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quinta-feira, 20 de julho de 2023

Conflito na Ucrânia revive batalhas da Segunda Guerra, 80 anos depois - Andrew E, Kramer (NYT, OESP)

 Conflito na Ucrânia revive batalhas da Segunda Guerra, 80 anos depois 

Andrew E. Kramer
THE NEW YORK TIMES, 19/07/2023

 Em meio a rochas enormes, pneus usados e restos de lata-velha, Oleksandr Shkalikov aventurou-se no leito seco do vasto reservatório. Um lembrete perturbador, de batalhas sucedidas há muito neste mesmo local no sul da Ucrânia, jazia na paisagem desolada: uma suástica esculpida em pedra apareceu no fundo do lago depois que as águas baixaram. O ano de “1942′', indicando o momento do entalhe, estava escrito ao lado.

“É a história se repetindo”, afirmou o piloto de tanques Shkalikov, que estava de licença do Exército ucraniano, a respeito do entalhe da época da Segunda Guerra. Ele notou a coincidência: a suástica ficou visível em razão de um ato de guerra mais recente; a explosão da Represa de Kakhovka, em junho, drenou um reservatório do tamanho do Grande Lago Salgado de Utah.


“Nós estamos travando esta guerra no mesmo local e com as mesmas armas” da Segunda Guerra, afirmou ele, evocando a artilharia pesada e os tanques que ainda forjam o curso dos combates.

A Segunda Guerra tem constituído um campo de batalha ideológico no atual conflito na Ucrânia, com a Rússia acusando falsamente o governo em Kiev de neofascismo e citando essa mentira como justificativa para sua invasão. O histórico de guerra no território ucraniano também brota no campo de batalha — e não apenas na forma de artefatos encontrados no solo, mas também nas lições que a Ucrânia aprendeu com uma guerra travada muito tempo atrás.

Um monumento em homenagem aos soldados que morreram na Segunda Guerra Mundial perto da linha de frente na região de Zaporizhzhia, Ucrânia, em 6 de julho de 2023.
Um monumento em homenagem aos soldados que morreram na Segunda Guerra Mundial perto da linha de frente na região de Zaporizhzhia, Ucrânia, em 6 de julho de 2023.  Foto: David Guttenfelder / NYT

Contornos do terreno e leitos de rios com frequência direcionam os Exércitos de hoje para os mesmos locais em que algumas das mais ferozes batalhas da Segunda Guerra ocorreram quando tropas nazistas e soviéticas varreram vales e vastidões de planícies abertas na Ucrânia.

De fato, os locais de algumas batalhas cruciais da guerra atual coincidiram tanto com áreas de batalhas da Segunda Guerra, afirma o Exército da Ucrânia, que seus soldados chegaram a buscar abrigo em bunkers de concreto construídos 80 anos atrás no entorno de Kiev. E descobriram ossos de soldados alemães e cápsulas de projéteis usados pelos nazistas enterrados quando cavaram trincheiras no sul do país.

O começo da Segunda Guerra foi em 1939 em território que pertence atualmente à Ucrânia, quando a União Soviética invadiu uma região então controlada pela Polônia, no oeste ucraniano, num momento em que os soviéticos e a Alemanha nazista compunham uma aliança. Quando seu pacto se rompeu, em 1941, os alemães atacaram a União Soviética de oeste para leste através da Ucrânia. A maré da guerra mudou em 1943, quando a Alemanha foi derrotada na Batalha de Stalingrado; e o Exército Vermelho atacou, então, os nazistas de leste para oeste, novamente atravessando a Ucrânia.

Um dos primeiros sucessos dos alemães no início da guerra ocorreu na Batalha do Mar de Azov, em 1941, quando as tropas nazistas avançaram de Zaporizhzhia para Melitopol. Ao longo de três semanas, as forças alemãs atravessaram esse terreno para se posicionar para atacar a Crimeia e cercar os soldados do Exército Vermelho na região de Kherson.

A Ucrânia ecoa atualmente aquela ofensiva da Segunda Guerra, combatendo em linhas a sudeste de Zaporizhzhia num trajeto que os militares ucranianos chamam de “direção Melitopol”. O objetivo estratégico é o mesmo de oito décadas atrás: isolar os soldados inimigos na região de Kherson e ameaçar a Crimeia; mas as tropas ucranianas estão se movimentando muito mais vagarosamente, ganhando poucos quilômetros em mais de um mês de operações.

“Paralelos históricos, infelizmente ou felizmente, não param de emergir”, afirmou conselheiro do generalato ucraniano Vasil Pavlov, que estuda em profundidade as semelhanças entre as duas guerras. Estrategicamente, afirmou ele, os generais da Ucrânia tiveram como exemplo direto a história da Segunda Guerra ao definir a defesa da capital, Kiev, no ano passado.

Dos primeiros dias da guerra atual, o Exército russo avançou por Belarus na direção das várzeas do Rio Irpin — mas logo as forças russas souberam que os ucranianos tinham explodido uma represa e inundado uma vasta área de planícies, bloqueando seu avanço. Foi uma reprise de um truque soviético de 1941, quando Moscou explodiu uma represa no Rio Irpin para bloquear um ataque de tanques alemão, afirmou Pavlov.

Uma granada da época da Segunda Guerra Mundial no rio Dnipro foi revelada quando as águas baixaram após a destruição da barragem de Kakhovka, na região de Zaporizhzhia, Ucrânia, em 11 de julho de 2023.
Uma granada da época da Segunda Guerra Mundial no rio Dnipro foi revelada quando as águas baixaram após a destruição da barragem de Kakhovka, na região de Zaporizhzhia, Ucrânia, em 11 de julho de 2023.  Foto: David Guttenfelder / NYT
“Os generais sempre se preparam para combater a guerra anterior”, afirmou ele. “Mas os generais russos nem isso fizeram.” As forças alemãs conseguiram capturar Kiev em 1941; os russos combateram um mês nos subúrbios da capital na primavera (Hemisfério Norte) do ano passado e bateram em retirada.

Quando a guerra atual mudou de direção, de Kiev para o leste, suas batalhas percorreram os mesmos caminhos dos combates da Segunda Guerra. Naquela época, assim como hoje, o curso sinuoso do Rio Siverski Donets tornou-se linha de frente — com suas margens elevadas e várzeas lamacentas servindo de barreira natural enquanto Exércitos rivais lutaram por cidades e vilarejos ao longo de sua extensão.

Na Segunda Guerra, o rio formou uma porção da chamada Linha Mius, uma posição defensiva que os nazistas construíram para conter contra-ataques soviéticos após a Batalha de Stalingrado.

Na guerra atual, várias cidades e vilarejos ao longo do Siverski Donets entraram em disputa. As forças ucranianas usaram as ribanceiras altas do rio e suas planícies alagadiças, por exemplo, tentando defender a cidade de Lisichansk, o que não conseguiram, e para evitar que os russos atravessassem nas proximidades de Bilohorivka.

Ambas as guerras deixaram cidades e vilarejos às margens de rios em ruínas. Os atuais combates também danificaram com estilhaços monumentos erguidos para marcar batalhas da Segunda Guerra.

O vilarejo de Starii Saltiv, na região de Kharkiv, foi castigado por ambas as guerras; e acabou gravemente destruído nas duas ocasiões.

Lidiia Pechenizka, de 92 anos, que viveu sua vida inteira no vilarejo, recordou que em ambos os conflitos os combates foram definidos principalmente por projéteis de artilharia disparados do outro lado do rio contra soldados abrigados no vilarejo. Para os civis, as experiências foram similares: esconder-se em porões de casas e adegas subterrâneas. “É horrível”, disse Pechenizka em entrevista nesta primavera.

A contraofensiva ucraniana ao sul da cidade de Zaporizhzhia é, segundo Pavlov, “uma analogia direta” da ofensiva alemã de setembro de 1941. Os objetivos foram similares: atravessar as planícies, cortar linhas de abastecimento das tropas russas na margem oriental do Rio Dnipro e alcançar posição para ameaçar o istmo da Península da Crimeia.

Mas os paralelos não passam daí.

Na Segunda Guerra, o Exército Vermelho não teve tempo de fortificar linhas defensivas nas planícies; os alemães avançaram rapidamente até o Mar de Azov, cercando dezenas de milhares de soldados soviéticos em um bolsão no norte.

Na guerra atual, os russos tiveram meses para se entrincheirar. Como resultado, a contraofensiva da Ucrânia empacou diante das formidáveis fortificações, que contam com campos minados, redes de trincheiras e bunkers.

Os combates de hoje também se distinguem de outra maneira. Os Exércitos nazista e soviético se enfrentaram na Ucrânia movendo-se perpendicularmente ao fluxo norte-sul dos principais rios. Em sua contraofensiva, Kiev está movendo suas forças principalmente em paralelo aos cursos dos rios, o que lhes proporciona uma vantagem militar: suas tropas não têm de cruzar águas com tanta frequência.

Um soldado ucraniano em cima de um tanque russo abandonado no rio Siversky Donets, em Bilohorivka, Ucrânia, em 24 de maio de 2022. (Ivor Prickett/The New York Times)
Um soldado ucraniano em cima de um tanque russo abandonado no rio Siversky Donets, em Bilohorivka, Ucrânia, em 24 de maio de 2022. (Ivor Prickett/The New York Times) Foto: Ivor Prickett / NYT

No inverno de 1943-44, a União Soviética perdeu torrentes de soldados cruzando o Rio Dnipro de leste a oeste. Alguns corpos foram encontrados décadas depois pela ONG ucraniana Memória e Glória, que localiza cadáveres de ambos os lados para lhes oferecer sepultamentos dignos. Desde sua fundação, em 2007, o grupo afirma ter encontrado na Ucrânia mais de 500 corpos de soldados que lutaram na Segunda Guerra.

No ano passado, membros da ONG se juntaram ao Exército ucraniano para vasculhar campos de batalha em busca de soldados desaparecidos em combate e encontraram mais de 200 corpos de militares mortos na guerra atual — com frequência nos mesmos locais que cadáveres da Segunda Guerra tinham sido encontrados, afirmou o diretor da entidade, Leonid Ignatiev.

“Quando nós cavamos” à procura de corpos de soldados mortos recentemente, afirmou ele, “nós encontramos trincheiras da Segunda Guerra”.

Próximo à cidade de Novi Kamenki, na região de Kherson, o grupo procurava recentemente um soldado ucraniano desaparecido em combate, mas acabou encontrando a ossada de um soldado alemão, afirmou Ignatiev. Os ossos foram enviados para sepultamento em um cemitério destinado a alemães mortos em combate na Ucrânia.

“Os terrenos elevados e as posições para instalação de defesas são os mesmos”, afirmou Ignatiev.

Zaporizhzhia, uma grande cidade industrial à margem do Reservatório de Kakhovka, que se esvazia, foi ocupada por forças nazistas na Segunda Guerra é uma das atuais linhas de frente, onde sirenes de alerta para ataques aéreos soam várias vezes ao dia e mísseis russos explodem ocasionalmente.

Mas quando a água retrocedeu após o rompimento da represa em relação às margens originais, diante da cidade, foram projéteis não detonados que representaram a pior ameaça. O serviço de emergência da Ucrânia afirmou que os bancos de areia e as novas ilhas que emergiram no leito do reservatório “se revelaram surpreendentemente abarrotados de artefatos explosivos da  Segunda Guerra”, informou a agência.

Shkalikov, o piloto de tanques, que vive a uma curta caminhada de distância do leito exposto da represa, combateu no início da contraofensiva ucraniana em campos a sudeste da cidade. Depois que seu tanque atingiu uma mina, ele foi dispensado da unidade, voltou para casa e começou a explorar o fundo do lago seco. Encontrar a suástica emergindo da água, afirmou ele, “não me surpreendeu absolutamente”. Décadas separam as guerras, mas “a paisagem natural não mudou”, afirmou ele. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

terça-feira, 18 de julho de 2023

Vidas Paralelas? Os processos de integração da América Latina comparados com os esquemas da Ásia Pacífico (2015) - Paulo Roberto de Almeida

 Um trabalho inédito, feito em 2015, antes que o TPP fosse confirmado, e antes de muitos outros desenvolvimentos nas duas regiões: 

Vidas Paralelas? Os processos de integração da América Latina comparados com os esquemas da Ásia Pacífico

Parallel lives? Regional integration processes in Latin America compared to the schemes in the Asia Pacific region.

 

Paulo Roberto de Almeida (2015)

 

Resumo: Ensaio sobre os processos de integração regional na América Latina e na região da Ásia Pacífico, em caráter comparativo e em perspectiva histórica. Examina as diferentes modalidades e esquemas de integração, em ambas as regiões, com destaque para os experimentos de áreas preferenciais de comércio – bem mais disseminados na região asiática – e de livre comércio ou de união aduaneira, sucessivamente tentados na América Latina, mas não conduzidos até sua implementação completa. Contrasta as políticas econômicas – macro e setoriais – aplicadas em cada uma das regiões, destacando o caráter mais aberto ao comércio internacional e aos investimentos estrangeiros no Pacífico asiático e a natureza mais introvertida, ou protecionista, com maior grau de dirigismo econômico, dos esquemas existentes na região latino-americana. Observa que, desde os anos 1960 se operou uma notável inversão de inserção econômica internacional de cada uma das duas regiões, uma vez que as perspectivas relativamente favoráveis existentes para a América Latina até os anos 1970 foram finalmente transferidas para a região asiática, que se inseriu de modo mais completo na economia mundial.

Palavras-chave: Integração regional. América Latina. Ásia Pacífico. Avaliação.

 

Abstract: Analytical essay dealing with the regional integration processes in Latin America and in the Asia Pacific regions, in historical perspective and with a comparative approach. Attempts an evaluation of the various modalities of the integration schemes, from more simple forms, as the preferential trade areas – more common in the Asia Pacific region – to the more complex free trade zones or customs unions, in implementation, albeit not completely, in the Latin American region. Compare and assess their differing economic policies – both macroeconomic and sectorial – and stress the more open features of the Asia experiments, integrated into the world trade and foreign investment flows, in contrast with the more introverted and protectionist nature of the Latin American experiments, characterized by various degrees of economic intervention by the States. A final observation can be made as to the clear inversion of the roles and respective places of the two regions in the world economy, from the early 1960s to our days, since the more favorable perspectives of Latin America seem to be transferred to the Asia Pacific region, where a deeper integration into the international productive networks is being operated. 

Kew words: Regional integration. Latin America. Asia Pacific. Assessment.

 

Ler a íntegra aqui: 

https://www.academia.edu/104708639/2796_Vidas_Paralelas_Os_processos_de_integra%C3%A7%C3%A3o_da_Am%C3%A9rica_Latina_comparados_com_os_esquemas_da_%C3%81sia_Pac%C3%ADfico_2015_

A torturante e difícil, mais do que isso, incerta e duvidosa, redemocratização da Venezuela chavista - Nota do Itamaraty

 A linguagem é suficientemente ambígua para permitir à ditadura venezuelana a continuar abusando de seu arbítrio para afastar qualquer possibilidade de eleições verdadeiramente livre no país caribenho.

Ministério das Relações Exteriores

Assessoria Especial de Comunicação Social 

Nota nº 301

18 de julho de 2023

 

Declaração Conjunta relativa à situação na Venezuela - Bruxelas, 18 de julho de 2023

Paralelamente à Terceira Cúpula de Líderes da União Europeia e da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), o presidente da República Francesa, Emmanuel Macron, o presidente da República Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente da República da Colômbia, Gustavo Petro, o presidente da República Argentina, Alberto Fernandez, e o alto representante da União Europeia para Relações Exteriores e Política de Segurança, Josep Borrell, reuniram-se com Delcy Rodriguez, vice-presidenta do Governo da República Bolivariana da Venezuela, e Gerardo Blyde, negociador-chefe da Plataforma Unitária da oposição venezuelana. Essa iniciativa dá seguimento ao debate sobre a situação na Venezuela, organizado pelo presidente da República Francesa no Fórum pela Paz de Paris, em novembro de 2022.

Os presidentes da Argentina, Brasil, Colômbia e França, assim como o alto representante, expressaram sua solidariedade com os países que acolhem cidadãos venezuelanos que deixaram seu país. Eles saudaram a assinatura na Cidade do México de um acordo social inter-venezuelano, em 26 de novembro de 2022, e solicitaram sua implementação efetiva o mais rapidamente possível, em prol do povo venezuelano.

Os chefes de Estado e o alto representante instaram o governo venezuelano e a plataforma unitária da oposição venezuelana a retomar o diálogo e a negociação no âmbito do processo do México, com o objetivo de chegarem a um acordo, entre outros pontos da agenda, sobre as condições para as próximas eleições. Eles fizeram um apelo em prol de uma negociação política que leve à organização de eleições justas para todos, transparentes e inclusivas, que permitam a participação de todos que desejem, de acordo com a lei e os tratados internacionais em vigor, com acompanhamento internacional. Esse processo deve ser acompanhado de uma suspensão das sanções, de todos os tipos, com vistas à sua suspensão completa.

Os chefes de Estado e o alto representante concordaram que o relançamento das relações entre a UE e a CELAC representa uma oportunidade de trabalhar em conjunto em prol da resolução da situação venezuelana. Eles propuseram que os participantes da reunião continuem a dialogar, no marco das iniciativas estabelecidas, de forma a fazer um novo balanço no Fórum de Paz de Paris em 11 de novembro de 2023.

 

[Nota publicada em: https://www.gov.br/mre/pt-br/canais_atendimento/imprensa/notas-a-imprensa/resultado-do-primeiro-turno-das-eleicoes-na-guatemala]

segunda-feira, 17 de julho de 2023

Um livro em preparação: Gilberto Freyre sobre o longo século XIX, de André Heráclio do Rego - Prefácio de Paulo Roberto de Almeida

Acabo de colocar um ponto final no meu prefácio a este livro de meu colega e amigo, historiador pernambucano André Heráclio do Rego, do qual transcrevo apenas os primeiros parágrafos. O restante virá quando o livro for publicado...

Paulo Roberto de Almeida

ENTRE O IMPÉRIO E A REPÚBLICA

O SÉCULO XIX NA OBRA DE GILBERTO FREYRE

André Heráclio do Rêgo

            (Edição de Autor)


ÍNDICE

 Prefácio: Gilberto Freyre, um intelectual na longa duração, 5

       Paulo Roberto de Almeida                                                                                

Introdução, 11

Capítulo 1 – O Movimento da Independência, 33

Capítulo 2 – O processo revolucionário,  51

Capítulo 3 – As singularidades da Monarquia,  83

Capítulo 4 - Monarquia e República: continuidade e ruptura,  97

Capítulo 5 – O Império e a unidade nacional,  117

Capítulo 6 – O Oriente no Novo Mundo. Os três primeiros séculos da formação brasileira, 129

Capítulo 7 – Oriente X Ocidente: a Monarquia e a reeuropeização do Brasil no século XIX, 139

Considerações e sugestões,  149

Obras de Gilberto Freyre utilizadas,  163

Referências bibliográficas, 167 


Prefácio

Gilberto Freyre, um intelectual na longa duração

 

O presente livro de André Heráclio do Rêgo constitui um notável esforço de síntese interpretativa sobre um dos autores mais fecundos do pensamento social brasileiro. Junto com Manoel de Oliveira Lima e Manoel Bomfim, Gilberto Freyre foi um dos primeiros historiadores sociais do Brasil. Na verdade, ele foi bem mais do que isso: antropólogo de formação, tendo estudado com Franz Boas, na Universidade de Columbia (NY), ele veio a empreender um levantamento da cultura material e humana do Brasil colonial e imperial, compreendendo não apenas a sua análise da Casa Grande e [da] Senzala, o título de sua primeira grande obra (1933), como também tratou amplamente da miscigenação geral do povo brasileiro a partir de suas fontes étnicas, dos aportes estrangeiros à cultura material e espiritual, assim como da lenta emergência, a partir da sociedade patriarcal, de formações urbanas ao longo da costa atlântica e no interior próximo, tal como refletida em Sobrados e Mucambos (1936) e no seu outro clássico, Ordem e Progresso (1959). O extenso subtítulo dessa terceira grande obra, em 2 volumes, revela, aliás, a extensão de seu trabalho analítico: “Processo de desintegração da sociedade patriarcal e semipatriarcal no Brasil sob o regime de trabalho livre: aspectos de um quase meio século de transição do trabalho escravo para o trabalho livre; e da Monarquia para a República”. 

Gilberto Freyre antecipou, de certa forma, a famosa escola francesa dos Annales, com sua forte ênfase no cotidiano das famílias, nos costumes do povinho miúdo, na alimentação e nas técnicas do trabalho humano. Mais de um acadêmico francês em estágio universitário no Brasil dos anos 1930 e 40, na recém fundada Universidade de São Paulo por exemplo, se declarou pronto a reconhecer certa dívida interpretativa em relação ao “mestre de Apipucos”, sua residência e escritório de trabalho no Recife senhorial. Os métodos e os grandes temas da nova historiografia francesa, em pleno florescimento nos anos seguintes à Segunda Guerra, já estavam presentes na obra de Freyre desde duas décadas antes, como facilmente constatável.

(...)

Segue por 3 páginas...


Guerra na Ucrânia gera impasse em cúpula entre Europa e América Latina -Jamil Chade (UOL)

Vamos ser claros: o Brasil, como principal país, mas também os autoritários conhecidos (Cuba, Venezuela, Nicarágua), não  querem de nenhuma forma descontentar o criminoso de guerra Putin. Sabemos os motivos, por parte das três ditaduras. Mas a oposição do Brasil é mais escandalosa, pois que partindo de um país supostamente democrático, mas com um governo atualmente amigo de ditaduras, especialmente das duas do Brics.

Paulo Roberto de Almeida

Guerra na Ucrânia gera impasse em cúpula entre Europa e América Latina

Prospects for the EU–Latin America strategic partnership - Irene Mia (IISS)

 Prospects for the EU–Latin America strategic partnership

Brussels, in search of trade opportunities, access to critical minerals and partners in environmental diplomacy, is pursuing closer relations with Latin America, and the upcoming EU–CELAC summit will offer clues about the direction of this bi-regional relationship.

The European Union and the Community of Latin American and Caribbean States (CELAC), a regional coordination forum, will hold a summit on 17–18 July in Brussels after an eight-year hiatus. The event will be the culmination of a recent diplomatic push by the EU that has included repeated visits by dignitaries to Latin America, multiple statements from Brussels on the region’s ‘strategic priority’, and the adoption of roadmaps for strengthening ties, most recently including ‘a new agenda’ for bi-regional relations, released in June by the European Commission and Josep Borrell, the EU’s high representative for foreign affairs. Last year, Borrell stated that 2023 should be ‘the year of Latin America in Europe and of Europe in Latin America’.

The EU and the countries of Latin America and the Caribbean held an initial summit in 1999 in Brazil and established a ‘strategic partnership’, but it was never fully operationalised. Recent global shocks, including the coronavirus pandemic, the war in Ukraine and the acceleration of the climate crisis have made more urgent the need to do so. The EU’s renewed interest in engaging with Latin America stems from its desire to diversify trade flows, secure access to critical minerals for the energy transition and to align on climate mitigation and other global issues. Brussels is also interested in greater cooperation over the global narcotics trade, given that cocaine shipments from Latin America to the EU have increased in recent years alongside a surge in European use of the drug.

Opportunities

The EU–CELAC summit is in many ways well-timed. Brussels is interested in finalising key trade deals with Latin America, including modernised economic agreements with Chile and Mexico, as well as the long-debated and strategically important EU–Mercosur association agreement (including Argentina, Brazil, Paraguay and Uruguay). The EU is already a significant geo-economic actor in the region – in recent years it has been the largest provider of development assistance, the third-largest trading partner and the largest source of foreign direct investment in the region – which provides leverage in negotiations and a solid foundation for future engagement.

Additionally, Latin America’s experience of the coronavirus pandemic was disastrous, leaving it poorer and more unequal, with decreased fiscal space to respond to challenges and anaemic growth prospects. Thus, countries in the region should be eager to draw closer to economic partners willing to support their efforts to boost national productivity and diversify their economies. China has invested significantly in the region in recent years, but the EU is probably a better partner for supporting technology transfer and job creation.

Latin America’s lithium reserves are a case in point: enacting a long-term strategy focusing on supply-chain development rather than resource extraction would significantly improve the region’s economic prospects. German Chancellor Olaf Scholz, in a trip to Argentina, Brazil and Chile that began in late January, highlighted his country’s willingness to partner on mining and green hydrogen, using high environmental, social and corporate-governance standards and creating local jobs.

A window of opportunity will open in July, with Spain and Brazil taking charge of the Council of the EU and Mercosur, respectively. Spain has been among the strongest advocates of EU engagement with Latin America and will assign high priority to operationalising the bi-regional strategic partnership. Brazil has the most economic weight in the Mercosur bloc, and its leader, President Luiz Inácio ‘Lula’ da Silva, is an apt negotiator and a credible interlocutor for the EU on deforestation issues, given his strong environmental credentials.

Bottlenecks

The EU faces several obstacles to deepening cooperation with Latin America. The EU–Mercosur association agreement remains hostage to disparate environmental and protectionist concerns. While Lula’s election in Brazil seemed to have assuaged some European reservations, the Mercosur bloc opposed the recent request by Brussels for a joint interpretative instrument to be signed alongside the trade deal that would have included agreements and binding measures on deforestation. Lula delivered this message and also raised the prospect of reopening negotiations on matters related to industrial policy and procurement. This dispute could delay or prevent finalisation of the deal, which, in turn, would deal a fatal blow to the budding strategic partnership. This would open the door to China’s overtures to Mercosur (through Uruguay) and make the Chinese partnership model – featuring few if any strings attached – look more attractive.

These issues add to the mechanical difficulty of negotiations involving two regional blocs comprising 60 countries in total. CELAC, as a coordination forum with no legal personality, has no authority to speak on behalf of Latin America. In addition, EU law regards any agreement that extends beyond trade or monetary policy to be ‘mixed’, meaning that it must be approved both by both Brussels and all member states individually. This means that talks have featured multiple tracks and at multiple levels – national, subregional and regional – which is slowing progress.

Lastly, domestic factors could intercede. In May, Spain’s government unexpectedly called snap general elections to occur in July, roughly three weeks after Madrid is set to assume the rotational presidency of the Council of the EU. Argentina, meanwhile, will hold general elections in October. These elections could prove significant, particularly if the incumbents lose. And in Brazil, the opposition-dominated Congress is attempting to water down Lula’s green policies in the Amazon and will probably oppose any attempt to agree to extra environmental guarantees demanded by the EU as part of the Mercosur negotiations.

Reasons for optimism

The EU can argue that despite the obstacles to closer cooperation, it has proven a reliable partner in the past in terms of investment, trade and development assistance. Its trade-led diplomacy is also appealing in a region wary of external meddling and resistant to siding with the United States against China. EU engagement with the region, relative to Washington, has been traditionally more inclusive and constructive, notably with respect to Cuba and Venezuela.

Europe’s growing cocaine problem means that finding durable solutions to international drug trafficking has moved up on the EU’s agenda. The EU’s nuanced approach to the issue – which addresses the demand for drugs and the root causes of addiction and features a willingness to experiment with drug legalisation – resonates in Latin America, where there is widespread frustration with the hardline ‘war on drug’ paradigm advanced by the US. Latin American countries may thus come to see the EU as an important ally in exploring alternative approaches and for lobbying for changes on how drug trafficking is handled in international fora.

It is unclear whether the upcoming EU–CELAC summit will deliver clear results to operationalise a strategic partnership that is now almost 25 years old, or whether notable progress will be made towards finalising the EU–Mercosur agreement. In the medium term, however, deeper bi-regional cooperation appears inevitable, given existing complementarities related to trade and economic security, and the desire on both sides to develop geopolitical and geo-economic links sidestepping the US–China rivalry.

O esmagamento da direita civilizada e a ascensão desinibida da extrema direita - Paulo Roberto de Almeida (Insight Inteligência)

 A extrema-direita ascendeu, desde 2013, teve seu momento de "glória" no desgoverno Bolsonaro, e aparentemente vai declinar novamente, deixando poucos representantes ativos e uma possível reorganização da direita "normal". Não sei se minhas observações, feitas no final do ano passado, ainda se mantêm. Em todo caso, aqui está a ficha completa do trabalho: 

4265. “A caixa de Pandora da política brasileira: ocorreu um esmagamento da direita tradicional e uma ascensão da extrema-direita?”, Brasília, 11 novembro 2022, 16 p. Artigo para a revista Insight Inteligência, a pedido de seu editor, Christian Lynch. Publicado sob o título: “O esmagamento da direita civilizada e a ascensão desinibida da extrema direita”, revista Insight Inteligência (ano. xxv, n. 99, janeiro de2023, p. 34-48; ISSN: 1517-6940; disponível no link: https://inteligencia.insightnet.com.br/o-esmagamento-da-direita-civilizada-e-a-ascensao-desinibida-da-extrema-direita/); divulgado na plataforma Academia.edu (https://www.academia.edu/104637827/A_caixa_de_Pandora_da_pol%C3%ADtica_brasileira_ocorreu_um_esmagamento_da_direita_tradicional_e_uma_ascens%C3%A3o_da_extrema_direita_2023_). Relação de Publicados n. 1489.


A caixa de Pandora da política brasileira: ocorreu um esmagamento da direita tradicional e uma ascensão da extrema-direita?

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

Artigo para a revista Insight Inteligência; publicado sob o título “O esmagamento da direita civilizada e a ascensão desinibida da extrema direita”, revista Insight Inteligência (ano. xxv, n. 99, janeiro de 2023, p. 34-48; ISSN: 1517-6940; disponível no link: https://inteligencia.insightnet.com.br/o-esmagamento-da-direita-civilizada-e-a-ascensao-desinibida-da-extrema-direita/). Relação de Originais n. 4265.

 

 

Da hegemonia da esquerda à discutível hegemonia da extrema-direita

A ditadura militar durou quase 21 anos completos, de abril de 1964 a março de 1985. Na literatura brasileira a seu respeito, ela é geralmente considerada como sendo de direita, ou mesmo de extrema-direita. Sim, ela continha sua cota de fascistas, direitistas extremados e até alguns sobreviventes reais e virtuais das ditaduras do entre guerras. Muitos brasilianistas, no entanto, acreditam que se tratou de um regime autoritário modernizador, tecnocrático, nacionalista e oficialmente anticomunista, ainda que parte dos militares não partilhava do entusiasmo e da admiração de muitos dos seus colegas pela grande potência americana. O fato é que muitos comunistas estavam integrados aos seus aparelhos do Estado, em funções políticas, culturais, inclusive nas de planejamento econômico. O que os militares e seus tecnocratas fizeram, em termos de intervenção na economia e de promoção do crescimento, pode ser equiparado a uma espécie de “stalinismo industrial”, isto é, a industrialização num só país, dada a sua pretensão, basicamente nacionalista e introvertida, de consolidar um grande mercado interno, a despeito da orientação exportadora e da boa recepção ao investimento estrangeiro. 

Ao final do regime, um terço da economia brasileira se encontrava, de uma forma ou de outra, sob o comando ou sob a influência do Estado, direta ou indiretamente, com centenas de empresas estatais dominando o volume de investimentos produtivos; praticamente 95% da oferta interna era inteiramente “made in Brasil”, e o coeficiente de abertura externa era um dos mais baixos na média mundial das economias de mercado. Esse foi o regime militar “de direita”, que, a despeito da doutrina oficial, mantinha diversas divergências com o principal líder do bloco mundial anticomunista, e não apenas no plano da política externa, dado o alegado terceiro-mundismo da sua diplomacia. No plano interno, a alegada influência de “esquerdistas” no quarto mandato dos generais desse regime “de direita” motivou, em 1977, uma tentativa de golpe de Estado dentro do golpe militar: a do general Sylvio Frota, ministro do Exército, contra o seu chefe, o presidente “prussiano” Ernesto Geisel.

Vinte e um anos após o final do regime militar, ou seja, em 2006, a hegemonia da esquerda parecia completa, com a reeleição praticamente tranquila do seu principal líder, o presidente do país e presidente de honra do Partido dos Trabalhadores. Os companheiros, que partilhavam com os militares a orientação intervencionista e introvertida na economia, se instalaram em praticamente todos os “aparelhos do Estado”, e assim ficaram pelos dez anos seguintes, a despeito de turbulências já no início do quarto mandato do partido, com manifestações de rua a propósito da imensa corrupção revelada pela Operação Lava Jato, também açuladas pela maior recessão da história econômica nacional, com desemprego nas alturas e um déficit excepcional no orçamento público. Um impeachment foi aprovado, não exatamente pelos crimes orçamentários e contra a Lei de Responsabilidade Fiscal praticados pela mandatária, e mais pelos seus desentendimentos com o corpo congressual, o que motivou um imenso clamor da esquerda, inclusive em nível internacional, a propósito do “golpe” da “direita” praticado contra o regime do PT.

O termo “regime” não é despropositado nesse contexto, pois que os três mandatos e meio do partido, entre 2003 e meados de 2016, estiveram efetivamente sob a hegemonia do PT, ainda que este tenha recorrido aos aliados eventuais na direita para garantir a sua base congressual. Tal se deu em meio à promiscuidade que seus principais líderes mantinham com políticos supostamente de direita – o famoso Centrão, um amálgama parlamentar de contornos indefinidos –, como forma de preservar em bases relativamente equilibradas a chantagem recíproca que sempre exerceram um contra o outro o Executivo e o Legislativo. O Judiciário intervinha pouco na política, nesses tempos de hegemonia da esquerda, ainda que tenha facilitado a fragmentação extrema do sistema político-partidário e induzido o Congresso a aumentar exageradamente a extração predatória dos recursos públicos ao restringir o financiamento privado de campanhas eleitorais. A resposta dos políticos foi a criação do Fundo Eleitoral, ao lado do já lamentável Fundo Partidário, o principal instrumento de criação de partidos de aluguel, uma pletora de legendas sem qualquer base social ou eleitoral, sobrevivendo apenas graças ao cartorialismo da legislação.

Vinte anos depois da ascensão ao poder das forças de esquerda e seis anos após sua derrocada pelo “golpe parlamentar” do impeachment, a hegemonia política parece ter retornado a estas últimas, pelo menos no plano presidencial. Mas, as eleições para o corpo congressual parecem ter assegurado um predomínio da direita e mesmo da extrema-direita. Esta é a suposição contida no subtítulo deste ensaio, sugerida pelo editor desta revista, ainda que seu autor não partilhe inteiramente dos fundamentos de tal argumento, o que é revelado pelo seu título, alusivo a um famoso mito sobre a abertura de uma caixa misteriosa contendo todo tipo de boas e, sobretudo, más surpresas. 

Dentre os motivos desta discordância podem ser citadas evidências quanto à diversidade das direitas no Brasil – assim como como das esquerdas –, assim como a necessidade de se distinguir, numa análise de corte histórico-analítico, elementos estruturais e históricos respondendo pelo conservadorismo quase genético da política brasileira de elementos conjunturais e episódicos que podem explicar inclinações tímidas à social democracia e à esquerda em determinadas fases da vida nacional; caberia considerar, igualmente, a influência de fatores externos sobre a evolução recente da política nacional, notadamente por meio de impulsos conservadores, e até reacionários, vindos de alas nacionalistas e populistas presentes em diversos países, em especial nos Estados Unidos, de onde surgiu a proposta de uma Internacional Conservadora, com representantes designados no Brasil, justamente no próprio núcleo familiar do poder. 

O relativo sucesso dessa corrente, mais superficial do que real, foi reforçado pelo surpreendente grau de adesão popular logrado por um político medíocre, sem qualquer capacidade de liderança efetiva sobre as principais forças políticas da nação; ele foi alçado ao pináculo do poder por uma conjunção específica de fatores, não necessariamente de base estrutural ou sistêmica, mas respondendo, provavelmente, à hegemonia anterior das esquerdas e ao seu impacto sobre as forças profundas das sociedade brasileira. Tal conjunção envolveu protagonistas militares e lideranças religiosas e civis (empresariais e políticas) e uma inédita aceitação pelas camadas médias do eleitorado de consignas ideológicas anteriormente marginais no espectro político nacional, talvez em reação aos exageros retóricos e materiais praticados nos três lustros de discursos e práticas esquerdistas no plano da política nacional. 

A história do Brasil, no Império e na República, revela uma dominação quase eterna da política nacional por forças de direita, com alguns poucos sobressaltos progressistas, mas bastante espaçados. Nesse sentido, não seria inédita essa nova concentração de votos em candidatos conservadores, numa das eleições mais polarizadas em todo o itinerário da República. Parece duvidoso, porém, que o essencial da representação parlamentar e executiva (no caso dos governadores) eleita em outubro de 2022 seja identificada com uma extrema-direita estruturada e organizada organicamente, ainda que muitos se dediquem a divulgar esse mito. O presente ensaio pretende desmentir esse argumento, com base num retrospecto da história política nacional, e num exame circunspecto da conjuntura atual.

 

O mito e o Mito

Caixa de Pandora é um mito grego, dentre dezenas de outros, que pretende sinalizar a ocorrência de desgraças naturais ou de desastres derivados dos comportamentos humanos. De forma inesperada, uma novidade misteriosa, inopinadamente liberta do receptáculo original, espalha todas as desgraças que podem acometer a humanidade: doenças, guerras, mentiras, ódio, etc. Também havia uma única bondade, a esperança, que acabou ficando encerrada na caixa quando Pandora tentou conter os malefícios que acabara de liberar. 

(...)


Ler o texto completo do artigo nestes links: 

Revista Insight Inteligência: 

 https://inteligencia.insightnet.com.br/o-esmagamento-da-direita-civilizada-e-a-ascensao-desinibida-da-extrema-direita/

Academia.edu:     https://www.academia.edu/104637827/A_caixa_de_Pandora_da_pol%C3%ADtica_brasileira_ocorreu_um_esmagamento_da_direita_tradicional_e_uma_ascens%C3%A3o_da_extrema_direita_2023_


domingo, 16 de julho de 2023

Desafios atuais, passados e futuros, da humanidade, e do Brasil - Paulo Roberto de Almeida

Desafios atuais, passados e futuros, da humanidade, e do Brasil  

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre os principais problemas do mundo, e do Brasil e sobre os caminhos para sua solução. 

 

Desafios atuais, passados e futuros, da humanidade, e do Brasil: 

1) Desenvolvimento econômico e social equilibrado;

2) Justiça social e redução das desigualdades inaceitáveis, sobretudo as de oportunidade;

3) Sustentabilidade ambiental (este é relativamente novo, mas já entrou na agenda comum de praticamente todos os povos);

4) Paz e segurança, nacional e internacional.

 

Como enfrentar esses desafios?

Depois de muitas tentativas frustradas, algumas poucas bem-sucedidas, e ainda muita pobreza, injustiça, desigualdades, destruição do meio ambiente e extinções de espécies, assim como conflitos intra e entre Estados, guerras civis, opressão por motivos étnicos, religiosos ou políticos, a humanidade descobre que tem basicamente dois caminhos gerais a serem percorridos:

1) Liberdade de iniciativa, propriedade privada, garantia de segurança e justiça por um Estado apenas organizador das relações sociais, no quadro de regimes políticos baseados em amplas liberdades individuais, representação política igualitária e proteção garantida dos direitos humanos, assim como respeito à autonomia dos povos e não intervenção nos assuntos internos de outros Estados;

2) Sistemas centralizadores, estatizantes, geralmente autoritários, pois que baseados no controle dos cidadãos pelos que detêm o poder (isto é, o monopólio da força física), teoricamente baseados em princípios igualitários, mas na prática fundados na dominação de um grupo, partido ou movimento sobre toda a sociedade.

 

Conclusão tentativa:

Com base nos argumentos acima, e olhando por alto sobre como se organizam os diversos povos e Estados existentes ao longo da História, pode-se extrair algumas conclusões sobre quais seriam os caminhos preferíveis para responder aos desafios enumerados no primeiro parágrafo.

Não é apenas uma questão de sorte, mas é claro e visível que, olhando o mapa do mundo, pode-se concluir que alguns povos tiveram mais "sorte" do que outros, ao viverem em democracias de mercado, baseados no respeito pleno a todas as liberdades e aos direitos humanos, assim como na preservação de um ambiente sustentável para o pleno florescimento da cultura e da civilidade.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4437, 16 julho 2023, 2 p.

 

Eleição do Brasil para a presidência do Grupo de Supridores Nucleares - Nota do Itamaraty

 Nota do Itamaraty nº 288

14 de julho de 2023

 

Eleição do Brasil para a presidência do Grupo 

de Supridores Nucleares

O governo brasileiro acolheu, com grande satisfação, a eleição hoje, 14 de julho, em Buenos Aires, por unanimidade, da Embaixadora brasileira Claudia Vieira Santos para presidir o Grupo de Supridores Nucleares (NSG, em inglês), no período 2023-24.

O NSG é um regime informal de controle de exportações constituído para promover a coordenação de políticas nacionais de seus 48 governos participantes no controle de transferência de bens e tecnologias sensíveis na área nuclear, com o objetivo de garantir que sejam usadas para fins exclusivamente pacíficos.

Será a segunda vez que o Brasil presidirá o NSG. Ao final do atual mandato, em julho de 2024, será realizada, no Brasil, a 33ª Reunião Plenária do NSG.

A eleição do Brasil para presidir o NSG confirma suas credenciais no controle de exportações de bens sensíveis e de uso dual, que, se desviados dos fins exclusivamente pacíficos, podem contribuir para a proliferação de armas de destruição em massa.

[Nota publicada em: https://www.gov.br/mre/pt-br/canais_atendimento/imprensa/notas-a-imprensa/eleicao-do-brasil-para-a-presidencia-do-nsg]