O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Meus livros podem ser vistos nas páginas da Amazon. Outras opiniões rápidas podem ser encontradas no Facebook ou no Threads. Grande parte de meus ensaios e artigos, inclusive livros inteiros, estão disponíveis em Academia.edu: https://unb.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida

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quarta-feira, 23 de julho de 2025

A TEORIA DA MINEIRIDADE - BENÍCIO MEDEIROS (Blog de São João Del-Rei, de Francisco Braga)

 A Mineiridade e outras manias...

Não sou muito afeto a essas manias de peculiaridades regionais: "Ah, o carioca é assim, sempre chiando; o paulista insiste no "né"; o gaúcho tem aquelas manias farroupilhas; o baiano é isso mais aquilo; o pernambuco sabe se lá o quê. Acho tudo isso muito subjetivo. Mas não deixo de apreciar a boa literatura, como esta que fala de Otto Lara Resende e a Mineiridade.
Mineiridade, o que seria isso? Vamos ver... PRA

A TEORIA DA MINEIRIDADE
Por BENÍCIO MEDEIROS *
Blog de São João Del-Rei, de Francisco Braga
Link: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2025/07/a-teoria-da-mineiridade.html
domingo, 20 de julho de 2025

A TEORIA DA MINEIRIDADE
Por BENÍCIO MEDEIROS *
Blogdomingo, 20 de julho de 2025

"O mineiro é velhíssimo, é um ser reflexivo, com segundos propósitos e enrolada natureza."
João Guimarães Rosa

Otto Lara Resende (✰ São João del-Rei, 1º/05/1922 ✞ Rio de Janeiro, 28/12/1992) ocupou a cadeira nº 39 da Academia Brasileira de Letras.

Minas assumiu o poder com a Revolução de 30. Não o poder político. O poder cultural. Embora o movimento tenha sido liderado pelos gaúchos, com Getúlio Vargas à frente, coube a um mineiro, Gustavo Capanema, dirigir a política educacional e cultural do governo Vargas, na qualidade de ministro da Educação e Saúde Pública.


Muito já se falou da luminosa passagem de Capanema pelo MES. Decerto favorecido pela ditadura estadonovista, que tornou de fato efetiva a carta-branca a ele conferida por Getúlio, Capanema, durante a sua gestão, promoveu a sua revolução particular, espanando, com extraordinário vigor, o empoeirado universo cultural da época.

Com o poder que lhe foi delegado, ele introduziu nos sistemas oficiais conceitos e pontos-de-vista ao gosto dos modernistas de 22 que não haviam no entanto, àquela altura, merecido o crédito da sociedade e, menos ainda, das chamadas autoridades constituídas. O Brasil, culturalmente falando, era ainda um país tacanho, dos saraus pseudoliterários e das conferências meloparnasianas, comandado, esteticamente, pelos cânones mais retrógrados das beaux arts.

Mineiro, Capanema cercou-se de mineiros. Pôs como seu chefe de gabinete Carlos Drummond de Andrade (como o ministro, de uma geração anterior à de Otto ¹), o que por si só equivalia a uma tomada de posição. O poeta, tido como comunista, não era benquisto pela nata da sociedade conservadora, incluindo-se aí os velhos mandarins dos círculos literários oficiais e os representantes da direita católica.

Eram conhecidas, por exemplo, as diferenças entre o poeta de Claro Enigma e o crítico Alceu Amoroso Lima ². Em março de 1936, Drummond recusou-se a assistir a uma conferência de Alceu, "A educação e o comunismo", no MES. Por causa disso, o poeta-funcionário-público se viu obrigado a por o cargo à disposição do ministro, que, no entanto, desconsiderou sua atitude.

O episódio pode parecer estranho à luz da atualidade. Mas fazia parte da guerra ideológica que se travava no período. Cruzado e patrulheiro da causa do catolicismo, embora com os anos tenha arrefecido sua posição no que esta tinha de mais intolerante, Alceu Amoroso Lima foi, na mesma época, o responsável pela demissão do cronista Rubem Braga do Diário da Noite, de Assis Chateaubriand. Irreverente e anticlerical, Braga escreveu, num momento infeliz, que a Igreja espanhola "não passava de uma pinóia". Só por causa disso Alceu, indignado, pediu a cabeça do jornalista. Chateaubriand a concedeu.

Outro mineiro ilustre no MES foi o jovem advogado, escritor e jornalista Rodrigo Melo Franco de Andrade. Para não fugir à regra da tradição da sua terra, tinha publicado um livro de contos tristes, Velórios, do qual aliás não gostava. Rodrigo foi o criador, em 1937, do antigo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (hoje Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, IPHAN), voltado, pioneiramente, para a preservação do patrimônio cultural brasileiro.

A perspectiva do MES era a de reconhecer e identificar os valores notáveis do nosso passado, através do SPHAN, e, ao mesmo tempo, projetá-los ao futuro, a partir do reconhecimento de certas propostas da vanguarda que ainda causavam ojeriza tanto ao senso comum como às elites renitentes. Algumas das cabeças mais brilhantes da época se associaram a essa tarefa de redescobrir, com novos olhos, o passado cultural brasileiro.

Mário de Andrade, por exemplo, foi um colaborador incansável de Rodrigo desde os primeiros tempos, tendo redigido o anteprojeto de criação do SPHAN e, mais tarde, como um caçador de relíquias, saído pessoalmente à cata de dados pelo país, particularmente o interior de São Paulo, que enriqueceriam o repertório conceitual da instituição e engrossariam as suas primeiras listas de bens tombados.

Mário de Andrade se tornaria uma espécie de mentor e orientador intelectual do grupo de mineiros de que Otto Lara Resende fazia parte. De espírito aberto e extrovertido, entusiasta dos esforços literários da juventude, o autor de Macunaíma, a partir da sua obra e de suas passagens por Belo Horizonte, influenciaria de forma decisiva a carreira de Otto e de seus amigos, que, durante anos, mantiveram correspondência com o escritor, já então consagrado.

O MES, ou melhor, Gustavo Capanema, acolheu e prestigiou artistas que encontrariam, naquela época, pouco espaço de atuação fora do abrigo da estruturas oficiais. Encomendou painéis ao incompreendido Portinari. Esculturas aos malditos Celso Antônio, Bruno Giorgi e Lipchitz, cujo talhe moderno incomodava a muitos. E até um edifício inteiro, a superenvidraçada sede do MES, a um grupo de arquitetos liderados por Lúcio Costa, achando-se entre estes um jovem especialmente talentoso, porém ainda desconhecido: Oscar Niemeyer.

Tanto Lúcio Costa como Niemeyer — conduzidos logo depois, pelas mãos de Juscelino Kubitschek, a Belo Horizonte — teriam papel destacado no sentido de arejar um pouco a então fechada, e mesmo opressiva, sociedade mineira. Por volta de 1940, no entanto, os jovens mais esclarecidos de Belo Horizonte, entre os quais Otto Lara Resende, só tinham olhos para a guerra na Europa. E, apesar dos feitos vanguardistas do conterrâneo Capanema na Capital Federal, todos detestavam Getúlio.

Mais de uma vez, Otto Lara Resende valendo-se, em geral, de opiniões alheias pautadas no determinismo geográfico, descreveu o mineiro como um ser à parte no contexto das psicologias regionais. Se o brasileiro do litoral, por exemplo, tendia à comunicabilidade e à extroversão, o homem da montanha era, em geral, um ser reservado, desconfiado e muito cioso do seu universo individual.

Num artigo sobre Carlos Drummond de Andrade "O mel oculto, o áspero minério", na tentativa de explicar a personalidade do poeta, Otto se refere a um texto de Guimarães Rosa sobre o "enigma mineiro" (expressão de Otto). Nele, ao seu estilo, o autor de Tutameia arrola algumas características que lhe pareciam fundamentais do montanhês:

“Seu gosto do dinheiro em abstrato. Sua desconfiança e cautela. Sua honesta astúcia meandrosa, de regato serrano, de mestres na resistência passiva. Seu vezo inibido, de homens aprisionados nas manhãs nebulosas e noites nevoentas de cidades tristes, entre a religião e a regra coletiva, austeras, homens de alma encapotada, posto que urbanos e polidos.”
A opinião de Drummond não é muito diferente:
“O Estado mais tipicamente conservador da União abriga o espírito mais livre. Sua aparente docilidade esconde reservas de insubmissão, às vezes convertida em ironia, e de algum modo chocada na pachorra de esperar, que tanto ilude o observador apressado, incapaz de perceber a chama latente do borralho. As revoluções liberais em Minas ilustram isso.”
A teoria da mineiridade explicaria em parte, assim, a Inconfidência e outros episódios históricos. A ironia e a dicotomia de espírito a que se refere Drummond estariam também na base do extenso anedotário envolvendo alguns políticos mineiros ilustres, de Benedito Valadares a José Maria Alkmin e Tancredo Neves. Valadares foi o interventor escolhido por Getúlio para governar Minas no Estado Novo. A notícia da sua nomeação causou surpresa à própria mãe, que não confiaria muito nos dotes intelectuais do filho. "Mas será o Benedito?" ³ — teria ela exclamado, introduzindo assim no repertório popular uma nova interjeição.
Outra anedota envolvendo Benedito Valares versa sobre um discurso que o político teria feito numa cidade do interior de Minas, conhecida pelo cultivo de uma fibra vegetal chamada pita. Começava assim: "Nesta região, onde a pita abunda..." Percebendo o cacófato, ele voltou atrás, tentou corrigir, mas a emenda saiu pior que o soneto: "Nesta região, onde abunda a pita..."

A julgar até pela sua frase mais famosa, Otto Lara Resende, apesar da fidelidade às suas raízes, não cultivava bairrismo em relação a Minas. Disse ele:

“O fato de Minas produzir muito escritor e muito banqueiro tem certamente a mesma explicação pela ecologia e pela sociologia. Mineiro é o povo que se deixa cortar o pescoço para não pagar imposto, porque não acredita no Estado. A própria formação de Minas, com aquelas levas de aventureiros de diferentes etnias que procuravam vender pastéis e miçangas aos arruinados do ouro, determinou uma economia de reflexos fechados, à base do pé-de-meia individual.”
A mudança de eixo no poder, com a consequente abolição da "política do café-com-leite", pela Revolução de 30, gerou certamente, entre os mineiros, ressentimentos e preconceitos em relação ao governo central. Essa sensação de esvaziamento explicaria, em certa medida, o horror que Getúlio Vargas despertava em Minas, ao qual Otto e o seu grupo não eram indiferentes. Anos depois, já entendendo melhor os complicados meandros da política nacional, o escritor mudaria de ideia.
Como jovem repórter, já no Rio, cobrindo a instalação da Constituinte de 1946 para O Globo, Otto Lara Resende teve a oportunidade de conhecer de perto Getúlio Vargas, então um ex-presidente retornando ao poder, dessa vez ao poder legislativo, na qualidade de senador dos mais votados. Essa entrevista renderia a Otto, mais tarde, algumas de suas melhores páginas.

Ele encontrou-se com Getúlio no apartamento deste, no Morro da Viúva. Em vez do repulsivo tirano da sua adolescência, deparou-se com um homem algo bonachão, às vezes mesmo meio tímido, disposto a ouvi-lo paternal e pacientemente, sempre com um atencioso sorriso nos lábios. Deu até espaço para que Otto, um mero foca ³, explicitasse todas as suas furibundas críticas acumuladas contra o Estado Novo. Depois disse: "Tu és ainda muito jovem e não sabes que um ditador não pode fazer tudo. Um dia saberás."

Curioso, anotou o repórter, é que o ex-presidente chamava-se a si próprio de "ditador", mesmo termo usado pela imprensa de oposição para ofendê-lo. Anos depois, anotaria o escritor maduro:

“A despeito de seu estilo caudilhesco, de sua formação pouco inclinada ao prestígio das instituições democráticas, é possível que a História venha um dia a reconhecer, sem paixão, que Getúlio Vargas foi um momento importante em nossa trajetória republicana.”
Nos tempos da juventude de Otto, no entanto, eram poucos os mineiros que pensavam assim.


* Jornalista e escritor, nasceu em Niterói-RJ em 1947 e faleceu no Rio de Janeiro em 11/10/2019. Estreou na imprensa em 1970 como repórter do jornal Última Hora. Trabalhou como editorialista no Jornal do Brasil, no Estado de S. Paulo; foi repórter e crítico literário da revista Veja, redator da revista Isto É, editor do Jornal da Globo e redator-chefe da revista Manchete. Também foi diretor de jornalismo da Academia Brasileira de Imprensa (ABI), editor da Revista do Livro da Biblioteca Nacional, tendo participado do conselho editorial da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. É autor de “A poeira da Glória” (Relume Dumará, 1998), “Brilho e sombra” (Bem-Te-Vi, 2006), sobre a vida e obra de Otto Lara Resende, e “A rotativa parou” (Record, 2010), que relata a história do jornalista Samuel Wainer à frente do jornal Última Hora.


II. NOTA EXPLICATIVA do gerente do Blog


¹ Efetivamente, é da vida e obra de Otto Lara Resende que trata o livro "A Poeira da Glória" de Benício Medeiros, de cujo terceiro capítulo intitulado "A teoria da mineiridade", esse texto foi extraído.

² O célebre pensador e crítico literário brasileiro, Alceu Amoroso Lima, adotou o pseudônimo de Tristão de Athayde, ao se tornar crítico em O Jornal (1919).

³ Na gíria brasileira, "foca" significa jornalista novato, sem experiência.

⁴ Marcelo Duarte, in Guia dos Curiosos, dá a seguinte versão para o dito popular: "A expressão "Será o Benedito?" nasceu em 1933, quando o presidente Getúlio Vargas demorou muito para escolher o interventor de Minas Gerais. Todos temiam que ele escolhesse o pior candidato, Benedito Valadares. Por isso, a população se perguntava: "Será o Benedito?" E o Benedito foi o escolhido."


III. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA


MEDEIROS, Benício: OTTO LARA RESENDE: a poeira da Glória, integrante da série “Perfis do Rio”. Rio de Janeiro: Ed. Relume Dumará: Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, 1998, 141 p.

__________________: À SOMBRA DO CARAÇA, 2º capítulo do livro A POEIRA DA GLÓRIA, postado no Blog de São João del-Rei em 08/01/2025
Link: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2025/01/a-sombra-do-caraca.html
Postado por Francisco José dos Santos Braga às 17:01

terça-feira, 22 de julho de 2025

DUAS REVISTAS: UMA NAUFRAGOU, A OUTRA QUASE VIROU CINZA - Edmílson Caminha (ANE)

 Um artigo no site da Associação Nacional de Escritores, de Edmilson Caminha, provavelmente de 2019 ou 2020, do qual só tive conhecimento recentemente:


DUAS REVISTAS: UMA NAUFRAGOU, A OUTRA QUASE VIROU CINZA
Edmílson Caminha

Site da ANE
https://anenet.com.br/lygia-uma-saudade/

        Ao longo da História, o Itamaraty transcendeu o papel institucional que lhe cumpre exercer – representar diplomaticamente as posições políticas e os interesses econômicos do Brasil no concerto das nações – para também se fazer um centro de primazia acadêmica, à altura do que há de melhor no magistério universitário brasileiro. Prova disso são os homens e mulheres diplomatas que o honram e engrandecem, ontem como hoje: Guimarães Rosa, Antônio Houaiss, José Guilherme Merquior, Vinicius de Moraes, João Cabral de Melo Neto, Sérgio Paulo Rouanet, Vera Pedrosa, Alberto da Costa e Silva, Evaldo Cabral de Mello, Francisco Alvim, Lauro Moreira, Carlos Henrique Cardim, Paulo Roberto de Almeida, João Almino, Gisela Maria Padovan, Sérgio Danese, Gonçalo Mourão, José Maurício Bustani e Irene Vida Gala, além de tantos outros. A par do desempenho das funções burocráticas e protocolares como embaixadores e cônsules, publicaram obras literárias (e muitos felizmente ainda as escrevem), dirigiram programas editoriais de relevo e possibilitaram o lançamento de periódicos que enriquecem a cultura brasileira.
        Criada em 1993 por decreto do presidente Itamar Franco, a Comissão Nacional para as Comemorações do V Centenário do Descobrimento do Brasil foi presidida pelo embaixador Lauro Moreira, responsável pela publicação de três excelentes números da revista Rumos. Com o subtítulo “Os caminhos do Brasil em debate”, abria as páginas para a discussão de ideias, a livre defesa de pensamentos e de opiniões, longe do oba-oba demagógico que está mais para a propaganda de governos do que para o diálogo intelectual. Sob a direção do jornalista Dirceu Brisola e o saber do também jornalista Daniel Piza, um dos editores, não havia dúvida quanto à seriedade do projeto, como se lê na apresentação do diplomata Lauro Moreira:
        A revista Rumos nasce com objetivos claros. Ela se insere na proposta da Comissão Nacional do V Centenário de fazer dos 500 Anos um momento de reflexão sobre caminhos e perspectivas do Brasil. (…) Como espaço de debates, Rumos será pluralista e crítica. Cada número privilegiará um tema, tratado por intelectuais de diferentes tendências. (…) Espero que Rumos contribua para mobilizar a sociedade brasileira em torno de uma reflexão crítica sobre o significado de nossos quinhentos anos de história, com os olhos postos no futuro.
        O primeiro número (dezembro de 1998 / janeiro de 1999), com o tema “Conflitos da identidade nacional”, traz longos e substanciosos ensaios de Jorge Coli, Olgária Matos, Carlos Guilherme Mota, Eduardo Portella, Renato Janine Ribeiro, Ismail Xavier e Rosa Maria Dias. Textos a que se somam uma entrevista com o professor João Luís Fragoso, poemas de Marly de Oliveira e a memória de Ferreira Gullar como uma das primeiras vítimas do AI-5, preso que foi no infausto dia 13 de dezembro de 1968. Que outra revista brasileira, mesmo as acadêmicas, reúne tanta gente boa logo na edição inaugural?
        Para o número 2 (março / abril de 1999) escrevem, como resposta à pergunta “Quem és tu, Federação?”, intelectuais com a relevância de Francisco de Oliveira, Fernando Luiz Abrucio, Isabel Lustosa, Rui de Britto Álvares Affonso, Celso Furtado, Luiz Roncari, Milton Hatoum, Rubens Ricupero, Roberto DaMatta e Daniel Piza. O entrevistado é o filósofo José Arthur Giannotti, que, há 25 anos, defendia ideias que continuam válidas:
Acho que a primeira coisa a fazer seria pegar a borracha e limpar a Constituição. Uma emenda supressiva. Não uma constituinte, mas uma reforma geral para que a Constituição fosse mais do tipo americano, mais com princípios, deixando o resto para a lei ordinária. Com um capitalismo desse jeito, com luta social, vai-se adaptando a lei. Definem-se grandes princípios, sem imaginar que a Constituição vá garantir tudo. E conforme venha um governo mais de esquerda, promulga certas leis, em vez de mexer na Constituição. O detalhismo da Constituição não tem sentido. Em segundo lugar é a reforma política. Esse negócio de partido nanico é altamente prejudicial para a política. Ter um jogo político mais limpo não permite, por exemplo, aventureiros que chegam a matar gente. A reforma política é fundamental.
“Brasil / Portugal, o legado ambivalente” é o mote da terceira edição de Rumos (maio / junho de 1999), com estudos de Aspásia Camargo, Evaldo Cabral de Mello, Miriam Dohlnikoff, Evanildo Bechara, João Almino, a portuguesa Graça Capinha, Jacqueline Hermann, Luís Antônio Giron e Leda Tenório da Motta. Entrevistado por Daniel Pizza, o historiador inglês Kenneth Maxwell não vê, hoje, afinidades maiores entre Brasil e Portugal:

        O Brasil é muito grande, muito diversificado, multiétnico e multirracial, com uma experiência histórica que seguiu caminhos muito diferentes dos de Portugal, por mais de um século, para que essa identidade reflita a realidade. Os laços de idioma e história, o passado colonial comum, algumas continuidades institucionais e atitudes burocráticas obviamente continuam. Mas me espantei em minha primeira visita ao Brasil com o quanto ele é diferente de Portugal, da mesma forma como os Estados Unidos são muito diferentes, em vários sentidos, do tipo de mundo inglês onde cresci.
        A capa não informa, como antes, “publicação da Comissão Nacional para as Comemorações do V Centenário do Descobrimento do Brasil”, mas apenas “publicação comemorativa do V Centenário do Descobrimento do Brasil”. Sinal, talvez, de que, por inveja ou por mesquinharia, já houvesse insatisfeitos com o brilho de Lauro Moreira à frente da Comissão, como a folclórica e ridícula figura do governo Fernando Henrique Cardoso que poria tudo a perder. Abandonou-se o belo programa de eventos culturais pela construção de uma réplica da caravela de Cabral, que afundou sem navegar sequer uma milha. Melancólico símbolo de como triunfam as nulidades, desde o tempo de Rui Barbosa. Assim naufragou a revista Rumos, que não chegou a padecer do “mal dos sete números”, como tantos bons periódicos brasileiros: foi morta aos três…

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        Em 2017, o presidente Michel Temer criou, por decreto, a Comissão Nacional do Bicentenário, responsável pelos eventos oficiais comemorativos dos 200 anos da Independência. Presidido pelo ministro da Cultura, o grupo jamais se reuniu, tão rapidamente se sucederam as nomeações para a chefia do ministério. Sabedor de que tudo resultaria em nada, o diplomata Paulo Roberto de Almeida, então presidente [Diretor] do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, sugeriu a formação de um Grupo de Trabalho do Bicentenário da Independência, no âmbito do gabinete do à época ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira. O coordenador-adjunto, embaixador Carlos Henrique Cardim, propôs a edição de uma revista que ombreasse com os 49 números da Oceanos, publicada em Lisboa, entre 1989 e 2002, pela Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses.
        Criou-se, assim, a 200, cuja meta se patenteia na apresentação do editor Cardim:
        A revista 200 é uma publicação periódica de divulgação de artigos sobre a Independência: textos já publicados, mas de difícil acesso, e textos originais. Contribui para uma visão mais ampla do processo, com ênfase na sua dimensão de relações exteriores. Colabora, assim, com a “Comissão Nacional do Bicentenário”. (…) Assim inspirada, a revista 200 propõe-se difundir “monografias conscienciosas”, principalmente do ângulo das relações exteriores.

        “Muitas vezes o olhar estrangeiro enxerga mais nítido e seleciona melhor que a visão do nacional”, escreve o apresentador, para concluir com uma história:

No almoço oferecido pelo Presidente Tancredo Neves, em nossa Embaixada em Buenos Aires, em janeiro de 1985, em homenagem ao Presidente Raúl Alfonsín, Jorge Luis Borges, presença honrosa no ato, comentou ao Presidente Trancredo Neves duas coisas que impressionavam, e o tocavam forte sobre o Brasil: o livro de Euclides da Cunha, Os Sertões, e particularmente a frase do Hino da Independência: “Brava gente brasileira”, disse cantarolando.
        Tancredo ouviu com atenção e apreciou bastante. Borges – ao lado da mulher, María Kodama –, cego, e com bengala que trouxera dos pastores do Egito, viu claríssimo o espírito e o sentimento que movem o Brasil.
        Com data de outubro / dezembro de 2018, o primeiro número da 200 enfeixa páginas de Jean-Baptiste Debret, Arno Wehling, Gilberto Freyre, Márcia Regina Berbel, Raymundo Faoro, Carlos Lima Junior, Solange Ferraz de Lima, Pedro Calmon, José Murilo de Carvalho (com Lúcia Bastos e Marcello Basile), Gonçalo Mourão, João Alfredo dos Anjos, Paulo Roberto de Almeida e Manuel Diegues Júnior. Capítulos primorosamente ilustrados, a comprovar a excelência do projeto e o apuro da edição.
Impressa pela gráfica em dezembro de 2018, a revista foi censurada pelo governo Jair Bolsonaro, que se empossaria um mês depois. Sobre a espantosa decisão, lembra o diplomata Paulo Roberto de Almeida:

        Qual não foi a nossa surpresa quando a tropa de bárbaros que estava tomando posse do Governo e do Itamaraty, sob as ordens diretas do patético chanceler acidental, ordenou o “sequestro” – essa é a palavra – da revista e sua não distribuição. Depois, eu soube que foi ordenada a sua destruição, así no más…

        Sem lançamento nem circulação, nenhum exemplar da 200 chegou a leitores, a bibliotecas, a cadernos de cultura da imprensa. Não bastasse a asfixia, determinou-se a queima de toda a edição, como se regredíssemos aos autos de fé medievais, sob a loucura de infames que nos afrontaram como povo e nos comprometeram como nação. Milagrosamente, salvou-se a revista das chamas, para que ficasse como prova de que o bicentenário da Independência poderia ter-se comemorado de maneira digna, honrosa, decente.
        Em 7 de setembro de 1822, Pedro I gritou, às margens do Ipiranga, “Independência ou morte!” Dois séculos depois, o insano Bolsonaro empunha um microfone em Brasília e puxa o coro de “Imbrochável! Imbrochável! Imbrochável!” Que, daqui a cem anos, não voltem os brasileiros a passar por essa vergonha. Quem sabe, então, possa o Itamaraty publicar sua grande revista, com o título 300, devidamente atualizado…


Has Brazil Invented the Future of Money? - Paul Krugman (Substack)

Has Brazil Invented the Future of Money?

 Paul Krugman

Sunstack, July 22, 2025

Last week the House passed the GENIUS Act, which will boost the growth of stablecoins, thereby paving the way for future scams and financial crises. On Thursday the House also passed a bill that would bar the Federal Reserve from creating a central bank digital currency (CBDC), or even studying the idea.
Why are Republicans so terrified by the idea of a CBDC that they’re literally ordering the Fed to stop even thinking about it?
In 2022 the Fed issued a preliminary report on the possibility of creating a CBDC, which it described as “analogous to a digital form of paper money.” Currently, Americans are able to hold and spend one form of Federal Reserve liability: green pieces of paper bearing pictures of dead presidents. A CBDC would expand that right, allowing us to hold and spend deposits at the Fed, which, like all deposits these days, would just be digital records.
If this sounds outlandish, you should realize that we already have what amounts to central bank digital currency — but only for financial institutions. Banks maintain accounts at the Fed and can transfer funds to each other via an electronic payments system. Why shouldn’t comparable facilities be made available to individuals and nonfinancial companies?
Republicans say that they’re worried about invasion of privacy, that a CBDC would open the door to widespread government surveillance. But remember, these are the people who have handed over personal Medicaid data to ICE to facilitate arrests and abductions. If you think they’re deeply concerned about potential surveillance, I have some Trump family memecoins you might want to buy.
I’d also point out that the government can access private bank records under certain circumstances and certainly has the technological ability to watch every financial move you make. The only thing that keeps it from doing so is the law, specifically the Right to Financial Privacy Act. If we ever do create a CBDC, it will surely involve comparable privacy protection. Either you trust in rule of law or you don’t.
What Republicans are really afraid of, with good reason, is the likelihood that many people would prefer a CBDC to private bank accounts, especially but not only stablecoins. And in general any attempt to create a full-fledged CBDC would run into fierce opposition from the financial industry.
But what about the possibility of creating a partial CBDC? Could we retain private bank accounts but provide an efficient, publicly-run system for making payments out of those accounts?
Yes, we could. We know this because Brazil has already done it.
Most people probably don’t think of Brazil as a leader in financial innovation. But Brazil’s political economy is clearly very different from ours — for example, they actually put former presidents who try to overturn elections on trial. And the interest groups whose power, for now at least, makes a U.S. digital currency impossible appear to have much less sway there. Brazil is, in fact, planning to create a CBDC. As a first step, back in 2020 it introduced Pix, a digital payment system run by the central bank.
As I understand it, Pix is sort of like a publicly run version of Zelle, the payment system operated by a consortium of U.S. private banks. But Pix is much easier to use. And while Zelle is big, Pix has become simply huge, used by a reported 93 percent of Brazilian adults. It appears to be rapidly displacing both cash and cards:



Source: The Economist

And why not? According to an IMF report,

· Pix transactions take place almost instantaneously. A Pix payment settles in 3 seconds on average versus 2 days for debit cards and 28 days for credit cards.

and

· Transaction costs are low. The authorities have set a requirement on Pix to be free for individuals, and the cost of a payment transaction for firms/merchants is only 0.33 percent of the transaction amount, versus 1.13 percent for debit cards and 2.34 percent for credit cards.

I can’t help noticing that Pix is actually achieving what cryptocurrency boosters claimed, falsely, to be able to deliver through the blockchain — low transaction costs and financial inclusion. Compare the 93 percent of Brazilians using Pix to the 2 percent, that’s right, 2 percent of Americans who used cryptocurrency to buy something or make a payment in 2024.

Oh, and using Pix doesn’t create an incentive to kidnap people and torture them until they give up their crypto keys.

So, will we get a Pix-type system in the United States? No. Or at least not for a long time, for two reasons.

First, the U.S. financial industry just has too much power, and would never allow a public system to compete with its products — even, or actually especially, if the public system is superior. In fact, the Trump administration suggests that Pix’s mere existence in Brazil constitutes unfair competition for U.S. credit and debit card companies.

Second, the U.S. right is firmly committed to the view that the government is always the problem, never the solution. Republicans will never, ever admit that a government-operated payments system might be better than private-sector alternatives.

Other nations may well learn from Brazil’s success in developing a digital payment system. But America will probably remain trapped by a combination of vested interests and crypto fantasies.

As metamorfoses de Reinaldo Azevedo (2022) - Julian Rodrigues (A Terra é Redonda)

 Apenas para registro histórico, tantos personagens, tantos movimentos, tantos partidos, tantos partidecos, e evolução sempre surpreendente, em certos casos. PRA.


 As metamorfoses de Reinaldo Azevedo

 

Por JULIAN RODRIGUES*

Blog A Terra é Redonda

 

Da libelu ao neoliberalismo, do antipetismo ao antibolsonarismo: a peculiar trajetória do Tio Rei

Por honestidade intelectual sinto-me compelido a abrir esse texto com uma confissão. Assistir ao O é da Coisa, de Reinaldo Azevedo, transmitido pela Rádio Bandeirantes é para mim puro guilty pleasure. Trata-se provavelmente do melhor programa jornalístico do PIG (Partido da Imprensa Golpista – Paulo Henrique Amorim, presente!).

Reinaldo Azevedo é um quadro político preparado, formado dentro da tradição marxista e trotskista. Foi militante da quase lendária Libelu (Liberdade e Luta), tendência estudantil com epicentro na USP, criada em meados dos anos 1970, seção brasileira da Organização Socialista Internacionalista (OSI), atualmente na corrente petista “O Trabalho”.

Trata-se de uma tendência socialista e petista ligada à IV Internacional (aquela liderada pelo francês Pierre Lambert). Sabe-se que existiram e existem diferentes grupos mundo afora alinhados às distintas correntes do movimento trotskista. Em geral pouco expressivas a maior parte dessas organizações autoproclamaram-se nas últimas décadas como sendo as legítimas herdeiras e continuadoras da Quarta Internacional – aquela fundada por Leon Trotsky em 1938.

Leninistas, centralizados, organizados e geralmente pequeninos, os mais diferentes grupos trotskistas têm em comum o enorme esforço dedicado à formação política de seus quadros. Uma tendência histórica a continuo fracionamento, orgulhoso sectarismo mais a fragilidade orgânica da maioria dos grupos trotskistas em todo e qualquer tempo e lugar viraram lenda e senso comum. Tem inspirado décadas a fio toda uma tradição de piadas no campo da esquerda, uma mais outras menos razoáveis, digamos assim.

Resumidamente, no Brasil, as principais correntes trotskistas são as dos: morenistas(a ex-Convergência Socialista, hoje PSTU,) e o MES de Luciana Genro, a CST de Babá, e outras menores; lambertistas (O Trabalho é a mais relevante); mandelistasdo SU – Secretariado Unificado (origem da tendência Democracia Socialista do PT) e muitos microgrupos mais, digamos, exóticos – como os posadistas (seguidores do argentino Juan Posadas, conhecidos por postular a existência de extraterrestres). (Reparem que fiz questão de ignorar aquela oportunista e esdrúxula liberal-trosca seita armamentista, particular propriedade do senhor RCP. Prudência e tino político aconselham-me a não escrever o que realmente penso sobre o PCO. Melhor manter a elegância, não xingar ninguém, não ajudá-los a ganhar clicks e, ademais, evitar contendas judiciais.)

 

Liberdade e luta

Chama a atenção quanta gente hoje importante passou pela Libelu (Liberdade e Luta). A caminhada dessa corrente foi registrada no imperdível documentário dirigido por Diógenes Muniz: Libelu – abaixo a ditadura”, de 2020.

Talvez seja possível agrupar os ex-Libelu em três grupos: (i) os que continuaram na tendência; (ii) os que foram para o campo majoritário do PT ou permaneceram na esquerda moderada, alguns como militantes partidários outros não; (iii) os que se transmutaram em liberais e/ou conservadores de diversas cepas. Seriam aproximações toscas, of course. Toda taxonomia é falha e arbitrária a priori. Quase nunca é possível ou eficaz operar com categorias rígidas, estanques – sobretudo se estamos a lidar com tantos e tão heterogêneas personalidades.

Mas, vamos lá. Na primeira turma – a dos que continuam do lado certo da história, ademais no mesmíssimo lugar – temos  Markus Sokol, Misa Boito e Júlio Turra (atual e tradicional trio dirigente da tendência petista O Trabalho).

É preciso mencionar o deslocamento de parte importante dos quadros de OT (O Trabalho) em direção ao campo majoritário e mais moderado do PT em meados dos anos 1980. Tornou-se lendária tal movimentação – maldosamente apelidada de “Sonrisal” – rotulada como uma dissolução. Isso porque ao invés de os quadros lambertistas executarem a conhecida tática do “entrismo” – tentando influenciar os rumos da corrente majoritária do PT – ao contrário, terminaram muitos deles se incorporando à Articulação.

O plano era alojarem-se em postos-chave no interior da corrente mais influente do PT para tentar empurrar à esquerda suas formulações. Na política também atuam as leis da física e da biologia. Tais militantes acabaram por mudar de rota e optaram por aderir organicamente à corrente majoritária e “moderada” a mesma de Lula, dos cristãos da teologia da libertação, dos sindicalistas.

Fizeram assim Antonio Pallocci, Brani Kontic, Clara Ant, Ricardo Berzoini, Zé Américo, Jorge Branco, Antonio Donato, o saudoso Luis Gushiken – citando apenas alguns.

Em um segundo grupo podemos agrupar figuras públicas que continuam no campo progressista, embora não sejam mais militantes do PT. Curiosamente as e os mais destacados são jornalistas – todas/os com passagens pela redação do diário da Barão de Limeira como Laura Capriglione, Paulo Moreira Leite, Josimar Melo, Caio Tulio Costa e Ricardo Melo.

A ala que virou a chavinha inteiramente – bandeando-se para o liberalismo e/ou até para o reacionarismo – inclui nomes como Demétrio Magnoli, Matinas Suzuki, Mario Sergio Conti – todos jornalistas que também coincidentemente trabalham ou trabalharam na Folha de São Paulo.

Abster-me-ei de dedicar qualquer espaço para o talvez mais conhecido ex-militante de OT: Antonio Palocci – trânsfuga vulgar um verme. Canalha, vaidoso e corrupto trata-se de desprezível cachorro (delator). As elites as quais tanto obedeceu divertem-se zombando do ex-poderoso ministro da fazenda – agora usuário de tornozeleira eletrônica. Corrupto rastaquera, um traíra bajulado anos a fio pela grande mídia.

O sujeitinho de língua presa serviu tanto ao andar de cima e foi tão mimado por eles, que se achou inimputável (Vanity is my favorite sin ensina o Capiroto, interpretado por Al Pacino, no clássico The Devil´s Advocate). Quando acreditou já ter virado gente diferenciada seu Palocci pôs-se a roubar com espetacular sofreguidão. Anos a fio havia cultivado a imagem de pessoa sofisticada, inteligente, ponderada – cristal que desabou em um estrondo. Pallocci roubou e roubou, rápida e desbragadamente – sem nenhuma elegância nem método – pior até que um principiante tosco qualquer.

O ex-ministro não se via como o que de fato era: um “wannabe”. Depois terminou nos revelando sua verdadeira vocação, a de batedor de carteira – e ainda mais bobalhão que qualquer malandro de rua.

 

Primórdios

Inicialmente crítica ao movimento pró-PT, a então OSI brasileira – futuro O Trabalho, logo-logo incorpora-se ao esforço de construção daquele novo Partido plural, socialista, independente e classista.

O então estudante de jornalismo Reinaldo Azevedo foi trotskista. Militou no final dos anos 1970 em O Trabalho. Deve vir daí parte de sua consistente formação política – fundamentada naquela época em um marxismo-trosco-lambertista-pró-PT.

Não sei exatamente precisar em quais momentos Reinaldo Azevedo fez suas grandes transições político-ideológicas. Do socialismo revolucionário ao neoliberalismo tucano, passando pelo direitismo mais estridente até chegar ao exuberante progressismo liberal de hoje.

O fato é que durante muito tempo Reinaldo Azevedo foi um dos mais virulentos propagadores do antipetismo na grande mídia. Dotado de indiscutível talento oratório e texto primoroso, Reinaldo Azevedo esteve na linha de frente. Fazia agitação e propaganda – intelectual orgânico da direita, combativo. Incansável na conservadora oposição militante aos governos do PT.

Historicamente próximo ao PSDB, Reinaldo Azevedo esteve à frente da revista Primeira Leitura – publicação impulsionada e financiada pelo tucanato paulista, que circulou na metade inicial da década de 2000. O jornalista foi colunista da fascistóide revista Veja por 12 anos – o período mais tenebroso de sua trajetória pública.

Notabilizou-se como criador do neologismo “petralhas”carimbo que mostrou-se grudento, termo virulento ao qual conservadores de todo tipo recorrem a todo momento para rotular não apenas os governos Lula/Dilma mas também o conjunto da militância petista. Em 2008, o ex-trotskista publicou um livro (coletânea de artigos) com um doce título: O país dos petralhas – a obra fez sucesso e deu cria.

O segundo volume foi regurgitado em 2012. Tudo com ampla divulgação e apoio da revista Veja, onde Reinaldo Azevedo hospedava sua coluna semanal além de toda grande mídia. No ano de 2017 Reinaldo Azevedo saiu (ou foi saído da Veja). Babado, confusão e gritaria.

A incompatibilidade entre ele e a publicação hebdomadária dos Civita deu-se aparentemente em virtude das críticas que vinha começando a tecer e torpedeavam a queridinha-mor da mídia – a operação Lava Jato. O estopim dessa surpreendente ruptura se relaciona com o episódio no qual Sérgio Moro vazou a transcrição de uma conversa comezinha entre Reinaldo Azevedo e Andrea Neves (irmã de Aécio). Moro arrumou nesse episódio um inimigo de peso.

No derradeiro artigo que publicou naquela revistinha fascistóide Reinaldo Azevedo classificou como intimidatória a divulgação enviesada daquele trivial diálogo entre ele (jornalista) e Andrea (fonte). Comum o papo era mesmo, mas saber que o mesmo aconteceu foi didático, cá entre nós (diga-me com quem andas – ou conversas – e direis quem tu és).

Surpreendente e contundentemente Reinaldo Azevedo posicionou-se como um dos pioneiros críticos daquela supostamente maravilhosa operação justiceira, então patrocinada por toda mídia. Sabemos hoje que foi uma estratégia golpista e anti-esquerda, concebida e implementada desde as profundezas do deep state norte-americano. É o petróleo, estúpido!

A tal operação supostamente épica era protagonizada por dois vaidosos provincianos paranaenses, mal treinados nos EUA. Não sabiam falar ou escrever direito nem em português, muito menos em inglês – uma duplinha de limítrofes capachos das elites e protofascistas. Rapidamente a roda da história girou. É um prazer quase orgástico assistir dia a dia à fulminante, trágica e espetacular derrocada da dupla Moro-Dallagnol. Luis Inácio falou, Luis Inácio avisou.

Lúcido, alertou-nos Reinaldo Azevedo lá nos primórdios da operação ela que poderia ser o início de um “estado policial”. Importante lembrar: alguns setores da esquerda flertaram e até chegaram a elogiar a Lava-Jato no início – ranço udenista de uns e ilusões “republicanas” de outros. Ah, o Estado burguês…

Foi no mês de fevereiro de 2019 – quando atuava como comentarista político da Rede TV – que Reinaldo deu então um bas-fond antológico. Resolveu pedir as contas e se desligar da emissora televisiva em grande estilo. Estrelou um piti memorável – ao vivo e em cadeia nacional. Inesperada e rudemente arrancou seus microfones pondo-se de pé. Muitos alegam que foi além e fez um gesto similar ao de “coçar o saco”.

Na sequência, desdenhou solenemente a simpática despedida ensaiada pelo reacionário Boris Casoy – que era o âncora do telejornal. Daí foi-se embora brusca e teatralmente, espumando de raiva, performando a ira mais santa e vingativa.

 

Outro giro

Não sei precisar exatamente quando ocorreu (em 2019 talvez). O fato é que Reinaldo Azevedo se reposicionou again. Com a mesma ênfase e competência de sempre. Passou a propagar posições progressistas. Ao ponto de vir a constituir-se, nos meios midiáticos, em um dos mais ácidos críticos tanto do bolsonarismo quanto do lavajatismo.

Quase um cavaleiro solitário cavalgando na contramão pelos campos nem tão verdejantes da grande mídia (Reinaldo Azevedo trabalha na Band FM e na Folha-UOL). Reivindica garbosamente (dia sim e outro também) sua filiação ideológica ao que seria um tipo ideal de liberalismo “clássico”. Ademais, orgulhosamente ostenta ao fundo de seu cenário um porta-retrato com a imagem icônica da filósofa liberal-cult a queridinha dos EUA, Hanna Arendt.

Todavia, entretanto, porém, contudo, na prática o apresentador tem se apresentado de forma crescentemente crítica ao campo conservador – e até simpático ao PT. Chegou recentemente a entrevistar Lula não só corretamente (o que já seria invulgar), mas também com empatia.

A mim me parece que Tio Rei está a vibrar em uma frequência de reconciliação com as ideias daquele do jovem socialista que um dia foi. Mesmo quando faz juras ao liberalismo objetivamente cada vez mais sustenta posições social-democratas – que lembram um Welfare State com cara brasileira. Reparem que formalmente segue repudiando ideias progressistas e socialistas.

Parece que sonha nosso jornalista com um governo liderado por aquele velho PSDB de centro-esquerda – que seria naturalmente o porta-voz do bom senso e do reformismo pragmático. Teríamos um blending perfeito. Mistura ideal – e nas proporções certas – de um social-liberalismo com muita social-democracia.

Esse PSDB imaginário nos salvaria. Seria o portador de um projeto quase perfeito – mesmo sendo essencialmente paulista, elitista, modernizante, levemente reformista, mal-humorado, blasé, supostamente ilustrado e muito arrogante. Algo meio Covas, meio FHC, representação da elite cosmopolita à frente de um país católico, mas que deve se manter secular. Um governo de gente pacata, moderadamente conservadora, vaidosa e com dicção perfeita. Por onde anda esse PSDB, afinal?

O PSDB com o qual Reinaldo Azevedo sonha transformaria o Brasil em uma nação desavergonhadamente moderna, empreendedora e globalizada, mas sem cair em exageros ultraliberais como os de um João Doria. Em sua utopia tucano-liberal-progressista o país teria a cara da Fiesp e do agronegócio (que é pop). Mas com o charme da USP.

Esse projeto tucano-raiz que empolga Reinaldo Azevedo projeta um Brasil contemporâneo distante tanto de esquerdismos como de extremismos neofascistas. Tal país que deve conservar suas liberdades democráticas – com políticas públicas compensatórias e total pluralismo. Mas, sem vacilar nada de dar margem à ascensão das classes populares. Muito menos para que se façam reformas estruturais.

Seríamos então o país do presente, a terra prometida, paraíso neoliberal fingindo e se achando socialdemocrata. Vistos de longe pareceríamos civilizados, embora de fato continuaríamos profundamente oligárquicos. Para sempre haveríamos de ter governos medíocres, contudo racionais. Conservadores e (ou) liberais – entretanto sempre compassivos.

Esse Brasil simpático, no entanto, só vale até o momento no qual a esquerda não chega ao governo. Nessa hora imediatamente se rasgam todas máscaras. As classes dominantes impulsionam logo alguma modalidade de golpe: rápida, eficaz e despudoradamente.

Dono de oratória afiada, consistente repertório cultural e conhecedor da boa literatura Reinaldo Azevedo tem cumprido um papel importante. É até inusitado que continue dispondo de 60 minutos diários para opinar livremente em plena Band News, além de manter sua coluna na Folha de Sâo Paulo.

Reinaldo Azevedo, ex-professor de literatura, um jornalista experiente maneja com talento a “última flor do Lácio”. Esbanjando referências faz questão de exibir vaidosa e arrogantemente seu vasto repertório cultural – embora pareça tentar não se apartar totalmente de seu público-alvo (setores centristas liberais bem informados das classes médias urbanas paulistanas e paulistas).

O colunista da Folha de São Paulo não abre mão de executar um ritual – faz todos saludos à la bandera. Ou seja, deixa nítido que continua um liberal de carteirinha: segue confiável para seus atuais patrões, para o conjunto dos barões da mídia e amigo dos donos do capital. Quando em vez, ao reiterar sua posição ideológica, parece estar o âncora apenas a repetir um protocolo – que visa manter seu emprego e/ou conservar sua audiência entre ouvintes e leitores senso comum.

Cada vez são mais frequentes críticas muito ácidas que o apresentador expressa – tanto à política econômica capitaneada por Paulo Guedes como a um conjunto de clichês ideológicos disseminados diariamente pelo partido da imprensa golpista (o famoso PIG – termo criado pelo saudoso Paulo Henrique Amorim).

Recentemente Reinaldo Azevedo tem falado de política internacional. Suas análises sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia são semelhantes às da esquerda. Meu amigo Breno Altman, editor do site Opera Mundi, quadro petista formado na velha e boa tradição comunista, entrevistou Reinaldo Azevedo no início do mês de junho. O clima era de camaradagem. Bem à vontade, o colunista da Folha bateu sem piedade nos liberais brasileiros.

Entre muitas outras frases de efeito (o estilo é o homem) Reinaldo Azevedo afirmou diretamente a necessidade de cuidarmos das contas públicas. Mas, aí vem o que importa, sem uma rigidez que impeça o crescimento econômico.

Um dos maiores algozes do PT, o âncora da Band News reconheceu naquela entrevista que os governos do Partido implementaram uma política de inclusão “coisa que nossos liberais não teriam feito”. Além disso, enfaticamente postulou a constituição de uma frente ampla antifascista. Esculhambando os neoliberais brazucas, que não falariam com os pobres, provocou: “talvez o liberalismo seja de fato coisa de país rico”.

Qual é o perfil da maioria dos atuais ouvintes/leitores de Reinaldo Azevedo hoje? Eu queria muito saber. Intuo que atualmente ele tem muito mais audiência no meios progressistas do que entre supostos liberais e/ou democratas não bolsonaristas.

A trajetória de Reinaldo Azevedo é peculiar. Ter sido militante socialista na juventude, se formar na tradição marxista mudar de lado e aderir ao neoliberalismo – e/ou ao direitismo repugnante – não é algo raro, pelo contrário. Bem menos usual é deparamo-nos com alguém que começa na esquerda resolve atravessar o rubicão, alcança a margem oposta, mas anos depois engata (ao menos parcialmente) marcha a ré. E fica menos distante do lugar de onde partiu.

 

Distopia neoliberal-fascista

Nesses dias tão estranhos a poeira nem mais “fica se escondendo pelos cantos” (saudades do Renato Russo). O Brasil de Bolsonaro é pesadelo bruto. Distopia. Tudo de ruim elevado à enésima potência. Sociedade hiper-capitalista e pós-moderna, ao mesmo tempo arcaica. Um terço do povo está sob hegemonia e direção política da extrema direita.

Brasil desde sempre radicalmente desigual – e agora com fascistas armados até os dentes. Sob explícita tutela militar. Estrutural e conjunturalmente somos um país misógino, violento, racista, homofóbico. Em nossas metrópoles vegeta multidão de miseráveis a perambular – maltrapilhos e famintos – como zumbis de alguma série da Netflix. Enquanto isso um punhadinho de homens brancos (cidadãos do bem) – milionários toscos – refestelam-se entocados nos seus luxuosos condomínios-bunker. Protegidos e escoltados por milícias particulares – tal casta de rentistas flana mundo afora a praguejar contra nossos impostos supostamente abusivos, contra a corrupção dos políticos e a burocracia do Estado.

Mas, de fato, o esporte preferido dessa burguesia fascistóide que se acha liberal é resmungar contra a indolência da classe trabalhadora brasileira – esse bando de desqualificados: uma gente preta e parda, pobre e inculta. Fazem isso sem descuidar em nenhum momento das ações para garantir a hegemonia cultural e política dos dogmas pró-mercado. Ultimamente também do milico fascista que elegeram em 2018. Mas não tem conversa. Já decidiram que tudo farão para reeleger Jair Bolsonaro mesmo tendo um pouco de nojinho – ou não.

Não tem sido fácil enfrentar tanta desgraceira, tanta irracionalidade – essa baita regressão civilizatória que veio junto com o autoritarismo neofascista. Quedamo-nos imersos, dispersos – muitas vezes sem forças ou condições objetivas para coletiva e organizadamente remar contra esse tsunami de fétidos dejetos. Quase esmagados pela preponderância de uma ditadura da burrice – orgulhosa, arrogante, agressiva e parecendo invencível.

Mas tentamos seguir de espinha ereta e cabeça erguida. Dia após dia. Apanhando, recuando e também meio que avançando quando dá. Reagrupando, refletindo, reinventando. Lutando nas ruas e chamando o voto em Lula, única forma de começarmos a virar essa página horrível.

Daí também deriva a enorme relevância de toda e qualquer voz que venha a se perfilar ao lado das forças antifascistas. Mais gente contra Jair Bolsonaro. Ainda que marchando separados podemos – devemos – seguir golpeando juntos.

Vai, Tio Rei! Segue sendo um tanto gauche na vida. Se nosso existir está repleto nas palavras de Drummond: “ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera”, a voz de Reinaldo Azevedo: “é feia, mas é uma flor – furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio”.


*Julian Rodriguesjornalista e professor, é ativista do movimento LGBTI e de Direitos Humanos. É doutorando no Programa de América Latina da USP.

A escalada da crise com os EUA - Rubens Barbosa (O Estado de S. Paulo)

 Opinião:

A escalada da crise com os EUA
O custo dessa política de confrontação com o governo dos EUA recairá sobre o setor privado
Rubens Barbosa
O Estado de S. Paulo, 22/07/2025

A crise comercial entre Brasil e EUA escalou perigosamente, podendo contaminar a relação política e diplomática entre os dois países.
Os entendimentos comerciais mantidos pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e o Itamaraty, para negociar o tarifaço de abril, de 10%, para todos os países, foram confirmados em carta de 16 de maio e prosseguiram até 4 de julho, sem qualquer reação americana.
A carta de Donald Trump anunciando tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados para os EUA a partir de agosto de 2025 foi o primeiro passo da escalada. O jogo político interno se agitou. O encarregado de negócios da embaixada dos EUA ouviu o protesto do governo brasileiro sobre a ingerência de Washington nos assuntos internos, o rechaço à quebra da soberania nacional e acolheu o gesto grave da devolução da carta pelos seus termos inaceitáveis. Na realidade, a questão é que a negociação do tarifaço (10%) ficou superada pela carta circular de Trump do dia 9 de julho, que pedia negociação sobre tarifa de 50%. O tema mais importante da carta faz referência a “centenas de ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS às plataformas de mídia social dos EUA”, relacionadas às decisões recentes do Supremo Tribunal Federal (STF). Esse questionamento, incluídas as alegações de restrição à liberdade de expressão, reflete os argumentos de empresas como Google, Meta, Amazon e X (ex-Twitter), que têm se oposto a qualquer tentativa de regulação no Brasil.
A escalada continuou com farpas trocadas entre os presidentes via mídia social e o anúncio de abertura de investigação sobre ilícitos comerciais cometidos pelo Brasil no âmbito da Seção 301 da Lei do Comércio de 1974. Não sem surpresa, quem está por trás dessa iniciativa e pela inclusão da agenda das big techs na carta é a Associação da Indústria dos Computadores e Comunicações (CCIA), grupo de lobby financiado pelas big techs dos EUA. O CCIA pediu que o governo dos EUA monitore, questione e atue contra as medidas tomadas pelo Brasil, desde a suspensão da rede X de Elon Musk, passando pela Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, pelas taxas das blusinhas e outras, além do projeto que regula a inteligência artificial e o que autoriza a Anatel a regular as plataformas digitais.
Na semana passada, a crise se agravou com o pronunciamento do presidente Lula, para fins de política interna, mas inadequado ao afirmar que iria taxar as big techs e retaliar se depois do dia 1.º de agosto o Brasil fosse penalizado. A resposta à carta – devolvida porque não foi transmitida oficialmente, mas divulgada pela mídia social – foi também dada pela mesma mídia, no pronunciamento presidencial. Quanto à possibilidade de retaliação, na carta está expresso que, se o Brasil decidir aumentar as tarifas contra produtos norte-americanos, “o número que for escolhido será adicionado aos 50%”. Por outro lado, a suspensão de patentes ou de propriedade intelectual, sobretudo no caso de produtos farmacêuticos, poderá ensejar novas medidas restritivas, amparadas pela legislação interna norte-americana.
A crise aumentou com a carta de Trump a Bolsonaro, as críticas ao “regime brasileiro” pela porta-voz da Casa Branca e as medidas restritivas do STF contra Bolsonaro, interpretadas em Washington como uma resposta ao presidente norte-americano.
Apesar dos contatos com empresários nacionais e norte-americanos para respaldar as negociações entre os dois governos, o Planalto decidiu dar prioridade a sua agenda interna, pensando nas eleições de 2026, em detrimento das negociações.
Para complicar ainda mais o quadro geral, por diferenças ideológicas, o governo Lula não abriu canais de comunicação, desde a campanha eleitoral e depois da eleição presidencial com a Casa Branca e com o Departamento de Estado, o que significou a ausência de iniciativas para se contrapor à narrativa bolsonarista e explicar o devido processo legal do julgamento do ex-presidente e a independência do Judiciário brasileiro.
O custo dessa política de confrontação com o governo dos EUA recairá sobre o setor privado, que terá grandes prejuízos com a impossibilidade de acesso ao mercado norte-americano com tarifa de 50%. O efeito político positivo para o presidente Lula nas pesquisas, em grande parte, resultado da postura nacionalista e de defesa da soberania nacional, poderá desaparecer pela reação do setor privado que certamente criticará a postura governamental de priorizar a política interna à negociação com os EUA.
A escalada da crise continuou com a decisão de Marco Rubio de cancelar os vistos de Alexandre de Morais e “seus aliados” no STF e na Procuradoria-Geral da República (PGR). Sem perspectivas de negociação com Trump, paira a ameaça de novas sanções, como o aumento da tarifa de 50%, a aplicação de Lei Magnitsky, que impede oito ministros e a PGR de qualquer movimentação financeira em bancos que operam nos EUA, entre outras.
Sem nenhum gesto do governo e do presidente Lula para tentar reduzir as tensões com a Casa Branca na linha do sugerido pela US Chamber of Commerce, será muito difícil retomar o diálogo comercial com vistas a negociar uma redução da tarifa de 50%. Na prática, as negociações ficaram inviabilizadas por questões políticas. No dia 1.º de agosto, está contratada a imposição da tarifa, talvez com exceções.

Presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), foi embaixador do Brasil em Londres (1994-99) e em Washington (1999-2004)

https://www.estadao.com.br/opiniao/rubens-barbosa/a-escalada-da-crise-com-os-eua/

Contra a direita Lula tenta formar coalizão de países progressistas em meio a atrito com Trump - Aline Rechmann (Gazeta do Povo)

Contra a direita

Lula tenta formar coalizão de países progressistas em meio a atrito com Trump
Aline Rechmann
Gazeta do Povo, 22/07/2025

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) busca consolidar uma coalizão de países progressistas, em articulação com o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez. Sob o pretexto de ser um esforço conjunto em defesa da democracia, o grupo atualmente formado por cinco países - Brasil, Chile, Uruguai, Colômbia e Espanha - deve receber pelo menos outros sete países a partir de setembro.
A união dos progressistas ocorre em meio ao anúncio de tarifaços do presidente americano Donald Trump e visa especialmente criar narrativas voltadas ao público interno dos países envolvidos, segundo analistas ouvidos pela reportagem.
O grupo se reuniu na segunda-feira (21), em Santiago no Chile. Sem se referir diretamente aos Estados Unidos ou a Trump, Lula criticou a "extrema direita" e a acusou de promover uma guerra cultural nas redes sociais e instrumentalizar o comércio internacional "como instrumento de coerção e chantagem".
Também participaram da cúpula os líderes esquerdistas Gabriel Boric, presidente do Chile, Pedro Sánchez, primeiro-ministro da Espanha, Gustavo Petro, presidente da Colômbia e Yamandú Orsi, presidente do Uruguai.
O documento conjunto divulgado ao final do encontro no Chile lista entre as iniciativas acordadas pelo grupo uma "tributação progressiva e justa, bem como fortalecer a cooperação tributária internacional com base nos princípios de transparência, equidade e soberania".
Segundo o cientista político e professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Elton Gomes, o movimento tem mais valor retórico e político-eleitoral do que efetivo peso diplomático. “Não é uma frente contra os Estados Unidos. Esses países não dispõem de recursos de poder em larga escala”, afirma Gomes. Segundo ele, a iniciativa visa essencialmente consolidar apoio interno para governos que enfrentam crises de popularidade, instabilidade institucional ou tensões diplomáticas com Washington.
O encontro no Chile é parte de uma estratégia de coordenação internacional, iniciada em 2024, por Lula e Sánchez com o objetivo de criar uma plataforma discursiva contra o que seus líderes consideram um avanço da "extrema-direita”.
As declarações de Lula, Boric, Petro e Orsi reforçaram a articulação de regulação das redes sociais, combate ao que chamam de extremismo e ações concretas para restaurar a confiança nas instituições. O primeiro encontro do grupo ocorreu em uma reunião paralela à ONU, em setembro de 2024. O grupo de líderes progressistas deve ser ampliado em setembro.
Líder espanhol quer ofensiva contra a “internacional do ódio” da "ultradireita"
Em seu discurso, o espanhol Pedro Sánchez disse que "forças da ultradireita" estão se espalhando, destruindo direitos, promovendo desinformação e alimentando o autoritarismo. “Não podemos continuar só resistindo. É hora de ir à ofensiva”, afirmou o presidente da Espanha, que é do Partido Socialista Operário Espanhol.
Sánchez ressaltou ainda que, assim como existe uma "internacional do ódio" global, os países progressistas também devem se unir em um esforço internacional coordenado.
Diante das afirmações do presidente da Espanha, o professor e diplomata Paulo Roberto de Almeida ponderou não ser “conveniente que numa reunião em defesa da democracia distinga entre direita e esquerda”. “Tanto na esquerda quanto na direita você pode ter defensores da democracia e inimigos da democracia. Não é uma questão de direita ou esquerda. A democracia tem princípios, regras impessoais estabelecidas constitucionalmente em leis, em tratados internacionais”, afirmou o diplomata.
Líderes progressistas tentam emplacar discursos movidos por motivação doméstica e eleitoral
Na avaliação do cientista político e professor Elton Gomes, os discursos dos líderes progressistas são voltados para questões específicas de seus países, com ênfase para pleitos eleitorais. No caso do Brasil, o presidente Lula tenta reagir à deterioração das relações com os Estados Unidos, agravada desde a operação da Polícia Federal que envolveu o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e impôs a ele, entre outras sanções, o uso de tornozeleira eletrônica. “Lula tenta manter sua base mobilizada, criando o que chamamos de um cercamento do eleitorado que garanta apoio mínimo para sua sobrevivência política”, explica o cientista político.
A estratégia é semelhante à adotada pelo presidente chileno Gabriel Boric, que também enfrenta um cenário adverso: sua sucessora não decola nas pesquisas, enquanto o candidato da direita lidera a disputa.
Na Espanha, o primeiro-ministro Pedro Sánchez, ameaçado por denúncias de corrupção e pela perda de sustentação parlamentar, enxergou na ofensiva diplomática um caminho para reverter o desgaste. “A Espanha não tem meios de exercer pressão sobre os EUA. A manobra serve para reforçar sua base em um sistema parlamentarista em que a governabilidade depende diretamente da maioria legislativa”, pontua Gomes.
Ampliação do grupo progressista não deve aumentar poder de negociação
Apesar da expectativa de ampliação da coalizão, o grupo não deve conseguir aumentar seu poder de negociação, já que há limites de articulação nos países que devem passar a integrá-lo. O cientista político Elton Gomes afirma que países como México e Canadá, ainda que sob governos progressistas, mantêm laços profundamente enraizados com a economia norte-americana. “O México está integrado ao mercado dos Estados Unidos e precisa manter boas relações, especialmente no tema da imigração. Já o Canadá, mesmo sob críticas de Trump, reforçou sua cooperação em temas sensíveis como o combate ao fentanil [droga sintética]”, avalia.
Na Europa, a entrada da Dinamarca no grupo levanta dúvidas. “É um país que, mesmo após ser alvo de ameaças dos EUA durante o governo Trump, como a ideia de anexar a Groenlândia, preferiu negociar. Isso mostra que mesmo em conflitos simbólicos, o pragmatismo prevalece”, destaca o professor.
Para Gomes, o fator comum entre os países efetivamente engajados na iniciativa é a busca por ganhos simbólicos e políticos em nível doméstico. “A coalizão é uma plataforma para projeção de imagem e alinhamento ideológico, mas não representa uma ameaça geopolítica real. Os grandes atores internacionais, como China, Rússia e Índia, mantêm prudência e preferem negociar com os EUA — por reconhecerem sua centralidade militar, econômica e tecnológica”, disse.
A ausência de apoio do bloco dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Indonésia e Irã) à postura brasileira reforça essa percepção. “Nenhum país do bloco veio em socorro ao Brasil nessa crise. Mesmo a China, com todo seu poder, está revendo sua política comercial para reaproximar-se dos Estados Unidos”, lembra Gomes.
“A reunião no Chile rendeu boas fotos e manchetes, mas está longe de alterar o equilíbrio global. Trata-se, sobretudo, de uma ação voltada à política interna de seus signatários”, afirmou o analista.

https://www.gazetadopovo.com.br/republica/lula-tenta-formar-coalizao-de-paises-progressistas-em-meio-a-atrito-com-trump/

Israel: entre a tradição e as contradições do momento presente - via Airton Dirceu Lemmertz (Não É Imprensa)

Israel: entre a tradição e as contradições do momento presente

(disponibilizado por Airton Dirceu Lemmertz, a quem agradeço por sempre permitir o acesso a material do mais alto interesse e relevância intelectual)

Abaixo, trechos (no YouTube) dos quatro episódios do documentário "A Nação que sobrevive no deserto" (2025), que revela as complexidades da vida cotidiana em Israel, um país marcado pela diversidade cultural e pela convivência de diferentes religiões e etnias. A íntegra dos episódios está no portal NEIM (https://www.naoeimprensa.com/).


EPISÓDIO 1: O DIREITO DE EXISTIR.
Partindo do massacre do dia 7 de outubro, os entrevistados fazem suas reflexões sobre a história de Israel e a situação política atual.

O primeiro episódio na íntegra:
(26 minutos)

EPISÓDIO 2: PERSEVERAR.
A experiência do Shalva, entidade que cuida de crianças com deficiência em Jerusalém, retratada poeticamente como a perseverança de um povo perseguido que vive num país em guerra, com todas as limitações e superações.

O segundo episódio na íntegra:
(23 minutos)

EPISÓDIO 3: UNIDOS NA DIVERSIDADE.
O que é ser israelense, considerando a dinâmica de um país multicultural e religiosamente variado? Neste episódio, buscamos saber como tantas diferenças podem moldar um instinto de nacionalidade.

O terceiro episódio na íntegra:
(17 minutos)

EPISÓDIO 4: OS VALORES DO PROGRESSO.
Queremos entender o papel da cultura judaica no desenvolvimento econômico de Israel. O que explica o paradoxo de um povo milenar estar sempre na vanguarda científica e tecnológica?

O quarto episódio na íntegra:
(14 minutos)

A coletânea dos episódios:
(NEIM)

Trailer:

Todos querem sua fatia do orçamento público - Bruno Carazza (Valor Econômico)

 As castas encasteladas no grande mandarinato estatal continuam a assaltar, até aqui impunemente, o orçamento público, até aqui impunemente, e de maneira crescente, garantindo, contra a ética e a própria Justiça tributária (supostamente vigiada pela Receita Federal) privilégios aristocráticos exorbitantes, que constituem um ESCÁRNIO contra os brasileiros humildes que ganham salário mínimo e são pesadamente taxados por uma estrutura impositiva altamente regressiva. Até quando esses privilégios vão continuar?

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Todos querem sua fatia do orçamento público
Bruno Carazza
Valor Econômico, segunda-feira, 21 de julho de 2025

Corporações do serviço público buscam ficar a salvo do ajuste fiscal e ter liberdade para autoconceder benefícios

Enquanto a sociedade se distrai com os tarifaços de Trump ou as reviravoltas do processo contra Bolsonaro, a deterioração fiscal e a apropriação de recursos públicos por grupos privados correm soltas.
Na semana passada, usei este espaço para denunciar os pagamentos de honorários para advogados públicos, que estavam sendo realizados em valores superiores a centenas de milhares de reais sem a divulgação no portal de transparência do governo federal desde novembro do ano passado.
Num caso raro de resposta rápida a uma cobrança pública, que foi amplificada por reportagens em diversos veículos de imprensa, o governo disponibilizou as informações sobre os valores na quinta-feira. No dia seguinte, uma procuradora da Fazenda Nacional que recebeu R$ 193.226,92 em honorários apenas no mês de janeiro deste ano me procurou numa rede social para me acusar de estar agindo em nome dos grandes escritórios de advocacia da Faria Lima para “sucatear os serviços públicos”.
Entre acusações pessoais, a procuradora usou um argumento repetido à exaustão pelos integrantes da AGU e das procuradorias da Fazenda, do Banco Central e de autarquias federais. Para eles, os honorários usados para turbinar os seus rendimentos são “verba privada” - ou seja, na sua visão, não integram o orçamento público.
Desde 2017 a União já transferiu, em valores corrigidos pelo IPCA, mais de R$ 18,5 bilhões à associação privada (!!!) que administra os pagamentos aos integrantes das suas carreiras. Apesar de ser uma aberração, a apropriação de recursos públicos ameaça se tornar uma tendência entre a elite do serviço público brasileiro.
Na quarta-feira (16) o plenário da Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei nº 1872/2025, que cria o Fundo de Fortalecimento da Cidadania e Aperfeiçoamento do Ministério Público da União. Para quem acompanha a fábrica de privilégios que é o Estado brasileiro, fica uma dica: sempre desconfie dos nomes bonitos, principalmente aqueles que usam “cidadania”, “democracia”, “social” e afins - é bandeira vermelha de que vem alguma tungada no Erário ou, de forma direta, no contribuinte brasileiro.
O fundo do Ministério Público não tem nada de medida para fortalecer a cidadania. Seu objetivo é garantir para o MPU recursos orçamentários, receitas de inscrições de concursos e ainda 10% da arrecadação de custas judiciais, multas aplicadas pela Justiça e alienação de bens considerados abandonados. Tal qual acontece com o Conselho Curador dos Honorários Advocatícios, a gestão do montante arrebanhado pelo fundo do MPU ficará totalmente a cargo de integrantes do órgão, sem nenhuma supervisão de representantes externos à corporação.
Em termos práticos, se virar lei, o fundo garantirá ao MPU a liberdade para administrar recursos bilionários que ficarão a salvo das imposições dos ajustes fiscais. E muito embora a versão final aprovada pela Câmara tenha vedado a aplicação das receitas do fundo com despesas de pessoal, não será surpresa se essa trava for retirada ou simplesmente ignorada no futuro.
A corrida pela privatização do orçamento público é generalizada entre as carreiras (ou seriam castas?) do serviço público. Proposta parecida está na pauta da Câmara contemplando a Defensoria Pública da União (com seu “Fundo de Fortalecimento do Aceso à Justiça e Promoção dos Direitos Fundamentais”, mais um nome bonito). Da mesma forma, magistrados, delegados da Polícia Federal, auditores da Receita Federal e técnicos do Banco Central, entre outras corporações, têm propostas para assegurar para si a destinação de recursos a fundos parafiscais que poderão ser administrados livremente.
Essa situação se replica nos Estados. No fim de 2024, o governador Romeu Zema (Novo-MG) sancionou lei criando fundos para o Ministério Público, a Defensoria Pública e a Advocacia-Geral do Estado mineiros. Para turbinar esses instrumentos financeiros, além de dotações orçamentárias repassadas pelo Estado, a norma garante aos respectivos órgãos parte do valor recolhido com emolumentos cartoriais e valores provenientes de acordos firmados com entes públicos ou privados - aí incluídos os famosos Termos de Ajustamento de Conduta (TACs).
Os fundos do MP, da Defensoria e da AGE mineiros poderão ser utilizados para múltiplas funções, desde a construção e reforma de imóveis até a aquisição de equipamentos e o treinamento de pessoal. No rol de possibilidades de uso do dinheiro do fundo consta a “realização de despesas de caráter indenizatório”. Em outras palavras: o MP, a Defensoria e a AGE deram um jeito de assegurar recursos para pagar, com total liberdade, os penduricalhos milionários para promotores, procuradores e defensores públicos.
Nesta lógica privatizante do orçamento levada a cabo pelas instituições que deveriam zelar pela boa aplicação dos recursos públicos, em breve precisaremos trocar o lema da bandeira nacional: sai o “Ordem e Progresso” e deveria entrar o “Farinha Pouca, Meu Pirão Primeiro”. É muito mais apropriado.

Perguntas ainda não respondidas adequadamente - Paulo Roberto de Almeida

Perguntas ainda não respondidas adequadamente:

Por que o povo russo, sim, não apenas Putin, está empenhado em massacrar, matar o povo ucraniano, sua cultura, seu patrimônio, depois de ter sido castigado duramente por muitos invasores ao longo dos séculos? Mongois, vikings, suecos, franceses, alemães violentaram o território russo em diversas ocasiões, o que pode ter provocado uma certa paranoia (mas logo o povo irmão da Ucrânia?).

Por que o povo de Israel está denegando ao povo palestino o direito de ter o seu Estado, como os judeus o fizeram, beneficiados temporariamente por circunstâncias excepcionais? Por que invadem suas terras e pretendem implantar o Grande Israel, que nada mais é do que um mito religioso?

Por que determinadas seitas islâmicas se empenham em dominar outros povos, por vezes até outros muçulmanos, estendendo uma dominação que se apoia numa leitura monopolista e imperiaista da sua religião, nunca aberta ao trabalho de exegese? A exegese, ou seja, a critica e a interpretação do texto religioso, foi o que permitiu ao povo judeu e aos povos cristãos a libertação da religião opressiva, fanática e monopolista.

Por que o povo brasileiro não consegue se libertar de uma cultura oligárquica, responsável por uma das sociedades mais desiguais do mundo? Por que não consegue deixar de apoiar políticos corruptos, demagogos e mediocres? Deve ser por falta de educação, mas depois de tanto tempo ainda não conseguiu resolver essa questão elementar?

Perguntas, por enquanto, sem respostas adequadas. 

Virão algum dia?

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 22/07/2925


segunda-feira, 21 de julho de 2025

Oyez, oyez, citoyens! Relembrando Nelson Rodrigues e Umberto Eco - Paulo Roberto de Almeida

Oyez, oyez, citoyens! Relembrando Nelson Rodrigues e Umberto Eco

        Não estou proibindo a burrice. Todos têm o amplo direito democrático de expressar suas estupidezes pessoais nos espaços que constroem para si próprios nas ferramentas disponíveis de informação e de comunicação.
        Nelson Rodrigues, antes da internet, Umberto Eco, já no domínio das redes, alertaram para o perigo iminente da multiplicação dos idiotas nos espaços sociais: eles iriam se sobrepor às vozes da inteligência apenas pelo seu número avassalador. 
        Atuando solitariamente em meus espaços nestas ferramentas, defendendo meu quilombo de resistência intelectual, representado por meu blog Diplomatizzando, creio ter todo o direito de impedir a invasão dos idiotas e dos militantes ignorantes de certos credos extremistas nestes meus instrumentos de informação e de comunicação, recomendando aos enquadrados nas restrições que eles contenham seus comentários nos seus próprios espaços  ou nos de seus semelhantes e colegas de tribo. Não tenho porque poluir meu copyright com burrice alheia.
    
        Eis minha declaração de princípios:
“Diplomatizzando
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.”

        Sublinho racionalidade e inteligência; tudo o que ofender esses modestos critérios será imediatamente deletado das minhas ferramentas. 
C’est mon droit et mon devoir!
Proteção da inteligência, preservação da racionalidade. 

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 21/07/2025