O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Minha ONU pessoal: os paises da minha plataforma no Academia.edu

De vez em quando, alertado por uma mensagem que informa que alguém buscou algum texto meu na plataforma que mantenho no Academia.edu (https://uniceub.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida), vou ver como andam as estatísticas de acesso, o que é facilitado pela ferramenta Analytics, que lista vários dados de diversas formas, sendo útil, portanto, para saber o que andam buscando por lá.
Mas também se pode saber de onde vieram tantos acessos: são 103 países diferentes, e duas categorias misteriosas, chamadas justamente de "desconhecida", que aparecem em segundo e penúltimo lugares.
Devem ser os espiões clássicos -- CIA, ex-KGB, hoje FSB, MI6, Sdece, DGI, e outros menos conhecidos -- e talvez alguns novos, quem sabe companheiros do pensamento único querendo saber o que estou fazendo em benefício do neoliberalismo, do imperialismo, e contra seus projetos gramscianos de botequim...
Não importa, aqui vai a tabela dos países originários dos acessos neste ssegundo dia do mês de julho de 2014, em pleno solstício de verão, ou quase...
Paulo Roberto de Almeida

Países Visitantes na Plataforma Paulo Roberto de Almeida no Academia.edu, em 2/07/2014

TOP COUNTRIES
Country
30-Day Views
All-Time Views
1)    Brazil
410
2,538
2)    Unknown
27
429
3)    United States
21
232
4)    France
4
116
5)    Portugal
7
91
6)    Spain
2
65
7)    United Kingdom
7
53
8)    Argentina
5
53
9)    Italy
3
40
10) Mozambique
1
40
11) Mexico
2
37
12) Angola
8
30
13) Ecuador
0
29
14) Greece
0
26
15) Canada
1
25
16) Russian Federation
0
25
17) Germany
0
24
18) Netherlands
0
22
19) Egypt
0
19
20) India
2
18
21) Belgium
1
18
22) Uruguay
0
16
23) Japan
0
16
24) Australia
0
16
25) Poland
1
13
26) Colombia
0
13
27) Turkey
0
11
28) Switzerland
2
10
29) Ukraine
1
10
30) Thailand
0
10
31) Romania
0
10
32) China
0
10
33) Senegal
0
9
34) Philippines
0
9
35) Chile
0
9
36) Puerto Rico
0
8
37) Malaysia
0
8
38) Lebanon
0
7
39) Croatia
0
7
40) Guatemala
0
7
41) Algeria
0
7
42) Pakistan
1
6
43) Finland
1
6
44) Ireland
0
6
45) Haiti
0
6
46) Côte D'Ivoire
0
6
47) Austria
1
5
48) South Africa
0
5
49) Tunisia
0
5
50) Sweden
0
5
51) Iran, Islamic Republic Of
0
5
52) Israel
0
5
53) Indonesia
0
5
54) Hungary
0
5
55) Iraq
1
4
56) Zimbabwe
0
4
57) Morocco
0
4
58) Ghana
0
4
59) Ethiopia
0
4
60) Bangladesh
0
4
61) Viet Nam
0
3
62) Slovakia
0
3
63) Slovenia
0
3
64) Serbia
0
3
65) Nigeria
0
3
66) Kenya
0
3
67) Hong Kong
0
3
68) Czech Republic
0
3
69) Congo, The Democratic Republic Of The
0
3
70) Burundi
0
3
71) Singapore
2
2
72) New Zealand
1
2
73) Luxembourg
1
2
74) Cape Verde
1
2
75) Venezuela, Bolivarian Republic of
0
2
76) Tanzania, United Republic of
0
2
77) Timor-Leste
0
2
78) Malta
0
2
79) Macedonia, the Former Yugoslav Republic Of
0
2
80) Kazakhstan
0
2
81) Kuwait
0
2
82) Cameroon
0
2
83) Bahrain
0
2
84) Bulgaria
0
2
85) Togo
1
1
86) Paraguay
1
1
87) Yemen
0
1
88) Trinidad and Tobago
0
1
89) El Salvador
0
1
90) Sudan
0
1
91) Saudi Arabia
0
1
92) Nepal
0
1
93) Norway
0
1
94) Namibia
0
1
95) Martinique
0
1
96) Mongolia
0
1
97) Mali
0
1
98) Korea, Republic of
0
1
99) Kyrgyzstan
0
1
100)                Guinea
0
1
101)                Fiji
0
1
102)                Unknown
0
1
103)                Cuba
0
1
104)                Bolivia
0
1
105)                Bosnia and Herzegovina
0
1



quarta-feira, 2 de julho de 2014

Como as esmolas publicas pioram a vida das pessoas em lugar de melhorar - livro de Jason Riley (Fred Siegel)

Quem duvidar da afirmação e do argumento central do livro pode consultar um simples registro estatístico (que vou buscar para colar aqui, assim que conseguir recuperar).
Olhando-se para um gráfico da renda média da população branca nos EUA -- sim, eles tem essa mania de racializar tudo, e todos sabem como os EUA foram terrivelmente segregados no passado, mas a segregração mental e comportamental ainda continua -- e seu crescimento nas últimas décadas, se tem uma inclinação moderada para cima, ou seja, a renda progrediu, mas não espetacularmente: a renda per capita nos EUA deve ter passado de 20 mil a 45 mil dólares nos últimos trinta anos, sendo que a dos brancos deve estar em torno de 55 mil dólares.
A linha evolutiva da renda dos negros -- sim, são os mais pobres, independentemente de serem negros, mas por isso, e principalmente por serem negros e pobres, foram objeto de políticas de ação afirmativa desde o início dos anos 1960, quando terminou oficialmente a segregação, ainda praticada em muitos estados do Sul -- acompanha relativamente bem a dos brancos, mas obviamente vários patamares abaixo, cerca da metade da dos brancos. Melhorou um pouquinho mais, em algumas épocas, mas depende do ciclo econômico, do desemprego, da qualidade das escolas e de determinados programas governamentais, locais, estaduais ou federais.
No cômputo global, ambas linhas estabilizaram, uma relação à outra, as duas crescendo moderadamente.
Agora, se colocarmos a linha da renda dos imigrantes, ele são tanto asiáticos quanto latinos desde os anos 1960, com alguns aportes de outras regiões, veremos que essa linha ascende vigorosamente para cima, e já está cruzando a dos negros, e deve se encontrar com a renda média dos brancos dentro de duas ou três décadas (isso depende de quantos latinos vão continuar entrando, pois a linha exclusiva dos asiáticos anda mais rápido).
Essa é uma prova que os negros, ajudados nos últimos cinquenta anos pelos poderes públicos não conseguiram de verdade romper as barreiras da pobreza. De fato, eles parecem ter estacionado na pobreza, e isso devido basicamente aos programas de ajuda justamente.
Leiam esta apresentação, e não confundam: "Liberals", nos EUA, são social-democratas, ou socialistas de estilo europeu, interessados no distributivismo e nas políticas de corte igualitário.
Não deu certo nos EUA.
Por que daria certo no Brasil?
Paulo Roberto de Almeida

Books and Culture

FRED SIEGEL
The Poverty of Benevolence
Fifty years of the Great Society have made things worse for blacks, not better.
The City Journal, 2 July 2014
Please Stop Helping Us: How Liberals Make it Harder for Blacks to Succeed, by Jason Riley (Encounter Books, 205 pp., $23.99)

A half-century ago, the Great Society promised to complete the civil rights revolution by pulling African-Americans into the middle class. Today, a substantial black middle class exists, but its primary function has been, ironically, to provide custodial care to a black underclass—one ever more deeply mired in the pathologies of subsidized poverty. In Please Stop Helping Us: How Liberals Make it Harder for Blacks to Succeed, Jason Riley, an editorial writer for the Wall Street Journal who grew up in Buffalo, New York, explains how poverty programs have succeeded politically by failing socially. “Today,” writes Riley, “more than 70 percent of black children are born to unwed mothers. Only 16 percent of black households are married couples with children, the lowest of any racial group in the United States.” Riley attributes the breakdown of the black family to the perverse effects of government social programs, which have created what journalist William Tucker calls “state polygamy.” As depicted in an idyllic 2012 Obama campaign cartoon, “The Life of Julia,” a lifelong relationship with the state offers the sustenance usually provided by two parents in most middle-class families.
Riley’s own life experience gives him powerful perspective from which to address these issues. His parents divorced but both remained attentive to him and his two sisters. His sisters, however, were drawn into the sex-and-drug pleasures of inner-city “culture.” By the time he graduated from high school, his older sister was a single mother. By the time he graduated from college, his younger sister had died from a drug overdose. Riley’s nine-year-old niece teased him for “acting white.” “Why you talk white, Uncle Jason?” she wanted to know. She couldn’t understand why he was “trying to sound so smart.” His black public school teacher similarly mocked his standard English in front of the class. “The reality was,” Riley explains, “that if you were a bookish black kid who placed shared sensibilities above skin color, you probably had a lot of white friends.”
The compulsory “benevolence” of the welfare state, borne of the supposed expertise of sociologists and social planners, undermined the opportunities opened up by the end of segregation. The great hopes placed in education as a path to the middle class were waylaid by the virulence of a ghetto culture nurtured by family breakdown. Adjusted for inflation, federal per-pupil school spending grew 375 percent from 1970 to 2005, but the achievement gap between white and black students remained unchanged. Students at historically black colleges and universities, explained opinion columnist Bill Maxwell, “did not know what or whom to respect. For many, the rappers Bow Wow and 50 Cent were as important to black achievement as the late Ralph Bunche, the first black to win a Nobel Peace Prize, and Zora Neale Hurston, the great novelist.”
“Why study hard in school,” asks Riley, “if you will be held to a lower academic standard? Why change antisocial behavior when people are willing to reward it, make excuses for it, or even change the law to accommodate it?”
In the 50 years since the start of the Great Society and the expenditure of more than $20 trillion to alleviate poverty, millions of newcomers have entered America from Asia and from Africa. They generally arrived in poverty and have improved themselves by dint of self-help and hard work—those boring middle-class values that President Obama’s mentor, Reverend Jeremiah Wright, denounced so strenuously. But if, as Riley demonstrates, the Great Society programs have failed in conventional terms, they have been an overwhelming political success. Together, government workers and the recipients of government benefits make up a formidable voting bloc. Yet their very political success may also prove their undoing: President Obama’s share of the African-American vote increased between 2008 and 2012, but during that period, blacks’ share of the national income declined and their unemployment rate increased.
“Everybody has asked the question,” Frederick Douglass said in an 1865 speech, “‘What should we do with the Negro?’ I have had but one answer from the beginning. Do nothing with us! Your doing with us has already played the mischief with us. Do nothing with us! If the apples will not remain on the tree of their own strength, if they are worm-eaten at the core, if they are early ripe and disposed to fall, let them fall. . . . And if the Negro cannot stand on his own legs, let him fall also. All I ask is, give him a chance to stand on his own legs!” A century and a half later, Jason Riley echoes that advice.

Por que a Liberdade? A resposta e' obvia, mas leia o livro - Cato Institute

Por que a liberdade? Baixe o livro no blog
A coletânea Por qué la libertad (ElCato.org, Fundación para el Progreso, Estudiantes por la Libertad e Atlas Economic Research Foundation), organizada por Tom Palmer, é um convite a pensar problemas importantes longe da vulgata marxista predominante nas universidades, onde a cultura da liberdade é desconhecida pelos estudantes e demonizada pelas esquerdas.

Eis alguns capítulos da obra (espanhol), que é bastante acessível:

* Que significa ser liberal?
* A história e a estrutura do pensamento liberal
* Direitos individuais
* Liberdade, ordem, justiça, paz e prosperidade
* O princípio político da liberdade
* Um princípio, diversas políticas
* A diferença entre política e ética
* Instituições de mercado e instituições políticas
* Estado de Direito
* As origens do Estado e do governo

Agora, o mais importante: o livro pode ser baixado gratuitamente no site do Instituto Cato.

Boa leitura.

Leituras do verao 2014: recomendacoes do site The Edge

To arrive at the edge of the world's knowledge, seek out the most complex and sophisticated minds, put them in a room together, and have them ask each other the questions they are asking themselves.

The Edge Summer Reading 2014


Daron AcemogluJames RobinsonAdam AlterErez Lieberman AidenNick BiltonPaul Bloom John BrockmanNicholas G. CarrTyler CowenJohn M CoatesRichard DawkinsStanislas DehaeneJared DiamondDaniel C. Dennett , Elizabeth DunnMichael I. NortonNicholas EpleyAmanda GefterGerd GigerenzerJoel GoldIan GoldDaniel GolemanRebecca Newberger GoldsteinA. C. GraylingJoshua D. GreeneBrian HareVanessa WoodsSam HarrisBruce HoodWalter IsaacsonKevin KellyDaniel KahnemanMatthew D. LiebermanDaniel LiebermanJaron LanierArmand Marie Leroi
Marcelo GleiserIan McEwanWalter MischelSendhil MullainathanEldar ShafirNathan MyhrvoldJohn NaughtonEvgeny MorozovHans Ulrich ObristSvante PääboAlex (Sandy) Pentland, 
Cass R. SunsteinLeonard Susskind, Charles SeifeLee SmolinMax TegmarkJ. Craig VenterJuan C. Zarate



Regime militar: desencontros Brasil-China - Elio Gaspari

O caso dos nove chineses

Elio Gaspari
O Globo, 2/07/2014

No dia 16 chega ao Brasil o presidente da China, Xi Jinping. Ele governa uma ditadura de vitrine, a segunda economia do mundo, e é o maior parceiro comercial de Pindorama.
Semanas depois, chegará às livrarias O caso dos nove chineses, dos jornalistas Ciça Guedes e Murilo Fiuza de Melo, um magnífico trabalho de pesquisa histórica onde está contada a história de um episódio de vergonhosa marquetagem e histeria do amanhecer da ditadura.
Aconteceu o seguinte:
No dia 3 de abril de 1964, logo depois da deposição do presidente João Goulart, a polícia do governador Carlos Lacerda prendeu no Rio de Janeiro nove cidadãos chineses. Perigosos agentes, comandavam uma rede de 191 pessoas, tinham agulhas envenenadas, bombas teleguiadas e uma lista de personalidades que deveriam ser assassinadas durante a revolução comunista.
Tudo mentira. Dois eram jornalistas da agência estatal e estavam no Brasil desde 1961. Quatro haviam chegado em junho de 1963 para tratar de uma exposição comercial e três vieram em janeiro de 1964, para comprar algodão.
Todos tinham vistos oficiais. Começaram a apanhar no momento da prisão, em suas casas, e depois alguns deles foram espancados pela polícia. Tiveram os apartamentos saqueados e as contas confiscadas (R$ 865 mil em dinheiro de hoje.)
No dia 16, quando Xi Jinping descer em Brasília, completam-se 50 anos dos dias em que os nove chineses estavam trancados em quartéis. Só puderam escrever para as famílias dois meses depois. Só receberam a visita das mulheres (vigiadas por 32 agentes), em agosto.
“O caso dos nove chineses” conta uma história de acovardamento da qual emerge, altaneiro, o advogado Sobral Pinto, que aceitou a defesa dos presos. A Sobral juntaram-se intelectuais como Augusto Frederico Schmidt e jornalistas como Antonio Callado e Carlos Heitor Cony. (Seus destemidos artigos da época, publicados no livro “O ato e o fato”, foram reeditados há pouco.)
Como era tudo mistificação, violência e histeria, em poucos meses o governo ficou com uma batata quente nas mãos. Condenara os chineses a dez anos de prisão, enfrentava uma campanha internacional e não tinha como se explicar. Em fevereiro de 1965, eles foram expulsos e recebidos como heróis em Pequim.
Aí o jogo virou. Desde então, o Império do Meio mostra que tem memória. Não cria caso, mas não esquece. Sempre que surge a ocasião, refere-se ao “contencioso” do episódio. Cinco dos nove estão vivos.
Um deles tornou-se diretor da agência de notícias para a qual trabalhava, outro dirigiu a área de América Latina do Ministério das Relações Exteriores e foi embaixador em Moçambique e Angola. Wang Yaoting chegou a presidente do Conselho para a Promoção do Comércio Internacional. Em 1979, quando o general João Figueiredo visitou a China, ele conversou com um brasileiro:
— Morei um ano no Rio.
— Então o senhor deve conhecer bem o Brasil.
— Conheço muito pouco, porque fiquei aquele ano quase todo preso.
Foram-se os militares, vieram Sarney, Collor, Itamar, Fernando Henrique, Lula e Dilma. Os tempos seriam outros. Talvez, mas até hoje o Império do Meio não recebeu satisfação pelo que sucedeu aos seus cidadãos, nem o dinheiro de volta. Mais: em 1997 (governo Fernando Henrique), um dos jornalistas tentou vir ao Brasil com a mulher, mas não conseguiu visto.

Elio Gaspari é jornalista

Decreto bolivariano dos sovietes companheiros: a Camara deveria rejeita-lo...

Vamos ver se o fará...
Paulo Roberto de Almeida 
Henrique Alves, presidente da Câmara: ele diz que decreto 8.243 fere prerrogativas do Congresso
Henrique Alves, presidente da Câmara: ele diz que decreto 8.243 fere prerrogativas do Congresso. Que o Parlamento reaja!
O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), deve pôr em votação nesta quarta o Decreto Legislativo da Câmara que torna sem efeito o decreto presidencial 8.243 — aquele arroubo bolivariano de Dilma Rousseff —, que submete, ainda que de forma oblíqua, as decisões do governo federal a conselhos populares. Trata-se de uma óbvia usurpação dos poderes do Congresso pelo Executivo. Já tratei do assunto aqui muitas vezes. A Constituição estabelece, sim, a participação direta da população por meio de três instrumentos: plebiscitos, referendos e emendas de iniciativa popular. Os conselhos, na forma como quer o decreto de Dilma, simplesmente substituem a democracia representativa pela democracia direta.
Folha, afirmou Alves: “O decreto está em desarmonia com o princípio da separação dos Poderes, pois ao Congresso Nacional cabe, precipuamente, formulação de políticas públicas, por meio de lei, após amplo debate entre todas as forças políticas — da situação e da oposição — sobre as mais diversas demandas de todos e quaisquer grupos da sociedade, alinhados ou não, ao governo”. É só uma questão de bom senso.
Nesta terça, Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, esteve com Alves. O deputado voltou a defender a retirada do texto, mas o governo deixou claro que não negocia. OI presidente da Câmara lamentou: “Esperava compreensão do governo, mas não foi possível”.
Não custa lembrar trechos do monstrengo dilmiano. O Artigo 1º do decreto estabelece: “Fica instituída a Política Nacional de Participação Social – PNPS, com o objetivo de fortalecer e articular os mecanismos e as instâncias democráticas de diálogo e a atuação conjunta entre a administração pública federal e a sociedade civil”. Sei… O Inciso II do Artigo 3º sustenta ainda que uma das diretrizes do PNPS é a“complementariedade, transversalidade e integração entre mecanismos e instâncias da democracia representativa, participativa e direta”.
Certo! Então os conselhos seriam uma forma de democracia direta, né? Só que é a democracia direta que se realiza à socapa, sem que ninguém saiba. Ou o “cidadão” decide fazer parte de algum “coletivo” ou “movimento social” ou não vai participar de coisa nenhuma. O texto tem o topete de definir o que é sociedade civil logo no Inciso I do Artigo 2º: “o cidadão, os coletivos, os movimentos sociais institucionalizados ou não institucionalizados, suas redes e suas organizações”. Ou por outra: é sociedade civil tudo aquilo que o poder decidir que é; e não é o que ele decidir que não é.
Fim da propriedade privada
Como observei numa coluna na Folha, O “indivíduo” só aparece no decreto para que possa ser rebaixado diante dos “coletivos” e dos “movimentos sociais institucionalizados” e “não institucionalizados”, seja lá o que signifiquem uma coisa, a outra e o seu contrário. Poucos perceberam que o decreto institui uma “justiça paralela” por intermédio da “mesa de diálogo”, assim definida: “mecanismo de debate e de negociação com a participação dos setores da sociedade civil e do governo diretamente envolvidos no intuito de prevenir, mediar e solucionar conflitos sociais”.

Ai, ai, ai… Como a Soberana já definiu o que é sociedade civil, podemos esperar na composição dessa mesa o “indivíduo” e os movimentos “institucionalizados” e “não institucionalizados”. Se a sua propriedade for invadida por um “coletivo”, por exemplo, você poderá participar, apenas como uma das partes, de uma “mesa de negociação” com os invasores e com aqueles outros “entes”. Antes que o juiz restabeleça o seu direito, garantido em lei, será preciso formar a tal “mesa”…
Isso tem história. No dia 19 de fevereiro, o ministro Gilberto Carvalho participou de um seminário sobre mediação de conflitos. Com todas as letras, atacou a Justiça por conceder liminares de reintegração de posse e censurou o Estado brasileiro por cultivar o que chamou de “uma mentalidade que se posiciona claramente contra tudo aquilo que é insurgência“. Ou por outra: a insurgência lhe é bem-vinda. Parece que ele tem a ambição de manipulá-la como insuflador e como autoridade.
Vocês se lembram do “Programa Nacional-Socialista” dos Direitos Humanos, de dezembro de 2009? É aquele que, entre outros mimos, propunha mecanismos de censura à imprensa. Qual era o Objetivo Estratégico VI? Reproduzo trecho:
“a- Assegurar a criação de marco legal para a prevenção e mediação de conflitos fundiários urbanos, garantindo o devido processo legal e a função social da propriedade.
(…)
d- Propor projeto de lei para institucionalizar a utilização da mediação como ato inicial das demandas de conflitos agrários e urbanos, priorizando a realização de audiência coletiva com os envolvidos (…) como medida preliminar à avaliação da concessão de medidas liminares (…)”