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domingo, 9 de fevereiro de 2025

A democracia autoritária de Trump - Jamil Chade

A democracia americana vive uma ameaça existencial 

Por Jamil Chade, de Nova York

Em menos de 20 dias, Donald Trump se lançou numa operação de captura do estado, aliado a oligarcas e ao movimento cristão radical. 

Assinou decretos inconstitucionais, fechou instituições democráticas, promoveu a censura, desmobilizou recursos, chantageou funcionários públicos e criou um clima de pânico entre os segmentos mais vulneráveis do país.

Só as cortes ainda resistem, enquanto Trump sabe que pode contar com o silêncio no Congresso.

O republicano chegou ao poder pelas urnas. Mas seu compromisso com a democracia terminou ali, rabiscando com pressa os contornos de uma "autocracia eleitoral".

Reveladora foi a sentença de John Coughenour, juiz federal, que derrubou uma das medidas de Trump. "Ficou cada vez mais evidente que, para nosso presidente, o Estado de direito é apenas um impedimento para seus objetivos políticos. O Estado de direito é, segundo ele, algo para navegar ou simplesmente ignorar, seja para ganho político ou pessoal", escreveu.

Como um tsunami que destrói de forma meticulosa cada construção pode onde passa, seu governo desembarcou com uma ofensiva sofisticada: a da disseminação do caos como estratégia política.

Suas falas permeadas de ódio e mentiras jogaram comunidades inteiras a um sentimento de medo. Nos últimos dias, encontrei imigrantes que deixaram de mandar seus filhos para as escolas, com membros da comunidade LGBT que temem sair às ruas, com grupos que passaram a ter pesadelos pelas noites e pelos dias.

O que se vive, em muitos rincões dos EUA, é um trauma.

Nada disso é fruto de um improviso. Ao gerar um clima de incerteza, ruptura e medo, Trump semeia o caos como método para causar a desorientação de qualquer tipo de resistência e da organização de trincheiras contra o desmonte do estado de direito.

Enquanto o caos e a passividade imposta são as realidades, pelo menos por enquanto, o que Trump faz é a promoção de profundas transformações.

Estamos diante do que Naomi Klein já descreveu como "a doutrina do choque". Ou seja, o uso sistemático do caos para abrir espaço para mudanças radicais, enquanto a sociedade está buscando formas de encontrar coerência para resistir. Uma política que explora os limites cognitivos do ser humano.

A estratégia ainda revela que Trump e seus aliados não chegaram ao poder desarmados. Vieram com um novo projeto de país e de sociedade.

Enquanto o caos é o novo normal, a extrema direita cavalga destemida na captura do estado.

Hoje, a democracia americana está sob seu maior ataque. E precisamos aprender as lições para 2026.

Link para coluna:

https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2025/02/08/a-democracia-americana-esta-ameacada-e-trump-usa-o-caos-como-metodo.htm

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