domingo, 26 de outubro de 2025

A "Expedição Filosófica" de Alexandre Rodrigues Ferreira na Amazônia (Biblioteca Nacional Digital)

Um pouco de história sobre a formação territorial do Brasil, logo após o tratado de Madri 

(Biblioteca Nacional Digital)

https://bndigital.bn.gov.br/dossies/alexandre-rodrigues-ferreira/

Sobre Alexandre Rodrigues Ferreira

Coleção Alexandre Rodrigues Ferreira

Alexandre Rodrigues Ferreira nasceu na Bahia em 27 de abril de 1756 e faleceu em Lisboa em 23 de abril de 1815. Foi indicado por Domingos Vandelli e nomeado em 1778 pela Rainha D. Maria I, para chefiar a comissão científica encarregada de empreender viagem pelas capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá.

A Expedição Filosófica partiu do porto de Lisboa em 1 de setembro de 1783, levando, entre outras pessoas, os riscadores José Joaquim Freire e Joaquim José Codina, e o jardineiro botânico Agostinho Joaquim do Cabo. A expedição chegou a Belém em 21 de outubro de 1783 e durou nove anos. A partir dela foram gerados vários trabalhos e anotações sobre a região amazônica, registrando informações sobre a fauna, flora e seus habitantes.

Após a morte de Alexandre Rodrigues Ferreira, organizou-se uma relação de seus manuscritos e papéis. Esta relação e os manuscritos foram entregues, por ordem do Visconde de Santarém a Félix de Avelar Brotero em 5 de julho de 1815 para que ficassem sob a guarda e conservação do Real Museu d’Ajuda. A documentação permaneceu no Museu até o ano de 1838, quando foram transferidos para a Academia Real de Ciências, a fim de que Manoel José Maria da Costa e Sá, por ordem da mesma Academia, desse seu parecer para a publicação das obras concernentes à viagem filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira pela América Portuguesa no final do século XVIII. A publicação não se concretizou e os documentos se dispersaram entre várias instituições e colecionadores.

O acervo da Biblioteca Nacional que compõe a Coleção Alexandre Rodrigues chegou à instituição em diversas épocas e através de diferentes pessoas e instituições. A coleção se constitui de documentos produzidos durante a Viagem Filosófica, além de outros adquiridos por Alexandre Rodrigues Ferreira para auxiliar seus estudos. Constam também sua correspondência e documentos produzidos por terceiros sobre ele e sua expedição. Existem hoje, nesse acervo, 191 documentos textuais e aproximadamente 1.500 desenhos, representando, em sua maioria, a botânica e a fauna do Brasil no século XVIII.

Em 1876, Alfredo do Vale Cabral, bibliotecário desta instituição realizou um trabalho de mapeamento dos registros manuscritos e iconográficos produzidos pela Expedição Filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira pelo Brasil. Esse trabalho, publicado nos Anais da Biblioteca Nacional nos volumes 1, 2, e 3 serve, ainda hoje, como principal fonte de referência para aqueles que desejam conhecer melhor a produção documental realizada pelos cientistas da Real Expedição Filosófica ao Brasil. Graças a um financiamento da Fundação Vitae todos os manuscritos da Coleção Alexandre Rodrigues Ferreira da Biblioteca Nacional foram restaurados, encadernados e microfilmados e as estampas fotografadas e digitalizadas.

Muniz Sodré

Histórico

Alexandre Rodrigues Ferreira

Ronald Raminelli
Doutor com estágio pós-doutoral na EHESS-Paris
Professor Adjunto da Universidade Federal Fluminense
Laboratório Companhia das Índias


Comandada pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira, a Viagem Filosófica foi a mais importante expedição científica portuguesa do século XVIII. Ela percorreu o interior da América portuguesa durante nove anos e produziu um rico acervo, composto de diários, mapas populacionais e agrícolas, cerca de 900 pranchas e memórias (zoológicas, botânicas e antropológicas). Os diários, a correspondência e umas poucas memórias somente foram publicados a partir da segunda metade do século XIX, sobretudo na Revista do Instituto Histórico. Na década de 1870, os três primeiros volumes dos Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro divulgaram uma enorme lista de manuscritos oriundos da viagem. No entanto, somente na década de 1970, o Conselho Federal de Cultura editou uma parte representativa das pranchas e memórias. Deve-se destacar, porém, que ainda há documentação da maior importância que continua inédita em arquivos portugueses e brasileiros. Na Fundação Biblioteca Nacional e no Arquivo Histórico do Museu Bocage estão depositados os principais registros textuais e visuais da expedição.

O naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira era morador da Bahia e filho de comerciante, e estabeleceu-se em Coimbra ainda muito jovem, com 14 anos. Na Universidade, matriculou-se, inicialmente, em Instituta (1770) e depois na Faculdade de Leis (1773), sem comparecer no auto de encerramento. A partir de 1774, iniciaram-se seus cursos na Faculdade de Filosofia Natural com duração de três anos. Consta ainda matrícula na Faculdade de Matemática, em 4 de novembro de 1775. Acabou formando-se em Filosofia Natural em 2 de julho de 1778 e obteve ainda o título de doutor em 10 de janeiro de 1779. Suas escolhas iniciais apontavam para carreira de magistrado, forma mais segura e direta de inserção na burocracia metropolitana ou colonial. Ao escolher filosofia natural, ele se arriscava a não encontrar cargo na burocracia, ou a desempenhar funções sem o mesmo prestígio dos magistrados. A rápida passagem pela Faculdade de Matemática, talvez, fosse uma estratégia para alcançar o título de cavaleiro da Ordem de Cristo, pois os melhores alunos seriam agraciados com essa mercê e teriam a preferência para ocupar qualquer cargo nos Amoxarifados, segundo o Estatuto da Universidade de Coimbra de 1772. Seu excelente desempenho na Faculdade de Filosofia permitiu-lhe, porém, exercer o primeiro cargo de naturalista na burocracia estatal. Teria ele a tarefa de percorrer as possessões com a laboriosa comissão de ele ser o primeiro vassalo Português, que exercitasse o nunca visto em Portugal, nem antes do feliz reinado de Sua Majestade, exercitado emprego de Naturalista.

Contando com recursos precários, Ferreira comandou a Viagem Filosófica que percorreu as capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá entre 1783 e 1792. O grupo era composto de um naturalista, um jardineiro botânico, Agostinho do Cabo, e dois riscadores (desenhistas), José Codina e José Joaquim Freire. A Viagem Filosófica foi planejada pela Secretaria de Estado de Negócios e Domínios Ultramarinos e pelo naturalista italiano Domenico Vandelli, radicado em Portugal desde o fim do período pombalino. No mesmo ano da partida da Viagem Filosófica, duas outras expedições foram lançadas aos domínios lusitanos. Empreendidas por bacharéis em Coimbra, as viagens de Manuel Galvão da Silva e Joaquim José da Silva pretendiam investigar Goa, Moçambique e Angola.

Inicialmente planejada para ser composta por quatro naturalistas, a Viagem Filosófica à América ficou resumida a um apenas, sem contar com os drásticos cortes financeiros e materiais. Nessas condições, ficaram sobre os ombros de Alexandre R. Ferreira e uns poucos auxiliares as tarefas de coletar espécies, classificar e prepará-las para o embarque rumo a Lisboa. Estudavam ainda o desempenho das lavouras, os percursos de rios e produziam mapas populacionais e agrícolas. Cabia-lhes também verificar as condições materiais das vilas e fortalezas destinadas a suportar as possíveis invasões estrangeiras. Esses aspectos constituem o corpo dos diários e memórias produzidos ao longo da Viagem Filosófica.

Há mais de um século a historiografia se divide em relação ao caráter científico dessa viagem. A farta bibliografia dedicada a Ferreira prima por exaltar seus feitos, tornando-se, por vezes, obras apologéticas, estudos de exaltação ao naturalista esquecido e abandonado pela sorte. Em 1895, Emílio A. Goeldi, no entanto, apontou a insuficiência das memórias sobre botânica e zoologia. Faltou ao naturalista, ressaltou Goeldi, educação profissional. Em resposta às provocações, Carlos França escreveu, em 1922, um artigo em defesa do naturalista, apontando a qualidade científica das memórias e culpava Vandelli, considerado estrangeiro traidor, por inviabilizar o aproveitamento posterior do material coletado por Ferreira. O americano William J. Simon destacou a importância de Alexandre R. Ferreira para o progresso do conhecimento na História Natural. Rómulo de Carvalho descreveu a enorme coleção deixada por Ferreira. Ao longo da jornada, ele compôs dezenas de memórias e centenas de desenhos, recolheu artefatos da cultura indígena e espécies dos três reinos. Recentemente, P. E. Vanzolini considerou que a expedição almejava, sobretudo, metas de caráter administrativo e estratégico, assegurando aos portugueses a posse e exploração de fronteiras ainda indefinidas e disputadas por metrópoles européias.

Para além da polêmica, deve-se destacar que, nem sempre, a Viagem Filosófica pautou-se nas normas setecentistas para a coleta e descrição do material. As memórias sobre plantas e animais destacaram, sobretudo, o caráter econômico e utilitarista, em detrimento dos avanços científicos. O farto material permaneceu, por quase um século, desconhecido e não foi devidamente estudado pelos sábios portugueses, nem mesmo por Ferreira. Ao retornar a Lisboa, o naturalista dedicou o resto de sua vida à administração metropolitana, sendo nomeado vice-diretor do Real Gabinete de História Natural e do Jardim Botânico e administrador das Reais Quintas da Bemposta, Caxias e Queluz. Jamais retornaria os trabalhos com as espécies e amostras recolhidas na viagem; as memórias não foram aperfeiçoadas, aprimoradas e publicadas. Boa parte desses fragmentos da natureza amazônica seria, mais tarde, conduzida a Paris como botim de guerra. Em poucas ocasiões, Alexandre Rodrigues Ferreira observou a natureza e as comunidades indígenas como um naturalista setecentista, mas antes como um leal funcionário da coroa lusitana. A Viagem Filosófica, portanto, era parte de um empreendimento colonial destinado a empreender reformas de caráter ilustrado em um território desconhecido e disputado pelas metrópoles européias. Desgostoso, entrevado e alcoólatra, Ferreira morreu em 1815.

Apesar dos percalços, nas pranchas e memórias dedicadas aos tapuias, Ferreira esboçou uma classificação muito original para identificar as diferentes etnias da Amazônia. Nesse sentido, ele recorreu aos corpos, às deformidades físicas e aos artefatos para identificar os grupos e entender a sua capacidade de controlar a natureza. As roupas, armas e moradias eram indícios do grau de organização social das comunidades. A forma de controlar a natureza era, enfim, indício da evolução técnica dos povos. Embora pouco explorada, essa abordagem era, à época, extremamente inovadora, o que demonstra a inserção do naturalista nos debates dedicados a explicar a diversidade de raças e costumes.

Personagens

Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815)

Filho do comerciante Manuel Rodrigues Ferreira. Iniciou os seus estudos na Bahia no Convento das Mercês que concedeu suas primeiras ordens em 1768. Em Coimbra, inscreveu-se no Curso de Leis e posteriormente no de Filosofia Natural e Matemática, bacharelando-se aos 22 anos. Prosseguiu seus estudos na Universidade de Coimbra onde chegou a exercer a função de Preparador de História Natural. Em 1779 obteve, nesta mesma Universidade, seu título de doutor e começou a trabalhar no Real Museu D'Ajuda. Aos 22 de maio de 1780 foi admitido como membro correspondente na Real Academia das Ciências de Lisboa.

Em 1773 a Rainha, Dona Maria I, ordenou a Alexandre Rodrigues Ferreira, na qualidade de naturalista, que empreendesse uma Viagem Filosófica pelas Capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá. O objetivo era conhecer melhor o centro-norte da colônia brasileira, até então praticamente inexplorado, a fim de lá implementar medidas desenvolvimentistas.

Em 1783 Rodrigues Ferreira deixou seu cargo no Museu D'Ajuda e, em setembro, partiu para o Brasil com a finalidade de descrever, recolher, aprontar e remeter para o Real Museu de Lisboa amostras de utensílios empregados pela população local, bem como de minerais, plantas, animais. Ficou também encarregado de tecer comentários filosófico e políticos sobre o que visse nos lugares por onde passasse. Esse pragmatismo será o diferencial desta expedição em relação às congêneres, mais científicas, comandadas por outros naturalistas que vieram explorar América.

Com dois desenhistas, Joaquim José Codina e José Joaquim Freire, e um jardineiro botânico, Joaquim do Cabo, que o acompanhariam durante toda a viajem, Rodrigues Ferreira, em outubro de 1783, aportou em Belém do Pará a charrua Águia e Coração de Jesus.

Os seus nove anos seguintes foram dedicados a percorrer centro-norte do Brasil, iniciando pelas ilhas Marajó, Cametá, Baião, Pederneiras e Alcoçaba. Subiu o Amazonas e o Negro até a fronteira, em seguida navegou pelo Branco até a Serra de Cananauaru. Subiu o Madeira e o Guaporé até Vila Bela, a então capital de Mato Grosso. Seguiu para vila de Cuiabá, transpondo-se da bacia amazônica para os domínios do Pantanal, já na bacia do Prata. Navegou pelos rios Cuiabá, São Lourenço e Paraguai. Retornou a Belém do Pará, aonde chegou em janeiro de 1792.

Regressando à Lisboa em janeiro de 1793, foi nomeado Oficial da Secretaria do Estado dos Negócios da Marinha e Domínios Ultramarinos. Em 1794 foi condecorado com a Ordem de Cristo e tomou posse como Diretor interino do Real Gabinete de História Natural e Jardim Botânico. No ano seguinte foi nomeado, seguidamente, Vice Diretor dessa instituição, Administrador das Reais Quintas e Deputado da Real Junta do Comércio.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandre_Rodrigues_Ferreira


Domingos Vandelli (1735-1816)

Domenico Agostino Vandelli nasceu em Pádua, Itália. O seu pai, G. Vandelli, foi Professor na Universidade de Pádua e doutor em Medicina. Formou-se em Filosofia pela Universidade de Pádua e foi convidado pelo Marquês de Pombal (1699-1782), para integrar o corpo docente que iria lecionar matérias científicas no Real Colégio dos Nobres. Terá chegado a Portugal em 1764. No entanto, uma vez que o ensino científico no Colégio dos Nobres não teve o sucesso que se pretendia, foi em seguida convidado, no âmbito da reforma da Universidade de Coimbra, para ocupar um lugar na Faculdade de Filosofia, onde foi nomeado lente de Química e de História Natural. Ficaria também responsável pela seleção do local da implantação do Jardim Botânico, do estabelecimento do Laboratório Químico e do Museu de História Natural da Universidade de Coimbra.

Em 1787 foi viver para Lisboa, onde se tornou o primeiro diretor do Jardim Botânico da Ajuda, sendo nomeado Deputado da ‘Real Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação destes Reinos e seus Domínios’. Continuou a ser diretor do Laboratório Químico da Universidade até 1791, apesar de estar ausente de Coimbra. Vandelli dirigiu as expedições filosóficas portuguesas de finais do século XVIII, levadas a cabo por Alexandre Rodrigues Ferreira e outros naturalistas que tinham sido seus alunos na Universidade de Coimbra. É autor de um grande número de memórias sobre temas científicos e econômicos.

Durante as invasões francesas, entre 1807 e 1811, foi acusado de ser afrancesado e em 1810, com 80 anos, foi preso e deportado para a Ilha Terceira, Açores, juntamente com outros suspeitos, no que ficou conhecido como a Setembrisada. Mais tarde foi-lhe concedida autorização para se deslocar para Inglaterra, de onde regressou à Portugal em 1815. Morreu em Lisboa em 1816.

Fonte: http://www.instituto-camoes.pt/cvc/ciencia/p10.html


José Joaquim Freire (1760-1847)

Entrou pasa a Casa do Risco do Real Jardim Botânico da Ajuda em 1780. “Riscador” designado para acompanhar Alexandre Rodrigues Ferreira na Viagem Filosófica ao lado de Joaquim José Codina. Regressou a Lisboa em 1793, recebendo pensão vitalícia da coroa portuguesa.

Em 1795 foi encarregado pelo Ministro de Estado, Rodrigo de Souza Coutinho, para organizar uma Carta Geral do Brasil. Por esse serviço, foi promovido a segundo-tenente da Armada Real em 1798. Participou das Guerras Peninsulares e das Guerras Liberais. Faleceu em 18 de novembro de 1847 com a patente de tenente-coronel.

Fonte: FARIA, Miguel Figueira de. A Imagem Útil. Lisboa: Universidade Autônoma Editora, 2001.


Joaquim José Codina (?-1791)

Nomeado em 1783 “riscador” da Viagem Filosófica ao lado de José Joaquim Freire.


Agostinho Joaquim do Cabo (?-1789)

Jardineiro botânico membro da Viagem Filosófica, morreu de febre em Vila Bela, durante a expedição de Alexandre Rodrigues.


Antônio José Landi (1713-1791)

Arquiteto, realizou inúmeros projetos na Itália, Portugal e Brasil. Projetou numerosos prédios públicos e igrejas em Belém, a maioria deles construídos, incluindo o Palácio dos Governadores.
Durante a estada de Alexandre Rodrigues Ferreira em Belém, ofereceu-lhe dois álbuns e diversos desenhos avulsos de projetos, incluindo diversos não realizados, como o prédio da Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão.


Alfredo do Vale Cabral (1851-1894)

Historiador e biobibliógrafo. Trabalhou na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, onde, em 1876, realizou trabalho de mapeamento dos registros manuscritos e iconográficos produzidos pela Expedição Filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira.

Bibliografia - Alexandre Rodrigues Ferreira

AREIA, M. L. Rodrigues; MIRANDA, M. A.; HARTMANN, T. Memória da Amazónia. Alexandre Rodrigues Ferreira e a Viagem Philosophica pelas Capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuyabá. 1783-1792. Coimbra: Museu e Laboratório Antropológico da Universidade, 1991.

BATES, W. H. O naturalista no rio Amazonas. São Paulo, 1944. 2 vols.

CARVALHO, J. C. M. Viagem filosófica pelas capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá (1783-1793). Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 1983.

CARVALHO, Rômulo de. A história natural em Portugal no século XVIII. Lisboa: Ministério da Educação, 1987.

CORREIA FILHO, V. Alexandre Rodrigues Ferreira. Vida e obra do grande naturalista brasileiro. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1939.

CUNHA, O. R. O naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira. Uma análise comparativa de sua viagem filosófica (1783-1793). Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 1991.

DOMINGUES, A. Formas de intervenção no espaço amazónico em finais do século XVIII: política e aventura. Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 1988. Dissertação de mestrado.

DOMINGUES, A. “Viagens científicas de exploração à Amazónia de finais do séc. XVIII”. Ler História. v.19, p.105-125, 1990.

DOMINGUES, A. Viagens de exploração geográfica na Amazónia em finais do século XVIII: Política, Ciência e Aventura. Lisboa: Secretaria Regional do Turismo, Cultura e Emigração (Madeira)/Centro de Estudos de História do Atlântico, 1991.

DOMINGUES, A. “Os índios da Amazónia para um Naturalista do séc. XVIII”. Ler História. 23(1992)3-10.

FALCÃO, E. C. Viagem filosófica às Capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá. São Paulo: Gráfica Brunner, 1970.

FERREIRA, Alexandre Rodrigues. Viagem Filosófica. Memórias (zoologia e botânica). Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1972.

____. Viagem Filosófica. Memórias (antropologia). Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1974.

____. Viagem Filosófica. Iconografia v.1: geografia e antropologia; v.2: zoologia. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1971.

FRANÇA, Carlos. Doutor Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815). História de uma missão científica ao Brasil no século XVIII. In: Boletim da Sociedade Broteriana, 1-2: 65-123, 1922.

GOELDI, Emílio. Alexandre Rodrigues Ferreira. 2a. ed. Brasília: Ed.UNB, 1982.

RAMINELLI, Ronald. Ciência e colonização - Viagem Filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira. Revista Tempo, n.6, p.157-182, 1998.

____. Do conhecimento físico e moral dos povos. Mare Liberum, 22-32: 185-207, 2001.

SIMON, William J. Scientific Expeditions in the Portugueses Overseas Territories. Lisboa: Instituto de Investigação Científica Tropical, 1983.

VANZOLINI, P. E. A contribuição zoológica dos primeiros naturalistas viajantes no Brasil. R. USP, n.30 p.190-239, 1996.



sábado, 25 de outubro de 2025

Lancamento de livro na ABL: Diplomatas Escritores Imortais, org. João Almino

Lançamento do livro organizado pelo diplomata e acadêmico João Almino, na ABL, dia 28/10/2025.
Participei do livro com um capítulo sobre um dos imortais diplomatas, como abaixo:

1598. “Oliveira Lima e a ABL: uma interação precoce, mas acidentada”, Publicado in: João Almino (org.), Diplomatas Escritores Imortais (Brasília: Funag; Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2025).


Em nome do Presidente em exercício da Academia Brasileira de Letras, acadêmico e poeta Antonio Carlos Secchin, convido os autores do livro DIPLOMATAS ESCRITORES IMORTAIS para o chá na Sala dos Presidentes (4.o andar do edifício vizinho ao Petit Trianon) às 17h da próxima terça-feira, 28/10. 

Abaixo consta o convite divulgado pela FUNAG e pela ABL, que pediria enviar, se possível, a suas listas pessoais de endereços de potenciais interessados. O livro será distribuído gratuitamente aos presentes no limite da disponibilidade. 

Posteriormente, por correio, cada autor receberá 5 exemplares.

Aos que puderem comparecer, pediria  a gentileza de confirmar ou reconfirmar a presença em reposta a este e-mail.

Com meus agradecimentos e minhas mais cordiais saudações,

João Almino 

Coleção CULTURA E DIPLOMACIA

ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (ABL) - FUNDAÇÃO ALEXANDRE DE GUSMÃO (FUNAG)

Título:
diplomatas escritores imortais

Apresentação: 
Embaixador Raphael Azeredo, Presidente da Fundação Alexandre de Gusmão

Merval Pereira, Presidente da Academia Brasileira de Letras

1. Introdução: O Itamaraty e a Academia Brasileira de Letras - João Almino

2. Barão do Rio Branco (20/04/1845, Rio de Janeiro; 10/12/1912, Rio de Janeiro) - Luís Claudio Villafañe Gomes Santos

3.Rui Barbosa (5/11/1849, Salvador; 1/03/1923, Petrópolis) - Arno Wehling

4.Joaquim Nabuco (Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo) (19/08/1849, Recife; 17/01/1910, Washington) - Leslie Bethell 

5.Aluísio Azevedo- (14/04/1857 em São Luis; 21/01/1913, Buenos Aires) - Orna Levin 

6.Domício da Gama (23/10/1862, Maricá, RJ; 8/11/1925, Rio de Janeiro)
- Tereza Cristina França

7.Manuel de Oliveira Lima (25/12/1867, Recife; 24/03/1928, Washington)
- Paulo Roberto de Almeida

8. José Pereira da Graça Aranha (21/06/1868, São Luis; 26/01/1931, Rio de Janeiro)
- Leonencio Nossa

9. Carlos Magalhães de Azeredo (7/09/1872, Rio de Janeiro; 4/11/1963, Roma)
- Gilberto Araújo 

10. João Neves da Fontoura (16/11/1887, Cachoeira do Sul; 31/03/1963, Rio de Janeiro) - Alexandre Moreli

11.Rui Esteves Ribeiro de Almeida Couto (12/03/1898, Santos, SP; 30/05/1963, Paris)- Elvia Bezerra

12. Afonso Arinos de Melo Franco (27/11/1905, Belo Horioznte; 27/08/1990, Rio de Janeiro - Rubens Ricupero

13. João Guimarães Rosa (27/06/1908, Cordisburgo, MG; 19/11/1967, Rio de Janeiro)
- Heloisa Vilhena 

14.Antonio Houaiss (15/10/1915, Rio de Janeiro; 7/03/1999, Rio de Janeiro)
- José Carlos Azeredo 

15. Sergio Corrêa da Costa (19/02/1919, Rio de Janeiro; 29/09/2005, Rio de Janeiro) - Rogério Farias

16.João Cabral de Melo Neto (9/01/1920, Recife; 9/10/1999, Rio de Janeiro) - Antonio Carlos Secchin 

17.Alberto da Costa e Silva ( 12/05/1931, São Paulo; 26/11/2023, Rio de Janeiro)
- Lilia Schwarcz 

18.Sergio Paulo Rouanet (23/02/1934, Rio de Janeiro; 3/07/2022, Rio de Janeiro)
- João Almino 

19.José Guilherme Merquior (22/04/1941, Rio de Janeiro; 7/01/1991)
- João Cezar de Castro Rocha 

Leitura de livros reconhecidamente importantes

 1. Dom Quixote de la Mancha - Miguel de Cervantes 

2. O Vermelho e o Negro - Stendhal 
3. Eneida - Virgílio 
4. Os Demônios - Dostoiévski 
5. Ilíada - Homero 
6. Odisseia - Homero 
7. Édipo Rei - Sófocles 
8. A Divina Comédia - Dante Alighieri 
9. Memórias Póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis 
10. Macbeth -  Shakespeare 
11. Pequenos Poemas em Prosa - Baudelaire 
12. Madame Bovary - Flaubert 
13. Fogo Morto - José Lins do Rego 
14. Os Lusíadas - Camões 
15. O Capote (o conto) - Gógol 
16. Grande Sertão: Veredas - Guimarães Rosa 
17. Os Irmãos Karamázov - Dostoiévski 
18. A Morte de Virgílio - Hermann Broch 
19. Fausto - Goethe 
20. Paraíso Perdido - John Milton 
21. Hamlet - Shakespeare 
22. Dom Casmurro - Machado de Assis 
23. Quincas Borba - Machado de Assis 
24. Sermões do Padre Vieira 
25. Júlio César - Shakespeare 
27. Sagarana - Guimarães Rosa 
28. Primeiras Estórias - Guimarães Rosa 
29. Crime e Castigo - Dostoiévski 
30. A Ladeira da Memória - José Geraldo Vieira 
31. A Mulher qu Fugiu de Sodoma - José Geraldo Vieira 
32. O Processo - Kafka 
33. O Senhor dos Anéis - J.R.R.Tolkien 
34. O Melhor de Nelson Rodrigues
35. Otelo - O Mouro de Veneza - Shakespeare 
36. Antologia Poética - Fernando Pessoa 
37. Antologia Poética - Carlos Drummond de Andrade 
38. Ojos de Perro Azul - Gabriel García Márquez
39. Vidas Secas - Graciliano Ramos 
40. A Hora da Estrela - Clarice Lispector 
41. Os Miseráveis - Victor Hugo 
42. Notre-Dame de Paris (O Corcunda de Notre-Dame) - Victor Hugo 
43. Felicidade Clandestina - Clarice Lispector 
44. Os Melhores Conto de Tchekov 
45. As Flores do Mal - Baudelaire 
46. O Idiota - Dostoiévski 
47. Gente Pobre - Dostoiévski 
48. Contos Fluminenses - Machado de Assis 
49. Almas Mortas - Gógol 
50. Antologia Poética - Vinícius de Moraes

Vulnerabilidade na Defesa - Rubens Barbosa Portal Interesse Nacional

Vulnerabilidade na Defesa
Rubens Barbosa
Portal Interesse Nacional
, 24/10/2025
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É senso comum que a falta de recursos e a imprevisibilidade orçamentaria estão afetando seriamente a capacidade operacional das Forças Armadas brasileiras em um momento de grande instabilidade política no mundo e agora na América do Sul com a ameaça bélica dos EUA contra a Venezuela e a Colômbia para eliminar o tráfico de drogas para os EUA.
Surge agora uma oportunidade para esses assuntos sejam discutidos democraticamente na campanha da eleição presidencial de outubro de 2026. Chegou a hora de a sociedade brasileira enfrentar direta e objetivamente uma discussão madura sobre o papel das FFAA e os meios para poder exercê-lo de forma efetiva.

Por Rubens Barbosa, coordenador editorial do portal Interesse Nacional


Vulnerabilidade na Defesa

É senso comum que a falta de recursos e a imprevisibilidade orçamentaria estão afetando seriamente a capacidade operacional das Forças Armadas brasileiras em um momento de grande instabilidade política no mundo e agora na América do Sul com a ameaça bélica dos EUA contra a Venezuela e a Colômbia para eliminar o tráfico de drogas para […]

Foto: Sgt Djalma / CCOMSEx

É senso comum que a falta de recursos e a imprevisibilidade orçamentaria estão afetando seriamente a capacidade operacional das Forças Armadas brasileiras em um momento de grande instabilidade política no mundo e agora na América do Sul com a ameaça bélica dos EUA contra a Venezuela e a Colômbia para eliminar o tráfico de drogas para os EUA.

O déficit fiscal derivado de mais gastos do que receitas nas contas públicas tornam difícil atender as demandas das três forças por modernização da frota marítima, dos aviões de combate e dos projetos estratégicos do Exército, entre eles o Sistema de Defesa das Fronteiras.

‘O Senado aprovou nesta semana um projeto de lei complementar que prevê R$ 30 bilhões para as Forças Armadas’

Como uma solução paliativa, o plenário do Senado aprovou nesta semana um projeto de lei complementar que prevê R$ 30 bilhões para as Forças Armadas investirem ao longo de seis anos em compras de equipamentos e desenvolvimento de tecnologias estratégicas. 

O projeto, que não é uma iniciativa do Executivo, foi apresentado pelo Senador Carlos Portinho (PL-RJ) e relatado no Senado pelo líder do governo no Congresso Randolfe Rodrigues (PT- AP). O texto retira os recursos do arcabouço fiscal, ou seja, os gastos. não ficarão sujeitos às metas fiscais e foi aprovado por 57 votos. O líder da oposição Rogério Marinho (PL-RN) criticou o governo federal pelo fato de os investimentos escaparem do arcabouço fiscal. 

‘A falta de investimentos nas Forças Armadas pode trazer consequências até para a soberania nacional’

A falta de investimentos nas Forças Armadas pode trazer consequências até para a soberania nacional. “Não parece ser uma decisão madura sucatearmos as Forças. E não estamos falando de recursos para contratação de pessoal. Estamos falando de compra de submarinos, estaleiro, programa nuclear, navios de patrulha, proteção das fronteiras, aquisição de caças, helicópteros”, observou o líder do governo, como se essa questão não fosse uma decisão do governo de turno.

Portinho argumentou de forma semelhante. Disse que a defasagem vem desde 2014 e que isso é “uma ameaça real para a nossa Indústria de defesa que o investimento também seria uma “oportunidade para vender [equipamentos e tecnologias] para países que estão em guerra”.

Por enquanto não há nada de concreto. Apenas declarações de parlamentares e uma decisão do Senado. Falta um pronunciamento claro do Ministério da Defesa. Espera-se que o projeto de lei em discussão no Congresso, ao passar pelo exame da Câmara dos Deputados, não seja desvirtuado com emendas que nada tenham que ver com seus objetivos, nem que seja utilizado pelo Executivo para outras finalidades.

‘O problema de recursos para as Forças Armadas começou a se agravar a partir de 1985. Sucessivos governos civis deixaram as Forças Armadas mal equipadas’

Na realidade, o problema de recursos para as Forças Armadas começou a se agravar a partir de 1985. Sucessivos governos civis deixaram as Forças Armadas mal equipadas, com cortes orçamentários para as três Armas (cerca de 85% comprometido com o pagamento de pessoal e encargos). Essas dificuldades financeiras aumentaram nos últimos anos, dificultando a missão definida pela Constituição (artigo 142) de defesa da soberania e segurança interna. 

Cabe ao Congresso, em conjunto com o Executivo, não só prover os recursos indispensáveis para atender às necessidades das Forças Armadas, mas também definir matérias em tramitação que afetam diretamente as FFAA. Seria importante que o Congresso se manifestasse sobre o projeto que regulamenta a participação dos militares na política (sem discussão e aprovação neste ano não vai vigorar para a eleição de 2026) e também a revisão do papel das FFAA previsto no artigo 142. 

Surge agora uma oportunidade para esses assuntos sejam discutidos democraticamente na campanha da eleição presidencial de outubro de 2026. Chegou a hora de a sociedade brasileira enfrentar direta e objetivamente uma discussão madura sobre o papel das FFAA e os meios para poder exercê-lo de forma efetiva.

Presidente e fundador do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE). É presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da FIESP, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), presidente do Centro de Defesa e Segurança Nacional (Cedesen) e fundador da Revista Interesse Nacional. Foi embaixador do Brasil em Londres (1994–99) e em Washington (1999–04). É autor de Dissenso de Washington (Agir), Panorama Visto de Londres (Aduaneiras), América Latina em Perspectiva (Aduaneiras) e O Brasil voltou? (Pioneira), entre outros.

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional



Rubens Ricupero: Carreira e Obra - Parte 1 e Parte 2 (Grupo Ubique)

 Rubens Ricupero: Carreira e Obra - Partes 1 e 2

Grupo Ubique

“Poucos países devem tanto à diplomacia quanto o Brasil. Nossa força sempre foi o diálogo, o conhecimento e a paz.”
Em uma conversa memorável, o Embaixador Rubens Ricupero reflete sobre a construção da identidade brasileira e o legado do Barão do Rio Branco, mostrando como o Brasil se tornou uma nação guiada pelo poder do exemplo, não das armas.

Assista à entrevista completa e descubra como a diplomacia moldou o Brasil.

Putin Orders MASSIVE Retreat as Azov Forces Trap 1500 Russians (CombatTech Zone)

Putin Orders MASSIVE Retreat as Azov Forces Trap 1500 Russians
CombatTech Zone, Oct 25, 2025
https://www.youtube.com/watch?v=fBchNYQ1Plc

25 de out. de 2025 #guerradaucrânia #retiradadePutin #ForçasAzov
Putin Orders MASSIVE Retreat! Azov Forces Trap 1500 Russian Soldiers | Ukraine’s Big Win
In a dramatic shift on the battlefield, Putin has ordered a massive retreat of Russian forces after being trapped by Ukraine’s elite Azov forces. What began as a counteroffensive has turned into one of the most stunning reversals of the entire war. Reports confirm that over 1,500 Russian troops have been encircled, with supply lines completely severed.

Ukraine’s Azov fighters, known for their tactical precision and fearless resilience, have cut deep into Russian positions, forcing Moscow’s forces to pull back and regroup. The Russian retreat signals a serious tactical setback — and possibly a collapse in parts of their front line.

Military analysts suggest this could mark a turning point in the conflict, demonstrating Ukraine’s growing battlefield dominance and the effectiveness of Western-backed strategies. Satellite images and field reports show Russian armor units abandoning positions, leaving behind critical equipment in a chaotic withdrawal.

As the situation escalates, tensions inside the Kremlin are said to be rising. With supply routes compromised and morale plummeting, Russia faces mounting pressure to stabilize the front. Meanwhile, Ukrainian morale is surging, with celebrations in key liberated areas marking a symbolic and strategic victory.

This event is more than just a retreat — it’s a message. A sign that Ukraine’s resistance is gaining strength, precision, and momentum. The Azov forces’ success underscores how modern tactics and high morale can overcome even a numerically superior army.

The Fall of Crimea: Putin’s Greatest Victory Is Now His Greatest Defeat! (The Global Report)

O império russo lutou nos últimos 300 anos para conquistar e manter a península da Crimeia, primeiro contra os otomanos, depois contra franceses e britânicos, depois contra os nazistas. Devolvida à Ucrânia, a península foi invadida e anexada ilegalmente pelas novas tropas do império putinista, dizendo o tirano de Moscou que ela seria eternamente russa. Está sendo abandonada por Moscou, na impossibilidade de vencer a gloriosa Ucrânia. PRA

The Fall of Crimea — Putin’s Greatest Victory Is Now His Greatest Defeat!

The Global Report, Oct 25, 2025
https://www.youtube.com/watch?v=DdKEl5eA0zI

For ten years, Vladimir Putin called Crimea the crown jewel of his empire —
a symbol of Russian strength, unity, and eternal power.
But now, that symbol has turned against him.

In October 2025, a series of Ukrainian precision strikes ripped through Crimea’s fuel depots, bridges, and naval bases.
The peninsula, once called “Fortress Crimea,” is collapsing from within.
No fuel. No ammunition. No escape.

The destruction of the Feodosia oil terminal, the paralysis of the Zaporizhzhia railway, and the slow death of the Kerch Bridge have cut off tens of thousands of Russian soldiers —
turning the peninsula into a massive trap.

Ukraine didn’t invade Crimea.
It made it uninhabitable.
This is the story of how Putin’s proudest conquest became his greatest humiliation —
and how Ukraine’s silent strategy might finally bring the war to an end.

Moscow on the Edge of Revolt — Gazprom’s Collapse Shakes Putin’s Empire (The Global Report)

 Moscow on the Edge of Revolt — Gazprom’s Collapse Shakes Putin’s Empire

The Global Report, Oct 24, 2025
https://www.youtube.com/watch?v=6Mk9JnhOzmI

41.871 visualizações 24 de out. de 2025 #russiacrisis #globalmarkets #putin
Russia’s once-mighty energy empire is falling apart.
Gazprom — the crown jewel of Putin’s regime — has declared record losses of $7 billion, plunging Moscow into panic and chaos. What was once the Kremlin’s greatest weapon has become its greatest weakness.

In this video, we uncover how Gazprom’s collapse is tearing through Russia’s economy, destroying jobs, and turning loyal industrial towns into ghost cities.
Millions are facing unemployment and hunger, while the oligarchs who once funded Putin’s power are secretly fleeing with their fortunes.

This video exposes how Gazprom’s downfall has triggered mass panic, silent mutiny among oligarchs, and a growing revolt within Russia’s heartland.

Nova história econômica? - Marcelo de Paiva Abreu, Luiz Aranha Correa do Lago, André Arruda Villela (resposta a Edmar Bacha)

Nova história econômica?
Marcelo de Paiva Abreu
Luiz Aranha Correa do Lago
André Arruda Villela

Nota sobre o artigo de Edmar Bacha em O Globo de 6/10/2025

As diferenças de opinião sobre regimes políticos tendem a ser apaixonadas, até no Brasil, opondo simpatias republicanas e monarquistas. É saudável que as diferenças sejam baseadas em avaliações históricas objetivas.
Edmar Bacha, ao anunciar o seu artigo com Guilherme A. Tombolo e Flávio Rabelo Versiani (BTV), “Secular stagnation? A new view on Brazil’s growth in the 19th century” na Revista de História Econômica, em O Globo de 6.10.25, escolheu como título “Nova história econômica”. Pretensão descabida.
O principal argumento do artigo é que, ao contrário do que sugere a interpretação dominante na literatura, entre 1820 e 1850 o PIB per capita brasileiro, longe de estar estagnado, cresceu 0,8% ao ano. A argumentação revisionista não se sustenta. Se o PIB per capita do Brasil tivesse crescido 0,8% entre 1820 e 1850, como argumentado por BTV, teria superado o desempenho do PIB per capita da Europa Ocidental (incluindo o Reino Unido) e da América Latina (ambos 0,5% ao ano) e estaria próximo do crescimento do PIB per capita no mesmo período do Reino Unido (0,9%) e dos EUA (1,0%). Os resultados são questionáveis, a despeito de afirmações como a de que “o ritmo do crescimento brasileiro foi aparentemente bastante normal no contexto do padrão geral do século”.
As referências históricas de BTV são seletivas. Reconhecem que o Brasil esteve sujeito a uma tempestade perfeita na última década do século XIX. Mas, curiosamente, silenciam sobre as tempestades que afligiram o Brasil no período 1820-1850: Guerra da Independência 1821-1824, Guerra Cisplatina 1825-1828, crises de governabilidade, revolta dos Malês de 1835, Revolução Farroupilha 1835-1845, revolta Liberal da década de 1840, consequências do Bill Aberdeen de 1845 sobre o tráfico de escravos.
Entre as contribuições que, segundo BTV, endossariam a tese de estagnação no Brasil Império estaria o livro de Marcelo de Paiva Abreu, Luiz Aranha Correa do Lago e André Arruda Villela, A passos lentos. Uma história econômica do Brasil Império, São Paulo, Edições 70, 2022 [ALV]. Leitura desatenta: o livro de ALV não sugere estagnação no Brasil Império e sim, como pode ser lido à página 56, “uma conjectura de intervalo amplo para a taxa de crescimento do PIB per capita entre 0,2% e 0,5% para o período imperial poderia ser adotada como hipótese preliminar.”
Fragilidades metodológicas afetam a geração das duas séries centrais na pretendida revisão de BTV: o produto nominal e o deflator necessário para gerar o produto real. Os autores estimaram o produto nominal pela arbitrária combinação de três variáveis: a média aritmética das importações e exportações nominais, a média aritmética das receitas e despesas do governo e a oferta de moeda. A discutível agregação é resultado da inacreditável aplicação à primeira metade do século XIX de pesos computados para o período 1900-1947. E, já que até recentemente não existiam índices de preços confiáveis para o período anterior a 1870, os autores utilizaram a média dos índices de preços reconhecidamente precários de Mircea Buescu e Eulália Lobo et al. A tônica é: “quando não há dados, nós os criamos”. São ousadias analíticas indefensáveis.
Nova história econômica? O afã revisionista de BTV parece ter resultado da convergência de banzo monarquista – como os autores reconhecem – com empirismo inconsequente. A despeito da jactância, os resultados são fracos: a fragilidade da argumentação compromete de forma decisiva o ímpeto revisionista.



Nota PRA: Eu postei o artigo do Edmar Bacha no meu blog Diplomatizzando, em 6/10/2025, neste link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2025/10/nova-visao-da-historia-economica-do.html

Tradução de “A Formação do Espírito Científico”, de Gaston Bachelard, pela Editora Contraponto (Cesar Benjamin)

Vale a pena registrar este fabuloso empreendimento editorial, como esclarecido por César Benjamin. Como ele escreve, “ “… o filósofo não procura estabelecer a relação do saber, produzido pelos homens, com as coisas, mas a relação desses homens com seu próprio saber.” PRA


 Quando criei a Contraponto, comecei a procurar títulos fundamentais, mas que, por qualquer razão, não haviam chegado no Brasil. O primeiro deles foi “A formação do espírito científico”, de Gaston Bachelard, decisivo na minha própria formação intelectual. 

Escrevi para a Vrin, editora francesa. Eles me disseram que o livro estava sob controle de Madame Suzanne Bachelard, filha do mestre, que exigia aprovar as traduções, com sua equipe, antes de vender os direitos. Já havia recusado duas tentativas para a língua portuguesa e acabara de recusar uma, de Cambridge, para o inglês. Era isso que explicava a ausência. 

O desafio estava lançado. Fizemos a tradução sem ter os direitos de publicação. Tempos depois, recebi uma carta em que Madame Suzanne não só liberou a nossa edição, mas nos concedeu direitos para toda a obra científica do pai, que estamos publicando.

É muito bom ver este livro genial chegar à décima sétima reimpressão.

A FORMAÇÃO DO ESPÍRITO CIENTÍFICO

GASTON BACHELARD -- décima sétima reimpressão

Tradução de Estela dos Santos Abreu

316 páginas -- de R$ 96,00 por R$ 57,60 no site da editora

https://www.contrapontoeditora.com.br/produto.php?id=69

Pela primeira vez, o leitor de língua portuguesa tem acesso ao livro mais importante de um dos filósofos mais importantes de nossa época. Escrito em 1938, e desde então reeditado em todas as línguas de cultura, “A formação do espírito científico” tem sido adotado em universidades brasileiras sempre a partir de edições estrangeiras ou de traduções de pequenos trechos, veiculados de mão em mão.

Tal lacuna do nosso mundo editorial talvez se explique pelas excepcionais dificuldades que cercam a tradução deste livro: não obstante sua clareza e sua beleza, ele usa amplamente textos e conceitos da alquimia, da química e da física dos séculos XVII e XVIII. Foi o desafio que a Contraponto Editora aceitou enfrentar, entregando-o às mãos competentíssimas de Estela dos Santos Abreu, que, quando necessário, recorreu ao auxílio de especialistas para realizar um trabalho à altura da grandeza do autor.

A partir de 1940 e até sua morte, Gaston Bachelard (1884-1962) exerceu marcante atividade docente na Sorbonne, onde formou gerações de pensadores que nunca esconderam sua gratidão ao mestre. Escritor admirável, dono de um dos mais belos estilos que a prosa filosófica conheceu em todos os tempos, recebeu em 1961 o Prix National des Lettres.

“A formação do espírito científico” se insere numa sequência de obras que marca o período mais criativo do Bachelard “diurno”, aquele que pensa o saber científico: “Etude sur l´ évolution d´um problème de physique: la propagation thermique dans les solides” (1927), “Essai sur la connaisance approchée” (1928, também publicado pela Contraponto), “La Valeur inductive de la relativité” (1929), “Le Pluralisme cohérent de la chimie moderne” (1930, publicado pela Contraponto), “Le Nouvel esprit scientifique” (1936), “La Philosophie du non” (1940). A eles se somam os livros do Bachelard “noturno”, que se debruça sobre a criação artística, o devaneio, as imagens poéticas, as potências da imaginação.

Num e noutro caso, o filósofo não procura estabelecer a relação do saber, produzido pelos homens, com as coisas, mas a relação desses homens com seu próprio saber. Em “A formação...”, Bachelard destaca as armadilhas e dificuldades que cercam a descoberta de conceitos fundamentais, a função positiva dos erros nessa gênese (“O espírito científico se constitui como conjunto de erros retificados”) e, principalmente, o caráter recorrente e geral de certas resistências ao conhecimento científico. Ao contrário do que se poderia pensar, esses “obstáculos epistemológicos” não pertencem ao passado: “As forças psíquicas que atuam no conhecimento científico são mais confusas, mais exauridas, mais hesitantes do que se imagina quando consideradas de fora (...). Mesmo na mente lúcida há zonas obscuras, cavernas onde ainda vivem sombras. Mesmo no novo homem permanecem vestígios do homem velho. Em nós, o século XVIII prossegue sua vida latente.”

Justamente porque esses obstáculos ao conhecimento estão presentes dentro de nós e espalhados à nossa volta, e porque sua superação é um desafio que sempre se renova, “A formação do espírito científico” tornou-se um clássico, um texto perene, cujo potencial didático nunca se esgota: ele não nos ensina coisas, nos ensina a pensar.

César Benjamin 

40% de desconto em todo o catálogo para compras no site da editora. Você recebe os livros em casa. Pagamento por meio de boleto bancário, PIX ou parcelado em até três vezes nos cartões. Frete grátis em compras acima de R$ 250,00. Para mais informações, clique no link.

https://www.contrapontoeditora.com.br/produto.php?id=69

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Opções da diplomacia brasileira num mundo em desordem - Paulo Roberto de Almeida (Revista Será?)

Opções da diplomacia brasileira num mundo em desordem

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.
Publicado na revista digital Será?, ano xiv, n. 681, 24/10/2025, link: https://revistasera.info/2025/10/opcoes-da-diplomacia-brasileira-num-mundo-em-desordem/

            A questão completa deveria ser esta: quais são as possibilidades e limites da diplomacia brasileira no atual estado turbulento do mundo? À diferença dos dirigentes políticos que comandam o Estado, a diplomacia é uma instituição permanente, mas ela é uma simples ferramenta do Estado, na verdade, do governo de plantão, pois é este que dá instruções e fornece instrumentos de ação aos diplomatas que vão atuar no cenário mundial em função dos interesses nacionais desse Estado, ou num entendimento mais restrito, segundo a vontade do governo que comanda temporariamente ao Estado.
            O Brasil possui, dentre as suas instituições de Estado, uma diplomacia que já existe desde pouco mais de 200 anos, encarregada de operar a política externa definida pelos dirigentes do Estado, eleitos democraticamente ou instalados no comando do Estado em alguma dinâmica política qualquer: independência, constituinte, golpe de Estado, revolução, qualquer outra forma de inauguração de um novo regime político. O Brasil já passou por tudo isso e exibe, desde a redemocratização de 1985, um regime republicano de média qualidade institucional, pois que submetido ocasionalmente a tentativas de rupturas: são quatro décadas passavelmente democráticas, mas já com dois impeachments e várias mudanças nas leis eleitorais, desde 1997 com a possibilidade de reeleição, inexistente na origem.
        Ela possui grande credibilidade internacional, pela qualidade de seus quadros, assim como pelos padrões exibidos de trabalho, baseados em sólidos fundamentos doutrinários, dotado de valores e princípios que estão contidos em acordos e tratados internacionais, assim como em nossa própria Constituição, nas cláusulas de relações internacionais do seu Artigo 4o. Entre estes princípios estão a independência nacional, igualdade soberana dos Estados, a não interferência nos assuntos internos de outros Estados, a proibição das guerras de agressão ou de conquista, a solução pacífica dos conflitos, a prevalência dos direitos humanos, o repúdio ao terrorismo e ao racismo, e a cooperação entre os povos para o desenvolvimento pacífico da humanidade.
        Mas, no tratamento e encaminhamento dos temas da agenda internacional que são colocados em debate nos organismos intergovernamentais ou introduzidos pelos próprios países, por meios institucionais ou em oposição a determinados princípios do Direito Internacional, a diplomacia profissional do Brasil deve, obviamente, cumprir instruções que lhes são determinados pelos governantes eleitos democraticamente, supondo-se que essas determinações também representem certo consenso nacional, expressem os interesses nacionais do país e contem com respaldo suficiente no Congresso Nacional, o órgão do Estado que fiscaliza as ações do Executivo, que comanda as ações da diplomacia.
        As opções da diplomacia brasileira, portanto, não são apenas as que lhe são ditadas institucionalmente, mas também as do próprio Estado brasileiro, ou pelo menos as possibilidades e limites que figuram no programa, ou na vontade política, do governo que se assume temporariamente o comando do Estado. A diplomacia brasileira não é totalmente livre, nem para testar seus limites e possibilidades, nem para determinar, segundo seus próprios princípios e valores, segundo sua experiência ou vontade própria, a condução da política externa a ser tomada num tema preciso da agenda internacional.
        Vamos partir de um exemplo simplório, no caso alianças internacionais ou coalizão com outros Estados em caso de guerras entre eles, geralmente grandes potências. A situação se colocou concretamente ao Brasil no final dos anos 1930, uma década marcada pela emergência e afirmação de potências militaristas e expansionistas, geralmente de cunho totalitário (fascistas, mas incluindo também o comunismo bolchevique), que deslancharam guerras de agressão nos dois extremos da Eurásia: o Japão imperial contra a República da China, em 1931 na Manchúria e em 1937 contra o resto do país, e a Alemanha nazista contra Estados centro-orientais europeus, anexações da Áustria em 1938, a Boêmia no mesmo ano, depois o resto da Tchecoslováquia no ano seguinte, seguidas, a partir de uma coalizão com a União Soviética, de uma guerra de agressão e a anexação contra a Polônia, para, no seguimento, se lançar contra as democracias da Europa ocidental.
        O Brasil ao lado dos Estados Unidos, se declararam neutros, ao início, mas foram depois envolvidos no grande jogo estratégico da coalizão das potências agressoras. Nessa hora, a diplomacia brasileira poderia recomendar a manutenção da neutralidade, assim como o fez a Argentina, já dominada pelos militares do GOU, o Grupo de Oficiais Unidos, que não rompeu com as potências belicistas praticamente até o final da guerra. No Brasil, a condução do chanceler Oswaldo Aranha resultou na aliança com as Nações Aliadas do Ocidente, em primeiro lugar os Estados Unidos, a despeito de evidente simpatia de muitos próceres do Estado Novo, ele mesmo de natureza semifascista, pelas potências fascistas, aparentemente vencedoras ao início do conflito global. A política externa e a diplomacia se conjugaram na tarefa de consumar as alianças necessárias na defesa concreta dos interesses nacionais, já sob ameaça de afundamentos adicionais de navios nacionais nas águas do Atlântico Sul, o que levou forças militares do Brasil até os campos de batalha da Europa.
        Depois de oitenta anos sem novos conflitos globais, apenas proxy wars, guerras civis ou interestatais entre Estados menores, mas também muita violência patrocinada pelas mesmas grandes potências que patrocinaram dominações imperialistas no passado remoto e durante a primeira Guerra Fria – Suez, Vietnã, Oriente Médio, Afeganistão, Iraque e outras aventuras imperiais –, o mundo voltou a exibir sinais de “anos 1930” no grande jogo da geopolítica, no contexto de uma segunda Guerra Fria que já deixou para trás suas características econômico-tecnológicas do início dos anos 2000 para adquirir uma preocupante configuração geopolítica na faixa das disputas hegemônicas. Como antes, a violação dos princípios mais elementares do Direito Internacional se dá num contexto de corrida armamentista e de disputas por influência e dominação, em territórios novamente contestados ou historicamente reivindicados como fazendo parte de dominações imperiais do passado, o que ameaça fraturar de modo perceptível as relações internacionais da atualidade.
        O mundo se encontra novamente sob pressão, de um lado pelos efeitos diretos e indiretos de uma guerra de agressão no centro do continente euroasiático, que já é o mais importante conflito interestatal na região, desde o final da Segunda Guerra Mundial. Por outro lado, pela turbulência causada no sistema multilateral de comércio, por uma “guerra de agressão tarifária” deslanchada unilateralmente, e ao arrepio dos princípios mais elementares derivados dos acordos realizados em Bretton Woods, nas áreas financeira e monetária, e nas negociações multilaterais de comércio de Genebra e Havana, em 1947-48, consagrando a aplicação incondicional e ilimitada da cláusula de nação mais favorecida, agora ignorada e praticamente destruída pelo dirigente do império ainda hegemônico, mas já em declínio, o que causou enorme instabilidade nas relações econômicas em nível global.
        Pois bem, quais são as possibilidades e limites da diplomacia brasileira nesse mundo que se ressente das pressões das grandes potências em ação para contemplar seus interesses propriamente imperiais, ignorando as regras e acordos intergovernamentais em vigor sob a égide da ONU e suas agências especializadas? Em princípio, a diplomacia deveria continuar pautando seu trabalho ancorada nos grandes eixos que a distinguiram desde o Império na conduta a ser adotada num mundo marcado por capacidades assimétricas derivadas dos potenciais próprios aos principais atores das relações internacionais: grandes e médias potências, dotadas de ativos diferenciados em função de suas respectivas inserções nos grandes fluxos econômicos, financeiros e militares em curso no cenário mundial.
        O Brasil possui um complexo de dotações físicas, de natureza econômica e comercial, que o colocam entre as dez maiores potências econômicas do mundo, mas também um ator respeitado no âmbito do G20, inclusive pela qualidade de sua diplomacia corporativa. O que ele ainda não possui são atributos militares e financeiros capazes de o colocarem na posição conhecida como de rule maker nos grandes jogos do poder mundial. Cabe, portanto, à sua diplomacia mantê-lo na posição que tem sido a sua numa trajetória bem-sucedida desde a conformação do moderno sistema multilateral: manter sua plena autonomia decisória nos grandes temas da política mundial, propugnar pela solução pacífica dos conflitos entre os Estados, sempre com base em seus princípios doutrinários e valores históricos, em total consonância com as regras mais elementares do Direito Internacional.
        Sobretudo, não caberia à diplomacia propor qualquer tomada de posição nas disputas e fricções imperiais entre as grandes potências, tendo em vista implicações geopolíticas que vão muito além dos interesses nacionais em termos de desenvolvimento econômico e social e cooperação tecnológica com todos os parceiros mais avançados nos setores de ponta da indústria mundial. Isso, a diplomacia profissional do Brasil saberia fazer com a desenvoltura que tem sido a sua num itinerário histórico marcado por grande coerência e credibilidade externa, pela solidez de seus fundamentos conceituais e estrita adesão aos grandes princípios do Direito Internacional. Mas não é certo que a política externa governamental siga posturas e recomendações vindas da ferramenta operacional das relações exteriores do Brasil.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 5097, 22 outubro 2025, 4 p.

Esquecimento ou cara de pau? A declaração dos chanceleres do BRICS cancelou a Ucrânia do mapa do mundo

 Esquecimento ou cara de pau?

Os ministros de relações exteriores do BRICS se reuniram à margem da AGNU-80. Conseguiram fazer uma declaração extensíssima, em sua hipocrisia retórica, mas em nenhum momento se referem à guerra de agressão da Rússia contra a UCrânia. Nadica de peteberebas: a Ucrânia simplesmente não existe no mundo dos Brics. Nunca ouviram falar...
Não bastasse o "esquecimento", ainda cometeram a ignomínia de produzir afirmações como estas duas, aprovadas, (ou exigidas) pelo representante da Rússia:

"4. Os Ministros reafirmaram seu compromisso com o multilateralismo, a multipolaridade e a defesa do direito internacional, incluindo os propósitos e princípios consagrados na Carta das Nações Unidas (ONU), em sua totalidade e interconexão, como seu alicerce indispensável, bem como o papel central da ONU no sistema internacional, composto por Estados soberanos iguais, na manutenção da paz e segurança internacionais, na promoção dos direitos humanos e do desenvolvimento sustentável, e no estímulo à cooperação entre os Estados com base nos princípios de solidariedade, democracia, não interferência nos assuntos internos de outros Estados, inclusão, colaboração e consenso, igualdade soberana, equidade, respeito mútuo, compreensão e justiça.
(...)
12. Os Ministros reafirmaram seu firme compromisso com o fortalecimento da cooperação multilateral para enfrentar crises humanitárias em todo o mundo. Expressaram preocupação com o enfraquecimento das respostas internacionais, que já eram insuficientes, fragmentadas e frequentemente politizadas. Condenaram veementemente todas as violações do direito internacional humanitário, incluindo ataques deliberados contra civis e bens de caráter civil, incluindo infraestrutura civil, bem como a negação ou obstrução do acesso humanitário e o direcionamento de ataques contra o pessoal humanitário. Ressaltaram a necessidade de assegurar a responsabilização por todas as violações do direito internacional humanitário."


A declaração, em português e em inglês, está aqui:

https://www.gov.br/mre/pt-br/canais_atendimento/imprensa/notas-a-imprensa/encontro-dos-ministros-das-relacoes-exteriores-do-brics-a-margem-da-80a-sessao-da-assembleia-geral-das-nacoes-unidas-nota-conjunta-brics

Revista Será? Desde 2012 acompanhando o fluxo da história - Faço parte da tribo agora... Paulo Roberto de Almeida

PRA: Faço parte da tribo doravante. Je suis de la tribu, desormais... I'm member of the guys, onwards... (vou transcrever minha colaboração).


Revista Será?
Desde 2012 acompanhando o fluxo da história.
ANO XIV Nº681


Recife, 24 de outubro de 2025.

Caro leitor,

Nesta nova edição da Revista Será?, convidamos você a refletir sobre o choque entre progresso e prudência, poder e ética, razão e emoção — tensões que atravessam nosso tempo e animam as páginas que seguem. Do petróleo à política global, da diplomacia às artes, esta edição percorre os contrastes de um mundo em transição.

Abrimos com o editorial “A transição energética e o petróleo da Margem Equatorial”, que questiona as contradições entre o discurso verde do Brasil e a decisão de ampliar a exploração de combustíveis fósseis. Na sequência, Abraham B. Sicsú, em “O Petróleo é nosso, para quê?”, debate o dilema entre desenvolvimento econômico e responsabilidade ambiental. Sérgio C. Buarque, em “A guerra suja de Trump”, denuncia a brutalidade de uma política externa que viola direitos humanos em nome da hegemonia.

Com brilho analítico, o diplomata Paulo Roberto de Almeida, em “Opções da diplomacia brasileira num mundo em desordem”, defende uma política externa coerente e autônoma. Já Helga Hoffmann, em “Eleições parlamentares na Argentina e a aposta de Trump”, revela os riscos geopolíticos da nova “diplomacia financeira” americana na América Latina.

Na esfera da cultura, Rui Martins, em “O incrível roubo no Museu do Louvre”, transforma um crime em reflexão sobre a fragilidade simbólica da arte; Paulo Gustavo, em “O Que há Numa Voz?”, faz um elogio sensível à voz humana como expressão da alma; e José Paulo Cavalcanti Filho, em “Conversas de ½ Minuto (47), Charlas Portuguesas”, celebra com humor e ternura o espírito lusitano e a poesia do cotidiano.

Encerramos, como sempre, com a irreverência e a precisão crítica da charge de Elson.

*

Os editores da Revista Será? têm a satisfação de dar as boas-vindas ao professor e diplomata Paulo Roberto de Almeida, que passa a integrar, a partir desta edição, o nosso corpo de articulistas. Doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Bruxelas e mestre em Planejamento Econômico pela Universidade de Antuérpia, Paulo Roberto de Almeida traz à Revista a experiência de mais de quatro décadas dedicadas à diplomacia brasileira, ao ensino e à reflexão sobre relações internacionais. Sua presença reforça o compromisso da Revista Será? com o pensamento crítico, plural e comprometido com o debate público de qualidade.

Boa leitura.
Os Editores

Índice

A transição energética e o petróleo da Margem Equatorial - Editorial
O Petróleo é nosso, para quê? - Abraham B Sicsú
A guerra suja de Trump - Sérgio C. Buarque
Opções da diplomacia brasileira num mundo em desordem - Paulo Roberto de Almeida
Eleições parlamentares na Argentina e a aposta de Trump - Helga Hoffmann
O incrível roubo no Museu do Louvre - Rui Martins
O Que há Numa Voz? - Paulo Gustavo
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quinta-feira, 23 de outubro de 2025

O Brasil e a guerra de agressão da Rússia à Ucrânia - Paulo Roberto de Almeida

O Brasil e a guerra de agressão da Rússia à Ucrânia 

Paulo Roberto de Almeida 

O Brasil não pode fazer muito para ajudar a Ucrânia a minimizar o sofrimento do seu povo, como aliás tenta fazer em relação ao sofrido povo de Gaza, que suporta uma agressão indiscriminada. 
Poderia fazer, de uma maneira ainda mais simples e direta, pois no caso da Ucrânia, à diferença de Gaza, existe uma distinção muito clara entre o agressor e o agredido. Poderia, mas não faz e não quer; mais do que isso: diplomaticamente fica do lado do agressor, e até o ajuda, ao aumentar exponencialmente as compras de produtos russos.
À diplomacia brasileira sabe que isso é errado, que isso contraria compromissos estabelecidos na Carta da ONU, que não só proibe e condena guerras de agressão e usurpação pela força de territórios de outros Estados soberanos, mas também comanda solidariedade de todos os membros da ONU à parte agredida. A diplomacia profissional sabe disso, mas tem de seguir as instruções do chefe de Estado, do governo e da diplomacia. Todos sabemos disso, especialmente os diplomatas.
Não posso fazer muito pela Ucrânia, não consigo mudar isso, mas posso pelo menos declarar com veemência minha oposição a essa postura covarde e contrário a tudo o que defendemos no Direito Internacional, que aliás figura claramente em nossa Constituição.
É o que faço constantemente, por sinal desde antes deste governo.
Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 23/10/2025

A Hipocrisia da Guerra às Drogas - JJ

 A Hipocrisia da Guerra às Drogas

Os EUA, a Colômbia e o mercado global da cocaína

O narcotráfico é uma das engrenagens mais lucrativas e perversas da economia global. Ele conecta pobreza e luxo, selvas e arranha-céus, comunidades rurais da América Latina e consumidores das metrópoles do Norte. Mas, acima de tudo, o tráfico de drogas expõe a hipocrisia das potências que dizem combatê-lo — e, ao mesmo tempo, dele se beneficiam.

Poucas relações demonstram essa contradição com tanta clareza quanto a aliança entre Estados Unidos e Colômbia, construída em nome do combate à cocaína, mas que, em mais de duas décadas, falhou em todos os seus objetivos declarados.

O Plano Colômbia e o avanço da cocaína

Lançado no fim dos anos 1990, o Plano Colômbia foi vendido como um ambicioso projeto de segurança e desenvolvimento, apoiado por bilhões de dólares em recursos norte-americanos. A promessa era clara: reduzir a produção e o tráfico de cocaína, desmantelar cartéis e fortalecer o Estado colombiano.

O que ocorreu foi o oposto. A produção de cocaína nunca foi tão alta. O cultivo da folha de coca, antes concentrado na Colômbia, se espalhou para o Peru e a Bolívia, criando uma economia transnacional ainda mais difícil de controlar. A política de erradicação forçada apenas deslocou agricultores pobres de um território para outro, sem oferecer alternativas econômicas reais.

Em vez de eliminar o problema, a “guerra às drogas” redesenhou o mapa do narcotráfico, ampliou o desmatamento, fragilizou comunidades rurais e aprofundou a dependência política e militar da Colômbia em relação a Washington.

O império do consumo e da lavagem

Enquanto o Sul produz, o Norte consome — e lucra.

Os Estados Unidos seguem entre os maiores mercados de cocaína do mundo, segundo dados do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC). Embora Austrália e Nova Zelândia liderem o consumo per capita, o mercado americano continua sendo o mais lucrativo.

Mais que isso: os EUA são também um dos principais centros de lavagem de dinheiro proveniente do narcotráfico. As brechas regulatórias e a conivência do sistema financeiro tornam o país um refúgio seguro para capitais ilícitos, incluindo os que vêm da droga andina.

A contradição é gritante. Enquanto promovem uma retórica de guerra, as potências ocidentais toleram e se beneficiam da economia paralela que o narcotráfico alimenta. E dentro de suas fronteiras, enfrentam uma grave crise de saúde pública, marcada pelo aumento do consumo de drogas sintéticas — num país que sequer possui sistema público de saúde.

Trump e Petro: o novo capítulo da tensão

Em 2025, a relação entre Washington e Bogotá sofreu uma ruptura sem precedentes. O presidente Donald Trump anunciou a retirada da certificação da Colômbia como aliada na luta antidrogas, acusando Gustavo Petro de “liderar o tráfico de drogas” e permitir “campos de extermínio”. Nenhuma evidência foi apresentada.

A resposta de Petro foi imediata. O presidente colombiano denunciou a manipulação política e defendeu sua nova política antidrogas, centrada em desenvolvimento rural, proteção ambiental e combate às grandes máfias financeiras, em vez da criminalização do pequeno agricultor.

A reação de Trump revela o quanto o tema das drogas ainda é usado como instrumento de pressão geopolítica. Sob a retórica do combate ao crime, esconde-se uma longa história de controle e submissão econômica e militar sobre a América Latina.

A economia da cocaína e seus efeitos

A economia da droga move bilhões de dólares todos os anos.

Na Colômbia, um estudo recente apontou que o tráfico representa 4,2% do PIB nacional — valor equivalente ao da indústria da construção. Essa cifra ilustra o tamanho do desafio: o narcotráfico não é um fenômeno marginal, mas um sistema econômico estruturado, com impactos devastadores.

Violência: financia cartéis, grupos armados e corrupção institucional.

Ambiente: provoca desmatamento e contamina rios com insumos químicos.

Sociedade: aprofunda desigualdades e destrói comunidades rurais.

Saúde: gera dependência e sobrecarga nos sistemas públicos, quando existem.

O pequeno agricultor, empurrado pela miséria, é o elo mais fraco dessa cadeia. No outro extremo, bancos internacionais, intermediários e fundos de investimento se beneficiam da lavagem e reinjeção de dinheiro ilícito no sistema financeiro global.

Fracasso global e novo paradigma

O fracasso da “guerra às drogas” é hoje um consenso entre pesquisadores, organismos internacionais e governos progressistas. Nenhum país conseguiu reduzir de forma sustentável a produção ou o consumo de drogas por meio de políticas militarizadas.

A nova abordagem defendida por Petro e outros líderes regionais busca romper com esse paradigma. A prioridade passa a ser inclusão produtiva, reforma agrária, soberania territorial e alternativas sustentáveis para as comunidades que dependem da coca. Não se trata de legitimar o narcotráfico, mas de atacar suas causas estruturais: pobreza, exclusão e ausência do Estado.

Essa perspectiva se alinha às conclusões mais recentes do UNODC, que reconhece que a erradicação forçada e o encarceramento em massa falharam e precisam ser substituídos por políticas baseadas em saúde pública, desenvolvimento e direitos humanos.

A hipocrisia global

O discurso da guerra às drogas tem servido, historicamente, para legitimar intervenções, sustentar orçamentos militares e desviar o foco das responsabilidades do Norte global. Enquanto isso, as vítimas continuam sendo as mesmas: agricultores sem terra, jovens periféricos, comunidades indígenas e populações marginalizadas.

A cocaína é, nesse sentido, um espelho do mundo que a produz e consome: um mundo de desigualdades profundas, onde o lucro fala mais alto que a vida.

Conclusão: o verdadeiro combate

Não há saída para o narcotráfico sem enfrentar as estruturas que o sustentam.

Enquanto o dinheiro sujo circular livremente pelos sistemas financeiros do Norte, e enquanto países como a Colômbia permanecerem dependentes economicamente do que deveriam combater, a guerra às drogas continuará sendo apenas uma cortina de fumaça.

O verdadeiro combate exige coragem política, soberania e cooperação solidária entre as nações.

Não é uma guerra que se vence com helicópteros, mas com reforma agrária, educação, saúde e dignidade.

Porque enquanto o lucro estiver acima da vida, a guerra às drogas continuará sendo, na verdade, uma guerra contra os pobres.

Por JJ

(Artigo de opinião. Baseado em relatórios do UNODC, estudos econômicos e dados públicos sobre o narcotráfico global.)


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