O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Petrolao do Partido Totalitario: a unica explicacao para a corrupcao naPetrobras - Reinaldo Azevedo

Vamos ser absolutamente claros: pode até ter havido algum por fora para alimentar ganâncias e conscupicências individuais, mas o grosso, a quase totalidade, o esquema essencial da imensa roubalheira que ocorreu na Petralhabras -- e deve ter ocorrido e estar ocorrendo em outras -- só existiu porque temos um partido mafioso, totalitário, abjeto, no poder, e que pretende nele se manter por todos os meios.
Qualquer outra "explicação" do MPF sobre um cartel de empresas malvadas seria falho e um embuste. Acho fui claro.
Paulo Roberto de Almeida
É possível que, até agora, eu não tenha me feito entender, mas eu sou mais chatinho do que o Pequeno Príncipe, e jamais desisto de uma questão. Então vamos ver.
Todas as ações penais que correm na 13ª Vara Federal de Curitiba estão atreladas a uma tese: as empreiteiras formaram um cartel para corromper “agentes públicos” na Petrobras. Os nomes dos políticos com mandato eventualmente envolvidos nas falcatruas são enviados ao Supremo Tribunal Federal pelo Ministério Público.
Infiro, prestem atenção!, que parte considerável do PT — e o núcleo ligado à presidente Dilma em particular — está satisfeito com essa, digamos, divisão. Não se fala nome de político com mandato na presença do juiz Sérgio Moro. Isso é para outra instância. Estes chegam ao Supremo pelas mãos do MP.
Parece que o juiz e o MP se atribuíram uma missão: “Aqui, nós vamos punir os corruptores da Petrobras”. Tudo indica que o objetivo é manter os empresários presos até que admitam o crime de cartel. Se isso acontecer, então Justiça e Ministério Público dão por cumprida a sua missão.
Qual é o problema dessa tese? Ela favorece, obviamente, os políticos larápios. Sim, talvez o Supremo se encarregue deles, vamos ver, mas estará consolidada uma farsa monumental: a de que as empreiteiras cometeram crimes que não estavam necessariamente conectados com a política. E isso simplesmente não aconteceu.
A tese do “cartel”, diga-se, é um tanto cediça. Se existia, por que as empresas negociavam caso a caso com a quadrilha? Esse dito cartel, ou o que tenha existido, poderia ter operado sem os políticos na outra ponta — e sem um grupo político em particular: o PT?
Resta evidente, a esta altura, que, no meio da sem-vergonhice, houve de tudo: caixa dois de campanha, roubalheira pura e simples, ladrão roubando ladrão… Sabem como é… Ocorre que o que se dava na Petrobras era uma das pontas de um projeto de poder. E, tudo o mais constante, as coisas caminham para uma outra conclusão: um grupo de empreiteiros gananciosos resolveu usar a estatal para maximizar lucros, corrompendo agentes públicos. Com todo respeito, é história da carochinha.
Qual é o outro problema dessa leitura? Ignora-se a natureza do jogo. Já chamei aqui a atenção para este risco e o faço de novo: está começando a se perder de vista a evidência de que havia — ou há — uma inteligência política no gigantesco esquema de fraude que operava na Petrobras e, infiro a exemplo de qualquer pessoa razoável, em outras áreas também.
Dada a forma como as coisas caminham até aqui, quem ainda acaba livrando a cara no fim da história é o PT. Insisto: é pura fantasia — se não for condução da investigação — a suposição de que se pode separar a ação das empreiteiras do esquema político ao qual elas serviam — e, sim, do qual se serviam.
Se os delatores e testemunhas estivessem dando nome e sobrenome de políticos, é possível que tudo tivesse de ser enviado ao Supremo, mas a narrativa seria mais compatível com a realidade.
É preciso tomar cuidado para que, nesse caso, o dito rigor de Moro e do MP, que tanto encanta a imprensa, não acabe servindo à impunidade de… petistas. 

Corrupcao: da PT para o PT, com todo carinho - Augusto Nunes

Essa histöria já tinha circulado anteriormente. A novidade agira é que o Ministério público português está oficialmente investigando a transação. Talvez seja o primeiro com as digitais pessoais do chefe da quadrilha.
Paulo Roberto de Almeida

04/02/2015

 às 16:18 \ O País quer Saber

Marcos Valério volta a assombrar Lula com uma propina de 2,6 milhões de euros

Além do mensalão, do petrolão e da chanchada pornopolítica que transformou em celebridade a segunda-dama Rose Noronha, fora o resto, outro caso de polícia de grosso calibre ronda o prontuário de Lula ─ e ajuda a explicar o longo período de mudez que se impôs o ex-presidente. No fim de janeiro, a imprensa portuguesa noticiou que o Ministério Público daquele país investiga a denúncia feita pelo publicitário Marcos Valério: o Partido dos Trabalhadores recebeu 2,6 milhões de euros da Portugal Telecom (veja o vídeo abaixo).

Em 9 de janeiro deste ano, o executivo Miguel Horta e Costa, ex-presidente da empresa de telefonia, foi interrogado no Departamento Central de Investigação e Ação Penal. Investigado do lado de lá do Atlântico por corrupção em transações internacionais, Costa também entrou na mira de um inquérito conduzido pela Polícia Federal brasileira. A história começou a ser apurada em 2012, depois que Marcos Valério, condenado a mais de 37 anos de cadeia por ter exercido informalmente o cargo de diretor financeiro da quadrilha do mensalão, denunciou o pagamento feito ao PT durante o governo Lula.

Em troca, a Portugal Telecom teria facilitada a compra da Telemig, operadora telefônica baseada em Minas Gerais. Segundo Valério, a propina foi negociada diretamente com o então presidente brasileiro. O dinheiro teria sido transferido por meio de uma fornecedora da Portugal Telecom em Macau, na China, a publicitários brasileiros que trabalharam em campanhas eleitorais do PT. Como sempre, Lula vai jurar que não sabe de nada.

Relacoes Internacionais na academia: no Brasil e nos EUA: pesquisas sobre ensino no Brasil e sobre as melhores nos EUA

Em 2014, participei de uma pesquisa sobre o ensino de RI no Brasil. A despeito de não estar exatamente nesse terreno, ou nesse tipo de Faculdade (uma vez que sou professor de Economia Política em cursos de mestrado e doutorado em Direito), fui convidado e aceitei responder às questões. Acabo de receber agora o agradecimento dos arquitetos da pesquisa, que me enviam a informação sobre a sua publicação:

2014 TRIP International Relations Survey Results
Dear Professor(a) Paulo Roberto de Almeida,
We are writing to let you know about the release of the 2014 Teaching, Research, and International Policy (TRIP) World Faculty Survey report. Today Foreign Policy released some of the highlights of our U.S. survey in their “View from the Ivory Tower” article available here: bit.ly/FPIRSurvey. In addition, we have made topline results for all countries available here: bit.ly/IRSurveyToplines
We would like to express our deep appreciation and gratitude to our respondents for their participation in our survey.
Please do not hesitate to contact us if you have any questions or concerns by sending an email to irsurvey@wm.edu. If you would like to join the discussion on Twitter, use #IRSurvey to let us know your thoughts.
Sincerely,
Susan Peterson, Michael Tierney, Daniel Maliniak, and Ryan Powers
College of William and Mary

Os resultados para o Brasil figuram neste link:
https://trip.wm.edu/reports/2014/rp_2014/index.php

Ao mesmo tempo a Foreign Policy apresenta os resultados da mesma pesquisa sobre os melhores cursos dessa área nos EUA, feitos pelos mesmos pesquisadores e organizados de outra forma pela revista. Como esperado, a revista considera que as universidades americanas selecionadas não são apenas as melhores do país, mas que elas são as melhores do mundo. Eles só fazem algumas modestas concessões para poucas universidades de outros países: para a Scieces-Po de Paris, para o Graduate Institute de Genebra, e para Oxford, Cambridge e a London School of Economics, da Grã-Bretanha:
http://foreignpolicy.com/2015/02/03/top-twenty-five-schools-international-relations/

The Best International Relations Schools in the World

U.S. scholars rank the top 25 IR programs for undergraduates, master's, and Ph.D.s.




The road to Washington is paved with elite educations. Indeed, for young people hoping to secure jobs in Foggy Bottom, on Pennsylvania Avenue, and elsewhere in the foreign-policy establishment, a key ingredient to success is often a diploma in international relations (IR) from one of America’s top universities. There are debates to be had about this model—how the pipeline can become more affordable, for instance, to ensure greater diversity among government hires. Scholars and policymakers alike rightly agree, however, that language skills, expertise about regions of the world, and other knowledge gleaned in the classroom make for a stronger, more effective corps of foreign-policy wonks. So which schools prepare students best?
The results of the 2014 Ivory Tower survey—a collaboration between Foreign Policy and the Teaching, Research, and International Policy (TRIP) project at the College of William & Mary—provide an insider’s guide. Responses from 1,615 IR scholars drawn from 1,375 U.S. colleges and universities determined rankings for the leading Ph.D., terminal master’s, and undergraduate programs in IR. (The scholars were asked to list the top five institutions in each category.) The survey also quizzed respondents about recent historical events and future policy challenges: Just how plausible is a U.S. war with China, for example, and who was the most effective secretary of state over the past 50 years? (Hint: Neither Condoleezza Rice nor John Kerry.)
All told, the Ivory Tower survey offers a window into how America’s top IR scholars see the world today—and which institutions are effectively nurturing future generations of thinkers and policymakers.

Top U.S. Undergraduate Institutions to Study International Relations

  • 1.Harvard University46.20%
  • 2.Princeton University39.14%
  • 3.Stanford University33.02%
  • 4.Georgetown University28.06%
  • 5.Columbia University24.37%
  • 6.University of Chicago19.62%
  • 7.Yale University18.67%
  • 8.George Washington University11.39%
  • 9.American University9.92%
  • 10.University of Michigan9.49%
  • 11.University of California—Berkeley8.54%
  • 12.Dartmouth College8.23%
  • 13.University of California—San Diego7.70%
  • 14.Tufts University7.07%
  • 15.Cornell University6.43%
  • 16.Johns Hopkins University6.12%
  • 17.Massachusetts Institute of Technology5.06%
  • 18.College of William & Mary4.54%
  • 19.Swarthmore College3.48%
  • 20.Williams College2.95%
  • 21.University of California—Los Angeles2.85%
  • 22.Brown University2.74%
  • 22.University of Virginia2.74%
  • 24.Ohio State University2.64%
  • 25.Duke University2.22%

Top Master's Programs for Policy Career in International Relations

  • 1.Georgetown University58.61%
  • 2.Johns Hopkins University47.76%
  • 3.Harvard University46.31%
  • 4.Princeton University33.33%
  • 5.Columbia University31.21%
  • 6.Tufts University29.08%
  • 7.George Washington University26.06%
  • 8.American University17.11%
  • 9.London School of Economics13.42%
  • 10.Stanford University5.37%
  • 11.University of Denver5.15%
  • 12.University of Chicago5.03%
  • 13.University of California—San Diego4.70%
  • 14.University of Oxford4.47%
  • 15.Yale University3.91%
  • 16.Syracuse University3.13%
  • 17.University of California—Berkeley2.57%
  • 18.University of Cambridge2.35%
  • 19.University of Pittsburgh1.79%
  • 20.Massachusetts Institute of Technology1.68%
  • 21.Monterey Institute of Int’l Studies1.45%
  • 21.Sciences Po—Paris1.45%
  • 21.University of Michigan1.45%
  • 24.Graduate Inst. of Int’l and Dev. Studies1.12%
  • 24.New York University1.12%
  • 24.Texas A&M University1.12%

Top Ph.D. Programs for Academic Career in International Relations

  • 1.Harvard University62.51%
  • 2.Princeton University53.17%
  • 3.Stanford University48.76%
  • 4.Columbia University32.44%
  • 5.Yale University21.80%
  • 6.University of Chicago21.37%
  • 7.University of California—San Diego16.00%
  • 8.University of Michigan15.68%
  • 9.Massachusetts Institute of Technology13.43%
  • 10.University of California—Berkeley12.03%
  • 11.University of Oxford8.59%
  • 12.Cornell University7.30%
  • 13.London School of Economics6.66%
  • 14.Ohio State University5.48%
  • 15.Georgetown University5.37%
  • 16.University of Cambridge4.51%
  • 17.Johns Hopkins University4.08%
  • 18.George Washington University3.22%
  • 19.New York University2.69%
  • 19.University of Wisconsin—Madison2.69%
  • 21.University of Minnesota2.26%
  • 22.American University2.15%
  • 22.Duke University2.15%
  • 22.University of Rochester2.15%
  • 25.University of California—Los Angeles2.04%

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Petrobras: uma candida nota sobre o seu rebaixamento pela Fitch

A companhia do Petrolão, outrora conhecida como Petrobras, orgulho dos companheiros (que a espoliaram sem dó), emitiu uma cândida nota em que fala do "potencial impacto das denúncias de corrupção". Como potencial impacto?
O rebaixamento já se deve exatamente ao imenso estrago que causaram os mafiosos do partido totalitário a essa companhia, que vai demorar muitos anos para voltar a ser o que era, antes das ratazanas petistas, e ainda pretendem falar em "potencial impacto"? Salafrários!
E a plataforma que ilustra esta nota? Foi superfaturada em quantos mil por cento?
Paulo Roberto de Almeida

Petrobraswww.petrobras.com.br/ri
Petrobras
Fitch revê classificação de risco da Petrobras
Rio de Janeiro, 04 de fevereiro de 2015 – Petróleo Brasileiro S.A. – A Petrobras comunica que a agência de classificação de risco Fitch anunciou a revisão do nível de risco (rating) da Petrobras de BBB para BBB-, mantendo a classificação em observação negativa. Com esta nota a Petrobras mantém sua classificação como Grau de Investimento.
Segundo a Fitch, essa revisão reflete o aumento da incerteza em relação à capacidade da Companhia de fazer os ajustes contábeis em seus ativos imobilizados a tempo, aumentando o risco de aceleração da dívida pelos credores.
Essa revisão também está relacionada ao potencial impacto das denúncias de corrupção no crescimento da produção, uma vez que o envolvimento de fornecedores pode afetar as negociações e a disponibilidade de equipamentos, atrasando a entrega das unidades de produção.
A Fitch afirma ainda que a classificação de risco da Petrobras continua a refletir o suporte do Governo Federal, seu acionista controlador, e sua importância estratégica para o Brasil. 

 

Argentina-China: eles so quelem complar aloz e petloleo? Humor pouco englacado da plesidente algentina...

O Blog World View do Washington Post comenta as tentativas canhestras de humor da presidente Cristina Kirchner, ou feitas em seu nome....
Paulo Roberto de Almeida

Argentina’s president sent out this strange, offensive, and frankly racist, tweet

The Washington Post, February 4 at 1:46 PM
The only thing worse than mocking an accent heard in another country is doing it publicly, via Twitter, when you're the president of Argentina, while you're in that other country on a high-stakes diplomatic visit.
Argentine President Cristina Fernandez de Kirchner made a strange attempt at humor Wednesday morning when she took to Twitter during a meeting with Chinese President Xi Jinping. Rather than chronicle the discussions, which were centered around the South American economy's need for foreign investment, Kirchner instead made light of the situation by poking fun at the Chinese accent.
"Vinieron solo por el aloz y petroleo," Kirchner wrote, replacing rs with ls in both instances. The English equivalent would look something like this: "Did they only come for lice and petloleum.Here's the full tweet, which, as you can see, has been eagerly retweeted and as of 12:30 p.m. still hadn't been deleted:
Kirchner, to be fair, did follow up with a half-apology, which blamed "ridiculousness" and "absurdity" for the need for humor. "If not, it's very, very toxic," it said.
But what Kirchner seems to misunderstand is that her sense of humor is questionable at best. It was in poor taste for her to mock an Asian accent, especially while sitting with the Chinese president, negotiating with him, no less, for money.
Argentina has been working with China to secure a currency swap, which will help Argentina boost its dwindling reserves. And that's on top of the billions Argentina already receives from China each year. Why make fun of the hand that feeds you? Who knows.
Kirchner's tasteless tweet comes on the heels of a separate and much more serious public relations problem. A leading prosecutor investigating the bombing of a Jewish Center in Argentina in 1994 turned up dead shortly after accusing the Argentine government of working to cover up the inquiry. Kirchner originally called the prosecutor's death a suicide before backtracking on her suggestion and saying instead that the death was part of a plot to undermine her government.
Kirchner's approval rating has fallen by seven points since November and now stands below 40 percent, according to a poll conducting Wednesday morning by Carlos Fara and Associates. It's hard to imagine this latest gaffe will help reverse that trend.
China welcomes Argentine president(1:13)
Argentine President Cristina Fernandez de Kirchner, who is in Beijing to bolster ties, attends a welcome ceremony hosted by her Chinese counterpart, Xi Jinping. (Reuters)
Roberto A. Ferdman is a reporter for Wonkblog covering food, economics, immigration and other things. He was previously a staff writer at Quartz.

Prata da Casa: os livros dos diplomatas (ultimo trimestre de 2014) - Paulo Roberto de Almeida

Já havia colocado aqui as mini-resenhas do último trimestre de 2014 que fiz na seção Prata da Casa do Boletim ADB. Mas agora acabo de receber este boletim, cuja capa vai abaixo, e posso reproduzir novamente o material, na ordem correta.


Prata da Casa - Boletim ADB: 4ro. trimestre 2014
[Notas sobre os seguintes livros: 
(1) Mesquita, Paulo Estivallet de: A Organização Mundial do Comércio (Brasília: Funag, 2013, 105 p.; ISBN 978-85-7631-472-1; Coleção Em Poucas Palavras)
(2) Goertzel, Ted; Almeida, Paulo Roberto de (eds.): The Drama of Brazilian Politics: From Dom João to Marina Silva (Amazon; Kindle Book, 2014, 278 p.; ISBN: 978-1-4951-2981-0); 
 (3) Florencio, Sergio: Os Mexicanos (São Paulo: Contexto, 2014, 240 p.; ISBN 978-85-7244-827-7); 
(4) Mariz, Vasco: Nos bastidores da diplomacia: memórias diplomáticas (Brasília: Funag, 2013, 296 p.; ISBN 978-85-7631-471-4; Coleção Memória Diplomática);  
(5) Almino, João: Free City (Londres: Dalkey Archive Press, 2013, 206 p.; ISBN 978-1-56478-900-6; trad. De Rhett McNeil, de Cidade Livre; Rio de Janeiro: Record, 2010); (6) Escorel, Lauro: Introdução ao Pensamento Político de Maquiavel (3a. ed.; Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul, FGV, 2014, 344 p.; ISBN: 978-85-88777-59-0)] 
Boletim da Associação dos Diplomatas Brasileiros – ADB (ano 21, n. 87, outubro-novembro-dezembro 2014, p. 30-32; ISSN: 0104-8503). Relação de Originais n. 2682; Publicados n. 1157.


Prata da Casa - Boletim ADB: 4ro. trimestre 2014

Paulo Roberto de Almeida
Boletim da Associação dos Diplomatas Brasileiros
(ano 21, n. 87, outubro-novembro-dezembro 2014, p. 30-32; ISSN: 0104-8503)

(1) Mesquita, Paulo Estivallet de:
A Organização Mundial do Comércio
(Brasília: Funag, 2013, 105 p.; ISBN 978-85-7631-472-1; Coleção Em Poucas Palavras)


            Parece difícil resumir em menos de 100 pequenas páginas a teoria do comércio internacional, a evolução prática do próprio, o estabelecimento do sistema multilateral de comércio, desde o Gatt e seus caminhos tortuosos, até chegar na OMC e todos os seus acordos e funcionamento. Uma proeza realizada por este engenheiro agrônomo que se fez diplomata, e que aplica o rigor da sua ciência de origem à análise dos problemas das relações econômicas internacionais, com ênfase no comércio e nos seus conflitos. O sistema parece uma bicicleta: é preciso avançar, pois qualquer parada pode significar retrocesso, não estabilidade. A interrupção da Rodada Doha, o recuo no protecionismo em alguns grandes países (alguns até próximos) são desafios graves, mas os acordos de livre comércio não são a resposta ideal. Só faltou a bibliografia para uma obra perfeita.

(2) Goertzel, Ted; Almeida, Paulo Roberto de (eds.):
The Drama of Brazilian Politics: From Dom João to Marina Silva
(Amazon; Kindle Book, 2014, 278 p.; ISBN: 978-1-4951-2981-0)


         O ebook, editado por um brasilianista, já autor de biografias dos presidentes FHC e Lula, e por um diplomata conhecido por seus muitos outros livros, parece aproveitar a conjuntura para reunir artigos sobre a política brasileira. Não é bem assim; a despeito da maioria dos capítulos tratar da situação presente, desde as manifestações de 2013, o capítulo inaugural por Goertzel cobre o que o subtítulo promete: o drama político brasileiro desde o Império até as eleições atuais. O segundo capítulo, pelo diplomata Almeida, segue as mudanças de regime econômico em função das políticas econômicas adotadas desde a abertura dos portos até o atual baixo crescimento. De certa forma, constitui uma continuidade de seus outros trabalhos de pesquisa histórica sobre as relações econômicas internacionais do Brasil, aliás, um país muito introvertido.


(3) Mariz, Vasco:
Nos bastidores da diplomacia: memórias diplomáticas
(Brasília: Funag, 2013, 296 p.; ISBN 978-85-7631-471-4; Coleção Memória Diplomática)

           Livro saborosíssimo, sem ser memórias, estrito senso, mas causos de uma vida rica em episódios, encontros e desencontros com grandes e pequenos atores da cena internacional e da vida diplomática brasileira: nada menos do que oito páginas de índice onomástico, com referências à crème de la crème da política mundial e à “feijoada” brasileira de quem já esteve nas colunas sociais. Ele também assinou ou organizou 66 livros, certamente o diplomata mais prolífico de todos os tempos e, provavelmente, o mais longevo: 93 anos e ainda ativo. Serviu na segunda metade do século 20, mas também estaria bem na belle époque, no Renascimento, ou em qualquer época, pela sua cultura universal e pelos dotes de musicólogo e historiador. Deve ter histórias ainda mais picantes e sensíveis do que as reveladas aqui: oxalá deixe escritos pós-publicáveis.


(4) Florencio, Sergio:
Os Mexicanos
(São Paulo: Contexto, 2014, 240 p.; ISBN 978-85-7244-827-7)
  

            Você sabia que os mexicanos têm uma lista dos mais amados (Benito Juarez e Pancho Villa, entre eles), mas também dos mais odiados (Cortez, obviamente, e também Porfírio Díaz) personagens da sua história? Sabia que somos parecidos com eles? Este livro, por quem foi embaixador no México, apresenta uma história diferente do país que é apresentado como competidor do Brasil; de fato é, mas não como esperado: buscam os dois a prosperidade, a partir de bases sociais e comportamentos econômicos similares. Uma análise exemplar, feita do ponto de vista de um brasileiro que é fino observador das qualidades e idiossincrasias de um povo dotado de uma rica história de realizações, mas também de frustrações. Os desafios parecem semelhantes; serão também as soluções? Descubra um México diferente num livro em que o Brasil está presente.

(5) Almino, João:
Free City
(Londres: Dalkey Archive Press, 2013, 206 p.; ISBN 978-1-56478-900-6; trad. De Rhett McNeil, de Cidade Livre; Rio de Janeiro: Record, 2010)


            Depois de ter iniciado uma carreira de “escritor” de ciência política, João Almino enveredou pela arte da novela (As Cinco Estações do Amor) e pelo ensaísmo literário – Escrita em contraponto: ensaios literários, por exemplo – mas é nos romances semi-biográficos que ele se expressa melhor, como nesta tradução de seu aclamado relato em torno da construção de Brasília. Trata-se, na verdade, de uma ampla obra, enfeixada sob o rótulo comum de Quarteto de Brasília, talvez para aproximá-lo do autor do Quarteto de Alexandria. Free City é o terceiro do ciclo, um romance vibrante, no qual coexistem tanto os modestos construtores da cidade quanto personagens da política mundial ou do universo literário (vinculadas de alguma forma a Brasília), em idas e vindas entre o passado e o presente. Um dos melhores novelistas diplomatas...

(6) Escorel, Lauro:
Introdução ao Pensamento Político de Maquiavel
(3a. ed.; Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul, FGV, 2014, 344 p.; ISBN: 978-85-88777-59-0)


            Escrito em 1956, publicado pela primeira vez em 1958, novamente em 1979, este clássico da maquiavelística brasileira é agora apresentado por um acadêmico e complementado por uma conferência de 1980 do autor, que se tornou “maquiavélico” ao servir na capital italiana em meados dos anos 1950. Para Escorel, “as observações de Maquiavel sobre a política externa dos Estados continuam a apresentar... uma extraordinária atualidade” (329-30). O florentino foi o primeiro grande teórico da política do poder.  Mas no plano interno também, Escorel segue Maquiavel em que a política é um “regime de precário equilíbrio entre as forças do bem e as forças do mal, em que estas muitas vezes superam aquelas...” (34). Os dois colocam o “problema cruciante das relações da política com a moral”, que está no centro da obra do italiano.

Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 1 Outubro 2014