O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sábado, 8 de fevereiro de 2025

Brasil importa mais do que exporta para os Estados Unidos há 15 anos consecutivos - Camila Barros (Veja)

Brasil importa mais do que exporta para os Estados Unidos há 15 anos consecutivos

No ano passado, saldo comercial entre os dois países resultou em déficit de

253 milhões de dólares para o Brasil; veja série histórica

Por Camila Barros

Revista Veja, 7/022025


Em meio ao tarifaço anunciado (e depois suspenso) pelo presidente dos Estados

Unidos, Donald Trump, o governo e o mercado avaliam o que aconteceria, se as

exportações brasileiras fossem taxadas. Trump já afirmou que o Brasil é um dos

países que “querem mal” aos americanos, devido às tarifas que aplica sobre as

importações do Tio Sam. O fato, contudo, é que há mais de uma década, a

relação comercial entre Brasil e Estados Unidos é marcada por um déficit na

balança brasileira, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria,

Comércio e Serviços (MDIC).

Iniciada em 1997, a série histórica mostra que o saldo comercial foi negativo para

o Brasil em 19 dos últimos 28 anos – ou seja, o país importou mais dos EUA do

que exportou.

Entre 2000 e 2008, o saldo comercial foi favorável ao Brasil, com um pico de

superávit em 2005, quando atingiu 10 bilhões de dólares – resultado de 22,6

bilhões em exportações e 12,6 bilhões em importações.

O cenário se inverteu em 2009, quando o Brasil registrou um déficit de 4,4 bilhões

de dólares no comércio com os Estados Unidos. Desde então, o saldo tem sido

negativo, com o pior resultado em 2022, quando o prejuízo chegou a 13,8 bilhões

de dólares – reflexo de 37,4 bilhões em exportações e 51,3 bilhões em

importações.

Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás

apenas da China. Em 2024, as exportações brasileiras para o país totalizaram 40,3

bilhões de dólares, correspondendo a 12% do total exportado, enquanto as

importações de produtos americanos atingiram 40,6 bilhões de dólares, ou 15,5%

das compras totais do Brasil.


Trump promete taxar importações

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já afirmou que considera as

tarifas brasileiras excessivas sobre os produtos americanos. Por isso, à medida

que o republicano avança com seu plano de taxação das importações na

fronteira, o Brasil acende um sinal de alerta para possíveis cobranças adicionais

no futuro.

Kevin Hassett, presidente do Conselho de Políticas Econômicas de Trump,

afirmou que uma das alternativas estudadas pelo governo é “equiparar” as tarifas

aplicadas entre os países, por meio da chamada Reciprocal Tariff Act. Nesse

cenário, as tarifas sobre os produtos brasileiros poderiam aumentar

significativamente, já que o Brasil impõe uma tarifa média de 11,2% sobre os

produtos americanos, enquanto os Estados Unidos cobram, em média, 1,5%

sobre os itens brasileiros.


Tributo a Maria da Conceição Tavares - revista Desarrollo económico

Tributo a Maria da Conceição Tavares

Desarrollo económico

diciembre 2024

|Publicaciones periódicas, revistas y boletines » Revista CEPAL




Autor: Fernández, Virginia Laura (Descripción física: páginas 7-16) Editorial: CEPAL

Fecha: diciembre 2024

Signatura: LC/PUB.2024/11-P

Ver publicación

http://repositorio.cepal.org/handle/11362/81223


Descripción

Este artículo es un breve homenaje a la vida y obra de Maria da Conceição Tavares, destacada economista heterodoxa y figura central en el pensamiento económico de América Latina. A través de una narrativa cronológica, se analiza su contribución teórica desde su paso por la Comisión Económica para América Latina y el Caribe (CEPAL) hasta su consolidación como profesora en la Universidad de Campinas (UNICAMP) y la Universidad Federal de Río de Janeiro (UFRJ), así como su incursión en la política brasileña. El texto resalta su papel como pionera del estructuralismo latinoamericano, su análisis crítico al modelo de sustitución de importaciones y su capacidad para integrar enfoques cuantitativos con perspectivas históricas y sociales. Tavares es recordada no solo por sus aportes académicos, sino también por su activismo político y su compromiso con la justicia social, y se considera una figura clave para entender los desafíos actuales del desarrollo inclusivo en la región.

 

A diplomacia da americanização de Salvador de Mendonça (1889-1898) - Gabriel Terra Pereira (Cultura Acadêmica Editora)

 A diplomacia da americanização de Salvador de Mendonça (1889-1898)

Gabriel Terra Pereira

São Paulo: Cultura Acadêmica Editora, 2009

181 Pages


A transição da Monarquia para a República no Brasil foi cercada de conturbados eventos no plano interno, em razão do "vazio de poder" decorrente das instituições decaídas, e no plano externo, eleito como ponto de referência e de legitimidade para a boa condução do país. Partindo do pressuposto de que havia porosidade entre a política interna e a política externa, a diplomacia exerceu alta influência nos acontecimentos domésticos nacionais, referendando principalmente o relacionamento com os Estados Unidos como o ponto de apoio à instável política interna. O maior representante dessa linha de atuação foi Salvador de Mendonça, diplomata do Brasil nos Estados Unidos. Americanista convicto, ele diplomata trabalhou pela aproximação - leia-se americanização - do Brasil, intervindo em três ocasiões: na Conferência Americana de 1889-1890 em Washington, na assinatura do Tratado de Reciprocidade Comercial de 1891 e durante a Revolta da Armada no Rio de Janeiro em 1893-1894. Fundamentando a pesquisa em sua na correspondência diplomática, o autor desta obra mostra a importância da atuação de Salvador de Mendonça na aproximação com os Estados Unidos, processo que ao longo de quase uma década tornou sinônimas as ideias de republicanização e americanização da esfera política brasileira.

 

https://www.academia.edu/1552247/A_diplomacia_da_americaniza%C3%A7%C3%A3o_de_Salvador_de_Mendon%C3%A7a_1889_1898_?email_work_card=view-paper&li=0

 

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

Relatório de minhas leituras no Kindle, no ano de 2018

Antigamente o Kindle me mandava este tipo de relatório. Não sei por que parou...


terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Kindle: Reading Insights, report of a year, 2018

O Kindle me manda um relatório, sobre os livros que li, total ou parcialmente, em 2018:

Your 2018 Kindle Year in Review: 
The books you read, bought or borrowed last year: 

1) World Order, Henry Kissinger
2) Anti-Intellectualism in American Life, Richard Hofstadter
3) Confronting History: A Memoir, George L. Mosse
4) Shame and Glory of the Intellectuals, Peter Viereck
5) The Outline of History, H. G. Wells
6) Economical Writing, Deirdre McCloskey
7) World War I, John Buchan
8) The True Believer, Eric Hoffer
9) Metapolitics: From Wagner and the German Romantics to Hitler, Peter Viereck
10) Dark Continent: Europe's Twentieth Century, Mark Mazower
11) Reflections of a Veteran Pessimist: Contemplating Modern Europe, Walter Lacqueur
12) The Rise and Fall of Communism, Archie Brown
13) Mr. Wilson's War, John Dos Passos
14) Churchill, Paul Johnson
15) Hitler and Churchill: Secrets of Leadership, Andrew Roberts
16) Churchill: Walking with Destiny, Andrew Roberts
17) Paris 1919: Six Months That Changed the World, Margaret MacMillan
18) The Great Convergence, Richard Baldwin
19) Las Virtudes Burguesas: Etica para la era del comercio, Deirdre McCloskey
20) Bourgeois Dignity: How Economics Can't Explain the Modern World, Deirdre McCloskey
21) Bourgeois Dignity (Cato Unbound), Deirdre McCloskey
22) The Rhetoric of Economics, Deirdre McCloskey
23) American Default: The Untold History of FDR, the Supreme Court and the Battle over Gold, Sebastian Edwards
24) The Road to 1914: The War that Ended Peace, Margaret MacMillan
25) O Pior Emprego do Mundo: 14 ministros da Fazenda..., Thomas Traumann
26) KGB, Charles Rivers Editors
27) How Democracies Die, Steven Levitsky
28) Putin's Kleptocracy, Karen Dawisha
29) 1919 Versailles: The End of the War to End All Wars, Charles L. Mee Jr.
30) What Have You Changed Your Mind About?, John Brockman
31) Coffee: the epic of a commodity, H. E. Jacob
32) The Russian Revolution, Richard Pipes
33) The basic Laws of Human Studpidity, Carl M. Cipolla
34) Postwar: A History of Europe Since 1945, Tony Judt
35) O Homem que Pensou o Brasil: trajetória intelectual de Roberto Campos, Paulo Roberto de Almeida (org.)
36) Our Culture: What's Left of It, Theodore Dalrymple
37) The KGB and Stasi, Charles Rivers Editors
38) For the New Intellectual: The Philosophy of Ayn Rand, Ayn Rand
39) The Fate of the West, Bill Emott
40)  A Man Without a Country, Kurt Vonnegut
41) A Short History of World War II, James L. Stokesbury
42) Kant ant the Platypus: Essays on Language and Cognition, Umberto Eco
43) The Decline and Fall of the Roman Empire (Edited and Abridged), Edward Gibbon
44) Brave Genius: A Scientist and a Philosopher..., Sean B. Carroll
45) Churchilll's Trial: Winston Churchill and the salvation of Free Government, Larry P. Arn
46) How Churchill Saved Civilization, John Harte

Ainda me dá a data em que comprei ou emprestei cada um desses livros, e o percentual de leitura de cada um. Um pouco intrusivo sobre a minha privacidade esse Kindle, mas ainda assim, um bom registro de muita coisa que está em meu soft Kindle, livros lidos no próprio aparelho Kindle, no iPhone ou no computador, mas ainda tem muitos outros livros "desprezados" nesse último ano, e nem sei quando comecei a usar o Kindle. Como soft, desde o início, como aparelho, só no último ano, um mini-Kindle.
Não só intrusivo, esse Kindle, mas persuasivo também: para cada livro lido, me oferece de 5 a 10 outras opções de livros similares, em Kindle.

Ainda me dá o relatório completo de quanto tempo li em 2018: 133 days, e ainda me avisa que tenho 22 livros dos quais já passei da metade...
Também avisa que eu bati o meu próprio recorde de leituras seguidas: 25 semanas, de 29 de julho a 19 de janeiro. Mais: 14 dias de leitura em dezembro de 2018, 13 dias em Janeiro.

Por fim um agradecimento: We thank you for being part of Kindle and here's another great year of reading, ou seja, 2019.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Carreira diplomática: uma trajetória - Paulo Roberto de Almeida

 Um texto antigo, mas que ainda pode exemplificar a preparação para a carreira diplomática:

1739. “Carreira diplomática: uma trajetória”, Brasília, 27 março 2007, 5 p. Respostas a perguntas colocadas pela Carta Forense, para caderno especial sobre concursos, sobre diplomacia. Publicado, sob o título “Minha trajetória como concursando”, na revista Carta Forense (ano 5, n. 47, abril 2007, Caderno de Concursos, p. C2-C3). Postado no blog Diplomatizzando (12/07/2010; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/07/como-no-caso-de-textos-anteriores-que.html).


Carreira diplomática: uma trajetória

 

Respostas fornecidas à Carta Forense por 

Paulo Roberto de Almeida

 

Carta Forense – Em que momento decidiu se enveredar pela carreira diplomática?

PRA: A decisão foi tomada de maneira inopinada, com base num anúncio publicado nos jornais, no primeiro semestre de 1997, anunciando a abertura de dois concursos de entrada na carreira diplomática: o primeiro pela via tradicional do Instituto Rio Branco, ou seja, o vestibular para admissão no Curso Preparatório à Carreira Diplomática (à época requerendo apenas e tão somente dois anos, ou quatro semestres, de qualquer graduação universitária), o segundo consistindo num exame direto (com maior número de provas eliminatórias, inclusive orais, e exigindo curso superior completo), dando acesso imediato ao primeiro escalão da carreira, isto é, Terceiro Secretário.

Nessa ocasião, eu acabava de voltar ao Brasil, depois de um longo exílio autoimposto (quase sete anos) por causa da ditadura militar. Passei seis anos e meio na Bélgica, tendo completado minha graduação em ciências sociais pela Universidade de Bruxelas (1974), defendido minha dissertação de mestrado em planejamento econômico e economia internacional pela Universidade do Estado de Antuérpia (1976) e iniciado um doutoramento, que ficou esperando meu primeiro posto diplomático para ser finalizado. Como eu já possuía mestrado e encontrava-me em meio ao doutoramento, optei pelo concurso direto e ingressei, portanto, na carreira, no final do ano de 1977. 

Como disse, tratou-se de uma decisão repentina, uma forma de reinserir-me na vida brasileira, depois de longos anos no exterior, e já possuindo certa vivência prática de temas de política internacional, alguma experiência na análise de questões de política externa e conhecimento de línguas.

 

CF – Como o senhor se preparou para este concurso? 

PRA: devo confessar que quase não me preparei, inclusive porque estava trabalhando em São Paulo, dando aulas em duas faculdades, atuando em programas de assessoria em formação de recursos humanos para a Unicamp e também porque o intervalo entre, de um lado, o conhecimento e a decisão de participar do concurso, e, de outro, a realização das provas foi muito curto, não me permitindo cobrir toda a bibliografia recomendada ou frequentar algum cursinho preparatório (que de toda forma não estava em minhas intenções ou necessidades).

Como eu posso dizer, sem medo de errar, que passei quase metade da minha vida em bibliotecas, ou lendo de forma compulsiva, meu conhecimento acumulado – pelo menos nas áreas tradicionais das ciências sociais aplicadas – já era bastante grande, bastando-me completar o conhecimento de direito, onde estavam minhas lacunas mais notórias. Li os livros de que dispunha, não comprei nenhum em especial para o concurso e fui muito bem-sucedido, ingressando em segundo lugar e fazendo jus ao prêmio Lafayette Carvalho e Silva.

 

CF – Quais são os requisitos para se candidatar a este cargo?

PRA: É preciso ser brasileiro nato, estar em dia com as obrigações eleitorais e de serviço militar, ter a ficha limpa na polícia e ser formado em um curso superior reconhecido no Brasil pelo Ministério da Educação (MEC). Qualquer curso superior. Apesar de mais ou menos metade dos aprovados no concurso serem, via de regra, formados em direito, e muitos outros em relações internacionais, conheço diplomatas formados em engenharia, medicina, letras e ciência da computação. Diplomas estrangeiros, só se reconhecidos pelo MEC.

 

CF – Quem tem dupla nacionalidade é aceito na carreira?

PRA: Desde que sejam brasileiros natos sim. A Constituição reza que, exceto as exceções, quem pede para ser naturalizado como nacional de outro país perde a identidade brasileira. No entanto, já ficou estabelecido que, em boa parte dos casos em que um brasileiro tem uma nacionalidade estrangeira, não foi ele que pediu uma outra nacionalidade — a dupla nacionalidade é apenas reconhecida, segundo as leis próprias do país estrangeiro e, portanto, não há perda da nacionalidade brasileira. Assim sendo, não há obstáculos ao ingresso desses seres cosmopolitas no concurso. E não, não vão suspeitar que você é um agente duplo trabalhando para vender o Brasil para a Itália, por exemplo. Só tem uma coisa: a Lei do Serviço Exterior afirma que, para casar-se com estrangeiros, os diplomatas precisam da autorização do Ministro de Estado.

 

CF – Como é o processo seletivo?

PRA: Em uma primeira etapa, realiza-se um Teste de Pré-Seleção (TPS), composto de uma seleção de questões de múltipla escolha ou de opções certo ou errado, com base numa amostragem do conjunto de provas setoriais aplicadas na terceira fase (Português, Inglês, História Mundial e do Brasil, questões de relações internacionais). Em seguida, os candidatos aprovados no TPS fazem a prova de Português (segunda fase). Na terceira fase, os candidatos aprovados nas fases anteriores realizam 6 provas: Questões Internacionais Contemporâneas, Inglês, História, Geografia, Noções de Direito e Noções de Economia. Adicionalmente, eles têm de escolher entre Francês ou Espanhol para uma prova classificatória numa dessas duas línguas.

 

CF – Há alguma disciplina que deve ser priorizada?

PRA: È recomendável que em todas as disciplinas o candidato tenha um bom conhecimento, mas acredito que o domínio da língua inglesa é fundamental, embora não seja mais eliminatório na prova.  O nível da prova é altíssimo, a exigência é que se escreva um inglês correto de verdade, um inglês que um norte-americano médio provavelmente não alcançaria.

A prova de Português é extremamente rigorosa, exigindo que o candidato tenha um domínio quase perfeito da língua. Adicionalmente, a amplitude dos conhecimentos exigidos nas provas de história (mundial e do Brasil) leva muito gente à desclassificação.

 

CF - É verdade que os bacharéis em Direito têm mais facilidade para ser aprovados?

PRA: Não necessariamente os bacharéis em Direito apresentam maior facilidade intrínseca, tanto porque os conteúdos de história, de economia e de relações internacionais (lato sensu) vêm sendo reforçados relativamente em relação às anteriores exigências prioritárias em direito e línguas. Mas é certo que grande parte dos diplomatas tem formação jurídica na graduação. 

 

CF - Depois de aprovado, qual o plano de carreira?

PRA: Ingressa-se como terceiro Secretário, embora ainda aluno do Instituto Rio Branco. Depois, a intervalos de mais ou menos 4 a 6 anos, vai se galgando os demais escalões da carreira: segundo e primeiro Secretário, Conselheiro (que necessita submeter-se a uma espécie de doutoramento, o Curso de Altos Estudos, para habilitar-se à próxima etapa: Ministro de segunda classe e finalmente, Ministro de primeira classe, vulgarmente chamado de Embaixador. 

Exceto em casos especiais, apenas um diplomata que alcança o grau de Ministro de Primeira Classe pode servir como embaixador do Brasil em algum país estrangeiro, daí esse grau ser chamado, por comodidade, de “Embaixador”. Em países pequenos, com embaixadas menores, um Ministro de Segunda Classe pode eventualmente servir como Embaixador. Há também indicações políticas, normalmente raras, em que o Presidente da República designa alguém de fora da carreira como Embaixador. Foi o caso, por exemplo, do ex-presidente Itamar Franco, na Itália. Nesses casos, o embaixador “civil” poderá contar como seus assessores com diplomatas de carreira experientes.

 

CF – Com a globalização e a inserção cada vez mais frequente do Brasil no mercado internacional, o senhor acredita que cada vez abrirá mais vagas nesta carreira?

PRA: Certamente que o aumento da interface externa do Brasil vai contribuir para a expansão das oportunidades nas “carreiras internacionalistas”, entre as quais se situa a de diplomata. Isto pode implicar num aumento gradativo de “vagas” na carreira diplomática, ainda que essa expansão se dê aos “saltos”, consoante as características do serviço público. As duas ampliações de vagas no serviço exterior foram conduzidas com aproximadamente 30 anos de intervalo, em 1975 e em 2006, respectivamente.

 

CF – É verdade que o curso de formação diplomática vale como mestrado?

PRA: Desde 2002 o curso do Instituto Rio Branco tem valor de mestrado, o que requer, como sua atividade principal, o preparo pelo aluno de uma dissertação acadêmica. Esta pode versar sobre temas ligado às relações internacionais do Brasil, ao direito internacional, à economia internacional ou à questões de identidade nacional. Como vê, a margem é ampla. O aluno escolhe seu orientador acadêmico dentre uma lista de nomes fornecida pelo Instituto. Nem todos são professores do Rio Branco.

O curso do Rio Branco é reconhecido pela CAPES como Mestrado Profissional, avaliado com conceito 4 em uma escala de 1 a 7.

 

CF – Quais são as dicas que o senhor dá aos candidatos?

PRA: Não pensar que se pode aceder à carreira com algum cursinho rápido e leituras superficiais em pouco tempo de preparação. Os exames de entrada são reconhecidamente difíceis e isso requer uma preparação metódica e sistemática, estudos de larga duração e amplo espectro, nos quais a cultura humanística é essencial, mas também o conhecimento corrente sobre as mais importantes questões da atualidade internacional, em especial dos processos negociadores externos nos quais esteja inserido o Brasil. A redação precisa ser impecável, o conhecimento de inglês excelente e uma grande cultura geral também ajuda. 

De maneira geral, ler com atenção a bibliografia recomendada no Guia de Estudos do IRBr, mas preparar-se também de maneira autodidata, com leituras extensas nos mais diversos campos das ciências humanas e sociais. 

 

Brasília, 27 março 2007

O mundo está dividido? Sim, mas não é tanto direita ou esquerda, e sim Muito Estado e pouco Estado (Editorial O Globo)

 Editorial do Globo sobre os déficits de estatais, produzidos tanto pela direita, quanto pela esquerda, pois elas representam uma fonte de recursos para os politicos:


Déficit recorde das estatais mostra que privatizar é urgente

Estado não pode manter controle sobre empresas que só não fecham porque têm acesso a cofres públicos

Editorial O Globo, 04/02/2025 

Como previsto, as estatais federais, excluindo bancos públicos e Petrobras, fecharam 2024 com déficit recorde de R$ 6,7 bilhões, o maior em 23 anos, de acordo com o Banco Central. A ministra de Gestão e Inovação, Esther Dweck, se saiu com uma explicação insólita. “Não chamem de rombo”, disse ela. “O que foi divulgado pelo Banco Central é o resultado fiscal das empresas, que pensa só as receitas do ano e as despesas do ano. Muitas despesas são feitas pelas estatais com dinheiro que estava em caixa, portanto ele acaba gerando resultado deficitário, ainda que as empresas tenham lucro.” Independentemente do jargão contábil ou eufemismo que o governo escolha para descrever o desequilíbrio financeiro, é evidente que em algum momento ele terá de ser coberto pelo Tesouro, como foi no passado.

Déficit: Estatais federais registram rombo recorde de R$ 6,7 bilhões em 2024, diz BC

Nos governos Michel Temer e Jair Bolsonaro, as estatais federais passaram por saneamento e deixaram de pesar tanto nos cofres públicos. Foi só Luiz Inácio Lula da Silva voltar ao Planalto, e elas voltaram a fechar no vermelho. Os Correios, com perdas de R$ 3,2 bilhões, encabeçam os resultados negativos. A estatal chegou a ser incluída no Plano Nacional de Desestatizações, o BNDES preparou um estudo alentado sugerindo um modelo para a privatizá-la, mas o governo interrompeu tudo. A Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais afirma tentar aumentar as fontes de receitas da empresa. Mas faz sentido mantê-la nas mãos do Estado? É ridículo o argumento de que, não fosse estatal, seria impossível atender locais remotos. Ela é tão mal gerida que não há entrega diária de correspondência nem em bairros da Zona Sul do Rio de Janeiro. Com investimento privado, é possível cobrar por melhor qualidade do serviço e manter intacta a malha de distribuição. Há dezenas de exemplos assim no mundo, mas a gestão petista parece impermeável à realidade.

Outro destaque entre as estatais deficitárias é a Infraero. Vários aeroportos, congestionados e com necessidade de investimento, foram privatizados recentemente. Com a queda de receita, a Infraero acumulou déficit de R$ 540 milhões em 2024. O êxito da privatização dos terminais não justifica mais a existência da estatal na forma atual. É preciso rever sua missão e seu tamanho. O mesmo vale para a Casa da Moeda, outra estatal deficitária impactada por mudanças nos usos e costumes, com o avanço dos pagamentos digitais.

Por princípio, o Estado não pode manter sob seu controle empresas que só não fecham as portas porque têm acesso privilegiado aos cofres públicos, como diversas estatais. Que dizer do Ceitec, projeto para a produzir semicondutores que jamais fez sentido, já custou perto de R$ 1 bilhão da União e cuja liquidação foi suspensa por Lula ao assumir? Ou da CBTU, empresa de trens atuante em poucas capitais, num setor em que as melhores soluções para atrair investimentos são as concessões ao setor privado? Ou ainda da Emgepron, que recebeu R$ 10 bilhões do Tesouro entre 2017 e 2019 para construir navios (setor em que o Brasil jamais foi competitivo) e fechou 2024 com déficit estimado em R$ 2,5 bilhões?

O rombo das estatais serve de alerta ao governo. A viabilidade dessas empresas tem de ser analisada de forma técnica. Seu desempenho precisa ser cotejado com a realidade do mercado em que atuam e, com raríssimas exceções em casos de segurança nacional, devem ser privatizadas ou liquidadas.


quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Paulo R. Almeida: Na origem da atual ordem mundial: a desordem brutal criada por dois ditadores (Boletim Tuiuti)

Artigo publicado: 

4839. “Na origem da atual ordem mundial: a desordem brutal criada por dois ditadores”, Brasília, 29 janeiro 2025, 2 p. Nota sobre as comemorações dos 80 anos do final da IIGM, esquecendo 1939. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2025/01/na-origem-da-atual-ordem-mundial.html). Republicado no boletim informativo O Tuiuti (órgão de divulgação da Academia de História Militar Terrestre do Brasil/Rio Grande do Sul (AHIMTB/RS) e do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS), n. 472, janeiro 2025, p. 17-18; link: http://www.ahimtb.org.br/). Relação de Publicados n. 1570. 







A grande ilusão do bitcoin: Bitcoin, a nova religião - Marcelo Guterman

 Bitcoin, a nova religião

A eleição de Donald Trump, entre outras consequências, mexeu com o mercado de criptomoedas. O recém-empossado presidente criou um grupo de trabalho de ativos digitais, e há expectativa de que o Tesouro americano possa, de alguma forma, dar suporte a este mercado.

Ao mesmo tempo, El Salvador, primeiro (e até o momento, único) país a adotar o bitcoin como moeda oficial, voltou atrás como parte de um acordo com o FMI. A partir deste mês, o bitcoin não terá mais curso forçado na república centro-americana.

O bitcoin tornou-se uma espécie de religião, com seus sacerdotes (os donos das corretoras) e seus seguidores fanáticos. Qualquer crítica que se faça à criptomoeda é encarada como uma heresia, uma tentativa de defesa da velha e falida ordem monetária internacional, que gira em torno das moedas “fiat”, manipuladas pelos bancos centrais. As criptomoedas seriam, por construção, imunes à inflação e, portanto, a solução pura e perfeita para manter íntegro o poder de compra da humanidade. Como toda religião, o objetivo é a purificação. No caso, do sistema monetário.

As criptomoedas são a materialização do sonho de John Lennon. Em sua mais famosa canção “Imagine”, o ex-Beatle pede para imaginar um mundo sem países. As criptos pretendem ser exatamente isso, uma moeda sem fronteiras, sem um Estado nacional por trás.

A moeda de Lennon é o esperanto das moedas. O esperanto foi uma língua criada para substituir todas as línguas, e acabar com o domínio que uma língua nacional opera sobre outras culturas. Não há cultura sem linguagem, e quem domina o idioma domina a cultura. O inglês e o dólar são instrumentos de poder, ainda que não seja um fenômeno unidirecional: o inglês e o dólar somente alcançaram o status atual porque os EUA detém o status de país mais poderoso do planeta. São realidades que se retroalimentam.

Mas, assim como o esperanto, o bitcoin não passa de uma construção artificial. Da mesma forma que o esperanto não tem o suporte de uma cultura, o bitcoin não tem o suporte de uma economia. Acima, afirmei que não há cultura sem uma linguagem. Da mesma forma, não há linguagem sem uma cultura. O esperanto pretendia ser a linguagem universal através de uma engenharia social artificial. Da mesma forma, não existe moeda sem o suporte de um sistema econômico.

Relembremos as três funções de uma moeda: 1) meio de troca, 2) unidade de conta (expressão dos preços das mercadorias na unidade monetária) e 3) reserva de valor. O bitcoin, assim como o ouro, tem somente a terceira função, reserva de valor. Mas isso não é o suficiente para que seja uma moeda. Imóveis também são reserva de valor, e nem por isso são moedas, a não ser em uma economia baseada em escambo, em que qualquer mercadoria se torna moeda. Quando chegamos neste ponto de maneira generalizada, é sinal de que o sistema econômico está disfuncional.

O sonho é que essa moeda sem Estados nacionais possa, algum dia, assumir as duas outras funções. Teríamos, então, um “mundo sem países”, como sonhado por Lennon, pelo menos no que se refere ao sistema monetário. Há alguma chance?

El Salvador voltou atrás em seu experimento. Não foi por falta de tentar. O governo criou uma carteira própria (um app) para facilitar a adoção da moeda, doou US$ 30 em bitcoins para cada habitante do país, e o Tesouro Nacional adquiriu 6.000 bitcoins ao longo do tempo para servir como lastro. Não foi o suficiente. As pessoas não adotaram a nova moeda, preferindo o bom e velho dólar. Por quê? Provavelmente porque, sendo um país pequeno e muito dependente dos Estados Unidos (as receitas em dólar remetidas por imigrantes que vivem no vizinho do Norte são uma parte relevante da renda do país), o valor do câmbio entre dólar e bitcoin é um fator determinante para a adoção da moeda. O problema é que a volatilidade deste câmbio é muito alta, impedindo que se use o bitcoin como meio de troca e unidade de conta. Por isso, a baixa adesão da população do país à inovação. A pá de cal foi a exigência do FMI de que o Tesouro Nacional se desfizesse dos bitcoins como condição para uma nova linha de crédito para o país. Os adeptos da religião bitconiana dirão que se tratou de uma reação do sistema. Assim é se assim lhe parece.

Mas, será que algum dia poderemos ter o bitcoin como moeda universal, suplantando as moedas nacionais? Façamos um exercício mental para entender como seria este mundo.

Como sabemos, há um número limitado de bitcoins, 21 milhões. Aliás, esta é a grande virtude apregoada pelos defensores da criptomoeda, a característica que evitaria o mal da inflação, instrumento utilizado para queimar dívida de governos perdulários. Pois bem. Temos 21 milhões de dinheiros, que irão atrás de um conjunto crescente de bens e serviços. Sim, porque o crescimento econômico nada mais é do que mais bens e serviços disponíveis ao longo do tempo. Como a base monetária em bitcoins é constante, só há uma direção para os preços desses bens e serviços: para baixo. Esta seria uma economia em permanente deflação, pois teríamos cada vez mais produtos e serviços para a mesma quantidade de dinheiro. Mesmo as taxas de juros precisariam ser negativas. Taxas positivas exigiriam o aumento da base monetária para pagar os juros.

E o que aconteceria com uma economia em eterna deflação? Recessão. A dinâmica do crescimento econômico exige aumento da base monetária, e sem este aumento, a única saída é a estagnação do crescimento. Como a população continua crescendo, haveria um empobrecimento geral. Talvez, com o início da queda da população global a partir da segunda metade desse século, essa experiência poderia dar certo. Seríamos um imenso Japão.

De qualquer modo, esse experimento mental não toca no principal problema da adoção do bitcoin como moeda, que é justamente aquilo que os adeptos da religião bitconiana mais condenam: a falta da discricionariedade dos Estados nacionais na administração de suas próprias moedas. Esse é um problema? Certamente. Mas a discricionariedade também é A virtude que torna possível o sistema monetário tal qual o conhecemos hoje. Para entender, precisamos voltar um pouco no tempo, mais precisamente para Bretton Woods.

Fim da Segunda Guerra, os vitoriosos se reúnem em um hotel na pequena cidade de Bretton Woods, New Hampshire, para desenhar um novo sistema financeiro internacional que evitasse os vícios que, supostamente, haviam levado o mundo para o buraco da Grande Recessão e, consequentemente, para uma nova guerra. Concluíram que os países não podiam ter liberdade para manipular suas moedas, e estabeleceram um sistema de câmbio fixo com lastro no ouro. Grosso modo, funcionava como se todas as moedas nacionais fossem lastreadas no bitcoin, com câmbio fixo.

Ao longo do tempo, obviamente, distorções começaram a surgir, dado que os países cresciam e se desenvolviam de maneira muito diferente entre si. Ao longo dos anos, os países foram desvalorizando as suas moedas para adequá-las às suas necessidades nacionais, até que, em 1971, Richard Nixon decidiu retirar os EUA do acordo de Bretton Woods, suspendendo a conversão automática dos dólares em ouro por um câmbio fixo. Era o fim do sistema monetário com lastro em ouro e o início da era das moedas fiduciárias, cujo único lastro é a confiança nos governos emissores. Um ponto fraco, obviamente.

Resta saber por que, afinal, os países decidiram trocar um sistema supostamente superior, que coordenava o caos das moedas nacionais, por um que depende da discricionariedade dos governos. A resposta é auto evidente: justamente porque as moedas nacionais respondem às necessidades e idiossincrasias únicas de cada país e seu povo. A moeda não é uma realidade estanque, divorciada da realidade política do país por onde circula. Na verdade, a moeda é a representação simbólica da atividade econômica do povo de um país. Esta atividade econômica responde a uma miríade de decisões políticas, tomadas nas instâncias de poder pactuadas pela sociedade e informadas pela cultura única de cada país. Em seu livro A Moeda e a Lei, o ex-presidente do Banco Central e um dos pais do Real, Gustavo Franco, faz um monumental apanhado da legislação que embasou os sistemas monetário e cambial ao longo da história brasileira. Parece papo de jurista, mas Franco consegue relacionar a lei com a realidade econômica de cada época, demonstrando como a moeda é expressão dos pactos políticos ao longo do tempo.

Assim, abrir mão da própria moeda significa abrir mão da soberania nacional, não no sentido patriótico e gasto do termo, mas no sentido mais profundo de autodeterminação de cada povo. A moeda é reflexo das decisões políticas de cada sociedade, para o bem e para o mal.

A ideia de ter uma moeda “perfeita”, imune a este tipo de influência, tem sua origem no desejo de um mundo tecnocraticamente perfeito, em que as decisões humanas não possam “estragar tudo”. Sociedades deste tipo são abstrações que costumam descambar para o totalitarismo quando descem para a realidade dos problemas humanos práticos.

Mas não seria possível um meio-termo? O Euro, por exemplo, é uma experiência interessante nesse sentido. A moeda europeia substituiu várias moedas nacionais, com uma instância tecnocrática independente e livre de pressões políticas, o Banco Central Europeu, que controla a base monetária por meio de uma taxa de juros única. Para que esse esquema funcione, uma premissa fundamental é que todos os países que adotam o Euro devem ter um determinado comportamento fiscal. O Euro funciona como um espartilho, que limita graus de liberdade política dos países. A Grécia, no início dos anos 2010, enfrentou justamente essa escolha: continuar com seu pacto político que exigia gastos muito superiores às suas receitas, ou enquadrar a sociedade grega nos moldes do Euro? A economia grega encolheu 25% ao optar pela segunda alternativa.

O bitcoin como moeda global seria como um grande Euro global, submetendo países com culturas completamente diferentes. Se o Euro, em uma região rica e homogênea como a Europa Ocidental, já enfrenta dificuldades, imagine uma moeda global. Não à toa, o Reino Unido, que nem do Euro fazia parte, decidiu sair da União Europeia, que também funciona como um espartilho que limita graus de liberdade da sociedade.

Mas o uso global do bitcoin nunca foi o objetivo da moeda, dizem os seguidores da religião bitconiana. A ideia é que sirva como uma moeda alternativa imune à inflação, que as pessoas possam usar tal como usam o dólar em países de moeda mais fraca. O problema dessa leitura do uso do bitcoin é evidente: voltamos à primeira casa do jogo, em que temos uma “moeda” cujo câmbio em relação às moedas fiduciárias é função somente dos loucos fluxos de compra e venda que vão e vêm sem nenhuma lógica fundamental, o que causa uma volatilidade que inibe o seu uso nas funções de meio de troca e unidade de conta. Em outras palavras, um bitcoin usado como moeda alternativa é uma contradição em termos, pois a própria volatilidade inerente à sua natureza descolada de qualquer realidade política e econômica impede o seu uso como moeda. A única alternativa teórica possível para que o bitcoin torne-se uma verdadeira moeda é a sua adoção universal, com as consequências vistas acima.

É bom esclarecer que este racional se aplica às criptomoedas, não à tecnologia blockchain na qual se baseiam. O blockchain é uma revolução que proporcionará vários avanços na tecnologia financeira, transformando as moedas nacionais em contratos inteligentes sem a necessidade de custodiantes centrais, o que deve proporcionar ganhos de produtividade e confiabilidade do sistema. Mas isso é muito diferente de criar uma nova moeda, pura e imaculada.

Três grandes razões sustentam as cotações do bitcoin e de outras criptomoedas: 1) a esperança de que sirva, assim como o ouro e imóveis, como uma reserva de valor para tempos difíceis, 2) a esperança de que, algum dia, a criptomoeda torne-se uma moeda de verdade, com o múnus de meio de troca e de unidade de conta e 3) a esperança de poder vender a criptomoeda mais à frente por um preço maior. A esperança #1 é bastante incerta. Não sabemos como as criptomoedas se comportariam em tempos realmente difíceis, como guerras, mas concedo que pode eventualmente funcionar. Com relação à esperança #2, do que vimos acima, espero ter deixado claro que se trata de uma esperança vã. Resta a esperança #3, que segue a lógica do jogo do mico preto.

Aproveitando o hype das criptomoedas que criou com a sua eleição, Donald Trump lançou uma criptomoeda, a $Trump, que chegou a atingir US$ 15 bi de valor de mercado no dia de sua posse, e depois perdeu dois terços do seu valor até o momento em que escrevo este artigo. Segundo empresas de análises de blockchain, estas negociações geraram US$ 100 milhões de comissões para as empresas que negociaram a criptomoeda. Os sacerdotes da nova religião são os únicos que podem ter certeza de que ganharão dinheiro com criptomoedas. Em dólares, que fique claro.

Blog do Marcelo Guterman é uma publicação apoiada pelos leitores. 


Robert De Nito sobre Donald Trump, e uma sobrinha do próprio, Mary L. Trump, sobre “um homem mau”

 Copiado, pois que relevante:

Robert De Niro's statement about Donald is perfect. Lean her:

“I’ve spent a lot of time studying bad men. I have examined their characteristics, their gestures, the utter banality of their cruelty. However, there is something different about Donald Trump.

When I look at him, I don't see a bad man. For real.

I spy an evil one.

Over the years I've met thugs here and there. This guy tries to be one, but doesn't succeed. There's such a thing as "honor among thieves".

Yes even criminals have a sense of right and wrong. If they do the right thing or it's not another story, but they have a moral code, however twisted it is.

Donald Trump is not having it. He's a potent tough guy with no morals or ethics. No sense of good and evil. He has no respect for anyone but himself, nor for the people he is supposed to lead and protect, nor for people he does business with, nor for people who follow him, blindly and loyally, not even for people who they consider themselves their "friends".

He feels contempt for all of them.

We New Yorkers have known him over the years, because he poisoned the atmosphere and filled our city with monuments to his ego. We knew first hand that he was someone who should never be considered for a leadership position.

We tried to warn the world in 2016.

The repercussions of his turbulent presidency divided America and rocked New York City beyond imaginable. Remember how the crisis shook us in early 2020, when a virus swept through the world. We live with Donald Trump's grandiocent behavior every day on the national stage and suffer to see our neighbors pile up in body bags.

The man who was supposed to protect this country put it in danger because of his recklessness and impulsiveness. It was as if an abusive father ruled the family through fear and violence. That was the consequence of ignoring the New York warning. Next time, we know it will be worse.

Let's make no mistake: Donald Trump, who has been impeached twice and prosecuted four times, is still a fool. But we can't allow our fellow Americans to discard him as such. Evil thrives in the shadow of derogatory ridicule, so we must take very seriously the danger that Donald Trump represents.

So we're releasing another warning today. From this place where Abraham Lincoln spoke, right here, in the pulsating heart of New York, to the rest of America:

This is our last chance.

Democracy will not survive the return of a sitting dictator.

And evil will not conquer if we are divided.

So what do we do about it? I know I’m preaching to the already convinced. What we are doing today is valuable, but we have to carry the present into the future, carry it outside these walls.

We need to get close to half our country that has ignored Trump's dangers and, for whatever reason, supports his rise back to the White House. They're not stupid and we shouldn't condemn them for making a stupid decision. Our future doesn't depend on us alone. It's up to them.

Approach Trump supporters with respect.

Let’s not talk about “democracy.” “Democracy” may be our holy grail, but for others it’s just a word, a concept, and in their acceptance of Trump, they’ve already turned their back on it.

Let's talk about right and wrong. Let's talk about humanity.

Let's talk about kindness. Security for our world. Safety for our families. Decency.

Let us welcome them back.

We won’t get them all, but we can get enough to end Trump’s nightmare and accomplish the mission of this “Summit to Stop Trump.”

* This statement according to a source was made in 2024 before the election in a context of warning and mobilization to prevent Donald Trump from returning to the White House.”

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Mary L. Trump escreveu um livro-revelação sobre o seu tio:

“Too much and never enough: How my family created the world’s most dangerous man”.