que prendiam os seres humanos aos preconceitos, Ibsen sustentava um total desprezo pela democracia parlamentar, pelo governo da maioria, alegando que somente as minorias deveriam governar, pois a inteligência era reservada a poucos. Contraditório ao extremo, odiava os conservadores de seu país, mas invejava o governo despótico da Rússia. Aconselhava as pessoas a nunca falar de si mesmas para os outros e a guardar seus segredos só para si.

Tolstoi

Leon Tolstoi (1828 – 1910)

Tolstoi é um caso típico da alienação do gênio e da irascibilidade como criação artística. Johnson considera Tolstoi o mais ambicioso dos intelectuais que ele examinou. Servindo no exército, ainda jovem, Tolstoi escreveu:
“devo me acostumar com a ideia de que sou uma exceção, de que tanto estou à frente da minha época ou que eu sou uma dessas naturezas inadaptáveis, incongruentes, que nunca ficará contente (p. 110)”.
A força interior de Tolstoi provinha do fato de já ter nascido um escritor. Desde sua adolescência, a observação das pessoas e da natureza lhe predizia que sua missão seria a literatura. Mas ele entrava em conflito com seu próprio talento. Em pouco tempo suas preocupações lhe dispersavam do foco principal, acabando por descaracterizar toda a sua vida. Compulsivo, perdia somas incríveis de dinheiro no jogo, pois sua obsessão fatal era a roleta. Mesmo provindo de uma família de proprietários de terra, com centenas de camponeses vivendo na servidão, sua impulsividade com as próprias ideias não o permitia pensar nas consequências dos seus atos.
Sua vida pode ser cronometrada em uma fase mais criativa, e uma senilidade prolongada e de criações secundárias, algumas beirando o ridículo. Na fase literária mais importante, na década de 1860, Tolstoi escreveu ‘Guerra e Paz’ e, na década seguinte, ‘Ana Karenina’. Nos trinta anos seguintes de sua longa vida ele fez uma grande quantidade de coisas às quais atribuía prioridade moral mais importante. Para os aristocratas de todos os tempos, o ato de escrever é algo destinado aos seus inferiores.
Tal como Byron, que nunca considerou a poesia sua tarefa mais importante, Tolstoi trocou a literatura pela profecia, e se dedicou a causas tão extravagantes como criar uma nova religião e resolver o problema social da Rússia pela educação dos camponeses. No primeiro caso, chegou a atribuir-se o papel de um novo Messias. No segundo caso, chegou a fundar 70 escolas para camponeses no qual ele próprio assumiu o papel de pedagogo e educador. Conforme o seu entusiasmo por uma atividade ocupava toda a sua mente, o desprezo pelo que tinha feito lhe parecia uma coisa natural. A um poeta amigo chegou a dizer – em uma dessas fases – que escrever histórias era uma coisa ‘estúpida e vergonhosa (p. 114)’.
Johnson considera Tolstoi um caso típico da prática do auto-engano. Querendo fazer o que não estava moralmente qualificado, ele conduziu sua família para um “deserto de confusões (p. 114)”. Tinha um padrão de personalidade que Johnson descobriu como constitutivo dos intelectuais: apego pelo bem geral da humanidade e desprezo pelos indivíduos que lhe estão próximos. Do ponto de vista sexual, sua vida foi de uma devassidão alarmante. Somente um sentimento de culpa muito forte podia fazer alguém ser devasso e profeta ao mesmo tempo, um tema que depois seria explorado por André Gide.
Johnson descreve em detalhes as pessoas com quem Tolstoi se relacionava sexualmente, pois ele guardava suas confidências em um livro de anotações. Aos 34 anos casou-se com Sonya Behrs, que tinha apenas 18 anos. Tolstoi não acreditava no casamento, apesar de acreditar na família, e no último minuto, antes da cerimônia de suas núpcias, pegou sua noiva Sonya e saiu em lua-de-mel sem ir à cerimônia. Segundo Johnson, eles tiveram um dos piores (e mais bem registrados) casamentos da história.
"É uma das características dos intelectuais acreditar que segredos, especialmente os sexuais, são danosos. Tudo deve ser ‘aberto’. A tampa deve ser descoberta em cada uma das caixas de Pandora. Marido e mulher devem revelar tudo um ao outro... Tolstoi iniciou pedindo que sua esposa lesse seus diários, que tinham anotações de quinze anos passados. Ela ficou pálida ao descobrir que ele continha detalhes de toda a sua vida sexual, incluindo visitas a bordeis e cópulas com prostitutas, ciganas, mulheres nativas, suas próprias servas, e até mesmo amigas de sua mãe (p. 119)”.
Com esse comportamento, Johnson considera Tolstoi um monstro sexual. Sonya ficou 12 vezes grávida durante 22 anos. A maior parte dos filhos morreu nos primeiros meses de vida. Mas o pior de tudo é que ele tinha considerações variáveis sobre a sexualidade. Em certo momento, ele assumia posições extremamente conservadoras sobre as mulheres, contrariando as manifestações europeias de sua época sobre a emancipação feminina. Achava que as mulheres deveriam ser impedidas de ter uma profissão. Depois achava
“impossível querer que uma mulher avaliasse os sentimentos de seu amor exclusivo na base de um sentimento moral. Ela não faz isso, porque ela não possui um sentimento moral real, isto é, aquele que se coloca acima de tudo (p. 117)”.
Entretanto, em outras passagens, justificava a prostituição como uma profissão natural de uns poucos ‘chamados honráveis’ para as mulheres:
“Devemos permitir o intercurso sexual promíscuo, como muitos ‘liberais’ sugerem? Impossível! Seria a ruína da vida familiar. Para resolver o problema, a lei do desenvolvimento criou uma ‘ponte de ouro’ na forma da prostituta. Pense apenas em Londres sem suas 70.000 prostitutas! O que seria da decência e moralidade, como a vida familiar sobreviveria sem elas? Quantas meninas e mulheres permaneceriam castas? Não, eu acredito que a prostituição é necessária para a manutenção da família (p. 118)”.
Mas, à medida que avançamos no livro Intellectuals, vamos descobrindo que por trás da escolha do método existe um Johnson que viu em Tolstoi alguém que contrariava seus próprios objetivos de vida. Enquanto Johnson se tornou um escritor de grande sucesso, pela linha conservadora de seus temas cuidadosamente selecionados para lhe garantir prestígio, e com isso adquirir proventos financeiros muito superiores para os padrões de um simples jornalista, ele encontrou em Tolstoi, o aristocrata arrependido de seu próprio talento, alguém que na sua loucura associou o ato de escrever ao dinheiro (suas novelas haviam lhe recuperado financeiramente do passado de jogatina dissipativa e da venda de suas terras) que desprezava e ao casamento que detestava. Tolstoi detestava dinheiro. Na sua velhice, desempenhava o papel de conselheiro e guia espiritual. Johnson acha que a dificuldade em lidar com dinheiro tem alguma origem no caráter contraditório e destrambelhado dos Intellectuals.
Ora, Tolstoi era um russo profundamente enraizado de misticismo, aliás, uma herança acentuada desde sempre no caráter russo. Devido a esta tradição da cultura russa, sua fama fez com que centenas de pessoas peregrinassem até a sua casa – chamada Yasnaya Polyana – na região de Tula, a 14 km da cidade, para pedir conselhos. Alguns queriam uma benção, outros milagres para suas doenças. Convencido de sua missão redentora, Tolstoi os atendia, pregava o amor e a não violência, fazendo dele uma espécie de profeta da Rússia, na virada do século. Com suas longas barbas brancas, era visto como uma esperança de libertação para os milhões de camponeses ainda em estado de servidão. Nessa fase de sua vida, Tolstoi em vez de assumir o papel de escritor e orientador, encarnou a figura de seu amado povo camponês russo. Vestiu-se e viveu como um camponês: bombeava água para a casa, cortava lenha para a cozinha, limpava os quartos com as crianças, e fazia até sapatos para elas e botas para si mesmo. Mas não sendo um homem de persistência, tempos depois abandonava tudo. Sonya reclamava de seu caráter intempestivo, descuidado, que depois de algum tempo deixava as coisas em estado pior do que antes, como ocorreu com os cavalos que comprara, que morriam por maus tratos ou se esmilinguiam pelo esforço excessivo.
Um de seus trabalhos da última fase – quando seu talento literário tinha sido carcomido pelas preocupações messiânicas – foi uma crítica que escreveu sobre a obra de Shakespeare, acusando-o de mau escritor. Muitos anos depois, em 1947, George Orwell respondeu com outro artigo, (http://en.wikipedia.org/wiki/Lear,_Tolstoy_and_the_Fool) em que contesta Tolstoi com uma lição imperdível. Para Orwell, é insuficiente dizer se um escritor é bom ou mau conforme nossos gostos, ou o gosto de uma quantidade expressiva de pessoas. O que torna um escritor “grande” é a persistência de sua obra. E se Shakespeare sobreviveu durante 3 séculos e meio como um grande dramaturgo e poeta, isto por si só já garante a qualidade de sua obra. E com esse mesmo argumento arremete contra Tolstoi dizendo que obras como Anna Karenina e Guerra e Paz certamente merecerão o mesmo destino das obras de Shakespeare, mas não o artigo em que fala injustamente contra o bardo inglês. Para ele, a humanidade haveria de esquecer Tolstoi em sua tolice. E tal veredicto realmente aconteceu. Tolstoi permaneceu com suas obras mestres e desapareceu com suas tolices. Esse tem sido o destino de muitas obras de escritores que primam pela inconstância e pelas inquietações perturbadoras.

Hemingway (1899-1961), Brecht (1898-1956), Russell (1872-1970), Sartre (1905-1980) e outros, incluindo o próprio Johnson

A importância dos escritores para Johnson é seu papel como intelectual, isto é, como alguém que influenciou as gerações na adoção de novos estilos de vida, de novos valores sociais e de contestação à tradição judaico-cristã do Ocidente. Sendo um conservador convertido, Johnson achava que esses escritores tiveram uma vida repleta de auto-engano e infelicidade, o que é altamente contestável. O fato de Sartre e Russell não aceitarem o papel da monogamia não os tornaram mais infelizes: ao contrário, todos sempre aproveitaram ao máximo o fato de seus talentos serem recompensados por um grande interesse sexual por parte das “seguidoras”.
Como conservador, Johnson contestou o viés esquerdista da dupla Russell e Sartre na criação do Tribunal de Crimes de Guerra, que visava enquadrar a política norte-americana no Vietnã como genocídio. Mas quem viveu aquela época, e o rescaldo posterior à retirada norte-americana do sudeste asiático, sabe muito bem que a sociedade americana se penitenciou por ter se envolvido com aquela guerra. O “mea culpa” foi bradado por figura não menos importante como Robert MacNamara, o então secretário de estado dos presidentes Kennedy e Johnson.
Em Hemingway, temos o alcoólatra clássico e cheio de talento, que lentamente descende no inferno da perda e da depressão. Para Johnson, ele é a prova de que a decadência humana só pode ser superada por algo que não está na arte. E qual seria esse “algo”? Johnson não deixa claro, mas entendemos que se trata dos valores morais tradicionais. Mas se tais valores fossem compartilhados pelos artistas, nenhuma arte teria sido produzida. Eis aí a questão, o divisor d’água de sempre. A arte é em essência uma produção exponenciada pelo conflito humano, pelos tormentos morais, pelas culpas e inquietações. Por isso, um escritor não pode ser avaliado por sua vida, porém apenas por sua obra. E para os desgraçados, infelizes e malditos, sua obra não é mais do que um pedido de perdão.
Na análise de Brecht, Johnson afirma que “ele nunca retribuiu a afeição de sua mãe (p. 174)”. Mas isso pode ter sido colocado para criar a atmosfera moral para a disjunção entre o indivíduo e sua obra. Em Russell, vemos o mesmo tratamento:
“certamente Russell não foi um homem que tenha adquirido a experiência significativa da vida que a maioria das pessoas levava ou que tenha tido interesse nas opiniões e sentimentos da multidão (p. 198)”.
Este tipo de argumento tem sido recorrente. Como explicado antes, Johnson distingue no intelectual a característica de pouco apreço pelas pessoas simples que lhe cercam e um grande apego pelo povo na forma abstrata. Mas a essência do intelectual é o fato de que ele transcende as preocupações do homem comum em seu cotidiano. E cotidiano por cotidiano, o intelectual também tem o seu, que sendo altamente desinteressante e enfadonho, ele se reserva o direito de não ter que amplificá-lo com o cotidiano dos outros, que lhe parece banalidades gerais.
No caso da mulher de Russel, vemos uma determinação temerária:
“Assim, Lady Constance foi descartada e Dora forçada naquilo que ela chamou de ‘vergonha e desgraça do casamento (p. 215)’”.
Para Johnson, as mulheres de grandes escritores são sempre descartadas, ou seja, o interesse sexual é difamatório e não revelado. Com isso, termina em conclusões chocantes: “a década de 60 foi uma década infantil e Russell um dos espíritos representativos dela (p. 221)”. Infantil pelo Maio de 68, por Woodstock, pelo rock-and-roll ou pela bossa-nova?! Ora, uma sociedade liberal, ao viver um clima de rebelião nos campus universitários contra a guerra, especialmente por jovens nos EUA que não queriam ser recrutados, e por estudantes na França que queriam protestar contra o “maldito” capitalismo e se insurgiram contra o Poder e em nome da imaginação, por mais que isso possa ter retrospectivamente um ar de infantilismo, não pode ser reduzido a isso. Faltou a Johnson o entendimento do “espírito da época”, tão bem dissecado pelo sociólogo norte-americano Daniel Bell.
Em Sartre, vemos o caso de um intelectual sensacionalista que criou em torno de si um mito do filósofo pensante e ativista. Johnson garimpou nas mentiras de Sartre a revelação de sua personalidade, quando afirmava que lia 300 livros por ano, logo depois de deixar a universidade. Tendo um olho meio torto e dificuldades visuais, certamente seria o caso de ler quase um livro por dia, uma impossibilidade prática em qualquer circunstância.
Sentado no Café Flore, no inverno de 42-43, Sartre escrevia diariamente seu ‘O Ser e o Nada’ (L´Être e Le Neánt). Sobre as 722 páginas do livro, Johnson pateticamente prefere citar um comentário de Simone de Beauvoir, que fala de uma passagem em que Sartre cita os “buracos em geral, e outros que enfoca o ânus e o estilo de fazer amor à italiana (p. 231)”. Para mostrar que Sartre era um tipo autoritário e perverso, Johnson fala que Simone de Beauvoir tornou-se uma escrava dele desde o momento em que o conheceu até o dia de sua morte: “nos anais da literatura existem poucos casos piores de um homem explorar uma mulher (p. 235)”, um exagero que beira a carolice, ou quem sabe, a sandice.
Finalmente, Johnson consegue falar das falácias reais de Sartre, comprovando que seu método é a conjugação do puritanismo sexual com a difamação caluniosa da vida anti-familiar. É o caso da ambiguidade de Sartre com relação à União Soviética.
Johnson não consegue entender o caráter oportunista do mundo latino, onde incontáveis intelectuais fizeram fama na sombra dos respectivos Partidos Comunistas (no Brasil, temos Jorge Amado e outros tantos), como forma de dispor de um interminável exército de resenhadores de livros à disposição de seus prestigiados talentos e de uma idiotia intelectual que servia de base de apoio e admiradores. Na psicologia do oportunismo vigente ad eternum, tudo se passa no entendimento de que uma sociedade liberal tem que necessariamente ser tolerante com seus dissidentes, enquanto uma sociedade totalitária, a recíproca não é verdadeira. Como o aparelho midiático está nas mãos ou de tolerantes ou de saqueadores, então é melhor estar do lado dos saqueadores em acordo sobre o futuro incerto, mas proclamado como inexorável, do que dos tolerantes certos sobre um futuro duvidoso. Para a mentalidade das igrejinhas, o que importa é a posição do intelectual no âmbito da generalidade e não da particularidade, onde entra seu eu individual. Por isso, Sartre é a consumação da esperteza, o que não significa que não tivesse talento, apenas que seu talento não lhe renderia tanto quanto sua postura “moral” em favor de causas altamente demagógicas, como a de posar na rua distribuindo exemplares do jornaleco maoísta La Cause du People, não por concordar com seus termos, mas como a da eterna luta em favor da “ideia da liberdade de expressão”. Sartre foi um talento literário comprovado e um filósofo de poucas ideias e muito barulho.
Johnson chega ao ponto de revelar sua predisposição ao escrever o livro: falar sobre a degradação moral de espíritos que impingiram o hedonismo na busca de mudar a sociedade, que criaram a permissividade de nosso tempo, uma deterioração moral provocada pela militância cultural de homens como Connolly, Mailer, Tynan. Neste grupo estava Fassbinder, o cineasta alemão viciado em drogas e promíscuo (p. 330). James Baldwin – o famoso escritor negro norte-americano da segunda metade do século passado –, também entrou no clima da permissividade e do ódio aprovado dos anos 50. “Quanto mais ódio ele gerava, mais subserviência recebia. Os ecos de Rousseau eram incríveis (p. 336)”.
Baldwin associou-se aos intelectuais para os quais a violência era um ato legítimo daqueles que podiam ser definidos por sua raça, classe ou pobreza, como as vítimas da iniquidade social. O tema da violência justificada é uma das melhores análises de Johnson sobre o perfil dos intelectuais, incluindo aí Marx, Sartre e Rousseau. Vale para o espírito acadêmico que ronda as universidades e propala as cotas raciais.
Por fim, a obsessão de Johnson por detalhes da vida sexual dos intelectuais surpreende o leitor. Seria um comportamento inerente ao jornalismo sensacionalista inglês? O fato é que ao descrever a controvérsia do debate entre a escritora pró-soviética Lilian Hellman e Tallulah Bankhead, uma artista de teatro que era sua inimiga por razões de ciúmes sexuais, Hellman cita em sua autobiografia Pentimento que Bankehead insistia em mostrar aos visitantes o “gigantic erect penis (p. 296)” de seu marido.
Sobre Gollancz, um editor inglês marxista sem nenhum interesse maior fora da Grã-Bretanha, teria dito que sofria do sintoma do medo de perder o uso do pênis.
“Como Rouseau, ele era obcecado pelo seu pênis, embora por razões menos aparentes. Ele constantemente pegava no membro para inspecioná-lo, para verificar se mostrava sinais de doenças venéreas ou se estava no seu devido lugar. Em seu escritório, ele efetuava esta operação diversas vezes ao dia, próximo a uma janela congelada que ele acreditava estar totalmente opaca. O elenco no teatro do outro lado da rua pontificou que não era tão opaco assim e que seus hábitos eram perturbadores (p. 276)”.
Com semelhante interesse, ficamos sabendo que Marx raramente tomava banho ou se lavava. “Isto, e mais uma dieta imprópria podem explicar a verdadeira praga das manchas inchadas que lhe atormentaram durante um quarto de século. Elas aumentaram sua irritabilidade natural, e pareciam estar em seu ponto culminante enquanto escrevia ‘O Capital’. ‘Independente do que venha a acontecer’, - escreveu ele a Engels mortificado – ‘espero que a burguesia enquanto existir tenha motivos para se lembrar dos meus carbúnculos’ (p. 73)”.
Falando de Sartre, Johnson revelou que este teria planejado toda a sua carreira durante a ocupação nazista da França, em que Sartre foi deixado em paz e inclusive permitido encenar diversas peças de teatro em Paris. Pensando um pouco mais longamente, é provável que Johnson esteja fazendo uma projeção de si mesmo, quando de sua virada conservadora. Analisando sua bibliografia, encontrei The History of the Holly Land extraviado entre meus livros de língua inglesa. Que coincidência, pensei. Trata-se de uma excelente edição ilustrada, com fotos de lugares históricos e mapas da Terra Santa. Sabendo enfim quem era Johnson, procurei inutilmente alguma referência ao costume de tomar banho de Jesus, ou alguma descoberta especial sobre a vida sexual de Maria Madalena. Nadica de nada. Johnson, como se pode concluir, estava escrevendo para outra plateia, muito bem planejada.
E, ao ler seu perfil na Wikipédia, pude finalmente ter uma ideia de Johnson como uma personagem de seu próprio livro. Para surpresa dos leitores, ficamos sabendo que era casado, teve 4 filhos e uma amante durante onze anos, a escritora Gloria Stewart. Ao se separarem, a amante, que já conhecia as posições de Johnson sobre a família e a moral, reagiu como toda mulher abandonada: revelou seu caso e não esperou o troco. “Paul adorava levar palmadas e isso era uma parte importante do nosso relacionamento. Eu tinha que dizer que ele era um menino malcriado”. Em uma entrevista a Elizabeth Griece do The Telegraph (http://www.telegraph.co.uk/lifestyle/7800902/Paul-Johnson-After-70-you-begin-to-mellow.html), ao ser questionado sobre o fim do seu relacionamento com Gloria Stewart, Johnson saiu-se com essa pérola do infatigável estilo dos intelectuais: “Se você adquire fama é o tipo de coisa que pode acontecer. Você simplesmente esquece, tira da cabeça. É o que Shakespeare chamava de o lado sombrio, abismal e retrógrado do passado (the dark backward and abysm of the past)”. Nenhum dos intelectuais detestados e biografados por Johnson responderia melhor.

Republica Bolivariana de Venezuela quer reformar a historia, para tras, como os talibans...

Os talibans são aqueles seres primitivos, quase neandertais, que quando estiveram no poder no Afeganistão simplesmente implodiram, a dinamite, os fabulosos Budas de Bamian, enormes estátuas de Buda, escavadas nas montanhas de Bamian, e que constituíam um dos tesouros artísticos, arqueológicos, religiosos e culturais daquele país tão pobre, mas rico em história e em culturas diversas ao longo dos séculos.
Pois, a despeito de pedidos desesperados da Unesco e de outras entidades, os talibans destruíram aquelas enormes estátuas que para eles estavam em contradição com o Islã, sendo que o Islã chegou ao Afeganistão alguns séculos depois que as estátuas tinham sido penosamente escavadas na pedra.
Pois bem, os bolivarianos da Venezuela atual são os talibans da América Latina, pois querem implodir tudo o que veio antes deles, e fazer daquele país uma tábula rasa para a disseminação da sua ideologia bolivariana.
Eu estava lendo um relatório da Cepal, sobre a dívida externa da América Latina e de repente me deparo com uma tabela, relativa a 1990, ou seja, praticamente doze anos antes de que o nome do país mudasse para República Bolivariana de Venezuela, e lá me deparo com esse nome, como se pode ver na tabela abaixo.

Isso é sumamente ridículo e grotesco. Em 1990 não existia essa coisa chamada República Bolivariana de Venezuela, e sim apenas República de Venezuela.
Que a Cepal tenha consentido na mudança stalinista do nome, apenas confirma como essas organizações internacionais, além de ridículas são sumamente patéticas.
Paulo Roberto de Almeida

Divida externa da América Latina, 1982-2012 - Cepal

Portada
  • La montaña rusa del financiamiento externo: el acceso de América Latina y el Caribe a los mercados internacionales de bonos desde la crisis de la deuda, 1982-2012

  • Inés Bustillo y Helvia Velloso
  • 2013
  • Signatura:LC/G.2570-P
  • 150 pp.
  • Libros de la CEPAL
  • CEPAL

Link: http://www.cepal.org/cgi-bin/getProd.asp?xml=/publicaciones/xml/2/52062/P52062.xml&xsl=/publicaciones/ficha.xsl&base=/publicaciones/top_publicaciones.xsl#

Resumen

En esta publicación se examina la forma en que la financiación de la deuda externa ha evolucionado en las últimas tres décadas. Se remonta 30 años y se analiza la trayectoria de la región de América Latina y el Caribe desde la singular perspectiva del acceso a los mercados financieros internacionales. Como el título indica, esta trayectoria ha sido una montaña rusa, con muchos altibajos, y momentos de angustia y pánico.
Los acontecimientos de las últimas tres décadas, tal como se describen en este libro, indican que un acceso más amplio y más barato a los mercados internacionales de capital puede ser fundamental en el largo proceso de lograr el crecimiento sostenible con igualdad, mediante la ampliación de las opciones de financiamiento de la inversión y las iniciativas sociales. A pesar de la experiencia adquirida y los progresos realizados durante este período, aún quedan muchos desafíos. El acceso al financiamiento externo de la deuda no es universal y, a pesar del aumento de la resiliencia, la vulnerabilidad a las conmociones financieras externas sigue siendo una amenaza. Además, los avances económicos y financieros de los últimos 30 años, y en particular de la última década, no han producido cambios en la estructura productiva de la región. Los cambios estructurales deben estar en el centro de un proceso de crecimiento a largo plazo para que la igualdad sea una realidad.

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Ditadura cubana ganha mais com trabalho escravo do que com exportacoes comerciais - Editorial Estadao

A informação é deste editorial e caberia comprovar. Se isso for verdade, cabereia uma investigação da OIT, que como sabemos não virá, dada a hipocrisia natural dessas grandes burocracias internacionais.
Mas é alarmante que o Brasil participe da farsa.
Destaco este trecho do editorial abaixo:

Em 2011 Bolívia e Venezuela pagaram a Cuba por médicos "importados" US$ 8 bilhões, valor superior ao que rendeu o total das exportações do país naquele ano. E isso antes de o Brasil ser acrescentado à relação dos países amigos importadores...

Paulo Roberto de Almeida

Mais médicos: ilegal e imoral

12 de fevereiro de 2014 | 2h 12

O Estado de S.Paulo
A médica cubana Ramona Matos Rodríguez, que deixou o Mais Médicos em 4 de fevereiro e pediu asilo ao Brasil, foi convocada a depor no inquérito presidido pelo promotor Sebastião Caixeta no Ministério Público do Trabalho (MPT) para investigar a violação de direitos trabalhistas nesse programa. O promotor preparou um relatório preliminar da investigação em que afirmou serem necessários ajustes no Mais Médicos para corrigir o desvirtuamento das relações de trabalho.
De fato, desde que a presidente Dilma Rousseff e o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, que deixou a Esplanada dos Ministérios para se candidatar ao governo do Estado de São Paulo pelo Partido dos Trabalhadores (PT), anunciaram a "importação" de médicos estrangeiros (a grande maioria de cubanos), nunca faltaram questionamentos sobre práticas heterodoxas nesse programa.
A forma bizarra da remuneração é a mais polêmica delas: por meio de um convênio feito com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), o governo brasileiro passa a maior parte dos R$ 10 mil mensais pagos por cada um dos 5,4 mil profissionais cubanos que já exercem a medicina no interior do País diretamente para o governo cubano, uma ditadura caribenha comandada com punhos de aço pelos irmãos Castro, Fidel e Raúl. Mas desta quantia, que seria uma fortuna para qualquer cubano, apenas R$ 900 são pagos ao profissional pelos serviços que presta, conforme relatou ao Estado Andres Manso, que atende em Quipapá (PE), a 180 quilômetros do Recife. No posto de saúde de Mustardinha, na periferia da capital pernambucana, Anais Rojas relatou à repórter Angela Lacerda uma situação similar à de outros patrícios que embarcaram para o Brasil para ganhar mais: "Ganho menos do que a enfermeira que trabalha comigo".
O equivalente a mais R$ 1.400 é entregue a familiares do contratado na ilha. E o dinheiro que sobra - a parte do leão - fica com o ditador cubano. Em 2011 Bolívia e Venezuela pagaram a Cuba por médicos "importados" US$ 8 bilhões, valor superior ao que rendeu o total das exportações do país naquele ano. E isso antes de o Brasil ser acrescentado à relação dos países amigos importadores...
Além da polêmica da remuneração, o Mais Médicos chamou a atenção do MPT por violar direitos elementares que trabalhadores usufruem no Brasil desde a edição da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1.º de maio de 1943, no Estado Novo de Getúlio Vargas. Segundo o promotor Caixeta, apesar de alegar que oferece uma bolsa para capacitação profissional de médicos cubanos no Brasil, o que o governo federal deles cobra é a prestação de serviços médicos. "A Medida Provisória (que criou o Mais Médicos) exclui uma coisa prevalente, que é essa relação de trabalho. Nega a realidade contra dispositivos constitucionais", escreveu ele no relatório.
O ex-ministro do Trabalho e do Tribunal Superior do Trabalho Almir Pazzianotto Pinto concorda com o promotor, ao lembrar que o direito trabalhista brasileiro é original em relação ao de outros países, inclusive do Primeiro Mundo, ao exigir do patronato (no artigo 3.º da CLT) o vínculo empregatício de qualquer cidadão, brasileiro ou estrangeiro, que trabalhe em território nacional. "Os médicos cubanos em atividade no Brasil deveriam dispor de sua carteira de trabalho comum assinada pelo governo federal ou pelas prefeituras dos municípios onde clinicam", assegurou.
As entidades médicas brasileiras têm reclamado da situação irregular dos colegas cubanos, mas os petistas no governo federal argumentam que essa posição é enfraquecida por seus interesses corporativos. Só que políticos que militam num partido dito "dos trabalhadores" nunca deveriam condescender com abusos trabalhistas e limitações impostas aos médicos cubanos dos quais se exige autorização para saírem das cidades para as quais foram destinados, uma óbvia violação ao direito elementar dado a qualquer cidadão autorizado a viver no País: o de "ir e vir". Usado pelo PT no marketing da campanha política, o programa Mais Médicos está a merecer, então, uma devassa mais rigorosa da Justiça, pois parece ser ilegal e imoral.

A politica externa lulista e a dilmista: um observador externo - Thiago de Aragao (InfoLatam)

Política Brasil

Uma Política Externa Multifacetada

Arko Advice

Por THIAGO DE ARAGÃO, 12/02.2014

Quando o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva tomou posse em janeiro de 2003, inaugurava-se uma fase diferente da política externa brasileira. De algo tradicionalmente mais discreto, que vinha ocorrendo nos últimos governos e ajudou a consolidar os diplomatas brasileiros como os de primeiro escalão em vários países, passou-se a algo mais aberto, espalhafatoso e direto.
Sem entrar em juízo de valor sobre erros e acertos na política externa do ex-presidente Lula, o fato é que ela existia. Claro que estruturalmente funcionava de uma forma longe do tradicional. Enquanto antigamente se baseava quase que exclusivamente dentro do Itamaraty, Lula inaugurou uma fase “bicéfala” da política externa brasileira.
Essa fase contava com a grande participação e influência de Marco Aurélio Garcia. Militante antigo e respeitado dentro do PT, Garcia instigava e ainda instiga admiração entre militantes do partido e aversão entre outros que não concordam com sua forma de atuar.
De qualquer forma, para o bem ou para o mal, no governo Lula, existia uma política clara de atuação internacional que passava por várias categorias. A consolidação de uma liderança regional por meio do “soft power”, a consolidação de uma presença marcante na África por meio do comércio, a participação em eventos críticos no Oriente Médio por meio da negociação e um posicionamento firme em relação aos Estados Unidos e Europa por meio da contraposição.
Essas categorias, por mais que fossem contraditórias em muitas fases, deixavam claro que o Brasil possuía interesses delineados na política externa. Claro que houveram alguns equívocos de leitura no caminho, como por exemplo apostar em uma ampliação do bolivarianismo na região, ao colocar-se como uma liderançaa regional teoricamente neutra, porém, bastante inclinada para os países desse “bloco” bolivariano.
No Oriente Médio, a tentativa de negociação com o Irã, conjuntamente com a Turquia, foi uma passo ousado, e para quem sabe das negociações de bastidores, foi muito bem feita pelo Brasil. No entanto, o país não conseguiu costurar satisfatoriamente com o P5+1 e viu seus esforços irem por água abaixo apenas alguns dias após a histórica reunião em Teerã.
No caso da contraposição com os Estados Unidos e Europa, pode-se dizer que, do ponto de vista do Governo Lula, houve sim uma vitória a partir do momento que o BRICS viveu uma fase áurea, e a consolidação da China como principal parceiro comercial ocorreu. O aspecto interessante desse fato é que mesmo marcando posição como um país “não-alinhado”, o ex-presidente Lula se dava incrivelmente bem com o ex-presidente George W. Bush.
No entanto, a busca pelo assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, que sempre foi o pano de fundo dessas ações, ficou ainda mais distante. Por mais que o Brasil tenha colocado a “cara à tapa” em muitas situações, colocou-se também como um país contraditório em questões importantes que prejudicaram essa campanha.
Não imagino que teremos uma reforma tão cedo, por mais que seja hora e o Brasil mereça esse assento, contudo, qualquer tentativa de colocar-se entre os grandes decisores, ocorre por meio da geração de confiança mútua. Essa confiança se torna abalada, ao se tratar de temas que, teoricamente não seriam importantes o suficiente para o Conselho, o Brasil se mostra claramente contraditório. O caso da interpretação e leitura de direitos humanos, por exemplo, se torna confuso, na visão de alguns países e de algumas sociedades. Como condenar abusos (corretamente) em alguns países distantes e tolerar em muitos países vizinhos?
Ao fim do Governo Lula, consolidou-se um terceiro ator de grande importância para a formulação da política externa brasileira. Enquanto o Itamaraty era responsável por uma visão mais global – mas fora da América Latina, pois isso ficava (e fica) a cargo da Assessoria de Relações Internacionais da Presidência –, o BNDES se colocou como um grande “fomentador de alianças”. Obras começaram a surgir em vizinhos, países africanos, países da região, tendo sempre o BNDES como facilitador e fomentador.
Bem ou mal, o que antes da era Lula ficava restrito ao Itamaraty, após o início do seu governo se dividiu entre vários importantes atores: Itamaraty mantinha o controle sobre a diplomacia formal e protocolar, Marco Aurélio Garcia liderava a interação e aproximação com vários países latino-americanos, o BNDES aprovava e chancelava projetos (principalmente de infraestrutura) não apenas na região, mas também na África e o Ministério de Indústria e Comércio Exterior assumia uma posição mais forte em relação à crescente importância da China e da Rússia no comércio brasileiro.

Tudo isso, ainda ocorre hoje, no entanto, com uma grande e importante diferença. A presidente Dilma Rousseff não possui o mesmo interesse em política externa quanto o seu antecessor, Luis Inácio Lula da Silva. Esse buscava um papel internacional de conciliador semelhante ao que foi capaz de costurar dentro do seu próprio partido e muitas vezes frente a partidos de oposição dentro de seu governo. Com uma postura mais doméstica e voltada para garantir pilares macroeconômicos, Dilma abriu mão de seguir um caminho semelhante ao de Lula.
Uma importância crucial também passa pela Vice-Presidência da República. O vice-presidente Michel Temer assumiu a postura de capitão das relações de alto nível com China, Rússia e, em algum nível, com o Oriente Médio.
Pela sua característica e a característica da presidente Dilma, Temer se coloca como o principal expoente da política externa brasileira, no entanto, apenas em relação a esses dois países. Dilma até que buscou modificar as relações com os Estados Unidos. Sua tentativa, que buscava uma aproximação mais pragmática e menos ideologizada, esbarrou nas denúncias feitas por Edward Snowden. Mas, mesmo antes das denúncias, a perspectiva da parceria com os Estados Unidos em diversas áreas visava a fortalecer as balizas domésticas (que a presidente sempre se preocupou) e não necessariamente colocar o Brasil como um aliado em questões críticas de política externa. Seus resultados práticos seriam sentidos, principalmente no comércio bilateral e não necessariamente em posicionamentos semelhantes em questões geopolíticas.
O grande diferencial de um governo para o outro, é a referência que foi criada. Lula se colocou espontaneamente como a referência brasileira em uma época na qual o Brasil era reconhecido como a “bola da vez”. Com todos os equívocos e alguns acertos, a política externa brasileira tinha a cara de Lula e esta era bem vista na grande maioria do mundo. Dilma não quis ser a cara de sua política externa, tampouco elegeu uma figura dentro do governo para ocupar esta posição. Assim, dentro dos interesses setoriais, várias políticas externas são formuladas em paralelo.
Claro que podemos mencionar o discurso da presidente feito na Assembleia Geral da ONU como exemplo de posição tomada no campo da política exterior, no entanto, foi um discurso doméstico em um palco internacional para uma situação atípica. Suas criticas em relação as ações da NSA no Brasil visavam satisfazer correligionários mais do que mandar mensagens ao mundo. Hoje, os grandes feitos da política externa brasileira são feitos a porta-fechada e sem grande alarde. Isso pode representar um grande avanço em alguns pontos e um grande retrocesso em outros.
Os vários chanceleres da política brasileira: Michel Temer, Luis Figueiredo, Marco Aurélio Garcia, Fernando Pimentel, Luciano Coutinho, Celso Amorim e Guido Mantega seguem suas agendas e pautas individuais. Hoje é mais fácil ver quais da lista estão tendo êxito e quais não estão, no entanto, o que fica é que o Brasil não possui uma ambição clara sobre qual é seu papel no mundo. O que temos hoje são muitas faces onde o sucesso de um não representa o sucesso de outro, fazendo assim com que o país seja visto com desconfiança por muitos. Se antes haviam equívocos, ao menos estava claro qual o caminho que o Brasil queria seguir. Hoje esse caminho não está claro.

Museu das falcatruas totalitarias - Reinaldo Azevedo

Estas são as mentiras, as falcatruas, as fraudes do partido totalitário, no plano da política, da democracia e dos direitos humanos.
Eu poderia acrescentar os erros, os equivocos e todas as estupidezes cometidas no plano das políticas econômicas, macro e setoriais, que causaram imensas perdas ao país, a todos nós.
O maior é a perda de oportunidades: o Brasil deixa de crescer em função das estupidezes econômicas companheiras. Vou fazer a lista.
Paulo Roberto de Almeida 
O juiz Adriano Marcos Laroca, da 12ª Vara da Fazenda Pública, concedeu uma liminar contra a doação de um terreno de 4,3 mil metros quadrados, no Centro de São Paulo, ao Instituto Lula, que quer erguer ali o que pretensiosamente chama de “Museu da Democracia”. O tal museu, ora vejam!, pretende contar a história de Lula — e, claro, do PT. A doação do terreno foi aprovada pela Câmara dos Vereadores de São Paulo em 2011, por iniciativa do então prefeito Gilberto Kassab (PSD).
Ora, por que Lula deveria ter o direto de receber um terreno de graça? Por que o seu instituto, que é um ente privado, merece esse benefício?Escrevi a respeito no dia 15 de fevereiro de 2011. As minhas questões seguem as mesmas.
1: Constituição – A negativa dos petistas em participar da sessão homologatória da Constituição de 1988, uma das atitudes mais indignas tomadas até hoje por esse partido, fará parte do “Memorial da Democracia”, ou esse trecho sumirá da história? 
2: Expulsões  A expulsão dos três deputados petistas que participaram do Colégio Eleitoral que elegeu Tancredo Neves, pondo fim à ditadura – Airton Soares, José Eudes e Bete Mendes – fará parte do “Memorial da Democracia”, ou isso também será omitido?
3: Governo Itamar – A expulsão de Luíza Erundina do partido porque aceitou ser ministra da Administração do governo Itamar, cuja estabilidade era fundamental para o país, entra no Memorial da Democracia, ou esse fato será eliminado?
4: Voto contra o Real – A mobilização do partido contra a aprovação do Plano Real integrará o acervo do Memorial da Democracia, ou os petistas farão de conta que sempre apostaram na estabilidade do país?
5: Guerra contra as privatizações – As guerras bucéfalas contra as privatizações — o tema anda mais atual do que nunca — e todas as indignidades ditas contra a correta e necessária entrada do capital estrangeiro em setores ditos “estratégicos” merecerá uma leitura isenta, ou o Memorial da Democracia se atreverá a reunir como virtudes todas as imposturas do partido?
6: Luta contra a reestruturação dos bancos – A guerra insana do petismo contra a reestruturação dos bancos públicos e privados ganhará uma área especial no Memorial da Democracia, ou os petistas farão de conta que aquilo nunca aconteceu?
7: Ataque à Lei de Responsabilidade Fiscal – Os petistas exporão os documentos que evidenciam que o partido recorreu à Justiça contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, tornada depois cláusula pétrea da gestão de Antônio Palocci no Ministério da Fazenda?
8: Mensalão  O Memorial da Democracia vai expor, enfim, a conspiração dos vigaristas que tiveram o desplante de usar dinheiro sujo para tentar criar uma espécie de Congresso paralelo, alimentado por escroques de dentro e de fora do governo?
9: Duda Mendonça na CPI – Haverá no Memorial da Democracia o filme do depoimento de Duda Mendonça na CPI do Mensalão, quando confessou ter recebido numa empresa no exterior o pagamento da campanha eleitoral de Lula em 2002?
10: Dossiê dos aloprados – O Memorial da Democracia trará a foto da montanha de dinheiro flagrada com os ditos aloprados, que tentavam fraudar as eleições em 2006?
11: Dossiê da Casa Civil – Esse magnífico Memorial da Democracia trará os documentos sobre o dossiê de indignidades elaborado na Casa Civil contra FHC e contra, pasmem!, Ruth Cardoso, quando a titular da pasta era ninguém menos do que Dilma Rousseff, e sua lugar-tenente, ninguém menos do que Erenice Guerra?
12: Censura à imprensa – o Memorial da Democracia reunirá as evidências das muitas vezes em que o PT tentou censurar a imprensa, seja por meio do Conselho Federal de Jornalismo, seja por intermédio no Plano Nacional de Direitos Humanos?
13: Imprensa comprada e vendida  Teremos a chance de ver os contratos de publicidade do governo e das estatais com pistoleiros disfarçados de jornalistas, que usam o dinheiro público para atacar a imprensa séria e aqueles que o governo considera adversários nos governos dos estados, no Legislativo e no Judiciário?
14 – Novo dossiê contra adversário – O Museu da Democracia do Instituto Lula reunirá as evidências todas das novas conspiratas do petismo contra o candidato da oposição em 2010, com a criação de bunker para fazer dossiês com acusações falsas e a quebra do sigilo fiscal de familiares do candidato e de dirigentes tucanos?
15 – Uso da máquina contra governos de adversários – A mobilização da máquina federal contra o governo de São Paulo em episódios como o da retomada da Cracolândia e da desocupação do Pinheirinho entrará ou não no Memorial da Democracia como ato indigno do governo federal?
16 – Apoio a ditaduras  O sistemático apoio que os petistas empenham a ditaduras mundo afora estará devidamente retratado no Memorial da Democracia? Veremos Lula a comparar presos de consciência em Cuba a presos comuns no Brasil? Veremos Dilma Rousseff a comparar os dissidentes da ilha a terroristas de Guantánamo?
Fiz acima perguntas sobre 16 temas. Poderia passar aqui a noite listando as vigarices, imposturas, falcatruas e tentativas de fraudar a democracia protagonizadas por petistas e por governos do PT. As que se leem são apenas as mais notórias e conhecidas.
Não! Erram aqueles que acham que quero impedir lula — e o PT — de contar a história como lhe der na telha. Quem gosta de censura são os petistas, não eu! O Apedeuta que conte o mundo desde o fim e rivalize, se quiser, com Adão, Noé, Moisés ou o próprio Deus, para citar alguém que ele deve julgar quase à sua altura, mas não há de ser com o nosso dinheiro.

Fronda empresarial: quando vira'? - Dora Kramer

Dda coluna de Dora Kramer, no Estado de S.Paulo, 12/02/2014:

Vantagem nenhuma. 
O governo trata as críticas do empresariado com desdém. Aqueles que não são qualificados como pessimistas, são incluídos na lista dos politicamente engajados em candidaturas presidenciais da oposição.
Fica faltando, porém, uma justificativa para as reiteradas recusas de empresários simpáticos ao Planalto em assumir a pasta do Desenvolvimento no lugar de Fernando Pimentel. Dois exemplos mais recentes, Josué Gomes da Silva e Abílio Diniz.
O último empresário de grande porte a participar do governo, Jorge Gerdau, ficou falando sozinho quando apontou a impossibilidade de se administrar o País com 39 ministérios.

Siria: um genocidio em curso, em camara lenta, mas visivel e comprovado...

O ditador da Síria, desde que começaram os protestos contra o seu governo, mais de dois anos atrás, em lugar de abrir-se a uma nova etapa do itinerário democrático no seu país, está destruindo o seu próprio país, e matando o seu próprio povo, pois não pretende renunciar ao poder.
Não que todos os opositores sejam democratas, longe disso: existem fundamentalistas islâmicos entre eles, que talvez promovesses outras matanças, caso chegassem ao poder, e seriam intolerantes contra outras religiões que não a deles, enquanto a Síria, mesmo sob uma das ditaduras mais anacrônicas do planeta, sempre foi um regime laico, tolerante, multiconfessional.
A questão é a dos direitos humanos e da democracia, e percebe-se que um genocício está em curso, quando se leem notícias como estas:

"Syria
The U.N. mission to evacuate civilians from the besieged Old City of Homs and deliver aid resumed Wednesday after being suspended for a day. Talal Barzai, the governor of Homs, said operations had been suspended due to "logistical difficulties." The temporary cease-fire is set to expire Wednesday, but Barzai said it could be extended if more people wish to leave the area. The United Nations expressed concern over men and boys who have been detained after being evacuated. According to the United Nations, about 400 men between the ages of 15 and 54 have been detained, while the governor put the number at 330. The disparity in counts has raised concerns that 70 men have been transferred to the custody of security agencies. U.N. mediator Lakhdar Brahimi said peace talks between the Syrian government and opposition are not making much progress. Brahimi has moved up a meeting to Thursday with U.S. and Russian officials, hoping they can put pressure on their respective allies. On Wednesday, Russia said it would veto a U.N. resolution on humanitarian aid access in Syria if it remains in its current form. Russian Deputy Foreign Minister Gennady Gatilov said of the draft that its "aim is to create grounds for future military action against the Syrian government." Meeting in Washington, U.S. President Barack Obama and French President Francois Hollande criticized Russian aims to block the resolution. Hollande said, "Why would you prevent the vote of a resolution if, in good faith, it is all about saving human lives?" Meanwhile, Syrian warplanes pounded the strategic rebel-held town of Yabroud near Lebanon Wednesday. Syrian government forces backed by Hezbollah fighters have stepped up an offensive in apparent efforts to consolidate control over the border region."

Na última segunda-feira, 10/02, fui a New Haven, na Universidade de Yale, onde assisti a este documentário sobre os genocídios do século 20, e sobre a vida de Rafael Lemkin, o polonês que assistiu ao genocídio de seu próprio povo pelos nazistas, e dos judeus, em seu país e nas cercanias, e que inventou o nome de genocídio para qualificar esses crimes de eliminação de pessoas.
Creio que o termo se aplica inteiramente ao que está ocorrendo na Síria.
Eis a informação sobre o documentário, que recomendo.


Monday, February 10th, 7:00pm - Yale University
Luce Hall Auditorium, 34 Hillhouse Avenue
On Monday, February 10th the Jackson Institute will premier "Watchers of the Sky a documentary film that exposes the uncanny parallels of genocides across time and culture. The film interweaves four stories of remarkable courage, compassion, and determination, while setting out to uncover the forgotten life of Raphael Lemkin - the man who created the word "genocide," and believed the law could protect the world from mass atrocities. Each of the stories open a different window onto the atrocities of genocide, and shows the accumulative power of individuals to transform the world from apathy to action.
Opening remarks by Jackson Institute Senior Fellow, Luis Moreno Ocampo, the first Prosecutor of the International Criminal Court and producers Amelia Green-Dove and Elizabeth Bohart.   

Paulo Roberto de Almeida

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Alianca do Pacifico avanca agressivamente para o livre comercio; enquanto outros...

Parece que as comparações são inevitáveis, com certos "foot-draggers" (ou seja, os indecisos) do outro lado do continente.
Os desafios existem, inclusive o de aprofundar o déficit comercial, temporariamente, como preço a pagar pelo aumento geral dos fluxos comerciais. Mais adiante os desequilíbrios são corrigidos, via câmbio ou investimentos diretos, e o país fica melhor.
Só não acham os protecionistas renitentes...
Paulo Roberto de Almeida

Pacific Alliance: moving forward

Peru's Ollanta Humala, Chile's Sebastián Piñera, Colombia's Juan Manuel Santos, Mexico's Enrique Peña Nieto and Costa Rica's Laura Chinchilla in Cartagena, Colombia
Peru's Ollanta Humala, Chile's Sebastián Piñera, Colombia's Juan Manuel Santos, Mexico's Enrique Peña Nieto and Costa Rica's Laura Chinchilla in Cartagena, Colombia
It’s all about free trade. The Pacific Alliance, a growing bloc in Latin America that stands among the world’s 10 largest economies, sealed a deal on Monday to eliminate tariffs on 92 per cent of goods and services in a move that distances it further from some of its more protectionist neighbours.
“I don’t think there has been an integration process that has taken decisions so fast as the Pacific Alliance has done,” Colombia’s President, Juan Manuel Santos, told beyondbrics.
Formed in June 2012 and cemented in May last year, the tie-up links the free-trading economies of Chile, Colombia, Mexico and Peru, and is moving quickly to fulfil the goal of unrestricted movement of capital, goods and services, as well as people.
Santos, Ollanta Humala of Peru, Enrique Peña Nieto of Mexico, and outgoing Sebastián Piñera of Chile shook hands at a presidential summit in Colombia’s colonial city of Cartagena, also agreeing that the remaining tariffs for agricultural goods will be eliminated gradually over the coming years.
The total output for the four members accounts for more than a third of Latin America’s total gross domestic product. According to the latest available data, in 2o12 the bloc attracted some 41 per cent of all foreign direct investment inflows. Exports were $550bn and imports $561bn in the same year.
Even if trade between the nations has been flowing thanks to bilateral agreements that were in place before the Pacific rim union was established, the alliance also opens the door for member countries to export to markets where some of them had limited or no access, strengthening their value chains to be more competitive in the global supply chain, with a particular focus on Asia.
Santos added:
“We have a common vision on how to manage our economies, common attitudes regarding foreign investment, the role of the market in the economy, respect for private property.”
“Because we have common denominators, we would be able to play with more specific weight on the global economy.”
Other regional economies such as Brazil, Argentina and Venezuela – which are part of another regional bloc called Mercosur – are more inward-looking when it comes to trade and capital flows, and have been struggling with slippery economic growth.
Notwithstanding, late last week, Brazil’s foreign minister, Luiz Alberto Figuereido ,said Mercosur was interested in trade integration with members of the Pacific bloc.
The Pacific Alliance is set to expand in coming months with the entrance of Costa Rica as a full member. Panama and then Guatemala are likely to follow suit. Several other countries inside and outside the region act as observers – including the US, the UK and China.
In addition to removing trade barriers, member countries have opened joint trade offices and diplomatic missions around the world in places such as Ghana, Azerbaijan and Vietnam.
Sceptics say that, for the moment, the Pacific club is not much more than a very successful marketing strategy that highlights how the member countries are open for business. Eduardo Ferreyros, Peru’s former foreign trade minister, shrugs off the argument, saying “what’s been agreed today demonstrates there are concrete results, there is dynamism.”