Luís Roberto Barroso fez escola. Seguindo o exemplo do presidente do STF, que escreveu artigo rebatendo o editorial do Estadão, um desembargador usa o mesmo espaço para desancar a imprensa como um todo quanto ao uso de “fake news” para achincalhar o judiciário. O efeito, por sinal, foi o mesmo: demonstrar, com suas próprias palavras, que os magistrados vivem no mundo de Nárnia.
O desembargador começa por se insurgir contra o termo “penduricalhos”. A imprensa deveria usar, em seu lugar, “diferenças remuneratórias não satisfeitas no momento oportuno”, como se uma reportagem fosse uma peça jurídica, e como se a mudança da palavra mudasse a natureza da coisa. Trata-se de remuneração que faz com que os salários ultrapassem o teto do funcionalismo. O fato de terem amparo legal, como enfatiza o magistrado, só piora a situação. Afinal, como uma lei pode contrapor uma determinação constitucional?
Depois, o articulista quer nos convencer que os juízes trabalham tanto quanto um pedreiro debaixo de um sol de 40 graus. Deu até dó imaginar os magistrados largando suas famílias para decidir sobre os destinos dos brasileiros em suas lides legais. Dois meses de férias é pouco.
Além disso, os magistrados precisam ganhar tanto quanto os seus pares na iniciativa privada. Os seus pares bem-sucedidos, naturalmente, não os milhares de advogados de porta de cadeia que mal ganham para o seu próprio sustento. Afinal, entraram através de uma porta muito estreita, o concurso da magistratura, e só isso já lhes dá o direito quase divino de serem remunerados como os melhores. Como se a estabilidade no emprego não fizesse diferença alguma em termos de remuneração.
A seguir, na melhor linha de quebrar o termômetro, o articulista se insurge contra pesquisa que aponta a ineficiência do nosso judiciário. Somos tão maravilhosos, os métodos usados pela pesquisa e as pessoas ouvidas é que estão errados. Lembra as críticas ao índice de corrupção da Transparência Internacional.
Mas o desembargador guarda para o fim da festa o melhor vinho da sua defesa: uma ameaça de processo contra os jornais. Fico cá imaginando os magistrados julgando os jornais por críticas aos magistrados. Seria a cereja desse bolo indigesto.
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