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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Lula e Xi podem não se reunir em 2025 mesmo com cúpula do Brics no Brasil - Nelson de Sá (Beijing) (FSP)

 China

Lula e Xi podem não se reunir em 2025 mesmo com cúpula do Brics no Brasil

Líderes trocam convites, mas evitam se comprometer com evento no Rio de Janeiro ou com fórum da Celac em Pequim

Pequim

A realização da cúpula do Brics no Rio de Janeiro, nos dias 6 e 7 de julho, foi confirmada neste sábado (15). Mas ainda não é certa a presença do líder da China, Xi Jinping, no evento.

Celso Amorim, assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), reuniu-se com o chanceler chinês Wang Yi no próprio sábado. Na ocasião, disse que "haverá encontros futuros", mas será preciso avaliar a situação. "Tem Brics, tem a China com a Celac, tem a COP30. Não está fácil para os presidentes viajarem."

A imagem mostra dois homens em um ambiente de reunião. Eles estão se cumprimentando com sorrisos, um deles tem cabelo grisalho e barba, vestindo um terno escuro, enquanto o outro tem cabelo liso e escuro, usando um terno claro. Ao fundo, há uma mesa com cadeiras e uma decoração simples, com luzes pendentes no teto.
O assessor especial da Presidência, Celso Amorim, se reúne com o chanceler chinês, Wang Yi, durante a Conferência de Segurança de Munique, na Alemanha - Ministério das Relações Exteriores da China - 15.fev.25/Divulgação

O Brasil quer Xi no Brics mas, segundo Wang, há problemas de calendário. "Eu disse para eles, 'Brics sem China não é Brics'", afirma Amorim, lembrando que na primeira cúpula no Brasil o então líder Hu Jintao participou mesmo com seu país tendo sofrido terremoto. "Ficou só um dia, mas foi."

"Reiterei que é muito importante que Xi vá. Ainda mais agora, com o mundo da maneira que está, essa quebra de regras internacionais." Lista "a saída dos americanos do Acordo de Paris e da Organização Mundial de Saúde", temas abordados no encontro com Wang ocorrido em paralelo à Conferência de Segurança de Munique, na Alemanha.

Também da Organização Mundial do Comércio (OMC), "que hoje em dia não tem mais o poder de tomar decisões", com a recusa dos EUA em indicar seus representantes para os julgamentos, "mas sempre é um palco importante".

Segundo Amorim, "tudo isso reforça a importância dos Brics como órgão de ação, e o Brasil e a China são a grande vértebra dos Brics. A Rússia também é importante, mas hoje é mais um problema para resolver", devido à Guerra da Ucrânia.

Sobre o Fórum China-Celac (Comunidade de Estados Latino-americanos e do Caribe), que tem encontro previsto para maio em Pequim, o assessor afirmou que "os chineses têm muito interesse, mas é difícil o Lula viajar duas vezes para a Ásia no espaço de dois meses" —o presidente brasileiro deve ir ao Japão, para uma visita de Estado, em 25 e 26 de março.

Além disso, completa, "o Lula também tem que olhar muito, atualmente, a política interna".

Quanto à terceira data para o eventual encontro dos líderes, a COP30, cúpula da ONU para o clima, a ser realizada em novembro, em Belém, no Pará, o Brasil convidou Xi, mas a reação teria sido negativa, segundo uma fonte diplomática brasileira.

De acordo com o Ministério do Exterior chinês, no encontro com Amorim, o chanceler sublinhou a disposição de "implementar os consensos alcançados" entre Xi e Lula em sua reunião em novembro, em Brasília.

"A sinergia entre a Iniciativa Cinturão e Rota e as estratégias de desenvolvimento do Brasil injetaram ímpeto na cooperação", teria dito Wang, segundo o relato. "Como forças representativas do Sul Global, a China e o Brasil, enfrentando um mundo turbulento e interligado, mantêm foco estratégico e trabalham juntos."

O assessor especial de Lula, que falou com a Folha por telefone de Paris, confirmou que realizou-se uma "análise do progresso lento, muito no começo, que tem sido feito nos projetos" de sinergia bilaterais na reunião.

Ele e Wang em seguida abordaram a política global. "Falamos das tarifas [americanas], da imprevisibilidade com que Donald Trump atua, o que torna a relação Brasil-China ainda mais importante."

A secretária-executiva do Ministério das Relações Exteriores, Maria Laura da Rocha, se encontra com o vice-ministro do exterior da China, Ma Zhaoxu, em Pequim, em 10 de fevereiro de 2025
A secretária-executiva do Ministério das Relações Exteriores, Maria Laura da Rocha, encontra-se com o vice-ministro das Relações Exteriores da China, Ma Zhaoxu, em Pequim - Ministério do Exterior da China - 10.fev.25/Divulgação

Amorim ainda comentou com a reportagem a visita feita dias antes à China pela secretária-executiva do Itamaraty, Maria Laura Rocha, dizendo que "ela estava muito feliz com as discussões" realizadas. Segundo fontes chinesas, a diplomata tratou com o vice-ministro do exterior, Ma Zhaoxu, de temas estratégicos internacionais e da América Latina.

A mídia estatal chinesa, que vinha cobrando as "potenciais contramedidas do Brasil em resposta às tarifas dos EUA" em veículos como o canal de notícias CGTN passou no final de semana a destacar que Lula prometeu impor tarifas aos EUA.

"Haverá reciprocidade", disse o presidente brasileiro, citando também um possível recurso junto à OMC como aquele feito por Pequim, segundo despacho da agência Xinhua.

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