sábado, 14 de agosto de 2010

Fazendo as contas, prestando contas, somando leitores, multiplicando responsabilidades...

Toda sexta-feira, religiosamente eu poderia dizer (se eu fosse religioso, o que não sou), recebo, de um desses serviços de estatísticas gratuitas -- quem disse que não tem nada de graça no capitalismo? -- um pequeno relatório estatistico informando quantos curiosos, entrantes, visitantes, turistas e outros perdidos (sem esquecer os espiões, se eu fosse paranóico) passaram por este modesto blog.
Geralmente não presto atenção, e via de regra deleto a mensagem, pois já tenho a caixa de entrada entupida por milhares de boletins que pretendo ler um dia, um desses dias em que a Terra parou, o sol se pôs, e eu adquiri a virtude milagrosa (ops, lá vem a religião outra vez) de ler cem mensagens por minuto.
Por acaso andei trabalhando demais nas últimas semanas -- não basta contar o número de postagens aqui, mas seguir a lista dos trabalhos e saber todo o resto que andei fazendo por aqui e por ali... -- e esqueci até de apagar essas estatísticas.
Por acaso, também, fui verificar o que recebi nas últimas quatro semanas, e o panorama se resume a isto:

Data: visitas - páginas
13/08: 3,462 - 4,797
06/08: 3,352 - 4,828
30/07: 2,827 - 3,947
23/07: 3,186 - 4,690

Ou seja, cumulativamente, foram registradas, nas últimas quatro semanas (aproximadamente um mês):

12.827 visitas e 18.262 páginas vistas.

Fazendo a média diária dos últimos 30 dias (mesmo considerando que julho teve 31 dias), isso representa, portanto:

427 visitas e 608,7 páginas vistas por dia (ou 1,4 páginas por visita a cada dia).

Bem, considerando-se que este blog registra 184 seguidores inscritos, e que os visitantes diários são 427, deve ter muito mais espiões do que eu desconfiava, a não ser que os espiões já estejam inscritos com nomes de fantasia (também tem, alguns gozados, aliás). Mas, também podem ser marcianos, que passam rapidamente e se vão, num piscar de olhos (pois algumas visitas duram só 1,5 minuto).

Sans blague, gostaria de aproveitar esta ocasião de um modesto balanço estatístico para agradecer todos os meus leitores e meus comentaristas (mesmo aqueles que por vezes gostariam de me estrangular, eu sei), pois eles são a razão de toda esta transpiração, e alguma inspiração, que me faz ficar dedilhando essas coisas neste blog (e ainda alimentar o site, e preparar artigos para revistas, resenhas de livros, ler, me informar, fazer compras, escovar os dentes, tomar banho, etc., etc., etc.).
Leitores são a razão de ser de escritores, ou de escrevinhadores, como eu. Sem vocês, eu não estaria aqui perdendo meu tempo, ou melhor, retirando horas da leitura de livros, ou simplesmente de ficar vendo algum filmezinho bobo no vídeo.

Grato, portanto, com esta última declaração: sei da responsabilidade que todas essas visitas me atribuem, direta e indiretamente.
Ter a confiança de leitores ocasionais, ou de visitantes regulares, depende da qualidade do material aqui postado.
Manter a confiança dos leitores e visitantes é uma tárefa árdua, que encaro com muita seriedade, mesmo levando em conta que alguns entram aqui só para me espionar, e depois ficar fazendo fofocas junto aos conspiradores de sempre (blague).

Prometo não ficar mais aborrecendo ninguém com estatísticas, pois isso é o que menos interessa (aliás, não mantenho nenhum tipo de registro no meu site, para não ter de me ficar dobrando às conveniências dos leitores e visitantes). Faço o que gosto, e só posso dizer que procedo de forma escrupulosamente honesta, em primeiro lugar comigo mesmo, e espero que do ponto de vista dos meus leitores também.
Obrigado, e até a próxima.

Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 15.08.2010)

Balanço do governo Lula: a mentira oficial

Ministérios relutam em ''corrigir'' Dilma
Eugênia Lopes
O Estado de S.Paulo, 14 de agosto de 2010

Governo contesta prontamente informações de candidato tucano, mas não faz reparos a dados incorretos divulgados pela petista

BRASÍLIA - Ágil em contestar informações do candidato de oposição, o tucano José Serra, o governo não trabalha com a mesma rapidez para corrigir dados incorretos apresentados pela candidata governista à Presidência, Dilma Rousseff.

Passados oito dias do debate promovido pela TV Bandeirantes entre os presidenciáveis e quatro dias depois da entrevista concedida pela petista ao Jornal Nacional, da TV Globo, os Ministérios do Trabalho, das Cidades e da Educação não haviam divulgado até ontem nenhuma correção a informações erradas dadas pela candidata do PT à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Tratamento bem diferente foi dispensado na quinta-feira pelo governo federal a Serra. Mal terminou o Jornal Nacional, os Ministérios da Saúde e dos Transportes vieram a público contestar dados por ele apresentados. O argumento da Saúde foi que era "dever corrigir informações erradas" e o ministério "tem a responsabilidade de zelar pela correta informação à população".

Na semana passada, durante o debate da Bandeirantes, a ex-ministra da Casa Civil afirmou que o salário mínimo teve um aumento real de 74%, nos oito anos do governo Lula. O número correto era 53,6%. O Ministério do Trabalho informou que, por enquanto, não pretende fazer nenhuma correção às informações da petista.

Números imprecisos também foram apresentados por Dilma na entrevista ao Jornal Nacional, na segunda feira. Ela disse que o governo federal investiu R$ 270 milhões em saneamento na Favela da Rocinha, no Rio. Dois dias depois, recuou e explicou que o valor se referia não só a saneamento, mas também à urbanização da favela.

"Na Rocinha, estamos investindo R$ 276 milhões em saneamento integrado e urbanização. Isso significa dar condições não só em termos de estruturação. É dar condições de vida para a população. Quando investiram no complexo do Alemão? Quando investiram na Rocinha? Nunca", argumentou Dilma, momentos antes de participar de seminário sobre ferrovias, em Brasília.

Explicações. Sob a tutela de Márcio Fortes, o Ministério das Cidades confirmou ontem os dados apresentados por Dilma e acrescentou que as cifras se referiam "à construção de redes de abastecimento de água, de coleta de esgoto sanitário e drenagem". Na nota à imprensa, o ministério informou que "no Complexo da Rocinha, há dois contratos do PAC. O primeiro no valor total de R$ 114 milhões, com contrapartida do Estado no valor de R$ 55,5 milhões. O segundo contrato no valor total de R$ 151,3 milhões, com contrapartida de R$ 54,8 milhões. Esses contratos totalizam R$ 265,3 milhões que beneficiarão aproximadamente 30 mil famílias".

Assim como fez em relação ao saneamento na Rocinha, Dilma também explicou os dados apresentados na Band, sobre o aumento dos recursos aplicados na educação. Na ocasião, disse que se chegara "a algo em torno de 5% a 6% do PIB". Pela última estimativa oficial, União, Estados e municípios investiram 4,7% do PIB, em 2008. Procurado, o Ministério da Educação informou que nada dirá sobre o assunto.

Sem polêmica. Em Salvador, o tucano José Serra disse ontem que ministérios não deveriam engajar-se em campanhas - mas evitou entrar em polêmicas sobre a força-tarefa dos ministérios em defesa de Dilma Rousseff. "Não vou debater com o ministério do (presidente) Lula", afirmou. "Minha disputa eleitoral não é com o ministério do Lula, eu debato com os candidatos. Mesmo que eles estejam engajados na campanha - e não deveria ser assim - meu foco são os candidatos."

Serra aproveitou para acusar outros candidatos de cópia de programas de governo de sua campanha. "Não acho errado copiar, até porque governar é mais tirar do papel do que ter a ideia. Mas é bom que se dê o crédito."

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Mobilização geral por Dilma
Editorial O Estado de S.Paulo, 14.08.2010

O País seria outro em muitos aspectos se o presidente Lula tivesse convocado a administração federal a fazer o que dela a sociedade cobra com a mesma determinação empregada para fazê-la trabalhar cada vez mais pela candidatura Dilma Rousseff. E a máquina pública faria jus aos volumosos impostos recolhidos da população se os devolvesse sob a forma de serviços de boa qualidade no ritmo requerido, com o mesmo empenho e assiduidade com que se engajou na campanha sucessória, a fim de suprir as notórias deficiências da ex-ministra no embate eleitoral.

Fiel à sua proclamada prioridade “como presidente” este ano, não bastou a Lula carregar a sua afilhada pelo Brasil afora em eventos ditos administrativos, pelo que já recebeu uma penca de multas aplicadas pela Justiça Eleitoral. Tampouco deve ter considerado suficiente sincronizar o anúncio de medidas na área de políticas públicas com as promessas da candidata na montagem de uma assim chamada “agenda positiva”. Foi só ela defender a intensificação do combate ao crack, por exemplo, e eis que, num primário jogo de cartas marcadas, o Planalto apresentou o que seria um programa nacional nesse sentido.

Com igual despudor, apostando na falta de informação e senso crítico da parcela do eleitorado com que conta para eleger a ex-ministra, Lula resolveu colocar o Ministério em regime de prontidão para fazer por Dilma o que ela não conseguiria por conta própria. Na terça-feira, ele reuniu o Gabinete para exigir de seus integrantes dedicação plena à campanha eleitoral. “O povo brasileiro”, avisou na véspera, “merece que nós possamos concluir o trabalho que começamos.” Naturalmente, nenhum dos mobilizados há de ter tido dúvidas sobre a natureza desse trabalho.

Coincidência ou não, no mesmo dia do comando de ordem unida dado por Lula, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, divulgou pessoalmente um boletim estatístico eivado de falsidades. A julgar pelos números manipulados, o governo Lula é ainda melhor do que o seu titular diz ser e o governo Fernando Henrique ainda pior do que o lulismo apregoa. Dados referentes ao primeiro ano da gestão FHC, por exemplo, foram omitidos para aumentar a diferença da variação da renda nacional per capita nos dois governos.

As verdades distorcidas foram parar sem demora no site da candidatura Dilma e ela mesma se valeu de uma delas (sobre a evolução do salário mínimo) na sua vez de ser sabatinada pelo Jornal Nacional. A operação casada prosseguiu nos dias seguintes, quando os Ministérios da Saúde e dos Transportes contestaram fatos e números apresentados pelo candidato oposicionista José Serra no mesmo programa. Menos de 2 horas depois, com incomum agilidade, a Saúde divulgou nota oficial respondendo à crítica do tucano à extinção dos mutirões criados quando chefiou a Pasta. “Os mutirões foram incluídos na Política Nacional de Cirurgias Eletivas, criada em 2004″, diz a nota.

Com isso, segundo o governo, o número desses procedimentos programados subiu de 1,5 milhão para 2 milhões. O texto parece ignorar relatório oficial de março passado atestando o contrário. Em 2002, último ano da gestão Serra, foram 484 mil cirurgias de 17 modalidades. Em 2009, esse total caiu para 457 mil. O governo se vangloria das 319 mil operações de catarata no ano passado, ante 309 mil há 8 anos. Mas finge desconhecer a fila de mais de 170 mil candidatos a cirurgias nas 7 maiores cidades do País, conforme revelou O Globo. Nada disso, evidentemente, impediu o PT de anunciar no seu site que a Saúde rebatera as “mentiras de Serra”.

Já o Ministério dos Transportes negou a informação do candidato de que, a contar de 2003, foram aplicados em estradas apenas R$ 25 bilhões dos R$ 65 bilhões arrecadados com o imposto para obras de infraestrutura (Cide), entre outras. A Pasta desmentiu também que a Rodovia Fernão Dias, que liga São Paulo a Belo Horizonte, estivesse “fechada”, como afirmou Serra. O ponto não é o direito (ou o dever) dos governos de contestar com fatos objetivos as acusações que lhe são dirigidas. Mas o governo Lula, a pretexto de se defender, se mobiliza para fazer propaganda enganosa com fins eleitorais.

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Minha Casa, Minha Vida tem problemas em Estados
Folha de S.Paulo, 14.08.2010

A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, minimizou o fato de apenas 1,2% das unidades contratadas pelo Minha Casa, Minha Vida para quem ganha até três salários mínimos - faixa que concentra 90% do deficit habitacional do país- terem sido concluídas até agora. Para Dilma, o foco não deveria ser na conclusão dos imóveis, mas nos índices de contratação. “Estamos dando um show porque tem mais de 500 mil [unidades] contratadas, quando se dizia que não conseguiríamos 200 mil”, afirmou a petista.

A avaliação de Dilma, porém, contrasta com a de especialistas. Paulo Simão, presidente da CBIC [Câmara Brasileira da Indústria da Construção], parceira da Caixa na execução do programa, disse que os índices de contratação em alguns Estados são “um desastre”. “O Ceará, por exemplo, só perde para o Amapá. Mandamos o nosso pessoal para lá hoje, para saber por que os índices estão tão ruins.” Na faixa de renda de zero a três salários mínimos, em dez Estados o índice de contratações está em menos de 40% da meta.

No Amapá, a meta é de 4.589 imóveis, mas apenas 15 haviam sido contratados, o equivalente a 0,3%.
Ontem a Folha mostrou que Caixa Econômica Federal omitiu dados referentes à conclusão dos imóveis, segundo a faixa de renda a que se destinam. Os números obtidos pelo jornal constavam de balanço referente ao dia 30 de junho, divulgado apenas a parceiros do programa. Questionada sobre a omissão dos dados pela Caixa, Dilma respondeu: “Aí você pergunta para a Caixa. Não tenho a menor condição de responder. Se não mostrou, está errado porque a Caixa tem um dos melhores desempenhos dos últimos anos em matéria de habitação”, disse.

Balanco do governo Lula: o capitulo social (RIP Fome Zero)

O Brasil mudou? Talvez, mas esses habitantes da cidade que tinha sido escolhida para ser o símbolo da mudança talvez não concordariam com a avaliação. Vejam a matéria abaixo.
Paulo Roberto de Almeida

Os restos mortais do Fome Zero se espalham pela cidade onde nasceu
Augusto Nunes - Direto ao Ponto
Blog Veja, 13/08/2010

Concebido pelo presidente Lula, o Programa Fome Zero nasceu em 3 de fevereiro de 2003 num palanque armado na única praça de Guaribas, interior do Piauí. Morreu dois anos depois sem ter saído do berço, mas nunca teve sepultamento cristão. Ninguém providenciou o velório, o atestado de óbito não foi expedido. Só existe a certidão de batismo, assinada pelo governador Wellington Dias e por quatro ministros que, na grande festa promovida há sete anos e meio, enxergaram no recém-nascido a cara do Brasil-Maravilha inventado pelo maior goverrnante de todos os tempos.

Depois da discurseira do governador, depois do falatório dos ministros Ciro Gomes (Integração Nacional), Benedita da Silva (Assistência e Promoção Social), José Graziano (Segurança Alimentar) e Olívio Dutra (Cidades), os quase 5 mil habitantes souberam como seria, no máximo até dezembro de 2006, a vida de quem tivera a sorte de vir ao mundo no lugarejo promovido por Lula a Capital do Fome Zero. Um vidaço de Primeiro Mundo.

A cidade seria premiada com médicos, um hospital, postos de saúde, uma farmácia, escolas, esgoto, água, luz, telefone, calçamento, um hotel, uma estrada asfaltada de 53 quilômetros, um programa de fortalecimento da agricultura familiar, outro de capacitação profissional. Quem não ganhasse dinheiro no campo prosperaria na cidade como artesão ou costureira. Uma empresa do governo, Emgerpi, cuidaria exclusivamente do mundaréu de canteiros de obras. E administraria com especial carinho p Memorial do Fome Zero, colosso arquitetônico destinado a eternizar a lembrança do dia em que tudo mudou.

As coisas se arrastaram até 2005, quando o governo federal descobriu que o Bolsa-Família rendia muito mais votos, matou o Fome Zero de inanição e tentou sumir com o corpo. Não conseguiu, constatou em julho a repórter Sandra Martins, do jornal Tribuna do Piauí. A jornalista descobriu que os restos mortais da fantasia eleitoreira se espalham pela cidade iludida. E transformaram Guaribas numa prova contundente de que a visão do Brasil real é obscurecida por um país do faz-de-conta que só existe na propaganda oficial.

Passados sete anos e meio, há em Guaribas as três escolas que já existiam, um posto de saúde, um médico, nenhum hospital, três enfermeiros, nenhuma farmácia, cinco telefones públicos, uma lanchonete, uma mercearia, uma agência do Bradesco. As calçadas são contadas em metros, as ruas continuam sem pavimentação, só existe água em poucas casas, falta energia elétrica, e centenas de fossas denunciam a inexistência de tratamento de esgoto no aglomerado de 942 residências, incluídos os casebres miseráveis que o governador e os ministros prometeram erradicar.

O programa de capacitação profissional parou nas máquinas de costura que enferrujam perto da praça. A agricultura familiar nunca desceu do palanque: neste ano, a safra se resumiu a um punhado de sacos de milho. A estrada não foi pavimentada. A construção do memorial ficou no esqueleto. Esquecido pelo PAC, que entre o que não vai construir incluiu até um trem-bala, o monumento virou ruína sem ter sido inaugurado.

Como as 805 bolsas-família são insuficientes, muitos moradores engrossaram a diáspora dos nordestinos. “A população diminuiu, as pessoas estão indo embora em busca de trabalho”, lamenta o secretário de Administração da prefeitura, Edmilson Pereira Maia, que atribui o fiasco do Fome Zero ao descaso do governo federal. “Eles montaram aqui uma administração paralela e depois abandonaram tudo”, informa. O escritório ocupado pela Emgerpi está com as portas lacradas há mais de ano. O dono do imóvel, Manoel Gomes, avisa que só vai devolver a mobília e os objetos que reteve quando receber o aluguel atrasado.

Lula prometeu visitar Guaribas duas vezes. Nunca deu as caras por lá, mas importou alguns moradores para uma audiência em Brasília. Carmelita Rocha, 70 anos, uma das integrantes da comitiva, jamais soube exatamente o que foi fazer na capital, mas garante que ali viveu os melhores momentos da vida. Comeu bem, dormiu num quarto de hotel, passeou em carros de luxo. As coisas hoje ficaram muito piores.

Viúva há três meses, sustenta a própria família e a da irmã, que também enviuvou recentemente, com os R$ 400 da aposentadoria que herdou do marido, enterrado na cova rasa com o corpo envolvo numa rede. “Compro um saco de arroz, café, açúcar, massa de milho, sabão e só”, diz Carmelita. “Não estamos passando fome rachada, mas são vários dias que não temos o que comer”. Ela recorda nitidamente do comício que lhe prometeu três refeições por dia. Se conseguisse uma, Carmelita ficaria muito feliz.


Vejam como está a rodovia que Lula prometeu em 2003 à capital do Fome Zero

Foto: André Pessoa

Em 3 de fevereiro de 2003, liderada pelo governador Wellington Dias, a comitiva encorpada por cinco ministros e dezenas de pais da pátria baixou em Guaribas, no interior do Piauí, para a festa de lançamento do Programa Fome Zero. Concebido pelo governo Lula, o programa garantiria três refeições por dia e uma vida de Primeiro Mundo aos 200 milhões de brasileiros ─ começando pela cidade de 5 mil habitantes oficialmente promovida a Capital do Fome Zero.

Três horas de discurseira celebraram as providências que haveriam de conferir feições europeias ao lugarejo distante de Teresina mais de 600 quilômetros. “Vamos começar pelo asfaltamento da estrada”, prometeu em nome do presidente Lula o governador piauiense, sob os sorrisos aprovadores dos figurões federais e a felicidade geral da população: nada merecia mais urgência que a pavimentação dos 54 quilômetros de terra que ligavam (ou separavam) Guaribas de Caracol, o município mais próximo.

O presidente Lula exigira o asfalto, explicou Wellington Dias, porque fazia questão de aparecer por lá de carro, não a bordo de helicópteros. Em novembro de 2009, os moradores de Guaribas foram informados de que o chefe de governo enfim daria as caras na capital que nunca visitou. O comício foi cancelado quando Lula soube que não havia nada a inaugurar. Nem havia estrada asfaltada.

Como se verá num dos posts desta sexta-feira, as promessas nunca saíram do papel. A construção do Memorial Fome Zero, iniciada em 2003, foi interrompida no ano seguinte. Ao virar ruína antes de existir, o memorial transformou-se num monumento à fantasia irresponsável. Passados sete anos e meio, a foto mostra como está a rodovia que leva à capital do Brasil do faz-de-conta que Lula inventou e Dilma Rousseff finge que enxerga.

Livro - Roberto Zentgraf e Fabio Giambiagi: O Futuro é Agora

O lançamento de um livro coordenador, junto com Roberto Zentgraf, pelo economista Fabio Giambiagi é sempre uma garantia de qualidade, e de debate esclarecido sobre questões importantes da atualidade brasileira.
Gostaria de estar presente, o que vai ser difícil acontecer...

Pode o Brasil crescer rapidamente?: os dados de investimento

Muitos estão eufóricos com a taxa de crescimento atual do Brasil, achando que o país vai rapidamente superar 6 ou 7% do PIB e se manter em patamares elevados pelos próximos anos.
Difícil dizer isso com base nas baixíssimas taxas de poupança (em torno de 17 ou 18% do PIB apenas) e de investimentos totais: não mais do que 20% do PIB, e provavelmente abaixo disso, computando-se o investimento total brasileiro, com base naquela poupança, e algo em torno de 1 a 1,5% de poupança externa.
Quanto ao investimento público, bem, ele se mantém em patamares ridículos há muito tempo.
Considerando-se o quadro abaixo (clique para ampliar), comparativo entre países emergentes (um termo um tanto abusado) apenas, constatamos que nosso Estado despoupador líquido é um dos mais modestos, e até insignificantes, investidores do mundo. Para uma média mundial superior a 7% do PIB, investimos pouco mais de 1%, uma das taxas mais baixas do mundo (quando se conhece a voracidade tributária do Estado, para gastar consigo mesmo, sabe-se facilmente a razão disso).

O quadro foi tirado desta apresentação:

LRF x Política Fiscal Brasileira
José Roberto Afonso
Portal de Economia, Qui, 05 de Agosto de 2010

10 Anos da Lei de Responsabilidade Fiscal no Brasil
Apresentação de José R. Afonso em Workshop do BID, em Washington (09/08/2010).
Estruturada em três partes: memória e evolução da lei; projetos de reforma fiscal; e conjuntura e cenários fiscais (além de extensos anexos estatísticos). O trabalho procura conectar aspectos institucionais (desde a concepção até o debate atual para reforma da LRF) aos conjunturais (como a expansão recente da dívida pública bruta).

PDF: BID10AnosLRF.pdf (501 Kb - 6/8/2010)

O embuste do discurso contra as elites - Leoncio M Rodrigues.

Nunca antes neste país, membros da nova elite, a nomenklatura saída da máfia sindical, falaram tanto contra as elites, convivendo de forma tão promíscua com as próprias, e sabendo integrar-se tão rapidamente a elas.
Na verdade, como já disse o jornalista Reinaldo Azevedo, se trata da "burguesia do capital alheio". E que está enriquecendo, na verdade, com o dinheiro dos brasileiros pobres.
Quem vive em Brasília, como eu, sabe exatamente que restaurantes frequentam esses novos burgueses, com contas incompatíveis com salários de simples funcionários DAS 5 ou 6. Não é possível manter esse "trem de vida" (como diriam os mineiros), sem fontes extras de rendimentos não declarados...
Para bom entendedor...
Paulo Roberto de Almeida

Nossas elites
Leôncio Martins Rodrigues
O Estado de S.Paulo, 12 de agosto de 2010

De tempos em tempos, a crítica às "nossas elites" volta a frequentar o discurso petista. Não fica claro quem são elas. Sabe-se, contudo, como denunciou recentemente o presidente Lula, que são capazes de muitos crimes contra o povo e contra o País, até mesmo de assassínio de quem morreu de morte morrida, como o ex-presidente Jânio Quadros. Getúlio Vargas - latifundiário, deputado estadual, deputado federal, governador do Rio Grande do Sul, ministro da Fazenda do presidente Washington Luís, 20 anos na Presidência da República (15 dos quais com poderes ditatoriais) -, classificado por Lula como uma das vítimas das "nossas elites", obviamente delas não poderia fazer parte.

Mas a referência às pérfidas elites antipovo, ainda que contenha incorreções históricas, tem um objetivo político-eleitoral. Não deve ser apreciada pela consistência teórica, com a qual, aliás, o ex-sindicalista não está preocupado. O importante é criar, na imaginação popular, um inimigo perigoso, de feições nebulosas, que não se sabe exatamente quem é. Repetida à saciedade, a acusação cria uma verdade.

Se aumentar a tensão social e/ou os cargos públicos correrem risco de passar para os adversários, uma nova categoria política poderia ser criada pelas alas petistas mais à esquerda: a de inimigo do povo. Mas para os novos-ricos que ascenderam sob as asas do ex-metalúrgico agitar a bandeira antielite traz a vantagem suplementar de ocultar a própria ascensão, isto é, fazer parte da elite sem parecer, sonho de todo político nesta época de democracia de massas.

Acontece que a popularização da composição da classe política e da elite no poder, ou seja, a ascensão de lideranças originárias das camadas médias, está fazendo menos convincentes e eleitoralmente pouco rendoso culpar as "nossas elites". Uma larga parcela dos ricos e poderosos está aliada ao PT. O presidente Lula poderia chamá-los de companheiros. A elite política brasileira, a alta cúpula do governo, dos que mandam e ocupam posições estratégicas na máquina governamental, é formada hoje pelos políticos, intelectuais de esquerda, apparatchiks, militantes e sindicalistas do PT. A maioria entrou para a política pelo trampolim de poderosos sindicatos da estrutura corporativa fascista, do catolicismo "progressista", das igrejas evangélicas, das ONGs e de outras organizações que servem de passagem para a classe política e dela para as instâncias de poder e ampliação do patrimônio. Na Câmara dos Deputados, para dar um exemplo, os ex-sindicalistas têm ocupado, nas últimas eleições, cerca de 10% das cadeiras.

Do ângulo socioprofissional, os componentes da nova classe ascendente dos políticos profissionais vêm dos segmentos das classes médias de nível relativamente alto de escolaridade, em que avultam os professores do ensino elementar e médio da rede pública, os bancários e técnicos, os servidores públicos e empregados do Estado, setores que poderíamos incluir - com a imprecisão habitual do conceito - nas classes médias-médias, a classe C. Não vêm tipicamente das camadas mais pobres que não dispõem de nível educacional que lhes possibilite passar de eleitor a eleito, ou seja, "entrar para a política". Seriam as classes D e E, com as quais os políticos da classe C, na disputa pelo voto dos pobres, têm mais facilidade de comunicação do que os das classes A e B.

Para captar o fenômeno da popularização da classe política e do declínio das elites tradicionais basta considerar os três principais competidores ao cargo máximo de presidente da República (duas mulheres). Todos vieram de fora da elite política tradicional. Marina Silva é quem veio mais de baixo. O pai era seringueiro. Alfabetizou-se aos 16 anos. José Serra é filho de feirante, imigrante italiano. Dilma Rousseff vem de uma família de classe média alta, mas não tradicional: o pai era engenheiro, nascido na Bulgária. Todos os três obtiveram diploma de nível universitário. Embora hoje possam ser classificados como membros da elite política, nenhum teve origem na própria elite. Entraram na política pela porta da esquerda, como é comum ocorrer com os pré-políticos de classe média e baixa que estão procurando entrar para a vida pública.

Não seria necessário ressaltar que grandes empresas e políticos de alta renda continuam a ter muito peso no interior dos órgãos de poder e da classe política. Ainda que o espaço que ocupavam no sistema decisório se tenha reduzido, as camadas empresariais continuam sendo uma peça importante na arena política. Talvez estejam mais participantes do que nunca, por meio, também, do financiamento dos candidatos de classe média e classe popular empenhados em ascender. Acontece que a popularização e a democratização marcham junto com a elevação astronômica dos custos das campanhas eleitorais. Esses custos se tornaram muito mais elevados do que na época do poder oligárquico, em que poucos votavam. Os ex-plebeus recém-chegados à classe política são, pois, forçados a recorrer às doações dos grandes financiadores de campanhas. A democracia de massas não elimina a influência do grande capital, das grandes empreiteiras e do sistema financeiro, particularmente. Expulsos pela porta, voltaram pela janela.

O resultado hoje é uma elite política heterogênea. Políticos das velhas oligarquias, que seriam a expressão mais típica das "nossas elites", confraternizam com os ex-plebeus ascendentes, os primeiros geralmente nos partidos ditos de direita, os segundo nos partidos ditos de esquerda.

Assim, a denúncia demagógica contra as nossas elites, mesmo que continue a habitar o discurso petista, tende a soar cada vez mais falsa, não só porque as classes altas tradicionais não têm mais o monopólio do poder político, como também porque as altas chefias petistas passaram a fazer parte da elite.

EX-PROFESSOR TITULAR DOS DEPARTAMENTOS DE CIÊNCIA POLÍTICA DA USP E DA UNICAMP, É AUTOR DE "DESTINO DO SINDICALISMO"


Concentracao de renda: um debate sempre mal colocado

O chamado "Estado de bem-estar social" está tão disseminado nas modernas economias de mecado, e o pensamento social-democrata impregna de maneira tão aboluta as consciências cidadãs nesses países (aliás, em quase todos), que nunca achamos estranho que políticos, geralmente demagogos, sempre proclamem como objetivos meritórios a tal de "distribuição de renda" (quando na verdade eles querem se referir à "redistribuição" de renda, ou seja, tirar de Paulo para dar a Pedro, como dizem os americanos).
Pois bem, poucos analistas contemporâneos, sobretudo num país social-democrata à outrance, como no Brasil, onde NINGUÉM tem a coragem de se chamar de direita, ou conservador, onde NINGUÉM gosta de ser tido como liberal -- e a acusação de ser "neoliberal" é uma das mais danosas para a reputação de qualquer um -- conseguem fazer uma contra-argumentação consistente contra essa ditadura do pensamento, essa concepção única da redistribuição de renda, que escape do lugar comum obrigatório, que passa obviamente pela recomendação de política pública consistindo, justamente, em MAIS distribuição de renda (via Estado, obviamente).
Não mais; meu companheiro blogueiro Klauber Pires acaba de produzir uma peça imperdível que tenho o prazer de retransmitir aqui, pois diz tudo, ou quase tudo, que eu gostaria de dizer se tivesse a competência que ele tem em matérias econômicas e sua sensibilidade para a escrita de boa qualidade e saboroso.
Recomendo leitura atenta, e sobretudo, uma absorção consequente.
O exemplo que ele utiliza, inclusive, o do preço da gasolina, nos faz lembrar outras eras e outras políticas, não apenas no Brasil. Nos EUA, quando da crise do petróleo -- na verdade, uma operação de chantagem organizada por um cartel então bem articulado, a OPEP, que transferiu renda dos consumidores para os produtores, numa situação em que o produto era realmente insubstituível -- o governo Nixo tentou contornar o problema da inflação, fixando os preços da gasolina, em função do que imensas filas de carros se formavam nos postos de gasolina, numa irracionalidade total e completa. Um governo mais razoável, depois, acabou com a estupidez, deixando os mercados fixarem os preços DE MERCADO. As filas acabaram num instante. Como diz o economista Steven Landsburg, em The Armchair Economist, "people respond to incentives, the rest is commentary". Isto é economia, o resto é bobagem...
Não se pode mais falar em redistribuição, ou em concentração de renda, depois de ler o seu texto bem articulado e seus argumentos inatacáveis.
Tenham bom proveito.
Paulo Roberto de Almeida

Concentração de renda: um embuste!
Por Klauber Cristofen Pires
Blog Libertatum, 13 de agosto de 2010

Em uma sociedade livre, não há que se falar em concentração de renda, a amparar uma política pública de uma "distribuição de renda", seja por qual meio for. Em uma sociedade livre, fundada no princípio da não-agressão, e próspera, a renda já está distribuída no momento mesmo da troca dos títulos de propriedade.

Um estimado leitor trouxe-me para análise uma pesquisa do IPEA intitulada "Quadro de distribuição de renda não muda desde 1970, diz Ipea - País interrompeu processo de concentração de riquezas, mas desigualdade não diminuiu nos últimos 40 anos".

Considerando que pelo menos nos últimos vinte anos o país tem sofrido uma forte e crescente influência de políticas socialistas, uma notícia como esta poderia ser usada contra os seus autores, especialmente contra quem mais andou se utilizando dela para apregoar a sua ideologia e as suas receitas de desenvolvimento. Ponhamos uns parênteses aqui, para retomarmos este assunto lá na frente.

Com efeito, a campanha por uma distribuição de renda mais igualitarista - um conceito de corte tipicamente marxista, tem sido persistentemente o norte acadêmico em nossas faculdades, e dali para as publicações em geral e para a implementação das atividades e políticas dos mais variados órgãos públicos.

Em uma sociedade livre, não há que se falar em concentração de renda, a amparar uma política pública de uma "distribuição de renda", seja por qual meio for. Em uma sociedade livre, fundada no princípio da não-agressão, e próspera, a renda já está distribuída no momento mesmo da troca dos títulos de propriedade: Quando abasteço o meu carro, a minha renda está no tanque e a do proprietário do posto, em sua caixa registradora. E isto é tudo. Ambos estamos satisfeitos, ou de outra forma não teríamos fechado o negócio.

Pasme o leitor, mas os (pre)conceitos marxistas andam tão consolidados em nossa sociedade que não temos um termo próprio para designar uma operação de troca de títulos de propriedade; em vez disso, separamos esta operação única em duas etapas separadas, a "venda" e a "compra", e esta distinção vem bem a calhar para o estado arrostar para si o poder de regulá-las como se fossem suas concessões.

Pode ser que a oferta de gasolina seja uma atividade muito lucrativa, e que faça rico o dono daquele posto. Isto sugere que ele possivelmente venha a se tornar mais rico do que as demais pessoas de sua localidade. Todavia, em um cenário de plena liberdade econômica, isto não significa um ato de exploração, mas tão somente de aprovação popular, eis que as pessoas preferem abastecer seus veículos com o seu produto.

Mesmo que ele seja o único fornecedor das redondezas, ainda assim opera em regime de ampla competição, pois todas as oportunidades permanecem abertas para que um futuro concorrente se instale e ofereça sua propriedade por um preço menor, ou que uma terceira figura apresente uma novidade tecnológica economicamente mais viável.

Quando o estado intervém sobre a propriedade daquele comerciante de combustíveis, seja por estipular-lhe um preço, seja por confiscar-lhe o produto das suas trocas, ele comete um ato de agressão que prejudica não somente o nosso varejista, mas toda a sociedade. No caso, o estado tanto frustra as estratégias de um possível futuro concorrente que pensava em oferecer um preço mais baixo (e preste muita atenção aqui: viável economicamente) bem como corta na raiz os estímulos para a criação de novas tecnologias de transporte e de combustíveis alternativos.

O preço constitui-se em valiosa informação para a sociedade. Quando o proprietário daquele posto cobra um preço que possa ser considerado alto pelos cidadãos em geral, mesmo inconscientemente ele está alertando a todos que o seu produto é raro, e deve ser usado com comedimento e para as necessidades mais importantes e/ou urgentes. Com isto, como explicado acima, ele também está avisando, mesmo sem querer, que outros fornecedores devem comparecer àquele mercado ou que alguém deve inventar uma forma mais viável de transporte ou de combustível.

Note o leitor como esta é uma atitude até ecológica! Dentro dos princípios de não-agressão, ninguém está proibido de usar a gasolina que adquire, mas consistentemente convencido de que precisa utilizá-la com sabedoria. É por isto que tenho afirmado: se você quer agir de forma ecologicamente correta, pense antes em agir de modo economicamente eficiente!

Entretanto, justo neste quesito o estado provoca ainda mais efeitos deletérios por conta da sua política redistributivista: ao estipular um preço mais baixo do que o mercado praticaria em um cenário de ampla liberdade, o estado estimula os cidadãos ao gasto frouxo do combustível, por fazer-lhes pensar que é abundante, e com isto podendo causar o risco de desabastecimento, cuja consequência poderá resultar em grande prejuízo aos cidadãos em alguma hora crucial em que precisariam dele e não providenciaram poupar. Que tal, por exemplo, pensar em um hospital sem diesel para o seu gerador de emergência, ou no médico que não tem gasolina para se deslocar até o seu paciente?

Tenha paciência, Sr leitor, porque a lambança ainda não acabou. Sabe o quê acontece quando a emenda acaba se mostrando pior do que o soneto? Lá vem o estado a tentar corrigir o seu erro com outros erros subsequentes, e a próxima expectativa neste caso é a de que implemente uma política de racionamento ou que submeta o consumo a uma requisição justificada por parte de cada um dos consumidores. Posso pedir licença para parar por aqui?

Sempre que alguém aceite tomar como ponto de partida para um debate um dado qualquer de concentração de renda, neste mesmo momento estará abandonando uma discussão autenticamente econômica para acumpliciar-se com a adoção de uma política socialista. Daí por diante, pode-se discutir tão somente o grau de agressão à sociedade pelo estado, só isto.

Caro leitor, não se permita à intimidação por conta dos títulos que ostentam aqueles que defendem a idéia de uma sociedade igualitarista ou de um limite imposto pelo estado para as diferenças entre as riquezas das pessoas. A rigor, não existe no Brasil a figura do economista, bem como não existem faculdades de economia. Na falta de um termo mais adequado, eu as denominaria de "planejadores estatais".

Com efeito, a grossa parte do curso dos bacharéis em economia, cuja grade compõe-se hegemonicamente de estudos sobre as obras de Marx, Keynes e os teóricos da Escola de Frankfurt, consiste em estudos sobre políticas públicas. Quase não há interesse no estudo sobre as relações entre os particulares, a não ser justamente para aí encontrar alguma oportunidade de implantar alguma política intervencionista.

Antes que me tenham por prepotente, recorro à autoridade de Ludwig von Mises para demonstrar que o conceito de concentração de renda não tem qualquer base econômica autêntica e portanto, não passa de um embuste. A quem quer que se dê ao prazer de ler Ação Humana ou qualquer outra de suas obras, perceberá que ele faz uso do termo "economista" com o significado de exclusão de todos os socialistas, inclusive os fabianos, como Keynes.

Sempre que perguntarmos a uma dessas pessoas qual o mal que existe em uma dada concentração de renda para a prosperidade de uma sociedade, elas simplesmente não saberão explicar. Isto porque, para elas, a perseguição de uma situação de igualdade material é um fim em si. Aqui é oportuno lembrar que o mote contra a desigualdade foi criado como uma alternativa ao fracassado apelo do empobrecimento alegadamente causado pela revolução industrial, e que, a olhos vistos, jamais se produziu.

Em linha contrária, podemos, sim, justificar como a concentração de renda desempenha um indispensável papel para a prosperidade de uma dada sociedade. Antes, todavia, vamos "lavar" este termo, para denominá-lo apenas de "riqueza" ou melhor ainda, de "poupança acumulada". Com a poupança, viabilizam-se os investimentos de médio e longo grau de maturação, tidos justamente como aqueles dos quais se esperam os maiores benefícios. A riqueza nas mãos de quem provou ser competente para geri-la provoca a produção de mais riqueza (e inclusão) para todos os demais integrantes de um determinado grupo social.

Se eu puder fazer uso de uma ilustração, lembro de um ciclone. Imagine como em seu centro se concentra a maior energia e onde o vento flui com maior força e velocidade, enquanto as bordas, mesmo mais fracas, vão puxando as coisas ao redor e assim o fazendo crescer cada vez mais. O mesmo acontece , digamos assim, com uma virtuosa espiral de crescimento econômico. Algumas pessoas se fazem ricas antes do que as demais, mas é a riqueza delas o que justamente opera a inclusão das mais próximas, e a destas, para com as que lhes sucedem.

Não existe e jamais existiu uma sociedade igualitarista próspera, até porque o fim almejado de uma política de igualdade consiste em permanentemente tomar à força o resultado do trabalho honesto de quem se esforça por ele, desanimando-o, assim, irremediavelmente. Nas sociedades primitivas como as indígenas, todos são naturalmente iguais...e miseráveis. Nas sociedades socialistas, cria-se artificialmente uma concentração de renda a cargo do estado, a ser gerida por administradores públicos, que não possuem delegação de competência para a tomada das decisões mais cruciais, nem o talento para descobrir o que é mais urgente e necessário para a população, e enfim, nem sequer o empenho próprio para tanto.

Nos países sobre os quais se propagandeia uma diferença pequena entre a renda dos mais ricos em relação aos dos mais pobres, i.e. a Alemanha, é porque estes são muito bem educados e muito produtivos. O trabalho da maioria destas pessoas têm, em linhas gerais, um alto valor agregado, até um ponto em que as poucas pessoas pouco habilidosas, justamente por usufruírem de um mercado privilegiado - e até um certo ponto protegido pelo estado - também são bem aquinhoadas.

No Brasil, ao contrário, a população desprovida de qualquer habilidade profissional é extremamente numerosa, e a poupança é ferozmente deprimida pelo estado. Sem uma produtividade de alto nível, somos pobres trabalhando em serviços pobres para pessoas também pobres. Não admira, pois, que restem poucos ricos, e daí, tanta desigualdade.

Enfim, se algum significado útil pode ser dado ao termo "concentração de renda", este pode ser o de uma sociedade onde prevaleça a riqueza de alguns obtida por meio do uso da força agressiva própria ou promovida pelo estado. Neste sentido, sim, podemos, adequadamente, enquadrar o Brasil, como havia alertado lá nos primeiros parágrafos, para definir um país onde as relações humanas voluntárias e mutuamente benéficas são extremamente deprimidas por guildas, sindicatos, conselhos de classe, partidos, leis de preços mínimos, leis de preços máximos, leis de distribuição de renda, leis de preços sociais, leis trabalhistas, leis previdenciárias e tanto mais.

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