O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 1 de março de 2015

Petrolao: a mais enrolada das delacoes premiadas, dono da UTC complica a vida do PT

O Partido Totalitário, dos Trambiqueiros, e dos Traficantes, só escapa dessa com a conivência da Justisssa, e a pusilanimidade do Congresso.
Paulo Roberto de Almeida

Blog de Felipe Moura Brasil, 21/02/2015

 às 11:52 \ BrasilCultura

Que se feche o PT: revelações de empreiteiro demolem Lula, Dilma, Dirceu, Cardozo, Wagner, Delúbio, Gabrielli…

Capa Veja PessoaO engenheiro baiano Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC e coordenador do cartel de empreiteiras no esquema de corrupção da Petrobras, fez chegar à VEJA um resumo do que está pronto a revelar à Justiça caso seu pedido de delação premiada seja aceito:

1) O esquema organizado de cobrança de propina na Petrobras foi montado em 2003, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, então amigo do empreiteiro. O operador era o tesoureiro do PT Delúbio Soares, réu do mensalão.

2) A UTC financiou clandestinamente as campanhas do hoje ministro da Defesa, Jaques Wagner, ao governo da Bahia em 2006 e 2010. A campanha de Rui Costa, em 2014, também foi financiada com dinheiro desviado da Petrobras.

3) A empreiteira ajudou o ex-ministro e mensaleiro petista José Dirceu a pagar despesas pessoais a partir de simulação de contratos de consultoria. Dirceu recebeu 2,3 milhões de reais da UTC somente porque o PT mandou.

4) O presidente petista da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, sempre soube de tudo.

5) Em 2014, a campanha de Dilma Rousseff e o PT receberam da empreiteira 30 milhões de reais desviados da Petrobras.

Ricardo Pessoa pode demonstrar que esse dinheiro saiu ilegalmente da estatal, através de contratos superfaturados, e testemunhar que o partido conhecia a origem ilícita. Também pode contar que o esquema de propinas foi montado pelo PT com o objetivo declarado de financiar suas campanhas eleitorais.

O presidente do BNDES (mantido no cargo), Luciano Coutinho, avisou Pessoa que o tesoureiro de Dilma, Edinho Silva, o procuraria para pedir dinheiro, conforme VEJA revelou três semanas atrás. Pessoa confirma que deu mais 3,5 milhões de reais à campanha presidencial petista após ser procurado por Edinho e a revista acrescenta agora que a conversa entre eles teve duas testemunhas.

6) O suposto ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ciente de que Pessoa estava prestes a denunciar Lula, Dilma e Dirceu, procurou os advogados do empreiteiro, e o acordo de delação premiada que ele negociava com os procuradores da Operação Lava Jato foi suspenso.

Ao contrário do que pregam OAB, Kennedy Alencar, Ricardo Noblat e o próprio ministro, as reuniões secretas não partiram dos advogados, mas sim de Cardozo, disposto a cometer qualquer tipo de abuso para obstruir o inquérito.

Não duvido que o pacote de acenos do governo tenha incluído ainda a possibilidade de remodelar a pena do dono da UTC nos tribunais superiores para colocá-lo em prisão domiciliar o mais cedo possível.

Em suma: se Ricardo Pessoa, em vez de ceder à pressão petista, denunciar à Lava Jato toda essa máfia infiltrada na máquina pública, e se os investigadores conseguirem demonstrar item por item, então o impeachment de Dilma na base legal do artigo 85, inciso 5, ou a cassação de seu mandato na da lei federal nº 9.504 são muito pouco para o bem do Brasil: o PT tem de ser extinto e os mandantes do esquema têm de apodrecer atrás das grades.

Lula-tchau

Tchau, hein!

* Lista de textos recentes do blog: AQUI.

Felipe Moura Brasil ⎯ http://www.veja.com/felipemourabrasil

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Politica brasileira: o apagao precoce do poste - Editorial Estadao

Cruel, mas verdadeiro...
PRA
O isolamento da presidente chega a ser constrangedor. Fala apenas a seus eleitores, que encolheram, já que mais da metade da população a vê como "desonesta" e "falsa" (vide recente pesquisa da FSP). Tudo por culpa sua, resume editorial do Estadão. Difícil acreditar que chegue ao fim do mandato:

A presidente Dilma Rousseff chega ao fim do segundo mês de seu novo mandato enfraquecida, desacreditada e, pior, criticada até mesmo por seus companheiros de partido, em razão do isolamento que se impôs ao se afastar das lideranças do PT e do principal partido de sua base de sustentação no Congresso, o PMDB. Ela, exclusivamente, é responsável por tudo isso. Incapaz, desde a confirmação de sua vitória eleitoral no ano passado, de qualquer gesto que apontasse na direção de um entendimento ou aproximação com os diferentes setores da sociedade, inclusive os que a ela se opuseram nas eleições - afinal, ela não é a presidente só de seus eleitores -, desperdiçou inteiramente o período de confiança de que costumam desfrutar governantes em início de mandato.
Por ação ou inação, fez seu prestígio popular despencar para níveis sem precedentes. Mais da metade da população entende que a chefe do governo é "desonesta" e "falsa", de acordo com recente pesquisa do Datafolha. A vertiginosa queda de popularidade da presidente tornou-se assunto internacional. Publicações conceituadas como Time, Financial Times e The Economist estendem-se em críticas acerbas à situação econômica do País e à maneira como ela é conduzida por Dilma. Em sua última edição para a América Latina, The Economist traz na capa a irônica imagem de uma passista de escola de samba que se afunda num lodaçal verde, sob o título Atoleiro do Brasil.
A crise em que o País está mergulhado revela ao mundo o furo n'água que resultou da decisão solitária de Luiz Inácio Lula da Silva de inventar uma sucessora que apresentou aos brasileiros em 2010 como gestora pública eficientíssima, a prodigiosa "mãe do PAC". É o que se observa também na São Paulo administrada por outro "poste" inventado por Lula.
Segundo o discurso orquestrado por Lula, o PT e Dilma são apenas "vítimas" de uma conspiração de direita por meio da qual "eles" se dedicam a "criminalizar" - é o termo da moda no lulopetismo - as conquistas sociais que tiraram a população brasileira da miséria.
Na vida real, porém, Dilma passou os quatro anos do primeiro mandato acumulando erros que compõem o amplo e bizarro panorama do que se pode chamar de "estilo Dilma de governar", caracterizado pela soberba de uma militante sectária que, por acreditar que sabe tudo, não ouve ninguém.
Dilma assumiu a chefia do governo em 2011 sentindo-se toda poderosa e disposta a corrigir as distorções liberais admitidas por seu antecessor. Mas escolheu o pior momento para isso, quando a economia globalizada enfrentava as consequências da crise de 2009 e já não oferecia as mesmas perspectivas favoráveis nas quais Lula surfara tranquilamente. Partindo do princípio de que o governo pode tudo, inclusive gastar o que não tem, Dilma se dedicou a desconstruir os fundamentos da estabilidade econômica herdados do governo Fernando Henrique e mantidos por seu antecessor, para obter importantes conquistas nas áreas social e econômica.
No campo político, Dilma se dispôs à elogiável iniciativa de deixar sua marca de austeridade: promoveu "faxina" no governo, com a demissão de ministros envolvidos em malfeitos de toda natureza. Foi com sede demais ao pote. Lula, que indicara quase todos os demitidos, teve de explicar à pupila que a coisa "não é bem assim" e os "danos políticos", provocados pela incapacidade política da presidente de aliar meios adequados a fins meritórios, foram logo reparados.
Os indícios mais ostensivos da insatisfação popular, não necessariamente com Dilma, mas com a situação do País, surgiram nas manifestações de rua de junho de 2013, que rapidamente se tornaram uma ampla pauta de reivindicações. Assustada, como todos, Dilma reagiu fazendo o mais fácil: promessas. Prometeu de tudo, até um improvável plebiscito para tratar de reformas políticas.
Em 2014, deixou em segundo plano a deteriorada situação econômica para se dedicar ao projeto reeleitoral. E, como de hábito, prometeu o que podia e não podia, inclusive que jamais tocaria nos "direitos dos trabalhadores". Mentiu, como teve de admitir depois, não por palavras, mas por atos.
Poucos meses depois de reeleita com a ajuda de um marketing eleitoral competente, mas inescrupuloso, Dilma corre o risco de transformar-se em um fantasma político. Por sua culpa.

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Mises Institute: The Free Market tornou-se agora The Austrian, publicacao mensal

The Austrian
In the January–February issue of The Austrian:

For more than thirty years The Free Market has been the Mises Institute’s flagship monthly publication for our members. Recently we introduced The Austrian, a bolder and more robust version of what you’ve known for decades.

It’s enlightening these days to hear everyone from Obama and Krugman to Putin and Hollande proclaim their belief in the superiority of free markets (invariably adding several qualifying provisos, of course). Even Bono from U2 has had a change of heart. Only Mr. Piketty appears to be clinging (tenuously) to his support for outright central planning.

So it appears we’ve made great strides in the rhetorical battle when it comes to the beauty and power of markets to vastly improve the human condition. We are all free-marketers now, and some of us actually mean it.

Thirty years ago, however, our outspoken support for free markets was radical. And since our beginning the Mises Institute has advocated a free market in everything. But today the term has been diluted through overuse and misuse, as demonstrated by Messrs. Obama and Krugman. It no longer captures the radical and uncompromising nature of the Institute and its members.

Our new moniker, The Austrian, goes to the heart and soul of what we are: an organization dedicated to the brilliant scholarship of Austrian economics. Mises is our touchstone, Rothbard our animating spirit, and the classical liberal tradition our north star.

Inside this inaugural issue of The Austrian, you’ll find lots of new, original content from our writers. Lew Rockwell makes the libertarian case for secession, James Bovard reports on the latest antics from Washington, DC, and David Gordon reviews Judge Napolitano’s new book. You’ll also find the latest news on Mises Institute scholars and alumni, plus new analysis of pop culture from Ryan McMaken, and a Q and A with one of our alums who’s making a real difference as a high school economics teacher.

The Austrian has analysis, news, and the same radical, uncompromising Austrian free-market analysis you’ve come to expect from the Mises Institute. We hope you enjoy it.

A subscription to physical copies of The Austrian is available to all who request it. Simply send your name and mailing address to membership@mises.org.

Brasil: governo incompetente, mandataria fraca, ministro liberal, tudo no atoleiro

Bem, eu acho que existem razões ainda mais imperiosas para ser bem mais severo em relação à atual situação do Brasil, e os jornais só refletem o que aparece como notícia objetiva.
Se formos destapar a bagunça, o retrato é ainda mais horrível, talvez até escandaloso, pelos crimes econômicos cometidos contra o país e a sua população.
E não estou falando de crimes comuns, que já deveriam ter sido objeto de processos criminais contra os responsáveis por eles.
Até nisso o Brasil é falho: criminosos continuam circulando, alguns até mandando...
Paulo Roberto de Almeida

‘Brasil atolado’ é a capa da ‘The Economist’
 Fernando Nakagawa - CORRESPONDENTE / LONDRES
O Estado de S. Paulo, 27/02/2015

Blog do ‘Financial Times’ e a revista ‘Time’ também destacam problemas econômicos do País

Do foguete que levava a um futuro brilhante ao atoleiro de um pântano. Para parte da mídia internacional, esse foi o caminho do Brasil nos últimos anos. Nesta semana, a revista The Economist diz na capa que o Brasil está atolado em problemas e vive a maior bagunça desde os anos 90. Enquanto isso, um blog do jornal Financial Times listou dez motivos que podem levar a presidente Dilma Rousseff a não terminar o segundo mandato e a revista Time enumerou cinco fatos que podem levar o Brasil ao precipício. O Brasil parece a bola da vez.
Acada dia a imprensa estrangeira parece mais frustrada com os rumos recentes do Brasil. O melhor exemplo dessa frustração é visto na revista britânica The Economist. Na edição latino-americana que chega às bancas, a capa é ilustrada por uma passista de escola de samba em um pântano coberta de gosma verde com o título “O atoleiro do Brasil”. As edições vendidas no resto do mundo têm outra capa, sobre o avanço da telefonia celular.
Em editorial, a Economist diz que o País pode ter “problemas muito maiores do que o governo admite ou investidores parecem perceber”. Além da ameaça de recessão e da inflação, o texto cita o fraco investimento, a corrupção na Petrobrás e a desvalorização cambial que eleva dívida externa em real das empresas brasileiras.
“Escapar desse atoleiro seria difícil mesmo para uma grande liderança política. Dilma, no entanto, é fraca. Ela ganhou a eleição por pequena margem e sua base política está se desintegrando”, diz a revista conhecida por ser politicamente liberal. Esse tom não lembra em nada o clima de festa e comemoração visto no fim da década passada, quando o País era o queridinho da vez e recebia elogios rasgados nos espaços mais nobres da imprensa estrangeira.
A fraqueza política do governo também é destacada no blog sobremercados emergentes do jornal Financial Times. O Beyondbrics afirma que a onda de problemas parece tomar direção “catastrófica”. “Tanto assim que há boas razões para acreditar que a presidente Dilma Rousseff, que iniciou o segundo mandato de quatro anos em 1.º de janeiro, pode não durar muito tempo.”
O blog diz que uma cassação de presidente exige “algo flagrantemente errado”. “Mas muitos fazem isso e sobrevivem. O que realmente conta é perder apoio no Congresso. A maioria de Dilma no Congresso diminuiu nas eleições com uma coalizão mais fragmentada e difícil de controlar”, cita ao lembrar que a insatisfação é vista até dentro do PT. Além disso, o texto diz que, se o Congresso cogitar um processo de impeachment, a Petrobrás poderia fornecer um argumento. “Dilma foi a presidente do conselho de administração quando a maior parte da suposta corrupção aconteceu”, diz o texto.
Nos Estados Unidos, a revista Time publicou na internet uma lista de “cinco motivos que poderiam levar o Brasil ao precipício”. Ao afirmar que o País parece viver uma “tempestade perfeita”, a publicação cita que não há sinais de que a corrupção esteja diminuindo e as notícias econômicas podem demorar a melhorar, já que o País não deve crescer em 2015 e aumentos de preços devem continuar a ocorrer diante da seca e do aumento de tarifas públicas.
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Para 'The Economist', Brasil está em um atoleiro
Por Suzi Katzumata e Ligia Guimarães

Valor Econômico, 27/02/2015

SÃO PAULO  -  O Brasil está em um atoleiro, preso a uma estagnação que começou em 2013 e que pode se tornar uma prolongada recessão; a um ambiente de inflação elevada que consome salários e eleva os pagamentos da dívida dos consumidores; e a um cenário de queda no investimento, que soma 8% no ano e pode cair ainda mais, segundo avalia a revista britânica "The Economist". A revista dedicou a capa da edição desta semana aos problemas que atingem o país, que sofre ainda com o escândalo de corrupção na Petrobras, que atinge as maiores construtoras nacionais e que paralisou os gastos de capital em vários segmentos da economia. Para completar, o real acumula uma queda de 30% frente ao dólar desde maio de 2013, uma mudança necessária, segundo a revista, mas que aumenta o impacto cambial da dívida de US$ 40 bilhões em moeda estrangeira que as empresas brasileiras têm de pagar este ano.
Segundo texto do editorial da "Economist", sair de um atoleiro desse já seria difícil até mesmo para uma forte liderança política, portanto, a fraqueza atual da presidente Dilma Rousseff é um complicador a mais para o Brasil. A revista observa que, após uma vitória apertada na eleição de 2014, a presidente viu sua taxa de aprovação cair de 42% em dezembro para 23% este mês, menos de dois meses depois de tomar posse de seu segundo mandato, abatida pela deterioração da economia e o escândalo da Petrobras. Ademais, há denúncias de que o Partido dos Trabalhadores (PT) e parceiros da coligação do governo teriam recebido pelo menos US$ 1 bilhão em propina. Para piorar, durante o período relevante das investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, a presidência do conselho da estatal era ocupada por Dilma.
Se a presidente quiser usar seu segundo mandato para salvar o Brasil, Dilma terá de conduzir o país em uma direção totalmente nova, diz "The Economist". O problema é que ela passou toda a campanha eleitoral exaltando um cenário econômico róseo e demonizando os planos neoliberais de seus oponentes. O lado positivo, segundo a revista, é que Dilma pelo menos reconhece que o Brasil precisa de "políticas mais amigáveis aos negócios, se quiser manter seu rating de grau de investimento e voltar a crescer". E esse reconhecimento é personificado pelo novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy - "um economista treinado em Chicago, banqueiro e um dos raros liberais econômicos do país". O lado negativo, segundo a revista, é que o fracasso passado do Brasil em enfrentar as distorções econômicas deixaram Levy diante da armadilha da recessão.
Apesar de tudo, "The Economist" diz que o Brasil não é o único membro dos BRICs com problemas. "A economia da Rússia, em particular, tem sido castigada pela guerra, sanções e dependência do petróleo. Apesar de seus problemas, o Brasil não está em uma grande confusão como a Rússia", segundo a revista, acrescentando que o País tem um setor privado grande e diversificado e instituições democráticas robustas. "Mas as desgraças são mais profundas do que muitos reconhecem. A hora de dar um jeito é agora", sentencia a revista.

‘Indispensável’
A edição destaca ainda que a economia brasileira, guiada pelo ministro Joaquim Levy, definido como “um dos raros liberais econômicos do Brasil”,  enfrenta seu maior teste desde os anos 1990. E descreve Levy como “indispensável” no momento atual da economia, diante da fraqueza política da presidente. “Os riscos são claros. Recessão e redução das receitas fiscais podem comprometer o ajuste de Levy”, afirma a publicação.
A revista lembra que o ministro prometeu um enorme aperto fiscal para este ano, de quase dois pontos percentuais, que em parte será alcançado pela remoção de subsídios e restituição da Cide sobre os combustíveis, bem como pela redução de subsídios dos bancos públicos.
Uma dificuldade ao ajuste destacada pela revista é que Levy não poderá compensar o aperto fiscal com uma política monetária mais frouxa, porque “o Banco Central se curvou à vontade da presidente, ignorou sua meta de inflação”, deixando a margem de atuação limitada para o ministro.
O texto destaca ainda o perigo da fragilidade política de Dilma, e a rejeição do PT às medidas fiscais de Levy, que não foram negociadas durante a campanha. Cita também a derrota de Dilma com a vitória de Eduardo Cunha no Congresso.
Tal cenário de fraqueza política torna Levy “indispensável”, de acordo com a revista. “Ele deve construir pontes com Cunha, enquanto deixam claro que se o Congresso tenta extrair um preço orçamental para o seu apoio, levará a cortes em outros lugares”.

Debate: os liberais precisam ser religiosos? Pergunta nao faz nenhum sentido - Paulo Roberto de Almeida

Depois que eu coloquei uma pequena nota de opinião neste espaço...


Quem são os liberais, e oque eles têm a dizer?
 http://diplomatizzando.blogspot.com/2015/02/quem-sao-os-liberais-e-o-que-eles-tem.html

... alguns leitores me escreveram para comentar meu argumento de que os liberais não precisam ser religiosos, indicando o "fato" de que vários liberais são religiosos.

O que eu escrevi exatamente? Apenas isto:

"Eles não são religiosos, ou não é isso que os distingue no plano doutrinal, pois aceitam que as pessoas possam ter fé em doutrinas ou crenças religiosas."

O que me escreveram? Reproduzo aqui:

"Apesar de obviamente não ser um ponto central do texto, será que se pode afirmar que liberais não são religiosos (3º paragrafo)? Baseado no rol de grandes personagens feito pelo Acton Institute, me parece que não.
http://pt.acton.org/personnages-historique
Atualmente o pessoal, por ex., do Mises americano, com uma exceção ou outra, é bem religioso também."

Informo (PRA): O Acton Institue se proclama uma entidade para o estudo da religião e da liberdade.
Que seja, o instituto é livre para escolher seus temas preferenciais. A liberdade é universal, a religião não é, e nunca foi.

Meu comentário a este respeito:

Ser religioso, e ser liberal são paralelas infinitas, uma não tem nada a ver com a outra.
Um liberal, ou seja, alguém que prega o livre arbítrio individual e a suprema liberdade de cada indivíduo aceita que cada um pode ter a crença que desejar (mas isso é geralmente, não uma escolha, mas uma herança familiar), e isso não tem nada a ver com a defesa de suas liberdades básicas, que devem ser feitas mesmo quando o indivíduo não tem nenhuma religião ou quando ele é contra todas e qualquer religião, e se torna militante do ateísmo, por exemplo.
Não vejo como provar qualquer coisa com respeito ao liberalismo pelo fato de que liberais americanos sejam religiosos. Eles são o quê?: budistas, confucionistas, muçulmanos, hinduístas? Não, trata-se obviamente de cristãos.
Mas o que isso tem a ver com o liberalismo? Nada.
Um muçulmano pode ser um liberal tão consequente quanto um cristão, desde que ele não queira usar a sua religião para impedir, por exemplo, qualquer pessoa de cobrar quanto quiser de juros pelo emprego de sua poupança por um terceiro.
Mas isso existe também na Bíblia, ou seja, um preconceito contra a usura.
Ora, isso é o que existe de mais autoritário e um liberal jamais poderia concordar com esse tipo de argumento.

Insisto em dizer: um liberal não tem religião.
Ou melhor: essa questão é totalmente indiferente para um verdadeiro liberal.
São duas galáxias diferentes, e elas não deveriam se tocar.
Quem quiser me provar o contrário, pode argumentar.
Respeito a lógica elementar, e a história humana, apenas isto.
Paulo Roberto de Almeida

Brasil politica: Partido Novo altera a cena politica, unico a querer reduzir o Estado

No que faz muito bem.
Mas jornalistas são seres sem muita imaginação. Mesmo a Economist precisa de algum referencial histórico ou conceitual para enquadrar o Novo e foi buscar no Thatcherismo.
Totalmente errado, ainda que as fontes -- Hayek e outros liberais -- possam ser similares.
Mas o Novo é brasileiro e não tem nada a ver com outras realidades.
Paulo Roberto de Almeida

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João Dionísio Amoêdo, presidente do Partido Novo (Foto: Reprodução/Época)
LIBERAIS DO BRASIL

Thatcherismo ganha adeptos no Brasil

Partido Novo, prestes a se tornar oficial, promete ampliar o estreito espectro político brasileiro

fonte | A A

Os defensores do livre mercado e de um Estado menos intrusivo estão ganhando terreno no Brasil. Muito em breve os liberais brasileiros terão um novo partido político para representá-los. O chamado Partido Novodefende mercados livres, um Estado mínimo, impostos baixos e liberdades individuais. A sua criação promete ampliar o estreito espectro político do país inclinado à esquerda



O presidente do Partido Novo, o banqueiro João Dionísio Amoêdo, defende a privatização de empresas controladas pelo Estado, como a Petrobras. O partido já apresentou as 492 mil assinaturas necessárias para obter o registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Amoêdo prevê sua aprovação em março e já planeja apresentar candidatos nas eleições municipais do próximo ano. Uma nova força liberal poderia fornecer novas respostas à cada vez mais difícil situação econômica do país.

Guinada à direita?

O liberalismo defendido pelo Partido Novo ainda atrai uma minoria, mas a opinião pública parece estar mudando. Os brasileiros têm a mente aberta sobre os direitos dos homossexuais e a imigração (mas não a legalização das drogas). Uma pesquisa feita pelo Datafolha em setembro do ano passado constatou que 30% são céticos quanto às políticas de intervenção do Estado e os gastos do governo, porcentagem registrada em 26% um ano atrás. Na eleição presidencial de outubro, Dilma Rousseff derrotou o tucano Aécio Neves só marginalmente. Estes são sinais de esperança para os liberais.

The Economist

Violencia contra Mulheres: um "costume" que precisa acabar - Marli Goncalves

Sempre leio as cronicas desta jornalista, que me chegam infalivelmente toda sexta-feira.
Nunca postei nenhuma delas, pois sua área, a crítica de costumes, alguns deploráveis, como os da política, por exemplo, não faz parte, digamos assim, de meus interesses essenciais.
Eu tomo os costumes humanos, em especial os brasileiros, pelo que eles são, costumes, vários péssimos (como a corrupção, no nosso caso) que estão sempre necessitando aperfeiçoamentos civilizatórios para que eles se tornem melhores do que eles são, atualmente.
Mas este costume, o de matar mulheres não requer aperfeiçoamento, e sim extirpação, urgente.
Por isso, posto aqui esta crônicamuito triste de Marli Gonçalves.
Paulo Roberto de Almeida

A TERRÍVEL PELEJA DA MULHER CONTRA O CABRA DIABO QUE MACHUCA E MATA. POR MARLI GONÇALVES
Sente o cheiro empesteante de sangue no ar? Consegue ouvir os gritos de socorro, o barulho dos tapas? Ouve as ameaças, os insultos, os palavrões, as acusações, os xingamentos? Ouve o choramingo da criança pedindo, desesperada, Pare! Pare! - e as portas batendo, o som abafado dos tiros? Consegue reconhecer esse outro som oco, o estocar da faca cortando, entrando, furando, esbugalhando? Não tampe mais os ouvidos, não feche mais os olhos. Nesses poucos segundos uma mulher poderá ser assassinada. Nos últimos anos, estima-se que ocorreram, em média, 5.664 mortes de mulheres por causas violentas cada ano, 472 a cada mês, 15,52 a cada dia, ou uma a cada hora e meia

Consegue notar a barbárie? Pode perceber a selvageria da questão que ainda estamos tendo de tratar em tempos ditos tão modernos, tão resolvidos? As mortes de mulheres, as muitas assassinadas por seus ex-companheiros, namorados ou diabos que cruzam seus caminhos, a violência contra a mulher está de novo desmedida, descontrolada, cruel e isso ainda sendo tratado como assunto de segunda ordem. Basta. Todo dia sabemos de um caso mais cruel e escabroso que outro.

Vamos falar desse assunto, senhores e senhoras, brasileiros e brasileiras, meu povo, minha pova? Dona presidenta, valenta, para que está servindo ser uma mulher no poder, se a senhora só faz, diz e se preocupa com masculinices? Como conseguiremos expor esse problema tanto quanto os gays estão conseguindo visibilidade agora? (Pior é que quanto mais viram "mulheres" os homens gays, nessa inversão de papéis, essa mesma violência já os atinge)

Se preciso for, podemos usar várias linguagens, tirar a roupa, botar alguma roupa simbólica, ir às ruas, pintar o sete. Aliás, lendo sobre o assunto, descobri que teve um cabra que compôs um "repente" e que ficou até oficial, cantado em ato da Lei Maria da Penha. (http://youtu.be/8G9Ddgw8HaQ). Pena que tantos atos oficiais para chamar a atenção para o problema não virem atos objetivos contra o problema, por exemplo, como proteger a mulher que denuncia. Por aí, vagando, já que agora viraram fantasmas, está cheio de mulheres que denunciaram, pediram socorro, uma, duas, três vezes. Encaro até tentar criar uma literatura de cordel, embora é capaz de algum coroné querer censurar e proibir, porque seria violento demais o meu relato; já tive minha peleja particular, sou sobrevivente. 

Mulheres mortas a facadas, facões, serrotes, marteladas, tiros, porradas, cacetadas, encarceradas, estupradas, decapitadas, torturadas, emparedadas, encurraladas, até postas para cachorro comer, conforme diz a lenda no caso Eliza Samudio, o corpo que sumiu no ar. Empurradas de janelas, mantidas em cativeiro, ameaçadas de perder seus filhos, sua honra, suas famílias, aleijadas, queimadas, desfiguradas.

Eles? Estavam nervosos, corneados, bêbados, drogados, paranoicos, perderam a cabeça, ouviram vozes que mandavam - cada canalha tem uma desculpa e uma versão dos fatos, até porque em geral são eles que ficam vivos para contar a história para atentos policiais homens que irão registrar a ocorrência, "investigar com rigor"". Digo isso, porque temos tido também muitos exemplos recentes de celerados que, depois de fazer o "serviço", se matam também - enfim, já vão tarde. Esse tipo costuma levar para o inferno não só a mulher, como os filhos e às vezes, os parentes que estiverem próximos.

Tenho até azia ao ler no noticiário relatos como "...mas ele era tão calmo, homem bom, trabalhador, quem diria..." Não seja cúmplice. Não tente justificar. Violência não se justifica. Repita cem vezes. Violência não se justifica.

Feminicídio ou femicídio - esse é o nome da violência fatal contra a mulher. Pouco importa se homicídio, feminicídio, melhor chamar de extermínio de mulheres por machistas psicopatas e descontrolados. Essa é uma questão de gênero, de saúde pública, de segurança pública, de cidadania.

Os fatos são esses. Anote. Vamos fazer algo contra a violência contra a mulher. Veja se a Lei Maria da Penha está sendo levada a sério, cumprida. Se quando a mulher vai denunciar é bem atendida. Se continuam funcionando ou, melhor: como não funcionam as nossas à época tão festejadas Delegacias da Mulher - vamos lá ver se estão preparadas, equipadas, com equipes treinadas. A resposta será Não. E não. E não

Saiba mais sobre a crueldade, dessa cruel realidade e suas estatísticas: 52% das mulheres vítimas têm entre 20 e 39 anos: 31%, idade entre 20 a 29 anos, e 23% tinham entre 30 e 39 anos. 62% do total, mulheres negras ou pardas. 61% das mulheres assassinadas em 2012 eram solteiras, 13%, casadas. Só em 2012 foram 393 mortes por mês, 13 por dia, mais de 1 morte a cada duas horas.

Aproximadamente 40% de todos os homicídios de mulheres no mundo são cometidos por um parceiro íntimo. No Brasil, de 2001 a 2011 calcula-se que foram mais de 50 mil assassinatos, ou seja, aproximadamente 5 mil mortes por ano. Um terço ocorreu no local onde moravam.

50% dos feminicídios tiveram o uso de armas de fogo; 34% foram com algum instrumento perfurante, cortante ou contundente. Enforcamento ou sufocação foi registrado em 6% das mortes. Maus tratos - incluindo agressão por força corporal, física, violência sexual, negligência, abandono e maus tratos (abuso sexual, crueldade mental e tortura) - foram registrados em 3% dos casos de uma pesquisa que abrangeu uma década de estudos.

E atenção! Cuidado com sábados e domingos, mulheres: 36% dos assassinatos ocorreram aos finais de semana, 19% deles naqueles domingos que parecem tão modorrentos.  

E que ninguém culpe o Faustão, o Fantástico, ou a Rede Globo por isso. Nem o Fernando Henrique, o FHC.

São Paulo. 2015. Dia da Mulher, vamos aproveitar que estão falando da gente, para tentar nos salvar.


Marli Gonçalves é jornalista -- - Quando precisou de ajuda teve pouco apoio. E vejam que já lutava contra isso o que talvez tenha sido a salvação, ontem, hoje e amanhã. É muito difícil falar sobre isso. Dói onde ficaram cicatrizes. E ainda ter de ver, sentir e ouvir quão desconsideradas podemos ser, nós, mulheres, as que não optaram pela vida fácil e submissão. 
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 Addendum, para um caso concreto, da coluna do jornalista Carlos Brickmann, em 27/02/2015: 
Memória...

Em 2006, Julyenne Cristine, ex-mulher do deputado Arthur Lira, recebeu a visita do ex-marido. Segundo queixa que apresentou à Polícia, o deputado já entrou dando-lhe socos e chutes. A babá de seus filhos, Elane Melo da Silva, depôs dizendo que ouviu tudo e telefonou para a mãe de Julyenne. A mãe foi ao apartamento e, segundo disse, encontrou o parlamentar sentado em cima da esposa, espancando-a. Júlio César Santos Lins, irmão de Julyenne, conseguiu segurar o ex-cunhado e levou a irmã e a mãe à Delegacia, onde prestaram queixa. O exame de corpo de delito, no Instituto Médico Legal, mostrou oito lesões em Julyenne.

...de tempos passados

Mas o tempo passa, o tempo voa. Justo nesse ano, quando o caso deve ser julgado, Arthur Lira espera assumir a presidência da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.

Se o tempo é relativo, como mostrou Einstein, por que os fatos não o seriam? Todo mundo esqueceu a versão anterior dos acontecimentos. Todos, da esposa agredida à mãe dela, do irmão que apartou a briga à babá que chamou gente na hora da briga, ninguém mais lembra da agressão. Dizem agora, aliás, que agressão nunca houve.
E Arthur Lira pode ganhar sua comissão.
 

Corrupcao companheira: o Brasil ja' chegou num Estado mafioso? Ha muito tempo...

Esse é o Estado a que chegamos: um Estado simplesmente mafioso.
Mas começou há muito tempo.
Máfias agem assim...
Não é tudo muito simples?
Paulo Roberto de Almeida

Exclusivo: Renato Duque foi solto a pedido de Lula

O Antagonista


No contexto da Operação Lava Jato, uma das perguntas que permaneciam sem resposta era por que Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras, foi solto por ordem do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal -- e, depois, teve novo pedido de prisão preventiva negado por obra do mesmo Teori, que convenceu Gilmar Mendes e Carmen Lúcia a segui-lo na decisão. Afinal de contas, está mais do que provado que Renato Duque, homem de José Dirceu e do PT, era um dos principais engenheiros do propinoduto que sangrou a estatal.

O Antagonista apurou com três fontes de alto escalão, para chegar à resposta. Renato Duque não está livre por falha de argumentação do juiz Sergio Moro e do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, como pensam alguns. Esse foi apenas o pretexto. Renato Duque está livre por causa de Lula.

A prisão de Renato Duque, em novembro do ano passado, fez com que a sua mulher entrasse em desespero. Sem poder contar com José Dirceu, pato manco depois do mensalão, ela recorreu a Paulo Okamotto, o faz-tudo de Lula. Para acalmá-la, Okamotto afirmou que a situação se arrumaria num curto espaço de tempo, mas ela lhe disse que não cairia nessa conversa. Que, se fosse necessário, teria como reunir provas suficientes para provar que Lula sabia e participara do esquema do petrolão.

Diante da ameaça, Okamotto disse a Lula que ele deveria encarregar-se da questão pessoalmente. Lula encontrou-se com a mulher de Renato Duque e tentou persuadi-la de que o seu marido ficaria na prisão menos do que se imaginava. Em vão. Ela voltou a afirmar que implicaria o ex-presidente no escândalo, se Renato Duque não fosse libertado rapidamente.

Acuado, Lula pediu ajuda a um ex-ministro do STF de quem é muito amigo. Ele se prontificou a socorrer o petista. O melhor caminho, disse o ex-ministro do STF a Lula, era procurar Teori Zavascki. Foi o que o amigo de Lula fez: marcou um encontro com Teori Zavascki, para lhe explicar como era urgente que Renato Duque fosse solto, porque, caso contrário, Lula seria envolvido "injustamente" num escândalo de proporções imprevisíveis para a estabilidade institucional. Teori Zavascki aquiesceu. Avisado pelo amigo ex-ministro do STF, Lula comunicou à mulher de Renato Duque que tudo estava resolvido

Foi assim que Renato Duque, passados pouco mais de quinze dias após a sua prisão, viu-se do lado de fora da carceragem da Polícia Federal em Curitiba.

Acuado, ele pediu ajuda a

um ex-ministro do STF

A frase da semana: Edmund Fawcett sobre o liberalismo

Liberalism as I take it here [is] a search for an ethically acceptable order oh human progress among civic equals without recourse to undue power.

In: Edmund Fawcett,
Liberalism: The Life of An Idea
Princeton: Princeton University Press, 2014, p. xv.

Fernando Gabeira: Os Saqueadores da Logica (eles mesmos, os mafiosos)


Os saqueadores da lógica

Fernando Gabeira, 27.02.2015

Se o PT pusesse fogo em Brasília e alguém protestasse, a resposta viria rápida: onde você estava quando Nero incendiou Roma? Por que não protestou? Hipocrisia.

Com toda a paciência do mundo, você escreve que ainda não era nascido, e pode até defender uma ou outra tese sobre a importância histórica de Roma, manifestar simpatia pelos cristãos tornados bodes expiatórios. Mas é inútil.

Você está fazendo, exatamente, o que o governo espera. Ele joga migalhas de nonsense no ar para que todos se distraiam tentando catá-las e integrá-las num campo inteligível.

Vi muitas pessoas rindo da frase de Dilma que definiu a causa do escândalo da Petrobrás: a omissão do PSDB nos anos 1990. Nem o riso nem a indignação parecem ter a mínima importância para o governo.

Depois de trucidar os valores do movimento democrático que os elegeu, os detentores do poder avançaram sobre a língua e arrematam mandando a lógica elementar para o espaço. A tática se estende para o próprio campo de apoio. Protestar contra o dinheiro de Teodoro Obiang, da Guiné Equatorial, no carnaval carioca é hipocrisia: afinal, as escolas de samba sempre foram financiadas pela contravenção.

O intelectual da Guiné Juan Tomás Ávila Laurel escreveu uma carta aos cariocas dizendo que Obiang gastou no ensino médio e superior de seu país, em dez anos, menos o que investiu na apologia da Beija-Flor. E conclui alertando os cariocas para a demência que foi o desfile do carnaval de 2015.

O próprio Ávila afirma que não há números confiáveis na execução do orçamento da Guiné Equatorial. Obiang não deixa espaço para esse tipo de comparação. Tanto ele como Dilma, cada qual na sua esfera, constroem uma versão blindada às análises, comparações numéricas e ao próprio bom senso.

O mundo é um espaço de alegorias, truques e efeitos especiais. Nicolás Maduro e Cristina Kirchner também constroem um universo próprio, impermeável. Se for questionado sobre uma determinada estratégia, Maduro poderá dizer: um passarinho me contou. Cristina se afoga em 140 batidas do Twitter: um dia fala uma coisa, outro dia se desmente.

Numa intensidade menor do que na Guiné Equatorial, em nossa América as cabeças estão caindo. Um promotor morre, misteriosamente em Buenos Aires, o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, só e indefeso, é arrastado por um pelotão da polícia política bolivariana.

Claro, é preciso denunciar, protestar, como fazem agora os argentinos e os venezuelanos. Mas a tarefa de escrever artigos, de argumentar racionalmente, parece-me, no Brasil de hoje, tão antiga como o ensino do latim ou o canto orfeônico.

Alguma evidência, no entanto, pode e deve sair da narrativa dos próprios bandoleiros. Quase tudo o que sabemos, apesar do excelente trabalho da Polícia Federal, veio das delações premiadas.

Alguns dos autores da trama estão dentro da cadeia. Não escrevem artigos, apenas mandam bilhetes indicando que podem falar o que sabem.

Ao mesmo tempo que rompe com a lógica elementar, o governo prepara sua defesa, organiza suas linhas e busca no fundo do colete um novo juiz do Supremo para aliviar sua carga punitiva. O relator Teori Zavascki, na prática, foi bastante compreensivo, liberando Renato Duque, o único que tinha vínculo direto com o PT.

Todas essas manobras e contramanobras ficarão marcadas na história moderna do Brasil. Essa talvez seja a razão principal para continuar escrevendo.

Dilmas, Obiangs, Maduros e Kirchners podem delirar no seu mundo fantástico. Mas vai chegar para eles o dia do vamos ver, do acabou a brincadeira, a Quarta-Feira de Cinzas do delírio autoritário.

Nesse dia as pessoas, creio, terão alguma complacência conosco que passamos todo esse tempo dizendo que dois e dois são quatro. Constrangidos com a obviedade do nosso discurso, seguimos o nosso caminho lembrando que a opressão da Guiné Equatorial é a história escondida no Sambódromo, que o esquema de corrupção na Petrobrás se tornou sistemático e vertical no governo petista.

Dilma voltou mais magra e diz que seu segredo foi fechar a boca. Talvez fosse melhor levar a tática para o campo político. Melhor do que dizer bobagens, cometer atos falhos.

O último foi confessar que nunca deixou de esconder seus projetos para ampliar o Imposto de Renda. Na Dinamarca (COP 15), foi um pouco mais longe, afirmando que o meio ambiente é um grande obstáculo ao desenvolvimento.

O País oficial parece enlouquecer calmamente. É um pouco redundante lembrar todas as roubalheiras do governo. Além de terem roubado também o espaço usual de argumentação, você tem de criticar politicamente alguém que não é político, lembrar o papel de estadista a uma simples marionete de um partido e de um esquema de marketing.

O governo decidiu fugir para a frente. Olho em torno e vejo muitas pessoas que o apoiam assim mesmo. Chegam a admitir a roubalheira, mas preferem um governo de esquerda. A direita, argumentam, é roubalheira, mas com retrocesso social. Alguns dos que pensam assim são intelectuais. Nem vou discutir a tese, apenas registrar sua grande dose de conformismo e resignação.

Essa resignação vai tornando o País estranho e inquietante, muito diferente dos sonhos de redemocratização. O rei do carnaval carioca é um ditador da Guiné e temos de achar natural porque os bicheiros financiam algumas escolas de samba.

A tática de definir como hipocrisia uma expectativa sincera sobre as possibilidades do Brasil é uma forma de queimar esperanças. Algo como uma introjeção do preconceito colonial que nos condena a um papel secundário.

Não compartilho a euforia de Darcy Ribeiro com uma exuberante civilização tropical. Entre ela e o atual colapso dos valores que o PT nos propõe, certamente, existe um caminho a percorrer.

Artigo publicado no Estadão em 27/02/2015

 

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Politica mafiosa: "Ja da' para ouvir o 15 de marco"- Reinaldo Azevedo

Apenas repassando, sem qualquer comentário (e precisa?).
Paulo Roberto de Almeida

Já dá para ouvir o 15 de março
Reinaldo Azevedo
Folha de São Paulo, 27 de fevereiro de 2015

A pantomima petista chegou ao fim. O custo é imenso. E vai cobrar a fatura de gerações, podem escrever

"Soc, poft, pow! Coxinha. Golpista!"

Eis o som presente do mar futuro de gente nas ruas no próximo dia 15. Ali vão as onomatopeias e vitupérios produzidos pelos milicianos petistas contra pessoas comuns, que pagam impostos e estão cansadas de ser roubadas. Pois é... Os companheiros acham que chegou a hora de nos pegar na porrada.

Na segunda, enquanto Lula e seus "tontons macoute" faziam um ato "em defesa da Petrobras", no Rio --o que supõe distribuir sopapos didáticos para ensinar a essa brasileirada o valor do patriotismo--, a Moody's anunciava o rebaixamento da nota da estatal. Bastava que caísse um degrau para passar do azul para o vermelho, do grau de investimento para o especulativo. Mas a agência empurrou a empresa escada abaixo: a queda foi logo de dois --e ainda com viés negativo.

A presidente Dilma Rousseff, com a clarividência habitual, atribuiu a decisão "à falta de conhecimento". É verdade. A agência, o mercado e todo mundo desconhecem, por exemplo, o balanço da empresa. O que se dá como certo é que o governo indicou uma diretoria para o exercício da contabilidade criativa, com Aldemir "Hellôôô" Bendine à frente. A crise, no Brasil, também é brega.

A realidade ganhava, assim, traços de caricatura, de narrativa barata, de roteiro de filme de segunda linha. Enquanto Lula, o grande sacerdote do modelo que levou a Petrobras ao desastre, oficiava na ABI mais uma de suas missas macabras, disparando contra elites imaginárias, a empresa passava a arcar com mais um custo das forças malignas que ele conjurava. Havia pouco, Paulo Okamotto, o sócio do Babalorixá de Banânia, explicara em entrevista como o partido lida com as empreiteiras: "Funciona assim: 'Você está ganhando dinheiro? Estou. Você pode dar um pouquinho do seu lucro para o PT? Posso, não posso.'"

Das expressões ou palavras que criei para definir esses seres exóticos, "petralha" é a mais popular, mas não é a de que mais me orgulho. Gosto mesmo é de "burguesia do capital alheio", que é como chamo os companheiros desde meados da década de 90, antes ainda de sua ascensão, quando fingiam ares de resistência.

Sempre me impressionou a facilidade com que se insinuavam nas estruturas do Estado e das empresas privadas e passavam a ser beneficiários do esforço de terceiros. Voltem lá a Okamotto. Jamais lhe ocorreria indagar se os empresários podem dar um pouco do seu risco ao PT. O partido se apropria é de uma parte do lucro. A expressão que criei serve para designar o petismo, mas poderia definir a máfia.

O modelo entrou em colapso. Se Dilma será ou não impichada, não sei. Como escrevi nesta Folha, golpe é rasgar a lei e a Constituição democraticamente pactuadas. O que dá para saber, e isto é certo, é que a pantomima petista chegou ao fim. O custo é imenso. E vai cobrar a fatura de gerações, podem escrever. As ruas vêm aí, e Lula, o irresponsável da segunda-feira, com seus milicianos, nada pode fazer pela governanta. Ao contrário: é ele, hoje, quem a desestabiliza.

A presidente tem de se escorar no braço de Eduardo Cunha e repetir Blanche DuBois, a doidona de "Um Bonde Chamado Desejo", quando decide seguir pacificamente para o hospício, em companhia de um alienista: "Seja você quem for, eu sempre dependi da boa vontade de estranhos".

China, investimentos: nao tem Plano Marshall, e sim o imperialismo ocidental de um seculo atras

Interessante artigo do ex-diplomata Marcos Troyjo na FSP desta sexta-feira, consolidando os últimos dados sobre a exportação de capitais da China nos últimos anos.
Discordo, porém, fundamentalmente, da assertiva quanto a um Plano Marshall chinês. Isso não existe, e não há nada de equivalente entre o que fizeram os EUA entre 1947 e 1953 -- colaborando generosamente com a reconstrução europeia, e também japonesa em outro esquema -- e o que estão fazendo hoje os chineses, que nada mais fazem do que reproduzir o que fizeram europeus e americanos cem anos atrás em direção de toda a periferia integrada aos circuitos da divisão internacional do trabalho.
A China está cuidando dos seus interesses nacionais, com algumas prebendas aqui e ali, que se refletem na construção de hospitais e prédios públicos em países africanos (desde que feitos com mão de obra chinesa), para permitir o estabelecimento dos mesmos esquemas de extração de valor que faziam os "imperialistas ocidentais" no final do século 19 e início do 20.
A China está certa? Provavelmente.
Mas ela não está fazendo nenhum Plano Marshall, e isso precisa ficar muito claro.
Nunca existiu nada comparável aos dons generosos feitos pelos EUA, e mesmo antes do Plano Marshall. Os acordos de Lend-Lease (empréstimos e arrendamento), que permitiram a transferência de mais de 50 bilhões de dólares em equipamentos militares americanos para os britânicos, para os soviéticos e para outros aliados (inclusive o Brasil), foram absolutamente essenciais para resistir, desde 1940 no caso inglês, à máquina de guerra nazista, e vencer os monstros fascistas-militaristas da Segunda Guerra.
A China está longe, muito longe, de fazer qualquer Plano Marshall. Ela cuida dos seus interesses nacionais, o que certos países são incapazes de fazer.
O comércio bilateral Brasil-China, por exemplo, é bem mais "colonial" do que jamais o foi nossa relação diversificada com os "imperialismos" europeu e americano durante décadas.
O que acaba de fazer agora a Argentina abrindo-se aos capitais chineses senão submissão colonial?
Essa é a realidade.
Paulo Roberto de Almeida

Plano Marshall chinês?
Marcos Troyjo
Folha de S. Paulo, Sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Os astutos chineses já encontraram fórmula para explicar como sua expansão representa oportunidades

Quando o Muro de Berlim caiu, Brasil e China ocupavam fatias iguais do PIB global -- cada uma representava 3% da economia mundial.

Hoje, a participação brasileira permanece essencialmente a mesma, ao passo que a China já é responsável por quase 17% da riqueza global.

A dramática ascensão chinesa é mais destoante quando comparada à imobilidade brasileira. Embora inerte, o Brasil de 2015 ainda é a segunda maior economia emergente.

Essa corrida chinesa rumo ao status de superpotência econômica se deveu sobretudo ao extraordinário sucesso na aplicação de uma estratégia de nação comerciante.

Isso gerou perceptível desproporção da presença chinesa em diferentes âmbitos das relações econômicas internacionais.

O gigantismo comercial da China, que há dois anos converteu-se na maior exportadora -- e importadora -- do mundo, não se fez acompanhar do papel do país como grande fonte de investimentos estrangeiros diretos. Isso, porém, está mudando.

Uma comparação entre os perfis dos membros do "G2" (EUA e China) do mundo contemporâneo ilustra o ponto. A corrente de comércio exterior anual da China hoje é de US$ 4 trilhões. A dos EUA é de US$ 3,9 trilhões.

Já o estoque total de investimento no exterior demonstra grande disparidade. Na ponta receptora, a China ultrapassou os EUA em 2014 como principal destino mundial de investimento estrangeiro, (China US$ 127 bilhões, EUA US$ 86 bilhões). Na ponta emissora, a desproporção é brutal: EUA contabilizam US$ 6,5 trilhões e China menos de 10% disso, com US$ 614 bilhões.

Ainda assim, a tendência é de maior convergência. Nos últimos 10 anos os EUA aumentaram seu estoque de investimentos não-financeiros no exterior em "apenas" 75%, enquanto a China os multiplicou 12 vezes.

Será então, como questiona o economista Peter Nolan, da Universidade de Cambridge, que a "China está comprando o mundo"?

À semelhança do Japão nos 1980, a China realiza crescentes aquisições de empresas e propriedade imobiliária no exterior. Investe pesadamente em energia e, onde lhe permitem, em terra, subsolo, agricultura. E o faz globalmente. Se os investimentos chineses são particularmente visíveis na África, em volume os quatro principais destinos na última década são EUA, Austrália, Canadá e Brasil.

A China sabe que seu perfil cada vez mais alto como investidora no exterior gera agudas preocupações. Empresariado local teme competição e desindustrialização. Governos sensibilizam-se com eventual perda de soberania sobre recursos naturais. Trabalhadores ressentem-se do estilo supostamente abrasivo com que os chineses administram suas empresas.

Mas os astutos chineses já encontraram fórmula sútil de explicar como a expansão de seu papel investidor representa oportunidades para o mundo em desenvolvimento.

Classificam plataformas lideradas por Pequim como o Banco dos Brics, o Banco de Investimentos em Estrutura na Ásia ou o Fundo da Rota da Seda, juntamente com o investimento estatal e privado no exterior, como equivalentes a um "Plano Marshall chinês".

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marcostroyjo/2015/02/1595596-plano-marshall-chines.shtml