Pablo Marçal: como lidar com um vigarista digital?
Xeque na Democracia
Natalia Viana, Diretora Agência Publica
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Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
Pablo Marçal: como lidar com um vigarista digital?
Xeque na Democracia
Natalia Viana, Diretora Agência Publica
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Estrada para a salvação
Ricardo Seitenfus
25/08/2024
Um dos episódios mais aviltantes de nossa história diplomática se desenrola atualmente sob o nosso olhar. Não estamos enfrentando um poderoso inimigo, como no caso da Questão Christie no século XIX, mas sim o governo de uma Estado contíguo que nos é simpático e a quem supostamente pretendemos auxiliar. Recebemos como resposta das autoridades venezuelanas unicamente menosprezo e ironia. Nossa diplomacia, até então cantada em prosa e verso, é objeto de chacota internacional.
Abandonamos princípios fundamentais de nosso relacionamento externo e de maneira irresponsável avançamos três sinais perigosos:
1. somos fiadores de acertos cujo respeito independe de nossa vontade (Acordo de Barbados):
2. consideramos assunto doméstico venezuelano o fajuto referendo que pretende anexar grande parte de território pertencente a Guiana (Essequibo);
3. calamos frente a violência contra a oposição e o desrespeito aos Direitos Humanos por parte do governo Maduro.
Fomos longe demais e não vislumbro muito o que fazer a não ser esperar por uma hipotética e improvável reviravolta da posição golpista do governo venezuelano. No entanto, é indispensável extrair lições destes infaustos episódios, para que não repitamos tais desatinos que contrariam nossos interesses e afetam nossa respeitabilidade.
Minha sugestão é simples e objetiva; devemos respeitar de forma inflexível a Doutrina Estrada. Segundo ela, a política exterior dos Estados não deve julgar positiva ou negativamente os governos e as mudanças de governo dos demais países. Tais ações seriam atentatórias a soberania, ao princípio de não intervenção, a solução pacífica das controvérsias e a autodeterminação dos povos.
Elaborada por Genaro Estrada, Ministro das relações exteriores do México (1930), a situação do reconhecimento de governo sugere situação radicalmente distinta ao do reconhecimento de Estado, pois, observando os princípios de soberania e independência, os Estados podem dotar-se livremente de variadas formas governamentais. Novos governos podem conquistar o poder através de quaisquer meios, inclusive os inconstitucionais, sem que tal fato venha ser pertinente para o Direito Internacional. Este exige tão-somente o respeito ao princípio de continuidade dos Estados e o atendimento dos compromissos internacionais.
Tal indiferença é contrariada pela percepção constitutiva. Esta defende o princípio de que um governo resultante de processo inconstitucional (golpe de Estado, revolução, fraude eleitoral) não pode ser reconhecido como representante do Estado, a não ser que tenha sido legitimado por uma assembleia livremente eleita (Doutrina Tobar, Equador, 1907).
A recente prática dos Estados e das organizações internacionais, como a União Europeia (cláusulas búlgara e báltica) e o MERCOSUL (Protocolo de Ushuaia), preocupa-se em atacar a ilegalidade de regimes inconstitucionais a montante, antes que eles se transformem em fatos. Assim, estas organizações possuem em seus estatutos cláusulas democráticas que preveem a suspensão de um país-membro em caso de ruptura do Estado de direito e da ordem constitucional. Estes dispositivos prévios e coletivos afastam a possibilidade de conceder reconhecimento a um governo inconstitucional.
Após vários séculos de prática de reconhecimento de governos, a Inglaterra aderiu, em 1980, à Doutrina Estrada. Ao constatar a inutilidade deste tipo de reconhecimento, Londres considera a origem do novo governo como um assunto interno. Trata-se, portanto, de um fato objetivo que não interroga os terceiros Estados.
Nesta ocasião o Foreign and Commonwealth Office (FCO) divulgou uma nota justificativa, na qual resume os inconvenientes do reconhecimento de governo:
Decidimos deixar de conceder o reconhecimento a governos. O governo britânico reconhece Estados em conformidade com a doutrina internacional comum. Quando ocorre uma mudança inconstitucional de regime num Estado reconhecido, os governos dos outros Estados devem necessariamente considerar que relações manterão com o novo regime e se este se qualifica para ser considerado como o governo do Estado em questão. Muitos dos nossos parceiros e aliados adotam a posição de não reconhecer governos e, portanto, não surge qualquer questão de reconhecimento em tais casos. Pelo contrário, a política seguida por sucessivos governos britânicos foi a de que se deve tomar e anunciar uma decisão “reconhecendo” formalmente o novo governo. Esta prática foi, por vezes, mal interpretada e, não obstante explicações em sentido contrário, o nosso “reconhecimento” foi interpretado como uma aprovação. Por exemplo, em circunstância em que possa haver uma preocupação pública legítima sobre a violação dos Direitos Humanos pelo novo regime, ou sobre a maneira pela qual este chegou ao poder, não tem bastado dizer que o anúncio do “reconhecimento” é simplesmente uma formalidade neutra.
Concluímos então que existem vantagens práticas em seguir a política de muitos outros países de não conceder reconhecimentos a governos. Como eles, continuaremos a decidir, à luz da nossa apreciação, a natureza das nossas relações com regimes que chegam ao poder de forma inconstitucional.
A Doutrina Estrada considera a prática do reconhecimento de governo como ofensiva à soberania dos Estados, além de perigosa à medida que politiza as relações internacionais, que deveriam manter-se no campo estritamente jurídico.
Para os puristas claro está que ela abre amplo leque para o exercício da hipocrisia. Todavia todos sabem que inexiste campo de atividade humana mais fértil à prática da hipocrisia e do engodo que as relações internacionais. Ao contrário do filme de Sam Mendes, Estrada para a perdição, a estratégia da Doutrina Estrada seria a salvação para uma diplomacia que perdeu o rumo.
Professor Universitário, publicou juntamente com José Honório Rodrigues, o livro Uma História Diplomática do Brasil, 1531-1945 (Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1995). É Autor do Direito Internacional Público, Editora Livraria do Advogado, Porto Alegre, quinta edição. Foi Vice-Presidente do Comitê Jurídico Interamericano da OEA.
O Brasil dos Brasilianistas: um guia dos estudos sobre o Brasil nos Estados Unidos, 1945-2000 (organizadores: Paulo Roberto de Almeida, Marshall C. Eakin e Rubens Antônio Barbosa; São Paulo: Editora Paz e Terra, 2002; ISBN: 85-219-0441-X); disponível Academia.edu: https://www.academia.edu/42973774/O_Brasil_dos_Brasilianistas_um_guia_dos_estudos_sobre_o_Brasil_nos_Estados_Unidos_1945_2000_2002_?sm=a
Índice
Apresentação
Rubens Antônio Barbosa
Introdução:
1. Os estudos brasileiros nos Estados Unidos: um projeto em desenvolvimento
Marshall C. Eakin e Paulo Roberto de Almeida
Primeira Parte
2. Tendências e perspectivas dos estudos brasileiros nos Estados Unidos, 1945-2000
Paulo Roberto de Almeida
3. Pesquisa: fontes e materiais de arquivos, instituições relevantes, abordagens
Robert M. Levine
4. Ensinando o Brasil: uma revisão dos programas sobre o Brasil nos Centros de Estudos Latino-Americanos nos Estados Unidos
Theodore R. Young
Segunda Parte
5. Língua portuguesa e estudos brasileiros
6. Literatura e cultura
7. Artes e Música
8. História
9. Antropologia
10. Economia
11. Ciências Sociais
12. Relações internacionais
Scott D. Tollefson
13. Geografia
Cyrus B. Dawsey III
14. Brasiliana nos Estados Unidos: referências e fontes documentais
Ann Hartness
Terceira Parte
15. Uma cronologia das relações Brasil-EUA e da produção acadêmica, 1945-2000
16. Nota sobre a contribuição britânica ao brasilianismo acadêmico
17. O Brasilianismo francês: pioneirismo e diversidade
18. Bibliografia seletiva
Apêndices:
Informação sobre os autores dos capítulos
Seminários sobre estudos brasileiros organizados pela Embaixada em Washington
Notas sobre os debatedores
Augusto de Franco, Roberto Freire, Eduardo Jorge, Gilberto Natalini
Participação especial: Rubens Ricupero
Paulo Roberto de Almeida:
Construtores da Nação: projetos para o Brasil, de Cairu a Merquior
(São Paulo: LVM, 2022)
Trechos da Introdução
Da construção do Estado à construção da Democracia
Obrigado de minha curiosidade fiz, por espaço de dezessete anos que residi no Estado do Brasil, muitas lembranças por escrito do que me pareceu digno de notar, as quais tirei a limpo nesta corte, enquanto a dilação de meus requerimentos me deu para isso lugar; ao que me dispus entendendo convir ao serviço de El Rei nosso Senhor, e compadecendo-me da pouca notícia que nestes reinos se tem das grandezas e estranhezas desta província, no que anteparei algumas vezes movido do conhecimento de mim mesmo, e entendendo que as obras que se escrevem têm mais valor que o da reputação dos autores delas.
Como minha intenção não foi escrever história que deleitasse com estilo e boa linguagem, não espero tirar louvor desta escritura e breve relação (em que se contém o que pude alcançar da cosmografia e descrição deste Estado), que a V.S. ofereço; e me fará mercê aceitá-la, como está merecendo a vontade com que a ofereço; passando pelos desconcertos dela, pois a confiança disso me fez suave o trabalho e o tempo que em a escrever gastei: de cuja substância se podem fazer muitas lembranças a S.M. para que folgue de as ter deste seu Estado, a que V.S. faça dar a valia que lhe é devida.
Gabriel Soares de Souza, Tratado Descritivo do Brasil em 1587. “Edição castigada pelo estudo e exame de muitos códices manuscritos existentes no Brasil, em Portugal, Espanha e França, e acrescentada de alguns comentários à obra”, por Francisco Adolfo de Varnhagen, sob a responsabilidade do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Rio de Janeiro: Tipografia Universal de Laemmert, 1851, p. x-xi.
Como se pode depreender pela descrição inicial que desta terra fez, para os seus soberanos, um dos primeiros habitantes do Estado do Brasil, os projetos para se construir uma nova nação, nesta parte do território da América do Sul, não são exatamente novos. Gabriel Soares de Souza (1540-1591) foi um observador atento e perspicaz, que se empenhou em tomar da pluma para discorrer sobre tudo o que viu, o que ouviu e coletou ao longo dos 17 anos em que se exerceu, como senhor de engenho, nestas paragens ermas, ainda repletas de selvícolas, cujos hábitos ele procurou relatar com exatidão e até espanto (o canibalismo, por exemplo, e a “luxúria” de seus hábitos sexuais). A obra permaneceu praticamente incógnita dos habitantes do Estado do Brasil até meados do século XIX, quando o historiador Francisco Adolfo de Varnhagen conseguiu retirá-la de um injusto anonimato para enfim divulgá-la a seus compatriotas.
Exatos quarenta anos depois, Frei Vicente do Salvador (1564-1636) terminava uma primeira História do Brasil(1627), que, como sua predecessora de 1587, permaneceu incógnita por 260 anos, tendo sido consultada por Varnhagen, na Biblioteca das Necessidades, em Lisboa, mas publicada apenas no final do século XIX, numa edição anotada por Capistrano de Abreu (1856-1927), pela Biblioteca Nacional (1889). Para José Honório Rodrigues (1913-1987), a História do Brasil “é um dos livros mais saborosos do Brasil seiscentista, pela simplicidade do estilo, natural, sem artifícios, pela ingenuidade da narrativa, entremeada de estórias populares e ditos pitorescos” (1979, p. 490).
Mas, Frei Vicente do Salvador – que recebeu a alcunha de “Heródoto brasileiro”, ou o “Pai da História” no Brasil – também reclama, logo no capítulo segundo do livro, da situação de abandono a que foi relegado o “Estado do Brasil”:
... ao nome do Brasil ajuntaram o de Estado, e lhe chamam Estado do Brasil, ficou ele tão pouco estável que, com não haver hoje cem anos, quando isto escrevo, que se começou a povoar, já se hão despovoado alguns lugares, e sendo a terra tão grande, e fértil, nem por isso vai em aumento, antes em diminuição.
Disto dão alguns a culpa aos Reys de Portugal, outros aos povoadores; aos Reys pelo pouco caso que hão feito deste tão grande Estado, que nem o título quiseram dele; pois intitulando-se Senhores de Guiné por uma caravelinha que lá vai, e vem, como disse o rei do Congo, do Brasil não se quiseram intitular, nem depois da morte de El-Rey dom João terceiro, que o mandou povoar, e soube estimá-lo, houve outro que dele curasse, senão para colher suas rendas e direitos; e deste mesmo modo se hão os povoadores, os quais, por mais arraigados que na terra estejam, e mais ricos que sejam, tudo pretendem levar a Portugal... (..) Porque tudo querem para lá, e isto não tem só os que de lá vieram, mas ainda os que cá nasceram, que uns e outros usam da Terra não como senhores, mas como usufrutuários, só para a desfrutarem e deixarem destruída.
Donde nasce também, que nenhum homem nessa terra é repúblico, nem zela ou trata do bem comum, senão cada um do bem particular. (...)
Estas são as razões, porque alguns, como muito dizem, que nem permanece o Brasil nem vai em crescimento; e a estas se pode ajuntar a que atrás tocamos de lhe haverem chamado Estado do Brasil, tirando-lhe o de Santa Cruz com que pudera ser Estado, e ter estabilidade e firmeza. (SALVADOR, 1889, p. 6-7).
Um novo relato sobre as riquezas da terra, Cultura e Opulência do Brasil por suas drogas e minas, feito quase um século depois por um outro observador atento, André João Antonil – pseudônimo do jesuíta italiano João Antonio Andreoni (1649-1716), trazido ao Brasil em 1681 pelo padre Antonio Vieira (1608-1697) –, foi retirado de circulação seis dias depois de aprovado para imprimir e distribuir pela própria censura do Reino, em 1711, e assim permaneceu desconhecido durante mais de um século, tendo sido redescoberto somente depois da independência (RODRIGUES, 1979, p. 403). Segundo relata uma estudiosa dessa obra:
As razões para o confisco da obra... foram evitar exposição das riquezas da colônia à cobiça de outras nações, responsáveis por saques constantes na costa brasileira. Naquele momento, falar em açúcar, ouro e tabaco era inadequado e perigoso, podendo aguçar a cobiça da França, Holanda e Inglaterra, interessadas em participar do mercado internacional. (SILVA, 1999, p. 57)
Antonil defendia em sua obra (1982) a proposta de que seria justo, “tanto para Fazenda real quanto para o bem público, favorecer a conquista e o desenvolvimento econômico do Brasil” (SILVA, 1999, p. 73). Com isso, evidentemente, não concordaram os censores do Reino, numa atitude que, mutatis mutandis, continuou a ser imitada durante largo tempo, talvez ainda atualmente, quando se continua a falar das fabulosas riquezas do Brasil, sempre cobiçadas por potências estrangeiras.
Ao revelar a riqueza potencial da nova terra, os cronistas dos primeiros tempos cumpriam, portanto, mesmo indiretamente, um papel de promotores da prosperidade da colônia, ainda que a exploração dos recursos estivesse mais destinada a enriquecer a própria metrópole. Os projetos tentativos de se fazer da terra uma nação próspera passaram a adquirir maior consistência a partir do desembarque da Corte dos Braganças na colônia que já era, no quadro do imenso império marítimo lusitano, a principal fonte de recursos para o Tesouro do Reino. Tem início, em 1808, a administração dos negócios desse império desde o Rio de Janeiro.
(...)
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Frei Vicente do Salvador (1564-1639), foi um religioso franciscano baiano, conhecido como pai da historiografia brasileira, ou Heródoto brasileiro.
A História do Brasil de Frei Vicente Salvador, escrita em 1627, é considerada o "primeiro clássico do Brasil". Está dividido em cinco livros, descrevendo o modus vivendi na antiga colônia portuguesa. O livro está dividido em 48 capítulos que descrevem as características da colônia, seu clima, fauna, flora, seu nome, a descoberta, a colonização e a divisão de capitanias hereditárias, bem como a pressão de corsários franceses e holandeses na costa brasileira. É também um dos primeiros estudos sobre a vida cotidiana na colônia, relatando costumes matrimoniais, criação de filhos, ritos fúnebres e línguas indígenas. Guardado na Torre do Tombo de Lisboa, o manuscrito serviu de fonte para estudiosos como Frei Agostinho de Santa Maria e Francisco Adolfo de Varnhagen. Finalmente, em 1889, Capistrano de Abreu editou o livro e publicou-o pela primeira vez, no Rio de Janeiro
Frei Vicente estudou no colégio dos jesuítas, em Salvador. Estudou Direito e Teologia na Universidade de Coimbra, onde doutorou-se em cânones. Em vista do seu sucesso como administrador, diz seu biógrafo, frei Venâncio Willeke, que causou surpresa e pesar na Bahia a decisão de Vicente de abandonar o clero secular para ingressar numa ordem mendicante, a dos franciscanos, tendo recebido o hábito a 27 de janeiro de 1599 e professando a 30 de janeiro de 1600, no convento de Salvador, sendo logo transferido a Pernambuco. Segundo Willeke, Vicente fora desde cedo contagiado pelo ideal da evangelização dos indígenas, mas mantinha um especial interesse pela obra do frade Bartolomeu de las Casas e outros religiosos que defendiam os nativos. Em torno de 1603 foi nomeado para catequizar os silvícolas da Paraíba, devido ao seu conhecimento do idioma nativo e à ordem régia de fundar novas missões na área.
Em 1606 deixou as missões e passou a lecionar Filosofia no convento de Olinda, e no fim do ano o superior o escolheu para fundar o convento de Santo Antônio do Rio de Janeiro.
Uma ameaça existencial ao Brasil: a evangelização da educação
Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.
Nota sobre a maior ameaça à sanidade mental do Brasil: o evangelismo educacional.
O progressivo e insidioso assalto evangélico — não exatamente o religioso, mas aquele oportunista, negocista — às instituições educacionais do Brasil, públicas e privadas, representa um perigo ainda maior do que a visível e muito preocupante criminalização da política, como já ocorreu no RJ e avança em outras cidades, pois ele compromete o futuro do país por gerações no futuro de médio prazo.
O processo é visível desde muitos anos e já se tornou patente pela existência de imensas e poderosas redes de comunicações— começando pelas rádios, seguindo logo depois para as TVs, e penetrando agora em todas as ferramentas digitais — e pela disseminação patente de novos megabilionários da “teologia da prosperidade”.
Eles estão se empenhando na conquista de câmaras de vereadores, de prefeituras, de parlamentos estaduais e das próprias instituições federais de poder político. Seu objetivo imediato é dinheiro e influência social, mas com isso vão contribuir poderosamente para o emburrecimento e o atraso cultural do Brasil, sem esquecer a corrupção pervasiva e o retrocesso científico e educativo.
Fica o alerta: se trata de um perigo muito maior do que os já conhecidos vicios e perversões nacionais: patrimonialismo, corrupção política, baixos padrões educacionais, desigualdades sociais persistentes. Estamos em face de um retrocesso civilizatório.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4720, 25 agosto 2024, 1 p.
Two-and-a-half years ago, Russia began a full-scale invasion of Ukraine, setting off the largest war the world has seen since 1945. Although Russia's leaders have offered various spurious justifications for their illegal war of aggression, Vladimir Putin's nost consistent explanation has been ideological: Russia is an ancient state, and Ukraine is historically Russian land. Let us take advantage of this half-anniversary to consider this claim. Anniversaries take hold of the imagination, especially the round ones. The fullness of years and the beauty of numbers seduce us into myths of eternity and goodness. But history, unlike legend, is composed of fragments, of bits, of things we understand halfway, and seek to grasp ever better. This is one reason why few historians grapple with the gilded myths that Putin has put forward about the ancient past, most notoriously in a long essay in 2021 and then in a tedious interview with Tucker Carlson in 2024 (both linked below). When confronted with magical thinking by dictators, historians feel out of place, like a bridge player invited to judge prestidigitation, say, or a surgeon hired to care for wax figures. Putin is in love with a legend. Historically speaking, this is very familiar: new regimes, such as Putin's, seek compensation in myths of ancient origin. Putin's idea of Russia, his justification for the killing of hundreds of thousands of people, his rationalization of his attempt to destroy Ukraine as a people — it all rests on a very familiar sort of tall tale: we were here first. These stories are generally complete falsehoods, from the “we” through the “were” and the “here” and the “first.” And so it is for Putin. But the stories get repeated so often that they take on a kind of leaden plausibility, like a bad habit. It takes a little work to throw them off. So here goes! The legend begins with a single obscure incident, understood by Putin to prove the existence and endurance of a Russian state: Long ago there was a city called Novgorod, inhabited by people who were unable to get along. These quarrelsome folk, the Slavs, invited three Viking brothers, known as the Rus, to come and rule them. The arrival of Vikings began an unbroken tradition of a Russian "centralized state." As he says, Putin has the story from a medieval chronicle, "The Tale of Bygone Years," probably from the early twelfth century. The monk (or monks) in Kyiv who compiled this text had heard about the arrival of the Vikings known as the Rus from Scandinavia, which had taken place about four hundred years earlier. In the intervening centuries, the various parts of the fractious Scandinavian clans had founded, taken over, and lost control of a number or towns in eastern Europe. The monk or monks knew were trying to explain why the Kyivan part of a Scandinavian ruling clan still known by the name Rus was more important than other clans in other places. "The Tale of Bygone Years" is one of dozens of helpful medieval sources which touch on the Scandinavians in eastern Europe, which mix fable and useful information. These texts have to be read critically and together, and alongside the findings of archeologists and numismatists who have worked in the places in question. In what follows I will be doing this. Before analyzing the legend that Putin loves, it would be helpful to spell out all of the claims it contains and that he draws from it, some of which are explicit, and some of which are implicit -- things that the listener might go away from the story believing, even though they are never stated. 1. There was a city called Novgorod when the Vikings known as the Rus arrived. 2. There were three Viking brothers. 3. The Vikings accepted the invitation and peacefully and durably ruled. 4. The people of this city were in some sense Russians because they were Slavs. 5. These Vikings were also in some sense Russians, since they called themselves “Rus.” 6. The existence of an ethnic group in a town more than a thousand years ago means a right to rule today by a dictator who calls himself a name that he also associates with that ethnic group. 7. The existence of the rulers of that ethnic group more than a thousand years ago means a right to rule today by a dictator who calls himself a name that he also associates with those rulers. 8. Events in one location more than a thousand years ago justify the existence and actions of a transcontinental empire engaged in a war of aggression against a neighboring state. 9. An algorithm exists whereby we can justify repression and war today via obscure, distant events. 10. This algorithm is known to dictators who tell the story, carry out the repressions and start the wars. When spelled out like this, the claims reveal their magical character. Even if claims 1-5 were completely correct, the moral and political interpretations Putin offers in claims 6-10 are illogical and repugnant. Such “reasoning” is why few historians will engage Putin's legend directly. It has nothing to do with history -- with assembling evidence, with questioning hypothesis, with making reasonable arguments based upon sources and traditions of interpretation. It is a claim to power, whose only sense arises from the power itself. That is really all that needs to be said. Having understood that, historians can choose to go the extra mile, and note that the factual claims (1-5) are balderdash. It only really makes sense to do this in a constructive rather than in a destructive spirit, in an effort to reveal something about what we actually do know about early medieval Scandinavia and eastern Europe, and how we know it. It is in that spirit that I will proceed. Let us consider each claim in turn. 1. There was a city called Novgorod when the Vikings known as the Rus arrived. There was not. Novgorod had not yet been founded at the time of the arrival of the Rus in the territories that are now northeastern Russia. It was founded about a quarter millenium later. (It had also not yet been founded when Vikings first began to lay claim to Kyiv, which already existed and was probably controlled by Khazars.) Novgorod is attractive for a Russian myth because it exists now and it existed at the time the monks were writing. But it did not exist at the time of the events the monks were recounting. But this is just the very beginning of the profound untruthfulness of the story. Here is what we know. Traders from Scandinavia were present around the body of water we now call Lake Ladoga in the sixth century. Around the middle of the eighth century, the Vikings who called themselves Rus established a trading emporium at a site that Russian archaeologists call Ladoga, but which the Vikings themselves called Aldeigja. Packed away in storage in the Hermitage in St.Petersburg is a bronze figure from Aldeigja in its early days: Odin with his two ravens. This contemporary piece of evidence, similar to other figures from Scandinavia, and one among thousands, tells us more than later chronicles about the time and place and people. The power center associated with Aldeigja was probably called the Rus Khaganate. We believe that it was called this because of contemporary evidence: a recorded encounter between Rus emissaries and the king of the Franks. About a century after the foundation of Aldeigja, the Vikings known as Rus established another trade center, which they called Holmgar∂, and which Russians later called Gorodishche. The town Novgorod in its turn was founded more than a hundred years after that and about a mile away. It had nothing to do with the first encounter of the Rus and the locals. It could not have done so, since it did not then exist. 2. There were three Viking brothers. This is a different sort of claim. One can show with considerable certainty, on the basis of the archaeological evidence, when Scandinavian Rus towns such as Aldeigja and Holmgar∂ were established, and have a pretty good idea of who lived there and what occupations were pursued. One cannot of course disprove, on this basis, that there were once three Viking brothers. The reasons to disbelieve this claim are of a different kind, arising from the study of political myth and its structures. The number 3 has a profound significance in Indo-European stories about the origin of the world. According to Tacitus, the ancient Germanic peoples (whose culture preceded that of the Germanic Vikings), believed that the earth god had a son, and that son had three sons, and those three sons founded all the other peoples. Odin was himself one of three brothers. In Viking times, the settlement of new (from the Viking perspective) lands was systematically justified by a story of the arrival of three brothers, usually sons or grandsons of Odin. In this manner the Viking clan who had power justified its position and its right to control lands (and native peoples). The Tale of Bygone Years, which is essentially one saga among many others, reproduced this standard trope of the Scandinavian sagas. It is worth emphasizing that the story of the three brothers is always about why Scandinavians get to rule other people. The survival of the “three-brothers” trope is a reminder of Scandinavian domination. That is its meaning. 3. The Vikings accepted the invitation and peacefully and durably ruled. In the case of this bit of nonsense, both literary and archaeological methods help. One does not have to be a student of early legends to understand that the "invitation" story is suspect. Right down to the present, invading armies claim that they have come only at the invitation of the people whose lands they now occupy. Contemporary Russians should be particularly sensitive to this, since the Bolshevik invasion of Poland in 1919, the Soviet invasion of Poland in 1939, the Warsaw Pact occupation of Czechoslovakia in 1968, the Soviet invasion of Afghanistan in 1979, the Russian invasion of Georgia in 2008, and the Russian invasion of Ukraine in 2014 were all justified by supposed invitations from within the invaded country. The ancient Scandinavians also knew this trick, and the story of their being "invited" to the region of Aldeigja and Holmgar∂, in what is now northwestern Russia, is an obvious colonial tale. Not only is it certainly fictional, its purpose was to deny (not to affirm) the agency of the local people. The entity that Putin has in mind was the Rus Khaganate. The name Rus referred to the Scandinavian clan; the Scandinavians borrowed the term “kagan” for ruler from the Khazars, their partner in the slave trade. Vikings were in the area in order to facilitate trade southward for Arabic silver. The chief goods they traded were at first furs and then slaves. During the period in question, the Vikings known as the Rus understood systematic slave raids in the area, killing the adult men and then selling women, boys and girls into slavery. The power center around Aldeigja and Holmgar∂ had its ascent and its collapse. Either it was attacked by other Scandinavians, or it was challenged by local rebellions of peoples subject to slave raids, or perhaps both. The Rus Khaganate seems to have collapse in about 870. Rus and other Scandinavian traders remained active, and trade emporia would be revived and new towns founded, but the first Rus polity seems to have ended then. 4. The people of this city were in some sense Russians because they were Slavs. Here one must apply the literary criticism not to the Tale of Bygone Years but to Putin himself. He never actually says that the people in the Aldeigja and Holmgar∂ regions were Russians; he wrongly believes that they were Slavs, and implies a Russian identity by claiming that their actions laid the basis for a "centralized Russian state." This is, of course, a trick. It is absurd to imagine Russians existing 1200 or 1300 years ago, and Putin avoids the absurdity by slipping in his imaginary Russians by silent implication. And so the point must be made explicitly: there were no Russians anywhere in the world 1200 or 1300 years ago. There was no notion whatever of a Russian people. The backup position would be that these people were Slavs and thus in some sense proto-Russians. That is not how history works: there is no natural, inevitable progression from people speaking a language 1200 or 1300 years ago to the cultural identities or political regimes of today. But even if one believes in this political magic, and even if one believes that people speaking a slavic language 1200 or 1300 years ago were somehow proto-Russians, there is still a major problem. The people who lived in the area at the time did not generally speak Slavic languagues. They were mainly Finns, not Slavs. For that matter, Finns seem to have been the most important group not only in the Aldeigja and Holmgar∂ regions, but in all of what is now northeastern Russia, including what is now the Moscow region. (There was, of course, no city of Moscow at the time.) 5. These Vikings were also in some sense Russians, since they called themselves “Rus.” Here again we confront an implicit claim, one that is is backed by a semantic trick. There is now a country called the Russian Federation, which is named after an earlier country called the Russian Empire, which was named after Vikings who called themselves Rus, or after the medieval power centers established by the Rus, the first of which was the Rus Khaganate. There is a power in names, just as there is a power in anniversaries and round numbers. If those people were called Rus, must they not have been Russians? Well, no. The Rus came first. The Russian Empire was named after them about a thousand years after they appeared. The naming confuses things, but it need not confuse us. At the time period in question, other European rulers had no difficulty establishing who the Rus were: they were Swedes. In the poems and stories they sang and wrote, and in the traces they left in their burial ground, the Rus were unambiguously Scandinavians. To be sure, they were influenced by the peoples with whom they came into contact: Finns, Balts, Arabs, Bulgars, Khazars, Slavs. This was a period of the globalization of Scandinavia, and the Rus were part of an exploratory impulse that reached four continents In the eighth and ninth centuries, the Rus were Scandinavian trading and clans. Later on, as some Rus settled ever further south, for example in Gnezdevo, Chernihiv, and Kyiv, the Scandinavians reinforced their elite status by marrying Scandinavians from Scandinavia, by treating them as allies and friends, and by expanding upon and sharing in Scandinavian culture. After the collapse of the Rus Khaganate, other Rus managed to establish another power center, much later, at Kyiv. Now rather than cooperating with the Khazars they were taking over their land and tribute centers. The Rus (or other Scandinavians) also built the first towns in other parts of eastern Europe, for example in the area around Moscow (which of course did not exist at the time). After telling his deeply implausible legend about Novgorod, Putin's next move is to cite the Tale of Bygone Years about Kyiv. The person or people who wrote that saga was concerned to show that the Rus ruler of Kyiv, was the most important prince in the region. By the time of the writing of the chronicle, Novgorod did exist, and so a story presented itself which linked the two places and showed the superiority of Kyiv. The story is that a Viking from Novgorod managed to take Kyiv by dressing himself up as a trader and fooling the naive local rulers. At his moment of his triumph this Viking produced a baby and proclaimed that the child was by blood the true ruler of the land. After this improbable succession of events that Viking of the story proclaimed Kyiv “the mother of Rus cities,” a bit of language meant to assure people in the twelfth century that the present rulers of Kyiv should dominate over other Rus in other towns. One could perform the same kind of analysis on this story. At the time The Tale of Bygone Yearswas written, there was no Russia. There were no Russians. There were clans of Scandinavians called Rus, who were engaged in a contest of dominance, with towns and emporia that rose and fell. Part of this contest was a story, set down in the early twelfth century, describing the arrival of the Rus in Kyiv, a historical event of the early tenth century. Rus did in fact arrive in Kyiv, but not as the story describes. The Vikings in the story could not have come from Novgorod, since at the time the Rus began to settle the Kyiv area Novgorod had not yet been founded. It was much later on, when both cities did exist, at the time of the chronicle, when the Scandinavians in Kyiv wanted to justify both their own pedigree and their own dominance. The story can only be understood in these terms. Otherwise it is just comical. The baby thing is ridiculous; no Viking ever went to war with a baby on display, nor did any Viking have the idea of a royal dynasty of which the baby would be the heir. The dressup game is a fictional stratagem familiar from Scandinavian sagas as well as contemporary Byzantine war stories. Even if one ignores the legendary and preposterous character all that, the timing of the events is challenged by the recorded birth and death dates of the clever wardrobe Viking and the portable baby Viking. The hero of the Kyiv story, the clever wardrobe Viking known as Helgi (or Oleh or Oleg in Ukrainian or Russian) is a semi-mythical character. There is no reason to believe that he represented a dynasty coming from Novgorod, since Novgorod did not exist yet, and since the Rus khaganate had ceased to exist. It is likely that, if he came at all, Helgi came from Gnezdovo, which was a rival of Chernihiv and Kyiv at the time. Helgi means “hero” and this Helgi is one of dozens who populate medieval Scandinavian stories. This Helgi supposedly died by fulfilling a complicated prophesy involving his horse, a story which features in multiple north European settings. The Kyiv incident could not have happened, did not happen, and even had it happened would have no implications for the present war. It is not really worth the effort to press the point further about Kyiv, not least because the validity of the Kyiv tale, which is nil, would depend on the validity of the prior Novgorod story, which is nil. You can seewhy historians hesitate to engage in all this. What Putin is doing has nothing to do with history as a discipline. He is engaged in building a legend, which us based on other legends. And each of his sentences is so rich in various kinds of error that it takes hundreds of words to explain all of the wrongness! And in taking the tale seriously, the historian fears that he has made it more serious. This is what I called “dancing with a skeleton” in my book Reconstruction of Nations, where I discourage it. I am only doing it now since the both the myth and the war persist, and people (even outside Russia) persist in justifying the war by the myth. By concentrating upon the fundamental legend, the one on which all the others depend, I hope to have shown that the structure itself is empty. The rules Putin sets down for interpreting the past cannot be accepted. It is nothing more than fantasy following force. This is the most important point. If we grant that tyrants are right to start wars because of fictions of brothers and babies, because of stories that are not even wrong, then every single corner of the world is subject to invasion and the entire international legal order is void. Even were we to accept the way Putin thinks about the past, which we absolutely should not do, it would lead to a very different conclusion than he thinks. The best guesses of long-dead monks are not a solid basis for contemporary statehood. Tbe Tale of Bygone Years cannot do what Putin asks of it. If, in order to exist today, states have to prove their ancient pedigree and their durable ethnic and political history, then Putin would have to accept that there is no basis for the existence of today’s Russian Federation. Were Putin to follow his own logic, he would not be invading Ukraine, but handing over European Russia to Finland or Sweden. |
A primeira “dolarização” ocorreu sob as moedas do império romano e seu sucesso se deu pelos mesmos motivos da atual: ordem e prosperidade. Durou alguns séculos.
O dólar só domina há cem anos. Quanto tempo mais terá? Seu declínio talvez tenha os mesmos motivos: inflação e perda dos atributos básicos de uma moeda.
Todos foram absoluta ou relativamente importantes, alguns para a humanidade, outros para certos povos. O Ranking é enganoso, desnecessário e ridículo. Não há escala uniforme entre eles, e seu impacto é muito diferenciado. O segundo lugar de George Washington, por exemplo, só revela a arrogância americana de quem elaborou esse Ranking. PRA
Ranking of people whose actions have most changed the course of human history:
1. 🇬🇧 Isaac Newton
2. 🇺🇸 George Washington
3. 🇬🇧 Charles Darwin
4. 🇮🇹 Galileo Galilei
5. 🇬🇷 Alexander the Great
6. 🇫🇷 Napoleon Bonaparte
7. 🇮🇹 Leonardo da Vinci
8. 🇺🇸 Thomas Edison
9. 🇮🇳 Mahatma Gandhi
10. 🇨🇳 Confucius
11. 🇫🇷 Louis Pasteur
12. 🇫🇷 Joan of Arc
13. 🇬🇷 Socrates
14. 🇨🇳 Qin Shi Huang
15. 🇩🇪 Albert Einstein
16. 🇮🇳 Siddhartha Gautama (Buddha)
17. 🇬🇧 William Shakespeare
Privatizar Petrobras, Caixa e Banco do Brasil
Editorial Folha de S. Paulo, 25/08/2024
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2024/08/privatizar-petrobras-caixa-e-banco-do-brasil.shtml
Trio de gigantes deve ser o próximo tabu a ser derrubado no bem-sucedido programa brasileiro de desestatização
Conduzido ao longo de mais de três décadas por governos democraticamente eleitos, o programa brasileiro de privatizações derrubou sucessivam ente tabus, preconceitos e teses catastrofistas.
Na década perdida de 1980, quando o país se viu impelido a reformar o Estado empresário ineficiente e concentrador de renda, parecia impensável a venda de companhias portentosas como a Embraer e a Vale; dos setores de telefonia e energia elétrica; da vasta e deficitária rede de bancos estaduais.
Tudo isso foi feito —e com grande sucesso. O inconcebível hoje é que tais atividades e serviços públicos já tenham estado à mercê da ineficiência da gestão pública e das conveniências políticas dos governos de turno, em vez de regulados por agências autônomas e pela concorrência.
Mesmo administrações à esquerda, que mantêm oposição ideológica e corporativista à alienação de empresas, reconheceram as vantagens da concessão de estradas, ferrovias, portos e aeroportos. Promessas de reestatização, ademais, foram esquecidas.
Também resistências na sociedade vão sendo dissipadas. O Datafolha mostrou, no ano passado, que as opiniões favoráveis a privatizações já realizadas ou em curso —da telefonia ao saneamento, de rodovias e aeroportos à energia— superam as contrárias.
Espanta que remanesçam sob controle direto ou indireto do Tesouro Nacional nada menos que 123 empresas, entre as quais é difícil citar um exemplo além da Embrapa, de pesquisa agropecuária, em que o interesse público possa justificar tal condição.
Nesse conglomerado anacrônico, apenas três gigantes —Petrobras, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal— reúnem em torno de si 75 subsidiárias no Brasil e no exterior. Quase dois terços, portanto, do universo das estatais federais.
Esse aparato é custosamente mantido sob o comando do Estado, sobretudo, por interesses políticos e sindicais. Invocam-se pretextos nacionalistas e estratégicos para preservar o poder de lotear cargos, distribuir favores e bancar projetos de retorno duvidoso, para nem falar em lisura.
Petrobras e Caixa, especialmente, são assíduas no noticiário sobre aparelhamento e má gestão. Ajustes legislativos nos últimos anos trouxeram melhora da governança, sim, mas continuam sob assédio das forças reacionárias e intervencionistas à esquerda e à direita, sujeitos a retrocessos.
O caminho a seguir é a privatização criteriosa, com modelos que incentivem a competição e regulação que salvaguarde os interesses dos consumidores. Há um trabalho de convencimento a fazer e um longo processo de conhecimento a ser aproveitado.