Permito-me reproduzir na íntegra, texto e comentários:
Post para meus alunos e ex-alunos. Discussão que já tivemos muitas vezes, tomando-se a palavra "discussão" no mais positivo de seus sentidos.
A interferência de políticos favorecendo certos grupos fundamentalistas religiosos é, no meu entender, algo terrível e ainda mais quando se destina a influenciar aos programas das escolas. Os EUA estão agora recomeçando a enfrentar esse problema. É algo recorrente por lá, mas disfarçado e presente aqui também. Ataca o pensamento científico de maneira subreptícia, disfarçada de tolerância com "todas as visões da Ciência".
Sempre alertei meus alunos de História e sobretudo os que faziam pesquisas de pós graduação, que não é possível, não é aceitável que se comece uma pesquisa tendo como horizonte querer "provar" algo ligado a uma crença, a uma religião, a uma espiritualidade, seja ela qual for.
Li uma vez, de um historiador, que Jacques Le Goff falava sobre o cristianismo mas que "não entendia muito do assunto" (afirmação patética) porque era agnóstico. Ora, que tremenda sandice!!! Se o cristão for tratar de temas da História do Cristianismo (onipresente para os medievalistas) tentando enfatizar somente seu lado positivo e insistindo que as críticas são infundadas, ele estará sendo um péssimo pesquisador/historiador.
Sei de trabalhos de cientistas jesuítas, nenhum deles com a imposição de pensamento religioso quando estavam se referindo a pesquisas de diversas áreas (vários deles de paleontologia/arquelogia, talvez influenciados por Teilhard de Chardin), sem demonstrar nenhuma necessidade de fundamentar uma leitura literal da Bíblia. Por que tal leitura anda sendo retomada agora até mesmo por católicos, ainda que majoritariamente por evangélicos? Que necessidade alucinada de dizer que o mundo "talvez tenha apenas 6 ou 7 mil anos"??????? (sim, isso foi afirmado em sala de aula, no Brasil, por uma professora que pretendia mostrar "outras" possibilidades para a Criação)
O mesmo vale para qualquer outra religiosidade e costuma ser bem mais presente entre os que acreditam em um Deus único e "pessoal", ou seja, entre os monoteístas. Leituras literais de Livros Sagrados, como o fazem muitos (não todos, é claro) judeus, cristãos e muçulmanos, não cabem no trabalho do historiador e esse embate já tive com diversos colegas. Ele, seguidamente, volta a acontecer em certos grupos da academia e, quando a ultra-direita assume o poder, volta à baila, pois as pessoas que defendem tais posicionamentos sentem-se apoiadas.
Não cabe ao historiador ou a qualquer pesquisador sério querer "provar" que Jesus existiu, que Maomé ouviu as palavras diretamente de um suposto anjo e que Moisés foi instruído também diretamente por Deus. Isso é FÉ. Se fosse tomado como verdade absoluta, tornaria toda a pesquisa histórica irrelevante! Não se faz pesquisa partindo de uma "verdade de fé".
SIM, o combate é aqui e agora, pois tais posicionamentos estão sendo reforçados em escolas e até universidades nos EUA, nessa fatídica nova era Trump, e o assunto está colocado no Brasil, mas parece interessar a poucos.
Todas as reações:
27Fabio Pereira Ribeiro, Julio Taleires e outras 25 pessoasMaria Luiza Feitosa SouzaAliás, o fundamentalismo religioso católico que, no Brasil tem raiz, principalmente, na Opus Dei, tem tomado corpo de forma assustadora.
- Sim, crença é uma questão de fé. …
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Raul Vieira Rochaàs questões de Fé, sobretudo aquelas embasadas nos Dogmas religiosos, impossibilitam qualquer estudo histórico que se prese...
Carmen Lícia PalazzoRaul Vieira Rocha sem dúvida, acho até mesmo desnecessário se envolver com tais assuntos como tema de pesquisa. É totalmente diferente de abordar as religiosidades como fatos culturais.
Paulo Cezar Timm'. O pensamento só poderia ocupar um lugar central se também dele fosse possível deduzir princípios e normas universais que ultrapassassem os limites da mera opinião. Enorme desafio. Os iluministas afirmaram que era possível superá-lo: o pensamento pod…
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