terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Relações internacionais do Brasil: 1825-1925, Oliveira Lima; 1925-2025, Paulo Roberto de Almeida (Diário de Pernambuco, 1825-2025)

Relações internacionais do Brasil: 1825-1925, Oliveira Lima; 1925-2025, Paulo Roberto de Almeida (Diário de Pernambuco, 1825-2025)


         Acima a primeira página da colaboracão do historiador, acadêmico, professor na Catholic University of America, Oliveira Lima, sobre um século de relações internacionais do Brasil, no Livro do Nordeste, organizado pelo jovem sociólogo Gilberto Freyre para o Diário de Pernambuco, em comemoração dos primeiros cem anos de existência (e resistência) desse valente jornal pernambucano, de alcance regional.
        Fui encarregado, pelo meu amigo, colega diplomata e historiador André Heráclio do Rego de redigir a continuidade dessa colaboração, cobrindo os 100 anos seguintes, ou seja, as relações internacionais do Brasil entre 1925 e 2025, para comemorar o segundo centenário do Diário de Pernambuco.
        Já comecei a trabalhar, e a primeira coisa que fiz, foi conferir, na publicação original, como tinha sido a colaboração de meu ilustre colega do Itamaraty, já entrado no MRE, mas que tratou em grande medida da diplomacia da Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros. Meu esquema e o início do trabalho seguem abaixo.

Um século de relações internacionais do Brasil, 1925-2025

  

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Colaboração a livro comemorativo do Bicentenário do Diário de Pernambuco.

Org. André Heráclio do Rego e Múcio Aguiar.

  

Sumário: 

1. Prolegômeno: a persistência de uma folha de província

2. A primeira política externa republicana: fundamentos da doutrina diplomática

3. A diplomacia da República de 1946: o alinhamento pragmático da Guerra Fria

4. O primeiro exercício de política externa independente: um padrão consistente

5. O ecumenismo responsável da política externa autônoma e orgulhosa de sê-la

6. A diplomacia da redemocratização: sem os tabus do regime militar

7. As relações internacionais do Brasil numa era de fragmentação geopolítica

 

 

1. Prolegômeno: a persistência de uma folha de província

        O ano em que o Diário de Pernambuco foi fundado, 1825, começou com o fuzilamento – à falta de verdugos que se dispusessem a enforcá-lo – do mais importante revolucionário da Confederação do Equador, Frei Caneca, o autor intelectual das posições ilustradas defendidas por um movimento que já vinha da insurreição independentista de 1817 e que se prolongou na mais consistente tentativa, em 1824, de fundar o novo Estado brasileiro em bases institucionais mais amplamente democráticas, federais, do que a monarquia unitária que se instalou sob a mesma dinastia que vinha explorando a maior colônia portuguesa desde a Restauração do Reino, no século XVII, e que continuava controlando-a desde a instalação da corte no Rio de Janeiro e sob o Reino Unido. 

        O ano também contemplou, em agosto, o tratado bilateral entre o Império do Brasil e o Reino de Portugal, que consolidou, não exatamente a independência, que já estava assegurada formalmente desde 1822 – na prática desde muito antes, como sugere Barbosa Lima Sobrinho, ao examinar a trajetória do Correio Braziliense, de Hipólito da Costa –, mas o reconhecimento do novo Estado pelas demais monarquias europeias, um processo que já tinha começado nas Américas dois anos antes, e até mesmo por um reino africano, como relatou o embaixador Alberto da Costa e Silva. 

        O ano também assistiu, em novembro, à fundação do Diário de Pernambuco, que passaria a seguir, a partir de então, os assuntos relevantes da província, do Brasil e do mundo no decorrer dos cem anos seguintes. Segundo os relatos historiográficos, o Diário relatou os episódios mais salientes da Revolução Praieira de 1848 e, na década seguinte, assumiu uma nítida postura abolicionista, anos à frente da resiliência escravagista em outras províncias: obviamente, se congratulou com a Lei Áurea, assim como se alinhou com o novo regime no ano seguinte à abolição. Seu primeiro centenário foi devidamente comemorado com a publicação do Livro do Nordeste, coordenado por um jovem sociólogo pernambucano, Gilberto Freyre, recém retornado ao Brasil depois de vários anos de estudos nos Estados Unidos e na Europa.         Ele tinha começado a colaborar com o Diário desde antes da Grande Guerra, e se manteve como articulista até sua morte, em 1986. Pouco mais de dez anos após estrear como colunista, Freyre foi naturalmente escolhido para coordenar as contribuições preparadas para o Livro do Nordeste, e naturalmente convidou quem já era o principal historiador diplomático do país para relatar os feitos internacionais ocorridos até então.

        Manuel de Oliveira Lima, então professor na Catholic University of America, em Washington, assinou o capítulo intitulado “Um século de relações internacionais (1825-1925” (p. 9-10), examinando a trajetória exterior do Brasil no decorrer dos primeiros cem anos de vida do jornal. O grande historiador pernambucano destaca os três grandes objetivos do país em sua política externa no século transcorrido desde 1825:

        ... fixar as fronteiras com as nações herdeiras do domínio espanhol; salvar a economia de um golpe que se julgava de morte, vibrado pela abolição da instituição servil; sustentar a hegemonia no Prata, obstando a formação de outro império na costa oriental da América, para isso zelando um equilíbrio que n’outra face representava um desequilíbrio. (p. 9)

 

        As fronteiras, escreveu ele, foram definitivamente assentadas já na República, “pela erudição e habilidade do Barão do Rio Branco, mas ampararam a sua especial competência a firmeza da diplomacia imperial e a segurança da anterior diplomacia portuguesa” (idem). Ele reconhece a política de intervenção platina – “o que lhe deu uma feição imperialista e provocou as duas guerras externas em que o Brasil se envolveu” –, mas entendia que “o maior erro diplomático do Império foi querer embargar o movimento centrípeto platino”, ou seja, a reconstituição do Vice-Reinado do Rio da Prata, sob o controle de Buenos Aires, ao mesmo tempo em que pretendia exercer sobre a Banda Oriental um “virtual protetorado”. Na questão da escravidão, Oliveira Lima entende que o império não foi muito efetivo na frente externa, “atraindo os raios britânicos do Bill Aberdeen”, mas que soube bem se conduzir na frente interna, levando o doloroso problema “gradualmente a cabo de modo ordeiro, honroso e modelar”, chegando mesmo a afirmar que, na questão abolicionista, “nunca contamos com partidários decididos da escravidão”. Termina por se referir aos principais casos diplomáticos das primeiras três décadas da República, celebrando a cordialidade da relação com os EUA.

 

2. A primeira política externa republicana: fundamentos da doutrina diplomática

(...)



A lista das 78 revogações e ordens executivas assinadas por Donald Trump em 20/01/2025

Aqui está uma lista das 78 revogações e ordens executivas assinadas por Donald Trump em seu primeiro dia de governo no segundo mandato (2025), conforme informações divulgadas por fontes confiáveis:


Imigração e Segurança Fronteiriça

1. Revogação do programa de liberação condicional humanitária para imigrantes.

2. Reativação da construção do muro na fronteira com o México.

3. Implementação da política de “permanecer no México” para solicitantes de asilo.

4. Fim do programa de proteção a imigrantes menores de idade (DACA).

5. Restrição de vistos de trabalho temporário.

6. Ampliação de deportações aceleradas para imigrantes irregulares.

7. Reversão da proibição de deportação para países considerados perigosos.

8. Restrição de concessão de asilo para vítimas de violência doméstica e de gangues.

9. Retomada da separação de famílias na fronteira.

10. Redução da cota de refugiados admitidos anualmente.


Energia e Meio Ambiente

11. Retirada dos EUA do Acordo de Paris sobre Mudança Climática.

12. Cancelamento de restrições à perfuração de petróleo e gás em áreas protegidas.

13. Revogação de normas de emissão de carbono para veículos automotores.

14. Reativação do oleoduto Keystone XL.

15. Revogação de proteções ambientais para áreas de conservação federais.

16. Extinção de regulamentos sobre poluição hídrica em áreas industriais.

17. Permissão para exploração mineral em áreas indígenas.

18. Cancelamento de subsídios para fontes de energia renovável.

19. Redução de padrões de eficiência energética para eletrodomésticos.

20. Dissolução do Conselho Consultivo de Mudança Climática.


Políticas Sociais e Diversidade

21. Eliminação de programas de diversidade, equidade e inclusão no setor público.

22. Fim da obrigatoriedade de treinamentos de diversidade em agências federais.

23. Redefinição oficial de gênero baseada no sexo biológico.

24. Proibição de financiamento federal para cuidados médicos de transição de gênero.

25. Restrição ao uso de banheiros públicos conforme identidade de gênero.

26. Cancelamento da obrigatoriedade de seguro-saúde cobrir contraceptivos.

27. Redução de políticas de combate à discriminação no local de trabalho.

28. Fim do financiamento para pesquisas sobre equidade racial.

29. Revogação do reconhecimento de identidade de gênero não-binária em documentos oficiais.

30. Cancelamento da proteção de direitos para estudantes LGBTQ+ em escolas públicas.


Saúde e Políticas Públicas

31. Retirada dos EUA da Organização Mundial da Saúde (OMS).

32. Revogação da expansão do Obamacare.

33. Redução dos requisitos para planos de saúde de baixo custo.

34. Cancelamento de subsídios para medicamentos de alto custo.

35. Permissão para empresas negarem cobertura de saúde por razões religiosas.

36. Retirada de incentivos para vacinação contra a COVID-19.

37. Fim da obrigatoriedade de máscaras em prédios federais.

38. Dissolução da força-tarefa federal contra pandemias.

39. Cancelamento de regras de segurança para produtos farmacêuticos importados.

40. Eliminação de diretrizes sobre saúde mental no ambiente de trabalho.


Economia e Comércio

41. Cancelamento de tarifas sobre produtos chineses impostas pela administração Biden.

42. Retirada dos EUA de acordos comerciais multilaterais.

43. Redução de regulamentações bancárias para pequenas e médias empresas.

44. Ampliação de subsídios para a indústria de combustíveis fósseis.

45. Extinção de restrições a investimentos estrangeiros em setores estratégicos.

46. Flexibilização de regras de importação de alimentos e medicamentos.

47. Revogação de padrões de segurança no setor de transportes.

48. Redução do salário mínimo federal para contratos públicos.

49. Cancelamento de regulações trabalhistas para empresas de tecnologia.

50. Suspensão de programas de auxílio a pequenas empresas criados durante a pandemia.


Defesa e Relações Internacionais

51. Aumento do orçamento de defesa dos EUA.

52. Reafirmação de sanções econômicas contra o Irã.

53. Retirada de tropas americanas de regiões em conflito, incluindo Síria e Afeganistão.

54. Cancelamento de negociações de desarmamento nuclear com a Coreia do Norte.

55. Suspensão de financiamento para programas de ajuda externa a países africanos.

56. Ampliação da presença militar na Ásia-Pacífico.

57. Revogação do tratado de controle de armas com a Rússia.

58. Fim do programa de reassentamento de refugiados afegãos.

59. Cancelamento do tratado de livre comércio com a União Europeia.

60. Proibição de investimentos em empresas chinesas ligadas ao setor militar.


Justiça e Direitos Civis

61. Redução das diretrizes sobre violência policial.

62. Cancelamento de programas de fiscalização de crimes de ódio.

63. Ampliação do uso de prisões privadas em contratos federais.

64. Restrição ao direito de voto por correio.

65. Reintrodução da pena de morte para crimes federais.

66. Proibição do ensino de “teoria crítica da raça” em escolas públicas.

67. Suspensão de revisões em casos de sentenças longas para réus minoritários.

68. Redução dos programas de reabilitação para presos.

69. Cancelamento de programas de monitoramento policial comunitário.

70. Ampliação das penalidades para crimes de imigração ilegal.


Administração Pública

71. Implementação do programa "Schedule F" para facilitar demissões de servidores públicos.

72. Revogação da política de teletrabalho para funcionários públicos.

73. Redução de orçamento para agências reguladoras federais.

74. Eliminação de normas de transparência de gastos públicos.

75. Ampliação do poder do Executivo sobre agências independentes.

76. Redefinição de critérios para contratação de servidores federais.

77. Dissolução de comissões de supervisão de ações do Executivo.

78. Cancelamento de políticas de proteção a denunciantes dentro do governo.


Os EUA chegaram finalmente ao que Tocqueville mais temia? - Paulo Roberto de Almeida

Os EUA chegaram finalmente ao que Tocqueville mais temia?

Paulo Roberto de Almeida


Todos somos prisioneiros da “ditadura do momento”, ou tendemos a ser.

Os Founding Fathers se referiam a, e queriam, um tipo de sociedade que não existe mais, convergente no trabalho honesto, ao estilo da “ética protestante” de Max Weber.

Já são muitos os exercícios teóricos sobre os EUA totalmente disfuncionais e em declínio inevitável. Arnold Toynbee, por exemplo, nos volumes posteriores à IIGM do seu monumental Estudo da História, já acreditava nessa decadência no momento de maior poder mundial dos EUA, em 1947. 

Seu sistema eleitoral, por exemplo, foi feito para evitar a “tirania da maioria”, como dizia Tocqueville, mas essa maioria pode ainda assim produzir a tirania da mediocridade, com uma democracia de massas que se opõem ao conhecimento de uma elite educada. 

Os EUA chegaram à mediocridade da maioria?

Olhando a turba que apoia Trump de maneira irracional parece que sim.

Contemporaneamente aos Founding Fathers, o romancista James Fenimore Cooper - o do Último dos Moicanos - já dizia que a democratização leva inevitavelmente à mediocrização. 

Talvez seja o caso. Sociedades homogêneas e pequenas talvez consigam conservar a qualidade do regime democrático; grandes sociedades muito diversificadas podem correr o risco da “tirania da mediocridade”, sujeitas à “ditadura” de algum oportunista capaz de encantar e manipular a maioria de cidadãos pouco educados.

Acho que a maioria dos pouco educados nos EUA encontrou o seu oportunista idiota que os conduzirá ao aprofundamento de um declínio toynbeeano.

Enquanto isso, a China milenar aposta numa sociedade do conhecimento e isso não tem muito a ver com a “ditadura de um partido leninista” e sim com a tradição persistente de um regime tecnocrático baseado na seleção mandarinesca dos mais competentes para gerir uma boa administração das coisas e das pessoas.

O PCC é mais chinês do que marxista-leninista, uma doutrina que ficou na superfície da estrutura política; a infraestrutura humana continuou mandarinesca, isto é, meritocrática.

Nos EUA, a meritocracia parece ter se deixado aprisionar por um oportunista obcecado pela ideia de sua própria grandeza, que ele confunde com a grandeza americana, quando o país já deixou de ser uma sociedade do conhecimento para valorizar apenas a riqueza fugaz do ganho financeiro.

O “enriqueça rapaz” já não segue mais os preceitos austeros de um Benjamin Franklin, e sim o oportunismo manipulador de um especialista em enganar os incautos como o idiota ignorante de um Trump.

Pior para os americanos, sorte dos chineses, que continuam a valorizar o conhecimento de longo prazo sobre o enriquecimento rápido.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 21/01/2025

Dez fatos sobre Alexander von Humboldt - Instituto Goethe

 Dez fatos sobre 

Alexander von HumboldtInstituto Goethe


David Torres Costales, Wikimedia, CC-SA-3.0

Em 2019, celebramos os 250 anos de nascimento do naturalista alemão Alexander von Humboldt. Nesta ocasião, reunimos os fatos mais importantes de sua biografia e a seu respeito.

Pintura de Joseph Stieler, 1843 Pintura de Joseph Stieler, 1843 Wikimedia, Public Domain
Filho de boa família
Para os padrões daquela época, Alexander von Humboldt viveu muito. Ele morreu solteiro no ano de 1859, aos 89 anos, em Berlim, sua cidade natal. Nascido em 1769, era o segundo filho de uma família prussiana fiel ao rei. O então futuro rei Frederico Guilherme II da Prússia era um dos padrinhos de Alexander, cujo pai era um oficial prussiano e a mãe, descendente de uma família de huguenotes (ela havia trazido um filho de seu primeiro c asamento). Nesse ambiente abastado, os irmãos foram criados para se tornarem burgueses bem - educados – a base de seu impulso como pesquisadores. Pois não apenas Alexander se tornou famoso. Seu irmão Wilhelm foi um dos cientistas mais importantes da Alemanha nas ciências humanas e da educação.


Estações importantes
Nascido em Berlim, Alexander von Humboldt estudou em Frankfurt do Oder e trabalhou como assessor em uma mina estatal na condição de funcionário público. Até 1796, nada indicava que ele viria a ser apontado por seus contemporâneos como o homem mais conhecido do mundo depois de Napoleão. Foi quando se demitiu do serviço público – depois de receber uma herança – e passou a se dedicar exclusivamente à pesquisa. Entre 1799 e 1804, Humbold t viajou pela América Latina, tendo participado de três grandes expedições, entre elas a escalada do vulcão Chimborazo (6.310 metros). De volta à Europa, viveu em Paris e Berlim. Em 1829, viajou durante muitos meses pela Rússia até retornar, enfim, à Prúss ia tanto como cientista quanto, temporariamente, como diplomata a serviço do rei.

Pintura de Friedrich Georg Weitsch, 1806Pintura de Friedrich Georg Weitsch, 1806 Wikimedia, Public Domain
Contemporâneos
Alexander von Humboldt veio ao mundo em 1769, um tempo iluminado pelo Esclarecimento. Invenções e descobertas marcaram o fim do século 18 e o início do 19. Er uditos como Immanuel Kant, Arthur Schopenhauer, Johann Wolfgang von Goethe e Friedrich Schiller foram contemporâneos de Humboldt. Carl Friedrich Gauss contribuiu para o desenvolvimento da física e Alessandro Volta e Michael Faraday deram sequência aos estu dos sobre a eletricidade. O inglês Charles Darwin investigou a origem biológica do ser humano, enquanto o francês Louis Pasteur criou os princípios da microbiologia. A cultura dessa época também viria a marcar nosso mundo até hoje: as obras de Wolfgang Ama deus Mozart e Ludwig van Beethoven provêm igualmente desses tempos progressistas.


Humboldt e Goethe: naturalistas que se encontram 
Quando se fala em Johann Wolfgang von Goethe, pensa - se em poes ia, no Sofrimento do jovem Werther – ou no Instituto Goethe. Mas não em pesquisas na área de ciências naturais . Goethe, contudo, foi um naturalista entusiasmado – e por isso amigo de Humboldt, que era dez anos mais jovem. Os dois se conheceram em 1794, na cidade de Jena, através de Wilhelm, irmão de Alexander. Naquela época, Humboldt ainda inspecionava minas de exploração de metais. E Goethe já era o poeta mais conhecido da Alemanha, sentindo - se inspirado pela versatilidade de Humboldt. A inspiração era, contudo, recíproca: Humboldt aprendeu com Goethe a se debruçar sobre a natureza não apenas através de seus instrumentos, mas a entendê - la de maneira emocional.

Friedrich Schiller com Wilhelm e Alexander von Humboldt e Johann Wolfgang von   Goethe no   jardim  de Schiller em JenaFriedrich Schiller com Wilhelm e Alexander von Humboldt e Johann Wolfgang von Goethe no jardim de Schiller em Jena Wikimedia, Public Domain
Erudito universal
Ao contrário de seu irmão, que se dedicava mais às Ciências Humanas, Humboldt demonstrava grande interesse, desde jovem, pelas Ciências Naturais, especialmente por botânica, mas também por geologia, física, oceanografia. Ele era um erudito universal notável, que via a Terra como um todo coeso. Foi ele quem descobriu as zonas climáticas, fez uso de uma ampla gama de instrumentos modernos d e medição e se empenhou pelo fim da escravatura. Para Humboldt, a natureza precisava ser vivida e sentida. E isso em uma época na qual outros cientistas tendiam mais a procurar por leis universais. Uma de suas metas era: todos os seres humanos deveriam ama r a natureza como ele próprio amava.


Humboldt como patrono
Animais, plantas, rios, montanhas, asteroides – não são raros os que levam o nome de Alexander von Humboldt. O pesquisador inspirou tanto a denominação do famoso pinguim Humboldt, quanto da gigantesca corrente de Humboldt e da quase desconhecida levedura Pichia humboldtii . Um total de 19 tipos de animais, 17 plantas, duas geleiras, oito montanhas e serras, um rio, dois asteroides, um mar lunar, uma cratera lunar, um aeroporto e incontáveis escolas levam seu nome. Além disso, a renomada Universidade Humboldt de Berlim tem esse nome em homenagem a Alexander e seu irmão Wilhelm.

Recebeu o nome do naturalista: o pinguim Humboldt (Spheniscus humboldti), supostamente observado pelo cientista no território hoje pertencente ao PeruRecebeu o nome do naturalista: o pinguim Humboldt (Spheniscus humboldti), supostamente observado pelo cientista no território hoje pertencente ao Peru Wikimedia, GNU Free Documentation License
Humboldt e a América Latina
Na América Latina, Humboldt não é apenas respeitado como também ve nerado, muitas vezes como herói do povo. Verdadeiro humanista, ele demonstrava de fato apreço por qualquer pessoa, independentemente de origem e aparência. Além disso, algumas das condições de vida na América Latina naquela época o deixavam chocado. Sendo assessor de minas por formação, ele desceu algumas delas também na América Latina, até as camadas mais profundas. E aquilo que viu o deixou indignado, sobretudo na Nova Espanha, hoje território mexicano. As condições atrozes nas quais os indígenas trabalh avam naquela época eram para ele inaceitáveis. No México, Humboldt é, por isso, considerado parte do movimento de independência e um dos fundadores do país. Em Cuba, por sua vez, ele continua sendo venerado em função de seu empenho contra a escravatura. E na Venezuela seu nome é até hoje conhecido entre os camponeses da etnia dos Chaima por ter atuado na época contra a Igreja católica e seus métodos opressores.

Humboldt und Forscherfreund Aimé Bonpland vor dem ChimborazoHumboldt con su amigo investigador Aimé Bonpland frente al Chimborazo Wikimedia, Public Domain
A montanha
Humboldt percorreu milhares de quilô metros em sua vida, mas determinados 5.907 metros ficaram especialmente gravados em sua memória, graças à escalada do Chimborazo que, com seus 6.310 metros de altitude, era então considerado a montanha mais alta do mundo. Com parcos equipamentos, Humboldt e seus companheiros saíram, no ano de 1802, rumo ao topo do vulcão inativo localizado no atual território do Equador. Ao atingir em 5.400 metros, manifestou - se a anoxia. Os escaladores sangravam e tinham vertigens, mas mesmo assim continuaram. A uma altitude 3031 toesas (5.917 metros), foram obrigados a parar – uma fenda impedia que continuassem. Mas por que Humboldt escalou essa montanha? Ele queria provar que as características da superfície terrestre se devem a uma enorme potência de fogo existente no interior do planeta. As rochas nas proximidades do topo confirmaram sua suposição: ela lembravam carvão. A excursão audaz pela montanha não tinha por finalidade contribuir para sua fama de escalador, e sim para as pesquisas sobre a natureza. Humboldt j amais se esqueceu d essa tortura . Pouco antes de sua morte, em 1859, ele posou para um retrato em Berlim – com o Chimborazo ao fundo.

Vulcão Chimborazo no atual território do EquadorVulcão Chimborazo no atual território do Equador David Torres Costales, Wikimedia, CC-SA-3.0
O grande comunicador
O que era preciso fazer quando se queria dividir um saber antes da invenção da Wikipédia? Como fundar uma rede internacional sem o Facebook? Escrevendo cartas. Muitas cartas. Pelo menos foi o que fez Alexander von Humboldt, escrevendo em torno de 50 mil cartas. Ou seja, uma média de duas por dia de vida. Dessa forma, ele trocava informações com outros cien tistas, documentava seus próprios resultados e dividia suas pesquisas – 200 anos antes da atual sharing economy . Com base em aproximadamente 13 mil cartas conservadas até agora, é possível calcular a amplitude dessa rede em aproximadamente 2500 remetentes e destinatários.

Cosmos
Tudo está interligado. Mas o que isso significa e o que tem a ver com Humboldt? Ele foi o primeiro a documentar as zonas climáticas e de vegetação do mundo. E provou também que, em uma determinada altitude nas montanhas, a vegetação é semelhante em todo o mundo. Foi ele também quem demonstrou que há zonas climáticas, onde elas estão localizadas e como influem no crescimento da vegetação. Humboldt reconheceu que o clima passa por mudança s em função da ação do homem, do desmatamento, da irrigação artificial e da emissão de gases e calor nos centros industriais. Em sua obra mais influente, Cosmos, um esboço da descrição física do universo (1845 - 1862), de quatro volumes, Alexander von Humbol dt resumiu suas evidências científicas com a ajuda de diversos outros especialistas.

A historiadora norte - americana Andrea Wulf analisou a obra do pesquisador e concluiu assim em uma entrevista à revista alemã Stern : “Humboldt foi o primeiro ambientalista do nosso planeta. O pai do movimento ambientalista. O homem que descobriu que o ser humano pode modificar o clima”. 

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

"O fascismo nosso de cada dia" - Michel Foucault (via Maurício David)

 Dica de leitura : "O fascismo nosso de cada dia" (primeira das palestras que o grande pensador francês Michel Foucault proferiu no Brasil, na USP, em outubro de 1975)

[Introdução de Maurício David, a quem devo a graça desta matéria]


“Fascismo”, hoje em dia no Brasil, virou um xingamento, uma espécie de denegrimento da opinião de quem pensa diferente do outro... O conceito de “fascismo” perdeu então, qualquer relevância explicativa ou significado cognitivo. Tento explicar isto aos meus alunos ou ex-alunos, e também a amigos que cultivo no meu jardim de amizades, de altos oficiais das Forças Armadas a colegas da Academia... Mas é difícil, porque é tão fácil xingar e desqualificar o outro... Para alguns energúmenos, Bolsonaro, Trump e quem mais seja voz discordante na política, são todos fascistas e golpistas...Assim fica difícil explicar o que foi o fascismo e o perigo que significaria o retorno das idéias fascistas... Mas a leitura do texto de 1975 de Foucault pode ser um bom começo... Aliás, assim que voltei do exílio em 1979, a primeira vez em que me encontrei com o então jovem economista de oposição (então técnico do IPEA), Pedro Malan – de quem o então poderoso Delfim Neto guardava rancor pelas posições independentes que mantinha – mas que, diga-se de passagem, jamais foi tocado pela repressão do regime militar em todo o período anterior à abertura política), o Malan tinha em mãos um livro do Foucault , “Microfísica do Poder”, que estava lendo. Eu próprio não tinha lido o livro do grande pensador francês, já na época leitura obrigatória de todos os que se interessavam pelas estruturas internas de repressão que apareciam invisíveis para grande parte da Sociedade. Para o Malan, não : êle me falou com admiração sobre o livro que estava lendo e me abriu as portas da percepção para uma problemática que até então me havia passado desapercebida. Que figura magnífica o Malan ! Depois vim a trabalhar com êle na sua gestão no Instituto de Economistas do Rio de Janeiro-IERJ e êle foi o primero que levantou nas páginas do jornal do IERJ a questão das cassações brancas no Brasil, o aspecto que então vinha a luz da microfísica do poder repressivo. Tornei-me amigo e admirador do Pedro, já então um economista de grande prestígio ( o Pedro foi colega no IPEA do grande economista e “brazilialista” emericano Albert Fishlow, que o levou para fazer o doutorado em economia na prestigiada Universidade de Berkeley, na Califórnia, uma das “top” universidades americanas). Revi o Pedro em Nova York (quando êle trabalhou um período no setor de estudos transnacionais da ONU) e em Washington, onde êle passou um período trabalhando como representante brasileiro no Banco Mundial e no BID, até ser chamado pelo Fernando Henrique para ser o negociador da renegociação da dívida externa brasileira. O Fernando Henrique se encantou com o Pedro e fez dele o seu Ministro da Fazenda, nos seus dois governos, com o sucesso que sabemos...

Não tenho estado com o Malan nos últimos, tempos mas assisti os vídeos da sua participação nas comemorações dos 20 anos do lançamento do Plano Real, organizadas pelo Departamento de Economia da PUC (onde fomos colegas nos anos 80). Brilhante como sempre, o Malan ! Que falta nos fazem homens públicos da qualidade e estatura do Pedro Malan !

MD

P.S.: Não posso me esquecer – e nunca me esquecerei !– de que o Pedro, em um momento difícil da minha vida, quando a mão pesada da repressão se abateu novamente sobre mim e a minha família, procurou-me na PUC – onde éramos colegas, como já destaquei – e se ofereceu para me conseguir uma bolsa de pesquisa do CNPq, onde êle integrava o Comitê de Economia. Na ocasião, com minha esposa grávida do meu segundo filho e eu com um contrato na PUC a honorário fixo, esta bolsa nos permitiu, a minha e a minha família, a sobrevivência por um ano em condições apertadas, mas as suficientes para desbravar as difíceis condições do retorno de um exílio de dez anos...


[Mauricio David] 

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O fascismo nosso de cada dia

 

Por MICHEL FOUCAULT*

Transcrição de um curso na USP, proferido em outubro de 1975


Apresentação do tradutor: 


Há pouco foi publicado na França, num volume de inéditos de Michel Foucault intitulado Généalogies de la sexualité (Vrin, 2024), o curso ministrado por ele em outubro de 1975, na USP, com o título de “A genealogia do saber moderno sobre a sexualidade”. Na ocasião, por um pedido dos alunos pertencentes ao movimento estudantil, transmitido a ele e a Gerard Lebrun por Marilena Chauí, Michel Foucault, por solidariedade às inúmeras prisões de alunos e professores da USP, interrompeu seu curso.

Na ocasião, ele leu um breve manifesto, escrito por ele mesmo, na assembleia dos estudantes reunidos na FAU. O ponto culminante da repressão do Estado naquela ocasião foi o assassinato do jornalista Vladimir Herzog. Foucault não deixou também de participar do ato ecumênico em memória de Herzog, realizado na Igreja da Sé cercada pelas forças do exército. Esse episódio foi lembrado com detalhes por José Castilho Marques Neto em “No táxi com Michel Foucault. Memórias de um estudante de filosofia aos 22 anos” (Cult, 225, julho 2017).

O breve texto traduzido abaixo, faz parte da primeira aula de um curso projetado para oito aulas, das quais apenas quatro foram ministradas, pelo motivo acima referido. Trata-se da tentativa de explicitar as relações entre o que Michel Foucault chamava na época de “microfísica do poder” e a questão do fascismo.

Pessoalmente, considero que polêmicas até recentemente muito intensas, que reduzem o pensamento de Michel Foucault à “pós-modernidade”, ao “pós-estruturalismo”, ao “irracionalismo” ou ainda a um antimarxismo total, devem ganhar seu devido lugar na história de uma época em que pouco se conhecia do conjunto de inéditos, que conhecemos hoje. Passadas algumas décadas de efervescência dessas polêmicas, quanto mais ganhamos distância temporal delas, mais podemos ler sua obra com paciência e sobriedade e, assim, podemos mensurar melhor, para além da adesão apaixonada ou da crítica do leitor apressado, a lucidez e o alcance de suas análises e quiçá no que elas ainda nos ajudam a entender a persistência do fascismo nos dias atuais.[i]


Michel Foucault – curso de 1975

“A essa questão do porquê, a questão da razão pela qual apareceu o tema do poder e do poder infinitesimal, devo confessar que não posso responder, mas gostaria de ao final desta conferência ou do curso, que se possa discutir um pouco isso e ver como se poderia tentar elaborar uma resposta. Gostaria no momento, na falta de explicação do porquê o problema se pôs tal qual se põe agora, de simplesmente esboçar algumas considerações sobre o ‘como’. Como esse problema se colocou, pelo menos nos países da Europa ocidental? Creio que se pode destacar dois processos, no decorrer dos quais apareceu o problema desse poder infinitesimal, do micropoder.

De um lado, creio que apareceu o que se poderia chamar de colapso do fascismo. E, [a propósito] desta linha do colapso do fascismo, se pode observar duas coisas. De início, é que esse fascismo, que foi definido pela Terceira Internacional como vocês o sabem, como ‘a ditadura sangrenta da fração mais reacionária do grande capital’, essa ditadura quando se pode vê-la mais de perto, após seu colapso em 1945, revelou que não se tratava apenas disso, que não se tratava no fascismo apenas da confiscação por alto de um aparelho de Estado, por capangas que eram comandados, direta ou indiretamente, por uma certa facção de acionistas do grande capital, etc.

O fascismo era talvez isso, mas igualmente outra coisa: o fascismo, se ele pôde se manter e se manter por muito tempo, foi por ter podido prolongar longe os seus efeitos no corpo social, foi porque pôde aprofundar suas raízes. Se o fascismo pôde se manter por tanto tempo na Europa e em outros países onde se estabeleceu, é que ele pôde utilizar no interior mesmo do corpo social toda uma série de estruturas de poder pré-estabelecidas.

Como se sabe, houve uma utilização da medicina e da psiquiatria pelo fascismo; houve utilização de um estatuto secular, milenar mesmo, da mulher considerada – há quanto tempo! – como reprodutora biológica ou escrava doméstica. O fascismo utilizou no corpo social onde ele se estabeleceu todas as partilhas que já haviam sido feitas, todas as partilhas de marginalidade concernentes às raças, às doenças, às anomalias – sexuais, marginalidade da delinquência, etc.

Quando o fascismo funcionou, o foi sobre essa base pré-existente; e é bem verdade que suprimido o nazismo, apareceram então nas sociedades liberais, mas justamente com um valor de escândalo, uma vez que já tinham sido utilizados pelo fascismo, todos esses elementos de base, dos quais o fascismo se serviu. Esses elementos de base haviam sido, até aí, tolerados, aceitos e mesmo não tendo sido percebidos, faziam de qualquer modo parte da trama contínua da existência cotidiana. E, depois, após terem sido utilizados pelo fascismo, como resultado, como vocês sabem, se tornaram estritamente intoleráveis.

O exemplo mais simples e o mais famoso é bem entendido o campo de concentração. O campo de concentração, que foi até um certo ponto a forma máxima, paroxística do fascismo, quando o campo de concentração, […] denunciado, fotografado, suprimido e solenemente suprimido desapareceu do horizonte europeu, o que se encontrou? Se encontrou os asilos, se encontrou os hospitais, se encontrou a unidade de confinamento. E a problemática do confinamento, do confinamento psiquiátrico, do confinamento dos anormais, etc., essa problemática apareceu na Europa sob a repercussão mesma do fascismo.

Não podemos esquecer de Charles Bettelheim, que na sua prática foi um daqueles que mais radicalmente pôs em questão o confinamento psiquiátrico de crianças, foi alguém que saiu dos campos de concentração. Pelo filtro do fascismo apareceu em nossas sociedades – aquilo que escandaliza em nossas sociedades – todo um conjunto de poderes excessivos, de pequenas violências, de dominações intoleráveis, de persistências absurdas, toda uma série de dissimetrias micropolíticas que se exerciam há um longo tempo e com toda tranquilidade, por meio da medicina, da psiquiatria, da escola, da família, da justiça penal, da potência marital, do sexismo machista, tudo o que vocês queiram.

Nos grupos esquerdistas, atualmente, se fala de bom grado do fascismo do psiquiatra, do professor que vos cola a um exame. De minha parte, creio que é preciso dizer que é muito bonito tentar liberar a inserção psiquiátrica do fascismo nas sociedades europeias, seu enraizamento escolar, o apoio que ele pôde ter na medicina, na família, no sistema judiciário. Ditadura sangrenta da fração mais reacionária do grande capital? Talvez, em uma extremidade.

Mas, na outra extremidade […] o que torna possível o fascismo não é essa ditadura sangrenta, é alguma coisa bem menor ou bem pior como vocês queiram, é a subjugação abafada, que se exerce silenciosamente na amplitude mais profunda do corpo social. Em suma, a desaparição do fascismo institucional, do grande fascismo histórico e sangrento, deixou aparecer atrás dele uma massa de poderes excessivos, de violências intrafamiliares, parecidos com ele, que o prepararam e sobrevivem a ele. Penso que um dos pares que fez aparecer atualmente o problema dos micropoderes foi, pois, a existência e o colapso do fascismo.


*Michel Foucault (1926-1984) foi professor de filosofia na cátedra História dos Sistemas do Pensamento no Collège de France. Autor, entre outros livros, de O nascimento da biopolítica (Martins Fontes). [https://amzn.to/4jlokJo]

Tradução: Ernani Chaves.

Nota do tradutor: 

[i] A notação (…) significa palavras inaudíveis, devido à problemas com a gravação.

Boletim do CDS sobre a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia: situação em 20 de janeiro de 2025

 Alguns poucos seguidores meus no blog Diplomatizzando, eventualmente no Facebook, onde posto alguns resumos sobre a barbárie de Putin contra a Ucrânia me perguntam por vezes onde me informo sobre a situação. Tenho várias fontes, sendo a principal o CDS, abaixo reproduzido o seu boletim deste dia 20 de janeiro. Mas também recebo os alertas diários da Al Jazeera, chamadas da Times Radio, postagens no YouTube do site Hoje no Mundo Militar, e várias outras fontes em todos os periódicos que recebo diáriamente. Também recebo, leio e jogo fora, alguma propaganda russa e brasileira paga pelo Putin, com muita desinformação, o que sei reconhecer.

Recomendo aos interessados que sigam este boletim e os muito fanáticos por guerra que façam alertas no Google, na Al Jazeera e outros boletins de informação, como eu faço.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 20/01/2025

Russia's war on Ukraine. 20.01.25

Operational situation

On the Kursk direction, Russian forces advanced on the eastern outskirts of Kurilovka, near Viktorovka, regrouped near Staraya and Novaya Sorochina, and attacked near Nikolaevo-Daryino and Viktorovka.

The “Siversk” Operational-Tactical Group (OTG) conducted reconnaissance near Mala Loknia and Viktorovka.

On the Kharkiv direction, Russian forces unsuccessfully advanced near Vovchansk.

On the Kupyansk direction, Russian forces attacked near Stroyivka, advanced north of Topoli, southwest of Stepova Novoselivka, and from Vyshneve to Zelenyi Hai. They attacked near Petropavlivka, Pishchane, Kolisnykivka, Zahryzove, Lozova, Nadiia, Pershotravneve, Kopanky, Novoyehorivka, and Novoserhiyivka.

On the Lyman direction, Russian forces advanced further west from Ivanivka and south of Terny, attacked near Novosadove, Novolyubivka, Kolodyazi, Zelena Dolyna, Zarichne, and the Serebriansk Forest.

Ukrainian Defense Forces conducted a successful counterattack.

On the Siversk direction, Russian forces unsuccessfully attacked near Verkhnokamianske and Ivano-Dariivka.

On the Kramatorsk direction, Ukrainian Defense Forces regained lost positions at the refractory materials plant in the center of Chasiv Yar and repelled assaults within the plant's territory.

Russian forces advanced along Tolstoy Street in Chasiv Yar, captured the "Novopivnichnyi" and "Desiatka" districts, and attacked near Predtechyne, Stupochky, and Bila Hora.

On the Toretsk direction, Ukrainian Defense Forces regained lost positions in southern Shcherbynivka.

Russian forces advanced north to the Toretsk mine area and northwest along Stepana Razina Street in the western part of the city, attacking near Dyliivka and Shcherbynivka.

On the Pokrovsk direction, Russian forces captured Kotlyne, but fighting continues in the northern part of the village. The enemy captured Mine No. 2 near Kotlyne, advanced and entrenched on the northern outskirts of Uspenivka, entered Novoandriivka, moved toward Sribne, and captured Vozdvyzhenka.

The enemy attacked near Pokrovsk, Zelenyi Polia, Baranivka, Tarasivka, Vodyane Druhe, Myroliubivka, Myrnohrad, Yelyzavetivka, Oleksandropil, Promin, Lysivka, Kotlyne, Zvirove, Udachne, Uspenivka, Nadiivka, Novotroitske, Zelenyi, and Shevchenkove. They carried out airstrikes with KAB bombs with UMPC near Kotlyne. Fighting continues on the western line of Novoukrainka–Lysivka–Sukhy Yar and for the heights near Zelenyi and Dachenske.

On the Novopavlivka direction, Russian forces slightly advanced southwest of Stari Terny and attacked near Slovyanka, Petropavlivka, Konstyantynopil, Andriivka, Dachne, Ulakly, and Yantarne.

Ukrainian Defense Forces counterattacked near Dachne and Zelenivka.

On the Vremivka direction, Russian forces made minor advances on the eastern outskirts of Velyka Novosilka and northeast of Velyka Novosilka, storming from positions in Shakhtarske toward Velyka Novosilka.

On the Prydniprovskyi direction, Ukrainian Defense Forces carried out a missile strike and destroyed a Nebo-SVU radar station in Kherson Oblast.

General conclusion:

  • Russian forces prioritize advancing on the Pokrovsk direction and attempt to exploit vulnerabilities in the defenses of the Armed Forces of Ukraine west of Pokrovsk.

  • Ukrainian Defense Forces have largely withdrawn from Toretsk but still hold positions in Krymske north of it and select positions on its western outskirts. The city is effectively occupied by the enemy. After grueling urban battles, the enemy's 3rd Combined Arms Army lacks reserves to continue the offensive.

  • Russian forces hold positions on the northern and eastern outskirts of Uspenivka. The pace of their advance in Uspenivka is similar to their progress near Nadiivka, Novoandriivka, and Sribne, as it takes them several days to capture small villages consisting of just two or three streets.

  • Russian forces attacking and slowly advance in the southern, eastern, and western parts of Velyka Novosilka, taking advantage of challenging weather conditions.

Change in the line of contact (LoC):

  • There were 189 combat engagements on various fronts.

  • On the Kharkiv direction, supported by aviation, the enemy attempted three times to breach Ukrainian defensive lines near Vovchansk.

  • On the Kupyansk direction, there were 13 enemy attacks. Ukrainian Defense Forces repelled assault actions near Stroyivka, Pishchane, Kolisnykivka, Zahryzove, Kutkivka, Nova Kruhlyakivka, and Lozova.

  • On the Lyman direction, the enemy attacked 17 times, attempting to break through defenses near Novoyehorivka, Nadiia, Novoserhiyivka, Pershotravneve, Zelenyi Hai, Makiivka, Novosadove, Zarichne, Kolodyazi, Zelena Dolyna, Terny, and in the Serebriansk Forest.

  • On the Siversk direction, the enemy carried out offensive actions in the areas of Ivano-Dariivka and Verkhnokamianske, with a total of 2 attacks repelled.

  • On the Kramatorsk direction, the occupiers attacked 7 times in the areas of Chasiv Yar and Bila Hora.

  • On the Toretsk direction, the enemy conducted 19 attacks near the settlements of Toretsk, Dyliivka, and Shcherbynivka.

  • On the Pokrovsk direction, Ukrainian Defense Forces stopped 89 enemy assault actions toward Zelene Pole, Oleksandropil, Vodyane Druhe, Yelyzavetivka, Myroliubivka, Promin, Lysivka, Myrnohrad, Pokrovsk, Zvirove, Shevchenko, Udachne, Uspenivka, Kotlyne, Nadiivka, Novotroitske, Novoandriivka, Slovyanka, Petropavlivka, Andriivka, Dachne, Ulakly, and Yantarne.

  • On the Novopavlivka direction, the enemy carried out 16 attacks in the directions of Konstyantynopil and Velyka Novosilka. Additionally, aviation was actively used.

  • On the Orikhiv direction, the occupation forces stormed the positions of the Ukrainian Defense Forces once in the area of Novoandriivka.

  • On the Prydniprovskyi direction, Ukrainian Defense Forces are making efforts to prevent the enemy from advancing deeper into Ukrainian territory, successfully repelling two enemy offensive actions

  • In the Black Sea-Azov naval operational area, the enemy naval group on combat duty consists of:

    • Mediterranean Sea: 6 ships, including 2 cruise missile carriers; the total salvo is 22 cruise missiles.

Supporting operation:

  • Ukrainian Defense Forces carried out airstrikes on the "Bryansknefteprodukt" oil depot, part of the "Rosneft" corporation, in the city of Klintsy, Bryansk Oblast; on the Gorbunov Kazan Aviation Plant, the sole producer of strategic bombers; and on the Kazan Helicopter Plant.

Possible operation situation developments:

  • The enemy command's plan for the Southwestern Theater of Military Operations during the winter campaign of 2025 may include an operation to capture Pokrovsk and the final occupation of Toretsk, Chasiv Yar, and Vovchansk. Another possible course of action could be the occupation of Kupyansk or simultaneous actions in several directions.

  • On the Kramatorsk direction, the "Khortytsia" OSG units will be forced to retreat to the Kostyantynivka area if the enemy reaches the Chervone–Stupochky line and simultaneously launches an offensive northward at the junction of its 41st and 51st Combined Arms Armies from the Novooleksandrivka–Arkhanhelske line, advancing to the Yablunivka–Oleksandro-Kalynove line on the Toretsk direction.

  • The enemy’s offensive on Pokrovsk may proceed according to two main scenarios:

    • A breakthrough to the city from the south and the gradual expulsion of Ukrainian Defense Forces from the city due to numerical superiority in forces and means (the enemy's tactics in Chasiv Yar).

    • A deep encirclement of Pokrovsk from the south, cutting the road to Mezhova, regrouping part of the 2nd Combined Arms Army's forces, encircling the city from the north as well, cutting the T0504 road to Kostyantynivka.

  • The 36th, 57th, and the 114th Separate Motorized Rifle Brigades, advancing from the south towards Sukhyi Yaly and Yantarne, might simultaneously, together with the actions of the 51st and 8th Combined Arms Armies, once again attempt to break through in the direction of Zelenivka – Ulakly and further towards Konstyantynopil.

  • Ukrainian Defense Forces will have to completely withdraw from the remnants of the Kurakhove bridgehead, engaging in fierce rear-guard battles, as the prospects of holding it worsen gradually with the enemy's steady advance in the zones of the 90th Tank Division and the 110th Separate Motorized Rifle Brigade.

Russian operational losses from 24.02.22 to 20.01.25

Personnel - almost 820,430 (+1,690);

Tanks 9,821 (+10);

Armored combat vehicles – 20,454 (+42);

Artillery systems – 22,074 (+19);

Multiple rocket launchers (MLRS) – 1,262 (0);

Anti-aircraft warfare systems – 1,049 (+3);

Vehicles and fuel tanks – 34,488 (+87);

Aircraft - 369 (0);

Helicopters – 331 (0);

UAV operational and tactical level – 22,768 (+153);

Intercepted cruise missiles – 3,051 (0)

Boats/ships – 29 (0).

Humanitarian + general:

  • On the night of January 20, Russian occupying forces attacked Ukraine with 141 strike drones. Air defense shot down 93 of them, 47 drone decoys were lost from radar, and two returned to the territory of the aggressor.

  • In Sumy Oblast, the enemy launched a missile strike on the Shostka community. As a result of the attack, residential multi-story buildings and an infrastructure facility were damaged. Preliminary reports indicate no casualties.

  • During the night of January 20, the enemy shelled a non-operational thermal power station belonging to PJSC "Centrenergo." The station had previously been completely destroyed by shelling. No injuries were reported.

  • Russian forces attacked Kherson Oblast with drones and artillery on the morning of January 20. A man in a shuttle bus was injured in the Tekstilnyi area of Kherson.

  • This morning, Russian troops shelled the village of Stepanivka in the Kherson community, injuring a 39-year-old woman. Additionally, Russian forces attacked a bus with a drone in the Dnipro district of Kherson, injuring the driver.

  • Around 11 p.m. on January 19, Russia dropped three guided bombs on the village of Zolochiv in Kharkiv Oblast. The strike destroyed three private houses, damaged 15 houses, utility structures, two cars, three shops, and power grids. Two people were injured.

  • An occupation "court" in the so-called "DNR" sentenced "Azov" fighter Ruslan Minagulov to 24 years in a maximum-security penal colony. The occupation authorities accused him of "cruel treatment of the civilian population" and the murder of more than two individuals.

  • As of January 20, the unified and state registers of the Ministry of Justice of Ukraine were restored after a large-scale cyberattack by Russia on December 19, 2024.

  • During Russia's full-scale invasion of Ukraine, at least 1,666 Russian soldiers from units stationed in occupied Crimea have died. Most of them were likely Ukrainian citizens, according to the Representative Office of the President of Ukraine in the Autonomous Republic of Crimea.

  • Ukrainian law enforcement agencies have in absentia issued charges against the directors of eight schools located in temporarily occupied territories of Zaporizhzhia and Kherson Oblasts for implementing educational programs according to Russian standards.

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