10/05/2014
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
domingo, 11 de maio de 2014
Heranca maldita exclusivamente da companheira: o caos no setor eletricoe a conta bilionaria para pagar
Eleicoes 2014: traicoes aos companheiros seguem as pesquisas eleitorais
Presidente não deve ter os quatro maiores partidos da base na campanha
BRASÍLIA — A divulgação da última pesquisa Datafolha, que mostra uma tendência consistente de queda na avaliação e intenção de votos da presidente Dilma Rousseff , foi um incentivo a mais para empurrar para fora do barco governista setores expressivos da base aliada que já estavam de olho no crescimento dos adversários Aécio Neves (PSDB-MG) e Eduardo Campos (PSB-PE). Uma parte dos quatro maiores partidos aliados — PMDB, PP, PSD e PR — não acompanhará Dilma este ano. No PMDB, mesmo com o vice Michel Temer, as defecções no apoio a Dilma já atingem Rio, Bahia, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Acre e Roraima. Também há problemas no Paraná, no Mato Grosso do Sul e no Espírito Santo.
Na avaliação de aliados de diversos partidos, até as convenções de julho que decidirão pela manutenção ou não das alianças nacionais com o PT, o nível de traição crescerá caso a presidente continue caindo nas pesquisas de intenção de votos. Aécio vem sendo o maior beneficiário das dissidências entre os partidos dilmistas. No PMDB, estão com ele até o momento os diretórios de Bahia, Rio e Acre; ele pode ainda herdar dissidências no Ceará e no Paraná. Campos, que tinha muitos interlocutores no partido, perdeu terreno com a chegada de Marina Silva, mas ainda deve levar o apoio do PMDB gaúcho e pernambucano, e tem conversas com o diretório do Mato Grosso do Sul.
Segundo cálculos ainda não oficiais do PMDB, de 12 a 14 diretórios estaduais fecham com Dilma. Em alguns estados haverá palanque duplo, como Piauí, Rio Grande do Norte e Goiás. Na próxima semana, a Executiva Nacional reúne os presidentes dos diretórios estaduais, as bancadas da Câmara e do Senado para debater o quadro. Peemedebistas avaliam que a confirmação ou não da aliança PT-PMDB em 2014, na convenção do dia 10 de junho, dependerá do desempenho da presidente Dilma nos próximos dias.
— O que vai determinar a aliança, principalmente nos estados, é a conveniência estadual — diz Danilo Forte (CE), da ala dissidente do PMDB.
Pelas contas de integrantes do PSD, dos 27 diretórios estaduais, cerca de 20 devem estar com Dilma. O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, diz que isso só será decidido nas convenções estaduais. Nas contas das traições, estão dois importantes colégios eleitorais que devem apoiar Aécio: Minas e Rio, além de Goiás, Rondônia, Acre, Roraima e Rio Grande do Norte. Com Campos deve ficar o diretório do partido em Pernambuco.
— Fomos o primeiro partido a definir o apoio a Dilma. É fato consumado. O tempo de TV nacional é dela. No Rio, a decisão de ficar com o PSDB é do Índio da Costa. Ele já foi o vice do José Serra. Mas no Rio teremos núcleo importante se organizando para apoiar Dilma. Estou entusiasmado, fazendo campanha para ela — disse Kassab.
Segundo ele, o partido é novo, e alguns integrantes vieram de siglas de oposição. Por isso, é compreensível que optem, nos estados, por outros candidatos.
No PR, apoio a presidente ainda é predominante
No partido, em que o líder Bernardo Santana (MG) explicitou o “Volta, Lula” — pregando o retrato do ex-presidente com a faixa presidencial na parede da liderança na Câmara —, o quadro de apoios aos presidenciáveis nos estados ainda é majoritariamente dilmista. Líderes do PR tendem a dar palanques a Dilma em 12 estados, contra quatro para Campos e um para Aécio. Em nove diretórios, a situação está indefinida. No partido a orientação é clara: se Dilma continuar caindo nas pesquisas até a convenção nacional, os apoios migram para Aécio ou Campos.
— O que determina o apoio é a performance da presidente. Se mantiver pelo menos os atuais índices, o PR não sai dela. Se despencar, aí não há santo que segure — avaliou o vice-líder do partido, deputado Luciano de Castro (RR).
No PP, a situação é parecida. Por enquanto, o partido dará palanque a Dilma em 20 estados, mas apoiará vários candidatos a governador do PSDB ou do PSB. A senadora gaúcha Ana Amélia Lemos (PP-RS), favorita na disputa pelo governo gaúcho, diz que o presidente do seu partido, o senador Ciro Nogueira (PI), terá de ouvir os diretórios mais expressivos do PP que não estão com Dilma — RS, Minas, SC, Acre, Rio, Amazonas e Goiás — antes da convenção que ratificará ou não a aliança nacional com o PT. No dia 24, o diretório gaúcho do PT fará uma grande festa para oficializar a aliança com Aécio e o Solidariedade, de Paulinho da Força Sindical.
— O melhor e mais inteligente para Dilma, Aécio e Campos é que o PP não feche a coligação nacional com nenhum, para evitar constrangimentos regionais. Assim, o tempo de TV do PP se divide entre os três, e o comando nacional de Ciro será fortalecido nacionalmente — defende Ana Amélia.
Eleicoes 2014: Aecio, ou Tancredo Neves 2.0 - Elio Gaspari
Aécio, ou Tancredo Neves 2.0
Elio Gaspari
Até agora, Aécio jogou parado. Tudo o que ele precisa é chegar ao segundo turno, sem inimigos de morte e com o máximo possível de acordos. Aécio precisa de votos que há quatro, oito ou 12 anos foram para o PT. Em circunstâncias diferentes, Tancredo precisava chegar a uma eleição direta com o apoio de eleitores da bancada do governo.
Indo para uma eleição direta, Aécio ainda não anunciou um programa substantivo. O avô fez melhor, elegeu-se indiretamente sem anunciar programa algum. Essa mágica foi inteiramente eficaz para o avô, mas é duvidoso que o seja nas condições de hoje. Afinal, só 42% dos entrevistados dizem conhecê-lo, e são exatamente os outros 58% que precisam de motivos concretos para votar nele.
Aécio vem sendo beneficiado pela erosão de Dilma, provocada, entre outros fatores, pelo Lula-volta-Lula-não-volta. Tancredo foi beneficiado pela ambiguidade do presidente João Figueiredo, que alimentou a ideia da própria reeleição e não foi a lugar algum.
Tancredo encarnava o fim de um regime de 20 anos. Aécio quer encarnar o fim de um domínio democrático que pretende durar 16. Com uma diferença: tanto na ditadura, que durou 21 anos, como na República Velha, com seus 36, havia uma real rotação dentro do grupo governante. Com o PT no Planalto jamais houve essa rotatividade.
Rodando o programa Tancredo 2.0, Aécio respondeu a um ataque de Marina Silva (“o PSDB sabe que já tem cheiro de derrota”) com um calmante (“não vou cair na armadilha do PT, que é dividir a oposição”). Até agora, deu certo, pois tudo o que pode dar errado com os adversários, errado dá. Contudo, Lula continua no banco de reservas, com 58% dos entrevistados achando que ele deve ser o candidato do PT.
Elio Gaspari é jornalista.
Alarma para o novo perigo mundial: bacterias super-resistentes -Editorial NYT
10/05/2014
Niall Ferguson: para fazer reformas, Brasil tem de mudar as liderancas politicas
Niall Ferguson é autor de diversas obras, entre elas o livro 'War From the Ground Up' (David Levenson/Getty Images)
St Gallen: 'fábrica' de banqueiros suíços decide aderir ao capitalismo sustentável
O mercado não exagerou em seu mau humor em relação ao Brasil?
O que nos temos visto no último ano tem sido, parcialmente, um reequilíbrio de risco no mundo. Há duas razões para isso. Uma é a perspectiva de normalização dos juros nos Estados Unidos e uma mudança de percepção de risco político que há em alguns emergentes. No caso do Brasil, acho que os problemas datam de mais longe. O milagre brasileiro começou a perder seu brilho antes de os ventos começarem a mudar.
Houve milagre, de fato?
Houve muitas melhoras nos anos Lula e que se somaram ao contexto econômico global. Com o leste asiático aumentando a demanda, o Brasil ficou em evidência. Mas qualquer pessoa que visite o país como eu fiz recentemente, em São Paulo, pode ver os problemas. Dois anos atrás eu argumentei que se houvesse a escolha entre Brasil e México, México estava fazendo muito mais reformas estruturais do que o Brasil. Agora, o Brasil tem problemas políticos que não eram percebidos antes e fica difícil ver como o país conseguirá fazer os tipos de reforma que vemos no México até que haja uma verdadeira mudança de liderança política. Isso poderia acontecer, mas parece que as chances são pequenas.
O Brasil vem sendo colocado no grupo dos ‘cinco frágeis’, ao lado da Turquia, um país que passou por problemas políticos gravíssimos. O senhor considera o Brasil, de fato, frágil?
Não creio que o Brasil seja frágil. Fragilidade é exportar pouco, ter um déficit em transações correntes muito grande e uma moeda desvalorizada. Essas características não descrevem necessariamente os principais problemas da economia brasileira. O problema é que o PIB do Brasil não vai crescer de maneira mais acelerada e o país não será um grande lugar para se investir a não ser que haja reformas estruturais significativas. Além disso, há a percepção de que a era dos Brics está chegando ao fim. Foi-se o tempo em que Brasil, Rússia, Índia e China geravam grande expectativa. Essas economias estão crescendo muito mais lentamente do que uma década atrás, quando o termo Bric foi criado.
Brasil crescerá menos que a média dos países da América Latina, aponta FMI
Moody's eleva rating do México — o novo queridinho entre os emergentes
Não há mais espaço para o modelo econômico de estado forte na economia, como é o caso do Brasil e, em maior escala, da China?
Acredito que haja um esgotamento sim. A diferença é que, no caso da China, o governo tem falado de maneira contundente sobre aumentar a participação do setor privado e liberalizar a economia. Eles têm enfrentado essas questões de maneira muito aberta. E por isso que o anúncio do novo plano econômico chinês no ano passado foi tão importante. Mas eu não vejo nada parecido com isso acontecendo no Brasil. O que o governo brasileiro tem oferecido é o mesmo de sempre, com a ressalva de que o mix de políticas piorou no governo Dilma.
O modelo econômico a ser perseguido é o do México?
Acho que ainda é cedo para dizer, mas Enrique Peña Nieto (presidente mexicano) tem buscado atacar questões muito difíceis. Fez reformas no setor energético, no de telecomunicações e na educação. É uma lista que impressiona pelo pouco tempo em que ele está no governo. E a diferença entre a Cidade do México e São Paulo, sendo que visitei ambas recentemente, é gritante. O sentimento na comunidade empresarial em São Paulo era de depressão, enquanto no México estava a todo vapor. Esse é um reflexo revelador sobre a atuação dos governos.
O senhor esteve no Brasil antes dos protestos de junho do ano passado. Na sua avaliação, o fato de não ter havido nenhuma mudança estrutural desde os então diminui sua importância histórica e social?
Vivenciamos um período de protestos em muitos países além do Brasil, sobretudo Turquia e Ucrânia. E o Brasil foi o país em que os resultados foram menos evidentes. Na Turquia, o governo quase foi derrubado. Na Ucrânia, os protestos se transformaram numa espécie de revolução sangrenta que, em todos os aspectos, trará mudanças gigantescas. Olhando de fora, me pergunto quando essas manifestações vão continuar no Brasil e se haverá algo que ameace a Copa do Mundo. O que é certo é que o problema não terminou. Para ter havido tanta insatisfação a ponto de dar início aos protestos e nada ter sido feito, a história certamente terá um novo capítulo.
As razões que originaram os protestos nesses países são comparáveis?
As razões, de fato, foram muito diferentes. O que elas têm em comum é a desilusão, a frustração popular, sobretudo dos jovens, com o atual governo e todo o processo político.
Mantega reduz previsão de crescimento da economia brasileira para 2,3% em 2014
Artigo: Mercados emergentes, moedas decadentes
Certas políticas populistas colocadas em prática no Brasil ao longo da última década podem deixar cicatrizes no amadurecimento da democracia no país?
No caso da América Latina, há um aviso amedrontador sobre os perigos do populismo que é a Venezuela. O que vemos é um governo autoritário que sangra a economia e usa a repressão para manter seu poder. E essa é uma caricatura horrível do que o chavismo deveria ser. Há outros tipos de populismo, como os resquícios do peronismo na Argentina. Mas ao olhar a América Latina como um todo, a maior parte dos países caminha na direção certa, ou seja, um modelo, digamos, chileno de desenvolvimento. Peru também tem mostrado melhoras significativas. O Brasil, apesar de ser uma economia forte, precisa tomar cuidado para não derrapar para a criação de políticas que sejam não apenas economicamente controversas, mas que também prejudiquem a sociedade como um todo, como seus vizinhos populistas.