Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
sábado, 6 de setembro de 2014
Across the Empire, 2014: postagens no blog Diplomatizzando sobre a viagem pelos Estados Unidos (so far...)
Across the Empire (10): em Portland, buscando cultura...
Um vigilante do museu tirou esta foto minha e de Carmen Lícia, no grande lobby de entrada:
Depois eu tirei esta foto de Carmbem Lícia junto a uma carroça típica dos pioneiros que colonizaram a região.
Oregon tornou-se uma importante região produtora de vinhos, dos melhores aparentemente, similares aos da Califórnia. Só lamentei não ter vinho para comprar no museu: um vinho que tirou nota 9 (sobre 10) num concurso internacional foi um Pinot Noir de 2008. Preciso ir atrás dele...
O aspecto que eu mais valorizo, como todos sabem, é a leitura e a educação. Na seção destinada ao retorno dos GIs locais, os soldados que retornaram da II Guerra Mundial, existe uma informação sobre as caixas de livros que eles recebiam enquanto estavam nas frentes de combates, ou em tarefas de vigilância, e dispondo de tempo morto entre suas missões. Caixas e mais caixas de livros foram expedidas às frentes de guerra.
Na volta, todos os soldados puderam se inscrever em universidades com bolsas federais. Aqui está o que escreveu a respeito o conhecido humorista Art Buchwald, sobre sua inscrição em cursos de terceiro ciclo:
Bem, depois fomos ao bairro chinês, e comemos por lá. Agora vamos sair novamente, e terminar o dia numa das maiories livrarias do mundo: Powell's, um quarteirão inteiro de livros. Parece que tem mais de um milhão. Acho que só vou comprar 3 ou 4, e ver 0,0001% da livraria...
Paulo Roberto de Almeida
Portland, 6 de setembro de 2014
Megacorrupcao atinge os partidos do governo: impressionante a lama dedezenas de politicos (Veja)
Veja, sábado, 6 de setembro de 2014
Paulo Roberto Costa começa a revelar nomes dos beneficiários do esquema de corrupção da Petrobras
• Sergio Cabral, Roseana Sarney, Eduardo Campos, Renan Calheiros e Edison Lobão estão entre os citados nos depoimentos do ex-diretor da Petrobras
Rodrigo Rangel - Veja
Preso em março pela Polícia Federal, sob a acusação de participar de um mega esquema de lavagem de dinheiro comandado pelo doleiro Alberto Youssef, o ex-diretor de Abastecimento e Refino da Petrobras Paulo Roberto Costa aceitou recentemente os termos de um acordo de delação premiada – e começou a falar.
No prédio da PF em Curitiba, ele vem sendo interrogado por delegados e procuradores. Os depoimentos são registrados em vídeo — na metade da semana passada, já havia pelo menos 42 horas de gravação. Paulo Roberto acusa uma verdadeira constelação de participar do esquema de corrupção.
Entre eles estão os presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), além do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB-MA). Do Senado, Ciro Nogueira (PI), presidente nacional do PP, e Romero Jucá (PMDB-RR), o eterno líder de qualquer governo. Já no grupo de deputados figuram o petista Cândido Vaccarezza (SP) e João Pizzolatti (SC), um dos mais ativos integrantes da bancada do PP na casa. O ex-ministro das Cidades e ex-deputado Mario Negromonte, também do PP, é outro citado por Paulo Roberto como destinatário da propina. Da lista de três “governadores” citados pelo ex-diretor, todos os políticos são de estados onde a Petrobras tem grandes projetos em curso: Sérgio Cabral (PMDB), ex-governador do Rio, Roseana Sarney (PMDB), atual governadora do Maranhão, e Eduardo Campos (PSB), ex-governador de Pernambuco e ex-candidato à Presidência da República morto no mês passado em um acidente aéreo.
Paulo Roberto também esmiúça a lógica que predominava na assinatura dos contratos bilionários da Petrobras – admitindo, pela primeira vez, que as empreiteiras contratadas pela companhia tinham, obrigatoriamente, que contribuir para um caixa paralelo cujo destino final eram partidos e políticos de diferentes partidos da base aliada do governo.
Sobre o PT, ele afirmou que o operador encarregado de fazer a ponte com o esquema era o tesoureiro nacional do partido, João Vaccari Neto, cujo nome já havia aparecidao nas investigações como personagem de negócios suspeitos do doleiro Alberto Youssef.
Conheça, nesta edição de VEJA, outros detalhes dos depoimentos que podem jogar o governo no centro de um escândalo de corrupção de proporções semelhantes às do mensalão.
.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-
Caiu a República (coluna Esplanada)
Com informações sigilosas do MP, a Polícia Federal se mobiliza para nova grande operação, a Lava Jato 3, que vai mandar para a cadeia uma penca de assessores, familiares e políticos sem mandato. Na quinta-feira, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Pires abriu o jogo: Pelo menos 70 parlamentares – entre deputados, senadores e um governador – da base aliada receberam propina dele. O caderninho foi entregue e o depoimento gravado em vídeo. Assim que se encerrarem os depoimentos, Pires será solto e livre de processos. Mas por determinação judicial, retido em casa no Rio. Sérgio Cabral, Roseana Sarney, Eduardo Campos, Renan Calheiros estão entre os citados (Balanço prévio. O PT e sua base estão indo para o saco mortuário. É o que se depreende não só das pesquisas eleitorais, mas da delação premiada do ex-diretor. Toda a base está envolvida.
Parem as máquinas! Até a imprensa envolvida. A PF teria gravações do encontro de um conhecido jornalista com o doleiro Alberto Yousseff, no qual o editor de um portal recebeu R$ 240 mil.
Urna ferve. A um mês da eleição, a revista VEJA promete para este sábado trazer a lista dos propinados: seriam governadores, deputados, senadores e um ministro.
,-,-,-,-,-,-,-,-,,-,-,-,-,-,-,-,-,-,-,-,,-,-,-,-,-,-,-,-,-,-
sábado, 6 de setembro de 2014
Reunião de emergência no Planalto avalia estrago causado por delator
Bebes bilingues aprendem mais rapido do que os monoglotas - The Independent
Estudo
Bebês bilíngues aprendem mais rápido que os demais bebês
Estudo mostra que crescer exposto a duas línguas estimula as habilidades cognitivas e a vontade de adquirir conhecimento
Segundo o estudo, bebês expostos a mais de um idioma desenvolvem mais as habilidades cognitivas do que aqueles expostos a apenas uma língua.
O estudo foi conduzido com bebês de vários países, o que comprova que tais benefícios abrangem todas as línguas. Os pesquisadores acreditam que esses benefícios são gerados porque bebês bilíngues desenvolvem cedo a habilidade para processar informações. De acordo com o estudo, essas habilidades permanecem pelo resto da vida adulta.
Eleicoes 2014: desespero companheiro ve os EUA atras de Marina Silva
Samuel Pinheiro Guimarães: EUA apostam em Marina
Eleição de Marina seria a vitória de um modelo diplomático alinhado aos EUA, similar ao que tivemos nos anos 90, diz embaixador Samuel Pinheiro Guimarães.
“Os estrategistas dos Estados Unidos seguramente estão de acordo com as diretrizes da política externa defendida pela candidata Marina Silva. Se ela for eleita, será a vitória de um modelo diplomático similar ao que tivemos nos anos 90”, declarou à Carta Maior o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, ex-secretário-geral do Itamaraty no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Junto do ex-chanceler Celso Amorim e do assessor Marco Aurélio Garcia, Pinheiro Guimarães integrou a troika responsável por planejar de diplomacia com sotaque nas relações Sul-Sul aplicada entre 2003 e 2010. Premissas que “tiveram continuidade a partir de 2011 durante o mandato da presidenta Dilma Rousseff, que adotou medidas muito corretas sobre o Mercosul e contra a Inteligência norte-americana no escândalo da NSA, e resistiu às pressões para a compra de aviões de guerra norte-americanos”, afirmou Pinheiro Guimarães.
No programa de governo apresentado uma semana atrás por Marina, foram formuladas propostas em alguns casos antagônicas às dos governos de Dilma e Lula, além de formular críticas enredadas ao que define como uma diplomacia “ideologizada” e “partidarizada” durante as três gestões petistas.
Embaixador, estamos diante do risco de serem restaurados princípios diplomáticos que dominaram a segunda metade dos anos 90?
Considero que a candidata Marina Silva encarne a anulação do progresso conquistado nestes 12 anos. Ela e os setores que representa buscam outro modelo de inserção internacional. Um pensamento que se traduz no propósito de enfraquecer o Mercosul com o pretexto de torná-lo aberto ao mundo.
Será o fim de qualquer aspiração de uma diplomacia independente?
Até agora, a única vez que escutei Marina falar de independência foi para mencionar a independência do Banco Central (risos).
Washington aposta em Marina ou Aécio?
Não estou em Washington para dizer o que pensam. Agora, há interesses dos Estados Unidos que foram prejudicados durante os governos de Lula e Dilma, e é claro que o candidato de que mais gostavam era o Aécio.
A Embaixada norte-americana adotou um perfil muito discreto nas eleições, mas isso não deve se confundir com o fato de estarem alheios ao que acontece. Quando o Aécio fica fora do jogo, os Estados Unidos se inclinam para a Marina, por pragmatismo e porque ela representa o oposto ao PT. Além disso, é alguém sem quadros próprios e, segundo dizem, tem bons contatos nos Estados Unidos, e que demonstrou estar aberta para desmontar o Estado, reduzir sua capacidade e autonomia internacional. Interessa aos Estados Unidos que o Mercosul sejam desmontado e que projetos da era tucana sejam retomados, não nos enganemos: nestas eleições, está em jogo a retomada do processo privatizador, parcial ou total, da Petrobras, do Banco do Brasil e do BNDES.
Como a Marina implementaria esse desmantelamento do Mercosul?
Avalio que possa começar com a eliminação da cláusula que obriga os países do Mercosul a negociar conjuntamente acordos de livre comércio com outros blocos. Este ponto, que até agora não conseguiram derrubar, é uma cláusula que vem desde o Tratado de Assunção (assinado em 1991, na formação do Mercosul).
E depois de terminada esta limitação, o que aconteceria?
Uma vez eliminada essa cláusula, o caminho estará aberto para a assinatura de acordos do Brasil com a União Europeia, sem a participação dos outros quatro integrantes do Mercosul. Mas se a cláusula continuar em pé, seria igualmente perigoso um pacto entre todo o Mercosul e a União Europeia. E essa negociação, que já se iniciou mas avança lentamente, provavelmente será acelerada durante o governo de Marina.
Quais consequências um acordo com a UE traria?
Muitas, uma delas é a redução considerável das tarifas [de importações] industriais europeias afetando nossas fábricas. Defendo faz tempo que esta aproximação, que agrada os economistas da Marina, é o passo inicial rumo ao fim do Mercosul.
Vou resumir assim: a assinatura de um acordo entre os dois blocos significará uma extraordinária vantagem para empresas europeias que poderão exportar para cá sem que cobremos taxas, enquanto não haverá grandes benefícios para os exportadores sul-americanos.
E acrescento que se este acordo acontecer, afetará outra instituição fundamental do Mercosul, que é a Tarifa Externa Comum, fixada para terceiros países. Se isto acontece, a união aduaneira é pulverizada, qualidade central do Mercosul. E uma vez que chegarmos à hipotética assinatura do pacto de livre comércio com os europeus, os Estados Unidos reaparecerão.
De que maneira?
Os meios e os grupos de interesses brasileiros que se sentirem representados pela Marina só falam de um acordo com a União Europeia por oportunismo, pela boa imagem dos europeus, que seriam maravilhosos, educados, que nos abririam as portas do primeiro mundo. Uma retórica para ocultar que o acordo será prejudicial para nós. Quem quiser saber o que nos espera com esse acordo que pergunte aos gregos e aos espanhóis como a velha Europa é tratada.
Agora tudo isso nos leva ao começo desta conversa, que são os Estados Unidos. Por quê? Porque uma vez assinado o pacto UE-Mercosul, no outro dia, Washington vai querer igualdade de condições comerciais que europeus conquistaram, exigindo de nós um acordo de livre comércio. Os Estados Unidos nunca se esqueceram do espírito da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas).
MAR DEL PLATA, NOVEMBRO DE 2005
No começo da década passada, FHC sancionou Pinheiro Guimarães por ter se oposto publicamente à assinatura da ALCA, que seria enterrada durante a Cúpula das Américas, celebrada em novembro de 2005 no balneário argentino de Mar del Plata, graças a uma frente formada pelos presidentes Lula, Néstor Kirchner, Hugo Chávez e Evo Morales, apoiados por outros líderes sul-americanos diante de um atônito George Walker Bush e de seu aliado, o mexicano Vicente Fox, ex-gerente da Coca Cola com um grande bigode.
A tese da ALCA pode ser recriada com outro nome. É possível que a Marina, FHC e a inteligência neoliberal reciclem o projeto?
Tudo me leva a pensar que o projeto norte-americano de integração hemisférica comercial, de eliminação de barreiras, de sanção de um sistema de leis que privilegiam suas multinacionais etc continua em vigor. É preciso prestar atenção na Aliança do Pacífico (México, Colômbia, Peru e Chile).
Entendo que os Estados Unidos se preparem para retomar essa proposta em caso de a Marina ganhar. Porque suas posições sobre política externa refletem as aspirações se setores empresariais, de banqueiros e grandes meios de comunicação que demonstraram certa saudade da dependência colonial.
Com Marina voltaremos ao passado anterior ao encontro de Mar del Plata?
A candidata parece estar muito aberta a essas ideias. Mas o interessante é que ela não está sozinha.
No seu entorno, se expressa esse espírito anterior à reunião de Mar del Plata. Eu me refiro ao professor André Lara Rasende, ao professor Eduardo Giannetti da Fonseca, à senhora Maria Alice Setúbal (Banco Itaú). Além disso, me parece natural que depois do primeiro turno (5 de outubro) se somem outras pessoas com pensamento similar e que hoje estão junto do candidato Aécio. Estou falando o professor Armínio Fraga, do professor Pedro Malán.
DILMA REELEITA
O senhor acredita que, apesar da subida de Dilma, a Marina será a futura presidenta?
Não, pelo contrário, acredito que, apesar de toda esta comoção, a presidenta Dilma será reeleita. Acredito que, ao longo destes dois meses, as ideias da ex-senadora vão ficar em evidência.
Neste caso, quais seriam os objetivos de sua política externa em um segundo mandato?
Em primeiro lugar, deve-se mencionar que sua política externa não teve diferenças coma de Lula, apesar de Dilma não ter o mesmo estilo de fazer política externa. Trabalho para reforçar os BRICS, impulsionou o banco dos BRICS, foi firme a favor da entrada da Venezuela no Mercosul, apesar de os Estados Unidos terem manifestado abertamente seu interesse em substituir o governo venezuelano, postura que encontra eco na grande imprensa brasileira, no FHC e nos dirigentes tucanos
No segundo mandato, a presidenta deveria ter como objetivo reduzir a vulnerabilidade externa do país, a dependência de capitais especulativos para o pagamento da dívida e tudo isto cria um círculo vicioso que aumenta as taxas de juros. É falso, é um mito que as taxas sobem para combater a inflação.
Ou seja, as alianças diplomáticas devem continuar, mas são necessárias mudanças na estratégia econômica internacional?
Sim, e está completo o comentário dizendo que em um segundo governo a presidenta Dilma terá que trabalhar para diversificar nosso comércio exterior, para reduzir nossa vulnerabilidade comercial devido ao crescimento das exportações de produtos primários cujos preços não somos nós quem decidimos. Quando digo diversificar penso em base para reforçar exportações industriais porque o Brasil corre o risco de seguir rumo a uma especialização regressiva na produção agropecuária e mineral, acompanhada de uma contração do setor industrial, aliada a uma atrofia de sua capacidade tecnológica.
Educacao piora, como era de se esperar sob os companheiros
VEJA.com, 5/09/2014
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão ligado ao Ministério da Educação, divulgou na tarde desta sexta-feira os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) relativos a 2013. O Ideb mede a qualidade do ensino nos ciclos fundamental (1º a 9º ano) e médio de escolas públicas e privadas de todo o Brasil.
Os dados revelam que há estagnação nas duas etapas. Nos anos finais do fundamental e no médio, todos os indicadores gerais ficaram abaixo das metas previstas: isso inclui as médias nacional e das redes públicas (estaduais e municipais) e privadas. A exceção foi registrada nos anos iniciais do ensino fundamental, em que a única constatação negativa ficou na rede privada, que não atingiu a meta estabelecida (confira os dados nos gráficos abaixo).
O Ideb tem dupla função. Por um lado, avalia (em uma escala de 0 a 10) a qualidade da educação que já é oferecida. Por outro, propõe metas que escolas e redes de ensino devem atingir até 2021. As metas, contudo, são modestíssimas. O Ideb prevê, por exemplo, que o conceito médio nos primeiros anos do ensino fundamental atinja só em 2021 a nota 6 — correspondente, segundo cálculo do Inep, à média alcançada em 2003 pelos alunos de nações desenvolvidas noPisa, mais importante avaliação educacional do planeta. Ou seja, se o brasileiro médio chegar a esse patamar em 2021, estará quase duas décadas atrasado.
Dentro das limitações desse cenário, o Ideb 2013 confirmou tendências dos anos anteriores. Na média, o ensino avança vagarosamente, em geral atingindo metas propostas ao país e redes de ensino. Outra tendência clara é o rebaixamento das médias a cada ciclo escolar. Assim, as notas do 5º ano são superiores às do 9º, que, por sua vez, superam as do ensino médio. “De maneira geral, o Brasil está se organizando no ensino primário. Depois disso, no segundo ciclo, quando exige-se mais sofisticação, professores mais preparados, estamos patinando”, diz Ilona Becskeházy, mestre e consultora em educação, sobre a tendência já delineada em anos anteriores.
“A melhora nas notas do ensino fundamental se deve, em primeiro lugar, à própria existência do índice. As escolas estão cada vez mais conscientes da importância das avaliações nacionais e preocupadas em não ter uma pontuação ruim. Há Estados como Minas Gerais em que a nota é divulgada na porta da escola: ninguém quer passar vergonha”, diz Claudio de Moura Castro, especialista em educação e colunista de VEJA. “Se observarmos os dados detalhadamente, contudo, veremos que as iniciativas para melhorar a qualidade do ensino e aumentar a aprovação são pulverizadas. Ou seja, nem todo mundo está avançando.”
Atraso nas notas
Neste ano, a divulgação dos dados do Ideb demorou mais do que em edições anteriores. Em 2010, os dados relativos a 2009 foram publicados no dia 1º de julho; em 2012, os números relativos a 2011 saíram no dia 14 de agosto.
Reportagem do jornal O Globo publicada na quarta-feira afirmou que o governo federal havia retido os dados na Casa Civil por razões eleitorais: um eventual resultado ruim no Ideb poderia afetar campanhas aliadas. MEC, Inep e Casa Civil se pronunciaram sobre a reportagem. Por meio de notas de conteúdo semelhante, negaram que a divulgação dos dados tivesse sido retardada deliberadamente.
O ministro da Educação, José Henrique Paim, afirmou que o atraso na divulgação dos dados foi provocado pelo aumento no número de recursos apresentados por Estados e municípios — que pediam revisão de suas notas. “Tivemos um conjunto muito grande de recursos, 30% a mais (do que em 2012). Nós queremos ter toda a segurança para divulgar esses números”, disse.
Eleicoes 2014: os mafiosos se mobilizam contra quem pode tira-los do poder - Reinaldo Azevedo
É absolutamente legítimo debater tudo isso. Cabe, sim, ao PT, ao PSDB e a outros chamar a atenção para o que está malparado no programa do PSB, especialmente porque, é evidente, Marina pode ser a presidente da República. Segundo as pesquisas, se a eleição ocorresse amanhã, a eleita seria ela. Assim, nada mais urgente e relevante do que abordar esses temas.
Mas vamos com cuidado aí. Leio que a Federação Única dos Petroleiros, ligada à CUT, vai organizar um ato em defesa do pré-sal. É mesmo? Ele está sendo ameaçado por quem? Conversa mole! Trata-se apenas de um braço do PT, que se alimenta do imposto sindical, a atuar contra a candidatura de Marina, que a petista Dilma Rousseff acusa de não dar o devido valor à área de petróleo. “Não podemos fazer como a Marina, que desdenha essa riqueza”, diz José Maria Rangel, dirigente da entidade.
É uma confissão de politicagem. Por que a FUP não se manifestou e não se manifesta sobre os reiterados escândalos na Petrobras? Cadê a FUP para protestar contra a desastrada compra da refinaria de Pasadena? Cadê a FUP para mobilizar seus filiados contra a queda de 50% do valor de mercado da estatal?
Os bate-paus do petismo que estão no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal também se juntam ao PT para acusar Marina de propor o enfraquecimento dos bancos públicos, com o objetivo de privatizá-los depois. É pistolagem política. É mentira. Não há nada disso no programa de Marina. No passado, foram acusados da mesma coisa os tucanos Geraldo Alckmin e José Serra. Se Aécio estivesse em segundo lugar nas pesquisas, o alvo seria ele.
Ora vejam… Os supostamente independentes João Pedro Stedile, chefão do MST, e Guilherme Boulos, proprietário do MTST — dois promotores contumazes de invasões de propriedades públicas e privadas —, também vieram a público para atacar Marina e defender o seu partido de coração e, quem sabe?, de carteirinha: o PT. Os dois querem a continuidade do atual governo porque sabem que podem impor as suas vontades, promover ilegalidades e sair impunes — contando com as prebendas que seus respectivos movimentos recebem do poder público.
O debate político é uma obrigação e uma necessidade. A ação contra Marina do corporativismo dos sindicalistas de estatais e dos esquerdistas chapas-brancas não passa de pistolagem política. No momento, seu alvo é Marina. Seria qualquer outro que disputasse a eleição com um petista. Essa gente toda, de algum modo, está mamando nas tetas do dinheiro público e tem medo de perder privilégios.
O Mega-Mensalao dos companheiros: Petrobras a servico dos totalitarios - Reinaldo Azevedo
Paulo Roberto começou a prestar seu depoimento no dia 29 de agosto. Já gravou 42 horas de conversa. E, tudo indica, está apenas no começo. O Ministério Público Federal e o STF acompanham a operação, já que a denúncia envolve uma penca de autoridades com direito a foro especial. O esquema que ele denuncia é gigantesco. Ainda voltaremos muitas vezes a esse tema. Mas notem como é ridícula toda aquela conversa sobre financiamento público de campanha. Ainda que isso existisse, o mecanismo não serviria para impedir que máquinas criminosas se instalassem em estatais. Se o Brasil quer acabar com boa parte da roubalheira, deve começar privatizando as empresas públicas. Quais? Todas!
VEJA teve acesso a parte do depoimento de Paulo Roberto e traz reportagens exclusivas na edição desta semana, com a lista dos nomes citados por Paulo Roberto. Entre eles, estão cabeças coroadas da política brasileira, como o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, que morreu numa acidente aéreo no dia 13 de agosto, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), e Sérgio Cabral, ex-governador do Rio (PMDB). Paulo Roberto acusa ainda Edison Lobão, atual ministro das Minas e Energia, e atinge o coração do Congresso: estão em sua lista os presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
PT, PMDB e PP seriam os três beneficiários do esquema, que teria também como contemplados os senadores Ciro Nogueira (PP-PI) e Romero Jucá (PMDB-RR), e os deputados petistas João Pizzolatti (SC) e Candido Vaccarezza (SP), que já havia aparecido como um dos políticos envolvidos com o doleiro Alberto Youssef, que era quem viabilizava as operações de distribuição de dinheiro. Mas há muitos outros, como vocês poderão constatar nas reportagens de VEJA, como Mário Negromonte, ex-ministro das Cidades, do PP da Bahia.
Lula e Dilma não quiseram se pronunciar a respeito. Os demais negam envolvimento com Paulo Roberto. Alves, o presidente da Câmara, chega a dizer ao repudiar a acusação: “A Petrobras é petista”. Que o PT estivesse no centro do esquema, isso parece inegável. Um dos nomes da lista feita pelo engenheiro é João Vaccari Neto, o homem que cuida do dinheiro do PT. É secretário de Finanças do partido. Ele é, vejam a ironia da coisa, o substituto de Delúbio Soares. Não é a primeira fez que seu nome frequenta o rol de envolvidos em escândalos.
Paulo Roberto tem noção da gravidade de suas acusações. Tanto é que, quando ainda hesitava em fazer a delação premiada, cravou a frase: “Se eu falar, não vai ter eleição”.
E por que falou? A interlocutores, ele diz que não quer acabar como Marcos Valério, que ficará por muitos anos na cadeia, enquanto os chefões políticos do mensalão já se preparam para viver dias felizes fora do xadrez. O homem também está muito magoado com a presidente Dilma. Até agora, ele não fez nenhuma acusação direta à candidata do PT à reeleição — Lula não escapou —, mas deixa claro que ela foi, sim, politicamente beneficiada pelo propinoduto, que mantinha feliz a base aliada.
Qual vai ser o desdobramento político disso? Vamos ver. Uma coisa é certa: as revelações de Paulo Roberto atingem em cheio as duas candidatas que lideram a disputa pela Presidência da República: Dilma, por razões óbvias, e Marina, por razões menos óbvias, mas ainda assim evidentes. Ela é a atual candidata do PSB à Presidência. Confirmadas as acusações de Paulo Roberto, é de se supor que o esquema ajudou a financiar as ambições políticas de Campos, de que ela se tornou a herdeira.
A situação de Dilma, obviamente, é mais grave: afinal, ela era a czarina do setor energético, ao qual pertence a Petrobras. Presidia também o seu conselho. Deu um empregão para Nestor Cerveró, o homem que ajudou a viabilizar a compra de Pasadena, que Paulo Roberto agora diz ter sido fraudulenta. O chefão das finanças de seu partido é um dos implicados no esquema.
Paulo Roberto ainda está preso. Ele se comprometeu a abrir mão dos bens que acumulou em razão do esquema fraudulento e a pagar uma multa. As pessoas que atuam na investigação têm agora de confrontar suas informações com outras provas colhidas, com o objetivo de verificar se suas informações são procedentes. Se forem e se ele realmente ajudar a desbaratar um esquema de falcatruas bilionárias, pode ser até ganhar a liberdade.
A República treme.