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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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domingo, 29 de agosto de 2010

Economia politica da idiotice (com perdao aos mais sensiveis)

Já reclamaram, aqui mesmo, de minha linguagem um pouco rude em relação a certos idiotas com quem tropeço ocasionalmente em minhas leituras variadas. Reclamam, por exemplo, que chamo idiotas de idiotas, e acham que isso ainda vai dar processo contra mim.
Concordo, não pelo processo, ou ameaça de, mas porque isso não resolve o problema fundamental, que seria o de explicar porque um idiota é um idiota. Claro, nem todos podem perceber imediatamente que existe um idiota desatado nos espaços públicos, inclusive porque o idiota em questão pode dizer algumas coisas perfeitamente razoáveis, que parecem de senso comum e muitos concordariam com ele.
Eu, como tenho pouca paciência para a burrice e a estupidez, e tenho verdadeira alergia à má-fé e à desonestidade intelectual, quando percebo que um idiota quer nos fazer a todos de idiotas, saio logo dizendo que ele é um idiota.
Mas esse não é o bom método, sei disso, pois o que se deve fazer é explicar, com palavras perfeitamente inteligíveis, se possível evitando chamar o idiota de idiota, que seus argumentos são completamente equivocados, e deixariam o Brasil e todos nós em situação muito pior do que antes (sem a aplicação da economia política da idiotice).
Eu sei disso, e só pratico meu exercício ofensivo por absoluta falta de tempo e de paciência para sentar e refutar cada um dos argumentos idiotas -- sem chamá-los de idiotas, apenas de equivocados -- e avançar meus próprios argumentos de melhor qualidade (que pretensão, diriam alguns, mas acho que, depois de ter estudado tanto, tenho esse direito).

Pois, o idiota em questão está aí abaixo, e foi em relação a ele mesmo que começou todo este debate em torno de minha linguagem ofensiva. Eu deveria ter feito como fez o economista do Instituto Mises do Brasil (Leandro Roque, editor e articulista do Instituto Ludwig von Mises Brasil): rebater o fulano em questão -- virão como não o chamei de idiota desta vez? -- e explicar aos leitores onde está o fundamento da posição correta.
Pois bem, sem tempo para fazer a mesma coisa, permito, portanto, transcrever a refutação que segue abaixo.
Espero que, depois de ler, muitos concordem comigo em minhas assertivas, qualquer que seja a linguagem usada...
Paulo Roberto de Almeida
PS: Para o vermelho e preto, favor dirigir-se ao post original. Como eu sou um completo incompetente em matéria de blogs, coloco o que seria em vermelho em itálico.

Um vermelho-e-preto com Benjamin Steinbruch - o homem que quer fechar o país
Blog Libertatum, 26 de agosto de 2010

Confira a seguir a entrevista que Benjamim Steinbruch concedeu ao jornal Valor Econômico, com os didáticos comentários de Leandro Roque, editor e articulista do Instituto Ludwig von Mises Brasil

Benjamim Steinbruch é um empresário multifacetado. Hoje, ele pode facilmente ser chamado de magnata do aço. Um dos fundadores do grupo Vicunha, que mexe com produtos têxteis, Steinbruch foi incumbido, nos anos 1990, de diversificar os negócios da empresa, e acabou entrando nos processos de privatização da CSN e da Vale. Mais tarde, abriu mão de suas ações na Vale e aumentou sua participação na CSN, empresa da qual hoje é presidente.

Esse é o seu lado empreendedor.

Porém, como infelizmente acontece com a maioria dos grandes empresários brasileiros, Steinbruch também possui seu lado cartorial: ele é o presidente em exercício da FIESP, entidade que define o que os paulistas e, por conseguinte, os brasileiros podem importar ou não. O atual presidente da FIESP, Paulo Skaf, coerentemente é afiliado ao Partido Socialista Brasileiro. A mídia, que não domina assuntos teóricos, fez troça dessa afiliação de Skaf: "Um empresário socialista? Como pode?" Ora, Skaf está demonstrando corretamente suas preferências. O atual regime brasileiro, em que os grandes empresários fazem conluio com o governo para benefício de ambos e em detrimento do resto da população, nada mais é do que a variante fascista (corporativista) de um arranjo socialista.

Mas estou digressionando. Voltemos a Steinbruch. Sua entrevista a seguir foi dada ao jornal Valor Econômico, muito embora seu conteúdo pareça diretamente saído da Carta Capital ou do A Hora do Povo. Sua proposta econômica é módica, sensata e equilibrada: quer criar mais dois BNDES, desvalorizar a moeda o máximo possível e simplesmente proibir as importações, fechando o país.

A seguir, os trechos mais saborosos de sua longa entrevista. Vale a pena ler tudo, pois seu pensamento revela como pensa grande parte do empresariado protecionista brasileiro. Ele e o Valor vão de vermelho, eu vou de preto. [coloquei o vermelho em itálico. PRA]

Valor: O mercado interno (brasileiro) forte amplia a chegada das importações. Isso incomoda a indústria?
Steinbruch: A importação é uma coisa nova no Brasil. Nós ainda não tivemos tempo de considerar nossa posição. Temos uma ótima situação interna, gente comprando seu primeiro bem — casa, geladeira, fogão, carro — ao mesmo tempo em que lá fora os países estão em dificuldade, com enorme capacidade ociosa. Então, nosso mercado interno, que é uma referência mundial, vira alvo. O Brasil nunca viveu isso, não temos a experiência de ficar tão bem, então pagamos um preço pelo sucesso. O mercado interno vai continuar bom, mas não necessariamente a produção local vai estar trabalhando a plena capacidade. Num curto espaço de tempo as empresas vão fazer um esforço muito grande para exportar, por falta de possibilidade de vender o produto internamente.


Devo confessar que não entendi o raciocínio. Primeiro Steinbruch diz que o mercado interno está muito bom, com as pessoas comprando seus primeiros bens, como casa, geladeira, fogão e carro. Porém, em seguida, ele conclui que estar bom significa, na verdade, estar ruim, pois vários produtos externos passam a ser vendidos aqui dentro. Conclusão: mais opções de compra é algo ruim para a população.

Paradoxalmente, conclui Steinbruch, um mercado interno forte faz com que as empresas brasileiras tenham de "fazer um esforço muito grande para exportar, por falta de possibilidade de vender o produto internamente." Entendeu? Nem eu. E, aparentemente, nem o jornalista. Daí sua próxima pergunta.

Valor: Como assim?
Steinbruch: Há um descontrole de importações em todos os setores. No ano passado, no primeiro semestre, importamos o equivalente a US$ 5,9 bilhões em manufaturas da China. Agora, em 2010, importamos US$ 9,9 bilhões entre janeiro e junho, praticamente dobrou em um ano. E estou falando da China, apenas.


Aqui ele apenas cita um dado. Porém, utilizando-se de um artifício malicioso, Steinbruch transforma essa ausência de conclusão em uma conclusão em si. Basta falar que as importações da China aumentaram de 5,9 para 9,9 bilhões de dólares em apenas um ano e, voilà!, ele transforma um dado numérico em uma coisa vagamente assustadora, fiando-se apenas no preconceito anti-importação que domina toda a imprensa, algo que é tomado como um critério universalmente aceito. À luz desse preconceito, não precisa haver mesmo conclusão alguma, pois o simples fato de estar havendo importações da China já é automaticamente aceito como algo supremamente anormal e condenável. A pergunta a seguir confirma esse raciocínio.

Valor: Isso é discutido na Fiesp? (Observe que sequer há uma indagação sobre os motivos de tal aumento das importações chinesas ser algo ruim.)
Steinbruch: Muito. Ninguém pensava que as empresas brasileiras iriam ter de parar a produção por excesso de estoques enquanto o mercado está com demanda forte, mas isso ocorre porque as importações estão ocupando espaço.

Se as importações chinesas estão "ocupando espaço" dos produtos brasileiros é porque os consumidores brasileiros estão voluntariamente mostrando que preferem aqueles produtos (talvez por serem mais baratos) aos produtos brasileiros. E o senhor Steinbruch não aceita isso. Ele quer, na verdade, um decreto governamental que proíba os consumidores brasileiros de exercerem livremente suas preferências no mercado. Melhor ainda: ele quer que os brasileiros sejam obrigados a comprar apenas os produtos seus e de seus companheiros.

Se você acha que eu estou mentindo ou exagerando, continue lendo o show de horrores que virá a seguir.

Valor: O sr. tem algum caso concreto de empresa que vai fazer isso? (Parar a produção por excesso de estoques).
Steinbruch: Até duas semanas atrás ninguém falava nisso. Se pegar os dados de 31 de julho, vocês não verão. É algo que está acontecendo agora. Há 350 mil toneladas de aço estocadas em Santa Catarina. As empresas vão ser obrigadas à exportar, o que é um esforço muito grande com uma moeda tão valorizada. Vai ter de baixar o preço no mercado interno para competir com o importado, o que é uma competição desleal, mas só vai ter o efeito disso no ano que vem. Qualquer medida que o governo tomasse agora só serviria para 2011, então o governo está atrasado. A economia vai bem, a demanda está forte, mas as empresas brasileiras estão com dificuldade de aproveitar essa bonança.

É até difícil escolher por onde começar. Tentemos pela ordem. Se há 350 mil toneladas de aço paradas em Santa Catarina, restam-lhe 3 opções:

1) Vender tudo no mercado interno — é só baixar o preço que ele vai encontrar o tanto de compradores que ele quiser. Só que, como ele se acostumou com preços altos para seus produtos — tudo estimulado pela expansão do crédito orquestrada pelo Banco Central —, praticar uma redução é algo inconcebível.

2) Exportar a preços vigentes no mercado internacional, algo que para sua tristeza ele não pode controlar.

3) Estocar para vender quando o preço lhe for mais propício.

Depois dessa lamúria, Steinbruch prossegue dizendo que ter de baixar preços para competir com a concorrência dos importados é "uma competição desleal". Como todo grande empresário cartorialista, ele parece ter se acostumado à crença de que vender a preços constantemente altos é um direito inalienável.

Ato contínuo, ele solta o veredicto: o governo tem de agir e tem de agir rápido! Aliás, já está atrasado! As empresas brasileiras não estão conseguindo aproveitar a atual bonança, pois os malditos chineses estão acabando com a festa, atrevendo-se a vender aqui produtos baratos e voluntariamente desejados pelos consumidores brasileiros. Que alguém trate logo de abolir o mercado e seu sistema de preços insensível às volúpias do grande empresariado.

Valor: Mas como convencer as pessoas de que é preciso fazer algo num período de crescimento forte, redução do desemprego e aumento de salários?
Steinbruch: Só perceberemos depois que as empresas começarem a parar mesmo. Aí veremos que alguma coisa furou no modelo, e furou por um descuido nosso, porque ninguém pensou nisso e muita gente não percebeu ainda. Vamos bater num muro a 200 km por hora. Cerca de 95% dos óculos vendidos no país são importados, sabia? Escovas e pentes têm a mesma situação. Não se fabrica mais aqui. Ou incentivamos mais ainda o mercado interno, com financiamento, isenção de imposto, para ter efeito rápido, ou restringimos ao máximo as importações.


Enquanto o resto do mundo se preocupa com nanotecnologia, biotecnologia, tecnologia da informação e robótica, nosso empresariado ainda está preocupado com a produção de pentes e escovas! De acordo com Steinbruch, se o país parar de produzir pentes, ficaremos pobres!

Consequentemente, para impedir a derrocada da portentosa indústria nacional de pentes e escovas, o governo deve abrir as torneiras, dar financiamento barato para as empresas voltarem a produzir tão demandados e insubstituíveis objetos (só falta encontrar algum índio pra fazer escambo), e, só pra garantir, dar uma fechadinha básica nas importações. É assim que um país enriquece.

Se nos aprofundarmos um pouco mais, veremos que tal raciocínio tacanho seria contra a substituição das máquinas de escrever pelos computadores, das velas pelas lâmpadas incandescentes e das carroças pelos automóveis. Steinbruch, se possível, proibiria a importação de laptops, pois isso seria ruim para as representantes da Olivetti no Brasil.

Valor: O novo governo, seja qual for, vai fazer algo próximo disso?
Steinbruch: Isso certamente vai ter de ser feito a partir de 2011. Porque enquanto o Brasil estiver bem e os outros países estiverem mal, isso vai se perpetuar. A empresa estrangeira não tem para quem vender, então manda para cá. O que desorganiza a cadeia é que quem está importando não são os clientes finais da indústria brasileira, mas o intermediário. Se você conversa com os industriais, eles vão te dizer que estão com produção toda vendida até o fim do ano. Só que os clientes não estão retirando a mercadoria. Porque entrou uma opção alternativa, o importado, que não estava previsto. Nem por quem produz, nem por quem compra.


Maldito mercado! Interpondo-se às expectativas sossegadas dos cartorialistas! Ou em 2011 o governo acaba completamente com as importações ou voltaremos à idade da pedra — só que, dessa vez, com escovas e pentes chineses.

Observe que o raciocínio tortuoso de Steinbruch leva a uma conclusão óbvia: quanto mais produtos estrangeiros forem vendidos aqui dentro, quanto maiores as opções e quanto mais baratas forem, pior para os brasileiros. Ou seja: estamos pobres porque somos ricos. Vamos empobrecer porque enriquecemos. Somos miseráveis pois vivemos na fartura. Um país só pode ser rico quando seu mercado interno é dominado por apenas um tipo de produto vendido ao maior preço possível.

Por que é inconcebível para Steinbruch a hipótese de os produtores nacionais simplesmente reduzirem seus preços? Por que o empresariado não aproveita essa maré favorável às importações e compra bens de capital que lhes permita otimizar seu processo produtivo, aumentando assim a produtividade? Isso possibilitaria uma redução de preços e um concomitante aumento dos lucros. Porém, é mais fácil simplesmente pedir para o governo barrar as importações. O que vale é o bem-estar deles e não o dos consumidores.

Valor: Mas a maior parte do que importamos é maquinário e bem intermediário, que complementa a produção. Essa importação não é benéfica ao país?
Steinbruch: A importação benéfica para o país é difícil de se diferenciar. É aquela que complementa além do limite de produzir. Se há demanda para 105 e produzimos 100, assim os cinco vêm de fora, para equilibrar a inflação. Hoje, com a oferta que temos no mundo, o risco grande que temos não é de inflação, mas de deflação. O Banco Central está errado quando diz que há risco de inflação. O que veremos agora é deflação. Porque a ociosidade do mundo, em termos produtivos, dificulta e muito qualquer processo inflacionário de demanda, que seria nosso caso, então não existe risco de inflação no Brasil. O nível de esforço que os países maduros estão fazendo para conseguir gerar demanda, com bilhões e bilhões de gastos para incentivar a economia é justificável para reanimar a atividade. Aqui fazemos o contrário, estamos castigando o sucesso do ciclo positivo que nós desenvolvemos — mercado interno, emprego, renda familiar —, que é quebrado pela importação, favorecida pela moeda valorizada. Estamos surpresos.


Antes de tudo, observe que Steinbruch não respondeu à pergunta que lhe foi feita. O que ele realmente quer — e disso ele não abre mão — é um maior rigor nas importações, de modo que seja importado rigorosamente apenas aquilo que vai complementar a produção. Ou seja, se a indústria nacional de pentes está produzindo em sua capacidade máxima, mas a demanda por pentes continua insaciável, então nesse caso — e apenas nesse caso —, Steinbruch permite que os chineses vendam seus pentes aqui dentro. Porém, tão logo essa demanda tenha sido saciada, as importações devem voltar a ser restringidas, para que a indústria nacional volte a ser soberana na venda de pentes mais caros.

Quanto à balela sobre risco de deflação, isso apenas mostra como os grandes empresários são contra uma moeda forte — como um padrão-ouro, por exemplo, que é inerentemente deflacionário (no sentido de provocar uma constante redução nos preços). É muito mais fácil viver em uma economia cuja oferta monetária esteja em constante aumento, pois assim os lucros contábeis são mais fáceis e a produção pode ser de menor qualidade.

Valor: Com o quê?
Steinbruch: Uma situação previsível de tranquilidade no segundo semestre mudou para uma surpresa de empresas grandes estarem parando por férias ou reduzindo pessoas por um desequilíbrio entre oferta e demanda por conta do importado. Para um país como o Brasil, que tem matéria-prima, capacidade produtiva, capacidade de ter duas safras agrícolas e petróleo, não vejo onde está o benefício da importação, a não ser que seja para equilibrar preços, para evitar inflação. O Brasil teria que, de alguma forma, se fechar.


Uma situação previsível de tranquilidade foi perturbada pela repentina mudança nas preferências dos consumidores. Empresário que se assusta e se surpreende com o fato de que os consumidores preferem produtos mais baratos me parece estar no ramo errado. Essa é a essência do empreendedorismo: saber antecipar as mudanças no comportamento dos consumidores. Como explicou Israel Kirzner, os empreendedores têm de estar sempre alerta às tendências de mercado. Aqueles que não se adaptarem a isso, certamente perderão fatias de mercado — e os que são poderosos o suficiente, certamente recorrerão ao governo para tentar mudar isso.

Observe, ademais, o totalitarismo nas duas últimas frases de Steinbruch: não há benefício para os brasileiros nas importações. Esta deve ser usada apenas pontualmente com o intuito de controlar o aumento de preços. Fora isso, as importações devem ser proibidas e o país deve se fechar. (Lembra-se que eu falei lá em cima que eu não estava exagerando?)

Valor: Como assim?
Steinbruch: Fazer um pouco o que a China fez. Vocês falaram de máquinas, por exemplo. O certo é que o Brasil pudesse desenvolver, por conta do crescimento contínuo da economia, tecnologia própria, inclusive para máquinas e equipamentos, para avançarmos tecnologicamente. Hoje, importamos equipamento chinês. Por quê? Porque cresceram por 15, 20 anos e tiveram condição de testar equipamento e tecnologia, corrigir, melhorar. Começaram copiando, depois melhorando e hoje eles têm tecnologia própria. O Brasil tem de fazer a mesma coisa.


Esse é um raciocínio delicioso. De acordo com Steinbruch, se o país se fechar, isso milagrosamente fará com que todo o intelecto nacional repentinamente se exacerbe e exiba seu pleno potencial, fazendo com que, do nada, haja um salto tecnológico no país. Para ele, a inteligência, a tecnologia e o capital são coisas que estão ali, adormecidas, apenas esperando uma oportunidade — no caso, um fechamento do mercado — para que possam finalmente despertar e se exibir em sua totalidade.

E ele aparentemente falou isso com um grande ar de seriedade. É como se toda a tecnologia, todo o capital e todo o intelecto prático fossem apenas um adorno que automaticamente entraria em cena tão logo a concorrência estrangeira fosse suprimida; é como se a ausência desses elementos hoje observada não fosse de maneira alguma um obstáculo à conquista do padrão chinês de desenvolvimento. Basta fechar o mercado e as mil flores irão florescer. Haverá, finalmente, o nosso Grande Salto Para a Frente.

Valor: Fechar a economia, então?
Steinbruch: A economia tem que se fechar um pouco para poder propiciar esse salto.


Eu nunca exagero no que falo.

Valor: Mas durante esse processo, não experimentaremos um período de inflação mais alta?
Steinbruch: Você tem que incentivar o bem mais barato fabricado aqui. Nós não temos porque fazer mais caro que lá fora.


Ora, mas o bem mais barato é exatamente o que vem lá de fora! Não era exatamente disso que ele estava reclamando? Como um fechamento do mercado vai permitir que mais bens, melhores e mais baratos sejam produzidos aqui dentro? Para responder isso, ele precisa antes explicar como vai solucionar aquele problema que mencionei duas respostas acima.

Valor: E o caso da Petrobras na exploração do pré-sal que dá prioridade ao fornecedor nacional, mas há máquinas e peças que só existem no exterior?
Steinbruch: E por que não têm máquina aqui? Não é por falta de capacidade nossa, seja tecnológica, gerencial ou financeira, então não é por isso. Temos que nos educar no sentido de colocar desafios maiores para o Brasil. Nós podemos tudo. Temos que dar um trato diferente ao capital que vai para investimento e ao que vai para custeio. O investimento no Brasil é muito caro, temos um custo que não é comparável com o exterior. Essa discussão do BNDES é totalmente secundária e inoportuna.


A Petrobras, que não é boba, concorda comigo e discorda de Steinbruch. Na hora de buscar capital e tecnologia de ponta, ela corre pro exterior. Apenas ficar com esse papo cafona de que não há falta de capacidade tecnológica, gerencial ou financeira no Brasil, e que "temos que nos educar no sentido de colocar desafios maiores para o Brasil. Nós podemos tudo.", não é o suficiente para sanar estes problemas. O problema vem bem mais de longe, e não será solucionado apenas com romantismo.

Valor: Por quê?
Steinbruch: Porque temos que fazer todo o esforço possível e imaginável para favorecer o investimento. Então, o banco de desenvolvimento tem de dar condições para as empresas. Para micro, pequena, média empresa e também para as grandes e gigantes. Temos que ir para fora. Um país que quer liderar tem que ter empresas fortes e isso só ocorre se o governo apostar junto. Foi o que aconteceu em todos os países do mundo. Se for copiar o que aconteceu com Inglaterra, Estados Unidos, é o mesmo modelo. Temos que copiar e depois melhorar. Nós temos que privilegiar o BNDES e outros, como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. O presidente Lula estava certo quando estimulou o BB e a CEF à fazerem mais, à estarem presentes num momento de crise, à não cortarem o crédito. Foi um momento muito importante.


Esta posição em prol do "crédito fácil que gera crescimento" é muito difícil de ser atacada no atual momento da economia brasileira, em que tudo parece estar indo às mil maravilhas. Da mesma forma, era impossível criticar o Fed durante o período da bonança imobiliária americana, onde tudo aparentemente também era uma maravilha. Alan Greenspan, o então presidente do Fed, era saudado como um gênio monetário, capaz de gerar riqueza por meio da simples impressão de dólares. Deu no que deu. E hoje, o que vou falar no parágrafo seguinte já é amplamente aceito nos EUA (exceto pelos keynesianos); já é amplamente entendido como a causa da expansão artificial e da consequente recessão americana. Aqui no Brasil, como a coisa ainda vai demorar um pouco pra acontecer, tal raciocínio parecerá estranho. Mas economia é assim mesmo: é a arte de entender o que não se vê.

Um aparente "crescimento" econômico trazido por uma expansão do crédito — no caso, os financiamentos subsidiados do BNDES e a redução dos juros feita pelo BACEN —, não chega sequer a ser um crescimento econômico. Tampouco há um genuíno aumento da produção econômica. Inflação e crédito fácil jamais podem aumentar a disponibilidade de bens em uma economia; jamais podem aumentar a produção total. A única coisa que ambos fazem é provocar uma realocação de recursos, favorecendo aqueles que recebem esse dinheiro antes de todo o resto da população, e prejudicando aqueles que recebem esse dinheiro por último.

Durante esse período de realocação dos fatores de produção dentro da economia — período esse que é confundido com crescimento econômico genuíno —, as pessoas erroneamente creem que estão vivendo um período de bonança, quando na verdade estão vivendo um período de desperdício de recursos. Bens de capital estão sendo empregados em projetos que serão insustentáveis no longo prazo.

Esse processo é camuflado pelo fato de que alguns membros da sociedade realmente estão enriquecendo. Porém tal enriquecimento foi trazido apenas e exclusivamente pela criação de dinheiro. E sempre em detrimento daqueles que serão os últimos a receber esse dinheiro recém-criado.

"Ah, mas o PIB cresce!" Não obstante todas as falhas com o cálculo do PIB, é suficiente apenas dizer que, como o PIB mensura os gastos da economia, é óbvio que uma quantidade maior de dinheiro fará com que o valor nominal desses gastos sejam maiores. E mesmo sabendo que o PIB é "corrigido pela inflação de preços", sabemos que o aumento dos preços é sempre menor do que o aumento ocorrido na oferta monetária. Consequentemente, um aumento da oferta monetária de fato causa um aumento do PIB real, mas está-se apenas mensurando gastos, e não produção e poupança, que é o que realmente gera riqueza.

Valor: Como o sr. vê as críticas ao BNDES?
Steinbruch: Não precisamos de um BNDES, mas de três bancos como o BNDES para atender a demanda por investimentos e a formação de empresas globais.


Quanto mais crédito fácil, melhor é para aqueles que recebem esse dinheiro primeiro. Nesse caso, o senhor Steinbruch está sendo bastante coerente. Ele está defendendo aquilo que é bom exclusivamente para ele.

Valor: Além de fortalecer o BNDES, que medidas podem fomentar os investimentos?
Steinbruch: A mais imediata seria diminuir a taxa de juros, para desvalorizar a moeda.


O brasileiro não pode ter uma moeda forte, com um bom poder aquisitivo, que lhe permita comprar mais coisas de fora. Não. O ideal é que o brasileiro tenha uma moeda que ninguém aceita lá fora, valendo menos que capim. A moeda ideal é aquela suficiente para comprar apenas os produtos produzidos pelo senhor Steinbruch e por seu círculo de amigos fiespianos. O resto é desnecessário.

Valor: Mas já passamos por processo de redução de juros e mesmo assim a moeda continuou se valorizando...
Steinbruch: Se derreteu a moeda cortando juros, imagina elevando, como fazemos agora. Nossa taxa precisa ser um ou dois pontos percentuais acima da inflação.


As noções econômicas de Steinbruch são completamente invertidas. Para ele, uma moeda "derretida" é aquela moeda forte, com poder de compra no mercado internacional. Já uma moeda literalmente derretida, sem poder de compra algum lá fora, é para ele uma moeda robusta, geradora de prosperidade. Aparentemente, enquanto o dólar não estiver na casa dos 15 reais, Steinbruch não vai sossegar.

Valor: Então não passa só pelos juros, certo?
Steinbruch: Não, podemos também controlar importação. Tanto do ponto de vista quantitativo quanto qualitativo. Há muitos bens, como lâmpadas, que chegam custando um centavo de dólar. Precisamos ter gente treinada, investimento em pessoal para que possam controlar e desenvolver sistemas. Os países maduros têm isso, porque eles também foram alvos. Os Estados Unidos têm uma bíblia para você poder entrar lá e um pessoal profissional para controlar o que entra. Agora, o alvo somos nós e nós não temos essa experiência, então vem tudo para cá.


O modelo de prosperidade de Steinbruch deve ser a Coréia do Norte. Lá não há lâmpadas sendo vendidas a um centavo de dólar. Lá as importações são bem controladas. Lá há investimentos e gente treinada para controlar e desenvolver sistemas (nucleares). Lá certamente há "uma bíblia para você poder entrar lá e um pessoal profissional para controlar o que entra".

Enquanto isso, nós, coitados, somos bombardeados por uma oferta de produtos chineses baratos, algo que não pode acontecer. No Brasil de Steinbruch, haveria um exército de funcionários seus em todos os portos e aeroportos, inspecionando direitinho o que entra e ditando a nós, brasileiros, o que podemos consumir ou não.

Valor: A Usiminas entrou com um pedido de antidumping contra a importação de chapa grossa de aço. Acha que a abertura de processos antidumping pode ser uma saída?
Steinbruch: Tem que fazer. A gente vai deixar de ser um país produtor industrial para ser um importador? É um castigo que não podemos pagar.


Castigo é poder comprar produtos baratos de fora. Benção é ser obrigado a comprar apenas os produtos feitos por Steinbruch e sua claque.

Valor: Então devem partir das empresas as medidas de controle?
Steinbruch: Tem que ser algo coordenado com o governo.


Esse coordenação entre governo e empresariado foi um arranjo de muito sucesso na Itália e na Alemanha da década de 1930.

Valor: Mas o governo atual ou o futuro vai fazer isso?
Steinbruch: Tem que fazer. O Brasil vai ter que adotar uma política dura porque hoje em dia é muito mais importante para nós a produção e o emprego [indústria] que a fazenda [campo]. O problema para nós é muito mais dar garantia à produção e ao emprego que a questão econômica e financeira, que já está equacionada. A prioridade agora é o Ministério do Desenvolvimento, tanto com incentivo para exportar quanto para evitar importação desordenada. Cada porto tem que ter um controle e isso precisa ser integrado
.

Aqui Steinbruch é explícito. Ele defende uma burocracia responsável por fazer planejamento econômico, em que a decisão sobre o que será produzido, em qual quantidade e para quem será vendido fica a cargo de burocratas, e não dos consumidores. Nada de "importação desordenada". Cada porto deverá ter um agente contratado por Steinbruch, inspecionado absolutamente tudo o que entra no país, e dando seu selo de aprovação. (E aposto que você achou que eu estava exagerando nas minhas três respostas acima).

Valor: O que mais preocupa o empresariado?
Steinbruch: Preocupa tudo. Está faltando mão de obra, estamos colocando escola dentro do canteiro de obra, fazendo o que podemos para formar gente, algo que é um limitador do crescimento brasileiro.


Agora Steinbruch passou a concordar comigo e, consequentemente, a se contradizer. Como um país com esse nível de educação vai repentinamente se modernizar via fechamento dos portos? Apenas essa frase já está em contradição com metade das suas ideias acima expostas.

Valor: O que acaba por aumentar os salários. Isso é um empecilho?
Steinbruch: Aumentar salário para o consumo de produção nacional é razoável. Duro é aumentar salário para o cara consumir bem importado, isso é uma distorção. Estamos em condições de avançar e agregar outros 50 milhões de consumidores na economia. É um país fantástico, mas ainda temos muito o que fazer. Enquanto lá fora estão fazendo de tudo, o possível e o impossível para ressuscitar a economia, aqui não precisamos disso.


Aumento salarial bom mesmo é só aquele que é gasto integralmente na compra de produtos com o selo Steinbruch. Se o aumento salarial for gasto no consumo da produção nacional, isso será apenas "razoável". Mas duro mesmo é o sujeito se atrever a gastar seu salário comprando o que ele quer, principalmente coisas importadas. Aí já é demais. "Isso é uma distorção".

São pensamentos totalitários como esses do senhor Steinbruch que fazem com que o capitalismo tenha uma má fama, sendo visto como um sistema manipulado, no qual empresários e governo fazem conluio para benefício mútuo em detrimento de toda a população, principalmente a de menor renda, que se torna obrigada a comprar produtos nacionais mais caros.

Como bem disse Benito Mussolini,

"O fascismo deveria ser mais apropriadamente chamado de corporativismo, pois trata-se de uma fusão entre o poder do estado e o poder das grandes empresas".

Apenas o livre mercado pode colocar essa gente no seu devido lugar.

[Fim da transcrição]
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Retomo:
Bem, depois desse exercício de refutação bem conduzido pelo Leandro Roque, retomo minha linguagem mais dura, já empregada num post anterior, e acho que agora os leitores concordarão comigo. O "empresário" em questão não é apenas um idiota, o que ele é, obviamente. Se trata também de alguém de má-fé, já que apresenta seu interesse pessoal como sendo o interesse nacional.
Creio que os leitores concordarão comigo.
Era o que se queria demonstrar.
Paulo Roberto de Almeida

A construcao subrepticia do fascismo (é bom que se avise antes...)

Alguns podem achar o conceito muito forte: fascismo.
Esses podiam até estar pensando que certos companhheiros no poder estavam mais interessados é na construção do "socialismo".
Ora, isto não existe e não tem a menor chance de acontecer: desde que o socialismo fez chabu, deu dois suspiros e depois morreu, por absoluta incapacidade estrutural a funcionar devidamente, deixando atrás de si apenas morte, destruição, terra arrasada, pessoas famélicas ou mortos aos milhões, não há mais condições de se pensar em construir, ou reconstruir o monstro disfuncional. Esse Frankstein já morreu, e disso os companheiros estão bem conscientes (inclusive porque eles estão muito melhores no capitalismo, tomando o seu uisque pago pela burguesia, e pela classe média, vivendo à larga com o dinheiro público, e nem querem ouvir essa loucura completa, de "construir o socialismo). Apenas meia dúzia de malucos de partidecos ridículos ainda fala de socialismo e luta de classes. Os companheiros que contam já se aboletaram no capitalismo, em sua versão corporativa.
Isso tem um nome, e se chama fascismo, ponto.
Se eles forem inteligentes, vão evitar as bobagens que um coronelão aloprado, megalomaníaco e narcisista, comete bem ali ao lado, levando seu país ao desastre completo, até a derrocada final. Mas é que o caudilho encarnou demais na figura mussoliniana, e esse circo só pode dar errado.
Os companheiros são mais inteligentes: eles vão construir um fascismo institucional, aos poucos, comendo pelas beiradas, como dizia um outro caudilho dos pampas.
Enfim, já escrevi o que penso. Fiquem com dois textos de conjuntura.
Paulo Roberto de Almeida

Continuísmo
Dora Kramer - O Estado de S.Paulo
27 de agosto de 2010

O presidente Luiz Inácio da Silva não se aguenta: morre pela boca, mas nunca deixa passar uma excelente oportunidade de ficar calado.

Na quarta-feira teve duas chances e aproveitou as duas. Na primeira, contou em público uma versão mentirosa de um episódio ocorrido há oito anos, em que posou de vítima de preconceito por parte do diretor editorial do jornal Folha de S. Paulo. Isso apesar de as testemunhas estarem bem vivas para contestar.

Na segunda vez, discursava aos militares sobre a nova lei que reforça a estrutura do Ministério Defesa quando do coração lhe brotaram as palavras de lamento - sempre "em tom de brincadeira" - por não ter enviado uma "emendinha" propondo ao Congresso "mais alguns anos de mandato".

Note-se que não se referiu a disputa, mas a extensão.

O presidente Lula não se segura. De vez em quando externa o que lhe vai às profundas da alma, coisas que jamais esquece: a derrota da CPMF e a impossibilidade de ter aprovada a chance de alcançar um terceiro mandato sem traumas institucionais.

O problema com o imposto do cheque não é o dinheiro. Isso não faz falta ao governo. Lula não se conforma é com a derrota política que o fez perceber a impossibilidade de aprovar a emenda do terceiro mandato no Senado.

Assuntos sobre os quais nunca cogitamos não vêm à tona assim sem mais nem menos. Muito menos um tema como esse.

Ultimamente o presidente vem fazendo referências cruzadas a respeito. Lamenta o fim do segundo mandato, diz o quanto ficará saudoso do poder, insinua influência permanente no governo da "presidenta" que já considera eleita e ordena à tropa que empenhe todo esforço na eleição de uma bancada gigante de senadores.

De preferência derrotando todos aqueles que lhe fizeram oposição mais aguerrida. Não quer só maioria, quer vingança.

E para quê, se chega ao fim o seu tempo?

Aí é que está. Se realmente conseguir eleger Dilma a Lula parecerá que pode conseguir qualquer coisa. Maioria no Senado, voltar à Presidência em 2014, exercê-la de fato até lá com o beneplácito da "presidenta" de direito.

Por que tanta vontade de ter maioria no Senado, qual o projeto que indica essa necessidade?

No caso de Dilma não se aplica o preceito de que a criatura dá adeus ao criador tão logo assuma o poder. Ocorre quando o criador não tem o controle real das coisas, a começar pelo partido e pela figura que atua no imaginário popular.

Se ousar contra ele, a criatura sabe que a tempestade não lhe será leve.

Muito além. Não é (só) a liberdade dos humoristas que está sendo violada com as proibições impostas pela Lei Eleitoral. São as garantias de toda a sociedade, além da Constituição como fiadora da liberdade de expressão.

De onde é louvável a iniciativa da Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão de entrar com ação direta de inconstitucionalidade contra o veto ao exercício da crítica política nos 90 dias que antecedem as eleições.

Lamentável é terem se passado 13 anos de (quase) total insensibilidade com a violência da lei, a despeito dos isolados reclamos.

Meta comum. Os caminhos são diferentes, mas o objetivo dos governos da Venezuela, da Argentina e do Brasil é o mesmo: tutelar a sociedade e assegurar trânsito livre de críticas aos respectivos projetos de poder, por intermédio do controle da informação.

O governo Lula ensaia, recua e insiste em manietar a imprensa por meio de instâncias colegiadas e sugestões corporativas. Os Kirchner alteram as leis para prejudicar os grandes grupos de comunicação.

Chávez é explícito. Hoje prende e arrebenta, mas nem sempre foi assim, embora caminhe nesse sentido desde o início. Os fascinados por "governos do povo" - os bem-intencionados, não os vendidos - é que não percebem o andar da carruagem do autoritarismo.

Só se dão conta e protestam quando suas vozes já não podem mais ser ouvidas.

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Pela causa
MERVAL PEREIRA
O GLOBO, 28/08/10

O secretário da Receita Federal, Otacílio Cartaxo, tem razões para se sentir “constrangido e traumatizado”, mas não tem sentido dizer que foi pego “de surpresa”. Ou melhor, só tem sentido se junto admitir que a repartição que chefia está completamente descontrolada, e pedir demissão. Colocado no cargo por um movimento corporativo para substituir a secretária Lina Vieira, aquela que disse que a então ministra Dilma Rousseff pediu para que aliviasse uma investigação sobre a família Sarney, Cartaxo tenta retirar qualquer cunho político do acontecido, mesmo que para isso se desmoralize, levando junto o órgão que comanda.

O aparelhamento do Estado faz a segunda vítima nos últimos dias, portanto, sendo a primeira a Empresa de Correios e Telégrafos que, entregue ao comando inepto de indicados pelo PMDB, está em franca decadência.

Na verdade, se pegarmos a relação de pessoas que tiveram o sigilo fiscal quebrado na agência da Receita Federal em Mauá, São Paulo, é um grande escândalo.

São mais de cem contribuintes, da apresentadora da TV Globo Ana Maria Braga aos sócios das Casas Bahia, passando pelo vice-presidente do PSDB Eduardo Jorge Caldas e mais três pessoas ligadas ao candidato do PSDB à Presidência, José Serra.

Isso mostra que havia um mercado de venda de sigilo fiscal. Mas não mostra, como quer apressadamente garantir Cartaxo e o corregedor da Receita, que não há interesse político por trás da quebra do sigilo dos contribuintes ligados ao PSDB.

Os interesses comerciais que predominaram na quebra do sigilo da maior parte das pessoas relacionadas como vítimas da ação de funcionários da agência da Receita Federal não retiram a gravidade da ação claramente política que aconteceu na mesma agência.

Tanto que os dados fiscais de Eduardo Jorge foram parar em documentos a que a “Folha de S. Paulo” teve acesso a partir de vazamento de informações do próprio comitê eleitoral da candidata oficial, Dilma Rousseff.

É muito forçada essa indignação toda da direção do PT, quando se sabe que anteriormente um caso que poderia ter tido consequências ainda mais graves foi desarmado também por denúncias da imprensa, desta vez da revista “Veja”.

O núcleo de comando do comitê da campanha de Dilma Rousseff, através do jornalista Luiz Lanzetta, entrou em contato com notório araponga para contratá-lo para missões de espionagem.

O escopo da missão abrangia não apenas pessoas ligadas ao candidato oposicionista, como o próprio José Serra, que teria seus telefones pessoais grampeados.

Para aproveitar o pacote, o araponga colocaria escutas também no próprio comitê, devido a uma disputa de poder interna entre o grupo que o contratava, ligado ao hoje candidato a senador em Minas Fernando Pimentel, e o grupo de assessores paulistas.

O fato de a agência da Receita Federal em Mauá ter se transformado num balcão de vendas de informações sigilosas não reduz a gravidade do caso nem despolitiza a questão, se essa foi a intenção dos dirigentes da Receita ao anunciarem seu “constrangimento” diante da descoberta.

O que pode haver de comum nos casos é que as informações podem ter sido conseguidas através de pagamento de propina.

Digo “podem” porque existe também a possibilidade de que as informações sobre as pessoas ligadas ao PSDB tenham sido conseguidas na base do “amor à causa”.

É natural que a corrupção se misture às atividades políticas ilegais, pois transpostas as barreiras da legalidade muitos veem nessas ações clandestinas também uma maneira de fazer um dinheirinho extra.

Logo após as denúncias contra o assessor do gabinete civil Waldomiro Diniz, flagrado apanhando propina do bicheiro Carlos Cachoeira para si e supostamente para campanhas políticas, fato revelado no início do primeiro governo Lula, o então presidente do PT, José Genoino, cunhou a seguinte frase: ‘O erro pela causa o presidente aceita. O erro em causa própria, não’.

Este é um exemplo clássico de critério ético elástico, que gera um movimento descontrolado.

Tudo pode ter começado ‘pela causa’, o que não justifica nada, e terminado em ‘causa própria’.

Outro caso exemplar desse descontrole é o do então secretário-geral do PT, Silvio Pereira, responsável pela indicação de ocupantes dos principais cargos da República no início do governo.

Envolvido no escândalo do mensalão, o Tribunal de Contas da União apontou indícios de superfaturamento nos contratos da GDK com a estatal Petrobrás, onde Silvinho mandava e desmandava.

Descobriu-se no decorrer das investigações que a empresa dera um jipe Land Rover de presente ao ex-secretáriogeral do PT.

O mais grave de tudo é que mais uma vez investigações sobre desvios de condutas na órbita das instituições do Estado que foram aparelhadas pelo PT e partidos aliados parece que não darão em nada.

O caso dos “aloprados” da eleição de 2006, apanhados em flagrante pela Polícia Federal quando negociavam em um hotel em São Paulo a compra de um dossiê contra o então candidato ao governo do estado, José Serra, ainda hoje está insolúvel.

Aquela montanha de dinheiro, cuja fotografia vazou dos bastidores da Polícia Federal para contrariedade de seus comandantes e da cúpula do PT, ainda está até hoje sem uma explicação razoável de sua proveniência.

Não se sabe de ninguém que tenha sido preso pelo crime cometido.

O crime agora descoberto na Receita Federal tem a mesma destinação: produzir dossiês contra adversários políticos, uma baixaria a mais numa campanha eleitoral que vem sendo marcada pela ilegalidade, a começar pelo próprio presidente da República, multado várias vezes pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Investimentos diretos do Brasil na America do Sul

Transcrevendo:

O investimento externo direto do Brasil na América do Sul: o Brasil no World Investment Report 2010 da UNCTAD
Rodrigo Maschion Alves
Mundorama, 12 Aug 2010

Os primeiros impactos da crise financeira internacional na América Latina (termo usado constantemente pela UNCTAD) já apareceram no relatório sobre os investimentos externos diretos. Segundo o World Investment Report 2010 da UNCTAD, Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, a América Latina sofreu perdas, em 2009, de 36% nos fluxos de investimentos entrantes quando comparados com três anos anteriores de crescimento. Os números _ quantidade em milhões de dólares americanos _ dos fluxos aplicados, ou seja, os recursos investidos pelos países da região na própria América Latina ou em outros espaços geográficos do mundo caíram 42%.

Essa queda deveu-se, principalmente, ao comportamento retraído das transnacionais brasileiras. Apesar dos dados negativos para o ano de 2009, o ano de 2010 já apresenta uma tendência de recuperação promovida pelo cenário de crescimento no Brasil, no México e na Argentina: a recuperação iniciou-se no último quarto de 2009 com fluxos recebidos acrescidos de 24% em relação ao segundo quadrimestre de 2009; o primeiro quadrimestre de 2010 já representou um acréscimo de 19% ante o último quarto de 2009. No entanto, os cinco primeiros meses de 2010 já demonstraram uma inflexão positiva para a aplicação de investimentos externos por parte do Brasil. Segundo o referido documento, os investimentos externos do país já totalizaram 7,9 bilhões de dólares para os cinco primeiros meses do ano; trata-se do maior valor já registrado para esta fase dos anos.

Os dados da UNCTAD direcionados para a América do Sul demonstrará ao pesquisador a crescente importância adquirida pelo Brasil e suas transnacionais desde o ano de 2004 neste espaço. Em outros termos, na região, cada vez mais os dados de cada país sobre os investimentos externos diretos entrantes serão influenciados pelos recursos oriundos da economia brasileira. O documento demonstra, também, que a origem da maior presença de companhias do país no espaço sul-americano deveu-se as privatizações dos anos 90 e ao apoio governamental às empresas com atividades internacionais. Para o último, faz-se importante citar a relevância do papel do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no financiamento de aquisições por empresas brasileiras de grupos em outros países da região. Caso pioneiro foi a compra da empresa argentina Swift pela brasileira JBS Friboi na ordem de US$ 200 milhões em 2005. O relatório demonstra que o BNDES já concedeu créditos de 8 bilhões de dólares para empresas brasileiras intensificarem suas ações internacionais, em especial nos setores de construção civil, energia, mineração, bens de capital e agronegócio.

Nesse sentido, boa parte dos investimentos externos diretos realizados pelo Brasil no espaço da América do Sul deve-se aos esforços de incentivo realizados no âmbito do aparelho estatal brasileiro com foco em políticas industriais e comerciais. Ademais, devemos salientar que, a partir do ano de 2003, com o início do governo Lula da Silva e sua priorização da integração sul-americana, promoveu-se o fortalecimento dos laços integradores de aspecto financeiro, o que resultou na intensificação das relações comerciais do Brasil na região. Dentre os esforços do governo Lula, podemos destacar a elevação do Brasil junto à Corporação Andina de Fomento (CAF) de sócio acionista série C para acionista série A, no ano de 2007. Esse é o mesmo patamar dos Estados fundadores da CAF, que são os países da Comunidade Andina (CAN). Outro instrumento regional de intensificação dos laços financeiros e comerciais em que o Brasil reviu sua atuação e que colaborou com maior presença comercial brasileira nos países da região foi o sistema de pagamentos e créditos recíprocos da ALADI, o chamado Convênio de Pagamentos e Créditos Recíprocos (CCR). Muitas obras de infra-estrutura no subcontinente têm seus créditos e pagamentos cursados por esta caixa de compensação. Porém, cabe frisar que a presença das empresas do Brasil na região depende, na sua maior parte, de recursos e ações das companhias.

O relatório de 2010 da UNCTAD indica que, apesar de alguns impactos negativos nos fluxos de investimentos externos recebidos e aplicados na América do Sul, a região já apresenta condições otimistas de recuperação. Ainda de acordo com o relatório, tal recuperação seguirá a tendência positiva dos países em desenvolvimento. Esse conjunto de Estados tornou-se, na primeira década do século XXI, o maior receptor de investimentos do mundo. Na página 47 do relatório encontramos o diagnóstico de que as presenças comercial e econômica das transnacionais brasileiras na América do Sul continuam a colaborar para a recuperação dos investimentos. Quanto à posição do Brasil nos fluxos de investimentos, pode-se averiguar que no ano de 2010 o total dos investimentos externos recebido foi superado pelo aplicado. O fluxo, até julho de 2010, soma 11,2 bilhões de US$ para os investimentos aplicados pelo Brasil e 10,7 bilhões de dólares para aqueles recebidos pelo país. Quais outros fatores explicariam este fenômeno? A UNCTAD salienta que a valorização do real e a perda de valor das empresas estrangeiras possibilitaram boas oportunidades para o empresário brasileiro em suas atividades internacionais de aquisição de companhias. A instituição ainda destaca que a melhora macroeconômica interna do país possibilitou o acesso privilegiado aos créditos que fomentam a internacionalização da atividade econômica do Brasil. O relatório conclui que as possibilidades comerciais que a região apresenta em termos de mercado consumidor, de custo favorável de mão de obra e de insumos também são fatores pertinentes para a internacionalização das empresas brasileiras no subcontinente.

Em vista dos dados apresentados pelo World Investment Report 2010 da UNCTAD, sinalizamos a conclusão de que é maior a importância das presenças econômica e comercial do Brasil na América do Sul a partir dos anos 2000, presenças essas que impactam diretamente nos fluxos e nos estoques de investimentos direcionados para o subcontinente. Como relação causal direta, o Balanço de Pagamentos dos países receptores do investimento externo direto brasileiro são cada vez mais afetados por esses recursos. Isso sinaliza o crescente impacto que a estrutura produtiva e econômica do Brasil exerce na região. Os dados são, também, suficientes para indicar o crescente peso político do Brasil enquanto ator regional capaz de definir parte dos contornos diplomáticos sul-americanos. Portanto, sinalizamos que a área em destaque converteu-se em importante plataforma de inserção e de expansão internacional para a economia brasileira.

Bibliografia:
UNCTAD (2010). World Investment Report: Investing in a low-carbon economy. New York, Genebra: United Nations.

Rodrigo Maschion Alves é pesquisador assistente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA.

E por falar na Venezuela...: um opositor sumamente estupido (ao que parece)

Vejam como são estúpidos esses opositores venezuelanos ao projeto democrático do coronel Chávez: totalmente desatentos ao fato de que eles devem estar sob constante vigilância do aparato de segurança do dito coronel -- nisso bem instruído pelos agentes da Seguridad cubana -- eles se permitem acumular explosivos no apartamento pessoal de um dos líderes da oposição, e justo numa fase pré-eleitoral, quando eles estariam presumivelmente sob controle reforçado.
Como eles podem ser tão estúpidos assim?
Não é preciso muita imaginação da parte da repressão do coronel para deduzir que essa oposição tentaria esses golpes baixos, aliás terroristas.
Eles precisam fazer um curso com o coronel golpista e com os cubanos: estes sim sabem das coisas, inclusive como montar golpes, altos e baixos...
Paulo Roberto de Almeida

Ministerio Público acusó a Alejandro Peña Esclusa por ocultar explosivos en su residencia
Agencia Venezolana de Noticias (AVN), Viernes 27/08/2010

El Ministerio Público acusó al activista político Alejandro Peña Esclusa, detenido el pasado 12 de julio, por miembros del Servicio Bolivariano de Inteligencia Nacional (Sebin), de ocultar explosivos hallados en su residencia, ubicada en Caracas.

El procedimiento fue realizado con el apoyo de los funcionarios del Sebin, quienes encontraron 100 cápsulas de detonadores de calor y dos de tipo eléctrico, así como aproximadamente 900 gramos de C-4, entre otros elementos de interés criminalístico.

Peña Esclusa está presuntamente vinculado con los hechos de carácter terrorista que Francisco Chávez Abarca venía a coordinar en Venezuela, según informó el Ministerio Público en un boletín de prensa.

El fiscal 4° nacional y su auxiliar, Didier Rojas y Andrés Bravo, respectivamente, acusaron a Peña Esclusa por presuntamente incurrir en los delitos de tráfico de arma de guerra en la modalidad de ocultamiento y asociación para delinquir, previstos y sancionados en la Ley Orgánica Contra la Delincuencia Organizada.

En ese sentido, el tráfico de arma de guerra se encuentra estipulado en el artículo 9 de la citada Ley, que refiere: "Quien importe, exporte, fabrique, suministre u oculte de forma indebida algún arma o explosivo, será castigado con pena de cinco a ocho años de prisión. Si se trata de arma de guerra la pena será de seis a diez años de prisión".

En el escrito, presentado ante el Tribunal 6° de Control del Área Metropolitana de Caracas (AMC), los fiscales solicitaron la admisión de la acusación, de los medios y pruebas ofrecidos y pidió se ordene el enjuiciamiento de Peña Esclusa.

También se solicitó la ratificación de la medida de privación de libertad y que se mantenga su reclusión en la sede del Sebin (centro de Caracas).

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E agora, a versão da vítima, segundo matéria que me foi remetida com base no comentário postado abaixo, e cuja íntegra transcrevo aqui (para os videos, referir-se ao post original).
Como se vê, a vítima é responsável por sua própria prisão, pois o cidadão em questão não contava com a astúcia do coronel, sempre atento para a segurança do país e possíveis ameaças terroristas (sempre possíveis, algumas até emanando do próprio Estado).
Paulo Roberto de Almeida

Detalhes sobre a farsa do "terrorismo" de Peña Esclusa
Nota Latina, 13 de julho de 2010

Desde cedo da manhã tento falar com Indira, esposa de Alejandro Peña Esclusa, mas a ligação cai direito numa caixa-postal. Confesso que estranhei porque é uma gravação feita na voz de um homem que não é Alejandro, me parecendo que a essa altura o telefone está não só grampeado como controlado pelo KGB bolivariano.

Na manhã de hoje Indira deu uma entrevista a Fernando Londoño, em seu programa “La Hora de la Verdad”, que teve tantas vezes o próprio Alejandro como convidado. Nesta entrevista Indira conta como a coisa aconteceu, deixando claro para quem não é ignorante nem conivente com esta patifaria que as “provas” foram plantadas grosseiramente, pois “encontraram” material explosivo guardado numa gaveta do quarto de Cecilia, a filha mais nova do casal, com apenas 7 anos de idade. É preciso ser muito estúpido para crer que, ou Alejandro expunha a própria filha, guardando material explosivo em seu quarto, ou então a menina também faz parte da conspiração terrorista. Ouçam a entrevista aqui:
(video)

É odioso ouvir estas coisas! Observem que tudo nesta ação é ilegal, pois invadiram a residência da família sem uma ordem judicial, não permitiram a presença do advogado de Alejandro, que ficou plantado na porta, não permitiram a presença de vizinhos do casal como testemunhas, constrangeram e amedrontaram as crianças, pois queriam revistar seus quartos empunhando uma pistola e, ademais de plantar coisas que incriminariam Alejandro, eram 13 policiais revirando a casa inteira acompanhados de dois estranhos que “eles” trouxeram alegando que eram “vizinhos” que estavam ali para testemunhar a batida que os criminosos faziam. Indira não reconhece esses tipos como “vizinhos” e não sabe sequer se eram pessoas que passavam pela rua ou se já foram trazidos pelos agentes da polícia política.

O vídeo abaixo mostra o momento da invasão gravado pela TV estatal “VTV”, a única presente para documentar os fatos, corroborar a mentira plantada e ser a única versão que o cidadão comum teve acerca dos fatos. Na entrevista, David Colmenares informa que foram encontradas umas “cápsulas de explosivos”, que Alejandro “admitiu” ter conhecimento das mesmas em sua casa e que por isso “não resistiu” à detenção. Indira, por sua vez, nega veementemente que isto tenha ocorrido, sobretudo porque ela SABE que aquele tipo de material NUNCA existiu em sua casa até aquele momento e que, sozinha, ela não podia controlar 13 pessoas espalhadas por seu apartamento revirando e vasculhando tudo em busca de provas incriminatórias. Como não as encontraram, providenciaram uma deixando a marca da mentira bem evidente, plantando-a no quarto de uma menina de 7 anos. Vejam no vídeo abaixo:

Detención de Peña Esclusa
E conforme eu havia dito ontem, por conhecer perfeitamente bem os métodos desta canalha criminosa, hoje recebo um vídeo recomendado por meu amigo Alex, o “Cavaleiro do Templo”, em que María Elvira tem uma conversa com dois ilustres personagens, assíduos de seu programa “María Elvira Live”, que são o ex Capitão de Navio da Armada Venezuelana, Bernardo Jurado, e o advogado cubano Camilo Loret de Mola, acostumado a conversar com presos logo após passarem por interrogatórios em Cuba. Assistam ao vídeo com muita atenção:

DETIENEN PRESUNTO TERRORISTA EN CARACAS. "MARIA ELVIRA LIVE" 07.07.2010
Observem logo nos primeiro minutos do vídeo, numa reportagem de TeleSur, a camaradagem no cumprimento entre Chávez Abarca e seu interrogador. Ora, não é necessário ser um perito em coisa nenhuma para saber que numa situação de interrogatório as partes na situação são oponentes, ou no mínimo desconhecidas, onde um exige explicações por desconfiar de que o interrogado tem algo “anormal” ou irregular a esconder, e o outro encontra-se numa situação de constrangimento tendo que explicar, justificar ou negar as acusações que se lhe fazem naquele momento.

Então Camilo, como cubano, observa que o interrogador tem sotaque CUBANO! E eu deduzo que os dois são velhos camaradas e que a farsa está perfeitamente corroborada através das imagens gravadas. Há perguntas irrespondíveis acerca deste elemento Chávez Abarca, conforme eu levantei a suspeita na edição anterior, que esses dois senhores também observaram, como por exemplo: se a polícia venezuelana o acusa de ter vindo ao país a soldo de Posadas Carriles para cometer atos de terrorismo e desestabilizar o governo, por que ele foi deportado no mesmo dia que chegou a Caracas? Se ele foi deportado imediatamente, como pôde ter entregado todo o esquema, nomes dos envolvidos, inclusive denunciado Peña Esclusa como seu cúmplice, numa rapidez jamais vista sem sofrer qualquer bofetada para confessar? Que espécie de “espião” é esse que entrega tudo de bandeja já na primeira pergunta cordial? Tem mais: se ele pretendia cometer atos de terrorismo na Venezuela, por que não ficou detido lá para averiguação das informações, depois julgado e preso?

São tantos os “buracos” nesta história macabra que fica claro, para qualquer pessoa que tenha um mínimo de inteligência e acompanhe os fatos, que este circo foi montado com o único objetivo de levantar uma cortina de fumaça sobre o fracasso do tal bolivarianismo, do colapso energético, da semi-falência da PDVSA, das toneladas de comida apodrecidas em containers enquanto o povo passa fome, e uma maneira eficaz de “justificar” o encarceramento de todos os seus opositores de uma cajadada só. A lista dos próximos a serem acusados por crimes que não cometeram é grande e Alejandro foi apenas o primeiro. Eles sempre fazem assim: se não há qualquer prova para tirar do caminho os opositores, eles inventam, plantam informações falsas e até provas materiais concretas, como fizeram com Alejandro.

E, posso estar enganada, mas acredito que este episódio não só foi planejado por Cuba, como a beneficia também, justo no momento em que as críticas em relação aos presos-políticos “obrigaram” o regime a libertar 7 deles, como “prova de generosidade” e para maquiar uma falsa abertura de Raúl, o ébrio.

Havia muito mais coisas que eu desejava publicar nesta edição de hoje, mas meu amigo Heitor De Paola já o fez, com artigos e matérias de outros sites e que, por isso, recomendo que não deixem de visitá-lo pois são todas muito importantes para se conhecer o caso mais a fundo. Fiquem com Deus até a próxima!

Comentários: G. Salgueiro

sábado, 28 de agosto de 2010

Militares dos EUA ocupam postos de generais no Exército brasileiro...

Calma, calma, não é bem isso. O título, assim cheio de renúncia à soberania e de cenas explícitas de entreguismo ao império, era só para chamar a atenção para uma situação "semelhante", que ocorre entre Cuba e Venezuela.
Este último país parece ter renunciado completamente à sua soberania, fazendo com mais de 20 mil (alguns dizem 60 mil) militares e homens da inteligência cubana trabalhem em instituições de defesa e de informações da Venezuela.
Não se sabe o que pensam a respeito os militares venezuelanos, mas os generais brasileiros devem ficar horrorizados. Seria como se eles permitissem que militares americanos servissem como generais em nosso exército.
Paulo Roberto de Almeida

Cuba-Venezuela: Mas de 20 Altos Oficiales Cubanos ocupan puestos claves
ABC (Espanha), 27 Agosto 2010

«Somos la misma cosa», dijo el presidente cubano Raúl Castro cuando pasaba revista a los oficiales venezolanos en su última visita a Caracas tras la reunión de la Alianza Bolivariana (ALBA), hace un mes. Sin embargo, su anfitrión, Hugo Chávez, le corrigió: «Somos la misma patria», haciendo valer su afinidad con el lema inmortalizado por Fidel Castro: «Patria o muerte, venceremos». La frase de identidad y similitud compartida por los dos aliados viene a confirmar la fuerte y sistemática presencia militar cubana y su influencia en el alto mando de la Fuerza Armada de Venezuela, denunciada recientemente por el general Antonio Rivero González, ex director de Protección Nacional de Defensa Civil. Una alianza que se ha acelerado en los últimos meses: hasta 20 altos oficiales -coroneles y generales- son ya cubanos en el Ejército venezolano, ocupando puestos clave.

El matrimonio de conveniencia entre los regímenes es denominado como «el milagro de la Viagra» por la analista venezolana Elizabeth Burgos -ex esposa del escritor y filósofo francés Regis Debrais, amigo íntimo de Fidel Castro-. Burgos señala que los hermanos Castro han encontrado en Chávez «el sostén financiero después del derrumbe de la URSS», no es solo un aliado más.

Ésta no es la primera vez que el régimen castrista intenta acaparar los recursos económicos y energéticos de Venezuela y convertir la patria de Simón Bolívar en su punta de lanza para su proyecto continental. «En los años 60, Fidel Castro intentó tres veces invadir las costas venezolanas», recuerda el vicealmirante Iván Carratú, ex director del Instituto de Altos Estudios de Defensa Nacional.

Lo que Cuba no logró en los años sesenta en Venezuela, ahora lo está consiguiendo sin pegar un solo tiro. Esta vez «el Ejército cubano no nos ha invadido, en el sentido literal de la palabra. La sumisión del chavismo no es consecuencia de una derrota militar, tampoco existen condiciones en el mundo que justifiquen una alianza de esta naturaleza», explica el analista Manuel Felipe Sierra.

La penetración cubana se intensificó en 2007 con la reforma de la Ley Orgánica de las Fuerzas Armadas Nacionales, que politiza el sector militar venezolano e incorpora el concepto de «las milicias populares» con el fin de defender la revolución y a su máximo líder.

Oficialmente Chávez sostiene que la presencia cubana no pasa de 30.000 agentes. Sin embargo, otras cifras oficiales hablan de 60.000 cubanos distribuidos en áreas claves como seguridad, inteligencia, asesoramiento policial y militar, control de los sistemas de registro de identidad, pasaportes y notarías.

También la importación de alimentos está en manos de los cubanos, incluidas las 70.000 toneladas de comida que ha llegado a los puertos venezolanos. Y el aeropuerto caraqueño de Maiquetía recibe dos vuelos diarios de cubanos como si fueran «fantasmas» por la falta de registro oficial.

Como la KGB o Stasi
Más que ideológica, la relación entre Chávez y los Castro es simbiótica. Nace de las necesidades de ambos regímenes. «El plan de perpetuarse en el poder de Chávez necesita de una estructura de seguridad y espionaje cultivada durante 50 años por la KGB soviética y la Stasi alemana y con sobrada experiencia en actividades contra la CIA. Eso lo tiene Cuba», señala Sierra.

Con el suministro gratuito de 95.000 barriles diarios de petróleo, Chávez le garantiza la prolongación al agónico fidelismo. Además, a medida que baja en los sondeos la popularidad de Chávez -como sucede ahora por la crisis económica: el 66% de los venezolanos afirma estar totalmente insatisfecho con su gestión-, el mandatario venezolano «necesitará cada vez más ayuda de los cubanos para consolidar su proyecto totalitario». Una simbiosis en torno al «Patria o muerte». Y es que Castro y Chávez quieren que Cuba y Venezuela sean la misma «cosa».

Generosidade com chapeu alheio - isencoes tarifarias para PMDRs

PMDRs, para quem não sabe, são os países de menor desenvolvimento relativo, ou "super-pobres", se desejarem, aos quais o Brasil promete completa isencao tarifaria.
Fica a dúvida sobre as normas do Mercosul a esse respeito, se é que o bloco possui alguma resolução regulando o assunto (pois não imagino os sócios do Mercosul concedendo vantagens iguais aos super-pobres). Se o Brasil concedeu as vantagens de modo isolado, fica mais difícil impedir que o Uruguai negocie o seu acordo de preferências tarifárias com os Estados Unidos, por exemplo.
Bem, o resto está na matéria abaixo.
Paulo Roberto de Almeida

Generosidade arriscada
Editorial O Estado de S.Paulo, 27 de agosto de 2010

Em mais um gesto destinado a projetar a imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no exterior, o governo tomou a decisão política de eliminar as tarifas de importação cobradas de produtos originários dos países mais pobres do mundo. Esse ato contribuirá para calçar uma eventual "campanha eleitoral" internacional de Lula após o término de seu mandato, pretensão que ele garante não ter. Quaisquer que sejam suas reais intenções, certamente ele terá ganhos políticos com a decisão. Resta saber que ganhos terá o País.

Provavelmente não tenha nenhum. E é muito mais provável que tenha perdas, advertem representantes da indústria. Eles argumentam, com razão, que a medida, destinada a beneficiar os 49 países mais pobres do planeta, abre caminho para países com muito maior poderio econômico e comercial utilizarem as nações beneficiadas pela isenção, exportando dali para o Brasil sem impostos, numa concorrência desleal e predatória com o produtor nacional, que paga todos os impostos locais.

O programa de isenção das importações originárias dos países mais pobres do mundo - classificados de acordo com critérios da ONU - foi aprovado pela OMC na reunião de Hong Kong, em dezembro de 2005. Na versão originalmente aprovada, a isenção seria obrigatória para os países industrializados e optativa para os demais membros da OMC, e se limitaria aos países integrantes da organização, dos quais 32 são considerados muito pobres. A relação da ONU, bem maior, é formada por 33 países africanos, 15 asiáticos e um latino-americano, o Haiti.

Na reunião ministerial da OMC realizada em Genebra no ano passado, em mais uma das muitas tentativas de evitar o fracasso completo da Rodada Doha - cujo objetivo é tornar mais livre o comércio mundial -, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, reafirmou a intenção do governo brasileiro de colocar em prática em 2010 o programa de ajuda aos países mais pobres aprovado quatro anos antes em Hong Kong, que ficou conhecido como duty free, quota free.

Oficialmente, o governo justifica a decisão como um ato de boa vontade do Brasil no sentido de fortalecer a Rodada Doha, ao colocar em prática algumas de suas poucas decisões. Há tempos, porém, a indústria se preocupa com o impacto que esse programa pode ter. Por conta dessa preocupação, a Confederação Nacional da Indústria enviou carta ao ministro Celso Amorim recomendando "fortemente" a suspensão, pelo menos temporária, da medida, como mostrou reportagem de Raquel Landim publicada quarta-feira no Estado.

O grande temor do setor industrial é o de que muitos países beneficiados se transformem em plataformas de montagem de produtos chineses, pois a China vem fazendo pesados investimentos em países africanos.

Além disso, entre os países que ganhariam o benefício brasileiro está Bangladesh, que se transformou num grande exportador de produtos têxteis para os EUA e a União Europeia e, com a isenção, ganharia imensas facilidades de acesso ao mercado brasileiro, concorrendo em condições muito favorecidas com os produtores locais.

O governo argumenta que as importações brasileiras desses 49 países é muito pequena - excluído o petróleo, representam menos de 0,1% do total importado pelo País. "Não há motivos para o temor da indústria", disse o diretor do departamento econômico do Itamaraty, Carlos Márcio Cozendey.

A indústria discorda. "É muito fácil fazer concessão com o bolso dos outros", disse ao Estado o gerente de comércio exterior da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica, Mário Branco. "Produtos feitos na China podem ser enviados como da Zâmbia. E, em três meses, as máquinas (chinesas) podem estar efetivamente lá."

As medidas devem incluir uma espécie de "gatilho" para as importações dos países pobres. Se as compras isentas superarem 20% das importações totais de determinado produto, será cobrada metade da tarifa. Se superarem 40%, o país fornecedor perderá o benefício da isenção.

Governo e indústria discutirão essas e outras regras nos próximos dias.

Mercado político e mercados econômicos


Marx e as eleições brasileiras
Paulo Roberto de Almeida

Uma tendência bem conhecida da ciência política consiste em fazer uma análise econômica dos processos eleitorais e dos sistemas políticos. Embora se possa dizer que metodologias e problemas podem ser aproximados, para fins de análise e de interpretação, o fato é que existem diversos elementos diferenciadores que fazem com que o mercado político não seja o exato equivalente do mercado de bens e serviços correntes. Este último é, em princípio, caracterizado pela atomização dos ofertantes e pela livre disposição de seus recursos da parte dos demandantes, ao passo que o primeiro se caracteriza por tendências bem claras ao monopólio e à exclusão.
Independentemente, porém, do grande número de variáveis que concorrem para diferenciar um do outro, pode-se dizer que mercado político não é igual ao mercado de bens e serviços correntes por um motivo muito simples: embora o Estado possa interferir tanto num quanto noutro – por meio de regras quanto ao seu funcionamento, ou por meio de impostos sobre as transações, por exemplo –, nos mercados puramente econômicos, os compradores dispõem (pelo menos nos sistemas capitalistas e razoavelmente democráticos) de liberdade completa para determinar quantidades, tipos e formatos das prestações dos bens e serviços aos quais pretendem alocar seus ativos financeiros. O consumidor é, em princípio, soberano nas suas escolhas e atua com base nas informações disponibilizadas pelos produtores, que teoricamente concorrem entre si pelas preferências do primeiro. Economistas liberais tendem a considerar a economia dos livres mercados como sendo uma espécie de “ditadura do consumidor”, o que se aproxima apenas parcialmente da realidade (já que cartéis, monopólios, coalizões e colusões de produtores deformam as condições de concorrência, em detrimento dos consumidores, obviamente). Na prática, todos os mercados são imperfeitos.
Nos mercados políticos, ao contrário dos de natureza econômica (ou com bem maior ênfase do que nestes), o Estado é, não apenas um interlocutor incontornável e um regulador necessário, como atua, também, como agente de seus próprios interesses, obviamente não enquanto Estado, mas enquanto governo. O Estado é, em grande medida, uma figura abstrata, virtual ou, em certo sentido, quase ficcional; ele existe, obviamente pelas suas instituições e pelo conjunto de leis e normas que regulam a ação de seus agentes permanentes, mas se expressa de modo muito mais afirmado enquanto ator de primeiro plano em suas roupagens de governo e de coalizão de forças a serviço dos partidos e dos grupos de interesse representados e ocupando suas instituições dotadas de vontade política.
Nessa condição, o Estado deixa de ser abstrato para passar a representar interesses políticos, econômicos e projetos tangíveis e intangíveis vinculados aos líderes políticos que ocupam temporariamente suas alavancas de comando. Isto é básico e elementar, conhecido de qualquer estudante de graduação que tenha lido seus manuais de ciência política ou debruçado-se sobre a obra de Max Weber. Aliás, até mesmo Marx, nas páginas muito rudimentares do Manifesto Comunista, ou naquelas melhor elaboradas do 18 Brumário, já tinha detectado essa captura do Estado por forças políticas ou por personagens excepcionais – nem todos representando as “elites” tradicionais – que se movimentam no grande palco das lutas pelo poder.

Uma interpretação marxista dos embates eleitorais no Brasil de 2010
Justamente, se Marx fosse chamado a reescrever suas obras políticas mais conhecidas – como os já citados Manifesto e 18 Brumário, acrescidos do Luta de Classes na França – adaptando-as ao cenário do Brasil atual, eis o que ele talvez redigisse, como síntese da campanha eleitoral em curso e da própria conjuntura.
Se considerarmos o estado atual da luta de classes no Brasil, depois de anos e anos de afirmação de uma liderança cesarista e carismática, o que se pode dizer é que todas as classes se renderam ao Bonaparte do momento. Não ocorreu, para todos os efeitos, qualquer golpe na trajetória política recente do país, algo inesperado como um raio caído de um céu azul. Não; tudo foi o resultado racional-legal da lenta ascensão de classes pouco trabalhadoras ao pináculo do poder, o produto final da lenta acumulação de forças pelo partido da reforma conservadora. O final lógico desse teatro de lutas contra os burgueses liberais nos últimos anos já era o esperado: o manto imperial caiu, finalmente, nos ombros do pequeno Bonaparte, sem sequer algum gesto dramático, menos ainda com qualquer sinal de tragédia. Foi, assim, um triunfo de comédia.
Todas as classes, com exceção de uma fração extremamente reduzida de ideólogos da pequena burguesia libertária, se renderam ao líder aclamado; a minoria que o ataca não tem qualquer força social atrás de si para contestar o seu domínio completo sobre a sociedade. A máquina burocrático-sindical já estava ganha desde o início, pois foi dela mesmo que o novo Cesar emergiu para uma ascensão lenta, mas irresistível. Os movimentos desorganizados do lumpesinato e do proletariado não sindicalizado foram os que convergiram em segundo lugar, pois eles encontraram no Tesouro da República a justa compensação pela escolha judiciosa que fizeram. Não foi preciso repetir a história, sequer como farsa, no caso da grande burguesia industrial e dos representantes da alta finança: eles já tinham sido convencidos, desde antes da ascensão do imperador, de que seus interesses de classe seriam regiamente compensados, como de fato o foram, pela fidelidade demonstrada ao novo esquema de poder. Todos eles foram colocados na mesma categoria de apoiadores, meras figuras decorativas na urna de votos do novo Cesar, como se fossem simples unidades indistintas de um grande saco de batatas.
O fato é que até mesmo o antigo partido da reforma conservadora foi parar nesse saco de batatas, e virou o partido da Ordem, submisso como todos os outros ao poder do chefe supremo. As bases de seu poder são relativamente transparentes, pois basta seguir o itinerário do dinheiro que escorre dos cofres públicos – isto é, dos bolsos da burguesia e da pequena burguesia, dos grandes proprietários fundiários, dos caixas das empresas da burguesia industrial, e até mesmo dos parcos tostões do proletariado e seus aliados menores. Temos, em primeiro lugar, a plutocracia financeira, aquela que sempre se opôs ao partido da reforma, quando este era desestabilizador, mas que logo se acomodou, ao constatar que o grande líder propunha, na verdade, uma coalizão diferente para manter o mesmo esquema de poder real; ela foi contemplada, como sempre, com os juros da dívida pública, sem precisar fazer qualquer esforço no mercado de capitais ou na busca de clientes para seus empréstimos extorsivos. A grande burguesia das fábricas e dos negócios comerciais também soube encontrar o seu nicho no novo esquema de poder: um mercantilismo renascido com um Estado ainda mais forte, capaz de dispensar empréstimos facilitados, isenções fiscais, tarifas protetoras e toda sorte de prebendas e subsídios que tinham uma existência mais modesta na antiga República neoliberal.
Vem em seguida a nova aristocracia sindical, que já não era operária havia anos, provavelmente a décadas; sua fração burocrática converteu-se em parte integrante da nomenklatura estatal, a nova classe privilegiada, que alguém já chamou de “burguesia do capital alheio”. A maior parte, porém, continuou nas corporações sindicais, agora locupletando-se de fundos públicos, que lhe são repassados sem qualquer controle. Junto com os militantes do antigo partido da reforma, eles constituem os elos mais relevantes do novo peronismo em construção, uma nova força política que é puro movimento, sem qualquer doutrina ou construção teórica mais elaborada. Os aliados da academia, que poderiam fornecer uma base intelectual para o partido da reforma, os universitários gramscianos, estes parecem singularmente estéreis na produção de novas idéias, pois ficam repetindo velhos slogans do socialismo do século 19, sem qualquer originalidade ou refinamento. São tão atrasados, e alienados, esses acadêmicos repetitivos, que terminaram por ver num coronel golpista, de notórias tendências fascistas, um líder progressista do novo socialismo; o êmulo de Mussolini pretende que o seu socialismo seja do século 21, quando este nada mais constitui senão uma confusão mental e uma construção estatal digna do que havia de pior no sovietismo esclerosado.
Outros componentes do mesmo saco de batatas são os funcionários públicos, alguns verdadeiros mandarins, a maioria simples beneficiários da prodigalidade estatal, que, na média, recebem o dobro do que ganhariam na iniciativa privada, para níveis de produtividade que são, na média, menos da metade daquelas do setor privado. Figuram ainda no saco, finalmente, os recipientes do maior programa social do mundo, que vem a ser, também, um grande curral eleitoral: o lumpesinato, de forma geral, e os vários lumpens urbanos, em particular, com alguns pequeno-burgueses espertalhões aqui e ali. Não se deve esquecer, tampouco, tubérculos igualmente vistosos, como os beneficiários de bolsas para diversas categoriais sociais ou as cotas para os representantes do Apartheid em formação, os promotores do novo racismo oficial.
Ficam de fora do saco de batatas apenas e tão somente 3 ou 4% do eleitorado, representado politicamente por figuras teimosas, que recusam inexplicavelmente o mito do demiurgo e que pretendem continuar o combate de retaguarda, sem qualquer esperança de reverter o curso do processo político no futuro previsível. Esses novos mencheviques intelectuais também fazem sua própria história, mesmo se eles ainda não têm consciência disso: eles não podem, contudo, esperar fazer sua revolução a partir de um passado já enterrado; apenas em direção ao futuro, embora o caminho seja longo e os resultados muito incertos.
O que parece certo é que a mistura de pequeno Napoleão com um Perón improvisado também terá um dia sua estátua derrubada do alto da coluna Vendôme, não tanto como resultado de uma nova luta de foices e martelos, mas como o produto de uma lenta evolução educacional. Esta é a revolução mais difícil de ser provocada, mas constitui, legitimamente, o único processo revolucionário de que o Brasil necessita.

Zhengzhou, 24.08.2010; Shanghai, 26.08.2010

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A frase bonapartista:

'Ainda tenho caneta para fazer miséria neste País', diz Lula

1963 March for Civil Rights - Martin Luther King speech "I have a dream..."

Em 28 de agosto de 1963 aconteceu a marcha pelos direitos civis sobre Washington, liderada pelo pastor Martin Luther King Jr, quando ele pronunciou seu famoso discurso "I have a dream..."

200,000 March for Civil Rights in Orderly Washington Rally; President Sees Gain for Negro
By E. W. KENSWORTHY
Special to THE NEW YORK TIMES

ACTION ASKED NOW 10 Leaders of Protest Urge Laws to End Racial Inequity

Washington, Aug. 28 -- More than 200,000 Americans, most of them black but many of them white, demonstrated here today for a full and speedy program of civil rights and equal job opportunities.

It was the greatest assembly for a redress of grievances that this capital has ever seen.

One hundred years and 240 days after Abraham Lincoln enjoined the emancipated slaves to "abstain from all violence" and "labor faithfully for reasonable wages," this vast throng proclaimed in march and song and through the speeches of their leaders that they were still waiting for the freedom and the jobs.

Children Clap and Sing

There was no violence to mar the demonstration. In fact, at times there was an air of hootenanny about it as groups of schoolchildren clapped hands and swung into the familiar freedom songs.

But if the crowd was good-natured, the underlying tone was one of dead seriousness. The emphasis was on "freedom" and "now." At the same time the leaders emphasized, paradoxically but realistically, that the struggle was just beginning.

On Capitol Hill, opinion was divided about the impact of the demonstration in stimulating Congressional action on civil rights legislation. But at the White House, President Kennedy declared that the cause of 20,000,000 Negroes had been advanced by the march.

The march leaders went from the shadows of the Lincoln Memorial to the White House to meet with the President for 75 minutes. Afterward, Mr. Kennedy issued a 400-word statement praising the marchers for the "deep fervor and the quiet dignity" that had characterized the demonstration.

Says Nation Can Be Proud

The nation, the President said, "can properly be proud of the demonstration that has occurred here today."

The main target of the demonstration was Congress, where committees are now considering the Administration's civil rights bill.

At the Lincoln Memorial this afternoon, some speakers, knowing little of the way of Congress, assumed that the passage of a strengthened civil rights bill had been assured by the moving events of the day.

But from statements by Congressional leaders, after they had met with the march committee this morning, this did not seem certain at all. These statements came before the demonstration.

Senator Mike Mansfield, of Montang, the Senate Democratic leader, said he could not say whether the mass protest would speed the legislation, which faces a filibuster by Southerners.

Senator Everett McKinley Dirksen of Illinois, the Republican leader, said he thought the demonstration would be neither an advantage nor a disadvantage to the prospects for the civil rights bill.

The human tide that swept over the Mall between the shrines of Washington and Lincoln fell back faster than it came on As soon as the ceremony broke up this afternoon, the exodus began. With astounding speed, the last buses and trains cleared the city by midevening.

At 9 P.M. the city was as calm as the waters of the Reflecting Pool between the two memorials.

At the Lincoln Memorial early in the afternoon, in the midst of a songfest before the addresses, Josephine Baker, the singer, who had flown from her home in Paris, said to the thousands stretching down both sides of the Reflecting Pool:

"You are on the eve of a complete victory. You can't go wrong. The world is behind you."

Miss Baker said, as if she saw a dream coming true before her eyes, that "this is the happiest day of my life."

But of all the 10 leaders of the march on Washington who followed her, only the Rev. Dr. Martin Luther King Jr., president of the Southern Christian Leadership Conference, saw that dream so hopefully.

The other leaders, except for the three clergymen among the 10, concentrated on the struggle ahead and spoke in tough, even harsh, language.

But paradoxically it was King--who had suffered perhaps most of all--who ignited the crowd with words that might have been written by the sad, brooding man enshrined within.

As he arose, a great roar welled up from the crowd. When he started to speak, a hush fell.

"Even though we face the difficulties of today and tomorrow, I still have a dream," he said.

"It is a dream that one day this nation will rise up and live out the true meaning of its creed: 'We hold these truths to be self-evident, that all men are created equal.'"

Dream of Brotherhood

"I have a dream..." The vast throng listening intently to him roared.

"...that one day on the red hills of Georgia, the sons of former slaves and the sons of former slave-owners will be able to sit together at the table of brotherhood.

"I have a dream..." The crowd roared.

"...that one day even the State of Mississippi, a state sweltering with the heat of injustice, sweltering with the heat of oppression, will be transformed into an oasis of freedom and justice.

"I have a dream..." The crowd roared.

"...that my four little children will one day live in a nation where they will not be judged by the color of their skin but by the content of their character.

"I have a dream..." The crowd roared.

"...that one day every valley shall be exalted, every hill and mountain shall be made low, the rough places will be made plain, and the crooked places will be made straight, and the glory of the Lord shall be revealed and all flesh shall see it together."

As Dr. King concluded with a quotation from a Negro hymn- "Free at last, free at last, thank God almighty"- the crowd, recognizing that he was finishing, roared once again and waved their signs and pennants.

But the civil rights leaders, who knew the strength of the forces arrayed against them from past battles, knew also that a hard struggle lay ahead. The tone of their speeches was frequently militant.

Roy Wilkins, executive secretary of the National Association for the Advancement of Colored People, made a plan that he and his colleagues thought the President's civil rights still did not go nearly far enough. He said:

"The President's proposals represent so moderate an approach that if any one is weakened or eliminated, the remainder will be little more than sugar water. Indeed, the package needs strengthening."

Harshest of all the speakers was John Lewis, chairman of the Student Nonviolent Coordinating Committee.

"My friends," he said, "Let us not forget that we are involved in a serious social revolution. But by and large American politics is dominated by politicians who build their career on immoral compromising and ally themselves with open forums of political, economic and social exploitation."

He concluded:

"They're talking about slowdown and stop. We will not stop.

"If we do not get meaningful legislation out of this Congress, the time will come when we will not confine our marching to Washington. We will march through the South, through the streets of Jackson, through the streets of Danville, through the streets of Cambridge, through the streets of Birmingham.

"But we will march with the spirit of love and the spirit of dignity that we have shown here today."

In the original text of the speech, distributed last night, Mr. Lewis said:

"We will not wait for the President, the Justice Department, nor the Congress, but we will take matters into our own hands and create a source of power, outside of any national structure, that could and would assure us a victory."

He also said in the original text that "we will march through the South, through the heart of Dixis, the way Sherman did."

It was understood that at least the last of these statements was changed as a result of a protest by the Most Rev. Patrick J. O'Boyle, Roman Catholic Archbishop of Washington, who refused to give the invocation if the offending words were spoken by Mr. Lewis.

The great day really began the night before. As a half moon rose over the lagoon by the Jefferson Memorial and the tall lighted shaft of the Washington Monument gleamed in the reflecting pool, a file of Negroes from out of town began climbing the steps of the Lincoln Memorial.

There, while the carpenters nailed the last planks on the television platforms for the next day the TV technicians called through the loudspeakers, "Final audio, one, two, three, four," a middle-aged Negro couple, the man's arm around the shoulders of his plump wife, stood and read with their lips:

"If we shall suppose that American slavery is one of the offenses which in the providence of God must needs come, but which having continued through His appointed time, He now wills to remove..."

The day dawned clear and cool. At 7 A.M. the town had a Sunday appearance, except for the shuttle buses drawn up in front of Union Station, waiting.

By 10 A. M. there were 40,000 on the slopes around the Washington Monument. An hour later the police estimated the crowd at 90,000. And still they poured in.

Because some things went wrong at the monument, everything was right. Most of the stage and screen celebrities from New York and Hollywood who were scheduled to begin entertaining the crowd at 10 did not arrive at the airport until 11:15.

As a result the whole affair at the monument grounds began to take on the spontaneity of a church picnic. Even before the entertainment was to begin, groups of high school students were singing with wonderful improvisations and hand-clapping all over the monument slope.

Civil rights demonstrators who had been released from jail in Danville, Va., were singing:

"Move on, move on. Till all the world is free."

And members of Local 144 of the Hotel and Allied Service Employes Union from New York City, an integrated local since 1950, were stomping:

"Oh, freedom, we shall not, we shall not be moved, Just like a tree that's planted by the water."

Then the pros took over, starting with the folk singers. The crowd joined in with them.

Joan Baez started things rolling with "the song" - "We Shall Overcome."

"Oh deep in my heart I do believe We shall overcome some day."

And Peter, Paul, and Mary sang "How many times must a man look up before he can see the sky."

And Odetta's great, full-throated voice carried almost to Capitol Hill: "If they ask you who you are, tell them you're a child of God."

Jackie Robinson told the crowd that "we cannot be turned back," and Norman Thomas, the venerable Socialist, said: "I'm glad I lived long enough to see this day."

The march to the Lincoln Memorial was supposed to start at 11:30, behind the leaders. But at 11:20 it set off spontaneously down Constitution Avenue behind the Kenilworth Knights, a local drum and bugle corps dazzling in yellow silk blazers, green trousers and green berets.

Apparently forgotten was the intention to make the march to the Lincoln Memorial a solemn tribute to Medgar W. Evers, N.A.A.C.P. official murdered in Jackson, Miss., last June 12, and others who had died for the cause of civil rights.

The leaders were lost, and they never did get to the head of the parade.

The leaders included also Walter P. Reuther, head of the United Automobile Workers; A. Philip Randolph, head of the American Negro Labor Council; the Rev. Dr. Eugene Carson Blake, vice chairman of the Commission on Religion and Race of the National Council of Churches; Mathew Ahmann, executive director of the National Catholic Conference for Interracial Justice; Rabbi Joachim Prinz, president of the American Jewish Congress; Whitney M. Young Jr., executive director of the National Urban League, and James Farmer, president of the Congress of Racial Equality.

All spoke at the memorial except Mr. Farmer, who is in jail in Louisiana following his arrest as a result of a civil rights demonstration. His speech was read by Floyd B. McKissick, CORE national chairman.

At the close of the ceremonies at the Lincoln Memorial, Bayard Rustin, the organizer of the march, asked Mr. Randolph, who conceived it , to lead the vast throng in a pledge.

Repeating after Mr. Randolph, the marchers pledged "complete personal commitment to the struggle for jobs and freedom for Americans" and "to carry the message of the march to my friends and neighbors back home and arouse them to an equal commitment and an equal effort."

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A frase do dia, talvez do ano, provavelmente de varios anos...

Nada é mais terrível do que uma ignorância ativa.

Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832)

Governo Lula: tambem existem outros balancos

O legado explosivo de Lula
Editorial do Estado de São Paulo, 28.08.2010

Quem suceder ao presidente Lula encontrará um legado difícil de carregar - Tesouro mais endividado, mais custeio engessando o orçamento, compromissos pesados e de retorno duvidoso e um buraco crescente nas contas externas. Em julho o superávit primário do setor público ficou em apenas R$ 2,45 bilhões, o resultado fiscal foi o pior para o mês em nove anos e o quadro não deverá mudar muito nos próximos meses. Sem a popularidade e o carisma do antecessor, o próximo presidente precisará tomar medidas severas, se quiser arrumar os fundamentos da economia. Se o Brasil ainda estiver crescendo, isso facilitará seu trabalho. Mas Estados Unidos e a maior parte da Europa continuarão derrapando na crise, o dinamismo chinês poderá ser menor e o mercado global será bem menos hospitaleiro do que o foi até o começo da recessão. Durante seis anos o presidente Luiz Inácio Lula da Silva governou com vento a favor na economia global. Quem o substituir não terá essa bênção.

Quem vencer a eleição deverá negociar o novo salário mínimo com as centrais sindicais. A negociação incluirá o aumento das aposentadorias superiores ao salário básico. A recessão de 2009 não será levada em conta nos cálculos. Esse presente para o novo governo foi incluído na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). O presidente Lula preferiu não vetar esses dispositivos, mas vetou outros 25 pontos politicamente menos complicados. O próximo orçamento será sobrecarregado também de aumentos salariais concedidos antes da tramitação do projeto da LDO. Essas e outras bondades tornarão mais inflexível o Orçamento-Geral da União (OGU).

Além disso, as contas públicas estarão comprometidas com despesas vinculadas à Copa do Mundo de 2014 e aos Jogos Olímpicos de 2016. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) participará do financiamento de vários projetos, possivelmente incluído o do trem-bala. O custo desta obra ainda é desconhecido e as estimativas oscilam entre R$ 33 bilhões e R$ 40 bilhões. Como os projetos da Copa estão atrasados, o Tesouro Nacional poderá ser forçado a intervir para evitar um fiasco internacional. Ninguém sabe quanto dinheiro público essa aventura consumirá.

Comprometido com a capitalização da Petrobrás, o governo precisará emitir mais títulos. O valor dos papéis dependerá do preço dos 5 bilhões de barris de petróleo correspondentes à parcela da União no aumento de capital da empresa.

Os ministros da área econômica haviam traçado um roteiro para eliminar até 2012 o déficit nominal das contas públicas, isto é, para equilibrar de forma completa receitas e despesas. Há poucas semanas, o Ministério da Fazenda anunciou uma revisão do plano: o prazo, agora, estende-se até o fim de 2014.

Mesmo esse prazo parece otimista, agora, quando se considera o peso dos compromissos assumidos pelo governo com os financiamentos a empresas via BNDES, com a Copa, com a Olimpíada, com a exploração do pré-sal, com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e, é claro, com os programas sociais. Some-se ainda o inchaço da folha de pessoal, agravado pelas contratações do ano passado, e dos encargos da Previdência.

Para completar, o País gastou com importações neste ano, até julho, 45,1% mais do que um ano antes e exportou 27% mais. O descompasso tende a persistir. O superávit comercial encolhe com rapidez. O déficit em conta corrente chegou a US$ 43,8 bilhões em 12 meses e poderá alcançar uns US$ 50 bilhões em 2010. Para 2011 a previsão fica em torno de US$ 60 bilhões. Não há risco imediato de crise cambial, mas as contas deterioram com rapidez e o quadro externo aumenta a preocupação.

A resposta mais óbvia e mais prudente é a adoção de uma séria política de competitividade, com reforma dos impostos, aumento do crédito aos exportadores e investimentos urgentes na infraestrutura.

A precária situação das contas públicas tornará essa tarefa muito mais difícil. Esse trabalho ainda será prejudicado pela baixa qualidade gerencial do setor público - parte das bombas deixadas por Lula ao próximo governo.

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Crescendo. O gráfico mostra como evolui a dívida bruta do governo federal.

Líquida ou bruta? Até recentemente, foi mais usado o conceito de dívida líquida, em que eram descontados os créditos. Mas desde 2004, as condições da dívida estão ficando piores do que as do crédito. Quando compra dólares (aumenta o crédito), o Banco Central emite títulos para enxugar o excesso de reais (aumenta a dívida). Só que os juros da dívida em reais são maiores do que os do crédito em dólares e pressionam a dívida bruta.
(Celso Ming, 26/08/2010)