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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Ala dos Napoleoes: Marilena Chaui propoe um comite para estudar reeleicao de Alckmin, em SP

Existem loucos e loucos...
Pois eu proporia uma junta médica, com pelo menos dez psquiatras para estudar o curioso caso desta senhora. Talvez um outro comitê da USP possa ver se ela não precisa de algum medicamento importado. Caso único na academia brasileira, ela não chega a compreender politicamente uma vitória eleitoral.
Como ela disse uma vez que odiava a classe média, acho que a classe média se vingou, só para deixar ela maluca de vez...
Paulo Roberto de Almeida

ANÁLISE

Marilena se diz estarrecida e propõe estudo de caso sobre reeleição de Alckmin

Filósofa pede que acadêmicos se reúnam para tentar encontrar explicações para quarto mandato do governador em meio a racionamento, denúncias de corrupção e problemas de gestão
por Redação RBA REde Brasil Atual,06/10/2014 11:29
121 Comments
JORGE ARAÚJO/FOLHAPRESS
marilena_Jorge Araújo_Folhapress.jpg
Professora da USP considera que discurso do mérito individual e despolitização prejudicam São Paulo
São Paulo – A filósofa Marilena Chauí propõe que acadêmicos somem esforços para tentar entender os motivos que levaram o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, a conquistar um novo mandato nas eleições realizadas ontem (5). Em entrevista à Rádio Brasil Atual, a professora da USP afirmou ter proposto ao presidente da Fundação Perseu Abramo, o economista Marcio Pochmann, que estude ao longo dos próximos quatro anos os processos que explicam que o PSDB possa chegar a mais de duas décadas de comando do Palácio dos Bandeirantes.
“O PSDB tem uma monarquia hereditária. Alguém precisa entender o que acontece em São Paulo. A reeleição do Alckmin no primeiro turno é uma coisa verdadeiramente espantosa”, avaliou. Para ela, é difícil explicar como o governador obtém seu quarto mandato em meio a racionamento de água, denúncias de corrupção e problemas sérios na gestão pública, como a perda de qualidade do Metrô paulistano, alvo de denúncias de formação de cartel e pagamento de propina a políticos do PSDB.
“Por que fico estarrecida? Porque você teve milhares e milhares e milhares de jovens nas ruas pedindo em São Paulo mais saúde e mais educação. Se você pede mais saúde e mais educação, considera que são direitos sociais e que têm de ser garantidos pelo Estado. E aí você reelege Alckmin. Estou tentando entender como é possível você reivindicar aquilo que é negado por quem você reelege.”
Ela avalia que o PSDB trata políticas públicas não como direitos, mas como um produto que a população deve ter recursos financeiros para adquirir. Nesse sentido, entende também que uma parcela da sociedade paulista enxerga os avanços que teve ao longo de 12 anos de governo federal do PT não como uma melhoria no papel do Estado, mas como um mérito individual. “Não há nenhuma articulação entre a mudança de trabalhador manual para trabalhador de serviços e as mudanças sociais no país. É visto como uma ideologia de classe média, que é a do esforço individual.”
Marilena Chauí considera que ainda é cedo para estabelecer uma relação entre o saldo final das manifestações de junho e o alto número de abstenções e de votos brancos e nulos – 19,39% se abstiveram, 3,84% votaram em branco e 5,80% em nulo. De outro lado, ela avalia que o resultado geral das eleições de ontem, com crescimento de Aécio Neves (PSDB) na reta final da corrida presidencial e diminuição da representação dos trabalhadores no Congresso, tem um claro reflexo do trabalho feito pela mídia tradicional pela despolitização da sociedade.
“Uma das coisas que mais têm acontecido no país é um processo realizado pela grande mídia, tanto impressa como falada como televisiva, é um processo que vem vindo nos últimos oito anos, e sobretudo nos últimos quatro, de esvaziamento sistemático de toda e qualquer discussão política. Você tem a operação da comunicação por slogan e algumas imagens. Fora disso você não tem o verdadeiro debate político. Eu diria que os partidos políticos são responsáveis também pela ausência de um grande debate político. Ou porque não têm o que propor, ou porque não querem entrar neste debate.”

Eleicoes 2014: um Itamaraty verde? Marina Silva como "chancelera" de Aecio? A ver...

Já ouvi todos os tipos de boatos sobre um futuro governo Aécio Neves, inclusive que Joaquim Barbosa seria seu ministro da Justiça.
Esta ainda não tinha ouvido, e penso que não tem fundamento, a acreditar na falta de crédito do jornalista (ops!), mas para cada notícia, ou fofoca, tem de haver algum fundamento, sob risco de perda de crédito total...
Paulo Roberto de Almeida

TERÇA, 07/10/2014, 09:15

Por apoio no segundo turno, PSDB sinaliza convite a Marina ao Ministério das Relações Exteriores

Kennedy Alencar, CBN
 
Se eleito, a ideia de Aécio Neves é que a ex-senadora seja uma espécie de chanceler verde do Brasil. Além disso, o Itamaraty daria menos foco ao Mercosul para negociar mais com os EUA e a União Europeia, diferentemente do PT.
A ideia do PSDB é que Marina lidere a diplomacia verde do Brasil no mundo. Com Aécio e Marina, o Itamaraty daria menos foco ao Mercosul e mais a tentativas de negociar em blocos com os Estados Unidos e a União Europeia.
No entanto, Aécio e Marina ainda decidem sobre fim da reeleição, proposta da candidata do PSB que seria condição para apoio a Aécio.
Já Dilma se reúne com políticos aliados em Brasília e tenta reforçar sua candidatura na região Sudeste, que reúne os maiores colégios eleitorais do país. No Rio de Janeiro, Michel Temer conversou com Pezão e pediu apoio a Dilma, numa tentativa de evitar a chapa “Aezão”. Em São Paulo, a situação é mais complicada. Haverá uma reunião de prefeitos do PMDB e do PT – partidos adversários na eleição estadual - para tentar afinar parceria. Em Minas Gerais, a responsabilidade vai ficar com Fernando Pimentel (PT), governador eleito no primeiro turno, já que Aécio tenta virar o jogo em seu estado.
Marina Silva durante debate da TV Globo (Crédito: Marcelo Carnaval / Agência O Globo)Marina Silva durante debate da TV Globo
(Crédito: Marcelo Carnaval / Agência O Globo)
duração: 03:50

Leia mais: http://cbn.globoradio.globo.com/comentaristas/kennedy-alencar/2014/10/07/POR-APOIO-NO-SEGUNDO-TURNO-PSDB-SINALIZA-CONVITE-A-MARINA-AO-MINISTERIO-DAS-RELACOES-E.htm#ixzz3FWRJtIhc

Bibliografia seletiva (e pessoal) sobre RI e PExt do Brasil - Paulo Roberto de Almeida

Contendo, inclusive, diversas análises sobre a diplomacia companheira, a começar por este último artigo, de onde, aliás, retirei esta bibliografia:

A política externa companheira e a diplomacia partidária: um contraponto aos gramscianos da academia, por Paulo Roberto de Almeida

Lista seletiva de trabalhos do autor sobre política externa do Brasil:

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Eleicoes 2014: coisas bizarras na Republica Degenerativa da Companheirada

Não estou acusando a Justiça Eleitoral, não estou contestando o processo de votação, mas desde o domingo 5, logo pela tarde, comecei a ler relatos sobre problemas que ocorreram com vários eleitores, de dois tipos:
1) Eleitores foram votar e descobriram que alguém já tinha votado por eles antes; pode ter sido engano do presidente da mesa e dos mesários que examinaram os documentos e podem ter digitado errado, e o "eleitor" substituto não reparou, ou preferiu não fazer nada; mas também pode ter sido fraude deliberada: afinal de contas, poucos dias antes das eleições, a polícia prendeu um sujeito em GO que tinha mais de 30 títulos falsos consigo. O mesmo pode ter ocorrido em outras circunstâncias e com outros "eleitores" fantasmas.
2) Eleitores foram votar e depararam com uma urna eletrônica rebelde: ditavam um número, aparecia outro, ou simplesmente não confirmava, mas dava por encerrado o processo. Curioso que eu não vi nenhuma reclamação de algum petista reclamando que fez o 13 e deu o 45, ou 40, mas ouvi, ou li, vários casos de gente que colocou 45 e deu 13. Deve ser uma mania dessas urnas.
Abaixo um dos relatos colhidos ao acaso, mas eu li algumas dezenas de outros nos últimos 3 dias.
Suprimi os nomes aqui, mas tenho os registros dos demais casos...
O caso vai passar sem investigação?
Paulo Roberto de Almeida

[A C L] Estou chegando do Cartório eleitoral, no Jardim Botânico. Estou INDIGNADA, IRRITADA, COM GANA DE ESTAPEAR ALGUÉM POR TANTA INDIGNAÇÃO. VOTEI NO AÉCIO E NÃO APARECEU A FOTO E NEM O NÚMERO DELE. APARECEU IMEDIATAMENTE A FAIXA DE PREENCHIMENTO TIPO DOWNLOAD E DEU COMO ENCERRADA A MINHA VOTAÇÃO. Reclamei e me mandaram para o cartório eleitoral registrar a ocorrência.

  • Essas urnas estão roubando voto, porque soube que um rapaz votou na Marina e aconteceu a mesma coisa, em outra zona eleitoral da zona sul.
     [M F O] No caso, o PSDB divulgou esse comentario (e aconselho você a fazer isso pelo bem do Brasil):

    Caso alguma situação diferente tenha ocorrido com você, por favor, avise o mesário e mande uma mensagem para aeciocampanha2014@gmail.com ou para o Whatsapp (11) 95210-4827, com seu nome e telefone, para fazermos contato.
  • Fukuyama completa sua obra sobre a ordem politica pos-Huntingtoniana (NYT Book Review)


    Global Warning
    Francis Fukuyama’s ‘Political Order and Political Decay’
    By SHERI BERMAN
    The New York Times Book Reviews, September 11, 2014 

    Political Order and Political Decay: From the Industrial Revolution to the Globalization of Democracy
    By Francis Fukuyama
    Illustrated. 658 pp. Farrar, Straus & Giroux. $35.
    In 1989, Francis Fukuyama published an essay in The National Interest entitled “The End of History?” that thrust him into the center of public debate. Although often misunderstood and maligned, its central argument was straightforward and sensible: With the collapse of Communism, liberal democracy stood alone as the only form of government compatible with socio­-economic modernity. Over the years since, Fukuyama has continued to argue the case, and has now summed up his efforts with a two-­volume magnum opus that chronicles global political development from prehistory to the present. A quarter-century on, he remains convinced that no other political system is viable in the long run, but concludes his survey with a sobering twist: Liberal democracy’s future is cloudy, but that is because of its own internal problems, not competition from any external opponent.
    Fukuyama began the first volume, “The Origins of Political Order,” which appeared in 2011, by stating that the challenge for contemporary developing countries was how to “get to Denmark” — that is, how to build prosperous, well-governed, liberal democracies. This, in turn, required understanding what “Denmark” — liberal democracy — actually involved. Drawing on the insights of his mentor Samuel Huntington, Fukuyama argued that political order was all about institutions, and that liberal democracy in particular rested on a delicate balance of three distinct features — political accountability; a strong, effective state; and the rule of law. Accountability required mechanisms for making leaders responsive to their publics, which meant regular free and fair multiparty elections. But elections alone were not enough: A true liberal democracy needed to have its institutions of accountability supplemented by a central government that could get things done and by rules and regulations that applied equally to everyone.
    Fukuyama showed how throughout human history these three factors had often emerged independently or in various combinations. China, for example, developed a state long before any existed in Europe, yet did not acquire either the rule of law or political accountability. India and much of the Muslim world, by contrast, developed something like the rule of law early on, but not strong states (or, in much of the Muslim world, political accountability). It was only in parts of Europe in the late 18th century, Fukuyama noted, that all three aspects started to come together simultaneously.
    “Political Order and Political Decay” picks up the story at this point, taking the reader on a whirlwind tour of modern development from the French Revolution to the present. Fukuyama is nothing if not ambitious. He wants to do more than just describe what liberal democracy is; he wants to discover how and why it develops (or does not). So in this volume, as in the previous one, he covers a vast amount of ground, summarizing an extraordinary amount of research and putting forward a welter of arguments on an astonishing range of topics. Inevitably, some of these arguments are more convincing than others. And few hard generalizations or magic formulas emerge, since Fukuyama is too knowledgeable to force history into a Procrustean bed.
    Thus he suggests that military competition can push states to modernize, citing ancient China and, more recently, Japan and Prussia. But he also notes many cases where military competition had no positive effect on state building (19th-century Latin America) and many where it had a negative effect (Papua New Guinea, as well as other parts of Melanesia). And he suggests that the sequencing of political development is important, arguing that “those countries in which democracy preceded modern state building have had much greater problems achieving high-quality governance than those that inherited modern states from absolutist times.” But the cases he gives as examples do not necessarily fit the argument well (since Prussia’s state eventually had trouble deferring to civilian authorities and the early weakness of the Italian state was probably caused more by a lack of democracy than a surfeit of it). In addition, he surely understands that authoritarianism is even more likely to generate state weakness than democracy since without free media, an active civil society and regular elections, authoritarianism has more opportunities to make use of corruption, clientelism and predation than democracies do.
    Perhaps Fukuyama’s most interesting section is his discussion of the United States, which is used to illustrate the interaction of democracy and state building. Up through the 19th century, he notes, the United States had a weak, corrupt and patrimonial state. From the end of the 19th to the middle of the 20th century, however, the American state was transformed into a strong and effective independent actor, first by the Progressives and then by the New Deal. This change was driven by “a social revolution brought about by industrialization, which mobilized a host of new political actors with no interest in the old clientelist system.” The American example shows that democracies can indeed build strong states, but that doing so, Fukuyama argues, requires a lot of effort over a long time by powerful players not tied to the older order.
    Yet if the United States illustrates how democratic states can develop, it also illustrates how they can decline. Drawing on Huntington again, Fukuyama reminds us that “all political systems — past and present — are liable to decay,” as older institutional structures fail to evolve to meet the needs of a changing world. “The fact that a system once was a successful and stable liberal democracy does not mean that it will remain so in perpetuity,” and he warns that even the United States has no permanent immunity from institutional decline.
    Over the past few decades, American political development has gone into reverse, Fukuyama says, as its state has become weaker, less efficient and more corrupt. One cause is growing economic inequality and concentration of wealth, which has allowed elites to purchase immense political power and manipulate the system to further their own interests. Another cause is the permeability of American political institutions to interest groups, allowing an array of factions that “are collectively unrepresentative of the public as a whole” to exercise disproportionate influence on government. The result is a vicious cycle in which the American state deals poorly with major challenges, which reinforces the public’s distrust of the state, which leads to the state’s being starved of resources and authority, which leads to even poorer performance.
    Where this cycle leads even the vastly knowledgeable Fukuyama can’t predict, but suffice to say it is nowhere good. And he fears that America’s problems may increasingly come to characterize other liberal democracies as well, including those of Europe, where “the growth of the European Union and the shift of policy making away from national capitals to Brussels” has made “the European system as a whole . . . resemble that of the United States to an increasing degree.”
    Fukuyama’s readers are thus left with a depressing paradox. Liberal democracy remains the best system for dealing with the challenges of modernity, and there is little reason to believe that Chinese, Russian or Islamist alternatives can provide the diverse range of economic, social and political goods that all humans crave. But unless liberal democracies can somehow manage to reform themselves and combat institutional decay, history will end not with a bang but with a resounding whimper.

    Sheri Berman teaches political science at Barnard College, Columbia University.

    A version of this review appears in print on September 14, 2014, on page BR1 of the Sunday Book Review with the headline: ‘Political Order and Political Decay’. Order Reprints|Today's Paper|Subscribe


    Eleicoes 2014: a divisao do Brasil, o projeto dos companheiros, enfim realizada (não como eles queriam...)

    O Brasil, como queriam os companheiros, se descobre dividido. Sempre existiram desigualdades regionais e iniquiucanosdades sociais, o Brasil rico e o Brasil pobre, não com essa nitidez, mas num continuum, como ocorre em qualquer sociedade.
    O que os companheiros fizeram foi acenturar as diferenças: nos e eles, as elites e o povo, os pobres e os ricos, os negros e os brancos, os progressistas e os conservadores, nós e os tucanos, enfim, sempre dividindo o país, e insistindo nessas divisões.
    Pois eles conseguiram.
    Agora vai ser preciso unir o país outra vez.
    Paulo Roberto de Almeida


    Um olhar atento para o mapa eleitoral
    Luiz Carlos Azedo

    É grande a ressaca no alto comando petista, que pela segunda vez precisa mudar de tática na campanha eleitoral: a primeira, após a morte do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, quando Marina passou Aécio; a segunda, agora, com o desfecho do primeiro turno, no qual o tucano se recuperou e ameaça abalar o favoritismo de Dilma Rousseff, tomando-lhe o lugar de liderança no segundo turno. À beira de um ataque de nervos, a petista aguarda as primeiras pesquisas dessa semana para saber se Aécio parou de crescer ou não.
    Ontem, estrategistas das duas campanhas se reuniram com os candidatos para fazer um balanço do resultado das urnas e decidir o que fazer. Uma análise prospectiva leva à conclusão óbvia: o resultado das urnas foi melhor para Aécio do que se esperava. Dilma trabalhou na reta final para ganhar a eleição no primeiro turno, mas não atingiu o objetivo porque aconteceu o que parecia impossível: perdeu votos para o tucano. Para quem estava perdendo em Minas Gerais e enfrentou dificuldades para consolidar sua candidatura em São Paulo, Aécio Neves saiu no lucro. E que lucro!
    Em São Paulo, estado no qual o tucano Geraldo Alckmin foi eleito com folga no primeiro turno (57,31% do total de votos) e José Serra teve uma votação consagradora para o Senado (58,49%), Aécio Neves teve 43, 7% dos votos; Dilma, 26,1%; e Marina 23,9%. Dificilmente os votos de Marina migrarão para a petista, sobretudo por causa dos duros ataques que sofreu durante a campanha. A captura desses votos por Aécio pode decidir a eleição a seu favor, caso consiga também reverter a situação eleitoral em Minas Gerais e abrir a porteira do Nordeste, com o apoio do clã Arraes em Pernambuco. Essa é a grande encruzilhada da eleição.
    Dilma venceu em 15 estados, três a menos do que na eleição do ano passado, com destaque para o Piauí, Maranhão e Ceará, onde obteve mais de 70% dos votos. Aécio venceu em nove estados, sendo São Paulo, com 44% dos votos, o determinante para sua ida ao segundo turno. A maior vantagem de Dilma foi na Bahia, com 3 milhões de votos a mais do que Aécio. Em termos político, sua vitória mais expressiva foi a eleição de Fernando Pimentel (PT) em Minas Gerais, terra de Aécio Neves, mas eleitoralmente essa vantagem é muito relativa, por causa da votação apertada em relação ao tucano (43% a 39%), que pode reverter o resultado porque foi para o segundo turno. A mesma situação se repete do Rio Grande do Sul, onde Dilma venceu também por estreita margem: 43% a 41%, com Marina recebendo 12% dos votos.

    Dois Brasis
    Mais uma vez o resultado das urnas mostra um país dividido: o governo tem sua principal base de sustentação nos estados do Norte e Nordeste, com exceção de Roraima e Rondônia, onde Aécio venceu, Acre e Pernambuco, territórios de Marina. Aécio foi vitorioso no Centro-Oeste, com exceção de Tocantins; no Sudeste, graça a São Paulo e Espírito Santo; e no Sul, com exceção do Rio Grande do Sul. Grosso modo, do ponto de vista das alianças, Dilma sustenta a reeleição na aliança com as oligarquias dos estados de menor dinamismo econômico, enquanto Aécio alavanca sua candidatura na classe média dos estados economicamente mais desenvolvidos.
    A política de transferência de renda para as populações mais pobres, que é feita pelas prefeituras municipais, cimenta essa aliança com forte base popular. Do ponto de vista do discurso eleitoral, logo após a apuração dos votos, a presidente Dilma Rousseff ensaiou o discurso do segundo turno, com duros ataques ao governo de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002) e a reedição da estratégia do medo (do desemprego, do arrocho salarial, da perda dos direitos trabalhistas e a reversão dos programas sociais do governo). Essa é a velha cartilha petista contra o PSDB, a polarização ideológica direita versus esquerda e dos pobres contra os ricos, que costuma ser a marca registrada da retórica eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
    Um olhar atento para o mapa eleitoral do país mostra, porém, que o eixo da disputa eleitoral pode ser o moderno contra o atrasado, a social-democracia contra o populismo, a sociedade contra o Estado, a democracia contra o autoritarismo, a Federação contra a centralização, que tende a ser a lógica do discurso de Aécio contra Dilma. Aquele que estiver em mais sintonia com os sentimentos do eleitor levará a melhor.

    Geopolitica: A Nova Desordem Mundial - Victor Pou

    Um importante artigo, realista e ao mesmo tempo acadêmico. Ops, será que os acadêmicos não conseguem ser realistas? Talvez, para sim, e para o não...
    Paulo Roberto de Almeida

    A nova desordem mundial 
    Víctor Pou
    Valor Econômico, 6/0\10/2014

    Víctor Pou é professor do IESE Business School

    Recentemente, completou-se o centenário do começo da Primeira Guerra Mundial, uma tragédia para o mundo e especialmente para a Europa. Embora hoje se argumente sobre a improbabilidade da repetição de uma hecatombe similar, comprova-se com preocupação uma rápida e perigosa deterioração da situação geopolítica mundial. O centro da deterioração não está na Europa, como em 1914, mas em sua vizinhança. Analistas prestigiados veem ecos inquietantes do verão europeu de 1914, diante da magnitude dos conflitos atuais na Ucrânia, Mediterrâneo e Oriente Médio, as áreas geográficas limítrofes com a Europa no leste e no sul.
    O grande paradoxo é que a economia e a política do mundo avançam por caminhos opostos: enquanto a primeira é global há décadas, a segunda retrocede para o tribalismo. O mundo vem se convertendo em um tabuleiro de grande complexidade e o jogo das relações internacionais remete ao equilíbrio de poderes do século XIX e princípios do XX que resultou na Primeira Guerra Mundial.
    De acordo com o presidente do centro de estudos Brookings Institution, de Washington, Strobe Talbott, existe perigo real de conflito entre grandes países. Na sua avaliação, os paralelos entre 1914 e 2014 são preocupantes. Talbott considera que hoje há três fenômentos perigosos: descontentamento mundial com os diferentes sistemas de governança; crescimento de novos nacionalismos radicais e acúmulo de conflitos concretos que ameaçam a estabilidade mundial.
    O veterano diplomata Henry Kissinger acaba de publicar o livro "World Order" (ordem mundial, em inglês), no qual explica a decomposição progressiva da velha ordem mundial estabelecida após a Segunda Guerra Mundial e avisa sobre as enormes dificuldades para tentar construir uma nova, que deveria estar baseada tanto em força quanto em legitimidade. O estrangulamento da velha ordem poderia conduzir a um novo período de anarquia e confrontação.
    É um estrangulamento que acredito já estar em curso, pela ação de quatro forças. A primeira consiste no declínio progressivo dos Estados Unidos (agravado pelos sucessivos erros do presidente Barack Obama na política exterior) e na persistente incapacidade da Europa em assumir um verdadeiro papel global. A segunda é a determinação do islamismo fanático e radical em impor seu totalitarismo em grande escala. A terceira é a estratégia da Rússia de Putin para recuperar espaços territoriais perdidos após o desmoronamento da antiga União Soviética. A quarta é o avanço da China em direção à liderança do mundo, primeiro de caráter econômico e, depois, global. A essas quatro forças, poderíamos adicionar os esforços do Irã para transformar-se em potência militar atômica e líder regional.
    Na avaliação de outros analistas de destaque, como José Ignacio Torreblanca, representante em Madri do centro de estudos European Council on Foreign Relations, as dificuldades que a velha ordem vêm enfrentando têm como foco principal o fator estatal. Por um lado, temos Estados que se desordenam e, por outro, temos Estados que negam a ordem internacional e suas normas, ou seja, que desordenam os demais.
    O primeiro problema, a desestabilização, é o padrão dominante nos conflitos no Oriente Médio. Por trás do denominado Estado Islâmico da Síria e do Iraque esconde-se uma verdade de consequências muito incômodas: na zona em que pretende edificar um califato islâmico, o Estado deixou de existir como forma de organização política e administrativa, dando lugar a uma violência sectária e religiosa de raízes tão profundas quanto difíceis de lidar. Além da Síria e do Iraque, outros Estados ficaram reduzidos a nada, como a Líbia, ou ainda querem nascer, como a Palestina. O segundo tipo de instabilidade provém dos Estados que desordenam ou pretendem desordenar, como Rússia, Irã e China.
    Depois da Segunda Guerra Mundial, o Ocidente fixou as regras da nova ordem mundial e, agora, sequer parece disposto a adaptar essas normas, além de não ter capacidade para impô-las, nem saber como persuadir os demais a aceitá-las, convertendo-se em espectador passivo de seu próprio declínio.
    A capacidade de impacto mundial da União Europeia continua centrada no campo econômico, mas pesa muito menos no político, no militar e no demográfico. Uma Europa ensimesmada, que não consiga assumir um verdadeiro papel global no curto prazo, está condenada à irrelevância no século XXI.
    Na UE abriu-se um novo ciclo, depois das eleições de maio para o Parlamento Europeu, presidido pelo alemão Martin Schulz, e da designação de uma nova Comissão Europeia, presidida pelo luxemburguês Jean-Claude Juncker. Também foram nomeados o novo presidente do Conselho Europeu, o polonês Donald Tusk, e a alta representante de Política Exterior e Segurança Comum, a italiana Federica Mogherini.
    Os principais desafios que se apresentam para os próximos cinco anos certamente são importantes. No plano interno, consistem em recuperar a confiança da cidadania, colocar em ordem a nova arquitetura do euro e evitar tendências centrífugas, como a possível saída do Reino Unido. Em termos internacionais, enfrentar a agressividade da Rússia, desenvolver uma nova política para o Mediterrâneo e Oriente Médio e afirmar-se como parte imprescindível na administração de assuntos globais.
    Os próximos cinco anos serão decisivos na vida da UE. Poderão ser testemunhas de uma reação necessária aos desafios mencionados ou testemunhas da continuidade da marcha rumo a sua própria irrelevância em um mundo cada vez mais desordenado. (Tradução de Sabino Ahumada)

    Projetos de pesquisa em Defesa Nacional: oportunidades para grupos de pesquisa na area de defesa

    Chamada CNPq/Pandiá Calógeras
    Programa Álvaro Alberto de Indução à Pesquisa em Segurança Internacional e Defesa Nacional 
    N º 29/2014

    O Instituto Pandiá Calógeras do Ministério da Defesa e o CNPq lançaram conjuntamente, no dia 06 de outubro de 2014, o Programa Álvaro Alberto de Indução à Pesquisa em Segurança Internacional e Defesa Nacional. A chamada pública tem por objetivo fomentar a pesquisa sobre Segurança Internacional e Defesa Nacional por meio da seleção de propostas para apoio financeiro a projetos de pesquisa sobre temas relevantes para a inserção internacional do Brasil e a gestão da defesa nacional, no campo das ciências humanas e sociais aplicadas, em duas linhas de pesquisa: Entorno Estratégico e Economia da Defesa.

    As duas linhas de pesquisa incluem os seguintes temas prioritários:

    Entorno Estratégico

    • A defesa nas fronteiras terrestres da América do Sul: o processo de integração regional sul-americana e sua relação com iniciativas de cooperação na área de defesa e segurança.

    • Novas e velhas ameaças: a identificação de novas ameaças e os meios de combatê-las, em articulação com o enfrentamento das ameaças tradicionais, no marco do arcabouço legal vigente.

    • Segurança marítima no Atlântico Sul: a promoção da consciência situacional nos mares do Atlântico Sul; o combate à pirataria e a outros ilícitos no mar e a cooperação com países africanos sul-atlânticos para defesa e segurança marítima no marco da Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul (Zopacas).

    • Inserção internacional do Entorno Estratégico brasileiro: diálogos nos fóruns multilaterais; interesses de potências extrarregionais no Entorno Estratégico brasileiro; influência de atores não governamentais; ameaças cibernéticas e possíveis estratégias de cooperação para seu enfrentamento; áreas de fricção entre os países do Entorno Estratégico;

    • Plano de Articulação e Equipamento de Defesa (PAED): a adequação dos projetos estratégicos definidos pelo PAED aos possíveis cenários de sua aplicação.

    Economia da Defesa

    • Recursos humanos e defesa nacional: a formação de recursos humanos para gerir a defesa nacional, inclusive no campo da cooperação internacional.

    • Inovação e Defesa nacional: o Sistema de Inovação nacional brasileiro e as estratégias para fomentar a inovação e a revitalização da Base Industrial de Defesa brasileira - linhas de financiamento, garantias e peculiaridades do mercado de defesa.

    • PAED: adequação dos programas de equipamento das Forças Armadas às capacidades previstas pela END e demais documentos do setor; a formulação de projetos de Força e sua articulação com o PAED no longo prazo; efetividade dos instrumentos governamentais de fomento à Base Industrial de Defesa; credenciamento das Empresas Estratégicas de Defesa (EED), homologação dos Produtos Estratégicos de Defesa e o mapeamento das cadeias produtivas do setor.

    • Orçamento de defesa: estabilidade e projeções do fluxo orçamentário do MD e sua adequação às necessidades das Forças Armadas; a viabilidade política e econômica de se ampliar o percentual do PIB destinado ao orçamento de defesa; estratégias de reequilíbrio das contas orçamentárias visando diminuir ajustar dispêndios com pessoal, investimentos e custeio a projetos de força no longo prazo; critérios para vinculação do orçamento a segmentos estratégicos no País, inclusive via fundos setoriais, e sua aplicação ao campo da defesa; possibilidade de incremento orçamentário das Forças Armadas por meio de “royalties” oriundos de atividades relacionadas ou protegidas pelas Forças; adequação das infraestruturas críticas às necessidades de Defesa.

    • Cooperação internacional: possibilidades de integração das bases industriais de defesa no âmbito da UNASUL, no marco da integração produtiva de cadeias globais de valor e de políticas de offset; diversificação de fontes de recursos para as Forças Armadas.

    O programa disponibilizará o total de R$ 800.000,00 (oitocentos mil reais) para a elaboração de pesquisas sobre Segurança Internacional e Defesa Nacional, sendo que cada projeto poderá contar com, no máximo, R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais) para o desenvolvimento das pesquisas durante 24 meses. O valor pode incluir a concessão de bolsas, a realização de viagens e eventos e, ainda, a aquisição de equipamentos, material permanente e material bibliográfico. Caberá ao proponente definir em seu projeto sobre a melhor forma de utilizar o recurso.

    O prazo para a apresentação de propostas é 05/11/2014.

    Mais informações e a chamada completa podem ser obtidos pelo link: http://www.cnpq.br/web/guest/chamadas-publicas?p_p_id=resultadosportlet_WAR_resultadoscnpqportlet_INSTANCE_0ZaM&filtro=abertas&detalha=chamadaDivulgada&idDivulgacao=5363

    Um exercício de "despikettyzacao" do mundo: minha contribuicao - Paulo Roberto de Almeida

    Recebo, do grupo de estudos liberais com quem me correspondo no cerrado central, a seguinte mensagem:

    On Oct 7, 2014, at 16:18, Pedro Magalhães Batista <notification+zj4ot_90fj46@facebookmail.com> wrote:
    Pedro Magalhães Batista posted in Grupo de Estudos Lobos da Capital   

    4:18pm Oct 7
    Lobos, nesta sexta-feira, o professor Thomas Piketty estará na minha universidade para falar um pouco sobre o seu livro "O Capital no Século XXI".
    Gostaria de saber se há algo que vocês têm interesse de perguntar para ele? Estou separando alguns questionamento para levar ao seminário e acho que posso incluir mais algumas perguntas
    .

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    Em resposta, mandei as seguintes perguntas e questões ao homem que pretende tornar o mundo mais igual, e mais pobre:

    A primeira grande pergunta é este: por que ele agrupou todas as demais formas de ativos, tangíveis e intangíveis, que não são remuneração do trabalho, sob a bandeira do "capital", o que é uma categoria muito ampla, vaga e genérica para acolher as diferentes formas de riqueza que foram sendo criadas, acumuladas, aumentadas ao longo do tempo?
        Pessoalmente, considero esse tipo de prática inapropriada e muito pouco consistente, uma vez que não existe uma única categoria, o capital, capaz de abarcar, integrar, corporificar, todas as formas de riqueza possíveis. Acho isso metodologicamente questionável e somente aceitável para aqueles, marxistas, marxianos e marcianos, que consideram ser possível transformar esse monstro metafísico que se chama "capital", esse superlativo conceitual - que cai muito bem entre os acadêmicos, mas que não tem maior significado econômico, pelo menos do ponto de vista microeconômico - em uma única entidade, como se fosse a Santíssima Trindade.
        O segundo grande problema que eu vejo com a anályse "pikettyana" é que ele considera esse monstro metafísico do capital algo como um ente planando sobre a superfície das sociedades, como se ele fosse imanente a certas classes abastadas, independentemente de mudanças geracionais, partição, repartição, adjunção de riquezas de fontes diversas e de diversas naturezas, ou seja, ele considera que o capital gruda como cola nos estratos mais altos e que ele sempre estará ali, do contrário não daria para falar em concentração, ou seja, aumento do Gini.
        O terceiro grande problema, mas aqui não tem nada a ver com a análise econômica, e sim totalmente com um projeto político, é que ele acha que é preciso um imposto para taxar as grandes fortunas, com vistas à redistribuição do "excedente" -- o que só poderia ser feito pelo Estado obviamente -- para diminuir o Gini, e portanto tornar a sociedade mais igualitária. Ele acha que a sociedade ficaria melhor com isso, o que eu acho uma grande bobagem socialista, uma mesquinharia à la Robin Hood, que não resolve nenhum problema de produtividade social, e tampouco tornará melhor a situação dos mais pobres (que são infinitamente em maior número do que o 1% de megabilionários). A riqueza se esvairia rapidamente, sem criar novas riquezas para a sociedade.
        Essa vontade de querer reduzir a riqueza dos superricos, em lugar de reduzir modestamente a pobreza dos superpobres é um projeto que só pode diminuir a dinâmica de crescimento e criar um gigantesco movimento de evasão fiscal que tornará ainda mais problemática a cooperação internacional nesse terrenos.
        Esses engenheiros sociais -- sempre com a riqueza dos outros -- acabam produzindo mais problemas novos do que resolvendo os problemas velhos.
        Para mim não existe NENHUM problema em que o mundo tenha meia dúzia de super-mega-hiper-trilionários, isso é muito bom, pois incita centenas de outros a também tentarem chegar lá. O problema é o grande número de pobres.
        Deveria um cérebro como o dele estar empenhado em fazer os pobres criar riquezas, não em redistribuir a riqueza dos ricos.
        Estas são as mensagens que eu teria para ele.
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    Paulo Roberto de Almeida

    Eleicoes 2014: o quadro partidario no Congresso - Reinaldo Azevedo

    Vamos ver que Congresso sai das urnas de 2014. O número de partidos com representação na Câmara saltou de 23 para 28. Estavam sem nomes na Casa PTN, agora com 4 deputados; PSDC e PTC, que passam a ter dois cada um, e PRTB e PSL, com um cada. O PT foi o partido que perdeu o maior número de deputados: 18. Mas não foi o único: encolheram ainda o PMDB (-5), o PSD (-8), o PP (-4), o DEM (-6), o Solidariedade (-7), o PROS (-9) e o PCdoB (-5). As novas legendas não foram assim tão bem-sucedidas na Câmara: o PSD passou de 45 para 37 deputados; o PROS, de 20 para 11, e o Solidariedade, de 22 para 15. Já o PRB, do autoproclamado bispo Edir Macedo, pode comemorar: saltou de 10 para 21.
    Os partidos que disputaram a eleição coligados a Dilma Rousseff têm hoje 339 deputados e passarão a contar com apenas 304. Os que apoiaram o tucano Aécio Neves contam com 119 e passarão a ter 128. Os que apoiaram Marina Silva saltaram de 30 para 49. Nesse caso, o PSB passa de 24 para 34; o PPS, de 6 para 10, e o PHS, de nenhum para cinco. Vejam quadro geral.
    Bancadas Câmara 1ª
    Bancadas Câmara 2ºIsso é sinal de que Aécio Neves, se eleito, enfrentará dificuldades severas na Câmara? É claro que não! À base de 128 deputados, que pode ser considerada certa, há uma chance grande de se agregarem os 53 eleitos por partidos que apoiaram Marina, o que elevaria esse número, então, para 181. Não me parece que, caso o tucano se eleja, o PMDB ficaria na oposição. Ao contrário: Aécio já estabeleceu entendimento com a legenda em vários Estados. Certamente levaria para a base de apoio uma boa parcela dos 66 parlamentares da legenda — estamos falando de um potencial de 247 parlamentares.
    O PP, com 36 deputados, chegou a flertar com a candidatura do PSDB, mas acabou vítima de um golpe da sua direção. Poderia perfeitamente migrar para a base de apoio. O potencial, então, já chega a 283. Certamente seria possível dialogar com os 8 do PV, os 12 do PSC, os 2 do PSDC e 1 do PRTB. Eis aí uma possibilidade clara de 306 deputados. E me digam uma boa razão para PSD, PR e PRB integrarem a oposição sistemática. Já estamos falando de um universo de 409 deputados. Não será impossível dialogar com o PDT — e se salta para 428. A oposição sistemática a um eventual presidente tucano viria mesmo dos 70 deputados do PT, dos 5 do PSOL e, talvez, mas não com tanta certeza, dos 10 do PCdoB.
    Mas que se note: não acho que Aécio, se eleito, deva repetir o erro da presidente Dilma de criar a maior base congressual da história do Ocidente. Isso não é necessário. É possível fazer negociações pontuais com os partidos a partir de propostas programáticas, sim. Afinal vocês sabem que a arte de vender e de se vender sempre depende da disposição de quem quer comprar. O que estou demonstrando aqui é que é bobagem a história de que, se eleito, Aécio poderia ter problemas no Congresso. Não teria.
    Senado
    Os partidos que apoiaram Dilma têm hoje 52 senadores e passarão a ter 53; os que apoiaram Aécio tem 22 e ficarão com 19. O PSB, no entanto, que esteve com Marina, saltou de 4 para 7. O PMDB e o PT perderam um senador cada um, passando, respetivamente, para 18 e 12 parlamentares. O PSDB caiu de 12 para 10, e o PTB, de 6 para 3. O PCdoB também murchou: tinha 2 e contará com apenas 1. Além do PSB, ganharam parlamentares o PDT, de 6 para 8; o PSD, de 1 para 3, e o DEM, de 4 para 5. Vejam quadro.

    Bancadas Senado
    Dilma, se eleita, continua com uma base sólida. Mas Aécio também não teria grandes dificuldades para negociar. PT, PC do B e PSOL (14 parlamentares) certamente ficariam na oposição. Sobrariam 67 senadores para dialogar.
    O que estou dizendo, meus caros, é que tanto Dilma como Aécio conseguiriam fazer maiorias folgadas no Congresso, inclusive para encaminhar reformar constitucionais. Boas reformas se o governo for bom; más reformas se o governo for mau.

    Sobre certo partido: uma velha frase, mas ainda nova...

    José Marti, patriota cubano, que viria a morrer lutando pela independência de seu país até então colônia da Espanha, escrevendo a um amigo, em 1895:

    "Vivi en el monstruo y le conozco las entrañas "

    Pois é, acho que também se aplica atualmente, em outras circunstâncias e a outro tipo de animal...
    Paulo Roberto de Almeida

    Sobre a diplomacia: velhas e novas frases

    Apenas recolhendo frases ao vento...
    (na verdade me obrigou a consultar diversos livros, o que sempre faço com prazer...)
    Paulo Roberto de Almeida 

    Vieux:

    Diplomatie. 
    - Belle carrière (mais hérissée de difficultés, pleine de mystères). – Ne convient qu’aux gens nobles.
    – Métier d’une vague signification, mais au-dessus du commun.
    – Un diplomate est toujours fin et pénétrant.

    Gustave Flaubert, Le Dictionnaire des Idées Reçues (1850) 
    in Oeuvres Complètes, tome deux (Paris: Editions du Seuil, 1964), p. 307.


    Nouveau:

    Diplomacy. The art of lying on behalf of his country.

    Ambrose Bierce, The devil's dictionary (1911)
    in The devil’s dictionary, with an introduction by Roy Morris, Jr.
    (New York: Oxford University Press, 1999)


    Post-moderne:

    Diplomates. Un bon diplomate à l’ancienne: cynique, tortueux, lâche, hypocrite mais exquis.

    Alain Schifres, Le nouveau dictionnaire des idées reçues, des propos convenus et des tics de langage ou Le dîner sans peine
    (Paris: Jean-Claude Lattès, 1998), p. 87

    Banco Central independente e empulhacao companheira - Gustavo Loyola

    Mais um crime econômico do lulo-petismo, desta feita de caráter ideológico, nem por isso menos criminoso. Tentaram vender a mistificação que isso tiraria a comuda do prato dos brasileiros.
    Canalhas morais!
    Paulo Roberto de Almeida

    Um debate necessário

    Por Gustavo Loyola
    A campanha eleitoral colocou na berlinda a questão da independência do Banco Central. Lamentavelmente, graças à empulhação perpetrada por um marketing político da pior espécie, o debate sobre esse importante tema descambou para o terreno do deboche e da sordidez.
    A independência (ou autonomia) do Banco Central é característica dos países democráticos e institucionalmente avançados. Ao contrário do que o marqueteiro oficial quer fazer crer, a independência do BC protege a instituição de pressões espúrias e permite o exercício mais efetivo e transparente de suas funções de preservação do poder de compra da moeda e da estabilidade financeira. Aliás, a ideia de que a independência do BC é contrária aos princípios democráticos é apenas um dos muitos equívocos que permeiam a discussão do assunto no Brasil nas últimas décadas.
    A necessidade da independência dos bancos centrais tem sido colocada no contexto da própria natureza da política monetária, cujos resultados ocorrem somente depois de decorrido um prazo razoável de tempo da sua execução. A influência benéfica da política monetária sobre os preços e o produto aflora com certa demora, havendo um período de tempo em que seus efeitos não são perceptíveis, embora seus custos já estejam sendo plenamente sentidos pela sociedade. Por causa disso, os bancos centrais ficam sujeitos a pressões das lideranças políticas e da opinião pública para utilizar indevidamente seus instrumentos de política monetária, abandonando objetivos de longo prazo em favor de ganhos passageiros e ilusórios de curto prazo.
    Além disso, a independência do BC protege a política monetária de pressões naturais relacionadas aos ciclos eleitorais, já que há sempre a tentação de utilizá-la para gerar episódios efêmeros de crescimento, com vistas à coleta de benefícios políticos imediatos. Vale ressaltar que a independência formal não impede de forma absoluta que o BC seja utilizado com fins eleitorais, mas torna transparente qualquer tentativa de fazê-lo.
    A independência dos bancos centrais viria como resposta a esses riscos. Isoladas das pressões políticas por resultados de curto prazo, essas instituições podem se dedicar a seus objetivos de forma mais eficiente e eficaz, sendo esta a razão pela qual se atribui mandatos estáveis e relativamente longos aos dirigentes dos bancos centrais.
    Uma crítica frequente à independência dos bancos centrais costuma compará-la ao estabelecimento de um “quarto poder”, que se tornaria fonte de dificuldades para a condução das políticas públicas, mormente da política econômica. Trata-se, obviamente, de uma leitura equivocada. A autonomia do BC é sempre outorgada em caráter precário pelo Congresso Nacional, que é a verdadeira fonte do poder. O estatuto de independência do BC pode ser revogado a qualquer momento e sua autonomia é exercida sobre um terreno extremamente restrito e sujeito a fortes restrições, inclusive no que concerne à prestação de contas e a responsabilização perante o Executivo e o Legislativo.
    Desse modo, do ponto de vista político, a independência do Banco Central aumenta o controle da sociedade sobre a instituição, na medida em que suas ações se tornam mais transparentes e seus dirigentes passam a prestar contas regularmente à sociedade por meio do Poder Legislativo. Dar mandatos a seus dirigentes não os desobriga da prestação de contas à sociedade e nem lhes confere estabilidade absoluta em seus cargos.
    No Brasil, sob o ponto de vista institucional, resta pouco para que seja conferida a independência legal ao Banco Central. Os avanços das últimas décadas formaram um quadro em que é possível a existência de uma autoridade monetária formalmente independente. A Constituição de 1988 proíbe expressamente o financiamento do Tesouro pelo Banco Central e veda sua atuação como banco de fomento, assim como impõe a necessidade de aprovação prévia dos nomes de seus dirigentes pelo Senado Federal. Por outro lado, a Lei de Responsabilidade Fiscal e outras normas legais estabeleceram uma moldura adequada disciplinando o relacionamento entre o Tesouro e o Banco Central.
    Dessa maneira, o que falta basicamente para a independência do BC é a atribuição de mandatos para seus dirigentes e a formalização de mecanismos de coordenação e de solução de conflitos entre a instituição e o Tesouro, especialmente nos campos da política cambial e de reservas internacionais.
    Vale ressaltar que o próprio regime de metas de inflação já explicita que o BC teria independência “de instrumentos” e não a “de objetivos”, pois a meta de inflação não seria fixada pela instituição, mas sim por outra instância de governo. Por outro lado, como órgão regulador e supervisor bancário, a questão da autonomia do BC não seria estranha ao ambiente legal brasileiro, uma vez que outros reguladores – como é o caso da CVM – já adquiriram esse status.
    Fonte: Valor Econômico, 06/10/2014.