O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 26 de março de 2020

Postagens mais acessadas no Diplomatizzando - Paulo Roberto de Almeida

Minhas postagens mais acessadas nesta última semana: 

Postagens



O destino de uma nação- Paulo Roberto de Almeida

O destino da nação
Paulo Roberto de Almeida

Conclave virtual de instituições científicas do Brasil determinou que existe um ÚNICO grupo de risco no país inteiro: a famiglia Bolsonaro. Recomendou isolamento total do resto da nação e boicote compulsório por parte da sociedade. Fiquem longe, não atendam chamados vindos dela.

Um historiador inglês disse certa vez que a História é um desengonçado carro de bois, avançando lentamente por caminhos esburacados. Mas ela por vezes dá saltos, cai da ribanceira, se recupera e continua na flecha do tempo, sempre para a frente. Carroceiros estúpidos tentam reverter a rota...

O Brasil enfrenta hoje uma gigantesca pandemia de um único indivíduo, que está estrangulando a nação: ela tem um nome, Bolsovirus! Como ele não vai renunciar, terá de ser “renunciado”. Esse é o desenlace. Pode demorar, mas ocorrerá!

Um leitor me fala de Getúlio e de Jânio. Meu argumento: cada situação histórica é sempre única e original. Analogias são sempre enganosas. Mas elas podem ocorrer, com similitudes de forma ou de conteúdo.
Nossa história ainda está em curso. Por vezes se acelera...

Brasília, 26/03/2020

quarta-feira, 25 de março de 2020

A pandemia estimula autoritários a expandir seu poder - Democracy Digest

Covid-19’s latest victim: Hungary’s democracy
Democracy Digest, March 25, 2020

Covid-19 is about to claim a new victim: Hungary’s democracy, argues Dalibor Rohac, a resident scholar at the American Enterprise Institute.
The country’s parliament is set to adopt a new law that will give the government of Prime Minister Viktor Orban a legal mandate to rule by decree, without any sunset clause and without parliamentary oversight. The government initially sought to fast-track the legislation and adopt it already on March 24, but it lacked the supermajority needed to accelerate the proceedings. The party, however, does not lack the votes to ensure that the legislation is passed through the normal legislative process a few days later, he writes for The Washington Post.
The brazenness of Orban’s power grab is without parallel in recent European history, Rohac adds.
Orban and Russia’s Vladimir Putin are leading practitioners of the art of political imitation, the subject of a recent book.
Russia’s political development since the end of the Cold War is central to Ivan Krastev and
Stephen Holmes’s insightful and important The Light That Failed, which examines the rise of authoritarianism and the decline of liberal democracy, notes Aryeh Neier, president emeritus of the Open Society Foundations and author of The International Human Rights Movement: A History.
Russian officials often attributed major responsibility for color revolutions in countries of the former Soviet Union to U.S.-government–funded institutions such as the National Endowment for Democracy (NED), the National Democratic Institute, and the International Republican Institute. (He also blamed my institution, the Open Society Foundations, for contributing to these developments), he writes for The New Republic:
Putin saw support that these bodies had provided to like-minded organizations in these countries as thwarting his efforts to reconstitute the Soviet Union, at least as a unified bloc under Kremlin leadership. Russian legislation adopted in 2012 required nongovernmental organizations that accepted foreign funds to declare themselves to be “foreign agents,” delegitimizing them. Additional legislation adopted subsequently imposed further restrictions on Russian organizations conducting “political activities”—broadly defined—that received funds from the United States and other foreign donors. Putin has called the collapse of the Soviet Union the greatest catastrophe of the twentieth century. As he believed that American institutions played a part in frustrating his efforts to reverse that catastrophe, he had ample incentive to engage in imitative reprisals.
Of course, the manner in which Russia intervened in U.S. elections in 2016 differed from the role played by bodies such as the National Endowment for Democracy in elections in the former Soviet Union, Neier adds. It is one thing to fund a program for the training of election observers; it is quite another to establish fake social media accounts to disseminate false rumors and smear particular candidates.
Authoritarian leaders are constantly searching for scapegoats, working to rile up the fears of their populace, and trying to tighten their grips, note the Atlantic Council’s Melinda Haring and Doug Klain.
To them, the coronavirus pandemic is a bonanza—the liberal democracies that would typically call them out for their violence, repression, and racism are distracted, with the necessities of stopping the virus in their home countries, they write for The National Interest. If these strongmen go unchecked, the COVID crisis may end with all of us emerging to find a world in which authoritarianism triumphs. More political prisoners, more presidents-for-life, and more despotism.
As we witness democratic backsliding around the world, Lawfare is releasing a two-part podcast series on the state of global democracy, notes Jen Patja Howell. In the first segment, Benjamin Wittes interviews Alina Polyakova and Torrey Taussig about “The Democracy Playbook” and strategies for fighting illiberal political movements. 

For this episode, David Priess spoke with Michael Abramowitz and Sarah Repucci of Freedom House
RTWT

Consequências econômicas do coronavirus - Armando Castelar Pinheiro (CB)

02:02:41 | 25/03/2020 | Economia | Correio Braziliense | 

Medidas econômicas de combate à crise

    ARMANDO CASTELAR
    Coordenador de economia aplicada do IBREFGV e professor do IE/UFRG
    O Covid-19 chegou ao Brasil com cerca de quatro semanas de defasagem em relação à Europa e aos EUA, mas com a mesma força. Nas duas últimas semanas, o número de casos diagnosticados aumentou à taxa de 34,6% ao dia, acumulando 1924 casos até a segunda-feira, sem dar sinais de arrefecimento. O quadro é preocupante: se não conseguirmos desacelerar o processo, ainda em abril teremos mais de 1 milhão de brasileiros contaminados, com o sistema de saúde abarrotado de pacientes graves e as mortes sendo contadas aos milhares.
    A quarentena se mostrou até aqui a forma mais eficaz de impedir a disseminação do vírus, mas ela tem consequências econômicas pesadas, que se somam às que resultam da decisão voluntária de evitar certos locais, como restaurantes, cinemas e shopping centers. Não foi à toa que os governos mundo afora hesitaram em instituí-la, o que em geral acabou resultando em avanço maior da epidemia do que de outra forma teria sido necessário.
    O tamanho do choque sobre a economia será não trivial: em vez da expansão que se esperava até um mês atrás, agora se espera forte contração do PIB no segundo trimestre deste ano. O governo estima que o PIB de 2020 ficará no mesmo patamar de 2019, mas hoje em dia um cenário de queda me parece mais plausível. Isso vai ajudar a derrubar ainda mais a inflação e a reduzir o deficit externo do país, mas, em compensação, as receitas tributárias vão cair muito e o desemprego subirá bastante.
    O perfil da recessão esperada para este ano será diferente do de outras que tivemos nas últimas décadas: ela afetará bem mais o setor de serviços, como confirmam dados divulgados esta semana para Austrália, Japão e Europa. A contração de serviços derrubará o emprego, em especial de trabalhadores menos qualificados. O drama social que vai daí advir poderá ser bem grave.
    Esse quadro, na minha visão, acaba com a pequena chance que ainda havia para a aprovação de reformas antes do recesso parlamentar de julho e das eleições municipais de outubro. Os desafios colocados para a política econômica agora são outros e não triviais.
    A curto prazo, o governo precisa criar uma rede de segurança para proteger as empresas e famílias que forem mais afetadas, ficando sem receitas e rendimentos, e que não tenham como se sustentar com suas reservas. É o caso, em especial, das micro, pequenas e médias empresas e dos trabalhadores de baixa renda, em particular os informais, que não contam com a proteção de programas como o seguro desemprego. A própria viabilidade da quarentena vai depender, na prática, da criação dessa rede de proteção social, pois sem ela muita gente pode decidir simplesmente sair às ruas do mesmo jeito para garantir o sustento de algum jeito.
    Ainda a curto prazo, o governo precisa garantir o bom funcionamento dos mercados, em especial do financeiro, já que a tendência natural neste momento é todos protegerem seu caixa. Isso em geral significa problemas para bancos e fundos de investimento e pode levar a que certos mercados não funcionem bem, como o de dólar e de títulos de dívida corporativa, por exemplo.
    Por fim, o governo precisa adotar medidas de estímulo para compensar o efeito depressivo das quarentenas, voluntárias e obrigatórias. Nesse caso, há uma discussão relevante do momento certo de dar os estímulos. Fazer isso em momento de grande retração de consumidores e empresas pode dar pouco resultado.
    Por seu lado, a pressão por pacotes maiores, em especial de gastos públicos, vai aumentar conforme a crise na saúde pública avança. É o que se viu nos EUA e na Alemanha, por exemplo: o volume de gastos previstos foi se multiplicando ao longo da semana, conforme os políticos reagiam à pressão dos eleitores.
    O governo também terá um grande desafio para decidir quando e como começar a reverter a quarentena e normalizar o funcionamento das empresas. O governo federal terá incentivo para fazer isso cedo, pois o desempenho da economia influencia mais na popularidade presidencial do que a de outros políticos. Os governadores e prefeitos, por seu lado, estarão mais preocupados com a pressão que a epidemia coloca sobre os serviços de saúde.
    Por fim, penso que o mundo e o Brasil não vão voltar simplesmente a ser como eram, como se uma onda tivesse passado por cima e depois partido. Haverá um esgarçamento do tecido social e novos atores devem ganhar destaque, com novas propostas de como devemos avançar nos anos à frente.

    O Impacto geopolítico do coronavirus - Rubens Barbosa

    O IMPACTO GEOPOLÍTICO DO CORONAVIRUS

    Rubens Barbosa
    O Estado de S. Paulo, 24/03/2020

                A epidemia do coronavirus – a pior dos últimos cem anos – terá profundas consequências sobre um mundo globalizado, sem lideranças alinhadas e pouco solidários entre si. O impacto econômico e social vai ser profundo, com o  custo recaindo nos mais pobres, fracos e idosos e em países menos preparados e desenvolvidos.
                Os efeitos sobre os países e sobre a economia global estão sendo sentidos e deverão se agravar antes de melhorar.
                Como a geopolítica global poderá ficar afetada pela epidemia? O que poderá mudar no cenário global?
                Duas observações iniciais. A crise atual mostrou que as fronteiras nacionais desapareceram com as facilidades do transporte aéreo e o imediatismo das comunicações. E que as políticas econômicas domésticas estão intimamente influenciadas pelo que ocorre no resto do mundo. Nenhum pais ou continente é uma ilha. Por outro lado, a extensão e a repercussão da crise, em larga medida, deriva do peso da China na economia global. No inicio da década, quando ocorreu a SARS, o pais representava 4% da economia global, hoje representa 17%. A China é a segunda economia mundial, o maior importador e exportador do mundo e, para culminar, se transformou em um centro de suprimento de produtos industriais para as cadeias globais de valor.  
                Quais as consequências na relação entre os EUA e a China, as duas superpotências atuais? Nos últimos anos, cresceu a competição entre os dois países pela hegemonia global no século XXI. Os EUA, ao se isolarem e ampliarem ações confrontacionistas, protecionistas, nacionalistas e xenófobas, dificultam a interdependência entre os países como ocorre com a globalização. Enquanto os EUA apontam a China como adversária estratégica e criticam o governo pela condução da epidemia (vírus chinês), Beijing, ao invés de fechar as fronteiras como fez Washington, favorece a abertura e a ampliação do comércio externo e manda médicos e equipamentos para a Itália, Espanha e Brasil a fim de ajudar a combater o coronavirus. A guerra fria econômica, a nova fase da confrontação, evidencia-se pela iniciativa chinesa da Rota da Seda, pela competição nas redes 5G, e por conflitos sobre propriedade intelectual e inovações tecnológicas. A pandemia poderá também ter um efeito relevante no cenário interno dos dois países com consequências geopolíticas. Xi Jim Ping disse que caso a epidemia se prolongasse haveria o risco de estabilidade econômica e social no país. A maneira como, de início, Trump conduziu a crise epidêmica em seu país foi muito criticada e sua popularidade caiu. As prévias do partido Democrata veem definindo Joe Biden como o candidato contra Trump com o apoio do centro moderado. Caso essa tendência se firme, pela primeira vez seria possível pensar numa derrota do atual presidente. O resultado da eleição em novembro poderá ter efeitos importantes sobre a geopolítica global caso haja uma mudança da atitude do governo de Washington em relação ao mundo.
                Outra questão é como países e empresas reagirão para reduzir sua dependência do mercado e da produção de partes e componentes chineses nas cadeias produtivas. A tendência poderá ser uma gradual redução dessa dependência e alguns países mais preparados e organizados, como o Vietnã e alguns outros países asiáticos, poderão sair ganhando com investimentos para substituir a China. A médio prazo, a projeção externa das grandes economias vai depender de sua base produtiva nacional e de sua competitividade.
    A estabilidade politica e econômica global poderá ser significativamente afetada pela vigilância biométrica, que poderá vir a ser implantada para evitar epidemias futuras. A preocupação com a saúde poderá levar à invasão da privacidade, com possíveis reflexos em políticas totalitárias. Quanto à dramática queda do crescimento dos EUA e da China, as projeções apontam para uma redução nos EUA de 4% no primeiro trimestre e 14% no segundo. Para a China, as estimativas de crescimento não são maiores de 3,5% para 2020. Caso os EUA entrem em recessão e as projeções sobre a China se confirmem, não se pode afastar a possibilidade de recessão e, no pior cenário, de uma depressão, talvez mais dramática do que a de 1929, por não ficar limitada ao setor financeiro. Como os países emergentes, produtores agrícolas, sairão de um cenário tão dramático como esse?
                A Europa está debilitada pela saída do Reino Unido e viu a situação humanitária, social e econômica agravada pela crise em alguns países, como a Itália e a Espanha. Em um cenário dramático como o atual, é possível prever que o continente sairá com seu poder relativo diminuído.
                O Brasil, uma das dez maiores economias do mundo, terá que se ajustar rapidamente à nova geopolítica global, sob pena de perder mais uma vez a oportunidade de projetar-se como uma potência média em ascensão.
                Em outros momentos da história, movimentos tectônicos transformaram o equilíbrio de poder entre as nações e os rumos da economia. O mundo  pós-coronavirus deverá emergir com novas prioridades e com um novo cenário  geopolítico, com a Asia – em especial a China –melhor posicionada para ocupar um crescente espaço politico e econômico.

    Rubens Barbosa, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE)

    Diplomata britânico de 37 anos, na Hungria, abatido pelo Codiv-19

    Senior British diplomat, 37, dies after contracting coronavirus

    Steven Dick, 37, passed away on Tuesday after contracting Covid-19, the UK Foreign Office said.
    London (CNN)A senior British diplomat stationed in Hungary has died after contracting coronavirus, the UK's Foreign Office said on Wednesday.
    Steven Dick, aged 37, was the Deputy Head of Mission for the British embassy in Budapest.
    He passed away on Tuesday after contracting Covid-19, the Foreign Office said.
      UK Foreign Secretary Dominic Raab said: "I am desperately saddened by the news of Steven's death and my heart goes out to his parents Steven and Carol."
      "Steven was a dedicated diplomat and represented his country with great skill and passion. He will be missed by all those who knew him and worked with him."
      Dick joined the Foreign Office in 2008 and has also worked in British embassies in Riyadh and Kabul, according to his biography on the UK government's website.
      His role of Deputy Head of Mission made him a key adviser to the UK's Ambassador to Hungary, Iain Lindsay. Dick has also worked in the UK government's Department for Digital, Culture, Media and Sport.
      "Steven was a much-loved son, grandson and nephew," Dick's parents said in a statement to the UK's PA news agency.
        "He was kind, funny and generous. It was always his dream to work for the Foreign & Commonwealth Office and he was very happy representing our country overseas."
        The UK has recorded more than 8,000 coronavirus cases and 435 deaths, while Hungary has 226 cases and 10 fatalities, according to Johns Hopkins University on March 25.

        A introversão do império sob Trump - Nicholas Burns (Foreign Affairs)

        How to Lead in a Time of Pandemic

        What U.S. Foreign Policy Should Be Doing—But Isn’t—to Rally the World to Action

        The world has never before confronted a crisis quite like COVID-19, one that has simultaneously tested both the limits of public health systems everywhere and the ability of countries to work together on a shared challenge. But it is in just such moments of crisis that, under all prior U.S. presidents since World War II, the institutions of U.S. foreign policy mobilize for leadership. They call nations to action. They set the agenda for what needs to be done. They chart a path beyond the point of crisis.
        Unfortunately, President Donald Trump has spent the last three years demeaning and degrading these very institutions and denigrating the kind of U.S. leadership and global collective action they promote—which is one reason for the world’s inadequate response to the coronavirus pandemic thus far. To date, world leaders have done alarmingly little together to blunt the crisis. The United Nations Security Council is silent. The World Health Organization (WHO) offers a useful global clearinghouse but lacks a global megaphone to lead. European Union nations have defaulted to national solutions and closed borders to their neighbors for the first time in generations. China hid the crisis from the world in its critical early days. And Trump has been especially disengaged. Beyond individual phone calls with world leaders, he has made just one attempt to organize countries to band together—a single conference call with European, Canadian, and Japanese leaders in the G-7 forum he currently chairs.  
        Depending on how long it lasts, COVID-19’s impact could match that of a world war, in terms of the number of people it affects, the changes to daily life it brings on every continent, and its human toll. And the impact on business, trade, and markets could result in the most devastating global economic crisis since the Great Depression.
        Such worst-case scenarios will be hard to avoid without American leadership. National leaders, including Trump, have understandably focused first on addressing the threat to their own citizens. But the pandemic must be fought simultaneously at the global level, with the full support of powerful countries—those that have a capacity to organize, set priorities, and unite disparate and often conflicting national efforts. For all the changes to the geopolitical landscape in recent years, one basic reality has not changed: such global action is impossible if the world’s strongest country, the United States, is either absent or acting alone.

        THE CRISIS LAST TIME

        Compare the extraordinary inactivity in the face of the coronavirus pandemic with the global financial crisis of 2008–9. Governments led by French President Nicolas Sarkozy and U.S. Presidents George W. Bush and then Barack Obama employed the G-20 to unite the world’s most powerful economies to work together on a global solution. Both Bush and Obama understood that the United States, with all its power and immense credibility, had to lead if the world was going to prevent the Great Recession from becoming a Great Depression.
        Throughout its history, the United States has been fortunate to have visionary, charismatic leadership at times of great crisis: George Washington during the Revolution, Abraham Lincoln during the Civil War, Franklin D. Roosevelt during the Great Depression and World War II. Trump, unfortunately, has not proved himself to be anywhere close to such a leader. His character drives him to divide rather than to unite at home. His “America first” foreign policy instincts drive him to act alone in the world rather than in concert with others. He seems incapable of imagining that the United States might be made stronger and more effective by confronting a crisis in lockstep with its allies and partners.
        Since the start of the coronavirus crisis, those tendencies have defined the international aspects of Trump’s response. In his daily press conferences, he rarely mentions concrete work being done in tandem with other governments. He has initiated no significant international action. And he has dramatically weakened many of the federal agencies that would normally lead the global response to such a crisis: the State Department, the U.S. Agency for International Development, the Federal Emergency Management Agency, the National Security Council Directorate for Global Health Security and Biodefense (which he very unwisely disbanded in 2018). It was not a slip of the tongue last week when Trump referred publicly to the “Deep State Department.” Is it any wonder that the institutions of government he routinely derides, and has starved for funds and leadership, would prove so catastrophically unprepared?
        Any other recent American president would have confronted the crisis much more urgently from the start. The priority would have been the home front, of course. But both Obama and Bush, like many presidents before them, would have also understood the need for an all-out global effort, led by the United States and its allies, to confront the threat together.

        NOT TOO LATE

        The Trump administration has lost valuable time since December, but it is not too late to assemble an international coalition to begin to limit COVID-19’s ruthlessly efficient global contagion. What might such an effort look like? The administration should join with other global leaders to launch at least three high-level international efforts to tackle the most difficult challenges posed by the pandemic—one made up of top leaders, one made up of economic policymakers, and one made up of U.S. and Chinese officials.
        The first should be a G-20 leaders steering group to focus on the health and economic challenges ahead. Trump, Chinese President Xi Jinping, Indian Prime Minister Narendra Modi, Japanese Prime Minister Shinzo Abe, and German Chancellor Angela Merkel, to start, should begin meetings via teleconference to discuss how to blunt both the health and economic impacts. This leadership group should meet weekly if necessary to assess progress and resolve the inevitable disputes and misunderstandings of such a massive global undertaking. They should appoint and empower trusted senior cabinet-level officials to meet daily to identify the roadblocks in the international response; to resolve practical problems impeding relief efforts; and to partner on long-term plans that can ultimately bring the crisis to an end. Trump can create this group at a first meeting this week. There is no time to waste.
        The agenda of this steering group will need to be broad and ambitious. The most urgent issue is to agree that national public health officials must exchange quickly and effectively accurate data on the number of people affected and tested and the mortality rate in countries around the world. This alone would be of inestimable help to the experts seeking to understand and model the impact of the virus and thus predict its arc going forward. There will need to be agreement on the central clearing-house for this exchange of information, whether that is the WHO or another body that can work more efficiently.
        These leaders must also push countries with greater capacity to agree on a joint effort to transfer material assistance, training, and know-how to countries with weaker public health systems. As the pandemic will likely persist for most of 2020, it will be critical for countries that have largely recovered to extend help to those in greatest need. That is unlikely to happen without top-down pressure from leaders such as Trump and Xi.
        It is also not too early for leaders to assign a group of eminent global public health experts to determine what has gone right so far, what needs to be urgently fixed, which international institutions are failing, and what (if any) new ones may need to be created. Leaders need to demand that governments be better prepared, individually and collectively, for the next crisis. (This is an especially acute weakness of the United States, of course, whose level of preparedness and early response has been among the weakest of any major nation.) The G-20 should also work to coordinate the many research universities and private companies working on a vaccine. Governments are not in most cases well suited to carrying out research themselves, but they can cut through regulatory red tape, provide seed funding, and, most important, agree on an equitable means of distribution once the vaccine is available.
        National governments have also struggled with how to help the hundreds of thousands of people stranded in foreign countries, with borders slammed shut with surprising speed in every part of the world. Embassies and consulates now need help to protect their citizens caught in the no man’s lands of the pandemic. The G-20 countries are in the best position to help organize special flights and humanitarian convoys. One has to go back 80 years, to the start of World War II, to find a time when so many people have been left helpless outside their countries’ borders.
        This high-level steering group would also allow leaders to communicate more effectively in advance of national decisions that will inevitably affect other countries. When Trump, for example, announced that he intended to stop travel by Europeans to the United States, he did so without any significant consultation with the European Union, whose leadership was understandably furious as a result. (That one act may for years color the way European governments and citizens view the United States.)
        Most important, in place of such dissension, world leaders should deliver a united message of resolve to fight the pandemic together and to plan for our ultimate deliverance from it. Even a simple public message of solidarity would help—particularly from Trump, who has reached out precious few times to convey American sympathy to those suffering abroad. The world needs hope, and these leaders can provide at least a measure of it.

        PREVENTING A GREAT DEPRESSION

        With major economies grinding to a halt, Trump and other leaders should also take personal oversight of a second high-level group, this one made up of finance ministers and central bank presidents from G-20 countries and others. In the face of the most serious economic crisis in nearly a century, their focus should be to more closely align fiscal and monetary policies to limit the severity of a likely global recession.
        U.S. Federal Reserve Chair Jerome Powell and his central bank colleagues in Canada, Europe, and Japan set a good example earlier this month in coordinating a first tranche of common measures to stimulate the global economy. But these countries cannot hope to steer effective global action without officials from Brazil, China, India, and other rising powers at the same table.
        There are also some immediate problems that need fixing. One is to lower tariff barriers on the medical products and parts that will be essential to a more successful health response. This won’t be easy at a time of economic distress when the temptation of national governments will be to protect their own markets, but the costs of failing to do so will be enormous. Another is to evaluate the sanctions currently in place on governments such as Iran, North Korea, and Venezuela and to lift any that are impeding vital humanitarian aid, at least temporarily. Citizens of these countries, who are as vulnerable as anyone to the coronavirus, should not pay with their lives for the sins of their governments. Just as important, uncontrolled outbreaks will threaten new waves of infections beyond their borders.

        WHEN TWO TIGERS UNITE

        Finally, the Trump administration needs to establish much more frequent communication between Washington and Beijing—between Trump and Xi themselves, between Secretary of State Mike Pompeo and his counterpart, and between Secretary of the Treasury Steven Mnuchin and his counterparts. As the two major global powers, the United States and China must do more to mitigate the worst aspects of the crisis and to provide public leadership. The low point of this crisis politically has been the failure of Washington and Beijing to set aside broader tensions and combine forces to combat the pandemic.
        If anything, distrust and hostility between the United States and China have gotten worse. During the last few weeks, they have fought a running war of words over who is ultimately responsible for the pandemic. Chinese officials set a low bar by claiming—falsely and outrageously—that the U.S. military planted the virus in Wuhan to weaken China. But Trump has not helped by referring to COVID-19 as the “Chinese virus.”
        For the sake of both their own citizens and the rest of the world, Washington and Beijing must stop the blame game and start working together on solutions. If China and the United States can’t communicate and cooperate effectively, it will be next to impossible to avoid further tensions—dividing a world that, now more than ever, should be united for common action. But there is also much at stake for the two superpowers’ reputation and credibility. While China is rightly praised for its rigorous social-distancing campaign and recent humanitarian aid to the European Union and others, it continues to come under intense (and deserved) criticism for initially suppressing information about the epidemic and, even now, for not sharing complete data on infections. Trump, meanwhile, is not even trying to lead globally. That image—of a United States that was not there to help during the most serious crisis in most people’s lifetimes—could do irreparable damage to how the rest of the world views the country going forward.
        A global crisis of this magnitude carries a final, and potentially deadly, risk. If countries turn against one another, competing for scarce resources and failing to communicate responsibly, it is not unthinkable that conflict and war could result.

        A WAR WITH ONE SIDE                                         

        When the world faced a very different crisis at the start of World War II, it was the confident and united leadership of Franklin D. Roosevelt and Winston Churchill that created the alliance critical to ultimate victory and forged a vision in the Atlantic Charter for what would come in its wake. Leaders and commentators have compared the current struggle to war. What makes this crisis different, though, is that every country and all citizens are now on the same side.
        To have a chance of prevailing, we need focused, determined, and effective leadership and genuine collaboration from Trump and other global leaders. They will largely determine whether the world can meet this existential test. In an age of nationalism and “America first,” the truth should be clear for all to see: nothing in human history has so clearly demonstrated how the fate of everyone—all 7.7 billion people—in our highly connected world is now linked.

        O socialismo é uma miséria moral - entrevista de Paulo Roberto de Almeida a Celso Assis (2017)

        O socialismo é uma miséria moral
          
        Paulo Roberto de Almeida
        Entrevista concedida ao animador do Clube Bastiat de Goiânia, Celso Assis
        Goiânia, 24 de março de 2017; Divulgado em formato de vídeo anteriormente (link: https://www.youtube.com/watch?v=SZYneYwri8M) e em forma transcrita


        Paulo Roberto de Almeida: “O socialismo é uma miséria moral” — entrevista

        Medium, Mar 24, 2018 · 7 min read



        Diplomata conta como foi marxista quando jovem, explica sobre o caos na Venezuela e descreve a figura de Roberto Campos
        Professor Paulo Roberto de Almeida. Foto ilustrativa retirada do site O Livre.

        Entrevista realizada em 24 de março de 2017 para o Clube Bastiat na oportunidade que Paulo Roberto de Almeida ministrou uma palestra na Universidade Federal de Goiás. Foi transcrita recentemente para melhor aproveitamento do material.

        Paulo Roberto de Almeida é diplomata de carreira, professor universitário e doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Bruxelas (1984). Desde agosto de 2016, é diretor do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (IPRI), afiliado à Fundação Alexandre de Gusmão (Funag), do Ministério das Relações Exteriores.

        COMO O SENHOR CHEGOU AOS IDEAIS LIBERAIS?
        Paulo Roberto de Almeida: Eu não me defino teoricamente como um liberal ou como um progressista ou qualquer outro rótulo. Eu tive um caminho vindo do marxismo na juventude e tanto no plano teórico pelas leituras, quanto no plano prático pela observação, pelas viagens, pela vida vivida em diversos socialismos e capitalismos, eu fui caminhando naturalmente para soluções mais racionais. Aquela que encarnam uma relação, uma compatibilidade entre as verdades dos fatos e as intenções.
        É claro que na juventude você tem aquelas aspirações igualitárias, socializantes, de justiça social, construídas sobre utopias, sobre falsas soluções. É um fato que se descobre pela vida de que o socialismo é um fracasso material. Mais que um fracasso material, o socialismo é uma miséria moral. Um regime de delação, de repressão.
        Saindo do Brasil, jovem com vinte anos, fui direto ao socialismo, na Europa central, no socialismo real de tipo soviético. Eu me deparei não apenas com a penúria material, mas com a miséria moral. Ao cabo de pouco tempo, menos de três meses, eu saí e me estabeleci na Bélgica. Não é o socialismo real, mas o capitalismo quase ideal. Trabalho e estudando, sobretudo na biblioteca, fui fazendo o caminho natural do socialismo estatizante da juventude indo para um socialismo mais light. Depois naturalmente, eu aceitei a realidade das democracias de mercado.

        MESMO COM TANTOS RELATOS DAS MISÉRIAS QUE PASSARAM E PASSAM AS PESSOAS EM NAÇÕES SOCIALISTAS, POR QUE AINDA HÁ PESSOAS QUE INSISTEM EM UMA “REVOLUÇÃO”?
        PRA: A concepção marxista do mundo é instigante e atraente. Ela proclama as misérias materiais do mundo e nenhum regime é perfeito, as pessoas têm que trabalhar duro. Ela proclama um ideal mais elevado, o da igualdade. Aponta a causa da miséria a propriedade privada dos meios de produção, a existência de burgueses concentradores de riquezas. Apontam também o caminho revolucionário ou pelo meio eleitoral, mas para superar o capitalismo e a propriedade privada.
        Isso atrai muito a juventude, pois ela é mais propensa a maior justiça social, a maior igualdade, a maior generosidade, a uma grande reforça na sociedade. Eles não atentam que a construção humana é feita de progressos graduais, constantes e acumulativos. Esse é um processo que todas as sociedades atravessam. A tentativa de reordenar a sociedade para construir igualdade redunda geralmente na distribuição da pobreza.
        A sociedade precisa ter o processo de acumulação, efeito de trabalho e competição. Não é um sistema generoso. O capitalismo em si mesmo não é um sistema moral ou imoral, ele é amoral. Ele é um sistema amoral. As pessoas trabalham, tem algo para vender, para oferecer. O retorno vem pelo mercado, não pela mão generosa do estado.
        O estado é uma extorsão da riqueza social produzida pelos empresários e pelos trabalhadores em benefício do conjunto da sociedade. Com isso você diminui os incentivos à acumulação. É um sistema falho, onde todos esperam receber algo de um ente supostamente neutro que não existe. O estado é uma construção social feita pelos homens para facilitar as relações humanas, mas ele próprio não é um criador de riqueza. Ele vive da riqueza da sociedade.
        Basear todo o progresso econômico e social sobre um sistema estatizante é apoiar-se apenas na miséria, na pobreza e na estagnação.

        COMO O BRASIL PODE AJUDAR A VENEZUELA E COMO PODEMOS NOS PROTEGER DAQUELE DESTINO?
        PRA: A Venezuela é um caso extremo, mas a exacerbação de um fenômeno tipicamente latino-americano. De um lado a demagogia política, as mentiras, as promessas irrealistas e de outro lado o populismo econômico. Isso não acontece apenas na América Latina, mas ela é especialmente devotada a essas deformações.
        A Venezuela tem um traço diferente de seus vizinhos latino-americanos que é sua riqueza em petróleo. Pode ser uma coisa boa se bem administrada, mas pode ser uma maldição. Ele deforma as condições econômicas de um país. Muitas vezes ele está à flor da terra, permite uma riqueza imediata.
        A sociedade venezuelana foi deformada pelo petróleo durante décadas. Aquilo atraiu comportamentos rentistas, o que os economistas chamam de rent-seeking. A sociedade passou a ficar dependente do petróleo.
        O [falecido ditador Hugo] Chávez criou aquilo que se chama assistencialismo estatal, distribuindo a riqueza do petróleo de uma forma desigual. E também atraído pelo socialismo dos cubanos, ele passou a reprimir a atividade capitalista privada e a estatizar e a monopolizar diversos setores. Com isso ele tirou diferentes estímulos de produção. A Venezuela é um estado falido e possivelmente em situação de pré-guerra civil.


        A ex-presidente Dilma Rousseff recebe um retrato de Hugo Chávez do ditador venezuelano Nicolás Maduro em 2013.

        O Brasil poderia talvez criar um grupo de “amigos do povo venezuelano” e obrigar a Venezuela a fazer uma eleição verdadeiramente livres. Tecnicamente, a Venezuela já é uma ditadura. As instituições estão deformadas. Antes o parlamento era majoritariamente chavista, hoje tem uma oposição maior, mas que está sendo sabotada. O Brasil e os outros países da América Latina, através de mecanismos de defesa da democracia do Mercosul, da Unasul, da OEA, deveriam pressionar a Venezuela por eleições livres. Daí começa um processo muito duro de reconstrução da economia.

        [ATUALIZAÇÃO: Algo assim aconteceu em fevereiro de 2018 por um grupo de países latino-americanos, incluindo o Brasil. Mais informações por meio deste link.]

        QUANDO O PRESIDENTE MICHEL TEMER DISSE QUE NO GOVERNO DELE O BRASIL NÃO VAI TRABALHAR COM VISÕES DE MUNDO ENVIESADAS, ENTÃO ELE ESTAVA FALANDO SOBRE ISSO?
        PRA: Exato. O Brasil, como todo país latino-americano, alterna entre visões mais demagógicas, mais populistas e mais realistas. Infelizmente, o Brasil atravessou nos últimos treze anos, com os governos petistas, por governos estatizantes, dirigistas, apoiadores de governos socialistas e inimigos da liberdade, como o cubano.
        Nisso a política externa foi deformada, ela passou de abstencionista da democracia para um apoiador de ditaduras. O Brasil é em grande parte responsável pela manutenção do Chávez e de outros regimes populistas e bolivarianos na América Latina.
        Felizmente acabou, houve um desastre na economia. A presidente Dilma foi impedida de continuar seu mandato. O presidente Temer é um político tradicional e o Itamaraty retoma seu caráter profissional e isento, sem esse viés progressista e bolivariano dos últimos treze anos.

        EM ABRIL (DE 2017), ROBERTO CAMPOS COMPLETARIA 100 ANOS. O SENHOR PODERIA DIZER QUAL FOI O LEGADO DELE PARA O BRASIL?
        PRA:O Roberto Campos (1917–2001) foi um intelectual de qualidade excepcional. Vindo de estudos seminaristas, entrou na diplomacia e ao ser encarregado de questões econômicas, tanto no Itamaraty quando na sua primeira missão nos Estados Unidos, ele participou de conferências extremamente importantes, como a Bretton Woods e a de Havana.
        Com isso ele se tornou um economista altamente capacitado em uma fase que o Brasil estava se deslanchando para o desenvolvimento. Ele fez uma tese de mestrado sobre flutuações e ciclos econômicos de qualidade tão excepcional que Joseph Schumpeter, famoso economista que lecionava em Harvard, disse que ela tinha qualidade de doutorado — e de fato tinha.


        Roberto Campos. Foto retirada do site do jornal Gazeta do Povo.

        Observando o Brasil, os Estados Unidos, a América Latina, o Roberto Campos concluiu que a melhor forma de desenvolvimento para o Brasil seria via mercado, estabilidade macroeconômica, combatendo a inflação, competição no campo microeconômico, instituição de governanças fiáveis, alta qualidade de capital humano — ele sempre insistiu na educação — e sobretudo a abertura ao mercado internacional e aos investimentos estrangeiros. Ele tinha uma receita para o desenvolvimento e tentou aplicar.
        Roberto Campos foi um dos criadores e um dos presidentes do BNDE [posteriormente renomeado BNDES], um dos principais relatores do Plano de Metas do Juscelino Kubitschek em 1955. Essa experiência prática, de não só estudar economia e comparar o Brasil a outros países, mas também de formular políticas econômicas, de ver o efeito devastador da inflação e de um mercado protecionista, fez com que ele chegasse nessa receita ideal.
        Infelizmente o Brasil não era propenso a aceitar essas receitas liberais. Tanto que ele era chamado de Bob Fields [a tradução do nome Roberto Campos para o inglês] por sua visão americana do mundo. Mesmo não tendo parte no golpe militar de 1964, ele foi convidado posteriormente para o Ministério do Planejamento. De 1964 a 1967, junto com o Ministro da Fazenda Otávio Gouveia de Bulhões, um liberal, ele pode transformar radicalmente a economia brasileira, modernizá-la e fazer todas as reformas necessárias para colocar o Brasil em um patamar de desenvolvimento. E ele conseguiu.
        Em 1967, quando ele saiu do governo, o Brasil enveredou em um ciclo de crescimento extraordinário, em taxas chinesas, digamos — aliás, os asiáticos vinham ao Brasil para tomar receitas de crescimento econômico. Chegou a 14% o crescimento em 1973, mas os militares exageraram. O Roberto Campos criticava seus antecessores e seus sucessores. Apontava a leniência com a inflação, a estatização exagerada, o apoio no endividamento externo. Ele não tinha problema em criticar.
        E durante todos esses anos, de 1950 até sua morte, ele foi um debatedor. Escrevi artigos semanais para os grandes jornais do Rio e de São Paulo. Lembro que quando eu era jovem, eu até tentei me opor ideologicamente a ele, mas não consegui.
        Se a gente ler os escritos dele desde aquela época, todas as prescrições econômicas que ele fez para o Brasil continuam válidas e pungentes. Ele tem uma atualidade muito concreta. Teve a felicidade de sobreviver ao socialismo e também a felicidade de não ver essa lástima que aconteceu à economia graças aos petistas.



        Algumas semanas depois desta entrevista, o professor Paulo Roberto de Almeida lançou o livro “O homem que pensou o Brasil — trajetória intelectual de Roberto Campos” (Editora Appris, 2017).