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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

A guerra de Lula -- Editorial Estadão

 Um editorial muito importante para ser lido apenas uma vez:

A guerra de Lula - Editorial Estadão

 A guerra de Lula

Estadão.com.br, 21 de fevereiro de 2024

O presidente Lula da Silva parece ter declarado guerra ao Ocidente. Uma guerra imaginária, claro, mas nesse delírio o petista pretende posicionar o Brasil na vanguarda da luta contra tudo o que simboliza os valores ocidentais - tendo como companheiros de armas um punhado de notórias ditaduras, como China, Rússia, Irã e Venezuela.

A irresponsável declaração de Lula sobre Israel, comparando a campanha israelense contra os terroristas do Hamas ao Holocausto, está perfeitamente alinhada a esse empreendimento ideológico. Não foi, portanto, fortuita nem acidental.

Lula parece empenhado em usar seu terceiro mandato para lançar-se como líder político do tal "Sul Global", uma espécie de aggiornamento do "Terceiro Mundo" dos tempos da guerra fria. Nessa nova ordem, as características distintivas do Ocidente - democracia, economia de mercado e globalização - são confrontadas por regimes autocráticos que buscam reviver o modelo que põe o Estado e a soberania nacional em primeiro lugar, à custa das liberdades individuais, direitos humanos e valores universais, denunciados como armas retóricas das democracias liberais para perpetuar sua supremacia.

No confronto Ocidente-Oriente, a geopolítica e a segurança nacional prevalecem sobre a economia e a globalização. A geopolítica multilateral do pós-guerra se fragmenta em arranjos insuficientes para as necessidades de cooperação ante desafios globais, como mudanças climáticas, pandemias, terrorismo e guerras.

O Brasil não está imune a essas incertezas, mas, comparativamente, tem vantagens. Suas dimensões, sua democracia multiétnica e pacífica e sua economia relativamente industrializada e diversificada o tornam uma potência regional. Seus recursos o colocam numa posição-chave para equacionar o tripé do desenvolvimento sustentável global: segurança alimentar, energética e ambiental.

Nessas águas turvas e tumultuosas, sem grandes instrumentos de poder, o País precisa, para defender interesses nacionais e promover os globais, de sutileza, inteligência e credibilidade. Felizmente, conta com uma tradição diplomática consagrada nos princípios constitucionais do respeito aos direitos humanos, à democracia e à ordem baseada em regras, e corporificada nos quadros técnicos do Itamaraty.

Mas esse capital está sendo dilapidado pela diplomacia sectária do presidente Lula da Silva. Lula já disse que a democracia é relativa. Mas sua política externa é definida por um princípio absoluto: a hostilidade ao Ocidente (o "Norte", os "ricos") e o alinhamento automático a tudo o que lhe é antagônico.

Sua passagem pela África foi um microcosmo desse estado de coisas. Interesses econômicos foram tratados de forma ligeira. Em entrevista, ele se evadiu de cobrar a Rússia e a Venezuela por sua truculência autocrática, ao mesmo tempo que insultou judeus de todo o mundo ao atribuir a Israel práticas comparáveis às dos nazistas.

Seja em conflitos onde o País teria força e autoridade para atuar, como os da América Latina, seja naqueles nos quais não tem força, Lula se alinha ao que há de mais retrógrado e autoritário. Abrindo mão de sua neutralidade, o País se desqualifica como potencial mediador. O Brasil poderia promover seus interesses econômicos e pontos de cooperação com a Eurásia sem prejuízo da defesa de valores civilizacionais comuns ao Ocidente. Mas Lula sacrifica os últimos sem nenhum ganho em relação aos primeiros. Em sua ânsia de se autopromover como líder global dos "pobres" contra os "ricos", reduziu a máquina do Itamaraty a linha auxiliar de sua ideologia maniqueísta e seu voluntarismo narcisista.

A "frente ampla democrática" propagandeada na campanha eleitoral deveria ter sido projetada para as relações internacionais. Mas também aqui ela se mostrou uma fantasia eivada de sectarismo ideológico - arrastando consigo o Brasil, obliterando suas oportunidades de integração econômica e prejudicando possibilidades de cooperação pela promoção da paz, da democracia, dos direitos humanos e das liberdades fundamentais que a Constituição traçou como norte da diplomacia nacional.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Luiz Jorge Werneck Vianna, obituários (enviados por Maurício David)

 O diabo anda solto... Só nesta semana 3 grandes intelectuais ( Affonso Celso Pastore, Mauro Boyanovsky e Werneck Vianna) foram retirados do nosso convívio intelectual... O que nos restará se não revisitar as suas contribuições para a interpretação do nosso Brasil contemporâneo ? Do Werneck (como chamávamos os seus amigos e companheiros de luta...) guardo a convivência no exílio no Chile, apesar de ter sido um período em que êle passou por muitas dificuldades de adaptação (tanto que resolveu voltar abruptamente ao Brasil, o que o levou a ser preso tão logo chegou. Foi acolhido então por Francisco Weffort – que viria a ser Secretário Geral do PT e, posteriormente, Ministro da Cultura dos governos do Fernando Henrique, de quem era grande amigo,  e pelo próprio FHC, no CEBRAP). Werneck foi sempre um militante intelectual dedicado, um homem de Partido, sem perder jamais a ternura... Agora que se foi logo após a morte do Weffort e que o Fernando Henrique vive os seus momentos finais de vida, como seria bom que existisse uma vida após a morte (coisa de quer estou cada vez mais cético...) para que pudéssemos ter a esperança de trocar algumas idéias nos espaço celestial, caso houvesse uma vida futura...

Mauricio David


quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Luiz Carlos Azedo - Werneck Vianna, intérprete do Brasil contemporâneo 

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Correio Braziliense

Difusor do pensamento gramsciano no Brasil, produziu ensaios que servem de referência para o estudo do liberalismo, do Judiciário e da nossa modernização conservadora

O sociólogo carioca Luiz Jorge Werneck Vianna faleceu, nesta quarta-feira, aos 85 anos. Fez parte de uma geração de artistas e intelectuais que formou o pensamento crítico da esquerda brasileira nas décadas de 1960, 1970 e 1980, entre os quais, destacam-se Nelson Pereira dos Santos, Ruy Guerra, Joaquim Pedro, Walter Lima Jr., Zelito Viana, Luiz Carlos Barreto, Glauber Rocha, Leon Hirszman, Ferreira Gullar, Leon Amoedo, Tereza Aragão, Zuenir Ventura, Milton Temer, Norma Pereira Rego, Leandro Konder, Darwin Brandão, Marilia Kranz, Ziraldo, Jaguar, Albino Pinheiro, Ferdy Carneiro, Hélio Oiticica e Hugo Bidet, Hugo Carvana, Paulo Góes, Vergara, Carlinhos Oliveira, Zózimo Amaral, Tom Jobim, Carlos Lira, Vinicius do Moraes e Oduvaldo Viana Filho.

Residentes no Rio de Janeiro, em sua maioria, formavam a chamada República de Ipanema. Apesar da influência do antigo PCB no meio cultural carioca, muitos não eram comunistas e tinham profundas divergências com os militantes do setor cultural do velho Partidão, do qual Werneck fez parte. Com raízes familiares na aristocracia cafeeira fluminense, Werneck Vianna foi criado em Ipanema e estudou nos melhores colégios da Zona Sul carioca, mas teve trajetória rebelde, influenciado por autores como Monteiro Lobato, Eça de Queiroz, Fiódor Dostoiévski e Miguel de Cervantes.

Em 1958, ingressou na Faculdade de Direito da Universidade do Estado da Guanabara (atual Universidade do Estado do Rio de Janeiro/Uerj), concluindo o curso em 1962. Em 1967, graduou-se em ciências sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e, dois anos após, ingressou na primeira turma de mestrado do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj). Sua trajetória acadêmica, porém, foi interrompida na década de 1970, por cinco inquéritos policiais-militares, que o levaram a se exilar no Chile.

Retornou do exílio um ano após. Ao chegar, foi detido por seis meses. Acolhido em São Paulo por Francisco Weffort, seu orientador no doutorado em sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), começou a trabalhar no Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), fundado em 1969, com financiamento da Fundação Ford, por professores da Universidade de São Paulo (USP) afastados pelo regime militar, entre os quais, Boris Fausto, Elza Berquó, Fernando Henrique Cardoso, Francisco de Oliveira, José Arthur Giannotti, Octavio Ianni, Paul Singer e Roberto Schwarz.

Em 1974, com outros intelectuais que estudavam O Capital, de Karl Marx, como Leandro Konder e Carlos Nelson Coutinho, foi aluno de Anastacio Mansilla na Escola de Quadros do PCUS. No mesmo ano, de volta ao Brasil, foi um dos redatores do programa político do Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Em 1975, fugindo da repressão ao PCB em São Paulo, retornou ao Rio de Janeiro e, escondido na casa do dramaturgo Paulo Pontes, companheiro da época de CPC, escreveu sua tese de doutorado: Liberalismo e sindicato no Brasil (Paz e Terra, 1976).

Modernização autoritária

Por três décadas, Werneck foi professor do Iuperj e, durante o biênio 2003-2004, presidiu a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs). Encerrou sua carreira acadêmica como professor de sociologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Um dos grandes responsáveis pela difusão do pensamento gramsciano no Brasil, no rastro do jornalista Luiz Mario Gazzaneo, produziu ensaios que servem de referência para o estudo do pensamento social brasileiro, principalmente o liberalismo, do papel do Judiciário e da modernização do Brasil.

Destacam-se entre seus trabalhos, pela atualidade: A revolução passiva: iberismo e americanismo no Brasil (Revan, 1997); A judicialização da política e das relações sociais no Brasil, com Maria Alice Rezende de Carvalho, Manuel Palacios Cunha Melo e Marcelo Baumann Burgos (Revan, 1999); Esquerda brasileira e tradição republicana: estudos de conjuntura sobre a era FHC-Lula (Revan, 2006); Uma sociologia indignada — Diálogos com Luiz Werneck Vianna, de Rubem Barboza Filho e Fernando Perlatto (Ed. UFJF, 2012); Modernização sem o moderno: análise de conjuntura na era Lula (Contraponto/Fundação Astrojildo Pereira) e Diálogos gramscianos sobre o Brasil (Fundação Astrojildo Pereira, 2018).

Liberalismo e Sindicato no Brasil é um esforço de compreensão das profundezas da nossa “modernização conservadora”, no contexto das obras de Simon Schwartzman, Florestan Fernandes (1975) e José Murilo de Carvalho (1980). Estudou o liberalismo numa sociedade marcada pelo escravismo e pelo patrimonialismo. Sua tese de que a modernização brasileira não significava ruptura e/ou desaparecimento das elites tradicionais, mas a renovação dessas forças, continua atualíssima.

Segundo Werneck Vianna, numa sociedade excludente e autoritária, que não incorporou os valores liberais, o caminho da modernização foi o Direito e suas instituições, em meio a rupturas e negociações entre elites. Em síntese, a modernização brasileira ocorreu e ainda ocorre em meio a negociações entre o moderno e a cultura do atraso, sem rupturas com ele, mas em compromisso. Werneck condenou a luta armada e apostou na luta política pelas liberdades e na mobilização da sociedade civil durante o regime militar; após a redemocratização, na participação política radicalmente comprometida com a democracia representativa como valor universal.

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quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Morre aos 85 anos Luiz Werneck Vianna, referência na sociologia brasileira 

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Folha de S. Paulo

Referência nas ciências sociais do Brasil, acadêmico foi opositor da ditadura e um dos críticos iniciais da Lava Jato

SÃO PAULO e RIO DE JANEIRO - Morreu nesta quarta-feira (21) aos 85 anos Luiz Werneck Vianna, professor e ex-presidente da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais) e referência na sociologia brasileira.

O acadêmico foi autor de livros como "Liberalismo e Sindicato no Brasil" (1976), "Esquerda Brasileira e a Tradição Republicana" (2006) e a "A Judicialização da Política e das Relações Sociais no Brasil" (1999). Foi mestre em ciência política pelo Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro) e doutor em sociologia pela USP.

Também era graduado em direito e foi advogado de presos políticos durante a ditadura militar. Integrante do Partido Comunista Brasileiro nos anos 1960, o sociólogo teve que ir para a clandestinidade durante o período autoritário e passou um período exilado no Chile.

Vianna foi criado no bairro de Ipanema, na zona sul da cidade do Rio de Janeiro, e frequentou colégios de elite, mas dizia que sua família era de "de classe média, de recursos não abundantes, também não muito escassos".

Em depoimento a centro de pesquisa da FGV (Fundação Getúlio Vargas), falou sobre a aproximação no auge da ditadura de intelectuais com o MDB, que incluía a atuação de Fernando Henrique Cardoso, também acadêmico.

"Fizemos esse programa, que foi editado um livrinho vermelho: era o programa do MDB de 74 e fomos a uma reunião em Brasília", disse ele.

A eleição parlamentar de 1974 marcou um dos principais reveses da ditadura militar.

Também no depoimento, disse que conheceu o hoje presidente Lula também naquela época, em encontro de delegados sindicais. Dizia lamentar que os grupos políticos do petista e do tucano tivessem perdido conexão.

Werneck Vianna sempre se manteve atuante no debate político do país. Mais recentemente, em 2022, escreveu que Jair Bolsonaro representava o risco real de um "fascismo –tabajara, mas fascismo– que nos ronda desde os anos 1930, derrotado por duas vezes, em 1945 e 1985, mas nunca erradicado, entranhado como está em nossa história de modernização capitalista autoritária".

Também foi crítico em suas análises sobre a Operação Lava Jato desde os estágios iniciais da investigação, classificando as autoridades como "tenentes de toga" —em referência aos jovens militares da década de 1920.

As críticas de Vianna à Lava Jato levaram o colunista da Folha Elio Gaspari a escrever em dezembro de 2016: "Werneck sabe do que fala. Conhece a história da República e traçou o melhor retrato do Judiciário nacional no seu livro 'Corpo e Alma da Magistratura Brasileira'. Durante dez anos, ajudou a aperfeiçoar os conhecimento de toda uma geração de juízes e promotores como professor da Escola da Magistratura. Sua perplexidade diante do rumo tomado pelo conjunto de iniciativas derivadas da Operação Lava Jato reflete a ansiedade de um mestre diante do tenentismo togado".

A PUC do Rio de Janeiro, onde lecionou, publicou nota de pesar afirmando que ele foi um intelectual de "grande relevância para o campo da sociologia e para a comunidade acadêmica como um todo", deixando "'marca indelével na história do pensamento social do Brasil".

"Durante sua trajetória, contribuiu de forma significativa para o avanço do conhecimento científico e para o debate público, sempre pautado pela ética, pela integridade e pelo compromisso com a construção de uma sociedade mais justa e democrática."

O Hospital Copa D'Or informou que não tinha autorização para divulgar mais detalhes da morte.

A Anpocs, presidida pelo professor entre 2003 e 2004, disse que as obras dele se tornaram clássicas nos estudos sobre o país.

"Seu legado intelectual para as Ciências Sociais é inestimável, e seguirá inspirando reflexões sobre o Brasil do passado e do presente."

O Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo afirmou: "Werneck foi um dos cientistas sociais brasileiros mais importantes da sua geração. Nos seus mais variados trabalhos juntava uma perspectiva analítica e de intervenção".

"Perde a inteligência brasileira um dos seus mais ilustres representantes. Perdi um velho camarada e amigo. Meu profundo sentimento pelo falecimento do grande cidadão brasileiro, Luiz Werneck Vianna. Meus pêsames a família e seus amigos e amigas", escreveu o ex-deputado Roberto Freire, que presidiu o PCB e se tornou depois presidente do PPS, que viria a se tornar o Cidadania.

O deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) afirmou que o acadêmico "espalhou senso de justiça, ciência política comprometida com os explorados e inteligência crítica". "Cumpriu sua missão nessa vida. Fará falta nesses tempos de tanta indigência intelectual."

 

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quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Sociólogo Luiz Werneck Vianna morre no Rio 

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Valor Econômico

Professor da PUC, ele é autor de livros como 'Liberalismo e sindicato no Brasil'

O sociólogo Luiz Werneck Vianna morreu nessa quarta-feira (21), aos 86 anos. O sociólogo estava internado no Hospital Copa D'Or, que confirmou a morte por meio de nota e informou não ter autorização para divulgar mais detalhes.

Werneck nasceu no Rio em 1938 e se formou em direito na antiga Universidade do Estado da Guanabara, atual Uerj, em 1962. Depois, graduou-se em ciências sociais pela UFRJ, em 1967.

O sociólogo militou em movimentos comunistas e atuou no Centro Popular de Cultura. Em fins de 1970, no auge da repressão do regime militar, foi perseguido e exilou-se no Chile. Retornou um ano depois ao país e foi detido por seis meses.

No Brasil, publicou uma série de livros considerados fundamentais para a sociologia brasileira, como “Liberalismo e sindicato no Brasil”.

Werneck Vianna foi colunista do Valor entre 2010 e 2011, onde escrevia semanalmente às segundas-feiras, e fazia análises do cenário político do país.

O sociólogo atuou em mais de uma dezena de instituições universitárias pelo país. Atualmente, era professor da PUC-Rio, que, em nota, lamentou a morte do sociólogo: “Luiz Werneck Vianna foi um intelectual de grande relevância para o campo da sociologia e para a comunidade acadêmica como um todo. Seu legado se estende nas orientações de muitas gerações, estudos e reflexões sobre a sociedade brasileira, onde deixou uma marca indelével na história do pensamento social no Brasil.”

Na nota, a universidade lembrou da trajetória de Werneck Vianna e sua contribuição para o “avanço do conhecimento científico e para o debate público”.

Abaixo, a íntegra da nota divulgada pela universidade.

"É com grande pesar que a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) recebe a notícia do falecimento do reconhecido sociólogo Luiz Werneck Vianna, ocorrido hoje.

Luiz Werneck Vianna foi um intelectual de grande relevância para o campo da sociologia e para a comunidade acadêmica como um todo. Seu legado se estende nas orientações de muitas gerações, estudos e reflexões sobre a sociedade brasileira, onde deixou uma marca indelével na história do pensamento social no Brasil.

Durante sua trajetória, contribuiu de forma significativa para o avanço do conhecimento científico e para o debate público, sempre pautado pela ética, pela integridade e pelo compromisso com a construção de uma sociedade mais justa e democrática. Sempre foi muito generoso, com seus colegas professores e alunos, tanto no sentido intelectual quanto no sentido pessoal.

Em nossa Universidade, Professor Werneck contribuiu para a consolidação do nosso Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais e rapidamente se tornou uma referência em nosso Departamento de Ciências Sociais e para toda a Universidade, onde continuou lecionando até o ano passado.

Expressamos nossas condolências à família, aos amigos e aos colegas de Luiz Werneck Vianna, e manifestamos nosso reconhecimento e gratidão por sua inestimável contribuição ao saber e à cultura.

Que seu legado continue inspirando gerações futuras e que sua memória seja honrada com o compromisso contínuo pela busca do conhecimento e pela transformação social."

 

Ex-presidente do BC e economista rigoroso, Pastore morre aos 84 anos - Sergio Lamucci (Valor)

Ex-presidente do BC e economista rigoroso, Pastore morre aos 84 anos

Memória Colegas destacam rigor teórico sempre presente e criteriosa análise de dados

Sergio Lamucci - De São Paulo

Valor Econômico, 22/02/2024

 

O economista Affonso Celso Pastore morreu na madrugada da quarta-feira, aos 84 anos. Ex-presidente do Banco Central (BC) e ex-secretário da Fazenda de São Paulo, Pastore passou por uma cirurgia no sábado no Hospital Albert Einstein, após sofrer um acidente vascular na perna, ficando desde então na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Admirado por várias gerações de economistas, Pastore se destacou pelo rigor e pelo apreço à evidência empírica em seus estudos e análises. A sua vida e obra foram "um exemplo emblemático da linha de pesquisa baseada no rigor teórico e, principalmente, na busca incessante de uma análise criteriosa dos dados", como escrevem llan Goldfajn, hoje presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e o jornalista Fernando Dantas no prefácio do livro "A Economia com Rigor - Homenagem a Affonso Celso Pastore". 

Para Ilan, também ex-presidente do BC, Pastore foi "o maior expoente e promotor do foco na ciência para a análise de políticas econômicas" no Brasil, no uso da evidência para se avaliar, aprender e implementar políticas e reformas que venham a beneficiar as sociedades. . "Nas décadas seguintes, dedicou-se a temas da macroeconomia como a política cambial e a inflação." A primeira posição de maior destaque de Pastore no setor público ocorreu quando se tornou secretário da Fazenda paulista, entre 1979 e 1983, nos governos de Paulo Maluf e José Maria Marin. Mas o maior desafio veio no BC, instituição que comandou entre setembro de 1983 e março de 1985. "Eu estava no meio de uma aula quando veio um telefonema. Era do Delfim [Netto]. Ele me disse que o [Ernane] Galvêas [então ministro da Fazenda] ia me ligar e me convidar para ser o presidente do Banco Central. "Você tem meia hora para pensar a resposta, se vai aceitar ou não." Meia hora depois ligou o Galvêas.", disse Pastore, em entrevista publicada no livro "A Economia com Rigor".

"Acabei tendo um fim de semana para pensar, falar com a família, ver o que eu fazia e o que não fazia, conversar com Delfim e Galvêas, pensar bem qual era o tamanho da encrenca. Na segunda-feira eu disse sim e fui." Pastore conta que assumiu o BC com reservas em caixa negativas e centralização cambial, dando uma medida da dificuldade da situação.

No ano anterior, o Brasil havia Como economista, Pastore acumulou grande produção intelectual. Foi professor na Faculdade de Economia e Administração da USP, onde se graduou em 1961. Concluiu o doutorado também na FEA-USP, em 1969. No fim dos anos 90 e começo dos anos 2000, deu aulas na Escola Brasileira de Economia e Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV EPGE). "Não consigo trabalhar sem conteúdo empírico. Para fazer análise econômica, é preciso testar hipóteses. O critério de demarcação da ciência é: a proposição tem que ser testável", disse em entrevista para o livro "Conversas com Economistas".

Um resumo em sequência histórica do trabalho de Pastore na busca de evidências empíricas na área preferencial que adotou está no livro "Inflação e Crises - O Papel da Moeda" (Elsevier). São oito capítulos, que vêm da tentativa de estabilização na época do regime militar, em 1964, e chegam ao fracasso da chamada "nova matriz" de política macroeconômica, nos quais ele acompanha o desenrolar do processo inflacionário no contexto de políticas econômicas adotadas (em quatro capítulos, sua mulher, Maria Cristina Pinotti, é coautora). Quando o livro foi publicado, em 2015, haviam se passado 46 anos desde a conclusão de seu doutorado e a defesa da tese "A Resposta da Produção Agrícola aos Preços no Brasil".

Num dos artigos do livro "A Economia com Rigor", Samuel Pessoa, do FGV Ibre e chefe de pesquisa do Julius Baer Brasil, e Marcos Lisboa, ex-secretário de Política Econômica da Fazenda, observam que Pastore começou estudando temas da microeconomia, como o impacto dos suspendido o pagamento aos credores internacionais e instituir a controles cambiais, na esteira da moratória do México, declarada em 1982. À sobrecarga dos aumentos dos preços do petróleo somavam-se os efeitos da elevação dos juros internacionais provocada pela alta das taxas efetivada nos Estados Unidos para conter a inflação. O Brasil já vivia, desde antes, os prenúncios de uma crise

Economistas e autoridades lamentaram a morte de Affonso Celso Pastore, destacando a importância dos seus estudos para a economia brasileira, a capacidade e curiosidade intelectual e a sua atuação em cargos públicos, como a presidência do Banco Central e a secretária da Fazenda paulista.

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou que Pastore sempre defendeu a autonomia da instituição e outros projetos do órgão. O economista, segundo Campos Neto, se dizia apaixonado pelo BC e que sempre atuaria em defesa da autoridade monetária.

O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, também ex-presidente do BC, destacou a "perda enorme" para o pensamento econômico brasileiro. "Convivemos em diversos ciclos ao longo dos anos sempre com troca de ideias interessantes, férteis, criativas e profundas. Era economista de nível elevadíssimo e sinto a perda de um grande amigo." Incansável, detentor de rigor analítico e técnico invejável, descreveu a economista Zeina Latif, ao falar de seu orientador no mestrado e doutorado. "Os economistas não têm bola de cristal, não acertam todos os cenários. O que os economistas fazem é usar rigor analítico, ter cuidado em olhar os dados e reconhecer quando está errado. Pastore reunia tudo isso." Ela lembrou que, em sua dissertação de mestrado, sobre economia monetária e inflação, uma parte do trabalho era percorrer o histórico e levantar dados. "Quando Pastore leu sobre o período em que ele esteve no Banco Central, estávamos conversando e ele me disse: Zeina, você não precisa me defender. Porque tudo o que estudamos agora não estava disponível na época", lembrou a economista. ""Achei simbólico. Em nenhum momento ele tentou suavizar aquele período e eventuais erros cometidos." 

Para Vinícius Carrasco, professor da PUC-Rio, Pastore foi um dos maiores economistas que o Brasil teve. "De umas três gerações anteriores à minha, era impressionante sua busca, ainda nos dias de hoje, em estar na fronteira do que se produzia na profissão, seja em macro, seja em outras áreas", disse Carrasco, destacando que o interesse por infraestrutura de Pastore o levou a estudar incentivos e leilões. "O jeito duro escondia uma pessoa generosa e delicada. Fará enorme falta." 

Também ex-presidente do BC, Gustavo Loyola disse que Pastore buscou de forma incansável a autonomia da autoridade monetária. "Pastore foi um dos mais destacados economistas brasileiros. Sua contribuição foi excepcional em todos os campos em que atuou: na academia, no setor público, como consultor e formador de opinião." 

A mistura impressionante de paixão e experiência de décadas no debate econômico era uma das facetas mais impressionantes de Pastore, ressaltou Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual. "O que sempre me impressionou em Pastore era que ele participava de forma apaixonada nos debates econômicos, com o vigor de um professor de economia de 30 anos de idade, mas com o benefício da experiência dele de décadas. Esse amor pelo bom debate e pela boa análise econômica deixava todos impressionados", disse o ex-secretário do Tesouro Nacional, destacando a "contribuição fundamental" de Pastore no CDPP. Lá, recorda Mansueto, ele discutia Economistas e autoridades lamentaram a morte de Affonso Celso Pastore, destacando a importância dos seus estudos para a economia brasileira, a capacidade e curiosidade intelectual e a sua atuação em cargos públicos, como a presidência do Banco Central e a secretária da Fazenda paulista.

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou que Pastore sempre defendeu a autonomia da instituição e outros projetos do órgão. O economista, segundo Campos Neto, se dizia apaixonado pelo BC e que sempre atuaria em defesa da autoridade monetária.

O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, também ex-presidente do BC, destacou a "perda enorme" para o pensamento econômico brasileiro. "Convivemos em diversos ciclos ao longo dos anos sempre com troca de ideias interessantes, férteis, criativas e profundas. Era economista de nível elevadíssimo e sinto a perda de um grande amigo." Incansável, detentor de rigor analítico e técnico invejável, descreveu a economista Zeina Latif, ao falar de seu orientador no mestrado e doutorado. "Os economistas não têm bola de cristal, não acertam todos os cenários. O que os economistas fazem é usar rigor analítico, ter cuidado em olhar os dados e reconhecer quando está errado. Pastore reunia tudo isso." Ela lembrou que, em sua dissertação de mestrado, sobre economia monetária e inflação, uma parte do trabalho era percorrer o histórico e levantar dados. "Quando Pastore leu sobre o período em que ele esteve no Banco Central, estávamos conversando e ele me disse: Zeina, você não precisa me defender. Porque tudo o que estudamos agora não estava disponível na época", lembrou a economista. ""Achei simbólico. Em nenhum momento ele tentou suavizar aquele período e eventuais erros cometidos." 

Para Vinícius Carrasco, professor da PUC-Rio, Pastore foi um dos maiores economistas que o Brasil teve. "De umas três gerações anteriores à minha, era impressionante sua busca, ainda nos dias de hoje, em estar na fronteira do que se produzia na profissão, seja em macro, seja em outras áreas", disse Carrasco, destacando que o interesse por infraestrutura de Pastore o levou a estudar incentivos e leilões. "O jeito duro escondia uma pessoa generosa e delicada. Fará enorme falta." 

Também ex-presidente do BC, Gustavo Loyola disse que Pastore buscou de forma incansável a autonomia da autoridade monetária. "Pastore foi um dos mais destacados economistas brasileiros. Sua contribuição foi excepcional em todos os campos em que atuou: na academia, no setor público, como consultor e formador de opinião." 

A mistura impressionante de paixão e experiência de décadas no debate econômico era uma das facetas mais impressionantes de Pastore, ressaltou Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual. "O que sempre me impressionou em Pastore era que ele participava de forma apaixonada nos debates econômicos, com o vigor de um professor de economia de 30 anos de idade, mas com o benefício da experiência dele de décadas. Esse amor pelo bom debate e pela boa análise econômica deixava todos impressionados", disse o ex-secretário do Tesouro Nacional, destacando a "contribuição fundamental" de Pastore no CDPP. Lá, recorda Mansueto, ele discutia

temas que iam de educação a política monetária e ajuste fiscal "de forma super empolgada". "Pastore era muito admirado. Foi uma pessoa muito importante na comunidade acadêmica e na formação de várias pessoas. O que ele escrevia todo mundo lia e todos queriam saber da sua visão." 

O CDPP lamentou a morte de Pastore, o primeiro presidente do centro de estudos. "Ele foi presidente do BC e se tomou um intelectual público na melhor acepção do termo: engajado em debates nos mais variados fóruns, capaz de traduzir a teoria econômica para o grande público, aberto a novas ideias, mas sem jamais abrir mão da coerência e do rigor acadêmico. Impressionava a todos que o conheciam pela firmeza de opiniões e retidão moral." Pesquisador associado do Insper, Marcos Mendes afirmou que Pastore foi "mestre e referência" de sua geração de economistas. "Grande contribuição como acadêmico de destaque, presidente do BC e coordenador do CDPP. Muita honra ter podido aprender e debater com ele."

O tema de Pastore era o Brasil, diz Lisboa

Para o economista Marcos Lisboa, o tema do ex-presidente do Banco Central (BC) Affonso Celso Pastore era o Brasil. "Usando ciência, ele queria entender o tamanho do problema. O que a evidência empírica tem a dar para nós, para nós entendermos o Brasil e ajudar", afirmou ele, ao falar sobre o economista, que morreu ontem. "Esse tema motivava o Affonso e dava também a irritação dele para quem não tinha olhado dados, quem não conhecia a evidência. Ele era um garoto, profundamente interessado no assunto." Ex-secretário de Política Econômica da Fazenda, Lisboa disse que "quem dominava o Affonso eram os dados, a evidência". Segundo ele, Pastore era duro porque respeitava a técnica e a evidência disponíveis. Nesse quadro, o ex-presidente do BC não era dogmático. "Se a evidência mudava, o Affonso mudava de opinião." Lisboa também ressaltou o aspecto ético do economista, sobre quem não há nenhuma "história confusa". "Ele era ético e, para ele, a ética se aplicava à vida privada e à ciência - o que a ciência tem a dizer, o que os dados têm a dizer sobre o assunto." Lisboa observa que, em seu último livro, Pastore "vai atrás do que afirmou há 50 anos e vai testar as hipóteses, ver o que sobrevive aos dados e o que não sobrevive".

Num dos artigos publicados no livro "A Economia com Rigor-Homenagem a Affonso Celso Pastore", Lisboa escreve: "Tenho por Affonso respeito e admiração. O professor grandalhão, com bigode curto e ética impecável, não para de estudar, não desiste do Brasil e não foge do debate. Fui seu aluno tardio. Pastore me ensinou, por meio do seu exemplo, o que se espera de quem anseia ter o privilégio de servir ao público".

Obituário e homenagem a Mauro Boianovsky, distinguido professor e pesquisador de história econômica; morte de Affonso Celso Pastore (FSP)

Recebido de Maurício David. Devo dizer que eu era amigo de Mauro e frequentemente eu lhe emprestava livros, retirados em meu nome, da biblioteca do Itamaraty, que ele não encontrava na biblioteca da UnB. A matéria da FSP,  mais abaixo, também traz homenagens ao economista Affonso Celso Pastore, com quem me correspondi no passado. (PRA)


Professor de Economia da UnB e referência no campo de História do Pensamento Econômico, Mauro Boianovsky faleceu nesta quarta-feira (21). 

OBITUÁRIO

MORRE MAURO BOIANOVSKY, PROFESSOR DE ECONOMIA DA UNB

 

O professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB) Mauro Boianovsky morreu na manhã desta quarta-feira (21), aos 64 anos, em decorrência de câncer. Referência no campo de História do Pensamento Econômico, foi considerado um dos pesquisadores mais influentes do mundo, conforme lista elaborada pela Universidade de Stanford e pelo repositório de dados Elsevier em 2023.

Formado em Economia pela UnB, em 1979, Mauro fez mestrado na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro e doutorado em Cambridge, na Inglaterra. Era professor titular na Universidade de Brasília, onde lecionava Teoria do Desenvolvimento Econômico, na graduação, e História do Pensamento Econômico na pós-graduação.

Com a morte de Mauro, o Brasil perde duas referências da área da economia no mesmo dia. Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central, também morreu nesta quarta-feira.

Durante o doutorado, o professor fez uma tese sobre o pensamento do economista Knut Wicksell e aprendeu sueco para ler os textos originais. “Eu até brincava com o Mauro, comparando-o com Indiana Jones. O que ele fazia era ‘arqueologia econômica’: buscar os textos originais para colocar nuances que eram pouco conhecidas de economistas famosos”, diz José Luís Oreiro, professor de Economia da UnB e colega de Mauro. 

 

Além de ter sido professor na UnB, Mauro Boianovsky também foi presidente da History of Economics Society (HES), um dos mais respeitados fóruns de discussão econômica do mundo, em 2015, sendo o primeiro latino-americano a comandar o órgão. 

“Foi uma grande perda para a Universidade de Brasília e para a linha de pesquisa. Primeiro, porque é uma pessoa com notável conhecimento na área, uma das grandes referências do mundo. Ele era uma pessoa cuja publicação científica era muito importante para o programa de pós-graduação em Economia na Universidade de Brasília. E era especialista em um em um assunto que poucas pessoas têm domínio”, lamenta Oreiro. 

O vice-presidente do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), Jorge Arbache, também lamentou o falecimento de Boianovsky. Em postagem no LinkedIn, o economista destacou que o professor era considerado “um dos mais brilhantes autores de todos os tempos” pelos seus pares na linha de pesquisa de História do Pensamento Econômico.

“A obra de Mauro foi imensa e intensa, e muito influente. Mauro recebeu os mais importantes prêmios nacionais e internacionais, era considerado pela academia de escola do pensamento econômico como um dos mais brilhantes autores de todos os tempos, ocupou os mais importantes cargos internacionais na área, e talvez possa ser considerado o economista brasileiro que mais prestígio e influência teve na sua respectiva área em nível internacional”. 

Publicado há poucas semanas atrás, o último artigo do professor, intitulado “Recollections of My Time at the History of Economics Society” (Lembranças do meu tempo na History of Economics Society), é um balanço da produção acadêmica, de sua atuação no órgão e uma espécie de despedida. 

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No arquivo anexo com a Folha de São Paulo de hoje, se poderá ler o material publicado pelo jornal paulista sobre o perfil intelectual do professor Boianovsky.

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Morre o economista Mauro Boianovsky, referência em história do pensamento econômico 

Acadêmico atuou até o ano passado como professor titular da UnB, lecionando a disciplina na qual se especializou. 

Júlia Moura

São Paulo

Morreu na madrugada desta quarta-feira (21) o economista Mauro Boianovsky, 64. Professor da UnB (Universidade de Brasília), ele era um dos principais teóricos sobre o pensamento econômico.

Boianovsky se formou em economia pela UnB e obteve mestrado na mesma área pela PUC do Rio de Janeiro (1989). Ele também era doutor em economia pela Universidade de Cambridge e PhD pela Universidade de Duke.

O economista atuou até o ano passado como professor titular da UnB, lecionando a disciplina história do pensamento econômico, assunto no qual se especializou. Também tinha experiência nas áreas de macroeconomia, teoria monetária, crescimento e desenvolvimento econômico e desemprego.

Boianovsky teve diversos trabalhos premiados. Em 2007, por exemplo, um artigo sobre a teoria econômica de Don Patinkin —economista monetário israelense— foi premiado pela History of Economics Society, entidade que reúne pesquisadores de diversos países, com foco nas discussões sobre a história do pensamento econômico.

Em 2011, ele foi laureado pela Anpec (Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia) por um artigo acadêmico sobre Celso Furtado.

Quatro anos depois, foi eleito presidente da History of Economics Society para o mandato de um ano, sendo o primeiro latino-americano a chefiar o órgão, com sede nos Estados Unidos.

Boianovsky também escreveu diversos livros em parceria com colegas pesquisadores, como "Celso Furtado e os 60 anos de Formação Econômica do Brasil" e o mais recente, "A History of Brazilian Economic Thought".

O acadêmico estava com câncer no fígado em estágio avançado. Ele deixa dois filhos, Ilana e Daniel David e uma neta, Isabela. O sepultamento aconteceu às 16h30 desta quarta, no Cemitério Israelita de Brasília. Não houve velório.

 

Para o mestre, com carinho 

A verdade é que Affonso Pastore foi embora cedo, considerando tudo o que podia e queria compartilhar 

Alexandre Schwartsman 

Judeu, é doutor em economia (Universidade da Califórnia, Berkeley) e ex-diretor do Banco Central

Soube há pouco da morte do Affonso Pastore. Avisei algumas pessoas e várias me responderam, além da tristeza, com "falei com ele há uma semana", "teria reunião semana que vem" e assemelhados.

Apenas isto já seria uma homenagem ao mestre. 84 anos (estive nas comemorações dos 80) e ativo como nunca. Não só com clientes, mas nos presenteando semanalmente com sua análise clara e contundente.

Engraçado, nunca fui formalmente aluno dele. Fiz boa parte do curso à noite, e não posso reproduzir aqui o que ele disse certa vez sobre a possibilidade de ser escalado para o noturno.

Mas sou obviamente um discípulo. Sempre foi meu modelo como economista: rigoroso analiticamente, cuidadoso com dados e estatísticas; sincero como poucos.

E generoso! Comigo e com muitos outros. Quando me tornei consultor (supostamente concorrente, hahaha), não hesitou em me ajudar.

Não há espaço aqui para listar suas enormes contribuições à análise econômica. Recomendo 3 livros. Dele mesmo, "Inflação e Crises", uma história monetária do Brasil nos últimos 60 e tantos anos; "Erros do Passado: Soluções para o Futuro", uma revista aos temas de sua carreira.

E, claro, "A Economia com Rigor", coletânea em homenagem ao mestre organizado por Ilan Goldfajn e Fernando Dantas, um belo apanhado das contribuições do Pastore.

Tive a felicidade de tê-lo também como amigo. Jantamos nós quatro no final do ano passado. Estava bem, mais magro, alguma dificuldade para caminhar por conta de uma cirurgia. E lúcido, agudo e atento, com planos para o futuro!

A verdade é que foi embora cedo, considerando tudo o que podia e queria compartilhar. Vai fazer (já faz!) uma falta imensa.

Deixo aqui uns versos que me parecem apropriados.

"Naquela mesa está faltando ele/E a saudade dele está doendo em mim."

 

Affonso Pastore, um economista na periferia 

Ele era aplicado, enfatizava a evidência empírica, sabia teoria e produzia teoria 


Samuel Pessôa 

Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Officy (JBFO). É doutor em economia pela USP​ 

Pastore pertence a uma tradição de profissionais de economia que nasceu com Eugênio Gudin e passou por Mário Henrique Simonsen e Delfim Netto. São profissionais formados no Brasil, que formaram muitas gerações de economistas, estudaram com cuidado a nossa economia e profissionalmente conciliaram vida na academia, no setor privado, no serviço público e mantiveram por anos colaboração regular na imprensa.

A contribuição intelectual de Pastore tinha duas características. Primeira, Pastore era um economista aplicado cujo foco eram problemas brasileiros. Se especializou por inflação pois era o problema que estava dado. Pastore, sem nenhuma pieguice, era patriota. Nosso subdesenvolvimento era o seu tema.

A segunda característica de Pastore era a ênfase na evidência empírica. Pastore olhava muito os dados e gastava muita energia levantando os dados. Sabia teoria e produzia teoria. Mas a ênfase era a empírica. A teoria organizava os dados. Mas a palavra final era da evidência empírica.

Há pelo menos três contribuições importantes de Pastore. Na tese de doutoramento ele testou a conjectura do pensamento estruturalista de que a oferta de bens agrícolas não respondia aos incentivos de preços. Acreditava-se que a concentração da propriedade da terra impedia que houvesse a resposta da oferta. Pastore mostrou que nada havia de diferente com a agricultura brasileira. Encontrou algum suporte para a tese estruturalista somente na região Nordeste.

Na sua tese de livre docência Pastore documenta —a partir de um levantamento de dados meticulosíssimo— que a desinflação que ocorreu nos primeiros anos da ditadura militar coincidiu com alteração na forma de financiamento do déficit público. Se na virada dos anos 1950 para os anos 1960 a expansão monetária financiava o déficit público, no período posterior ela financiava a acumulação de reservas. Havia relação entre a desinflação no período e a mudança do regime de política econômica.

Um trabalho inconcluso foi seu artigo teórico "Inflação e expectativas com a política monetária em uma regra de taxa de juros", publicado na Revista Brasileira de Economia em 1990.

Após a saída dos EUA da convertibilidade do dólar em ouro as economias passaram a operar em um regime de moeda fiduciária. Não valia mais o padrão ouro. Moeda era papel pintado. Qual era a governança de um regime monetário de moeda fiduciária? A resposta foi uma regra de fixação de juros em que os juros crescem a uma velocidade maior do que a diferença da inflação da meta inflacionária. Essa regra simples foi derivada por John Taylor. Pastore em seu artigo na RBE chegou perto de independentemente derivar a regra de Taylor. Faltaram duas linhas de álgebra.

Pastore estava sempre na fronteira do conhecimento olhando a teoria e os dados, preocupado com o futuro do país.

Pesquisa sobre meus livros e artigos na BVBI, via Senado Federal - Paulo Roberto de Almeida

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Formação da diplomacia econômica no Brasil : as relações econômicas internacionais no Imp (2001), CAM, SEN

O Lugar da América do Sul na nova ordem mundial (2001), CAM, SEN 
(ENGANO: o livro não é meu, tenho apenas um capítulo nele)

O Mercosul no Limiar do Século XXI (2000), CAM, SEN (ENGANO: o livro não é meu,
tenho apenas um capítulo nele)

O estudo das relações internacionais do Brasil (1999), CAM, SEN

O Brasil e o multilateralismo econômico (1999), CAM, SEN, MJU

Velhos e novos manifestos : o socialismo na era da globalização (1999), CAM, SEN
 

Mercosul, Nafta e Alca : a dimensão social (1999) CAM( 1/ 0), CLD( 1/ 0)MJU( 1/ 0)SEN( 1/ 0)STF( 1/ 0), STJ( 1/ 0)TJD( 1/ 0)

Relações internacionais e política externa do Brasil : dos descobrimentos à globalização (1998) SEN 

Mercosul : fundamentos e perspectivas (1998), CAM( 1/ 0)SEN( 1/ 0)STF( 1/ 0), STJ( 1/ 0)TJD( 1/ 0)

A recuperação da história diplomática (1996), AGU( 1/ 0)CAM( 2/ 0)MJU( 1/ 0)SEN( 1/ 0) 

O Mercosul no contexto regional e internacional (1993) SEN

Mercosul : textos básicos (1992), CAM, SEN

Mercosul : legislação e textos básicos (1992) CAM, SEN

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