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sábado, 3 de abril de 2021

Digressões sobre o livro de Idelber Avelar, “Ele em Nós”, por Marcelo Franco

Valeria por um longo artigo-resenha, com derivações para todo um universo literário e histórico realmente existente, em torno do livro de Idelber Avelar, mas é muito mais do que isso: é matéria para todo um curso de semiologia política, mas que dificilmente passaria pelo comitê de sábios da Fefelech. Fica portanto para reflexão pessoal e para reflexões solitárias de quem leva livros a sério. Coisa difícil hoje em dia. Faltam-nos Wilson Martins, Otto Maria Carpeaux e críticos rigorosos, mesmo dispersivos, como o aqui presente. Parabéns Marcelo Franco.

Paulo Roberto de Almeida

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Marcelo Franco (via Facebook):

Escrever textão sem nexo tem suas vantagens: as (merecidas) críticas serão poucas...

1.

Li “Ele em Nós: Retórica e Antagonismo Político no Brasil do Século XXI”, de Idelber Avelar, e aqui confesso uns três ou quatro espantos. Listo-os: 1) é um livro que tenta compreender o Brasil recente pela análise do discurso político, categoria que, mesmo velhinha, parece ligeiramente esquecida aqui no Berço Esplêndido (há um bocado de livros sobre “análise do discurso” como teoria; não tantos, contudo, de estudos de caso com esse referencial, ou assim me parece quando miro o horizonte desde onde me encontro, no Planalto Central — ressalto, todavia, que sou míope a não mais poder —; como atestado de idade, pensemos apenas em Victor Klemperer e seu estudo da propaganda nazista a partir de uma linguagem própria, à qual chamou, em latim, “Lingua Tertii Imperii”); 2) o fato de que Avelar, mesmo oriundo da academia, escreva sem aquele patoá acadêmico ininteligível, patoá que é doce herança frankfurtiana, nunca itabirana; 3) evidentemente, como a análise se dá pela retórica, louvo a coragem de não se jogar para a plateia e os pares, descartando-se a assunção prévia de conceitos fixos e palavras-mantra como “golpe” e que tais (imagino que as redes sociais do autor recebam, por isso, um rosário de xingamentos diários); 4) a lembrança, nem sempre presente em análises políticas, de que a existência de relação de causa e efeito apenas como consequência temporal não é algo com que se possa trabalhar de modo lógico (o que o faz evitar aquela falácia de nome curioso, “post hoc ergo propter hoc”, comum noutras pragas, digo, plagas). 


Três ou quatro espantos, eu escrevi? Há mais, há mais: 5) tudo somado, temos a construção de uma análise do período 2013-2020, e mesmo de épocas anteriores, muito mais coerente do que outras que se leem aqui e ali; 6) a proeza de se escrever um livro durante a epidemia — não sou acadêmico, claro está, mas mesmo assim a minha produção no período me vexa: respirei, paguei impostos, assisti a filmes idiotas e bebi algum vinho. E, não menos assombroso, nota-se a gigantesca quantidade de reportagens, livros e artigos pesquisados para a obra final — desacostumei-me com isso, pois no meu métier, digamos assim, boa parte da produção acadêmica repete o que já se dissera antes, levando o dito e o repetido a se comunicarem e, num moto-contínuo de citações, lantejoulas, rapapés e salamaleques, justificarem-se a si mesmos.


O livro fez formigar em mim as células cinzentas adormecidas pelos filmes, impostos e vinhos; como “o pensamento parece uma coisa à toa, mas como é que a gente voa quando começa a voar”, cometi um tortuoso e enovelado brainstorming (não uma resenha, que demandaria mais certezas e menos dúvidas de minha parte). E é também brainstorming porque o livro bole com ideias que me são caras (“bole” é de lascar, mas minhas sinapses não encontrarão, hoje, algum sinônimo com mais eufonia). Antecipo-me, assim, às reclamações e cartinhas ao editor: provavelmente, escreverei (escrevi) mais sobre outros assuntos e não acerca do livro, usando-o como liga para amarrar pensamentos um tanto desconexos, tão desconexo quanto eu me sinto neste dia chove-não-chove, em que o bacalhau devorado ainda não me assentou bem.


O livro de Idelber Avelar, afirmo — agora com certeza —, é um marco teórico excepcional para outros tantos livros que poderão testar premissas semelhantes, baseadas na retórica política. Que ele siga o seu caminho e gere bons frutos, pois a seiva é boa.


(Ah, sim, como meus dois ou três leitores haverão de notar, quase não uso aí abaixo exemplos políticos brasileiros, isso para evitar os chutes abaixo da cintura e os dedos nos olhos que costumam acompanhar qualquer expressão mais clara de ideias e opiniões.)


2.

Pesado, medido e lido o danado do livro, admito: fosse eu acadêmico e houvesse menos vinho e filmes idiotas no mundo, talvez eu espalhasse uns poréns e todavias entre os espantos. Por exemplo, acerca da estrutura discursiva brasileira construída sobre hipérboles (“Brasil Grande”, entre outras), reconheço que gostaria de ler alguma comparação com outros países, porque hipérboles constituem o cimento normal de boa parte de qualquer exercício político, uma espécie de andaime retórico comum aos nossos representantes, da Austrália à Groenlândia e não só do Oiapoque à Marilena Chauí (eu sei, eu sei, o livro não se propôs a isso).


Já no capítulo sobre “lexicocídio”, neologismo cunhado por Idelber para narrar o esvaziamento de palavras por abandono ou sobreuso, “fascismo” é o termo que logo se destaca como exemplo (o lugar de honra não é imerecido, veremos adiante). Entretanto, algumas — poucas — palavras e expressões são igualmente postas de moldo solto no livro, como “extrema” (para qualificar parte da direita), “populismo” (usado à esquerda e à direita) e “fake news”, isso apesar de, logo na primeira página da introdução, lermos que “as palavras importam” e que há necessidade de rigor no trato com a linguagem, mesmo que isso signifique a perda de parte de interlocutores. Nada grave, claro: são manias minhas de quase-velho que costuma ler com lupa. E não há, ou não me recordo de ter lido, a palavra genocídio no livro, outra que se tornou um significante oco em busca de significados (para que me poupem de linchamentos, anuncio que pedir rigor no uso de “genocídio” não equivale a concordar com a gestão da crise epidêmica). “Populismo”, “extremo”, “bibliocida” (alegada característica da coalização vencedora da eleição de 2018), “fake news” (en passant, registre-se), “negacionismo” (também, creio, somente de passagem, no epílogo) e, por que não, “genocídio”: seis significantes vazios em busca, à moda de Pirandello, de um autor, ou seja, de quem lhes traga seus significados perdidos. Claro, eu bem o sei: se os significados com os quais concordo estivessem no livro, eu seria, no lugar de Idelber, o seu autor — sua proposta foi outra.


3.

“Bibliocida” merece um pouquinho de musculatura semântica. Um desvio, por assim dizer, porque o termo não é central em “Eles em Nós”. Sem problema: um bom livro também nos abre veredas de pensamento nem sempre antevistas pelo autor, justamente o que se dá aqui.


Se não equívoco, “bibliocida” é um termo redutor, tanto quanto “anti-intelectualismo”. Bem sabemos que há mesmo quem busque as trevas, o que não impede que exista quem reaja contra governos de tecnocratas, sinônimo de descarte da arena política, lugar próprio para que os desacordos morais se esmurrem e estapeiem. Ainda não chegamos ao ponto de desistir de eleições para entregar o governo ao Conselho Federal de Medicina e à Faculdade de Economia da USP.


Há então graus, infere-se, de bibliocídio, ou antes, nem todo anti-intelectualismo é bibliocídio. É aqui que também se percebe o descuido, em outros livros, com o termo “populismo”, que tomou a mesma direção de “fascismo”, uma estrada rumo à imprecisão que George Orwell já notara na década de 40. Para o sociólogo Frank Furedi, por exemplo, a democracia ganha com o que se chama populismo; o sentimento antipopulista de intelectuais e articulistas de jornais, bem notou Furedi em “Democracy Under Siege”, equivale ao pensamento antidemocrático de um aristocrata inglês da primeira metade do século 19, porque se acredita que a democracia seria apenas um meio e não também um fim em si mesma, daí vindo a crítica aristocrática contra os “excessos democráticos”, crítica hoje abrigada sob o manto menos chamativo da rejeição ao que dizem ser “os excessos populistas”. Ernesto Laclau e Chantal Mouffe, à esquerda, também tentaram compreender o populismo (ou “populismos”) com bons olhos, por exemplo. Os jornais, não obstante, berram diariamente: está tudo errado, a democracia morrerá amanhã por uma morte de mil cortes (cortes populistas, ao que parece). Dito de outra maneira: como dar um sentido unívoco e sempre negativo a “populismo” se Jan-Werner Müller e outros teóricos estão longe de pisar em chão comum? Se existem “quatro peronismos” (Alejandro Horowicz) e “três kirchnerismos” (Matías Kulfas), vamos nos contentar apenas com esse populismo que nos empurram como uma das pragas bíblicas, bem ali entre gafanhotos e águas corrompidas? Não menos relevante, foi Millôr Fernandes quem apontou a nossa tendência de pretender “revogar o povo”?


Bola pra frente. O canadense Mathieu Bock-Côté também mostra, por outros meios (“O Império do Politicamente Correto”), que a reação contra alguns intelectuais pode ser um tipo de luta contra a promoção da infalibilidade de teorias gestadas sabe-se lá como — e as consequentes ações políticas delas advindas. Nas últimas décadas, a mídia e a academia transformaram o debate político num monólogo, e quem tem o poder de moldar o espaço cívico público e dele expulsar aquele que quebrar “códigos” exerce a real hegemonia ideológica. Não à toa, hoje ouvimos coisas como “lugar de fala”, “microagressão”, “cultura do cancelamento” e “apropriação cultural”, técnicas, em grande parte, para impedir qualquer discussão política não pré-formatada (por isso, dada uma população desconfiada, o poder prescritivo das mídias vai se perdendo com o aparecimento das redes sociais — e aqui fica explicada a virulência dos ataques contra as tais “fake news”, expressão imprecisa e larga o bastante para abranger notícias realmente falsas mas também qualquer fato ao qual a mídia tradicional não tenha imposto o seu selo de veracidade e respeitabilidade, bem como a criação de “fact checkers”, no fundo uma estratégia para garantir o monopólio da credibilidade). “Não é que os processos por bruxaria tenham desaparecido, apenas se modernizaram”, resume Bock-Côté — e ele ainda afirma: “A mídia distribui os papéis entre os heróis e os vilões, escolhe seus campeões, designa os que deverão sofrer de má reputação, distingue os políticos socialmente aceitáveis dos que não o são, os filósofos eminentes e os polemistas de categoria inferior, os intelectuais que inspiram confiança e aqueles cujas ideias são rançosas”. Lutar contra esse estado de coisas talvez seja um “bibliocídio” aceitável.


Vê-se que tudo conspira contra quem se engaje, pensa Bock-Côté, na contranarrativa prescrita por uma estrutura midiática que autoriza até mesmo quem deva ser o “oponente respeitável”, um tipo que nunca sairá das linhas traçadas à sua volta — quando se tem o poder de afirmar o que é ou não aceitável num debate, sair dos marcos regulatórios é garantia de ser tratado com desdém ou até mesmo como bufão. Não duvidemos: parte do que assistimos atualmente no mundo é uma tentativa de reestruturação do espaço público para expulsar a parcela da população que se fez audível (com ideias boas ou ruins, o que não vem ao caso aqui). Quer me parecer, então, que a mídia e a academia, em pânico, tentam redefinir os “códigos de respeitabilidade” que moldam o debate cívico — daí o motivo de se teorizar tanto sobre o espaço público, criando-se catracas morais para o acesso a ele. A conversa dita democrática é muito menos aleatória do que parece; quando ela foge das linhas demarcadas, ouve-se um berro de desespero: é preciso “recuperar a razão”, diz-se, justamente para colocar mais cal nas linhas do campo — e por “razão” deve-se entender apenas um único modo de compreender o mundo.


Por sua vez, Jeffrey K. Tulis, da Universidade do Texas, apontou, em “The Rhetorical Presidency”, que nos Estados Unidos, pelos menos desde Woodrow Wilson, os presidentes livraram-se das amarras formais de uma presidência “dignificada” e distante para conversarem ao pé do ouvido com o povo. A presidência, antes encarnada num paletó e numa gravata, transformou-se numa conversa ao pé da lareira, e foi Wilson, democrata (portanto não trazendo, para alguns, o pecado original de ser republicano), quem legitimou os meios que Donald Trump utilizou de modo exagerado e com certa eficiência — se a televisão tornou os presidentes mais sujeitos a roteiros previamente aprovados, os tuítes de Trump pareciam o mostrar tal como ele é, com alguma sinceridade, mesmo que se diga ser uma “falsa sinceridade” (para usar um oximoro — outra categoria estudada por Avelar), plenamente adequeada à ideia de que nossos líderes devam ser sempre populares; a linha entre ser popular e ser populista, não nos esqueçamos, depende da cabeça de cada cientista político e, obviamente, das preferências ideológicas de jornalistas. Vale dizer: também a “presidência retórica” torna borrado o que se entende por populismo.


Daí podermos afirmar que exista certa desconfiança ante tantas certezas que se despejam no rio político, e separar o esgoto tratado nem sempre é tarefa fácil. Como então ter “bibliocídio” como conceito conglobante de atividades distintas? De vez em quando, nunca é despiciendo lembrar, artigos deliberadamente absurdos, escritos para comprovar como parte da ciência foi deturpada pela ideologia, são aceitos por revistas antes sérias, cegas que estão ao mundo real. O mais famoso, hoje mitológico, foi o artigo do físico Alan Sokal propondo que a gravitação quântica seria uma construção social e linguística. Foi publicado sem cortes. Sokal mais tarde escreveria, com Jean Bricmont, “Imposturas Intelectuais: O Abuso da Ciência pelos Filósofos Pós-Modernos”, esticando a sua ideia inicial. Peter Boghossian, James Lindsay e Helen Pluckrose também conseguiram publicar vários artigos desse tipo; em um deles, afirmavam que o pênis, outra “construção social”, seria a força responsável pela mudança climática; em outro, abordaram a “cultura canina do estupro”. O campeão da categoria talvez tenha sido “Our Struggle is My Struggle”, publicado em “Affilia”, uma reescrita do capítulo 12 de “Minha Luta”, de Hitler, em que os autores substituíram “nacional-socialismo” por “feminismo” e “judeus” por “privilégio” — e o artigo foi igualmente publicado.


Evidentemente, Karl Popper já nos ensinou (“A Lógica do Conhecimento Científico”) sobre a falibilidade do conhecimento: uma teoria ainda não refutada está apenas corroborada, admitindo-se ainda que poderá ocorrer sua refutação por testes mais minuciosos. O curioso é que, justamente onde a possibilidade de testes mais minuciosos é menor, existam mais declarações de certeza — assim, se nas ditas ciências humanas ou sociais há tantas declarações de certeza, infere-se que talvez seja porque certezas trazem poder, algo que os ideólogos, inclusive aqueles instalados na casta administrativa, compreendem muito bem.


Disso decorre que, se antes se combatia a democracia até mesmo de forma armada, hoje se questiona a sua autoridade moral, pondo-se em cheque a capacidade de todos nós de pensar e agir responsavelmente. Furedi, com acerto, aponta que o pânico em relação a uma onda populista levando à “morte” ou ao “fim da democracia”, títulos comuns de livros neste nosso amedrontado século 21, é, no fundo, muito mais ansiedade pela perda da autoridade das elites — nós, cidadãos, seriamos incapazes de atuar de acordo com a sabedoria dos nossos superiores morais e intelectuais. E, lembrei-me agora, o jornalista David Halberstam descreveu, em “The Best and the Brightest”, como acadêmicos e intelectuais instalados nos governos Kennedy e Lyndon Johnson tiveram ideias “brilhantes”, geralmente contrárias ao bom senso, que pioraram bastante a situação dos Estados Unidos no Vietnã.


Sim, há perigo na esquina para a democracia; ele vem em parte, creio, da animosidade contra o “kratos” (poder) do “demos” (povo). Colecionador de livros antigos que sou, ainda assim tenho dificuldade em reduzir “bibliocídio” a um significado unívoco. 


(Pois é: uma tema não central em “Eles em Nós” me trouxe até aqui: o pensamento parece uma coisa à toa...)


4.

Voltemos a “fascismo”, que Avelar usa corretamente como um exemplo de lexicocídio. Outro desvio que tomo, porque o termo é exemplificativo no livro e não um dos seus temas.


Nesse pântano de conceitos em que vivemos, é digno de nota que até Umberto Eco, logo ele, professor de semiótica, tenha confundindo alhos com bugalhos numa conferência que proferiu, creio que em 1995, na Columbia University, depois transformada em livro (“O Fascismo Eterno”, devidamente relançado, pós-Trump, em vários países). O italiano afirmou que o termo “fascismo” seria bastante adaptável porque podemos retirar algumas características de um regime fascista e ele permanecerá tão fascista quanto era antes. Eco fornece, assim, uma lista de características do “fascismo eterno” e nos assegura de que qualquer uma delas já cria uma “nebulosa fascista”. O “culto à tradição”, por exemplo, ou “o apelo às classes médias frustradas”. Notaram? Um conservador tradicionalista será ipso facto fascista. Uma crise econômica real, que gere frustrações reais na classe média, será utilizada por líderes fascistas com fins autoritários e divisivos. E o italiano, homem de seu tempo, não se esquece de Freud: os “jogos de guerra fascistas” se devem, escreve ele, a uma invidia penis permanente. Como Eco desenvolve as características que cita com exemplos quase sempre patológicos, é fácil imaginar o leitor impressionável encontrando ecos — digamos assim — fascistas em qualquer governo ou maluco de esquina. Para nos convencer dessa estranha tese, Eco, claro, logo de cara dá uma carteirada ocular: ele esteve lá, na Itália de Mussolini — uma forma não muito sutil de dizer que sabe mais.


O historiador Emilio Gentile, em “Chi è Fascista”, contrapõe-se a Umberto Eco. Na tradução espanhola: “Introducir la eternidad en la historia humana, atribuir la eternidad a un fenómeno histórico, aun con las mejores intenciones, implica una grave distorción del conocimiento histórico. Sin considerar, además, que este atributo de eternidad se ha reservado solo para el fascismo, porque no circulan tesis sobre el ‘jacobinismo eterno’, el ‘liberalismo eterno’, el ‘nacionalismo eterno’, el ‘socialismo eterno’, el ‘bolchevismo eterno’, el ‘anarquismo eterno’, etcétera. En realidad, la tesis del eterno retorno del fascismo se basa en la utilización de analogías, que por lo general solo producen falsificaciones del conocimiento histórico”. E dá o xeque: “Si existe un fascismo que vuelve perpetuamente, esto quiere decir que el antifascismo está destinado a una continua derrota”.


Desviei-me? Desviei-me. É hora de voltar à vereda principal do livro de Idelber Avelar.


5.

Dito tudo isso, o livro mostra a que veio e, assim, também confesso: houvesse em mim engenho e arte, eu partiria dele, de seus marcos teóricos, para outras análises que, tanto quanto a pita, abundam no exterior e resistem a dar as caras, de modo sistemático, entre nós — como escrevi, livros da qualidade de “Eles em Nós” abrem outras tantas veredas de possibilidades analíticas (todo conhecimento é cumulativo, pois não?). Retórica e medo na política brasileira, digamos — por exemplo, Frank Furedi, de novo ele (um tipo bastante polêmico, reconheço), escreveu o excelente “How Fear Works: Culture of Fear in the Twenty-First Century”), que poderíamos ter como marco para o estudo da nossa prática eleitoral. Talvez um dicionário de significantes vazios que teimam em se esvaziar ainda mais a cada novo artigo na mídia tradicional. Que tal o discurso jurídico brasileiro condicionado por variáveis políticas? “Pacto de amnésia”, expressão que está em “Eles em Nós”, ou supressão do discurso, para ficarmos com “discurso”, como algo nem sempre condenável no contexto nacional — eis outro tema. Mais: o papel das editoras que nos trouxeram, com anos de atraso, livros de pensadores liberais (no sentido clássico) e conservadores, gente como Roger Scruton, Russell Kirk, Thomas Sowell, Michael Oakeshott e mais outros tantos, na formatação de uma nova retórica política brasileira deste século 21. Ou ainda o léxico como campo de batalha em que vicejam tribunais de exceção na mídia (não no sentido jurídico, portanto) para “crimes” de fala instituídos depois das próprias falas serem proferidas. As possibilidades são várias, bem veem; contudo, eu sou, ai de mim, um pobre homem da Póvoa do Varzim, digo, de Palmeiras de Goiás — pensarei nesses temas apenas sob o chuveiro e jamais cometerei um livro sobre qualquer um deles. 


6.

Pensemos no medo e no mencionado “How Fear Works: Culture of Fear in the 21st Century”, de Frank Furedi. O medo, escreve ele, tornou-se tão politizado que não nos perguntamos se devemos ou não recear algo, mas sim de quem ou do que temos de sentir medo. Em termos eleitorais, claro está, é um boa estratégia inculcar nos eleitores algum medo do adversário político. Os psicanalistas diriam que esse inculcado medo das políticas públicas do adversário seria um caso de introjeção. Façamos um teste e tentemos nos lembrar da última campanha eleitoral em que não ouvimos a palavra medo — eu não consigo me recordar. Obviamente, como vivemos numa época em que as campanhas são permanentes, é preciso incutir esse medo também de modo permanente.


7.

Dissecando um pouco mais essas tantas possibilidades, vejamos a retórica jurídica, base daquilo que se convencionou chamar ativismo judicial. O campo é fértil para o estudo da sua interseção com a política. Por exemplo, essa retórica trabalha com categorias sobre as quais se impõe algum grau de infalibilidade: nunca se pode deixar de obedecer uma constituição e é recomendável a existência de uma corte constitucional com poder de declaração de inconstitucionalidade de leis aprovadas por maiorias parlamentares (vale dizer: pelos representantes do povo democraticamente eleitos). Sem questionamentos? Não exatamente. Até juristas já duvidam dos poderes infalíveis das cortes constitucionais, como Jeremy Waldron. (A propósito: logo chegaremos a sete mil ações diretas de inconstitucionalidade e cerca de mil arguições de descumprimento de preceito fundamental, dois instrumentos com os quais o Supremo Tribunal Federal trabalha, ajuizadas desde 1988.) Quanto à obediência à Constituição, deixo aqui uma pergunta feita por Louis Michael Seidman em “On Consitutional Desobedience”: “The test for constitutional obligation arises when one thinks that, all-things-considered, the right thing to do is X, but the Constitution tells us to do not-X. It is only in this situation that constitutional obligation really has bite. It is only then that if we obey the Constitution, we are doing so for the sole reason that we are bound to obey. But who in their right mind would do this? If we are convinced after taking everything into account that one course of action is right, why should we take another course of action just because of words written down on a piece of paper more than two hundred years ago?”. O pensamento...


Na seara do discurso jurídico, não há somente essas veredas. Ainda está para ser escrita a história da sustentação dessa retórica que habilita juristas como jogadores do time político. Um roteiro da trajetória para tanto, seguido por muitos países a partir de 1945 (outro livro que não escreverei): 1) faça constituições longas;2) enche-as de princípios amplíssimos, como “dignidade”, uma categoria moral e até religiosa que tem contornos jurídicos borrados; 3) aumente-as com o que se chama “bloco de constitucionalidade”: tratados internacionais e afins; 4) dê ao tribunal constitucional inúmeros instrumentos de controle de constitucionalidade para aferir a validade de normas com esses padrões gigantescos; 5) junte uma pitada de Direito Constitucional comparado, hoje chamado “diálogo entre cortes constitucionais”, aos padrões decisórios nacionais; 6) crie técnicas de controle temporal e de conteúdo das decisões das cortes constitucionais, como modulação e sentenças aditivas (termos técnicos; ao Google, portanto); 7) transforme situações políticas em princípios jurídicos duvidosos, como “proibição do retrocesso”; 9) ensine aos estudantes de Direito que nada disso possa ser repensado.


Com uma pitada de pânico e outra de ânimo tíbio, aguardaremos, assim, que ações constitucionais nos salvem de nós mesmos e nos encaminhem para “o lado correto da História”, certos de que “não se pode tolerar a intolerância” (desde que “intolerância” seja definida de modo amplíssimo, claro) e de que o animal que criou o Renascimento, a polifonia e foi à Lua seja incapaz de funcionar sem um tutor judicial.


Um livro a ser escrito, não? Quem se habilita?


8.

Desviei-me novamente. De volta à vaca fria, então. Num dos capítulos do livro de Idelber Avelar, a retórica construída sobre oximoros é o alicerce para a análise do tratamento político da questão amazônica  (“oximoro” sem acento mesmo, rimando com nome de juiz). Há achados preciosos, datas certas para a escalada de discursos contraditórios e consequências concatenadas. Quero crer, porém, que a forma como a ideia foi exposta dá a entender, talvez não de modo intencional, que estaríamos diante de fenômenos e epifenômenos eminentemente brasileiros, quando me parece que a retórica política não prescinde, em nenhum lugar, de certo chiaroscuro ambíguo e mesmo contraditório. Haverá sempre um “inimigo” a caçar pela manhã, daí o “medo” como categoria também discursiva, podendo o mesmo “inimigo” ser colega de caçada, e não um alvo, à tarde. Se alguns oximoros chegam à exaustão, como indica o livro, outros surgem para a manutenção de um sistema de antagonismo, sempre agravado pela ideia de política como uma luta pura entre Bem e Mal.


Assim como o senhor Jourdain de Molière, que famosamente se espantou ao descobrir que falara em prosa a vida toda, ainda há quem consiga "faire de la prose sans le savoir" e se espantar quando percebe que age de modo contraditório em política, porque, bem, porque a falta de coerência é tida como feia doença a ser escondida da família e de amigos. 


9.

Adiante e pé na tábua que São Paulo não pode parar. Graças aos céus da Louisiana, onde o autor mora, não houve, em “Eles em Nós”, o já costumeiro chororô contra aquilo que se diz ser “polarização”, palavrinha que aparece em doze de cada dez livros da categoria “ciência política apocalíptica”, assim mesmo, rimada para que eu não tenha de escrever “ciência política escatológica”, pois a ambiguidade de “escatologia” nos levaria a longas vertentes da prática política neste nosso Impávido Colosso. O livro é perpassado pela ideia de “administração de antagonismos”, que pressupõe, vivas e alvíssaras!, a existência da afamada polarização — de certo modo, o exercício político é naturalmente polarizado. 


Sendo polarizada, estranha-me (ou fica justificada?) a retórica política que, à moda de Robespierre e do Arroz Cristal, se creia pura e incorruptível (corrupção não somente em termos financeiros, bem entendido). Nesse sentido, se Trump foi errático, para alguns Obama era uma pose que discursava. Bill Clinton era dado a certa indisciplina priápica no Salão Oval, John Kennedy idem (e Kennedy também usava medicamentos não prescritos), Jimmy Carter microgerenciava toda a máquina do governo, Nixon abusava do álcool, Woodrow Wilson sofreu um derrame incapacitante no seu segundo mandato e deixou o governo meio que nas mãos da esposa, Ulysses Grant — o brilhante general da Guerra Civil — passou seu período como presidente entornando umas e outras. Somos nós todos umas carcaças defeituosas e costumamos calcular, na hora do voto, o preço da manutenção dos anéis e dos dedos, daí porque alguns governos, mesmo parecendo uma festa estranha e com gente esquisita, possam ser suportados estoicamente para que apenas os aneis nos sejam levados. Realpolitik na veia não consta do CID como doença psiquiátrica.


Mas a tal polarização é o alfa e ômega de todos os nossos problemas, dizem. Para que a minha caixa de comentários não se transforme num canal do Tietê, usarei novamente exemplos de outros países, não do Brasil. Nos Estados Unidos, essa utópica vertente apocalíptica lamenta o atual “bipartidarismo radicalizado”, como se todos devêssemos nos dar as mãos e cantar “Kumbaya” (música de acampamento) em torno de uma fogueira e sob o céu estrelado (e a imagem de quem nem sempre divergências se resolvem assim é — espanto! — de Obama). O problema: há os que dizem que o país esteja  perigosamente dividido, os que dizem que essa divisão já existia nos anos 90, aqueles que a levam à década de 60 and so on. Todo têm razão, digo eu. Nos anos 60 e 70, houve os assassinatos de JFK, Martin Luther King, Robert Kennedy e Malcolm X, Watergate, dois juízes indicados por Nixon para a Suprema Corte rejeitados pelo Senado, bombas em bancos e correios explodidas pelos Weathermen e outros grupos, o país sem acordo sobre a Guerra do Vietnã, a crise do petróleo, uma grande degradação urbana e reféns no Irã (parte dessa história está contada em “Days of Rage: America’s Radical Underground, the FBI, and the Forgotten Age of Revolutionary Violence”, de Bryan Burrough). Na década de 50, o presidente republicano Dwight Eisenhower era criticado por seus colegas de partido e tachado de ser “liberal”, o que o fez entrar num casamento político de conveniência com alguns democratas moderados. Franklin Delano Roosevelt nunca teve o apoio total dos americanos à participação dos Estados Unidos na Segunda Guerra antes do ataque a Pearl Harbor; antes disso, travou uma violenta guerra com a Suprema Corte, vezeira em declarar inconstitucionais as leis do New Deal (elaborou então um plano para aumentar o número de juízes, o que foi visto como uma interferência extrema). Que tal a eleição de 1912? Temos Theodore Roosevelt, candidato por um terceiro partido, dividindo os votos republicanos e permitindo a vitória do democrata Woodrow Wilson. Ah, sim, a Guerra Civil de 1861-1865 foi o paroxismo da divisão política americana, evidentemente, e depois dela o presidente Andrew Johnson salvou-se do impeachment por um voto. Em 1800 ocorreu a disputa entre Thomas Jefferson, John Adams e Aaron Burr pela presidência; Burr e Jefferson, como se sabe, empataram no colégio eleitoral, o que levou a disputa à Câmara de Deputados, onde somente na 36ª votação Jefferson se elegeu (tem quem pense que essa escolha evitou uma guerra civil). Há mais: Michael J. Faber afirma que os debates sobre a Constituição americana de 1787 foram “a mais divisiva guerra de palavras na história dos Estados Unidos (“An Anti-Federalist Constitution: The Development of Dissent in the Ratification Debates”). A Europa, por sua vez, viveu crises e guerras cada vez maiores entre 1900 e 1945 e depois suportou a tensão da Guerra Fria até 1989 (em 1961, tanques russos e americanos se encararam durante três dias em Berlim); há mesmo quem diga que 1914-1989 foram os anos de uma guerra prolongada. Tempos plácidos jamais existiram, bem se vê; no entanto, lemos todos os dias frases como “os Estados Unidos jamais estiveram tão polarizados”, talvez porque a pregação para a união de gente com ideologias díspares costuma ser pele de cordeiro para que se acuse o lado oposto — qualquer um — de radicalismo.


O belo poema de Kaváfis, “À Espera dos Bárbaros”, sempre lembrado em situações de falsas emergências nacionais, talvez caiba aqui, ressalvada a diferença de que Aníbal — os bárbaros, portanto —, a julgar pelos berros de qualquer oposição, a atual, a de 2015 (impeachment) ou a de 2005 (Mensalão), não está “ad portas”, mas já dentro de nossos domínios (os bárbaros são, dizem-nos, a maioria que elege aquele em quem não votamos — na famosa frase de Hillary Clinton sobre os eleitores de Trump, “essa gente desprezível”, ecoando, sem o saber, os “salauds” de Sartre). Como Kaváfis, contudo, também temos de nos perguntar: “Sem bárbaros, o que será de nós? / Ah! Eles eram uma solução”.


(Aposto minha coleção completa de Freud que o número de livros “eis-aqui-toda-a-verdade” — não é o estilo de “Eles em Nós”, que fique claro — crescerá até as eleições de 2022, depois até 2026, 2030... Sem bárbaros, o que será de nós?)


Foi por isso, como crítica à hipérbole do adversário como inimigo a ser abatido e à outra hipérbole da afirmação da pureza de ideias na própria ideologia política que se adota, que Valéry Giscard d’Estaign disse ao seu adversário socialista François Mitterrand, nas eleições presidenciais francesas de 1974, uma frase que já nasceu famosa: “O senhor não tem o monopólio do coração”. Não tinha, mas cada campo político segue nos servindo os mesmos pratos utópicos como se fossem iguarias de uma nouvelle cuisine.


Assim somos e assim seremos, contudo. O historiador Richard Hofstadter escreveu um livro que é hoje bastante lembrado, “The Paranoid Style in American Politics”. Identificamo-nos, não? Ter uma crença política e não enxergar uns complôs no campo inimigo, algumas conspirações e reuniões em horas mortas, ora, isso nos impõe uma racionalidade excessiva. Sejamos, Drummond, docemente hiperbólicos, não pornográficos.


10.

“Eles em Nós” é um livro que nos faltava: traz-nos precisão semântica e inspeção retórica dos meandros da nossa política recente. 


Talvez ele até mesmo nos ajude a reconhecer quem use a palavra “Führer” ou a expressão “filhote de Chávez” como quem diz “Hoje vai chover” e, junto com essa imprecisão discursiva, se intitule imbuído de intenções empáticas; imbuído de intenções empáticas, permita-se corrigir o semelhante humano por “pensar errado”, que se traduz apenas por “pensar diferente”. Permitindo-se a si mesmo querer corrigir o semelhante, até se pode escrever um artigo como aquele de um médico na “Folha”, semanas atrás, propondo-se algo que o articulista afirmou ser “o autoritarismo necessário”. Era prenhe de fins bonitos, o artigo, então o autoritarismo para corrigir quem tem um estar e agir no mundo distinto — os hereges! — estava (está) valendo.


Sim, voltemos à primeira página do livro: é preciso rigor no trato com a linguagem, em qualquer espectro político.


11.

Bom, alonguei-me e desviei-me do livro, distintos ouvintes da plateia, e portanto concluo (quanto aos desvios, a minha desculpa, dada láááá no início, é que este texto não é uma resenha, mas sim uma espécie de brainstorming).


Se “Imagine”, de John Lennon, subiu no telhado, o que faz parte do jogo político pendular, foi um alento ler um livro em que não há uma deslegitimação sistemática do pensamento político que praticou o ImagineAllThePeopleCídio: Avelar refaz, com perspectiva original e sem “a prioris”, os caminhos do nosso passado recente.

Por fim, já se viu que não escreverei os tais livros que sugeri ali acima e tampouco discorrerei a fundo sobre outros poréns que “Eles em Nós” me despertou, porque hoje fiquei de rever algum James Bond. Resta-me recomendar que o livro de Idelber Avelar seja adquirido, lido, sublinhado e destrinchado, pois é uma lufada de ar benfazejo na aragem do estado da arte da ciência política brasileira atual, que precisa(va) soltar amarras e inflar velas.


12.

Eu já havia mesmo encerrado, mas não gosto de números ímpares, então criei mais este item para nada acrescentar. Ademã.

Marcelo Franco (vis Facebook)

New Perspectives on Political Economy and Its History; Book review by Steven Kates (H-Net)

Sempre leio as resenhas da lista de História Econômica:  

Published by EH.Net (March 2021)

Maria Cristina Marcuzzo, Ghislain Deleplace and Paolo Paesani, editors, New Perspectives on Political Economy and Its History. Cham, Switzerland: Palgrave, 2020. xviii + 406 pp. $149 (hardcover), ISBN: 978-3-030-42924-9.

Reviewed for EH.Net by Steven Kates, School of Economics, Finance and Marketing, RMIT University (Melbourne, Australia).


There was a time that one might have said that economic theory was comprised of a series of concepts that help explain the way communities provision themselves and became more prosperous over time. Economic theory as it developed came in the wake of the pamphleteers of more ancient days who saw the world around them and thought there had to be a better way of getting things done. They therefore wrote polemical accounts aimed at addressing various problems as they saw them, to try to persuade others to take up the approaches they were attempting to advocate.

Meanwhile, almost from out of nowhere came the Industrial Revolution. It was not a consequence of Adam Smith having written his Wealth of Nations. The two just appeared on the scene at roughly the same time, and some — observing the world they were living in, while also reading Smith’s account of how economies worked — came to the conclusion that there was some actual theoretical knowledge that might assist in the improvement of the way in which economies grew and prospered. That is how we came to have the classical school first, and then the major critiques of the socialist writers, with Marx and Sismondi among the most significant.

The classical economists observed the world, saw the tremendous growth in output and living standards and, correctly in my view, came to the conclusion that it was the role of private entrepreneurs that had made the difference. Within the community, if it were designed in a way that allowed individuals to pursue their own best interests as they saw them, there would be a rearrangement of productive forces in response to where the greatest return on investments would occur. Output rose, innovations occurred, and as a direct result living-standards rose. It may appear to many of us looking back on those times that the social costs were immense, but many of those who were living at the time were content that England should exchange its “green and pleasant land” for a highly productive economic structure that allowed many individuals to move forward in what they could earn and in the range and quantity of the goods and services they could buy.

But the costs were high, and memories were short. Henry Mayhew’s London Labour and the London Poor, which he began in 1849 as an investigative journalist and which was finally published in 1861-62, brought the tremendous social costs into the limelight (Mayhew 1985). He was hardly the first to do so, but Mayhew’s work stands out as a depiction of the burdens that had befallen the newly formed proletariats of the industrial age. It was the appearance not just of poverty, which had till then been universal, that mattered, but the agglomeration of entire industrial suburbs that focused attention on the world as it had become. Dark satanic mills had become the way of the world.

What also was new in the world at the time was the business cycle, the periodic ebb and flow of economic activity which came at such a tremendous cost to the working classes. It was one thing to be mired in poverty. It was another thing entirely to find that the low wages upon which individuals depended would suddenly disappear, and for reasons utterly beyond the control of the workers themselves, indeed beyond the control of anyone. And while there was no denying the spectacular growth not just in the volume of output but in the assortment of goods and services that came into existence, there was also disquiet at the disruptions and harm that could be visited on individuals and their families because of the disruptions in their working lives.

And while this overview of the years of the Industrial Revolution is part of the background knowledge of every economist, the need for a means to account for how the industrial world operated was required as well as some means to control the forces that had been let loose upon the world. There was the positive side that came in terms of production. But there was the negative side that came in relation to the polluted cities that had sprung up and the uncertainties that had become embedded within the lives of so many individuals. And this is where the history of economic thought comes into the story.

Economists are the inheritors of the latest manifestations of the theory of the economy that more or less satisfies most of the profession. There are now theories of such astonishing abstraction that it is almost impossible any longer to look into what economists believe they know and truly understand how the economic world is structured or what can and should be changed to improve the operation of the productive aspects of our economies. Which brings us to the book under review, New Perspectives on Political Economy and Its History, a collection of readings edited by Maria Cristina Marcuzzo, Ghislain Deleplace and Paolo Paesani. This is how they describe what they are attempting to do in their Introduction.

In contrast to the reorientation of political economy implemented by Keynes with his General Theory less than seven years after the 1929 Wall Street crash, no substantial change in the mainstream approach to economics can be detected twelve years after the collapse of Lehman Brothers. The same Dynamic Stochastic General Equilibrium (DSGE) model which had been unable to anticipate the crisis still rules research, teaching and economic policy, only marginally modified to take account of the most obvious flaws of the economic system. In this intellectual environment, going back to past authors may be of some help, not to fuel nostalgia for times gone by but to explore modern economic issues along new perspectives — in short to build theory and understand facts. This is the task of the history of economic thought, when it is not understood as a graveyard for respected albeit no longer read authors but as a living corpus of debates on the same old issues shrunk and distorted by the present mainstream. (pp. 1-2)

I particularly agree with them on the role of the history of economics which I will repeat: the role of the history of economics is “to explore modern economic issues along new perspectives.” It may seem somewhat odd that one would delve into the past to find new perspectives, but given how hollow the understanding of most economists is of the theories that have come before the ones they have studied themselves, there truly is a vast ocean of economic theory unknown to virtually all economists that do have many perspectives that really might with great benefit be brought into the debates among economists today.

But here we come to the first obstacle. There is an enormous amount of learning that every economist must come to terms with in even being able to deal with the mainstream theories they are taught. Retreating to historic accounts does not provide an obvious wormhole through which new insights can be introduced among the wide array of perspectives that already exist within the profession. If one thinks of theory in relation to General Equilibrium, which is highly mathematical in its orientation, it seems like a major ask to suggest that economists abandon their present approach and return to completely foreign forms of analysis that existed at some point deep in the past. Suppose this is how one goes about thinking about things, which is an equation picked more or less at random:

ct + xt + G0exp(G˜ t) = yt

The meaning of the equation is of no significance so far as the point I am trying to make goes. It is only presented to compare and contrast a passage from a quite sensible argument presented by Sheila Dow in her chapter on “The Methodological Role of the History of Economic Thought.”

The history of economic ideas is important, not just for understanding theory itself, but also for understanding the subject matter of theory and how it has absorbed particular economic ideas. Karl Niebyl . . . presented a stage analysis of Classical monetary theory and policy whereby the dominant economic ideas of each stage are both the product of real experience, but also shape real experience, all mediated by power structures …. Prevailing academic ideas about monetary policy, the product of past experience, provide the basis for monetary arrangements and monetary policy, which then enable and constrain future possibilities for monetary policy. Given this temporal sequence and the tendency for past experience to be a poor guide to the future, these developments get out of phase, so that monetary arrangements and monetary policy get out of phase with reality and academic ideas take time to catch up, and so it goes on. (p. 32)

You can easily see the problem. Is it even possible for practitioners of these two ways of approaching economic theory to even begin to communicate with each other? And this is leaving all issues of political economy aside. These are just two methodologies now used to discuss economic theory. The number of economists who can understand both is vanishingly small. Unless a special effort is made to reach out to modern economists, the economics of earlier times will be utterly beyond their reach, assuming they can even be made to feel a wish to go back to these earlier forms of analysis.

Background Knowledge Required

Going further, if the aim is to interest mainstream economists in the history of economics, there needs to be some kind of overlap in these articles and the kinds of knowledge an economist would typically have. I have chosen for my example an issue of interest to myself, which overlaps both the writings of John Stuart Mill and the Wages Fund doctrine. The article is “Classical Roots of the Criticisms of John Stuart Mill’s Wage-Fund Theory” written by Antonella Stirati. The question that might well be asked is why would someone without a prior interest in Mill or the wages fund wish to read such an article? I, for example, do believe there is a good deal to learn about the operation of a modern economy through seeing what Mill and his classical contemporaries believed. Yet this is how the article begins:

The purpose of this contribution is to discuss the analytical contents of the criticisms levelled at J.S. Mill’s theory of the wage fund and accepted by him in his famous recantation of 1869. I will therefore disregard other important aspects of that debate, of a historical-political nature, particularly in relation to the controversy on the role and legitimacy of the trade unions.

The reasons for the interest in the analytical issues that emerged in the criticisms of the wage-fund theory lie in the fact that they take up and revive many aspects of Smith’s approach to wage determination. In so doing, they show its inconsistency with the wage-fund theory presented by Mill; that is, they show the existence of a conflict between Smith’s views, representative of the theory of wages proper to the classical political economy (from Petty to Ricardo) and the subsequently established theory of the wage fund. (p. 149)

The background knowledge in the history of economic thought that would be required to see what the author is attempting to argue is phenomenal. Indeed, one would already have to know what Mill’s wages fund theory is, what Mill recanted in 1869, and even have some knowledge and even interest in Adam Smith’s approach to wage determination. How much could anyone be expected to know about the theory of wages, especially from Petty (who?) to Ricardo. Where are such people? Where they are not is among the vast majority of the economics profession. And then after many pages we come to the conclusion:

Mill’s acceptance of the two main arguments advanced by Longe and Thornton in turn shows that the departure from the classical tradition was still flimsy, as a new, general analytical framework alternative to the classical approach was yet to become available. The absence of analytical foundations for a decreasing relationship between real wages and employment other than the simple and arbitrary assumption of a given wage fund led to rejection of the wage-fund theory. (pp. 166-67)

This would not only be incomprehensible to virtually every economist today, but almost all would not even see what the point of the struggle to read the article would be. And as it happens, even I who know what the point is, and where the argument is heading, disagree with this conclusion, not that it matters. What we therefore have is an article that argues that even Mill had not completely disassociated his economic argument from the classical tradition which would only come later on and be undertaken by others. Therefore, there is nothing there to learn since even before someone might have picked up this collection of readings they would have, sight unseen, rejected the wages fund doctrine as a sensible approach to understanding any part of how an economy works. (As a recent and contemporary example of how such an argument might be run even today, see Grieve 2020.)

Engaging Mainstream Economists

All authors have an agenda. There is some point they wish to get across to others. I do think there is an enormous amount of sound economic theory that remains embedded within the classical tradition that has now been lost to the modern world. Moreover, I believe that a modern economist who does not understand Mill, for example, is a much-diminished economist in comparison with an economist who does. I have even written an introductory textbook based on Mill’s Principles (see Kates 2017). I do not say that this is the only point in studying the history of economics, but it is one of the important streams in the role of HET. So let me come back to this passage from the Introduction:

In this intellectual environment, going back to past authors may be of some help, not to fuel nostalgia for times gone by but to explore modern economic issues along new perspectives — in short to build theory and understand facts (emphasis added). This is the task of the history of economic thought, when it is not understood as a graveyard for respected albeit no longer read authors but as a living corpus of debates on the same old issues shrunk and distorted by the present mainstream.

I could not agree more with the book’s ambition, but I am disappointed with the execution. I have written a book on this very issue, Defending the History of Economic Thought (Kates, 2013). And let me tell you that this is a highly controversial issue within HET, with many who argue that studying the history of economics should not be trying to use this part of the economics discipline to revive previous doctrines. Theirs is a kind of Whig history, in which there is only progress so that what we find in our textbooks and journals in the present is the final flowering of everything that came before. The history is merely to tell how we reached the supposed heights we have now scaled.

That is obviously how it must look since those who accept some theory must believe that what they have been taught is the best that has ever been thought and said, since if some previous theoretical approach were better, then surely we would be teaching that instead. Yet the reality is that there is an inertia in how issues are conceived. It is something of a cliché to recall that when Galileo dropped a heavy object and a much lighter object from the Leaning Tower of Pisa (or so the story goes) that this was an experiment that could have been undertaken any time during the past if it had occurred to someone to find out for themselves. It was only that the idea had never occurred to anyone else before. But that is not how it was among economists.

It was not as if John Stuart Mill had never considered utility as a means of estimating value. Mill was, after all, the leading utilitarian philosopher of his time. Jevons and his notion of final (marginal) utility may have struck most of his contemporaries as a step forward but then our own textbooks have almost entirely wiped themselves clean of marginal utility in the same way that DSGE has replaced Keynesian theory as the core concept underpinning economic analysis.

All very well, except that every economic downturn since the 1960s has immediately conjured the need for a stimulus, so that no matter how much we might pretend that Keynesian theory has more or less disappeared with our accumulating understanding of the ways in which an economy works, there Keynes remains, as central today as he was in 1936. No introductory textbook avoids Y=C+I+G. And when it comes to that, Keynes seems to have a quite central importance, certainly in the text under review, as shown by the following entry in the index:

Keynes, J.M., 1, 2, 4, 8, 15–17, 29, 32–34, 50, 56, 58, 225, 234, 281, 294, 303, 311, 314, 325–327, 329–331, 334–340, 344–359, 365–367, 370, 371, 374–379, 384–391, 394–397

In fact, there is little doubt that one of the central aims of the book is to assist in the return of Keynesian economic theory to the mainstream. And while I disagree with the specific aim, I am completely onside with the wish to use the history of economic thought in this way, to speak to other economists about how economies work in the real world based on the perspective of economists who are now long dead. This is directly stated in the final paragraph of the introduction.

In their attempt to provide new perspectives on political economy and its history, the eighteen essays collected in this book try to respond to the wish that economics might embark along a different route, whereby economists take into serious consideration past theories and concepts which have failed to survive in the evolutionary struggle of ideas for no good reason, but simply because they have been ‘submerged and forgotten’ with the shift of paradigms. (p. 17)

I too wish to see economics embark along a different route from the one it has taken. Not the different route that the editors of this volume would like to see taken, but nevertheless a different route. These are essays which are attempting to persuade the reader to adopt these different perspectives. And this is a very good thing and I only wish there were more efforts made to do the same.

Economic theory as it is now taught is near moribund. It is too mathematical, too mechanical and almost completely lacking in a philosophical core. There is no longer much of anything that one might describe as “the soul of economics.” The passions that were once central to economic debate have almost entirely evaporated. It is therefore a pleasure to see something of the old enthusiasms found in this book whose essays are largely by people who are trying to convince you of something about the nature of the world and the kinds of economic theories needed to understand it.

This may seem to clash with my earlier statement, that I could not agree more with the book’s ambition, but I am disappointed with the execution. My problem remains that too little effort was made to engage modern economists in a way that would allow those who have studied economics using modern techniques and mathematical analysis to see the difference between what they are taught and what classical economists taught. There is too much asked of readers who are not scholars in the history of economic thought. That was the challenge the editors had set themselves, to bring elements of the classical school within the reach of economists generally. That is an ambition I completely support. My only wish is that a greater effort had been made to explain the views of these earlier economists in a way that would be comprehensible to an economist who had not previously undertaken their own studies into these theories. Thus, I remain concerned that many of the articles in this volume will be understood only by those already versed in the history of economic thought, even while the aim of this book is one I could not agree with more.

References:

Grieve, Roy H. 2020. “Drop the Dead Donkey: A Response to Steven Kates on the Subject of Mill’s Fourth Proposition on Capital.” History of Economics Review: 20-36.

Kates, Steven. 2013. Defending the History of Economic Thought. Cheltenham UK: Edward Elgar.

Kates, Steven. 2017. Free Market Economics: An Introduction for the General Reader. Third edition. Cheltenham UK: Edward Elgar.

Mayhew, Henry. 1985. London Labour and the London Poor. Selections Made and Introduced by Victor Neuburg. Harmondsworth: Penguin Books.

Copyright (c) 2021 by EH.Net. All rights reserved. This work may be copied for non-profit educational uses if proper credit is given to the author and the list. For other permission, please contact the EH.Net Administrator (administrator@eh.net). Published by EH.Net(March 2021). All EH.Net reviews are archived at http://www.eh.net/BookReview.

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Debate:

Dear all,


I read with great interest this review. Having not read the book I have only a limited understanding of its contents. However I wish to say that, although
Marx was German (he wrote in German) and Sismondi Swiss (he wrote in French, another obscure language), the review is written for readers interested only in texts written in English. Whether and in what proportion Quesnay and his group anticipated the ‘classical school’ is partly unclear, but, in connection with the below quotation from the review, 
'That is how we came to have the classical school first, and then the major critiques of the socialist writers, with Marx and Sismondi among the most significant’,
the first critiques of ‘liberal’ ideas by the major ‘socialist' writers were written in French by Linguet, Mably and Necker, mostly between 1765 and 1774, hence before the appearance of 
Wealth of Nations, with one major difference: Linguet had great respect for private property, including slavery, on the ground that slaves were better treated than the workers of his age
and were fed as well as horses in periods of poor harvest when some workers were starved, Mably and Necker were far more radical, although Necker was a banker having made his fortune 
through various smart financial schemes. The literature about these authors and the discovery of their ’socialism’ started with a book by Villegardelle, digitized by Google and published in 1846,
Histoire des Idées sociales…ou les socialistes modernes devancés et dépassés…a book most carefully read and heavily extracted by young Marx and which inspired at least one known author 
who republished part of Villegardelle’s book without acknowledgement, unless this was an extraordinary coincidence. 

With best wishes,

Gabriel Sabbagh

sexta-feira, 2 de abril de 2021

Especulações sobre a Ordem Global do século XX - Paulo Roberto de Almeida

 Voilà: estou inscrito para minha própria palestra. Espero não perder...

Paulo Roberto de Almeida


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Especulações sobre a evolução da ordem global do Século XXI

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  05 de abril de 2021, 19h>21h45

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Quando o ódio for tudo o que nos restou é sinal que não sobrou mais nada - Marcos Cavalcanti

 Quando o ódio for tudo o que nos restou é sinal que não sobrou mais nada

Marcos Cavalcanti

Na minha adolescência tive um professor de biologia que para mim representava tudo o que um professor NÃO deveria ser. A forma de motivar os alunos era pelo medo e pelas ameaças. Suas provas eram um exercício de memória baseado em sua apostila. Quem decorasse a apostila tirava dez, quem não decorasse se dava mal. Eu me dava mal. Era ótimo aluno nas outras matérias, mas em biologia eu só tirava nota vermelha... Aquilo foi me incomodando a tal ponto que fiquei com raiva do professor e de mim mesmo e jurei que ia passar de ano sem fazer prova final. Deu certo. Passei de ano. E até hoje não sei nada de biologia...

O ódio pode ser usado para motivar as pessoas e até para conseguir resultados objetivos, mas raramente o saldo final é positivo. Os ganhos não ficam para a vida. Quando o ódio acaba não sobra nada de bom.

O PT e lula representaram um dia, um projeto de esperança em um novo Brasil: incorporaram mais gente ao mercado consumidor e abriram mais vagas no ensino superior. Mas não tocaram nos fundamentos que fazem a nossa sociedade ser injusta e desigual há séculos. O Estado continuou a ser uma máquina a serviço de poucos grupos em detrimento da maioria esmagadora da sociedade. Os banqueiros, latifundiários e empreiteiras nunca ganharam tanto dinheiro como nos 13 anos em que o partido esteve no poder. Pior, não melhoraram nem ampliaram a educação fundamental, a saúde pública ou o saneamento básico. Em resumo, aumentaram o número de consumidores e os lucros, mas não ampliaram a cidadania. Tomaram, literalmente, de assalto a máquina pública, colocando-a à serviço do partido e não da sociedade. Todos os outros partidos fizeram isto antes, mas nenhum ousou tanto e teve tão pouca vergonha de fazê-lo. E, sobretudo, nenhum outro teve a arrogância e 

intelectuais que o defendem mesmo diante da corrupção mais vergonhosa da história do país.

 

Estamos aprendendo, dolorosamente, que distribuição de renda não se resume a poder comprar geladeiras e fogões a prazo, mas acontece via educação, saúde, ciência, tecnologia, produtividade e competitividade. 

Ninguém tem o dom da verdade ou acerta sempre. Como dizia meu avô, na vida a gente raramente acerta, mas em todas as outras vezes aprende. 

Ou não... 

Para alguns de nós os errados são sempre os outros. O discurso do ódio de lula (“coxinhas”, “golpistas”, “contra Moro e a Lava Jato”) só tem espaço porque do outro lado tem gente falando de “petralhas”, “comunistas” e que tais. Bolsonaro e lula dependem um do outro para sobreviver. São dois lados da mesma moeda: o ódio e a gana pelo poder. Tanto é assim que os dois querem exatamente a mesma coisa: impedir o surgimento de um terceiro candidato, de forma que eles possam manter esta polarização que os favorece. 

E esta polarização, que só nos faz ver inimigos em todos os que pensam diferente, está nos levando para onde? Para o precipício e para a falta de esperança. Que Bolsonaro e as viúvas e viúvos da ditadura assumam este discurso não me choca nem surpreende. Estão no seu triste papel de defender o passado. O que me espanta é ver pessoas que se dizem intelectuais assumindo este discurso. Mesmo que de forma envergonhada:“não sou PT, mas"...

Acredito que estes amigos façam isto em defesa de sua história de lutas pela democracia e pela justiça social. E porque, no passado, o PT encarnava este discurso e esta esperança. Se esquecem, no entanto, que o PT FOI isso. Não é mais, pelo menos desde o mensalão. Quem mudou foi o partido e não estes amigos que, acredito, continuam a querer fazer do Brasil um país justo e menos desigual.

Precisamos mudar este rumo. Um discurso baseado no ódio pode ser suficiente para manter a tropa reunida em torno do seu chefe e guru, mas não constrói alternativas e nem é portador de futuro. O fracasso do PT não é o fracasso do projeto de vida meu ou destes amigos. É o fracasso de um partido que abandonou seus sonhos e ideais para se tornar mais uma outra quadrilha a assaltar o Estado. Quem mudou foi o partido, que passou a ser o "partido do lula", que prega o ódio contra seus adversários (como Marina, Cristovão Buarque ou FHC) e que só admite uma frente se o partido estiver liderando. Mesmo que o discurso do “lulinha paz e amor” volte, para tentar enganar de novo os desavisados e esquecidos.

Mesmo as mais bonitas histórias de amor podem acabar mal, mas não precisa ser assim. A escolha sobre como tudo isto vai acabar é de cada um. Podem restar boas lembranças e, sobretudo, podem restar muitas lições aprendidas. 

Eu prefiro seguir a oração de São Francisco de Assis e superar esta polarização que está destruindo o Brasil: onde houver ódio que a gente leve amor; onde houver discórdia, que a gente saiba se unir. 

Triste seria se constatarmos que ao final, tudo o que restou foi ódio. Porque a história já ensinou que, neste caso, não nos resta mais nada. 

Nem mesma a esperança.


O chanceler acidental saiu, mas as ideias ficam - Duda Teixeira e Paulo Roberto de Almeida

 Permito-me discrepar ligeiramente de Duda Teixeira nesta matéria:

https://www.oantagonista.com/brasil/ernesto-sai-mas-as-ideias-ficam/

As ideias que ficam não são as de Carlos França, que, assim como 99,99% dos diplomatas, nunca conseguiria reproduzir as loucuras debiloides do chanceler acidental: ninguém conseguiria ser tão desequilibrado e submisso quanto o patético e nefasto ex-chanceler.

As “ideias” — com toneladas de sal grosso nessa coisa impossível de existir sob o regime dos alucinados — são as do guru destrambelhado da Virginia, as poucas (se alguma) do capitão genocida, as inexistentes do Bananinha 03, as fundamentalistas do olavista pornográfico e as de outros anacrônicos seguidores desse fenômeno horripilante a que deram o nome (impróprio) de bolsonarismo, um ajuntamento de sandices inéditas na história da nação desde 1549.

Carlos França está geneticamente blindado contra essa festival de loucuras. Mas não pode impedir que a tropa de ignaros e paranoicos continue a guiar a nau dos insensatos. Pior: o “demitido” chanceler acidental se nomeou para a cozinha interna do Itamaraty, a poderosa Secretaria de Administração: pretende continuar mandando no Itamaraty, com a ativa conivência do 03, do Robespirralho e do próprio JB, zombando dos senadores que o demitiram.

Paulo Roberto de Almeida


A MAIOR tragédia brasileira em todos os tempos - Paulo Roberto de Almeida, Juarez Q Campos

 Uma mensagem contundente de Juarez Q Campos para lembrar, simplesmente, que o Brasil vai continuar acumulando mortos sobre mortos enquanto tivermos um genocida no poder. Políticos, militares e o chamado grande capital, mas também certa esquerda que acha que é preciso deixar o genocida se desacreditar de vez, são cúmplices, voluntários ou involuntários, nessa grande tragédia humana, social, econômica, política, cultural, total. Parabéns, senhores (e senhoras), vocês estão permitindo que continue a maior catástrofe deliberadamente construída na história do Brasil, o mandato que produziu o maior descalabro em toda a nossa trajetória como nação, e nisso eu coloco os quase cinco séculos desde que D. Tomé de Souza, o primeiro governador-geral do Brasil desembarcou nas costas da Bahia. Jamais tivemos dirigente tão néscio, tão parvo, tão idiota, tão despreparado, tão perverso e desumano quanto o capitão degenerado e genocida.

Sempre assino embaixo do que afirmo:

Paulo Roberto de Almeida

Brasilia, 2/04/2021


Juarez Q Campos:

Em sua live, o psicopata questionou mais uma vez as medidas de isolamento e informou que será o último brasileiro a tomar vacina. Instruiu a AGU a pedir a suspensão de decretos que proíbam cultos e missas no país, e repetiu mais uma vez "o meu Exército brasileiro não vai às ruas agir contra o povo".

Ao politizar a pandemia, Bolsonaro mergulhou o país na maior crise humanitária da nossa história, e vamos lembrar que genocídio é crime coletivo. 

Há quase uma centena de pedidos de impeachment hibernando na gaveta do presidente da Câmara, enquanto o país caminha para mais de 400 mil mortos, e milhões brasileiros já estão abaixo da linha da miséria.

Mas o impeachment não interessa a ninguém, nem ao Congresso, nem ao Lula, Ciro, Dória, Mandetta, Boulos, partidos, governadores, militares, STF e empresariado.

Criminosos, são todos cúmplices do genocida.