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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Humanamente possível: Sete séculos de pensamento humanista - Sarah Bakewell (resenha de livro)

Humanamente possível

Sete séculos de pensamento humanista

 Sarah Bakewell

Objetiva


A curiosidade intelectual, a empatia e o otimismo que caracterizam o pensamento humanista servem de inspiração há séculos. Sarah Bakewell reúne neste livro as mais extraordinárias jornadas de homens e mulheres que, desde os anos 1300 até os nossos dias, revolucionaram o modo de pensar e existir no mundo.


Ao longo dos séculos, houve muitos humanistas. Foram estudiosos exilados, andarilhos que sobreviviam de expedientes e palavras. No início da era moderna, vários deles se complicaram com a Inquisição. Outros tentaram se manter a salvo escondendo o que pensavam, às vezes tão bem que até hoje não fazemos ideia do que achavam. Formas humanistas de pensamento emergiram de muitas culturas, numa densa nuvem semântica de significados e implicações, mas Bakewell acredita que exista uma tradição humanista coerente, compartilhada por pessoas unidas por fios multicoloridos. São esses fios que ela investiga neste livro. Apesar de sua imensa variedade, ela costura as qualidades que unem o pensamento humanista e explica por que ele tem um poder tão duradouro apesar da oposição de fanáticos, místicos e tiranos.
De Cristina de Pisano a Bertrand Russell, de Voltaire a Arthur C. Clarke, de David Hume a Harriet Taylor Mill, Humanamente possível é um irrecusável convite à celebração do espírito humano, um livro crucial para o mundo polarizado em que vivemos hoje, além de uma leitura agradabilíssima. De um jeito leve, bem-humorado e ao mesmo tempo erudito, Sarah Bakewell resgata a melhor parte de sermos apenas... humanos.


“Um livro de grandes e audaciosas ideias. Bakewell aborda diversos temas com perspicácia, humor e empatia.” — The Wall Street Journal

“Bakewell domina sete séculos de pensamento humanista em uma narrativa ágil, resistindo às armadilhas da abstração prolixa e da simplificação superficial.” — The New York Times

“Não consigo imaginar uma história melhor do humanismo, uma que seja tão vividamente convincente. Bakewell é uma escritora maravilhosa.” — Philip Pullman

 

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Humanamente possível

Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo, 16/02/2025


Livro combina história e biografias para traçar um retrato do humanismo do século 14 aos dias de hoje


Há duas formas de se empanturrar. Você pode devorar quantidades pantagruélicas de um só prato ou saborear pequenos bocados de infindáveis petiscos. "Humanamente Possível", de Sarah Bakewell, é um banquete intelectual do segundo tipo.

Bakewell nos serve dezenas de autores esparramados ao longo de sete séculos de tradição humanista. Começa com Petrarca e Boccaccio, nos anos 1300, passa pelo Renascimento, com sua valorização de clássicos da Antiguidade como Vitrúvio, e termina nos dias de hoje.

A grande dificuldade, como o leitor já deve ter intuído, é definir o que é humanismo. Se há um movimento que resiste a definições precisas, é justamente o multifacetado humanismo.

Bakewell nem ousa oferecer um conceito fechado de humanismo. Ela opta por indicar os sabores principais em que ele aparece. Na variante filosófica, por exemplo, ele costuma vir como uma rejeição a explicações sobrenaturais para os fenômenos, daí que frequentemente é confundido com agnosticismo e ateísmo. A rigor, porém, dá para ser humanista e religioso ao mesmo tempo. O pio Dante é um dos autores que aparecem com destaque no livro.

Ao fim e ao cabo, o humanismo é como a pornografia. É mais fácil reconhecer um autor humanista quando o vemos do que definir o movimento em termos abstratos. E é aí que Bakewell se mostra uma banqueteira de primeira.

Ela combina com maestria história e biografia para nos oferecer retratos do pensamento e das vidas de diversos filósofos, poetas, romancistas, dramaturgos, filólogos, pintores, arquitetos e até políticos. Se há um denominador comum entre eles é que todos, em algum sentido valorizavam e celebravam a dimensão humana da vida. Mas mesmo isso é traiçoeiro, porque, em suas transfigurações mais recentes, o humanismo assume também a bandeira da defesa dos animais.

O livro é oportuno, por mostrar que já houve outras ocasiões na história em que humanistas tiveram de enfrentar forças que se alimentavam de intolerância, racismo e outras formas de crueldade contra humanos.




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