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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 24 de março de 2019

Mourão reuniu-se com mais que o triplo de embaixadores do que o chanceler - Poder 360


O vice-presidente poderia passar suas notas de reuniões com embaixadores – certamente seu assessor diplomático as fez – ao atual chanceler, para pelo menos ajudá-lo em seu trabalho oficial. Nada para humilhar, claro...
Paulo Roberto de Almeida

Mourão reuniu-se com mais que o triplo de embaixadores do que o chanceler

Chanceler reuniu-se com 7
E o vice-presidente, com 23
Dados são de agendas oficiais


O vice-presidente da República, general Hamilton Mourão Sérgio Lima/Poder360 - 21.jan.2019
LAURIBERTO BRASIL e NATHÁLIA PASE
24.mar.2019 (domingo) - 5h50
O vice-presidente Hamilton Mourão reuniu-se com 23 embaixadores em seu gabinete no Palácio do Planalto desde a posse. O número representa mais que o triplo de vezes que o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, recebeu representantes de outros países.

Os dados são das agendas oficiais de ambos, Mourão e Ernesto. Leia a tabela com os representantes estrangeiros que conversaram com Mourão:

Representantes recebidos por Mourão
data
autoridade
3.jan
embaixadores da Bélgica, Patrick Herman, e da Holanda, Kees Van Rij
9.jan
ebaixadores da Argentina, Carlos Margariños, da República Dominicana, Alejandro Arias Zarzuela, e da Ucrânia, Rostyslav Tronenko
14.jan
embaixador da Espanha, Fernando Garcia Casas
21.jan
embaixadores da Tailândia, Susarak Suparat, e da Alemanha, Georg Witschel
23.jan
embaixador do Grão-Ducado de Luxemburgo, Carlo Krieger
28.jan
embaixador da Palestina, Ibrahim Alzaben
30.jan
embaixador do Chile, Fernando Schmidt
31.fev
embaixador do Canadá, Riccardo Savone
11.fev
embaixadores da Irlanda, Seán Hoy, da Austrália, Timothy Francis Kane, e da República Tcheca, Sandra Lang Linkensedorová
13.fev
embaixador do Vietnã, Do Ba Khoa
18.fev
embaixadores de Portugal, Jorge Cabral, e do Kuwait, Nasser Al Motairi
19.fev
embaixador da Grécia, Ioannis Pediotis
20.fev
embaixador da Sérvia, Veljko Lazic
21.fev
embaixador da França, Michel Miraillet
13.mar
embaixadores da Geórgia, David Solomonia, e da Espanha, Fernando Garcia Casas
19.mar
embaixador da França, Michel Miraillet
20.mar
embaixador da Nova Zelândia, Chris Langley


O chanceler teve encontros com 7 embaixadores. A representante do autodeclarado presidente da Venezuela, Juan Guaidó, foi a única a reunir-se duas vezes com Ernesto:

Desde que tomou posse como ministro, o chefe do Itamaraty ficou, pelo menos, 21 dias fora do país em viagens diplomáticas. Ernesto passou por Peru, Suíça, Canadá, EUA, Polônia, Colômbia e Chile. Já Mourão viajou para fora em apenas uma oportunidade: em 21 de fevereiro para reunião do Grupo de Lima em Bogotá, na Colômbia.

DIVERGÊNCIAS

O vice-presidente discorda publicamente de políticas adotadas por Ernesto Araújo na área de relações exteriores. Chegou a se manifestar contra a transferência da embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém,prometida por Jair Bolsonaro.
Os palestinos reivindicam Jerusalém Oriental como capital de seu futuro Estado. Do outro lado do espectro nessa disputa está Israel, que reivindica Jerusalém como sua capital indivisível, algo que a maior parte dos países que integram a ONU (Organização das Nações Unidas) não aceita.
Em 28 de janeiro, o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, reuniu-se com Mourão. Afirmou ter saído “muito satisfeito” da reunião com o general e se mostrou otimista com as relações diplomáticas entre Brasil e Palestina.
“Tivemos uma conversa sobre a transações bilaterais entre Brasil e Palestina e saímos muitos satisfeitos que elas continuarão respeitando direitos internacionais e essa tradição brasileira ao longo dos últimos 70 anos”, afirmou.
Ernesto Araújo também foi preterido na 3ª feira (19.mar.2019) por Jair Bolsonaro ao não participar do encontro privado com Donald Trump no salão oval da Casa Branca, durante a viagem do presidente brasileiro aos Estados Unidos. Segundo relatos captados pela Folha de S. Paulo, Araújo demonstrou irritação na frente de outros ministros e foi acalmado por Paulo Guedes.
De acordo com o Itamaraty, ter recebido menos embaixadores que o vice-presidente não significa perda de prestígio do Ministro das Relações Exteriores. A função de receber embaixadores em audiências simples, segundo com o ministério, é do secretário-geral (2º na hierarquia). O levantamento do Poder360, no entanto, envolve audiências de todos os tipos com representantes (embaixadores, ou não) de outros países.
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Autores


De uma diplomacia a outra: conceitos e práticas - palestra PRA na UERJ, 3/04

Tenho de redigir minhas poucas notas sobre a “outra” diplomacia, pois até aqui temos poucos conceitos (todos errados) e muitas práticas (idem). 
Sobre a anterior, teria muito a dizer: a maior parte já foi analisada em meu livro de 2014, Nunca Antes na Diplomacia: a política externa brasileira em tempos não convencionais, agora complementado por este novo: Contra a Corrente: ensaios contrarianistas sobre as relações internacionais do Brasil, 2014-2018 (Appris, 2019), saindo do forno estes dias.
Acho que vou ter de revisar o título do livro anterior: essa coisa de "Nunca Antes" acaba de ser desmentida pelos atuais “gênios” da não-diplomacia bolsonarista, uma estrovenga extraordinária, extrovertida a partir da também estrovenga extraordinária da diplomacia trumpista. 

Nem originais os caras conseguem ser...
Paulo Roberto de Almeida

Paulo Roberto de Almeida 

O panorama visto desde uma biblioteca - Paulo Roberto de Almeida

Pois é: se empenharam tanto em criticar o que havia que se “esqueceram” (se é que eram capazes) de apresentar propostas próprias, fora de certas generalidades triviais. Governar é basicamente ter prioridades e saber administrar bem recursos escassos. Quais são as prioridades do governo?
Não vale dizer que é a reforma da Previdência, pois esta é uma imposição da realidade fiscal desastrosa.
Quero dizer prioridades específicas.
Segundo o presidente é “desconstruir”.
Magnífico! E o que pretendem colocar no lugar? Aguardo...
Até o momento, o que temos são três rebentos atrapalhando (para não usar um termo mais forte) o governo, numa perfeita divisão do trabalho: enquanto um destroi a política externa, o pitbull o faz na política interna, e um terceiro se ocupa de esconder vínculos com milícias criminosas e desvio de recursos...
Como sempre, assino embaixo do que escrevo.
Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 24 de março de 2019

Naufragio de uma diplomacia - Andre Magnelli (JB)


Naufrágio de uma chancelaria rumo à pátria perdida

Jornal do Brasil ANDRÉ MAGNELLI*  
O mundo de Ernesto Fraga naufraga. Basta saber se o Brasil se deixará imergir sob as águas turvas de uma tormenta ou se descobrirá nela apenas uma marolinha.
A nomeação do chanceler para o Ministério havia acendido um alerta para aqueles que reconheceram a tradição de pensamento por detrás das suas ideias: o velho anti-iluminismo, que esteve na origem dos fascismos do século XX. Conhecendo o “espírito” de sua reforma no MRE, não ficamos surpresos pelo atual clima de caça às bruxas, nem tampouco pela demissão do diplomata Paulo Roberto de Almeida da presidência do IPRI. O que explica que um diplomata marginalizado pelos governos do PT e de convicções liberais, com livro sobre nada menos do que Roberto Campos, seja defenestrado por ter postado textos críticos sobre a política exterior no seu Blog?
Quem leu com atenção os escritos de Ernesto Araújo percebe facilmente seu anti-modernismo. Não lhe bastam críticas aos mercados mundializados, à racionalidade tecnológica, ao universalismo “abstrato”, à laicidade e ao “desconstrutivismo” e “relativismo” das esquerdas. Ele se mostra, sobretudo, avesso ao pluralismo liberal e, com isso, parece ser mais um dos que falam em nome da liberdade, exigindo que “sejamos nós mesmos”, ao mesmo tempo em que impõem o dever de sermos “obedientes àquele que nos dita” (isto é, ao ditador). Por isso, seu inimigo suposto não é apenas o chamado “marxismo cultural”, mas também os fundamentos liberais da ordem política: o universalismo dos direitos humanos, o constitucionalismo, o pluralismo da nação, o direito internacional e as organizações intergovernamentais.
Sob o mote de uma luta contra o “globalismo”, o Itamaraty é visto como devendo estar em busca de um Ocidente perdido, muito embora esteja ainda, claramente, sem qualquer bússola. Para tanto, sinceramente ou não, de forma autêntica ou oportunista, Ernesto Araújo se filia ao núcleo de ideias da extrema direita do século XX. Em uma linguagem sedutora, porque faz eco aos ideais românticos da vida, da autenticidade e dos sentimentos, e porque mistura o pop e o erudito, ele afirma que é o mito, e não a racionalidade ou a ética, que forma o fundamento legítimo da comunidade humana; ele elogia a guerra como meio de construção de identidade; ele reivindica o culto patriota dos heróis e dos antepassados; ele recusa um fundamento não religioso para a ordem política; e ele afirma a defesa de valores particularistas contra pretensos universais, incluindo o sublime derramamento de sangue de patriotas em defesa de sua terra. Sob a veste de um “amor cristão”, anuncia-se em sua fala uma visão bem mais antiga, bastante “pagã”, de um amor à tribo e à cidade que se afirma na guerra com “amor e coragem”. Com isso, ele não apenas tira conclusões anti-iluministas, pseudo-eruditas, de filósofos distantes de sua ideologia (Burke, Herder, Nietzsche e Hegel), como também se guia por autores de extrema direita (Heidegger em modo nazista, Julius Evola e René Guénon).
Para ele, seguindo o pessimismo cultural de Oswald Spengler, o Ocidente, outrora vivo, pujante e orgânico, estaria decadente e agonizante, ameaçado de um apocalipse e precisando de salvação. Felizmente, teríamos novos messias que nos fazem reconhecer a verdade esquecida que nos salvará: o amor à nossa pátria. Quem traria a boa nova? Para o mundo, Trump, o único que “ainda pode salvar o Ocidente”; e para terras tupiniquins, imagino que Bolsonaro teria a mesma bendita exclusividade. Desta forma, Jair Messias Bolsonaro, “o mito”, alinha-se a Donald John Trump, o mitificado - um liberando o Ocidente do “globalismo”, e o outro libertando o Brasil do “marxismo”. O “America first” de Trump traduz-se, assim, no Brasil, por um “Ocidente primeiro” sob liderança dos EUA, de tal modo que, entre nós e eles, “the sky is the limit!”. Cabe-nos concluir que isso significa dizer mais uma vez, só que agora em inglês ou tupi, que “a ideologia vem primeiro e o resto é detalhe!”.
Com esta atitude de mundo, bem conforme ao autoritarismo rompante, soam ilegítimos os apelos ao pluralismo e ao debate. Muito mais do que uma luta contra o “marxismo cultural” que teria infestado o Estado, trata-se de um projeto de “unidade patriótica” em um Itamaraty renascido, em que os inconformes se tornam rapidamente hereges. Isso se aplica inclusive aos conservadores, pois o governo Bolsonaro está longe de formar um conservadorismo sem tensões internas: o tradicionalismo messiânico do chanceler, típico do que o diplomata Rubens Ricupero chamou de “franja lunática” do trumpismo, está em clara contradição com o neoliberalismo liderado pelo superministro Paulo Guedes, e não se confunde nem com o conservadorismo pragmático, técnico e nacionalista de militares, nem com o conservadorismo moral-religioso de grupos cristãos evangélicos e católicos. É certo que composições são possíveis e estão sendo feitas; contudo, na chancelaria, temos a ala alinhada à ortodoxia de extrema-direita ascendente mundialmente e, por isso, é extremamente preocupante o eventual ganho de sua autoridade e seu peso no Governo Bolsonaros (sic.).
Portanto, se não houver respostas categóricas contra quaisquer desvios autoritários, a ala “trumpista” pode acabar por pesar mais forte e, quiçá, prevalecer. Quando escutamos a existência de um informal “comitê de tutela militar sobre o chanceler”, cremos que esse será mais um caso de radicalismo a ser neutralizado por setores esclarecidos do Estado, ou simplesmente a naufragar diante da primeira grande onda a abatê-lo. De todo modo, sabemos, por experiência recente, que os lunáticos de ontem podem se tornar os messias de amanhã. Neste caso, ironicamente, os náufragos seriam os inimigos de outrora, conservadores, liberais e esquerdas, lançados abraçados ao mar pela tragicômica Caravela nacional do bolsonarismo trumpista, navegando então por mares nunca d’antes navegados rumo às terras de um Brasil Restaurado.
* É livre-pesquisador e diretor do Ateliê de Humanidades

Perdao Barao, mil perdoes - Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa

Só nos resta pedir perdão ao Barão. Por Maria Helena RR de Sousa


José Maria da Silva Paranhos Junior, Barão do Rio Branco 

Só nos resta pedir perdão ao Barão

Maria Helena RR de Sousa

… Como testemunho do quanto foi amado pelos brasileiros e sobretudo pelos fluminenses, basta lembrar que Rio Branco faleceu durante o Carnaval de 1912 e que as festas foram canceladas em homenagem à passagem de seu cortejo fúnebre. Não conheço outra homenagem mais ex-corde do que essa…

(PUBLICADO ORIGINALMENTE NO BLOG DO NOBLAT,
VEJA ONLINE,  22 DE MARÇO DE 2019)

José Maria da Silva Paranhos Júnior, Barão do Rio Branco, foi um dos mais notáveis homens públicos brasileiros. A ele devemos nosso mapa, nossas fronteiras. A ele devemos o instituto da diplomacia de grande mérito, com o Ministério das Relações Exteriores que comandou durante 10 anos sendo objeto da admiração de vários países do mundo.
Diplomata,  político, advogado, geógrafo e historiador, homem tímido, Rio Branco foi uma das maiores figuras da nossa História. Um erudito que tinha paixão por servir à Pátria. Como testemunho do quanto foi amado pelos brasileiros e sobretudo pelos fluminenses, basta lembrar que Rio Branco faleceu durante o Carnaval de 1912 e que as festas foram canceladas em homenagem à passagem de seu cortejo fúnebre. Não conheço outra homenagem mais ex-corde do que essa.
… Bolsonaro levou em sua entourage o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, que disse que o Brasil ocupava um posto na  liderança mundial. De onde ele tirou isso, se nem na liderança regional estamos?  Basta ver que para uma primeira visita presidencial escolhemos Washington e não uma capital latino-americana. E tem mais: nossa aproximação foi com Trump e não com os EUA.
Pois é a esse homem que venho aqui pedir perdão. A vergonha que passamos nessa extemporânea viagem de Jair Bolsonaro aos Estados Unidos teria magoado profundamente o Barão. A imprensa americana, mais antenada que a nossa, comentou com muita propriedade quem é nosso presidente: “o capitão foi uma escolha triste para o Brasil”. Para o The New York Times, por exemplo, Bolsonaro “é um político de direita com pontos de vista repulsivos”. Referia-se, certamente, ao momento em que Bolsonaro disse que preferia que seu filho morresse a que fosse homossexual…
Pois foi esse homem que, numa visita sem motivo aparente, foi recebido no Salão Oval da Casa Branca por um Trump extremamente envaidecido com toda a sabujice do brasileiro por ele.
Que não foi pouca. Além de garantir que Trump será reeleito no ano que vem, Bolsonaro ainda se jactou do apoio que dá a grande parte das decisões do líder americano, ou seja, declarando-se engajado com a política da Casa Branca. Que política é essa? O muro na fronteira com o México, possíveis ações contra a ditadura venezuelana?  Ele disse qual seria o limite desse engajamento? Não, não disse. Mas nós, ensinados pelo saudoso Barão, bem sabemos que engajamento é muito mais forte que alinhamento.
Bolsonaro levou em sua entourage o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, que disse que o Brasil ocupava um posto na  liderança mundial. De onde ele tirou isso, se nem na liderança regional estamos?  Basta ver que para uma primeira visita presidencial escolhemos Washington e não uma capital latino-americana. E tem mais: nossa aproximação foi com Trump e não com os EUA.
Ernesto Araújo ouviu bem o que conversaram os dois presidentes no Salão Oval? Claro que não. Ele não participou, quem participou foi o filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, policial federal de carreira e que hoje ocupa o cargo de deputado federal por São Paulo. Foi ele quem ouviu a piadinha machista e sem graça de Bolsonaro, foi ele quem assistiu a louvação que seu pai  fez ao americano. Foi ele também quem testemunhou a decisão bolsonarista de eximir americanos, canadenses, australianos e japoneses de visto para entrar no Brasil. E foi ele também que ouviu Bolsonaro se referir ao país do norte como nossos Estados Unidos.
Por essa o Barão, que tanto prezava o amor ao Brasil, certamente não esperava… Durante toda sua vida Juca Paranhos se preocupou com a imagem do país lá fora. Para que: para um pouco mais de um século após sua morte, vir um chanceler de araque e admitir que se dissesse, em plena embaixada do Brasil em Washington, que Bolsonaro ama a Coca-Cola, a Disney e os jeans…
Nessa mesma embaixada, o escritor Olavo de Carvalho foi saudado como grande intelectual brasileiro. Pois é. A isso chegamos. Dizem que ele almeja ser nosso embaixador nos EUA. Sabem de uma coisa? Vou me alinhar à sua torcida. Acho que este governo merece ser representado pelo Olavo e creio também que Trump merece a honra.
Perdão, Barão. Mil perdões. Mas assim é, se lhe parece…
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Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa: Professora e tradutora. Vive no Rio de Janeiro. Escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005. Colabora para diversos sites e blogs com seus artigos sobre todos os temas e conhecimentos de Arte, Cultura e História. Ainda por cima é filha do grande Adoniran Barbosa.

Portal Vermelho "rouba" minha entrevista do El País - Paulo Roberto de Almeida

Uma semana depois de publicada – mas os companheiros do Portal Vermelho precisam examinar com lupa para saber se não tem nenhuma ofensa ao marxismo cultural – esse site da esquerda verdadeira (por oposição ao PT, que é de uma esquerda falsa) roubou do site do jornal El País a entrevista que eu tinha dado ao jornalista Afonso Benites.
Algumas coisas já aconteceram – como a viagem de Bolsonaro aos EUA – e a entrevista ainda estava nos preparativos.
Mas ser republicado pelo Portal Vermelho é quase uma declaração de aliança política. O chanceler vai ficar preocupado com o meu marxismo cultural.
Paulo Roberto de Almeida

É inaceitável para os militares a subserviência do Brasil aos EUA - Portal Vermelho

23/03/2019


O diplomata e doutor em ciências sociais Paulo Roberto de Almeida se envolveu em mais uma das dezenas de polêmicas do Governo Bolsonaro (PSL). Após publicar um artigo em seu blog com críticas à política externa brasileira,  foi exonerado pelo ministro Ernesto Araújo do cargo de presidente do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI), do Ministério das Relações Exteriores brasileiro. Sem o cargo que ocupava, ocupará o fictício “departamento de escadas e corredores” do Itamaraty.

Um dos mais antigos diplomatas em atividade no país, está desde 1977 no Governo, e autor de 14 livros, Almeida critica na entrevista a seguir a ausência de diretrizes de Araújo – a quem atribuiu ideias paranoicas –, ressalta que o ministro tem sido tutelado desde que assumiu a função e que, politicamente, a visita de Jair Bolsonaro a Donald Trump, nesta semana, será a glória para o presidente brasileiro.

Por que o senhor foi demitido do IPRI?

A razão aparente parece estar ligada ao fato de eu publicar em meu blog pessoal (Diplomatizzando) análises críticas sobre a política externa conduzida pelo atual chanceler. A razão real parece ter sido minhas fortes críticas ao suposto mentor intelectual desse chanceler, seu patrono na escolha para o Itamaraty, Olavo de Carvalho, a quem eu chamei de “sofista da Virgínia” e de “Rasputin de subúrbio”, o que de certa forma deixou-o desconfortável, pois costuma referir-se respeitosamente a esse bizarro personagem, a quem chama de professor. As posturas antiglobalistas defendidas por ambos constituem uma agenda impossível para qualquer serviço diplomático, na medida em que alimentam paranoias reacionárias que não encontram qualquer fundamento nas negociações internacionais nas quais se engajam os diplomatas.

Uma outra razão que pode ter motivado minha exoneração do cargo de diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais do Itamaraty foi o fato de me ter referido a “fundamentalistas trumpistas”, que o atual chanceler considerou como um ataque pessoal a ele, quando eu estava na verdade visando pessoas mais influentes do que ele, entre elas um dos filhos do atual presidente, Eduardo Bolsonaro, e o atual assessor internacional da Presidência da República, Filipe Martins. O primeiro é considerado uma espécie de “chanceler paralelo”, e passeou pelos Estados Unidos exibindo um boné da campanha de “Trump 2020”, o que representa um grau de aderência totalmente inadequada em termos de política externa responsável. Ademais, teve a arrogância de declarar que o “povo brasileiro” apoiava a construção do muro pretendido pelo presidente americano na fronteira com o México, o que é uma usurpação de mandato. O segundo é um verdadeiro crente, um true believer em Olavo de Carvalho, mais conhecido como “Robespirralho”, autor do discurso julgado extremamente fraco feito pelo presidente em sua visita ao Fórum Mundial de Davos.

Qual a influência de Olavo de Carvalho em sua demissão?

Não mais que indireta. A despeito de eu me ter chocado com o “sofista da Virgínia” a propósito dessa construção metafísica chamada antiglobalismo – como se tivesse de provar a inexistência de unicórnios, o que ele pretende –, ele não teve nenhuma responsabilidade direta na exoneração, tendo esta sido decidida pelo próprio chanceler, provavelmente em conluio com Eduardo Bolsonaro e Filipe Martins. Ficaram agastados com minhas críticas a essas ideias bizarras dentro da agenda diplomática.

Qual a sua avaliação sobre a política externa de Ernesto Araújo?
Difícil fazer uma avaliação sobre o que não existe. Não dispomos, até o momento presente, de nenhuma exposição clara, completa, racional, sobre qual seria essa política externa, até aqui marcada apenas por slogans: luta contra o globalismo, contra o marxismo cultural, contra o multilateralismo, contra o climatismo, o comercialismo, coisas totalmente bizarras, com efeito. Depois, essa introdução inócua de temas religiosos na agenda diplomática, que tampouco se coaduna com a postura de um Estado secular, como parece ser o Brasil. Em terceiro, e mais importante lugar, posturas contrárias a um tratamento verdadeiramente diplomático do mais importante tema da diplomacia brasileira no momento atual, a crise terminal do governo chavista na Venezuela. Foram os militares que tiveram de reafirmar ao atual chanceler o respeito a princípios constitucionais e de Direito Internacional relativos à não intervenção nos assuntos internos de outros países, quando o chanceler estava disposto a apoiar a aventura americana de forçar uma confrontação com o governo chavista. Na última reunião do Grupo de Lima coube ao vice-presidente Hamilton Mourão liderar a delegação brasileira, e de certa forma a posição dos demais países da região, contrária a qualquer intervenção militar na Venezuela.

Já ouvi diferentes relatos sobre a condução da política externa desse Governo. Dizem que ela é conduzida pelo Eduardo Bolsonaro ou pelo Filipe Martins. Ou ainda que os militares tutelam o ministro Araújo por meio do vice-presidente. Concorda com alguma dessas versões ou teria uma quarta corrente?

No plano puramente ideológico, ou principista, todos os três personagens, o chanceler e os dois primeiros, demonstram adesão às ideias estapafúrdias de Olavo de Carvalho sobre as relações internacionais, que são manifestamente inadequadas, e prejudiciais, a uma condução racional da diplomacia brasileira. No plano prático, o chanceler teve sua escolha apoiada e decidida pelos dois olavistas brasileiros, daí sua total dependência em termos de sua legitimação no governo atual. Em consequência do desconforto do núcleo militar com tais posturas inadequadas – como a ideia inaceitável para os militares de uma base americana no Brasil, ou a subserviência às posições do presidente americano – estabeleceu-se uma espécie de cordão sanitário em torno do chanceler e do próprio Itamaraty, inclusive porque o chanceler subverteu a hierarquia de comando no ministério, algo que os militares consideram como inaceitável. Seria, como eles dizem, ter coronéis mandando em generais. Eles também estão conscientes de que o Itamaraty foi submetido a uma reforma orgânica imposta sem qualquer consulta à casa, o que também causou desconforto geral. No conjunto, existe um comitê de tutela informal exercido pelos militares sobre a política externa.

Pelo que o senhor acompanha, como o Araújo chegou ao topo da carreira? Procede que ele conquistou o presidente com o artigo Trump e o Ocidente?


Não é que ele conquistou o Bolsonaro. O Bolsonaro não leu nada. Ele [Araújo] levou o artigo para o Olavo de Carvalho. Foi levado pelo Nestor Foster, nosso ministro conselheiro em Washington, que é um olavista. Conheço o Nestor, que é um bom funcionário, e que me deu um livro do Olavo, O Jardim das Aflições. Que é uma aflição ler, porque é uma coisa caótica. O Olavo não tem método, ele tem rompantes, ideias. O Ernesto, então, publicou esse artigo em minha revista sem que eu fizesse qualquer censura. No artigo ele trata da decadência do Ocidente, que é algo debatido por vários estudiosos, mas ele mete no meio aquela ideia de Cristo, de Deus, que é uma coisa que você não consegue debater. Você consegue debater com teóricos, historiadores, sobre o Ocidente em si, não a interferência de Deus. No blog dele, o Metapolítica, ele disse que houve uma intervenção divina para unir o Olavo e o Bolsonaro. Hoje, o que ele faz comigo é me denegar um direito que ele teve no passado e ainda tem, o de debater suas ideias pessoais em um blog. Na verdade, quem o colocou lá foram o Filipe Martins e o Eduardo Bolsonaro. Sem nominá-los, em meu artigo, eu os chamei de fundamentalistas trumpistas. O ministro achou que eu falava dele, mas não. Eu o considero um personagem menor nesse jogo de poder. Ele construiu um perfil que não é o dele para se elevar ao cargo de chanceler, mas é totalmente inseguro e não conseguiu construir uma política externa até hoje.

Pelo fato de o senhor considerá-lo menor, acredita que o ministro é manipulável?

Certamente que ele não vai desatender sugestões do Eduardo Bolsonaro e do Filipe Martins, que são seus promotores, nem do Olavo de Carvalho. Agora, o Olavo acaba de se desacreditar por si só com essa ordem de que todos os seus alunos abandonem o Governo. Por um lado, ele tem essa influência bolsonarista e olavista. De outro, ele está totalmente tutelado pelos militares desde 1º de janeiro. Ele tratou da base americana no Brasil, o que foi rebatido pelo Ministério da Defesa; ele defendeu o rompimento de relações militares com o governo Maduro, o que deixou os militares brasileiros irritados; e depois, com a Venezuela, em que ele aparentemente comprou a ideia da agenda americana, de imposição de uma ajuda humanitária para tentar desequilibrar o Governo chavista, o que não conseguiu. Nosso chanceler comprou essa ideia e teve de ser controlado pelos militares, quando o general Mourão foi o chefe de delegação na última reunião do Grupo de Lima e liderou a América Latina na defesa da não intervenção militar na Venezuela. É uma coisa que caberia a um diplomata. Está em nossa Constituição, nos princípios do direito internacional. Ver um diplomata atuando antidiplomaticamente é uma coisa inédita no Itamaraty.

Há uma submissão aos Estados Unidos?

É algo alucinante pensar que o chanceler não acate nossa Constituição, e isso os militares fizeram o favor de lembrar, e tome atitudes voluntaristas e de apoio à postura americana que não se coadunam com uma política externa sensata e razoável que o Brasil sempre teve. Depois, as ideias bizarras expressas pelo chanceler são algo inédita em diplomacia. Assista a aula magna que ele deu no Instituto Rio Branco. É uma coisa constrangedora. Não faz nem o sentido lexical, de frases completas.

Mas essa crítica, de que não se consegue completar as ideias, é algo recorrente sobre os discursos do presidente também.
O presidente está lá porque foi eleito, tem a sua legitimidade. O chanceler, teoricamente, deveria conduzir a política externa. Os diplomatas não têm a menor ideia do que esperar da política externa brasileira. Só vejo arroubos. Nessa palestra no Rio Branco, ele falou de comercialismo, de globalismo, contra o multilateralismo, a perda da fé e de que não vamos apenas exportar café e minério, mas também crenças. É algo inacreditável até no plano puramente operacional, primário, elementar.

Sem essa definição de uma política externa, o que se pode esperar das relações comerciais do Brasil? Por exemplo, a China abandona parte do mercado brasileiro para comprar dos americanos.

Exato. A gente tem as ideias aventadas pelo Paulo Guedes, de abertura econômica e liberalização comercial que agora ficaram um pouco de escanteio por causa da reforma da Previdência. Mas não vejo como será feita essa abertura econômica. Não se sabe com quem vai se debater. O Brasil não conseguiu nem resolver como fará com o Mercosul, se ele continua como está, se vai avançar para consolidar sua união aduaneira ou se vai recuar para um simples projeto de zona de livre comércio. Todas essas alternativas têm seus prós e contras na política comercial brasileira. Na nova estrutura do Governo, publicada em janeiro, diz que o Ministério da Economia tem competência para as negociações econômicas internacionais. E nas competências do Itamaraty, diz que o Itamaraty participa das negociações econômicas internacionais. Ou seja, fomos relegados a uma posição secundária, o que nunca ocorreu antes. O Ministério das Relações Exteriores sempre teve preeminência nas negociações comerciais do Brasil, ainda que a política comercial seja estabelecida pela Fazenda. Tem um lado nebuloso nessas definições de políticas setoriais que até hoje não foi resolvida. Não vi nenhuma declaração clara nem do chanceler nem do ministro da Economia de como será conduzida a política comercial.

O que essa viagem do Bolsonaro aos Estados Unidos pode trazer para o Brasil?

Aparentemente vai trazer o acordo de salvaguardas tecnológicas, que está atrasado há 20 anos. É um acordo para a utilização da base de Alcântara (no Maranhão). A boa relação dos presidentes Bill Clinton e Fernando Henrique Cardoso trouxe esse acordo que acabou sendo sabotada pelo PT, pelo próprio Bolsonaro e pelos partidos de esquerda. Houve um relatório na Câmara do então deputado Waldir Pires, que havia recusado esse acordo. Os deputados queriam ter transferência de tecnologia, mas os Estados Unidos queriam preservar essas informações, que que é absolutamente normal num mercado assimilado a construção de mísseis e balísticas. Agora, parece que esse acordo vai sair. Na aula magna deste ano para a turma do Itamaraty, o chanceler não conseguiu nem explicar o que seria feito nas visitas aos Estados Unidos, Israel e Chile. Só disse coisas banais de que se trata de relações importantes. Ele também criticou a China, várias vezes, sem dizer o nome dela. É algo alucinante o que está acontecendo.

E sobre os Estados Unidos, nada além do acordo de salvaguarda?

Algo que pode ser discutido é a dispensa de vistos de americanos que visitam o Brasil, algo que pode ser atacado pelos da esquerda, pelos nacionalistas e pelo pessoal que defende reciprocidade estrita, o que é uma imbecilidade. Não tem reciprocidade estrita nas relações internacionais, tudo é assimétrico. Nenhum país é igual ao outro. Você não imagina que você tenha milhares de americanos que queiram vir ao Brasil e se estabelecer ilegalmente. Uma família americana típica, um casal e dois filhos, se pensa em viajar ao Brasil já tem de gastar de 600 a 700 dólares só de visto. Com esse dinheiro eles já passam uma semana no Caribe. Então, o visto talvez saia para os turistas e para a facilitação dos empresários nos Estados Unidos. Não sei mais o que pode sair, de fato.

Politicamente para o Bolsonaro, o que representa essa visita?

É a glória porque ele é uma espécie de Trump brasileiro. Ele tuita, ele fala e aprova as posições do Trump. Falou que, assim como os Estados Unidos ia trocar a embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém, falou que a China compra o Brasil. Fico pensando o que a gente fez para merecer uma coisa dessa, uma indefinição completa dos interesses do Brasil. Tanto que os militares se encarregaram, mais uma vez, de cercear, de limitar, de controlar, de proibir essa transferência da embaixada – que constrangeu os exportadores de carne halal, a ministra da Agricultura teve de intervir – atacar a China é outra bobagem monumental e a questão da relação muito próxima com os Estados Unidos é uma subserviência, que nosso chanceler demonstra. É inaceitável para os militares essa subserviência aos Estados Unidos, assim como para qualquer pessoa de bom senso.

O senhor está sem função nenhuma no Itamaraty. Está indo só “bater o ponto”, sem trabalho algum?


Vou para a biblioteca, que é o que eu fiz durante anos no lulopetismo. Aliás, tenho de agradecer ao Celso Amorim [ex-chanceler] e ao Samuel Pinheiro Guimarães [ex-secretário-geral] por terem me dado a oportunidade de escrever dois ou três livros no período em que fiquei sem função alguma. De 2006 a 2010 eu só frequentava a biblioteca. Depois tirei uma licença, fui dar aula em Paris e ocupei um cargo secundário em um consulado nos Estados Unidos. Só voltei a ter algum cargo após o impeachment da Dilma Rousseff. Agora, voltarei ao "departamento de escada e corredores".

Mas o senhor fará pesquisas, sem produzir diretamente para o Itamaraty ou para qualquer outro órgão do Governo, que paga o seu salário. É isso?

É uma irregularidade administrativa que precisa ser resolvida pelo Itamaraty. Acredito que o Tribunal de Contas da União não admite que você receba sem trabalhar. Então cabe ao Itamaraty me dar uma função. Em toda a gestão lulopetista eu sempre fui ao chefe de administração e dizer que estava disposto a trabalhar. E, apesar de promessas, não me davam nada. 

     Por Afonso Benites, do El Pais

    sábado, 23 de março de 2019

    Madame Pasadena continua torrando o dinheiro do povo - IstoÉ

    Todo esse esquema nababesco, faraônico, aristocrático desses ex-presidentes recebendo mimos luxuosos cobertos com o nosso dinheiro, inclusive aqueles condenados a perder o cargo por corrupção e crimes contra a administração, é inaceitável sob qualquer critério, e deveria ser extinto imediatamente.
    Existem inclusive juízes que violaram a Constituição só para permitir que Madame Pasadena continuasse a usufruir de direitos políticos; mas ela continua usando e abusando desses privilégios abusivos, pornográficos e inaceitáveis, essa gastança irresponsável que precisa acabar.
    Paulo Roberto de Almeida

    O Brasil é assustador!
    Os aspones marajás de Dilma
    Wilson Lima
    ISTOÉ nº 2569 , 22/03/2019

    A farra da ex-presidente da República com dinheiro público não conhece limites. Somente no ano passado, superou todos os antecessores ao torrar mais de meio milhão com assessores, diárias e passagens. Não basta quebrar o Brasil estando no cargo. Ela nos causa prejuízo também fora dele
    SEM FREIOS Dilma repete fora do poder o que fazia no exercício do poder: nenhuma mesura na utilização de dinheiro público

    Durante umas das sessões da CPI da Petrobras, em 2015, que apurou o esquema de desvios de recursos da estatal, o deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP) foi enfático ao ser confrontado com o ex-engenheiro Renato Duque, ex-diretor de Serviços da companhia. “Fico impressionado com a ‘cara de pau’ do PT”. Na época, Paulinho criticava a desfaçatez do PT no assalto aos cofres da Petrobrás por meio de esquemas de desvios de recursos que até hoje desafiam os investigadores da Operação Lava Jato.
    Cara de pau parece ser mesmo um requisito que de fato sobra no perfil petista. Mesmo depois de ter sido deposta em um processo de impeachment, a ex-presidente Dilma Rousseff conseguiu a proeza de ser a campeã entre os ex-presidentes brasileiros de despesas de seus assessores com viagens, passagens aéreas e diárias. Dados obtidos com base na Lei de Acesso à Informação revelam que Dilma gastou, somente no ano passado, mais de meio milhão de reais com o pagamento de diárias e passagens, combustível e demais despesas acessórias dos servidores que a acompanham. 
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    Conforme os dados obtidos, as despesas somaram nada menos que R$ 632 mil. Isso sem contar os salários dos aspones. Em comparação com os demais ex-presidentes, a petista gastou mais que a soma de todo os demais ex-presidentes – José Sarney, Fernando Collor, FHC e Lula – no mesmo período. Todos eles têm direito ao benefício, mas extrapolar do uso de uma verba cujo princípio é conferir o mínimo de estrutura a um ex-presidente da República é deveras imoral. Não basta levar o Brasil à bancarrota estando no cargo de presidente. Dilma nos lesa também fora dele. De acordo com o jornal, destes mais de R$ 600 mil gastos pelo contribuinte brasileiro, R$ 586,8 mil foram utilizados no custeio de passagens e diárias; além disso, houve também o pagamento de R$ 45,4 mil com manutenção, seguro e combustível de veículos utilizados. Até quando o País sustentará mordomias injustificáveis dessa natureza? É preciso dar um basta.
    Cara de pau
    Um dado que impressiona nas informações obtidas é que a maior parte dos gastos aconteceu em Minas Gerais, onde Dilma tentou sem sucesso uma vaga de senadora. Ou seja, na prática, Dilma valeu-se de recurso público para tentar se eleger. Ela tinha um corpo de colaboradores viajando e se deslocando com ela pelo Estado – todos pagos pela União. Mesmo com esse aporte, ela ficou apenas em quatro lugar na disputa. Os gastos ainda aumentaram no ano passado em comparação com o ano anterior. Em 2017, Dilma, sem mandado e sem campanha, havia torrado aproximadamente R$ 520 mil com servidores. Em 2018, os gastos pularam para R$ 632 mil.
    Ainda que seja bastante questionável a manutenção desse privilégio aos ex-presidentes, a liderança de Dilma na utilização desmedida de dinheiro público salta aos olhos. O senador Fernando Collor (PROS-AL) apresentou no ano passado uma despesa de R$ 306 mil (R$ 267 mil com diárias e passagens e R$ 39 mil com combustível). José Sarney (MDB-AP), por sua vez, gastou R$ 158 mil (R$ 135 mil com diárias e passagens e R$ 23 mil com combustível). Lula, mesmo preso, registrou despesas de R$ 119 mil (R$ 100 mil com diárias e R$ 19 mil com despesas automotivas), e Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP) R$ 41,3 mil. Do total, R$ 20 mil com diárias e passagens e R$ 21 mil com combustíveis, seguro e manutenção de veículos.
    É uma lei sancionada José Sarney em 1986 que possibilita esses privilégios. Por ela, a União disponibiliza 40 funcionários para os cinco ex-presidentes, oito para cada um deles. Além disso, também fazem parte da estrutura dez veículos oficiais. No total, essa estrutura custa por ano R$ 5,5 milhões aos cofres públicos. Em tempos de desequilíbrio das contas públicas, e tentativas de ajustes para a retomada econômica, o valor é mesmo uma fábula. Em princípio, o benefício não deveria ser concedido a presidentes depostos por impeachment. Collor chegou a ter a benesse suspensa em 1993. Em 2006, entrou na Justiça e conseguiu reverter a decisão. É a decisão que favoreceu Collor que agora beneficia Dilma. O ex-presidente Lula, por meio do decreto 6.381, aumentou o número de servidores à disposição de ex-presidentes. De cinco para oito. Pela norma, os presidentes têm direito a quatro servidores para atividades de segurança e apoio pessoal, dois motoristas e dois assessores em cargos de comissão.
    No caso de Lula, especificamente, o Ministério Público utilizou o relatório de viagens de assessores ao Sítio de Atibaia como um dos principais elementos que corroboraram a tese de que o imóvel era de fato do ex-presidente. O contribuinte brasileiro pagou 1089 diárias aos servidores para acompanhá-lo e à ex-esposa Marisa Letícia entre os anos de 2011 e 2016. Agora, descobre-se que Dilma valeu-se do mesmo artifício. Só que para fazer campanha em Minas Gerais e nem sequer se eleger – neste caso, menos mal. Ou seja, sobra mesmo cara de pau…

    Política externa brasileira: passado, presente e futuro (UnB, 1/04/2019)

    Convido a todos:
    Sob o lulopetismo, tínhamos o que se poderia chamar de "diplomacia partidária". A política externa companheira fez o Brasil alinhar-se com as ditaduras mais execráveis do planeta, o que finalmente veio a cabo com o impeachment de Madame Pasadena. Hoje, dizem alguns críticos temos uma "Dilma de saias", e a política externa parecer ter se convertido em uma "diplomacia familiar". Mas ela é mais do que isso: tem a influência nefasta daquele a quem já chamei de "sofista da Virgínia" e "Rasputin de subúrbio", que por sua vez expande sua desorientação sobre alguns membros do clã e por um sujeitinho inepto chamado de Robespirralho.
    Examinaremos algumas dessas questões num debate já marcado para o dia 1o. de abril (não é mentira) na UnB.

    Todos os interessados na política externa brasileira poderão colocar suas questões aos membros da mesa: um distinguido analista da realidade latino-americana para a principal instituição espanhola de relações internacionais (currículo abaixo), um diplomata proscrito (eu mesmo), e o professor emérito da UnB, autor, com Clodoaldo Bueno, do livro História da Política Exterior do Brasil (várias edições), num debate coordenado pelo prof. Pio Penna Filho, diretor do IRel-UnB.
    Sejam bem vindos.
    Paulo Roberto de Almeida
    Brasília, 23 de março de 2019


    Carlos Malamud

    Investigador principal do Real Instituto Elcano (España)


    Carlos Malamud es investigador principal del Real Instituto Elcano y catedrático de Historia de América en la Universidad Nacional de Educación a Distancia (UNED). Miembro de la Academia Nacional de la Historia de Argentina, ha sido seleccionado como uno de los “50 intelectuales iberoamericanos más influyentes” según Esglobal. Ha sido Senior Associate Member (SAM) en el Saint Antony’s College, Universidad de Oxford (1992/93), e investigador visitante en la Universidad de los Andes (Cátedra Corona, 2003) y la Universidad Di Tella. Entre 1996 y 2002 fue subdirector del Instituto Universitario Ortega y Gasset, y director de su programa de América Latina. De 2000 a 2002 fue director del Observatorio de Seguridad y Defensa en América Latina del mismo instituto y subdirector del Observatorio Electoral de América Latina de Nueva Mayoría. Doctor en Historia de América por la Universidad Complutense de Madrid, comenzó su carrera académica investigándo sobre la historia económica del período colonial de España y América Latina, y luego se especializó en la historia política de América Latina de los siglos XIX y XX. Ha sido profesor en la Universidad Complutense de Madrid y el San Pablo CEU. Miembro del Consejo Asesor del Instituto de Cultura de la Fundación MAPFRE. Actualmente combina su trabajo como historiador con el de analista político y de las Relaciones Internacionales de América Latina.

    Áreas de investigación: Historia de América, relaciones internacionales en América Latina, procesos de integración regional, relaciones España – América Latina y Unión Europea – América Latina.

    Publicaciones destacadas: entre sus publicaciones más recientes hay que mencionar Populismos latinoamericanos. Los tópicos de ayer, de  hoy y de siempre (Ed. Nobel, Oviedo, 2010); Sin marina, sin tesoro y casi sin soldados.  La financiación de la reconquista de América, 1810-1826 (Centro de Estudios  Bicentenario, Santiago de Chile, 2007); Historia  de América(Alianza, Madrid, 2010), segunda edición ampliada; Cádiz y Saint Malo en el comercio colonial  peruano (1698-1725) (Cádiz, 1986); América  Latina. Siglo XX. La búsqueda de la democracia(Madrid, 1992); Partidos políticos y elecciones en la  Argentina: la Liga del Sur (1908-1916)(Madrid, 1997); El Estado en crisis (1920-1950), vol. IV de Historia contemporánea de América Latina (Madrid, 2003). También ha sido editor de numerosos trabajos, incluidos Ruptura y reconciliación. España y el reconocimiento de las  independencias latinoamericanas (Taurus-Fundación  Mapfre, Madrid, 2012); El caso Pinochet. Un debate sobre los límites de la impunidad (Madrid, 2000); Legitimidad, representación y alternancia en España y América Latina: las reformas electorales (1880-1930) (México, 2000); con Elizabeth Joyce, Latin  America and the Multinational Drug Trade (Londres, 1998); y con Eduardo  Posada Carbó, The Financing of Politics:  Latin American and European Perspectivas (Londres, 2005).