Enfim, os estudantes sempre podem ir no McDonalds, por um preço quatro vezes superior:
ATENÇÃO
Informamos aos usuários do Restaurante Universitário de Brasília/DAC, que devido ao não pagamento do décimo terceiro salário pelas empresas Prestacional e AST aos prestadores de serviço lotados nesta unidade, os serviços prestados pelo restaurante (desjejum, almoço e jantar) estarão suspensos até que os pagamentos sejam regularizados.
Atenciosamente,
Direção do RU/DAC
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
Livre comercio e pouco comercio: opcoes da Asia e da America Latina
Pouco menos de um mês atrás, países latino-americanos celebravam, triunfalmente, se ouso dizer, a constituição da Celac, a Comunidade dos Estados da América Latina e do Caribe, destinada a guiar os passos desses países na integração mundial, mas sem tutela externa, como se encarregou de sublinhar um luminar brasileiro, um desses expoentes do pensamento regressista, e anti-imperialista, de que o Brasil é pródigo e até abundante (sem falar no antiamericanismo implícito).
Poucos dias atrás, os países do Mercosul assinavam um fabuloso comercial acordo com a Palestina, que deve representar, segundo alguns cálculos, 0,001% do comércio global do Brasil, se tanto.
Assim caminha a América Latina, fabulosa em suas pretensões autonomistas e soberanas, ainda que muitos países tenham firmado acordos individuais de livre comércio com os EUA (a rigor todo mundo, com exceção, obviamente, dos "bolivarianos" e dos mercosulianos).
Enquanto isso, na Ásia... bem deixo vocês com a leitura deste editorial do Estadão.
Paulo Roberto de Almeida
Poucos dias atrás, os países do Mercosul assinavam um fabuloso comercial acordo com a Palestina, que deve representar, segundo alguns cálculos, 0,001% do comércio global do Brasil, se tanto.
Assim caminha a América Latina, fabulosa em suas pretensões autonomistas e soberanas, ainda que muitos países tenham firmado acordos individuais de livre comércio com os EUA (a rigor todo mundo, com exceção, obviamente, dos "bolivarianos" e dos mercosulianos).
Enquanto isso, na Ásia... bem deixo vocês com a leitura deste editorial do Estadão.
Paulo Roberto de Almeida
Lição de pragmatismo da Ásia
Editorial O Estado de S.Paulo, 27 de dezembro de 2011
China, Japão e Coreia do Sul - um quinto do produto bruto mundial - em breve poderão compor mais uma poderosa área de livre comércio, segundo anunciou no fim de semana o primeiro-ministro japonês, Yoshihiko Noda. Os governos da China e do Japão, a segunda e a terceira maiores economias do planeta, decidiram usar as próprias moedas para o comércio bilateral, dispensando o dólar quando julgarem conveniente, e também combinaram iniciar negociações para um acordo de livre comércio. O governo coreano já havia iniciado entendimentos com o chinês há algum tempo e será chamado para um acerto a três. Só o intercâmbio China-Japão alcançou no ano passado US$ 339,3 bilhões, segundo informação oficial japonesa. Cinco dias antes, os presidentes do Mercosul, mantendo sua tradição minimalista em matéria de pactos comerciais, haviam assinado um acordo de livre comércio com a Palestina.
O uso das moedas nacionais deverá simplificar o comércio entre China e Japão e cortar os custos de operações cambiais. Até agora, 60% das transações bilaterais envolvem operações com dólares. Nas discussões do fim de semana o governo japonês comprometeu-se também a comprar títulos públicos da China - por enquanto, em pequena quantidade. Os dois países são os maiores detentores de reservas estrangeiras, especialmente americanas, e devem manter essa posição. Há pelo menos três fortes motivos para isso: o dólar permanece como a referência principal para o comércio, a moeda chinesa não é livremente conversível e, além do mais, nenhum governo tem interesse em agravar a crise nos Estados Unidos, ainda a maior potência e o mercado mais importante do mundo.
A negociação de um acordo de livre comércio será um passo a mais na integração, já muito forte, das economias chinesa, japonesa e coreana. A iniciativa seguinte poderá ser a vinculação dos três países à Asean, a área de livre comércio formada por dez países dinâmicos do sudeste asiático - incluídos Cingapura, Tailândia e Indonésia - com PIB conjunto de US$ 1,3 trilhão em 2010. Um acordo poderá levar ainda um bom tempo, mas ensaios de aproximação ocorrem desde 1997 e deram origem à sigla APT (Asean Plus Three, Asean Mais Três).
Também estão na agenda há vários anos acordos entre países da Asean e membros da Apec, o bloco de Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico. Participam desse grupo, além de países da Ásia e da Oceania, Canadá, Estados Unidos, México, Peru e Chile, todos com importantes interesses comerciais no Extremo Oriente. Há pouco mais de um mês - em 21 de novembro -, os governos de Estados Unidos, Chile, Peru, Cingapura, Malásia, Austrália, Nova Zelândia e Brunei divulgaram o esboço de uma Parceria Transpacífico, destinada a promover o comércio e diversas formas de cooperação econômica, passos iniciais para compromissos mais estreitos.
Quatro latino-americanos - Chile, Peru, Colômbia e México - prometem oficializar dentro de uns seis meses a Aliança do Pacífico, um novo esforço de cooperação com objetivos essencialmente comerciais. Se esse bloco for constituído, será mais um reforço para a ligação comercial entre Estados Unidos e um grupo importante de países latino-americanos. Chile e Colômbia já têm acordos de livre comércio com os Estados Unidos. O México é membro do Nafta (Acordo Norte-americano de Livre Comércio), formado pelos três países da América do Norte. O governo americano também já firmou um acordo comercial com as autoridades da Coreia, criando mais uma ponte com o poderoso mercado do Extremo Oriente.
Nos últimos dez anos, a diplomacia econômica brasileira dividiu suas fichas entre a Rodada Doha e parcerias com países em desenvolvimento a partir do Mercosul. Enquanto a Rodada Doha derrapava, até o fracasso final oficializado há cerca de duas semanas numa conferência em Genebra, outros governos cuidaram de buscar bons acordos bilaterais e regionais. O resultado foi uma ampla trama de acordos já concluídos ou ainda em negociação. O Brasil e o Mercosul ficaram fora desse movimento. É o preço do infantilismo ideológico.
Tragedia educacional brasileira: falta de professores qualificados
Retiro do ex-blog do ex-prefeito Cesar Maia:
PREFEITURA DO RIO - SECRETARIA DE EDUCAÇÃO: CARÊNCIA DE PROFESSORES!
(LL) 1. Artes cênicas - 285 vagas - 7 pretendentes - sobra de vagas - 278 / Artes Plásticas - 317 vagas - 16 pretendentes - sobra de vagas - 301 / Ciências - 145 vagas - 14 pretendentes - sobra de vagas - 131 / Ed. Física - 434 vagas - 67 pretendentes - sobra de vagas - 367 / Ed. Musical - 87 vagas - 7 pretendentes - sobra de vagas - 80 / Espanhol - 6 vagas - 5 pretendentes - sobra de vagas - 1 (Quase completo) / Francês - 3 vagas - 1 pretendente - sobra de vagas - 2 (Quase completo) / Geografia - 220 vagas - 20 pretendentes - sobra de vagas - 200 / História - 241 vagas - 25 pretendentes - sobra de vagas - 216 / Inglês - 277 vagas - 8 pretendentes - sobra de vagas - 269 / L. Portuguesa - 150 vagas - 40 pretendentes - sobra de vagas - 110 / Matemática - 488 vagas - 43 pretendentes - sobra de vagas - 441.
2. E o mais espantoso, como sempre: P II - 3410 vagas - 297 pretendentes - sobra de vagas - 3113 / / Conclusão: 6.063 vagas - 550 pretendentes - sobra de vagas - 5513.
Resumindo ao essencial:
L. Portuguesa - 150 vagas - 40 pretendentes - sobra de vagas - 110
Matemática - 488 vagas - 43 pretendentes - sobra de vagas - 441
Ciências - 145 vagas - 14 pretendentes - sobra de vagas - 131
E isso não quer dizer que os que se apresentaram sejam especialmente qualificados...
Isso no Rio de Janeiro.
Imaginem o panorama no resto do Brasil, sobretudo no interior...
O Brasil avança rapidamente para trás, em matéria de educação
O Noel Rosa da soberania: onde se esconde o bardo?
Noel Rosa, num dos seus sambas mais famosos, depois de criticar o comportamento de certas vestais (homens, neste caso, mas qualquer gênero serve), perguntava, cantando: "Onde está a honestidade?, onde está a honestidade?"
Pois é, hoje, poderíamos perguntar:
"Onde está a soberania?, onde está a soberania?"
Tomou Doril?
Talvez se devesse cantar, com outro bardo:
"Soberania, aqui me tens em recesso..."
Finalmente, com um bardo mais recente:
"Quem te viu, quem te vê..."
Ou então, um daqueles mais antigos:
"Risque, esse nome do teu caderno..."
Pela direção musical do espetáculo:
Paulo Roberto de Almeida
Pois é, hoje, poderíamos perguntar:
"Onde está a soberania?, onde está a soberania?"
Tomou Doril?
Talvez se devesse cantar, com outro bardo:
"Soberania, aqui me tens em recesso..."
Finalmente, com um bardo mais recente:
"Quem te viu, quem te vê..."
Ou então, um daqueles mais antigos:
"Risque, esse nome do teu caderno..."
Pela direção musical do espetáculo:
Paulo Roberto de Almeida
A Fifa exige tudo
Editorial O Estado de S.Paulo, 26 de dezembro de 2011
É difícil saber o que é mais absurdo e insano: a petulância dos donos do futebol mundial ou a ausência de senso crítico - para ficarmos com a hipótese benevolente - de quem se curva às exigências da Fédération Internationale de Football Association (Fifa). Pois o deputado Vicente Cândido (PT-SP), relator da Comissão Especial da Câmara que discute a Lei Geral das Copas, incluiu no projeto uma cláusula pela qual a União terá que ressarcir, mesmo quando não tiver nenhuma responsabilidade pelo ocorrido, todo e qualquer prejuízo que a Fifa venha a ter com a realização no Brasil da Copa das Confederações, em 2013, e da Copa do Mundo, em 2014.
A atitude do relator petista é tão ostensivamente despropositada que logrou a proeza de unir em protestos, na última terça-feira, deputados tanto da oposição quanto da base de apoio do governo. Cópias do relatório foram distribuídas aos membros da comissão pela manhã, poucas horas antes do início da sessão. Muitos deputados tiveram uma imediata reação de repúdio à novidade. Vários deles, manifestando indignação, retiraram suas assinaturas da lista de presença e impediram a realização da sessão, provocando o adiamento da votação da matéria para, na melhor das hipóteses, fevereiro próximo, depois do recesso parlamentar.
A tramitação da Lei Geral das Copas na Comissão Especial tem sido atribulada desde o início. O relator já havia provocado reações de protesto ao incorporar ao projeto as exigências da Fifa que obrigam a revogação de dispositivos dos Estatutos do Torcedor e do Idoso. Tudo porque, para agradar a um dos patrocinadores das copas, os mandachuvas do futebol querem que seja permitido o consumo de bebidas alcoólicas durante as partidas e, para que sua receita permaneça intocada, não admitem a cobrança de meia-entrada de estudantes e idosos. Atendendo não se sabe exatamente a qual motivação, o relator extrapolou a finalidade específica do projeto ao incluir cláusula que revoga definitivamente, e não apenas durante as partidas das copas, o dispositivo do Estatuto do Torcedor que proíbe o consumo de álcool durante os jogos, em todo o território nacional.
Esse é "o alto preço que já se começa a pagar" pela realização no País daqueles dois importantes torneios organizados pela Fifa, conforme destacamos em recente editorial. Naquele momento, no entanto, o casamento do atrevimento com a submissão ainda não tinha transposto os limites do impensável a que agora se chega com a exigência despropositada de que todo e qualquer prejuízo naqueles eventos seja debitado na conta do contribuinte brasileiro.
Apesar da veemente negativa do deputado Renan Filho (PMDB-AL), que preside a Comissão Especial, é óbvio que o adiamento da votação da Lei Geral das Copas por pelo menos dois meses contribuirá para atrasar o já problemático cronograma de organização daqueles eventos. E o adiamento nem chega a ser uma garantia de que a discussão mais ampla da matéria acabará por favorecer o trabalho de escoimar o projeto de suas cláusulas mais claramente conflitantes com os interesses do País.
Muito ao contrário, os dois meses podem ser exatamente o tempo de que a Fifa e seus aliados necessitam para colocar em campo seu enorme poder de persuasão e dobrar as resistências a suas exigências mais abusadas. Essas resistências existem, tanto dentro da Comissão Especial como no Congresso Nacional e no Palácio do Planalto. Não se pode descartar, portanto, a hipótese de que tudo o que ocorreu no âmbito da Comissão Especial tenha sido calculado para evitar a anulação das cláusulas que interessam à Fifa. Uma manobra concebida exatamente para proporcionar à suprema entidade internacional do futebol e a seus aliados no Brasil tempo suficiente para quebrar as resistências que estão enfrentando para impor suas condições em troca do grande favor de nos ter honrado com a escolha do Brasil para sediar a Copa das Confederações e a Copa do Mundo. Resta saber até que ponto os homens públicos brasileiros estão dispostos a se curvar.
Brasil e Iran: afinados?
É o que destaca, pelo menos, a Conectas, entidade de direitos humanos que se preocupa com o padrão de votos do Brasil na questão dos direitos humanos no Irã, um país que ainda apedreja mulheres supostamente adúlteras...
Vai ver estamos aprendendo a ser ecléticos...
Um ano após posse, Dilma mantém política externa de Lula
Alessandra Corrêa
Da BBC Brasil em Washington
Da BBC Brasil em Washington
Atualizado em 21 de dezembro, 2011 - 08:11 (Brasília) 10:11 GMT
Dilma completou um ano de poder com continuidade de política externa
Após um início de governo marcado pela expectativa de que mudaria o rumo da política externa brasileira, a presidente Dilma Rousseff completará um ano no poder sem grandes diferenças em relação a seu antecessor, dizem analistas consultados pela BBC Brasil.
"Acho que há essencialmente uma continuidade", disse à BBC Brasil o historiador americano John French, professor da Duke University, na Carolina do Norte.
A manutenção da política externa adotada no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, apesar de não surpreender, contradiz a ideia de mudança de rumo que começou a ganhar força, principalmente no exterior, logo após a eleição de Dilma e ainda antes da posse.
Em dezembro do ano passado, Dilma deu uma entrevista ao jornal americano The Washington Post na qual criticava a posição do governo Lula de se abster em uma votação na ONU que condenava o Irã por abusos de direitos humanos.
Essas declarações provocaram uma onda de análises na imprensa estrangeira, que viu na entrevista mostras de que a nova presidente iria romper com as políticas de seu antecessor e dar mais atenção à questão dos direitos humanos na política externa.
A expectativa foi reforçada em março deste ano, no Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, quando o Brasil votou a favor da criação de um relatório especial para investigar a situação dos direitos humanos no Irã.
No entanto, apesar da aparente sinalização inicial de mudança, nesta semana o Brasil voltou a se abster em uma votação na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, que condenou violações de direitos humanos no Irã.
Padrão histórico
Essa foi a 9ª resolução anual sobre direitos humanos no Irã a ser votada na Assembleia Geral e a que teve a maior margem de aprovação: 89 votos a favor, 30 contrários e 64 abstenções, entre elas a do Brasil.
"Tudo levava a crer que o Brasil votaria a favor", disse à BBC Brasil a coordenadora de Política Externa da ONG Conectas, Camila Asano, para quem a votação "reforça o caráter incoerente da política externa brasileira".
A votação, porém, apenas repete o padrão histórico adotado pelo Brasil, que também se absteve na votação que aprovou essa mesma resolução na Terceira Comissão da Assembleia Geral, em novembro.
Há uma década que a diplomacia brasileira se abstém nas votações de relatórios sobre a situação de direitos humanos no Irã no âmbito da ONU em Nova York. A única exceção ocorreu em 2003, no início do governo Lula, quando o Brasil votou a favor de uma resolução.
"O Brasil tem mantido sua posição de não intervenção, de respeito absoluto da soberania", disse à BBC Brasil o presidente emérito do instituto de análise política Inter-American Dialogue, Peter Hakim.
Síria e Líbia
As posições brasileiras em relação ao Irã chamam a atenção pelo fato de o assunto ter ocupado bastante destaque na diplomacia do fim do governo Lula. O então presidente viajou ao país persa e recebeu o presidente Mahmoud Ahmadinejad em Brasília.
Lula também ajudou a costurar um acordo para tentar impedir que o Conselho de Segurança aprovasse sanções contra o Irã em razão de seu programa nuclear. As sanções acabaram sendo aprovadas mesmo contra a vontade do Brasil, e a ação brasileira gerou mal-estar com outros países, especialmente os Estados Unidos.
No entanto, mesmo em outros temas, como as crises na Síria ou na Líbia, a atuação brasileira no primeiro ano do governo de Dilma não trouxe grandes mudanças em relação a seu antecessor.
O Brasil se absteve na votação no Conselho de Segurança, em março, que aprovou uma ação militar na Líbia sob a justificativa de proteger civis. Também demorou a reconhecer os rebeldes líbios que derrubaram o governo de Muamar Khadafi e assumiram o poder.
"A questão da Líbia poderia ser vista como um teste sobre se a política externa do governo Lula era uma característica pessoal dele e se o governo de Dilma iria retornar a uma política externa antiga, mais alinhada com as potências dominantes", diz French.
Segundo o historiador, no fim a postura do Brasil em relação à Líbia foi consistente com a política externa do governo Lula.
O Brasil também não foi favorável a sanções contra a Síria em votações no âmbito do Conselho de Segurança da ONU – já que nesse fórum há o risco de que resoluções resultem em ação militar, como ocorreu no caso da Líbia.
Estilo
Mas se os rumos da política externa permaneceram os mesmos no governo Dilma, analistas observam uma mudança de estilo em relação a Lula.
Dilma recebeu o presidente americano, Barack Obama, em Brasília, viajou à China e à Europa e foi a primeira mulher a discursar na abertura da Assembleia Geral da ONU, em setembro.
No entanto, segundo analistas, sua atuação internacional é tímida se comparada à de Lula, considerado "uma estrela" no exterior.
"Lula amava política externa. Creio que Dilma não vê seu papel da mesma maneira", disse à BBC Brasil o diretor do programa de estudos da América Latina da Universidade Johns Hopkins, Riordan Roett.
"Acho que ela está muito mais preocupada com questões domésticas, escândalos de corrupção, demissões de ministros, a situação econômica e votações difíceis no Congresso", afirma.
Aperfeicoando a politica comercial, ou seja, reforcando-a... -Editorial OESP
Parece que o Brasil está finalmente reencontrando sua vocação, aquela que tinha ficado perdida nas brumas do tempo e que, graças aos estadistas esclarecidos, volta agora para alegrar os corações (e encher os bolsos) de industriais patriotas, tecnocratas planejadores, políticos educados e sindicalistas virtuosos.
Ainda bem, estávamos ficando cansados de tanta continuidade com o neoliberalismo, o qual, a despeito dos ataques furiosos de gregos e goianos -- tudo de mentirinha -- continuava a imperar soberanamente.
Agora é que começa o verdadeiro governo nacional-desenvolvimentista.
Ufa! Já não era sem tempo: cansamos de ser liberais, agora queremos ser simplesmente devassos...
Paulo Roberto de Almeida
O protecionismo brasileiro
Editorial O Estado de S.Paulo, 26 de dezembro de 2011
Vítima frequente das medidas protecionistas adotadas pela Argentina, o Brasil tornou-se mais protecionista que sua principal parceira no Mercosul. É hoje o mais fechado dos 20 países mais desenvolvidos do mundo (G-20) e dos Brics (Rússia, Índia, China, África do Sul e Brasil). Entre as 75 maiores economias do mundo, ocupa a 68.ª posição entre os que mais favorecem o comércio externo.
Não se trata de classificação feita por algum país que tenha tido problemas comerciais com o Brasil, mas de uma pesquisa de uma organização independente, a Câmara de Comércio Internacional (CCI), que reúne milhares de empresas de comércio externo e associações comerciais de 120 países. Por coincidência, seu relatório sobre o protecionismo - principal tema da reunião ministerial da OMC realizada há dias em Genebra - foi apresentado no mesmo dia em que, no Brasil, entrou em vigor o decreto que eleva em 30 pontos porcentuais o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis que não comprovem o mínimo de 65% de conteúdo nacional.
O aumento do IPI para carros com menor índice de componentes nacionais, no entanto, é apenas a mais recente de uma série de decisões que o governo Dilma Rousseff vem adotando, alegando necessidade de proteção do produtor nacional contra a concorrência externa predatória. O governo tem afirmado que o aumento do IPI e outras medidas tomadas com o mesmo objetivo estão de acordo com as regras do comércio internacional.
O crescente protecionismo brasileiro - explícito ou implícito - ainda não está sendo questionado formalmente. A inexistência de queixas formais tem sido invocada pelo governo como demonstração de que está agindo com correção no campo comercial. "Nós estamos seguindo as regras e não há nenhum processo aberto contra nós", disse o ministro Fernando Pimentel, em Genebra, onde participou da reunião da OMC. Naquele momento, porém, o aumento do IPI não tinha entrado em vigor. Mas já são vários os
itens apontados pela OMC e parceiros comerciais como característicos de uma guinada protecionista brasileira. Há estudos que mostram o Brasil como o país que mais adotou medidas protecionistas neste ano.
No fim de outubro, a OMC enviou aos países do G-20 relatório no qual mostra que a Índia, o Brasil e a Rússia foram os membros do bloco que mais impuseram medidas de restrição ao comércio externo nos últimos meses - embora, como ressalva o relatório, esses países tenham também adotado medidas de liberalização do comércio. Relatório da União Europeia (UE), por sua vez, apontou a Argentina e o Brasil como os países que mais lançaram mão de medidas protecionistas. Os europeus afirmam que o Brasil acelerou as medidas de proteção para não ficar atrás de seu vizinho, "com medidas inquietantes que impactam o comércio e o investimento".
Entre as medidas do governo brasileiro consideradas preocupantes nos relatórios internacionais estão a suspensão da concessão de licença automática para importações, a adoção da regra de preferência nacional nas licitações por órgãos públicos e empresas estatais, os subsídios ao crédito para exportadores e a elevação de tarifas. A UE, em particular, apontou o risco de, por iniciativa brasileira, o Mercosul começar a elevar a Tarifa Externa Comum do grupo para proteger o mercado regional, no que poderia se caracterizar como uma tendência perigosa para o futuro do comércio com o bloco.
Um dos temas tratados na última cúpula do Mercosul, em Montevidéu, foi justamente a ampliação da lista de produtos aos quais será aplicada a tarifa máxima, de 35%, como "medida de defesa comercial, em um momento em que estamos sendo invadidos pela competição estrangeira", na explicação do ministro Guido Mantega.
Para um país que, nos últimos anos, se valeu das regras internacionais para assegurar acesso a mercados, a guinada protecionista pode corroer sua credibilidade no sistema internacional de comércio.
Ainda bem, estávamos ficando cansados de tanta continuidade com o neoliberalismo, o qual, a despeito dos ataques furiosos de gregos e goianos -- tudo de mentirinha -- continuava a imperar soberanamente.
Agora é que começa o verdadeiro governo nacional-desenvolvimentista.
Ufa! Já não era sem tempo: cansamos de ser liberais, agora queremos ser simplesmente devassos...
Paulo Roberto de Almeida
O protecionismo brasileiro
Editorial O Estado de S.Paulo, 26 de dezembro de 2011
Vítima frequente das medidas protecionistas adotadas pela Argentina, o Brasil tornou-se mais protecionista que sua principal parceira no Mercosul. É hoje o mais fechado dos 20 países mais desenvolvidos do mundo (G-20) e dos Brics (Rússia, Índia, China, África do Sul e Brasil). Entre as 75 maiores economias do mundo, ocupa a 68.ª posição entre os que mais favorecem o comércio externo.
Não se trata de classificação feita por algum país que tenha tido problemas comerciais com o Brasil, mas de uma pesquisa de uma organização independente, a Câmara de Comércio Internacional (CCI), que reúne milhares de empresas de comércio externo e associações comerciais de 120 países. Por coincidência, seu relatório sobre o protecionismo - principal tema da reunião ministerial da OMC realizada há dias em Genebra - foi apresentado no mesmo dia em que, no Brasil, entrou em vigor o decreto que eleva em 30 pontos porcentuais o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis que não comprovem o mínimo de 65% de conteúdo nacional.
O aumento do IPI para carros com menor índice de componentes nacionais, no entanto, é apenas a mais recente de uma série de decisões que o governo Dilma Rousseff vem adotando, alegando necessidade de proteção do produtor nacional contra a concorrência externa predatória. O governo tem afirmado que o aumento do IPI e outras medidas tomadas com o mesmo objetivo estão de acordo com as regras do comércio internacional.
O crescente protecionismo brasileiro - explícito ou implícito - ainda não está sendo questionado formalmente. A inexistência de queixas formais tem sido invocada pelo governo como demonstração de que está agindo com correção no campo comercial. "Nós estamos seguindo as regras e não há nenhum processo aberto contra nós", disse o ministro Fernando Pimentel, em Genebra, onde participou da reunião da OMC. Naquele momento, porém, o aumento do IPI não tinha entrado em vigor. Mas já são vários os
itens apontados pela OMC e parceiros comerciais como característicos de uma guinada protecionista brasileira. Há estudos que mostram o Brasil como o país que mais adotou medidas protecionistas neste ano.
No fim de outubro, a OMC enviou aos países do G-20 relatório no qual mostra que a Índia, o Brasil e a Rússia foram os membros do bloco que mais impuseram medidas de restrição ao comércio externo nos últimos meses - embora, como ressalva o relatório, esses países tenham também adotado medidas de liberalização do comércio. Relatório da União Europeia (UE), por sua vez, apontou a Argentina e o Brasil como os países que mais lançaram mão de medidas protecionistas. Os europeus afirmam que o Brasil acelerou as medidas de proteção para não ficar atrás de seu vizinho, "com medidas inquietantes que impactam o comércio e o investimento".
Entre as medidas do governo brasileiro consideradas preocupantes nos relatórios internacionais estão a suspensão da concessão de licença automática para importações, a adoção da regra de preferência nacional nas licitações por órgãos públicos e empresas estatais, os subsídios ao crédito para exportadores e a elevação de tarifas. A UE, em particular, apontou o risco de, por iniciativa brasileira, o Mercosul começar a elevar a Tarifa Externa Comum do grupo para proteger o mercado regional, no que poderia se caracterizar como uma tendência perigosa para o futuro do comércio com o bloco.
Um dos temas tratados na última cúpula do Mercosul, em Montevidéu, foi justamente a ampliação da lista de produtos aos quais será aplicada a tarifa máxima, de 35%, como "medida de defesa comercial, em um momento em que estamos sendo invadidos pela competição estrangeira", na explicação do ministro Guido Mantega.
Para um país que, nos últimos anos, se valeu das regras internacionais para assegurar acesso a mercados, a guinada protecionista pode corroer sua credibilidade no sistema internacional de comércio.
Deus nao foi grande: Christopher Hitchens nao poderia ter ido...
Uma síntese dos seus escritos em diversos sites de publicações com as quais colaborou.
Creio que, no seu ateísmo, Hitchens era menos fundamentalista do que Richard Dawkins.
Paulo Roberto de Almeida
Creio que, no seu ateísmo, Hitchens era menos fundamentalista do que Richard Dawkins.
Paulo Roberto de Almeida
CHRISTOPHER HITCHENS (1949-2011)
A morte de um polemista
Observatório da Imprensa, edição 673 - 20/12/2011
Christopher Hitchens era um provocador. Podia-se gostar dele ou odiá-lo, mas não era possível ignorar suas ideias. O jornalista e escritor britânico, que vivia nos EUA desde o início da década de 1980, morreu na semana passada aos 62 anos, vítima de pneumonia por conta de um câncer no esôfago diagnosticado no ano passado.
Hitchens era fã declarado do escritor britânico George Orwell, autor de 1984, e do presidente americano Thomas Jefferson. Ele gostava de escrever sobre os mestres da literatura, mas era mais conhecido por seus artigos e livros com opiniões duras e, na maioria das vezes, controversas, sobre política e religião. Era colunista da revistaVanity Fair desde 1992 e escreveu 16 livros – o mais popular deles, Deus não é grande – como as religiões envenenam tudo, foi lançado em 2007. Na obra, Hitchens defendia a superioridade moral do ateu contra a irracionalidade do religioso.
Além de criticar qualquer tipo de fé religiosa, o escritor passou a fazer, após os ataques terroristas de 2001 nos EUA, ataques contundentes aos “fascistas islâmicos”, defendendo a política externa intervencionistado governo americano– irritava-se, no entanto, quando era chamado de conservador. Mais recentemente, acusava o papa Bento 16 de acobertar escândalos sexuais na Igreja Católica quando era cardeal. Em uma de suas intervenções mais famosas e odiadas, disse que Madre Teresa de Calcutá era uma porta-voz do que havia de mais reacionário na Igreja. Também era crítico ferrenho de Bill e Hillary Clinton e de Henry Kissinger.
Como jornalista, Hitchens foi correspondente no Chipre, Uganda, Sudão – seu trabalho o levou a mais de 60 países. Em 1975, cobriu pela revista britânica New Statement a Revolução dos Cravos em Portugal. Depois de se mudar para os EUA, passou a escrever para o semanário The Nation – onde assinou duras críticas aos presidentes Ronald Reagan e George Bush.
O câncer de Hitchens foi diagnosticado em 2010, logo depois do lançamento do livro de memórias Hitch 22. Em sua coluna na Vanity Fair em junho deste ano, ele escreveu: “Meu principal consolo neste ano de viver morrendo tem sido a presença dos amigos”.
Mais sobre Hitchens
** A Slate, onde Hitchens assinava uma coluna desde 2002, compilou artigos de amigos e colegas de trabalho sobre ele. “Editar Christopher Hitchens era o trabalho mais fácil do jornalismo”, escreveu June Thomas, que editava as colunas do escritor na Slate. Jonathan Karp, publisher da editora Simon & Schuster, listou 10 curiosidades que considerava “admiráveis” em Hitchens, entre elas: “Ele tinha boas ideias no banho. Foi onde chegou ao título para Deus não é grande” e “Ele é o único autor com quem trabalhei que se dirigia a mim como ‘camarada’”.
** Anna Wintour, editora-chefe da Vogue, assinou artigo na Slate relembrando a amizade de muitos anos com Hitchens – ou Hitch, como era chamado pelos amigos. “Não havia nada que Hitch gostasse mais de fazer do que falar – melhor ainda se falar significasse discutir. Hitch não ligava se ele concordava ou não com você; de fato, ele o contrariaria só por fazê-lo”, escreve ela.
** “Christopher Hitchens era espirituoso, encantador, e um encrenqueiro, e para aqueles que o conheciam bem, ele foi um presente, eu ouso dizer, de Deus”, escreveu Graydon Carter, editor- chefe da Vanity Fair.
** “Desde o começo Christopher Hitchens a tinha – a voz, a voz característica que é a marca de um verdadeiro escritor e o ponto básico para um colunista”, afirmou Richard Lingeman, editor sênior da The Nation, onde Hitchens escreveu de 1985 a 2002.
** A New Yorker compilou uma lista de “artigos notáveis” de Hitchens publicados na última década.
** A New Statesman publicou trechos da última entrevista de Hitchens, concedida ao cientista e autor Richard Dawkins e publicada na edição especial de Natal – que tem Dawkins como editor convidado.
** O escritor Ian McEwan, um dos amigos mais próximos de Hitchens, escreveu no New York Times sobre as visitas nos últimos meses. “Não havia nenhum homem mais fácil de se visitar no hospital. Ele não queria flores e uvas, queria conversas e presença. Todos os silêncios eram úteis. Ele gostava de descobrir que você ainda estava ali quando acordava de seus frequentes cochilos induzidos pela morfina. Ele não estava interessado em estar doente. Ele não queria falar sobre isso.”
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Quando a desgraça é bem-vinda… Leio, tardiamente, nas notícias do dia, que o segundo chanceler virtual do bolsolavismo diplomático (2019-202...
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