quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Debate sobre politica industrial - artigos de Pedro Cavalcanti Ferreira e Renato Fragelli

Artigos que trazem um pouco de luz ao pífio (e medíocre) debate (se o nome se aplica) político-econômico sobre a propalada desindustrialização brasileira, sobre a trajetória recente da participação da indústria na formação do PIB e sobre suas consequências estruturais ou sistêmicas para a economia brasileira, para seu desenvolvimento econômico e social e para o futuro da nação.
Paulo Roberto de Almeida

Crescimento com ou sem exclusão
Pedro Ferreira e Renato Fragelli
Valor Econômico – 22 de julho de 2011

Há por parte de alguns economistas e políticos de esquerda uma nostalgia dos anos dourados do crescimento brasileiro, que iria do pós-guerra até o fim dos anos 70. O crescimento acelerado nestes anos leva muitos a separarem as escolhas econômicas do ambiente político e do quadro social, e olhar como altamente positivo o resultado final das políticas nacional-desenvolvimentistas. Diferentemente do ocorrido naqueles anos, o crescimento atual se dá em regime democrático e com melhoria da distribuição de renda.
A persistência da atual retomada, entretanto, exige um diagnóstico racional dos erros e acertos do passado, para que não se cometam no presente os erros que podem levar a frustrações no futuro.
Entre 1950 e 1979, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu a mais de 7% ao ano, ou 4,4% em termos per capita. No período, a renda média do brasileiro aumentou três vezes e meia. A base produtiva diversificou-se de forma expressiva permitindo que uma nação que antes da guerra tinha mais de 60% de sua mão de obra no campo, chegasse em 1980 com metade dessa figura e produzindo os mais diversos tipos de produtos industriais.
Esse o lado bom: crescemos muito. Para atingirmos isso, além de um cenário internacional altamente favorável, contamos com uma série de agressivas políticas econômicas. Entre elas a substituição de importações, que se iniciou com bens de consumos duráveis, mas nos anos 70 se estendeu para bens de capital e intermediários. Além disso, houve uma participação decidida do estado na economia, com produção direta em setores considerados estratégicos, gigantescos investimentos em infraestrutura e financiamento subsidiado ao investimento privado.
Fim da inflação, educação e políticas sociais agressivas explicam grande parte das melhorias sociais
Essa estratégia de crescimento ignorou ou deu baixíssima prioridade à educação. Suas políticas sociais eram quase inexistente e por falta de foco não atingiam os pobres. Esse o lado ruim do Nacional Desenvolvimentismo: os benefícios do alto crescimento não chegaram ao grosso da população brasileira. Em 1970, 33% dos adultos brasileiros não sabiam ler (54% no Nordeste!) e a média de escolaridade da população adulta era de 2,4 anos de estudo, sendo que em 13 estados essa média não passava de dois anos. O percentual de pobres na população era de 67%, isto é, dois em três brasileiros. A mortalidade infantil no Nordeste era de 180 mortos por mil nascidos, quando a média na América do Sul era menos da metade dessa cifra e nos Estados Unidos exatamente um décimo.
O lado ruim não fica por aí. Segundo dados do Centro de Políticas Sociais da FGV, entre 1960 e 1970, a renda dos 5% mais ricos aumentou 75%, mas a da metade mais pobre somente 15%. A desigualdade de renda que já era alta experimentou no período sua maior deterioração decenal em todos os tempos.
Hoje já está bem estabelecido que fatores ligados à educação são os principais determinantes da pobreza e da distribuição de renda. Assim, por trás desse trágico quadro de exclusão e miséria observado durante o período Nacional-Desenvolvimentista estão as escolhas de política econômica, que basicamente privilegiaram o investimento em capital físico e ignoraram o capital humano, a educação e políticas compensatórias.
O reconhecimento da ligação entre nossa pobreza e as políticas de crescimento "estruturalistas" do passado seria fundamental para ordenar o debate atual sobre nossas escolhas de política econômica. Ao separar um assunto do outro - como se indicadores sociais tivessem vida independente e não fossem influenciados pela economia - economistas dessa corrente, muito deles em posições chaves no atual governo, defendem ou implementam políticas semelhantes àquelas do passado sem atentar para o caráter altamente regressivo e conservador das mesmas.
O Brasil vive nos últimos 15 anos um período único de crescimento com redução de pobreza. É verdade que o crescimento está abaixo do observado entre 1950 e 1980, mas ainda assim acima da média histórica dos países ricos: nos últimos 16 anos crescemos a 2,7% ao ano em termos per capita e quase 3% durante o governo Lula. Ao mesmo tempo, as medidas de desigualdade nunca estiveram tão baixas e a pobreza vem caindo aceleradamente, cerca de 68% desde o Plano Real e 16% somente em 2010. Embora ainda não haja consenso sobre as causas da queda da pobreza, parece certo que o fim da inflação, o aumento da educação e políticas sociais agressivas explicam grande parte das melhorias sociais.
Esse quadro deveria ser o nirvana dos economistas desenvolvimentistas e de esquerda. Entretanto, em sua grande maioria teimam em defender políticas concentradoras de renda ou repetir um mantra estruturalista altamente excludente, que é reproduzido por alguns desavisados e por muitos interessados. Como por exemplo, a desvalorização cambial a qualquer custo e subsídios ao investimento do grande capital para a formação de grandes grupos nacionais. Seria mais sensato que defendessem políticas realmente progressivas, como educação de mais qualidade, saneamento universal e fim dos subsídios, de forma que o benefício do crescimento atingisse ainda mais os pobres.

Pedro Cavalcanti Ferreira e Renato Fragelli Cardoso são professores da Escola de Pós-graduação em Economia da Fundação Getulio Vargas.
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O fantasma dos anos cinquenta
Pedro Ferreira e Renato Fragelli
Valor Econômico – 30/05/2011

Neste momento em que a indústria brasileira passa por mares revoltos devido à crescente valorização cambial, mais do que nunca seria oportuno uma reflexão sobre a estratégia nacional de apoio à industrialização. Entre a década de 1950 e o início da década de 1990, o país experimentou de tudo em matéria de proteção à indústria: barreiras tarifárias, taxas de câmbio múltiplas, lei de similaridade nacional, reserva de mercado no setor de informática, crédito subsidiado, além da ação direta do Estado em setores intensivos em capitais ditos "estratégicos".
A teoria que fundamentou a política industrial brasileira foi desenvolvida na década de 1950. Ela baseava-se na premissa de que, a longo prazo, os preços internacionais dos produtos primários estavam fadados a uma inexorável desvalorização em relação aos dos industrializados. Segundo a teoria, os países industrializados aprimoravam continuamente suas técnicas de produção, o mesmo não acontecendo nos países subdesenvolvidos que produziam produtos primários. Assim, enquanto o aumento da produtividade sancionava elevação dos salários nos países industrializados, a estagnação tecnológica aliada ao acelerado crescimento populacional forçava a queda de salários nos países produtores de bens primários. Países com pouco capital e mão de obra não especializada, ao permanecerem exportadores de bens primários, estariam condenados ao subdesenvolvimento. O problema era agravado pelo fato de Europa, Japão e EUA protegerem seus setores agrícolas.
Não é mais sensato investir na produção daquilo que outros países não podem fazer por insuficiência de dotações?
A premissa da desvalorização dos preços dos bens primários em relação aos bens industriais não encontra suporte empírico no mundo atual. Após abandonarem as fracassadas experiências socialistas e as estratégias de desenvolvimento autárquico, países da Europa Oriental, China e Índia se juntaram decididamente às economias de mercado. Junto com eles, trouxeram uma gigantesca oferta de mão de obra que antes vivia na agricultura de subsistência. Essa transformação teve dois impactos gigantescos sobre os mercados de produtos industriais e primários. O primeiro é que os milhões de trabalhadores que abandonaram a agricultura se direcionaram para a indústria dispostos a trabalhar por salários baixíssimos; o segundo é que essa imensa população passou a importar os bens agrícolas que, bem ou mal, antes produzia em regime de subsistência.
Como se trata de populações imensas, suas ações alteraram significativamente os preços internacionais. O resultado são preços internacionais de bens industriais declinantes, acompanhados de preços de bens primários crescentes. Exatamente o oposto do que diziam as teorias da década de 1950. O problema é agravado pela alta taxa de poupança nesses países que lhes permite manter uma taxa real de câmbio desvalorizada, sem grandes pressões inflacionárias.
Também a hipótese de estagnação da tecnologia de produção de bens primários não encontra suporte na atualidade. Na agricultura, a revolução produtiva gerada pelas pesquisas da Embrapa fala por si só. Na extração de recursos naturais, a evolução tecnológica permite a extração de petróleo e outros minerais a profundidades inconcebíveis há apenas uma década.
Foi-se o tempo em que o que tinha valor era necessariamente produzido na indústria. No pragmático mundo do pós Guerra Fria, qualquer país com macroeconomia estável, mão de obra barata em relação a sua qualificação e direitos de propriedade razoavelmente confiáveis atrai indústrias de média tecnologia. Esse tipo de indústria gera empregos locais, mas não embute gordas margens. Por exemplo: o valor adicionado domesticamente às exportações de computadores chineses é menos que 5% do valor adicionado total. Por exigência da competição nos mercados internacionais, os salários pagos nesse tipo de indústria tendem a se igualar aos baixos salários recebidos por chineses.
Após meio século de política industrial, com sucessos em poucas áreas e fracassos em muitas outras, o Brasil encontra-se diante de um novo paradigma que parece não ter sido corretamente compreendido pelos formuladores de suas estratégias. Não apenas se insiste na formula de meio século atrás, como se está dobrando a aposta, conforme atestam as recentes capitalizações bilionárias do BNDES. Persiste-se no modelo de fortes subsídios creditícios à indústria - distribuídos segundo critérios obscuros que privilegiam grandes empresas - num mundo onde sequer está claro que a indústria continue a ser a fonte da prosperidade. Há que se levar em conta, por exemplo, que nas economias avançadas mais de 70% do PIB é gerado no setor de serviços.
Dado o estágio de industrialização já alcançado pelo Brasil, qual é hoje o caminho da prosperidade? Produzir domesticamente o que qualquer país pode fazer, igualando os salários dos brasileiros aos dos chineses? Fabricar o que poderia ser comprado a baixo preço no exterior? Ou aprofundar a produção daquilo que outros países não poderão fazer por insuficiência de dotações? A política econômica recente tem privilegiado a proteção à industria a qualquer preço; está na hora de repensar esse modelo e partir para uma estratégia mais equilibrada e racional, abandonando uma visão obsoleta onde o Estado escolhe os vencedores e campeões.

Pedro Cavalcanti Ferreira e Renato Fragelli Cardoso são professores da Escola de Pós-graduação em Economia da Fundação Getulio Vargas.
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Desindustrialização e o Pato Donald
Pedro C. Ferreira e Renato Fragelli
Valor Econômico – 03/09/2010

Não será advogando políticas que só beneficiam a indústria que se conseguirá acelerar o crescimento do país

A despeito da celeuma recente sobre uma suposta desindustrialização do país, não há evidência forte de que isso venha ocorrendo. Ao contrário, a indústria nacional tem crescido a taxas bastante altas. Isso não impediu aqueles que sempre preconizaram a desvalorização cambial como estratégia para combater os efeitos nefastos da desindustrialização de insistirem nos mesmos argumentos, agora como medida de combate aos supostos efeitos negativos da "re-primarização" da pauta de exportações.
Os efeitos presumidamente negativos das exportações de commodities sobre a economia brasileira carecem de base empírica e teórica, bem como agridem o bom senso. Não há estudos relevantes estimando o efeito da composição da pauta de exportação sobre crescimento. Pode-se identificar a origem dessa ideia na tradição do pensamento dito "desenvolvimentista". A premissa - ou dogma - é que a indústria seria (sempre) o setor mais dinâmico da economia, aquele onde se daria a adoção e criação de novas tecnologias, o setor que puxa a reboque os outros. Uma vez aceita essa hipótese, segue-se como prescrição de política econômica que qualquer fator que pareça prejudicar a indústria - valorização cambial, abertura comercial, juros elevados etc. - deveria ser "corrigido" o mais rapidamente possível, independentemente dos custos implicados por tal decisão sobre o resto da economia.
A ênfase excessiva na industrialização ignora dois fatos importantes. O primeiro é que inovação tecnológica não é prerrogativa do setor industrial. Numa semente de soja produzida no Cerrado há embutidos bilhões de dólares em pesquisa desenvolvida pela Embrapa e empresas privadas. A tecnologia gerada por essas pesquisas foi responsável por um espetacular aumento de produtividade de muitas outras culturas no país, bem como da agroindústria. As exportações agrícolas dispararam não só porque a demanda externa cresceu, mas porque o Brasil tornou-se tecnologicamente avançado e altamente competitivo.
O segundo fato ignorado é que, ao longo de suas trajetórias de crescimento, os países sofrem uma transformação estrutural em que o trabalho é inicialmente realocado da agricultura para indústria - tal como na China atual, e no Brasil dos anos 1950 a 1970 - e, posteriormente, da indústria para os serviços. Na Espanha, por exemplo, entre 1960 e 2000, o emprego na agricultura caiu de 42% do total para 7%; na indústria, de 34% para 30%; enquanto no setor de serviços, saltou de 24% para 63%. Na Bélgica, no mesmo período, o emprego na agricultura caiu de 29% do total para 2%; na indústria de 28% para 23%; enquanto nos serviços cresceu de 43% para 75% do total. Números semelhantes se observam nos países mais avançados do planeta.
Há cerca de 20 anos, as ações da U.S. Steel foram substituídas pelas da Walt Disney no índice Dow Jones. Isso não significa que, para a economia americana, uma chapa de aço seja menos importante que o Pato Donald ou o Buzz Lightyears. Mas constitui um sinal da influência do setor de entretenimento e, de forma mais geral, do setor de serviços no PIB americano.
Uma inexorável consequência do crescimento do setor de serviços é o fato aritmético de que a produtividade média da economia, bem como sua taxa de crescimento, serão largamente influenciadas, senão determinadas, pelo que ocorre nesse setor. O desempenho da indústria continuará a impactar positivamente muitos subsetores do terciário, mas é pouco provável que um setor que tende a recuar para 20% da economia determine o desempenho agregado.
Aqui se encontra um grave problema brasileiro: nos anos recentes, o setor terciário cresceu a uma taxa muito baixa, tanto em comparação com outros países quanto com outros setores domésticos. No início dos anos 1950, segundo dados do Groningen Growth and Development Centre, a produtividade do setor de serviços (excluindo setor público) no Brasil era de cerca de um quarto do observado nos EUA. Se isto já era ruim, em 2005 a situação tornou-se bem pior: a produtividade média caiu para cerca de um décimo da americana! Em termos relativos, andamos para trás, pois enquanto a produtividade no setor terciário americano aumentou 250%, no período, aqui cresceu menos de 20%.
Em resumo, como em todos os países de renda média e alta, o Brasil tende a se tornar uma economia com predominância do setor de serviços, mas é justamente nesse setor que a produtividade está quase estagnada. Os economistas brasileiros não têm se dedicado ao estudo do setor terciário com a mesma intensidade que estudam a indústria e agricultura. Não será advogando políticas que somente beneficiam a indústria, ou criando falsos problemas como a "re-primarização" da pauta de exportações, que se conseguirá acelerar o crescimento futuro do país. É preciso identificar o que fazer para que, em alguns anos, o Cebolinha e a Turma da Mônica façam parte do Ibovespa, isto é, como aumentar o dinamismo e a produtividade dos setores de entretenimento, comércio, transporte, turismo, entre outros.

Pedro Cavalcanti Ferreira e Renato Fragelli Cardoso são professores da Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getulio Vargas
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Por que subsidiar o capital?
Pedro C. Ferreira e Renato Fragelli
Valor Econômico – 22 de julho de 2010

Em artigo anterior (Valor 28/05/10), argumentamos com dados que a maior parte do atraso brasileiro em relação aos países mais ricos deve-se à ineficiência geral da economia e à baixa escolaridade da população. Juntos, os dois fatores explicam cerca de 85% da diferença entre a renda per capita do Brasil e a dos EUA; os 15% restantes se devem à insuficiência de capital. Entretanto, mesmo não sendo a insuficiência de capital o principal entrave ao avanço do país, as políticas de promoção do crescimento em vigor teimam em repetir a mesma estratégia adotada nas décadas de 1950 a 1970, priorizando volumosos - e custosos - financiamentos à acumulação de capital.
Em artigo recente, Mansueto Almeida, economista do IPEA, estimou em cerca de R$ 10 bilhões o volume anual de subsídio concedido pelo BNDES a empresas. Só para efeito de comparação, o programa Bolsa Família, que atende 12 milhões de famílias pobres, custa R$ 13 bilhões anuais. O subsídio é caracterizado pelo fato de que o financiamento da dívida do governo federal - único acionista do BNDES - gira em torno da taxa Selic (10,25% ao ano ontem), enquanto o banco empresta às firmas a TJLP (6% ao ano).
Em contraste com os critérios transparentes adotados pelo governo federal na concessão da Bolsa Família, o BNDES, ao definir quais setores e empresas terão acesso a seus créditos subsidiados segue critérios obscuros. Dado que os principais beneficiados dos empréstimos são grandes conglomerados, trata-se de uma brutal transferência de recursos de todos os brasileiros para os acionistas destas empresas. Os financiamentos a TJLP constituem hoje um Bolsa Família às avessas, e as recentes capitalizações do banco - R$ 180 bilhões - indicam que a benesse para poucos tende a se expandir.
Subsídios creditícios a grandes conglomerados, além de contribuírem para agravar a má distribuição de renda, desestimulam o desenvolvimento do mercado de capitais e geram pouco incentivo a investimentos em aprimoramento tecnológico, pois a defasagem tecnológica que reduz a rentabilidade é compensada pelo subsídio. Não há evidência de que empresas "campeãs", escolhidas por sábios tecnocratas ou grandes oligopólios, sejam mais eficientes do que empresas menores.
Ao contrário, a evidência mostra o oposto. Causa surpresa, portanto, que economistas supostamente progressistas insistam em defender políticas ineficazes para promoção do crescimento e que transferem renda aos mais ricos.
Uma boa política econômica precisa ponderar custos e benefícios ao estabelecer suas prioridades. Se, por exemplo, o objetivo é a geração de empregos, deve-se verificar se o número de postos de trabalho a serem criados pelo subsídio supera o de postos destruídos pela tributação que custeia os subsídios. A tolerância - ou até mesmo simpatia - da sociedade em relação ao crédito público subsidiado decorre do fato de que os empregos criados são facilmente observáveis, pois concentram-se no setor escolhido pela tecnocracia, ao passo que os empregos destruídos são de difícil identificação, pois estão dispersos nos setores onerados pelo imposto que financia o subsídio.
A pesada estrutura tributária brasileira, com seu cipoal de impostos e contribuições sobre as mais diversas bases de incidência, inviabiliza hoje incontáveis empreendimentos. Ela é responsável, em larga medida, pelo tamanho exagerado da economia informal no país. Firmas informais tendem a ser menos produtivas, pois não têm acesso a crédito, o que as impede de investir em avanços tecnológicos, além de sofrerem com a alta rotatividade da mão de obra. No caso das empresas grandes, a tributação excessiva incentiva a concentração em poucas companhias, cujo poder de mercado permite a convivência com a exação fiscal. A menor competição desestimula os ganhos de produtividade.
O caminho para o crescimento está no foco em políticas que visem aumentar a eficiência geral da economia e que atinjam os agentes econômicos de forma mais equânime. São medidas institucionais de micro (e algumas macro) reformas voltadas para a redução de distorções. Exemplos urgentes são a redução da tributação sobre a folha salarial e sobre investimento, bem como eliminação de impostos em cascata. Uma estrutura tributária mais enxuta e menos distorcida incentivaria o investimento e a formalização. O resultado seria maior crescimento, com a vantagem que todas as empresas, de todos os setores, se beneficiariam, e não um grupo específico escolhido segundo critérios questionáveis.
É curioso que a mesma tributação elevada que contribui para que muitas empresas se mantenham na informalidade seja usada para subsidiar as grandes. Tira-se de quem não tem para se dar a quem tem. Será que isso é que se entende por ideias desenvolvimentistas?

Pedro Cavalcanti Ferreira e Renato Fragelli são professores da Escola de Pós-Graduação em Economia da FGV

Semana de Economia: textos importantes...

Transcrevo um simples post informativo do blog do economista do Ipea Mansueto Almeida (no kinship or relationship), mais importante pelas referências de leitura do que pela simples informação relativa a esse encontro de economia em Ribeirão Preto.
Já participei uma vez dessa semana de economia, ou pelo menos de um encontro de economia em RP, onde falei sobre Mercosul, integração e temas correlatos. Saí com excelente impressão, dos alunos e dos professores.
O tema da educação, que reputo importantíssimo, junto com a questão fiscal, para o Brasil de hoje (e de amanhã, infelizmente o de ontem já passou, sem...), e que vêm sendo, ambos, mal tratados, desprezados, torturados, pelos governantes e pela sociedade. Infelizmente, por causa disso mesmo, o Brasil vai continuar crescendo pouco e sendo um país desigual.
Transcrevo abaixo meus comentários a este post do Mansueto Almeida.
Paulo Roberto de Almeida

III Semana Acadêmica de Economia USP-Riberão Preto
Blog do Mansueto (de Almeida), 17/08/2011

Na próxima semana volto, depois de mais de dez anos, a Riberão Preto para participar como palestrante na III Semana Acadêmica de Economia. Recebí hoje a programação que me parece ser muito boa (clique aqui) e com bons palestrantes para tratar de temas que estão longe de serem triviais.

A mesa de abertura vai tratar do tema educação que para mim é um dos temas mais importantes para o futuro do Brasil. Parte dos avanços recentes nesta área deve-se ao trabalho de um dos palestrantes, Reynaldo Fernandes, que passou pelo INEP e melhorou o sistema de avaliação daquele órgão. Hoje, há no Brasil um grande debate sobre (1) modelos alternativos de gestão escolas e promoção de competição; (2) modalidades diferente de currículos para ensino médio; (3) avaliação de professores e mecanimos de incentivo à eficiência, etc.

O debate sobre qualidade de educação envolve tudo isso e um dos temas mais polêmicos é justamente a questão do ensino médio que no Brasil segue um modelo único voltado para a universidade. Há um grupo de pesquisadores que defende que deveríamos adotar não um, mas vários modelos de escola média, inclusive um voltado para o mercado de trabalho para aqueles que não querem ingressar na universidade. É claro que o problema desse modelo, que funciona bem na Alemanha, é que forçamos um adolescente a tomar uma decisão difícil muito cedo — seguir com os estudos voltado para universidade ou para o mercado de trabalho.

Uma boa leitura sobre esse debate são os capítulos da parte 3 do livro Brasil: A nova Agenda Social, 2011, organizado por Edmar Bacha e Simon Schwartzman. No caso específico do ensino médio sugiro também o curto artigo do Claudio Moura Castro publicado recentemente no Estado de São Paulo (clique aqui).

Há vários outros paineis interessante. O painel que participo vai tratar do tema espinhoso da especialização, doença holandesa e o papel das commodities na economia. Há hoje um quase consenso entre economistas que o Brasil tornou-se um país caro para se produzir manufatura. O que não está claro é como lidar com o problema ou mesmo se isso é um problema.

O argumento daqueles que acham que a perda de participação na indústria no PIB é um problema pode ser resumido neste artigo do Dani Rodrik reproduzido no Valor Econômico (clique aqui). E para aqueles que não acham que isso seja um problema recomendo os vários artigos anexos do Pedro Cavalcanti e do Renato Fragelli da FGV-RJ (clique aqui).

A única certeza que tenho neste debate é que: (1) a tendência do Brasil é sim que a indústria perca competitividade e diminua sua participação no PIB. O Brasil tornou-se um país caro espremido entre os baixos salários da China (e outros países Asiáticos) e os altos salários, mas elevada de produtividade de países como Alemanha; e (2) não vejo espaço fiscal sendo criado para desonerar seletivamente a indústria e modificar preços relativos. Esse é um debate que está em aberto no Brasil.

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Paulo Roberto de Almeida [Comentário ao post acima]

O Brasil tem enormes problemas de governança econômica e enormes problemas estruturais, sistêmicos, Entre os primeiros eu colocaria o desgoverno fiscal atual, que me parece uma pesada bola de ferro grudada na perna dos empresários a impedi-los de serem competitivos externamente e internamente e de obterem ganhos de produtividade em vista da enorme porção de seu faturamento que vai direto para as burras do tesouro (nunca um nome foi tão apropriado). Sem falar, claro, nas distorções do mercado de crédito, no mercado de capitais, que estão diretamente vinculados à baixa taxa de poupança voluntária (ou privada) no Brasil (sim, por que a compulsória atinge níveis quase chineses, mas não é “desviada” para fins produtivos), e consequentemente à pífia taxa de investimento. O Estado é não apenas um despoupador líquido como um deformador absoluto do ambiente de negócios no Brasil.
Entre os problemas estruturais mais relevantes eu colocaria o da educação. Sei que muitos economistas não atribuem um papel tão relevante para a educação no processo de transformação produtiva e de ganhos tecnológicos, achando que se pode fazer muito com ilhas de excelência e alguma importação de know-how, mas a educação de base é fundamental para a melhoria da produtividade como um todo e para a distribuição de renda.
Infelizmente, o Brasil está fazendo TUDO (e eu sublinho TUDO) errado em matéria de educação, sobretudo na formação de professores, terreno no qual predominam as novas saúvas do Brasil, as pedagogas freirenas. Se o Brasil tomasse consciência do que vem fazendo de errado e começasse a corrigir esses problemas AGORA, ainda teria tempo de consertar alguma coisa no espaço de 15 anos (SIM, sublinho novamente, 15 anos) e aproveitar o bônus demográfico para ficar um pouco mais rico e pagar pelos velhinhos que vão comprimir a PEA dentro de mais 20 a 25 anos. Infelizmente isso não vai acontecer e vamos perder boa parte do bônus demográfico com as mesmas bobagens freireanas que devastam, aniquilam a educação brasileira na atualidade (e desde os últimos 40 anos).
Sou moderadamente pessimista quanto à marcha geral da economia brasileira, mas sou absolutamente pessimista quanto aos problemas fiscais e educacionais. Enfim, esqueço a corrupção por enquanto.
Mil desculpas por ser pessimista, e a despeito de encontrar excelentes nomes nessa semana de economia em RP, sinto que são (e serão, por muito tempo) poucas vozes clamando no deserto.
Infelizmente o retrocesso econômico no Brasil é muito grande, e ele é muito mais mental do que material…
Paulo Roberto de Almeida
Brasília.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Afirmacoes que serao desmentidas em breve...

Adivinhem quem disse o que vai abaixo?

Sobre a eleição presidencial em 2014

• "O Brasil terá uma candidata em 2014 chamada Dilma Rousseff". Não pretendo voltar à Presidência. Acho que já cumpri com a minha tarefa para esse país.

• Só existe uma hipótese de Dilma não se candidatar a reeleição em 2014. "Ela não querer".

• Dilma será minha candidata em 2014′, disse em 27 de de 2010.

• “Estou interessado em passar um processo de desencarnação. Vou passar um tempo sem me meter na política, sem dar palpite... Só não disse quanto tempo. Alguns segundos, provavelmente.

• Dilma será candidata à reeleição em 2014 - 29 de Julho de 2011 - na Escola Superior de Guerra (ESG).

• "Essa coisa (disputar eleição), se tiver de acontecer, a conjuntura do momento vai indicar. Até porque quero dar um exemplo de ex-presidente: quero deixar a Presidência e não vou virar palpiteiro".

• Trabalho "com a ideia fixa de que a companheira Dilma (Rousseff) será outra vez candidata à Presidência da República".

Bem, acho que serão desmentidas antes que você possa aprender o significado de "saperlipopete".
(Uma dica: busquem nos livros antigos...)

Armas de destruicao (financeira) em massa: o terceiro maior perigo

Capitalistas sempre sabem do que falam, quando tratam de ativos (os seus ou o dos clientes, que eles tratam menos cuidadosamente):

From the Editors of American Banker
BankThink: Data Insecurity Is a Systemic Threat
August 17, 2011

"The FBI rates cyber attacks as the third greatest threat to U.S. security behind only nuclear warfare and weapons of mass destruction," writes columnist and former comptroller of the currency Eugene Ludwig. He notes the Financial Stability Oversight Council's mention of data security weakness as a potential systemic threat and explains that as an information business, the financial industry is especially prone to harm from hackers.
Go to BankThink.com to read the rest of Ludwig's column.

Enfim, entre mortos e feridos, o que sempre ocorre é um pouco de "redistribuição de renda" (forçada neste caso)...

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Imprensa 6 x Governo 0: vai ficando cansativo, eu sei...

Não levo nenhuma campanha contra o governo, este ou outros.
O que me move, basicamente, é a vontade de viver num país normal.
País normal é aquele no qual você acorda sabendo que o dinheiro que você pagou em impostos está sendo bem utilizado, que as políticas públicas são as melhores possíveis, enfim, que as manchetes que você lê no café da manhã não são as de ministros e altos funcionários públicos envolvidos em corrupção.
Com base nestes critérios, o Brasil ainda não é um país normal.
Eu gostaria que ele fosse, e tenho pouco poder para mudar muito a situação. Afinal de contas só disponho deste blog, de eventuais artigos publicados aqui e ali, pouco lidos, eu sei, e de aulas, nas quais eu posso transmitir aos meus alunos algumas verdades simples, do tipo "seis vezes sem juros" é uma coisa que não existe em países normais. Por curioso que seja, eles se surpreendem quando digo esse tipo de coisa, pelo menos os do segundo semestre da graduação.
Pois bem, como posso fazer muito pouca coisa, posso pelo menos achar estranho que eu pague, com meus impostos, funcionários que se especializam em deformar a realidade, como esse secretário de imprensa da Presidência da República, objeto do comentário desse jornalista conhecido.
Por fim: coloquei o seis a zero porque já dou o resultado por adquirido. Será a sexta vez que o governo será comandado pela imprensa. Pelo andar da carruagem, a conta deve aumentar...
Paulo Roberto de Almeida

Secretário de Imprensa da Presidência da República sabota esforço moralizador do governo. Demonstro por quê.
Reinaldo Azevedo, 16/08/2011

Governos no mundo inteiro têm uma estrutura de imprensa para se comunicar com a opinião pública. Poucos, no entanto, contam com um aparato semelhante ao brasileiro, que soma a publicidade oficial à das estatais, conferindo um poder formidável aos mandatários de turno. Aí está uma das raízes dos desmandos no Brasil, não duvidem.

Pois bem. O lulo-petismo não se conforma só com o permanente assalto ao bolso dos cidadãos para espalhar as verdades oficiais e para fazer politicagem. Todos sabemos que há, por exemplo, uma rede de blogs sujos financiada direta ou indiretamente pelo oficialismo. E isso ainda é pouco. Profissionais incrustados na máquina de comunicação, que deveriam primar pelo rigor técnico, recorrem às redes sociais para praticar uma espécie de pistolagem intelectual e política.

Vou dar destaque aqui a um sujeito que tem modestíssimos 1.045 seguidores no Twitter. Certamente acabará ganhando alguns depois deste post. Não ligo. Às vezes, sou caridoso com os desprovidos de público. Dou relevo ao que ele escreveu porque, creio, três de seus tuítes servem de emblema do que está em curso.

Refiro-me a um sujeito chamado José Ramos Filho, que é secretário de Imprensa da Presidência da República. Trabalha diretamente com Dilma Rousseff. A VEJA desta semana, como sabem, traz uma reportagem narrando a magnífica trajetória do ministro da Agricultura Wagner Rossi, o professor universitário que entrou para a política e acabou morando numa casa avaliada em modestos R$ 9 milhões. Esse é o lado, digamos, “empreendedor” de sua biografia. Há outros. Leiam lá.

Pois bem, no próprio sábado, tão logo a revista começou a chegar às bancas, o tal José Ramos Filho mandou ver em três tuítes, que me foram enviados por um leitor. Eu os reproduzo abaixo, na forma como foram redigidos.

1 - “O que dita rumos é o grito dos fatos noticiados, não o berreiro do jornalista ou de seu veículo.”
2 - “Parece que a editora abril tá querendo entrar no ramo de Diarios Oficiais…”
3 - “Na ausencia de uma bala de prata contra wagner rossi, veja tenta um tiro de cartucheira, com pregos e Chumbinhos.”

Embora José Ramos Filho seja secretário de Imprensa da Presidência, ele certamente dirá que tuitava “enquanto pessoa física”. Para o valente, tudo o que se sabe até agora de Wagner Rossi é pouco, e as notícias podem ser resumidas a um “berreiro”. Vi a cara dele. Já é um senhor careca e barbudo. Como diria Antero de Quental, a tolice de um velho é tão desagradável quanto a gravidade numa criança. Se fosse cabeludo e sem barba, não seria menos tolo. Só descrevo um tipo, que costuma ser confundido com seriedade.

Entendo por que ele está infeliz. O “berreiro” da VEJA derrubou, deixem-me ver, o ministro Antonio Palocci, o ministro Alfredo Nascimento, 26 pessoas do Ministério dos Transportes e o secretário executivo do Ministério da Agricultura, Milton Ortolan. Como diria o dito-cujo, nada como “o grito dos fatos”.

Passo para o tuíte 3. E encerrarei com o dois, em que, vocês verão, o secretário de Imprensa de Dilma faz pouco de sua chefe. Explicarei por quê. Ramos está anunciando um critério moral, que deve seguir, suponho, em sua vida privada, já que escreve “a nível de pessoa”, né? Ele acha que um ministro envolvido no desperdício de oito toneladas de comida por razões políticas não é “bala de prata”; ele acredita que um lobista com sala secreta no ministério — ex-traficante de drogas que redige pareceres e cobra propina em nome da pasta — não é bala de prata. Que homem tolerante! Se ele acha que o Brasil merece tais práticas, vai ver seleciona segundo esses critérios seus amigos na vida privada. Deus me livre!

Mas revelador mesmo é o tuíte 2. Parece enigmático? Eu explico. A mesma edição de VEJA que trouxe a reportagem que desconstrói Wagner Rossi publicou uma “Carta ao Leitor” em que afirma que os brasileiros decentes devem apoiar Dilma Rousseff QUANDO E SE ela demite larápios. O texto informa que a presidente está sendo alvo da chantagem de figurões da base aliada, que ameaçam com retaliações no Congresso.

Pois bem, o homem de Dilma na área de imprensa está afirmando que, ao redigir tal carta, VEJA se candidata a ser “Diário Oficial”. Como hostiliza a revista e como a revista apóia, sim, o esforço moralizador empreendido até agora, resta evidente que o tal José Ramos Filho está fazendo pouco do esforço de sua chefe para livrar os cofres públicos da bandidagem. Ou por outra: o secretário de Imprensa da Presidência está dizendo que esse apreço de VEJA pela moralização não é bem-vindo. Ele dispensa o apoio da revista a esse aspecto da atuação da presidente. Resta saber se o faz ou não em nome dela.

De novo: a tolice num velho é tão insuportável quanto a gravidade numa criança. VEJA atua “no ramo” do jornalismo — e é assim que colaborou para que muitos milhões de reais, bilhões talvez, que pertencem aos brasileiros fossem preservados da sanha da súcia. Este escriba já apontou aqui o arrefecimento do ânimo moralizador da presidente — para o mal do Brasil. Dá para entender por quê. Leio os três tuítes do secretário de Imprensa da Presidência como uma espécie de emblema da sabotagem do esforço moralizador empreendido até agora.

Sabotadores devem ser demitidos. Mas isso é com Dilma. Ao escolher seus assessores, escolhe também um destino. Se ele fica, então fala em nome dela.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Um grande calote, hoje quase esquecido: o golpe de Nixon contra Bretton Woods em 1971

Toda a bagunça do sistema financeiro contemporâneo começou com essa medida populista adotada por Nixon em 1971. Na verdade, ele pensava que era keynesiano; pode ser, mas ele era mesmo um populista demagógico.
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The Nixon Shock Heard 'Round the World
By LEWIS E. LEHRMAN
The Wall Street Journal, August 15, 2011

By severing the dollar's convertibility to gold in 1971, the president ushered in a decade of inflation and economic stagnation.
President Nixon delivered a nationwide television address loaded with economic news on Aug. 15, 1971.

On the afternoon of Friday, Aug. 13, 1971, high-ranking White House and Treasury Department officials gathered secretly in President Richard Nixon's lodge at Camp David. Treasury Secretary John Connally, on the job for just seven months, was seated to Nixon's right. During that momentous afternoon, however, newcomer Connally was front and center, put there by a solicitous president. Nixon, gossiped his staff, was smitten by the big, self-confident Texan whom the president had charged with bringing order into his administration's bumbling economic policies.

In the past, Nixon had expressed economic views that tended toward "conservative" platitudes about free enterprise and free markets. But the president loved histrionic gestures that grabbed the public's attention. He and Connally were determined to present a comprehensive package of dramatic measures to deal with the nation's huge balance of payments deficit, its anemic economic growth, and inflation.

Dramatic indeed: They decided to break up the postwar Bretton Woods monetary system, to devalue the dollar, to raise tariffs, and to impose the first peacetime wage and price controls in American history. And they were going to do it on the weekend—heralding this astonishing news with a Nixon speech before the markets opened on Monday.

The cast of characters gathered at Camp David was impressive. It included future Treasury Secretary George Shultz, then director of the Office of Management and Budget, and future Federal Reserve Chairman Paul Volcker, then undersecretary for monetary affairs at Treasury. At the meeting that afternoon Nixon reminded everyone of the importance of secrecy. They were forbidden even to tell their wives where they were. Then Nixon let Connally take over the meeting.

The most dramatic Connally initiative was to "close the gold window," whereby foreign nations had been able to exchange U.S. dollars for U.S. gold—an exchange guaranteed under the monetary system set up under American leadership at Bretton Woods, N.H., in July 1944. Recently the markets had panicked. Great Britain had tried to redeem $3 billion for American gold. So large were the official dollar debts in the hands of foreign authorities that America's gold stock would be insufficient to meet the swelling official demand for American gold at the convertibility price of $35 per ounce.

On Thursday, Connally had rushed to Washington from a Texas vacation. He and Nixon hurriedly decided to act unilaterally, not only to suspend convertibility of the dollar to gold, but also to impose wage and price controls. Nixon's speechwriter William Safire attended the conference in order to prepare the president's speech to the nation. In his book "Before the Fall," Safire recalled being told on the way to Camp David that closing the gold window was a possibility. Despite the many international ramifications of what the administration would do, no officials from the State Department or the National Security Council were invited to Camp David.


The president had little patience or understanding of the disputes among his economic team members. He found wearisome the mumbo-jumbo from Federal Reserve Chairman Arthur Burns. But the president had determined he would have a unified economic team and a unified economic policy, no matter what the consequences. So the White House dutifully leaked stories designed to undermine and humiliate Burns, as Connally waited in the wings with his "New Economic Policy."

At Camp David, Connally argued: "It's clear that we have to move in the international field, to close the gold window, not change the price of gold, and encourage the dollar to float." Burns timidly objected but was easily flattered by the president. By the evening of Aug. 15, Burns was on board with terminating the last vestige of dollar convertibility to gold, depreciating the dollar on the foreign exchanges, imposing higher tariffs, and ultimately ordering price and wage controls.

Nixon and Safire put together a speech to be televised Sunday night. It had taken only a few hours during that August 1971 weekend for Nixon to decide to sever the nation's last tenuous link to the historic American gold standard, a monetary standard that had been the constitutional bedrock (Article I, Sections 8 and 10) of the American dollar and of America's economic prosperity for much of the previous two centuries.

At least one Camp David participant, Paul Volcker, regretted what transpired that weekend. The "Nixon Shock" was followed by a decade of one of the worst inflations of American history and the most stagnant economy since the Great Depression. The price of gold rose to $800 from $35.

The purchasing power of a dollar saved in 1971 under Nixon has today fallen to 18 pennies (see the nearby graph). Nixon's new economic policy sowed chaos for a decade. The nation and the world reaped the whirlwind.

Mr. Lehrman is chairman of the Lehrman Institute.

Como NAO se deve fazer analise economica (nem politica, alias)...

Nunca antes na França, nem em qualquer outro lugar -- bem talvez em algumas faculdades econômicas brasileiras -- se fez quiromancia econômica tão bem, e de forma tão bizarra, como no caso desse francês maluco.
Receita: pegue todos os fatos, eventos, processos, acontecimentos fortuitos, surpresas de festa, especuladores perversos, um pouco de sanduíches McDonald ("Eu amo tudo isso"), jogue tudo no liquidificador (ou no moedor de carne, tanto faz), chacoalhe depois, acrescente o molho que você quiser (marxiano, à la Noam Chomsky, maoista apimentado, whatever), e depois sirva a uma plateia de estudantes passivos, que se encantam com esses conceitos estrambólicos - crise do capitalismo, esgotamento do sistema, mudanças sociais -- e aceitam qualquer bobagem que lhes seja servida.
Incrível como a decadência mental atinge até os marxistas (ou talvez sobretudo eles), que deveriam ser mais confiantes no futuro do capitalismo, já que eles convivem com o sistema desde meio século e meio aproximadamente.
Incrível como esse cara, que se pretende economista, consegue juntar tudo na sua salada mista que na verdade é misturada ao mais alto grau, até perder qualquer validade analítica.
Ou seja, malucos existem não apenas em certas universidades brasileiras; nas francesas também.
Paulo Roberto de Almeida

Crise financeira mostra regime em beco sem saída, diz Chesnais
ELEONORA DE LUCENA
Folha de S.Paulo, 15/08/2011

A crise financeira não tem final à vista. O modelo de crescimento baseado em endividamento, seguido nos países ricos, está num beco sem saída. E o calcado em exportações de insumos --como o do Brasil-- pode não funcionar por muito tempo.

A análise é do economista marxista francês François Chesnais, 77, professor emérito da Universidade de Paris 13 e autor de "A Mundialização do Capital" (1996) e organizador de "A Finança Mundializada" (2005).

Para ele, os protestos em Londres, no Chile e no Oriente Médio são expressão "de uma doença mundial criada pelo caminho tomado pelo neoliberalismo e pela dominação das finanças". Numa época de valorização do consumismo, são "reações ao extraordinário abismo social", afirma.

Juca Varella-25.mai.04/Folhapress

O economista e professor da Universidade Paris 13 François Chesnais é especialista em globalização de mercados
Folha - Qual a natureza da crise atual?

François Chesnais - O momento atual é um novo episódio na crise mundial. Ela começou há cinco anos, teve seu ponto mais crítico em setembro de 2008, com a quebra do Lehmann Brothers, e não tem um final à vista. Foi prenunciada pela crise asiática (1997-1998) e, no campo das finanças, pela quase quebra do Long Term Capital Management, no início da crise financeira russa. Eventos-chave nos anos 2000 e 2001 lançaram as bases para a eclosão da crise: o crash da Nasdaq, a resposta norte-americana ao 11 de Setembro, as guerras no Iraque e no Afeganistão, muito custosas política e financeiramente, e a entrada da China na Organização Mundial do Comércio.

Quais são as causas?

O funcionamento da economia mundial desde o início dos anos 2000 se baseou em dois pilares: o regime de crescimento guiado pela dívida, adotado pelos EUA e pela Europa, e o regime de crescimento orientado por exportações globais, no qual a China é a principal base industrial, e o Brasil, a Argentina e a Indonésia são os provedores-chave de recursos naturais. A crise representa o beco sem saída, o impasse absoluto do regime guiado pela dívida. O segundo pilar está levemente melhor, mas o crescimento baseado em exportações globais não poderá funcionar por muito tempo sem uma forte demanda externa, especialmente dos EUA e da União Europeia.

Por que há tensão nos mercados?

Os investidores financeiros estão extremamente preocupados. Há a perspectiva de um segundo mergulho da economia dos EUA, uma crise em forma de "W" nas economias avançadas. Outro risco é a vulnerabilidade do sistema bancário europeu, na zona do euro e também no Reino Unido. Há também o perigo de que o lento crescimento faça com que empréstimos públicos e privados sejam cada vez mais difíceis de serem recuperados.

Qual a situação na Europa?

Na União Europeia, desde abril de 2010, tem havido um contínuo fluxo de dinheiro público para alguns governos e para os bancos. Isso tem sido acoplado a políticas de austeridade muito drásticas em alguns países, que os arrastou à recessão (-4% na Grécia). Com isso, fica impossível o repagamento da dívida soberana. Provoca a quebra de empresas, além de levar os sistemas bancários na Grécia, na Itália e na Espanha para uma cada vez maior proximidade do colapso. Isso ameaça bancos nos países do coração da zona do euro, especialmente na França.

A situação dos bancos é preocupante?

Os eventos nas Bolsas estão sendo subordinados a situações bancárias críticas. Em 2008, a ameaça às finanças globais veio dos bancos de investimento dos EUA e das grandes seguradoras. O próximo episódio financeiro maior acontecerá quando um segmento do sistema bancário da Europa entrar em colapso na Grécia, Espanha ou Itália. A atual turbulência nas Bolsas é a expressão do pânico do investidor, que tenta antecipar esse tipo de evento. Seu principal efeito é contribuir para a efetiva ocorrência de um desastre em algum lugar. Isso afeta o comportamento do consumidor de renda mais alta e desencoraja investimentos da classe média.

Nos seus livros, o sr. descreve os detalhes do avanço das finanças. Como avalia o atual momento na história do capitalismo?

É possível traçar paralelos com o passado. Mas em nenhum período anterior foram tão elevados a quantidade de ações e títulos, os ganhos dos rentistas e nem foi tão grande a quantidade em circulação do que eu chamo de "capital monetário elevado à enézima potência". Nunca os lucros financeiros foram tão altos em comparação com a atividade produtiva. Há as consequências da globalização neoliberal contemporânea. Nunca as finanças foram tão desreguladas. Nunca a capacidade dos governos de recuperar o controle sobre as finanças foi tão fraca. A extrema fraqueza da liderança política é uma consequência direta disso. Mas há uma nova dimensão da história do capitalismo.

Qual é?

Essa nova dimensão é a crise ambiental, começando com as mudanças climáticas, que se desenvolve em paralelo à ascensão das finanças e de sua crise. Por isso, entramos nas piores condições possíveis numa era em que a civilização --como a concebemos, no Ocidente e no Oriente-- está patinando. Nossa era é uma em que as enormes e concentradas forças econômicas estão sendo chamadas a agir em tempos de crise, o que Naomi Klein chama de "a doutrina do choque": setores poderosos da sociedade não apenas protegem eles mesmos, mas usam catástrofes para ampliar sua dominação. A forma como o furacão Katrina foi tratado em Nova Orleans mostra que isso vale para grandes eventos ambientais. Alguma coisa muito perturbadora ocorreu silenciosamente na França e, imagino, em outros lugares: a "luta contra a mudança climática" foi substituída pela "adaptação à mudança climática".

Os governos deveriam jogar mais dinheiro nos mercados financeiros?

As políticas fiscais anunciadas ou já decretadas são fortemente pró-cíclicas. Elas acentuam o beco sem saída do regime de crescimento e a incapacidade que a elite dirigente tem de imaginar qualquer outra maneira de reger a economia. Não haverá fim para a crise mundial enquanto os bancos e os investidores financeiros estiverem no comando, fazendo políticas totalmente dirigidas pelos interesses dos rentistas e dando respostas à crise dominadas por tentativas de dar sobrevida ao regime guiado pela dívida.

O que precisaria ser feito para a retomada da crescimento?

Nos EUA e na Europa a recuperação requer o reestabelecimento do poder de compra das classes baixas e médias, a recriação e expansão da capacidade dos Estados de fazer os investimentos sociais e ambientais necessários e o estabelecimento de um sistema monetário internacional estável, não subordinado ao capital financeiro. As condições para isso vão incluir o cancelamento de boa parte da dívida soberana, assim como de boa parte da dívida doméstica; o reestabelecimento de uma taxação correta para a renda das finanças e do capital (um retorno aos níveis de 1970 seria um começo); o reestabelecimento de um verdadeiro controle público do sistema de crédito; um controle restrito dos fluxos de capital e uma luta efetiva contra os paraísos fiscais.

Qual sua visão sobre o poder das agências de classificação de risco?

O poder das agências de classificação de risco apenas espelha o quanto os governos foram colocados nas mãos das finanças. Mostra a extensão da abdicação do poder dos governos, que mudaram as finanças públicas de uma forma baseada em impostos para uma baseada em dívida. Meu livro mais recente, "Les Dettes Illégitimes, Comment les banques ont fait main basse sur les politiques publiques" (2011) [As dívidas ilegítimas, como os bancos fizeram para manipular as políticas públicas, em tradução livre], enfatiza que, em 1980, a dívida pública da França era de 5% do PIB. Mostro que o crescimento é consequência da diminuição dos impostos para os de renda alta, os ricos em patrimônio e lucros, e dos gastos em programas públicos de financiamento custosos, que se tornaram elefantes brancos, como o Rafale que nenhum país comprou.

E o que ocorre agora?

As agências de risco estão pressionando a elite política francesa para aprofundar as políticas de austeridade. Isso no contexto de uma situação de quase recessão --0% de crescimento e desemprego acima de 9%. A recessão mundial de 2008-2009 mostrou a fraqueza da indústria francesa e os efeitos desastrosos do jogo no mercado da União Europeia. O que é necessário é uma política industrial e tecnológica comum, um sistema de intervenção comum. É possível que, nos próximos meses, ocorra na França uma reação popular contra os próximos cortes de orçamento.

As revoltas no Norte da África e no Oriente Médio, o movimento dos "indignados" na Espanha e agora os protestos em Londres têm alguma ligação?

Eu adicionaria à lista as enormes marchas em Tel Aviv, com 200 mil pessoas, e em outras cidades contra a alta nos preços dos alimentos e o desemprego. E também esse extraordinário movimento dos estudantes no Chile. Cada um desses movimentos precisa ser analisado com cuidado. São obviamente expressão de uma doença mundial criada pelo caminho tomado pelo neoliberalismo e pela dominação das finanças.

O que os movimentos têm em comum?

Eles têm em comum o fato de terem sido estimulados pela juventude. Em muitos casos são liderados por jovens líderes que estão emergindo do movimento. São todos reações ao extraordinário abismo social num tempo em que o consumismo é projetado mundialmente pela tecnologia contemporânea e pelas estratégias de mídia. Cada um tem suas idiossincrasias nacionais e suas trajetórias políticas. Em cada caso há uma diferente mistura de um componente fundamental democrático, com conteúdo anticapitalista. Reagem ao fato de a eles ter sido negada a posse de bens que outros da sua mesma geração possuem no seu cotidiano. A crescente percepção da corrupção politico-financeira atiça a indignação e, no caso dos jovens mais pobres, os faz usar os únicos métodos que têm à disposição.

Como os partidos conservadores, social-democratas e a esquerda estão reagindo a essa situação?

Para os partidos conservadores, é sempre sobre "lei e ordem". Os social-democratas estão em profunda confusão. As forças da esquerda têm sido fortemente puxadas para o jogo institucional. Tomara que a duração, a severidade e os altos riscos da combinação entre as crises econômica e ambiental permitam o renascimento de uma forma de atividade política que comece a realmente desafiar o sistema. Na Europa, foi na Grécia que a mobilização de massa da juventude mostrou o conteúdo político mais profundo. Espero que seja o modelo para outros países.

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