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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

Lauro Escorel: um intelectual brasileiro - Revista Piauí, fevereiro 2025; Rogerio S. Farias, colaboração a livro de Paulo R Almeida (org.)

Matéria  sobre o diplomata intelectual Lauro Escorel, na revista Piauí, de fevereiro de 2025.

Rio, 1964, revista Piauí

Por quase 40 anos, o diplomata Lauro Escorel guardou as cartas que seu filho de 18 anos lhe enviou em 1964. O jovem contava de seus projetos e também dos eventos que se seguiram ao golpe militar. Na piauí, Eduardo Escorel faz uma seleta dessas cartas. Leia: https://piaui.co/4hsUW2A


Meu homônimo começou a escrever, em março de 1964, as cartas transcritas a seguir, a maioria à máquina. Adolescente de 18 anos na época, ele morava com o irmão na Rua Dona Mariana, em Botafogo, no Rio de Janeiro. O pai deles era ministro-­conselheiro da Embaixada do Brasil, em Roma, desde o final de 1963. Pouco depois, a mãe e as duas irmãs menores chegaram para morar no Monte Mario, bairro da capital italiana, em uma rua cujo nome ninguém da família reteve na memória. Já a irmã mais velha foi sozinha, de Paris, de trem, e chegou a Roma no dia 31 de março de 1964.

(...)


Lauro Escorel, foi um dos grandes intelectuais do Itamaraty. Rogerio Farias escreveu sobre ele num livro que orgsnizei: Intelectuais na Diplomacia Brasileira, de próxima publicação.

Paulo Roberto de Almeida

(organizador)

 

Intelectuais na diplomacia brasileira:

a cultura a serviço da nação


Índice

 

Prefácio                                                                                                                                

            Celso Lafer

 

Apresentação: intelectuais brasileiros a serviço da diplomacia                                     

            Paulo Roberto de Almeida

     Nas origens da feliz interação entre o Itamaraty e a cultura brasileira                            

     Por que uma nova iniciativa aliando diplomatas e cultura, muitos anos depois?            

     Um novo projeto cobrindo outros intelectuais associados à diplomacia brasileira         

 

Bertha Lutz: feminista, educadora, cientista                                                                   

            Sarah Venites

 

Afonso Arinos de Melo Franco e a política externa independente                                

            Paulo Roberto de Almeida

   

San Tiago Dantas e a oxigenação da política externa                                                      

            Marcílio Marques Moreira

    

Roberto Campos: um humanista da economia na diplomacia                                     

            Paulo Roberto de Almeida 

     

Meira Penna: um liberal crítico do Estado patrimonial brasileiro                             

            Ricardo Vélez-Rodrígues

 

Lauro Escorel: um crítico engajado                                                                                

            Rogério de Souza Farias

     Esperançosa inteligência 

     Retórica militante                                                                                                

     Escolástico inútil                                                                                                  

     Cultura da política                                                                                                


Sergio Corrêa da Costa: diplomata, historiador e ensaísta                                          

            Antonio de Moraes Mesplé

 

Wladimir Murtinho: Brasília e a diplomacia da cultura brasileira                            

            Rubens Ricupero

      

Vasco Mariz: meu tipo inesquecível                                                                                

            Mary Del Priore

       

José Guilherme Merquior, o diplomata e as relações internacionais                          

            Gelson Fonseca Jr. 

       

A coruja e o sambódromo: sobre o pensamento de Sergio Paulo Rouanet                 

            João Almino

      

Apêndices: 

1. O Itamaraty na cultura brasileira (2001), sumário da obra 

2. Introdução de Alberto da Costa e Silva à edição de 2001   

3. Alberto da Costa e Silva – 1931-2023, Celso Lafer    


Sobre os intelectuais na diplomacia

Sobre os autores                                                                                                                  








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domingo, 9 de fevereiro de 2025

O ocaso do domínio lulopetista: O PT reacionário - Augusto de Franco (ID)

O ocaso do domínio lulopetista

O PT reacionário

O PT cometeu um erro decisivo em 1989. Quando Lula passou para o segundo turno, isso abriu o olho grande do comissariado, que então concluiu que era possível, sim, chegar de uma vez ao topo: conquistando logo a chefia do Estado e do governo num sistema presidencialista imperial.

Quais eram os poderes que encantaram os companheiros?

Entre outros, o de reeditar medidas provisórias (mais eficazes do que as ordens executivas trumpistas) eternamente (vigente na época); o de controlar a liberação de emendas para alugar o apoio de deputados e senadores, transformando o Congresso em órgão chancelador da vontade do presidente e do seu partido; o de aparelhar a máquina pública de alto a baixo; o de usar politicamente as estatais e os bancos públicos ao seu bel prazer; o de alinhar o país às ditaduras amigas de esquerda. E o de fazer mais um montão de coisas temerárias, algumas indevidas, como o mensalão e o petrolão e, enfim, "a revolução pela corrupção" (como disse o saudoso Ferrreira Gullar). 

Com tudo isso nas mãos, pensaram os companheiros, seria possível estabelecer uma ligação direta do grande líder com as massas, bypassando as mediações institucionais da democracia e dando um curto circuito no sistema controlado pelas elites "que nos dominam desde Cabral". 

Com essa fixação pelo poder desmedido de um presidencialismo imperial (e é por isso que o PT sempre foi contra o parlamentarismo), os companheiros deixaram de fazer a lição de casa, que aconselhava começar de baixo, construindo bases populares (comunidades políticas) nos bairros e municípios do interior e das periferias das médias e grandes cidades, conquistando prefeituras e câmaras municipais, governos e assembleias estaduais e o Congresso Nacional. Hoje o PT é minoria em todos esses âmbitos - e também, talvez, em parte por causa disso, nas mídias sociais, nas ruas e nas urnas. 

É uma construção sem alicerces, um ídolo com pés de barro, que ainda imagina que possa alterar a correlação de forças a partir do lero-lero do seu condutor de rebanhos, supostamente sempre capaz de mesmerizar as massas em cima de um palanque. 

Não é mais capaz. Os parlamentos e governos, em todos os níveis, afirmaram sua autonomia em relação ao executivo federal, as mídias digitais se tornarem imunes ao assalto de uma militância ainda analógica, exilada no passado da primeira guerra fria, as ruas não são mais ambientes propícios à manifestações sindicais no velho estilo do caminhão de som com líderes pançudos e barbudos vociferando para uma galera de bonezinho, disposta a agitar bandeiras fabricadas pelos aparatos burocráticos classistas (e não comparecem aos atos petistas ou cutistas, nem mesmo recebendo jeton em espécie, tubaína e sanduíche de mortadela). 

Até os mais pobres, transformados em pensionistas do Estado por programas, mal-desenhados porque sem saída, de transferência de renda, não estão mais satisfeitos em serem aprisionados em currais eleitorais. Para não falar dos também pobres, mas não miseráveis, que agora almejam ter condições de empreender e melhorar suas vidas em vez de permanecerem como objetos permanentes de programas assistenciais ou de algum auxílio ou intermediação governamental. 

A propaganda política revolucionária (muitas vezes travestida como “progressista”) do PT revelou-se, entretanto, conservadora e, até certo ponto, reacionária, na medida em que, diante do avanço de uma extrema-direita antissistema, que ataca as instituições da democracia, postou-se como defensora do passado, incapaz de imaginar um novo futuro. Sim, reacionária - e o melhor exemplo disso é o impulso de censurar as mídias sociais em vez de aprender a usar as novas formas de interação que elas ensejaram.

Com efeito, não há nada de novo no que diz e faz o PT. Os discursos de seus dirigentes e militantes são sempre mais do mesmo, como se ainda estivéssemos no século 20 (repita-se, na época da primeira guerra fria). 

Em vez de privilegiar relações com as democracias liberais, os lulopetistas alinham-se às maiores autocracias do planeta (como Rússia e China) ou às mais envelhecidas ditaduras (como Cuba). Por isso investem no BRICS e desprezam a OCDE. Contemporizam com a teocracia do Irã e seus braços terroristas (como o Hamas e o Hezbollah) e condenam injustamente não apenas o governo Bibi, mas o próprio regime democrático de Israel (o que denuncia um viés antissemita, via-de-regra disfarçado como antissionista). Não defendem a Ucrânia (invadida por Putin) e responsabilizam a OTAN pela guerra de conquista movida pelo imperialismo russo, transformando o agredido em agressor. Não dão uma palavra em defesa da democracia liberal de Taiwan ameaçada de anexação pelo ditador Xi Jinping. Não conseguem nem condenar a fraude eleitoral promovida pelo ditador Maduro e rezam para que a gente esqueça sua proximidade com o sandinismo revolucionário do ditador nicaraguense Ortega e com o ditador angolano Lourenço. 

Suas formas de organização continuam hierárquicas em uma sociedade em rede (e por isso o PT continua analógico num mundo digital). Suas dinâmicas de atuação não se libertaram do dirigismo e do hegemonismo, querendo que as pessoas não apenas ajam sob comando, mas pensem sob comando - o que indica que se trata de um projeto de dominação, não de libertação. E isso, não há como negar, nem conservador é - e sim reacionário.

Velharias regressivas que não encantam mais ninguém. Sintomas de que o projeto de dominação lulopetista aproxima-se rapidamente do seu ocaso.

Revista ID é uma publicação apoiada pelos leitores.


A Lista de Schindler: livro e filme - Marcos de Queiroz Grillo

A Lista de Schindler: livro e filme 

Marcos de Queiroz Grillo

... Com o avanço das forças aliadas e o recuo dos nazistas, o Reich decide fechar Campos de Concentração e acelerar a exterminação em massa dos judeus. Inicialmente, começam a incinerar os judeus mortos na própria Cracóvia. Posteriormente, passam a enviar diariamente 60 mil seres humanos aos fornos de Auschwitz. No período de 1939 a 1945, foram assassinados 6 milhões de judeus espalhados pelos vários campos de extermínio nos países europeus dominados pelo III Reich...

... O livro apresenta duas realidades inteiramente díspares. De um lado, os judeus poloneses sendo violentados em suas vidas pelos nazistas (transferidos para ghetos e depois para campo de concentração, sem qualquer solidariedade de seus compatriotas poloneses). De outro, os nazistas vivendo e desfrutando de suas vidas com plena segurança e conforto...

... Oscar Schindler, além de empresário, era membro do Partido Nazista e muito bem relacionado nos círculos militares. Tendo conseguido capitalizar-se com o dinheiro dos judeus, faz lobby junto a nazistas poderosos, conquista contrato para fabricação de utensílios para o exército e é autorizado a utilizar mão-de-obra judia escrava. Tudo isso acontece na base da troca de favores e do toma lá dá cá. Schindler pagava comissões ao oficialato alemão pelo trabalho fabril de cada judeu empregado, o que para ele resultava ser mais barato do que a contratação de poloneses. Schindler era especialista em comprar favores de oficiais da SS e do exército alemão, tanto superiores como subalternos...

 

A lista de Schindler

 

Por MARCOS DE QUEIROZ GRILLO*, 


Marcelo Guimarães Lima, Piranesi (VII) - I Carceri / As Prisões, desenho digital, 2023



Comentário sobre o livro de Thomas Keneally

1.

Romancista, dramaturgo e produtor, Thomas Keneally levou dois anos entrevistando 50 sobreviventes – Schindlerjuden (judeus Schindler) – em oito países: Austrália, Israel, Estados Unidos da América, Polônia, Alemanha Ocidental, Áustria, Argentina e Brasil. Baseado nesses depoimentos e nos testemunhos que se encontram na Seção de Lembrança de Mártires e Heróis do Museu Yad Vashem, em Jerusalém, ele realizou essa fabulosa recriação da história, narrada com a ênfase típica de uma ficção. Foi agraciado com o prêmio Booker, da Inglaterra.

Dentre os entrevistados o autor fez referência ao próprio Leopold Pfefferberg, ao juiz Mosh Bejski, da Suprema Corte de Israel, e Mieczyslaw Pemper – que além de transmitirem suas lembranças sobre o período, forneceram documentos que contribuíram para a exatidão da narrativa. Ainda constam da lista Emilie Schindler, Ludmila Pfefferberg, Sophia Stern, Helen Horowitz, Jonas Dresner, casal Henry Rosner, Leopold Rosner, Alex Rosner, Idek Schindel, Danuta Schindel, Regina Horowitz, Bronislawa Karakulska, Richard Horowitz, Shmuel Springmann, o falecido Jakob Sternberg, dentre muitos outros.

O livro fala da vida interrompida de milhares de judeus, que perdem suas identidades e não passam de carcaças esfomeadas marcadas com uma tatuagem numerada no antebraço. Eram apenas números, vidas insignificantes aos olhos nazistas e, como sempre dizia Himler, deveriam ser aniquiladas, para “o bem da Alemanha nazista”. Itzhak Stern, a Sra. Pfeffeberg, Hanukkah, Danka, Genia, Menasha Levartov, entre tantos outros, viveram anos de medo, dor de perder seus parentes, fome, frio, humilhações e privações por parte dos nazistas. Se escaparam, foi por sorte de encontrar pessoas como Oscar, que se arriscavam por eles.

O livro foi adaptado para o cinema pela Universal Pictures, que produziu o filme intitulado A lista de Schindler, dirigido por Stephen Spielberg, que ganhou diversos Oscars e prêmios (melhor filme, melhor diretor, melhor música e trilha sonora, melhor fotografia, melhor edição, entre outros) tendo sido considerado um dos maiores sucessos cinematográficos pela Associação de Críticos de Nova Iorque e Los Angeles.


2.

Trata-se de texto literário que documenta uma história real vivenciada durante a 2ª Guerra Mundial, retratando o drama daquela época de holocausto, construída em cima de depoimentos dos Schindlerjuden (judeus Schindler) e evita ficar somente na esfera de um documentário biográfico sobre Oscar Schindler.

Holocausto é um substantivo masculino que significa o sacrifício, praticado pelos antigos hebreus, em que a vítima era inteiramente queimada. Seus sinônimos são imolação, sacrifício, massacre.

Durante a ocupação nazista de quase toda Europa, o termo “holocausto” passou a significar o genocídio organizado pelos alemães nazistas, principalmente de judeus, durante a Segunda Guerra Mundial. Os judeus e qualquer outra minoria considerada inferior pelos nazistas eram sistemicamente agrupados, explorados até exaustão e, então, sumariamente executados. O Holocausto fez parte da “Solução Final”, um plano nazista que procurou eliminar os judeus da Europa, além de outras minorias, como ciganos, homossexuais e negros.

O livro apresenta duas realidades inteiramente díspares. De um lado, os judeus poloneses sendo violentados em suas vidas pelos nazistas (transferidos para ghetos e depois para campo de concentração, sem qualquer solidariedade de seus compatriotas poloneses). De outro, os nazistas vivendo e desfrutando de suas vidas com plena segurança e conforto.

Oscar Schindler, um empresário e lobista alemão, filiado ao Partido Nazista, consegue que alguns judeus ricos entreguem para ele o dinheiro que mantinham escondido. Eles se tornariam empregados “investidores” numa fábrica de utensílios (panelas). Receberiam, em troca, e a longo prazo, produtos que poderiam trocar no mercado negro, além de diminuírem o risco de irem para a Câmara de Gás. Era isso ou nada.

Embora não compactuasse com a ideologia do partido, de ‘limpar’ a Alemanha dos ‘malditos judeus’, ele lucrava com sua fábrica de esmaltados, e contribuía com o Partido.

Oscar Schindler, além de empresário, era membro do Partido Nazista e muito bem relacionado nos círculos militares. Tendo conseguido capitalizar-se com o dinheiro dos judeus, faz lobby junto a nazistas poderosos, conquista contrato para fabricação de utensílios para o exército e é autorizado a utilizar mão-de-obra judia escrava. Tudo isso acontece na base da troca de favores e do toma lá dá cá. Schindler pagava comissões ao oficialato alemão pelo trabalho fabril de cada judeu empregado, o que para ele resultava ser mais barato do que a contratação de poloneses. Schindler era especialista em comprar favores de oficiais da SS e do exército alemão, tanto superiores como subalternos.

Em princípio Schindler utiliza mão-de-obra escrava judia dos guetos. Posteriormente, quando os guetos são desmontados e os judeus transferidos para o Campo de Concentração da Cracóvia, consegue continuar utilizando a mesma mão-de-obra. Aproveita-se da situação de pavor dos judeus, que se sentem mais protegidos com ele, e delega toda a operação da fábrica para o contador judeu Stern, de quem busca aproximação.

Schindler sempre defende seus empregados por ocasião das vistorias dos soldados alemães, quando havia o risco de serem presos ou mortos, fingindo não se importar com seus destinos, mas que seria de grande prejuízo para sua fábrica e para o país o desperdício de ‘mão-de-obra especializada’ já treinada naquela indústria.

Apesar do trabalho escravo, os judeus preferem trabalhar na fábrica de Schindler pois, assim, diminuem o risco de trabalhos forçados mais pesados ou, o que era pior, de serem enviados para a Câmara de Gás.

Fruto da relação de infância de Schindler com Amon Göet, oficial da SS e Chefe do Campo de Concentração, na Cracóvia, seus funcionários têm menos riscos do que os demais judeus de serem assassinados a esmo e a sangue frio, esporte preferido daquele assassino bipolar. Ainda assim, algumas vezes isso acontece.

Com a produção de panelas com baixo custo de mão-de-obra para atender os contratos conquistados com o exército, Schindler acumula um patrimônio significativo, que o permite levar uma vida nababesca e pautada por orgias. Vive longe de sua mulher e tem várias amantes, sendo considerado uma pessoa de atração irresistível pela sua elegância, educação e charme.

Contudo, sua produção industrial não teria sido possível sem o concurso do contador Stern, que é a pessoa que, de fato, toca a fábrica e lidera as pessoas que lá trabalham, todas irmanadas pelo espírito de sobrevivência.


3.

Com o avanço das forças aliadas e o recuo dos nazistas, o Reich decide fechar Campos de Concentração e acelerar a exterminação em massa dos judeus. Inicialmente, começam a incinerar os judeus mortos na própria Cracóvia. Posteriormente, passam a enviar diariamente 60 mil seres humanos aos fornos de Auschwitz. No período de 1939 a 1945, foram assassinados 6 milhões de judeus espalhados pelos vários campos de extermínio nos países europeus dominados pelo III Reich.

Gradativamente, Schindler se apega mais ao contador Stern e aos seus demais funcionários judeus, a quem, anteriormente, considerava como meras peças de sua propriedade. Do ponto de vista pessoal, Schindler experimenta uma mudança na sua percepção de mundo e de vida, tornando-se mais humanista.

Ao constatar que o Campo de Concentração da Cracóvia, na Polônia, está em vias de ser desmobilizado e do desinteresse do exército na continuidade da compra de utensílios, Schindler conquista, junto ao exército alemão, um novo contrato, desta vez, para a produção de munição. Essa decisão fez parte de sua ideia de salvar seus funcionários da exterminação nas Câmaras de Gás de Auschwitz.

Investe quase todo seu patrimônio na compra de 1.200 judeus pagando o preço negociado com Amon Göet, oficial da SS e Chefe do Campo de Concentração da Cracóvia e obtém autorização para transferi-los para um novo Campo de Concentração, em Zwittau – Brinnlitz, na antiga Tchecoslováquia (sua cidade natal dos tempos do Império austro-húngaro), onde inicia a produção de munição, em nova fábrica.

Constrói às pressas, com o contador Stern, a lista dos judeus, para cujo preço total dispunha de recursos próprios suficientes.

Por ocasião da transferência deles, os homens e as mulheres são enviados em trens separados. Inadvertidamente, o trem das mulheres segue para Auschwitz. Schindler vai pessoalmente negociar com o oficial nazista a devolução das mulheres, negócio que foi pago em diamantes. Novo êxito logrado por um Oscar Schindler diferente, mais humanizado e já comprometido a salvar vidas.

Durante todos esses anos Schindler enfrenta grandes obstáculos nas suas negociações com seus pares nazistas, no perigoso toma lá dá cá, na tentativa de convencimento de oficiais sobre os quais não tem influência, correndo o risco de ser preso; uma verdadeira luta pela sobrevivência, de início, pensando no seu negócio e, depois, somente em proteger seus funcionários.

Schindler continua a proteger as vidas de seus trabalhadores evitando fuzilamentos sumários que eram impetrados com a maior normalidade pelos nazistas.

As munições produzidas por eles não passavam pelo controle de qualidade do exército e, por essa razão, Schindler passa a comprar com seu próprio dinheiro munições no mercado paralelo para honrar seu contrato com o exército alemão.

Reconquista a sua mulher e deixa de lado suas amantes e as orgias. A fábrica funciona aos trancos e barrancos até a rendição da Alemanha, em 1945.

Com a rendição da Alemanha, a ordem superior era de fuzilarem todos os judeus. Schindler convence os alemães que controlam o Campo de Concentração a não fuzilarem os judeus trabalhadores de sua fábrica, em desobediência às ordens do Reich. Em virtude do avanço das tropas soviéticas e dos pedidos de Schindler, os alemães abandonam o Campo, sem matar os judeus.

Schindler, amargurado por não ter podido salvar mais pessoas, despede-se dos seus empregados ocasião em que recebe uma carta explicativa de suas peripécias humanistas, assinada por todos eles. Na despedida também recebe um anel, feito com ouro extraído de um dente de um dos judeus, que aceitou dá-lo voluntariamente, com a seguinte inscrição do Talmud: “Quem salva uma vida, salva o mundo inteiro”.

Na convivência com seus empregados judeus Schindler evolui como pessoa e esforça-se para parar a roda do holocausto. Schindler foge da Tchecoslováquia com sua mulher Emilie, ambos trajando uniformes de judeu.

Ocorre a ocupação da Tchecoslováquia pelo exército soviético. Os judeus são liberados para seguirem seus caminhos, sendo desaconselhados a retornarem à Polônia.

Schindler enfrenta muitas dificuldades para escapar, lidando com americanos, franceses e suíços. Nesse processo, suas últimas posses são confiscadas. Finalmente, na França, quando consegue provar sua inocência, sua mulher e ele não tinham nada mais do que a roupa do corpo. Mas, tinham a proteção dos Schindlerjuden, que eram agora sua família. Vão viver por um tempo em Munique, na Alemanha, e decidem, depois, cruzar o Atlantico para morar na Argentina. Foram com ele uma dúzia de judeus amigos.

Em 1949 fizeram-lhe um pagamento ex gratia de USS 15.000 e deram-lhe uma referência (“A Quem Possa Interessar”) assinada por M.W. Beckelman, vice-presidente do Conselho Executivo da organização: “O Comitê Americano da Junta de Distribuição investigou minuciosamente as atividades do Sr. Schindler no período da guerra e da ocupação… A nossa recomendação irrestrita é que as organizações e pessoas, a quem o Sr. Schindler possa procurar, façam todo o possível para ajudá-lo, em reconhecimento pelos seus eminentes serviços…

Sob o pretexto de administrar uma fábrica nazista de trabalhos forçados, primeiro na Polônia e depois na Tchecoslováquia, o Sr. Schindler conseguiu recrutar como seus empregados e proteger judeus e judias destinados a morrer em Auschwitz e em outros infames campos de concentração… Testemunhas relataram ao nosso Comitê que o “campo de Schindler em Brinnlitz era o único, nos territórios ocupados pelos nazistas, em que nunca foi morto um judeu, ou mesmo espancado, mas, ao contrário, sempre tratado como um ser humano.”

Agora, quando ele vai iniciar uma nova vida, devemos ajudá-lo, como ele ajudou os nossos irmãos.

Durante dez anos dedicou-se à produção rural, mas terminou falindo. Talvez, como comentavam alguns, porque não tivesse um Stern para ajudá-lo. Retornou à Alemanha. Sua mulher Emilie permanece na Argentina. Vai viver em Frankfurt onde funda uma fábrica de cimento, que também não tem êxito. Todos os anos é convidado para visitar Israel para homenagens. Entrevistas em Israel, republicadas na Alemanha, não lhe ajudam em nada. Em Frankfurt é vaiado, insultado e apedrejado.

Os Schindlerjuden continuam mantendo-o sob proteção moral e financeira. Schindler morre em 9 de outubro de 1974. Em atenção ao seu desejo, é enterrado em cemitério católico de Jerusalém.

 

*Marcos de Queiroz Grillo é economista e mestre em administração pela UFRJ.

Referência




Thomas Keneally. A lista de Schindler

Tradução: Tati Moraes. Rio de Janeiro, Record, 2021, 424 págs. [https://amzn.to/41aujtS]

 


Embaixador brasileiro atacado por Maduro, Eduardo Saboia, diz que mundo está ameaçado - Junio Silva (Metrópoles)

Embaixador brasileiro atacado por Maduro diz que mundo está ameaçado

Embaixador Eduardo Paes Saboia foi apontado pelo regime Maduro como o responsável por vetar entrada da Venezuela no Brics

De saída da Secretaria de Ásia e Pacífico do Ministério das Relações Exteriores, o embaixador Eduardo Paes Saboia demonstrou desesperança quanto ao atual momento da diplomacia e afirmou que o mundo está em perigo. A declaração do diplomata brasileiro, que no último ano se envolveu em polêmica com o regime de Nicolás Maduro, aconteceu na última semana, em agenda na representação diplomática da Nova Zelândia.

No evento, que marcou a assinatura do documento fundador do país da Oceania, Saboia discursou e disse que Brasil e Nova Zelândia continuam trabalhando diplomaticamente em um “mundo que está de certa forma ameaçado”.

“Quando entrei na carreira diplomática, em 1989, havia muita esperança”, declarou o diplomata. “Tínhamos uma nova Constituição, tínhamos o muro de Berlim desmantelado. Tivemos um ciclo de conferências da ONU, novos consensos, novas ideias e uma esperança de comércio como um instrumento de desenvolvimento. Acho que nossos países trabalharam juntos nesse campo. E sinto que esse ciclo agora acabou, infelizmente.”

Apesar disso, o diplomata afirmou que é necessário continuar lutando “por nosso valores”. O tom desesperançoso de Saboia surge após trocas internas em postos do Ministério das Relações Exteriores, que afetaram diretamente o embaixador.

Polêmica com Maduro e mudança de cargo

Na última cúpula do Brics, realizada em 2024, na Rússia, o diplomata esteve no centro de uma polêmica envolvendo Brasília e Caracas. Na época, a Venezuela criticou o Brasil por vetar o ingresso do país no bloco e fez duras críticas não só contra Saboia, como direcionou farpas ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Depois do episódio, o governo venezuelano acusou o embaixador, que atuava como negociador do Brics, de manter veto imposto pelo antigo governo do Brasil, liderado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Em meio à polêmica, Saboia foi removido do cargo de sherpa do Brasil no Brics. Nos bastidores da diplomacia, a informação é de que a decisão foi motivada após pressão da ex-presidente Dilma Rousseff, que atualmente comanda a instituição financeira do bloco, o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD).

O diplomata também saiu do comando da Secretaria de Ásia e Pacífico do Itamaraty, e agora deve assumir a Embaixada Brasileira na Áustria, caso seu nome seja aprovado pelo Senado Federal. 

Já o cargo de negociador brasileiro no Brics será ocupado pelo embaixador Mauricio Carvalho Lyrio, ex-secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty.

A cúpula do bloco deste ano será realizada no Brasil, após o país assumir a presidência do Brics no dia 1º de janeiro de 2025. As discussões da reunião devem ser centradas em dois temas principais: a reforma da governança global e a cooperação do Sul Global.


Acadêmicos pretendem que o NBD-BRICS seja o construtor de uma ordem financeira mundial alternativa, sustentável, inclusiva, fora do dólar

 Parafraseando George Orwell, apenas acadêmicos (ou intelectuais) acreditam em coisas impossíveis... (Nunca deixarei de me surpreender com o grau de alienação em que se movem, e permanecem, os acadêmicos sonhadores...)

Transmitido por Maurício David:

Assunto: [seminaire-brics] Prochaine séance BRICS : Beatriz Mattos and Enzo Godinho on the BRICS Bank and Ecological Transition (12/02/2025, 6:00 PM)

Chers tous / Dear all,

La prochaine séance du séminaire BRICS aura lieu mercredi 12 février 2025, à 18h à la Maison de la Recherche de l'Inalco, 2 rue de Lille (75007 Paris), Salle Sylvestre de Sacy 

The next session of our seminar will be held on Wednesday, February 12th, 6PM, in presence and online (we will post and send the link the day of the seminar)

Elle recevra / We will receive :

Beatriz Mattos (EPOG+), and

Enzo Godinho (EPOG+)

Sur le thème suivant / on the following topic :

The NDB [BRICS Bank] and the Ecological Transition: 

Decoupling Development Finance from Core Currency Hegemony?

Abstract:
Beatriz Matos and Enzo Godinho investigate the role of the New Development Bank (NDB) in challenging global financial hierarchies while fostering an ecological transition. The NDB, established by the BRICS nations, has a mechanism of providing development finance in local currency, which could reduce dependency on core currencies like the USD and EUR, offering an alternative for peripheral economies to finance sustainable development. Given the institutionalization of the green economy agenda and the rise of green finance, the paper raises elements to assess whether the NDB effectively contributes to the ecological transition through its investment strategy.
Our analysis builds on structuralist and dependency theories, identifying three interlinked hierarchies—productive, currency, and environmental—that shape global financial asymmetries. We examine the NDB’s project portfolio from 2016 to 2024, and particularly the interplay between the projects' area of operation, currency of funding, and country of implementation. The findings indicate that, while the NDB has made strides in funding sustainable infrastructure, its operations remain largely embedded within dominant currency systems. Only China and, to a lesser extent, South Africa have successfully leveraged national currencies, whereas other BRICS and partner countries remain reliant on core currencies.
Despite its strategic goal of increasing local currency lending, the NDB’s ability to disrupt financial subordination remains limited. The bank's commitment to green finance is evident, yet many projects still operate within traditional resource-intensive models, raising concerns about the depth of its ecological transformation. Ultimately, while the NDB represents an important step toward a multipolar financial system, its potential to drive systemic change hinges on further institutional reforms, political commitment and expanded local currency financing - which is in line with the funding trends observed in the last years of NDB's operations.

Bios:
Beatriz Mattos is a Brazilian master’s student majoring in Socio-Ecological Economics and Policy in the EPOG+ Erasmus Mundus Joint Degree. Her track in EPOG+ is C3, therefore he has studied in renowned institutions such as Vienna University of Economics and Business (Austria) and Sorbonne Université (France). She researches in the field political economy and political science of socio-ecological transitions, with focus on the international insertion of Latin America and Brazil.

Enzo de Moraes Godinho is a Brazilian master’s student majoring in International Macroeconomics and Development in the EPOG+ Erasmus Mundus Joint Degree. His track in EPOG+ is C2, therefore he has studied in renowned institutions such as Hochschule für Wirtschaft und Recht (Germany), University of the Witwatersrand (South Africa), and Sorbonne Université (France). He has a deep understanding of the Chinese economy and development trajectory, the Belt and Road Initiative, Heterodox Economics, Industrial Policy, the Global South, and BRICS studies.

Le document d'appui de la séance est disponible sur ce lien / see the link to the working paper associated :  working_paper_simonetti_and_godinho

=> séance suivante / next session : March 12th, 2025, 6PM : Natalia Bracarense on Women-Led Agroecological Movements in Brazil: Illustrations of Triple Movement.

Au plaisir de vous retrouver lors de cette seance / looking forward to seeing you in the coming session,

Pour le comité d'organisation / On behalf ot the Organizing Comittee, 

bien cordialement / Best regards, 

Julien Vercueil

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Julien Vercueil
Inalco
Vice-président Valorisation et Responsabilité environnementale
Vice-President for Valorization and Environmental Responsibility
BRICs Seminar, Régulation Review

Auschwitz não foi suficiente… - Ryan Faulkner-Hogg

Dica de leitura de Mauricio David : "Judeus ou não, nós morremos todos em Auschwitz- Nos subterrâneos da consciência universal, é a humanidade inteira que desapareceu nas fábricas da morte"

Penser Auschwitz sous le seul prisme de la tragédie survenue au peuple juif serait une erreur. 

Ryan Faulkner-Hogg

via Unsplash

C'est pourquoi penser Auschwitz sous le seul prisme de la tragédie survenue au peuple juif serait une erreur ou tout au moins une paresse de la pensée. Non, ce qui a disparu dans les fours crématoires, c'est l'enfance même de l'humanité. Tous tant que nous sommes, juifs ou pas, nous sommes orphelins d'une espérance qui depuis la nuit des temps s'était transmise de génération en génération, d'un fol espoir que l'homme pouvait parvenir à dominer ses instincts et rêver à une époque prochaine où les individus, au-delà de leurs innombrables différences, s'aimeraient les uns les autres...

...É porque pensar em Auschwitz sob só o prisma da tragédia que alcançou ao povo judeu seria um erro ou, pelo menos, uma preguiça do pensamento. Não, o que desapareceu nos fornos crematórios foi a infância mesmo da humanidade. Todos os que nós somos, judeus ou não, nós somos órfãos de uma esperança que desde a noite dos tempos se transmitia de geração em geração, de um esperança de que o homem poderia chegar a dominar seus instintos e a sonhar em uma época próxima onde os indivíduos, mais além das suas inumeráveis diferenças, amar-se-iam uns aos outros...

 

Juifs ou pas, nous sommes tous morts à Auschwitz

[BLOG You Will Never Hate Alone] Dans les souterrains de la conscience universelle, c'est l'humanité tout entière qui a disparu dans les usines de la mort.

 

Il y a quatre-vingts ans, le 27 janvier 1945, l'armée soviétique libérait le camp d'extermination d'Auschwitz-Birkenau, en Pologne occupée. Trois mois plus tard, c'était au tour des forces alliées de découvrir l'ampleur de la catastrophe, de ces millions de morts assassinés au seul motif de leurs origines ou de leurs particularismes. Le monde ne s'en est jamais remis. Au-delà des six millions de juifs massacrés et de tous les autres exécutés au nom de la supériorité de la race allemande, c'est l'humanité tout entière qui a sombré dans les camps de la mort.

Oui, par bien des aspects, le monde tel qu'on pouvait l'envisager avant la Shoah, un monde fondé sur l'idée de progrès et de fraternité entre les peuples, cet idéal d'une humanité prompte à embrasser les valeurs d'une civilisation guidée par l'espoir de terrasser les forces du mal, ce rêve-là s'est fracassé sur les portes des chambres à gaz. La dernière innocence de ce monde s'en est allée à travers les conduits des cheminées qui surplombaient les usines de la mort.

C'est pourquoi penser Auschwitz sous le seul prisme de la tragédie survenue au peuple juif serait une erreur ou tout au moins une paresse de la pensée. Non, ce qui a disparu dans les fours crématoires, c'est l'enfance même de l'humanité. Tous tant que nous sommes, juifs ou pas, nous sommes orphelins d'une espérance qui depuis la nuit des temps s'était transmise de génération en génération, d'un fol espoir que l'homme pouvait parvenir à dominer ses instincts et rêver à une époque prochaine où les individus, au-delà de leurs innombrables différences, s'aimeraient les uns les autres.

D'une certaine manière, la civilisation née avec la naissance du Christ s'est terminée à Auschwitz. Pour bien faire et appréhender cette tragédie et ses conséquences sous sa vraie lumière, il faudrait penser et différencier le temps d'avant Auschwitz et celui d'après. Ne plus affirmer par exemple que nous sommes aujourd'hui en 2025, mais en 80 après Auschwitz. Prendre la découverte des camps de la mort comme l'année zéro d'une nouvelle ère qui verrait l'humanité tenter de renouer avec la lumière de ses débuts.

 

Sans quoi, on prendrait le risque de considérer Auschwitz comme un simple accident de l'histoire, une sortie de route dont les juifs auraient fait les frais. On pourrait aller ainsi de commémorations en commémorations, sans jamais réaliser à quel point les fondements même de notre âme ont été abîmés, souillés, contaminés par l'horreur des chambres à gaz. Dans les souterrains de la conscience universelle, les images des déportés ont eu un tel effet que non seulement elles n'ont jamais disparu mais qu'elles continuent à nous hanter comme le chant funèbre d'une humanité morte à elle-même.

Nous sommes tous morts à Auschwitz. Tous, sans exception.

Qu'une nation aussi éclairée que l'Allemagne, terre de tant de génies, ait pu ainsi concevoir une telle sophistication dans la mise à mort d'un peuple parfaitement innocent, cette découverte a constitué un choc si tellurique que depuis nous chancelons, comme frappés de stupeur. Au fond de nous, nous savons désormais de quoi nous sommes capables, cette débauche de l'horreur qui nous apparaît comme une fatalité face à laquelle, malgré tous nos efforts, nous demeurons impuissants.

 

Nous sommes tous des nazis, nous sommes tous des juifs. Nous portons en nous les germes d'un mal qui, s'il n'est pas contenu aux premiers temps de son apparition, peut en un temps record nous précipiter dans les abîmes. Il a fallu une dizaine d'années à la nation allemande pour concevoir la solution finale. Avec l'essor foudroyant et terrifiant de la technologie, combien de mois seront nécessaires pour que l'impensable se déroule à nouveau?

Tous les jours, sans le savoir, nous commémorons ceux tombés à Auschwitz. En continu, nous entendons leurs cris, nous percevons leurs douleurs, nous écoutons leurs sanglots trempés de silence. Ils sont notre passé, un passé qui nous conjure de ne jamais baisser la garde, sans quoi ce passé-là deviendra notre avenir. La douleur juive est la douleur du monde tout entier. Puisse-t-on ne jamais l'oublier.

 

A democracia autoritária de Trump - Jamil Chade

A democracia americana vive uma ameaça existencial 

Por Jamil Chade, de Nova York

Em menos de 20 dias, Donald Trump se lançou numa operação de captura do estado, aliado a oligarcas e ao movimento cristão radical. 

Assinou decretos inconstitucionais, fechou instituições democráticas, promoveu a censura, desmobilizou recursos, chantageou funcionários públicos e criou um clima de pânico entre os segmentos mais vulneráveis do país.

Só as cortes ainda resistem, enquanto Trump sabe que pode contar com o silêncio no Congresso.

O republicano chegou ao poder pelas urnas. Mas seu compromisso com a democracia terminou ali, rabiscando com pressa os contornos de uma "autocracia eleitoral".

Reveladora foi a sentença de John Coughenour, juiz federal, que derrubou uma das medidas de Trump. "Ficou cada vez mais evidente que, para nosso presidente, o Estado de direito é apenas um impedimento para seus objetivos políticos. O Estado de direito é, segundo ele, algo para navegar ou simplesmente ignorar, seja para ganho político ou pessoal", escreveu.

Como um tsunami que destrói de forma meticulosa cada construção pode onde passa, seu governo desembarcou com uma ofensiva sofisticada: a da disseminação do caos como estratégia política.

Suas falas permeadas de ódio e mentiras jogaram comunidades inteiras a um sentimento de medo. Nos últimos dias, encontrei imigrantes que deixaram de mandar seus filhos para as escolas, com membros da comunidade LGBT que temem sair às ruas, com grupos que passaram a ter pesadelos pelas noites e pelos dias.

O que se vive, em muitos rincões dos EUA, é um trauma.

Nada disso é fruto de um improviso. Ao gerar um clima de incerteza, ruptura e medo, Trump semeia o caos como método para causar a desorientação de qualquer tipo de resistência e da organização de trincheiras contra o desmonte do estado de direito.

Enquanto o caos e a passividade imposta são as realidades, pelo menos por enquanto, o que Trump faz é a promoção de profundas transformações.

Estamos diante do que Naomi Klein já descreveu como "a doutrina do choque". Ou seja, o uso sistemático do caos para abrir espaço para mudanças radicais, enquanto a sociedade está buscando formas de encontrar coerência para resistir. Uma política que explora os limites cognitivos do ser humano.

A estratégia ainda revela que Trump e seus aliados não chegaram ao poder desarmados. Vieram com um novo projeto de país e de sociedade.

Enquanto o caos é o novo normal, a extrema direita cavalga destemida na captura do estado.

Hoje, a democracia americana está sob seu maior ataque. E precisamos aprender as lições para 2026.

Link para coluna:

https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2025/02/08/a-democracia-americana-esta-ameacada-e-trump-usa-o-caos-como-metodo.htm

A diplomacia fossilizada do PT condena o Brasil ao não desenvolvimento eterno - Paulo Roberto de Almeida (nota do Brasil 247)

A diplomacia fossilizada do PT condena o Brasil ao não desenvolvimento eterno

  

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre a decisão anunciada pelo governo de congelar o processo de adesão à OCDE.

 

        Em matéria de políticas econômicas para o seu desenvolvimento econômico e social, o Brasil continua travado nas suas posturas diplomáticas por mais de meio século, talvez mais, e não exatamente por culpa do Itamaraty, embora os diplomatas sejam em parte responsáveis pelo que eu chamo de diplomacia fossilizada.

O texto abaixo foi veiculado pelo Brasil 247, o porta-voz oficioso do PT para matérias gerais que cobrem um amplo espectro de temas políticos, econômicos e sociais, mas ele poderia ter emanado oficialmente do Palácio do Planalto, como do próprio Itamaraty, sendo que este último poderia ter feito um texto exatamente inverso, confirmando, por exemplo, a continuidade do processo brasileiro de adesão à OCDE, uma iniciativa que já está atrasada mais de 30 anos, talvez meio século.

        Com efeito, data do governo Collor, início dos anos 1990 portanto, a iniciativa de dar início a um processo tímido, hesitante, não de ingresso, mas de aproximação às teses e posicionamentos da OCDE em temas de políticas econômicas e sociais compatíveis com uma moderna economia de mercado, mais baseada na liberdade econômica do que na ação dirigente, isto é, intervencionista, do Estado. Esse esforço infelizmente não avançou nos governos FHC, a despeito deste exibir uma postura bem mais aberta — feita de desestatização e desmonopolização — do que aquela mantida no regime militar e, logo adiante, pelo que pode ser chamado de “diplomacia lulopetista”, uma cópia mais que mimética da diplomacia do regime militar, esta sim, criada, verbalizada e mantida praticamente embalsamada pelo Itamaraty, ou mais exatamente pelos “itamaratecas” mais identificados com a ideologia do desenvolvimento tipicamente cepaliana, furtadiana, enfim “desenvolvimentista”, que nasceu nos anos 1950 e que mantém-se impérvia desde então.

        O PT encarnou essa política de forma ainda mais ampla e geral do que o próprio regime militar, levando-a ao paroxismo atual de reverter um processo de adesão que tinha tudo para ser concluído positivamente em mais um ano ou dois. Voltamos à casa dos anos 1970, de uma maneira ainda mais fossilizada do que os anos 2000, quando ainda não existia o Brics, ou quando este ainda não exibia os traços e as motivações de um “clube anti-OCDE”, na exata postura contrária do que seriam as posições de um suposto “clube dos ricos”, o que a OCDE não é mais desde pelo menos os anos 1990, quando começou a se abrir para países ditos “em desenvolvimento” (México), para economias emergentes (Coreia do Sul), mas sobretudo para economias em transição do socialismo mais que fossilizado para um regime mais conforme às economias de mercado avançadas (praticamente toda a Europa centra e oriental anteriormente na esfera do império soviético).

        A pequena abertura à OCDE - com grande resistência interna nos meios econômicos e diplomáticos — dos governos Collor e FHC foi totalmente revertida nos governos lulopetistas de 2003 a 2016 e agora foi novamente congelada pelo governo de Lula 3, sem qualquer perspectiva de mudança de rota nos próximos anos, uma vez que o entusiasmo do chefe pelo Brics+ e pelo projeto russo-chinês de uma “nova ordem global multipolar” é genuíno e capaz de receber a adesão de muitos diplomatas que até poucos anos atrás poderiam escrever com satisfação discursos saudando a adoção pelo Brasil de políticas, valores e princípios mais conformes aos de uma moderna economia de mercado, liberal e democrática. Em lugar disso, teremos a velha cantilena do “tratamento diferencial e mais favorável para países em desenvolvimento”, do “espaço para políticas nacionais de desenvolvimento inclusivo e equilibrado”, de “transferência de tecnologia em termos equitativos” ou da “responsabilidade comum, mas compartilhada” (ou seja, os ricos pagam por alguns pecados do passado colonialista e imperialista, mas nós temos o direito de usar os recursos de “maneira soberana”, de acordo a nossas próprias prioridades de “desenvolvimento inclusivo e equitativo”).

        A verborreia da diplomacia fossilizada não precisa sequer inovar nos conceitos e propostas, ou basta agora refletir o “novo” discurso da “nova ordem global” sino-russa, à qual o chefe de Estado e de governo já tinha declarado sua adesão entusiasta antes mesmo de se converter aos cargos, ainda durante a campanha eleitoral de 2022. O Itamaraty precisa apenas reverter aos textos rituais de um passado não muito distante, e o fará com a mesma vocação adesista de sempre, como compete a uma corporação adepta às mesmas regras que prevalecem desde o regime militar: “hierarquia e disciplina” (ou, na linguagem popular, “manda quem pode, obedece quem tem juízo”). 

        O retrocesso diplomático não é necessariamente comandado pelo Itamaraty; ele apenas se deixa embalsamar pelo lulopetismo diplomático.


Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 9/02/2025


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Governo Lula reavalia memorando para adesão do Brasil à OCDE

Na prática, o processo de adesão ao chamado "Clube dos Ricos" foi travado

Brasil 247, 08 de fevereiro de 2025

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está reavaliando os termos do memorando negociado durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL) para a entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Na prática, o processo de adesão ao chamado "Clube dos Ricos" foi travado.

A OCDE reúne as economias mais desenvolvidas, como Estados Unidos, Alemanha, Japão, França, Canadá e Itália. Os membros assumem acordos para boas práticas em diversas áreas e passam por avaliações sobre eficiência de políticas públicas e princípios liberais.

Conforme relatado pela CNN, a resistência à adesão à OCDE dentro do governo petista é liderada pelo assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Celso Amorim, e conta com o apoio da Casa Civil, do PT e de parte do Itamaraty.

Nos bastidores, os principais argumentos contrários ao ingresso do Brasil na OCDE envolvem a visão de que a organização possui um viés neocolonialista, além da avaliação do governo de que a OCDE tem se tornado um bloco mais político do que econômico.

Apesar da resistência, o governo ainda analisa os impactos da adesão. Em entrevista à CNN, o secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Ministério das Relações Exteriores, Maurício Lyrio, afirmou que o Brasil já cumpre cerca de 120 das 260 condicionantes do acordo.”