sexta-feira, 9 de novembro de 2012

MEC: sauvas freireanas avancam no processo de mediocrizaçao de ensino no pais...

Está perfeitamente claro, e isso eu nem discuto agora, que as "saúvas freireanas" do MEC -- que são todos os pedagogos equivocados que baseiam seus conceitos de ensino na obra do maior idiota da deseducação brasileira, Paulo Freire -- estão conduzindo uma obra política, de imposição dos seus padrões de ignorância para o resto do país, ou seja, a imensa massa de estudantes dos ciclos iniciais do que passa por ensino público neste país. Um desses propósitos é justamente o de equiparar a norma popular, ou popularesca -- com todas as suas variedades dialetais e regionais das chamadas camadas populares -- à norma culta, ou acadêmica (não a da universidade, claro, que já é medíocre, mas à da supostamente elitista Academia Brasileira de Letras).
Tudo isso confirma uma coisa: o imenso esforço, que só pode ser consciente, de mediocrizar ainda mais o ensino neste país.
O MEC é o principal agente desse rebaixamento generalizado dos padrões educacionais no Brasil.
Ou seja, independentemente da mediocridade da política econômica, que nos condena a um baixo crescimento constante, o que temos, de mais grave, é a mediocrização de todos os níveis de ensino.
As saúvas freireanas estão formando pelo menos duas gerações de incapazes educacionais.
Paulo Roberto de Almeida 


Doutrinação na prova do Enem
O Globo, 9/11/2012

Das 45 questões do exame de Linguagens, boa parte enfatizou o uso polêmico de termos coloquiais

Após o Ministério da Educação (MEC) divulgar o gabarito do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) sem anular uma questão sequer, apesar das queixas de colégios e cursinhos sobre alguns enunciados, professores agora criticam a prova de Linguagens e Códigos do processo de seleção que aconteceu no último fim de semana. Docentes dos ensinos médio e superior dizem que certas questões mostram uma preocupação excessiva em defender o uso oral e coloquial da língua em detrimento da norma culta.
Em uma análise do exame, O GLOBO identificou pelo menos oito em 45 questões que exemplificam o assunto (uma delas na prova de inglês). Num enunciado, o texto de referência foi redigido com marcas orais características da análise do discurso, conteúdo específico de cursos de Letras e Comunicação: "Eu gostava muito de passeá...saí com as minhas colegas...brincá na porta di casa di vôlei...andá de patins...bicicleta...quando eu levava um tombo ou outro ... eu era a ::... a palhaça da turma ... ((risos))...". O parágrafo é atribuído a A.P.S., mulher de 38 anos, que estaria no ensino fundamental.
Mestre em Literatura pela Universidade de Sorbonne (Paris III), a professora Regina Carvalho, que dá aulas de Língua Portuguesa no Colégio Santo Inácio, demonstra preocupação com o excesso desse conteúdo na prova.
- Há um desequilíbrio e um foco exagerado na linguagem coloquial. É uma ideologia que permeia a prova. Há uma indução subliminar. Acho problemático porque são muitas questões sobre o mesmo assunto. Do ponto de vista pedagógico, não se deve cobrar um mesmo assunto com tanta insistência. Do ponto de vista gramatical, nada é pedido praticamente. É uma contradição, porque na hora de fazer a redação, os professores cobram a norma culta dos estudantes e se agarram a ela para justificar a correção- critica Regina.
A professora chama a atenção para outras questões em que escritores consagrados, como Manoel de Barros e Rubem Alves, mencionam palavras e expressões que, mesmo inadequadas na norma culta, trariam mais poesia ao texto. Num trecho de "Cabeludinho", de Barros, o uso de "voltou de ateu", "disilimina esse" e "eu não sei a ler" é justificado na resposta como "a valorização da dimensão lúdica e poética presente nos usos coloquiais da linguagem".
Já em "Mais badulaques", Alves cita um amigo "paladino da língua portuguesa, que se deu ao trabalho de fazer um xerox da página 827 do dicionário" para provar o uso correto da palavra "varrição", e não "varreção", como o autor usaria. Para Regina Carvalho, a lógica de legitimar o uso coloquial por meio de autores consagrados é similar à defesa do polêmico livro "Por uma vida melhor", distribuído pelo Ministério da Educação no Programa Nacional do Livro Didático, que contém frases com construções como "nós pega o peixe". No ano passado, a publicação gerou uma controvérsia que opôs o MEC a professores críticos dessa propagação.
- Não é mostrar a fala coloquial em qualquer lugar, mas na voz de poetas e escritores consagrados, quase como que um modelo. Há livros maravilhosos didáticos que não são aceitos. Se isso é uma política intencional do MEC, não sei, mas desconfio que sim - avalia Regina.
Opinião semelhante tem o professor Claudio Cezar Henriques, titular do Instituto de Letras da Uerj.
- É lamentável que provas desse tipo deem tanto destaque a textos que mostram usos populares ou regionais de nossa língua. Minha crítica é pedagógica e tem a ver com a seguinte pergunta: as universidades querem alunos que tenham capacidade para ler e escrever textos acadêmicos e científicos ou querem alunos que saibam reconhecer variedades linguísticas? - questionou Henriques.
Para o professor, "questões e enunciados rigorosamente em língua padrão fazem par com textos bem "camaradas" quanto a isso".
- Para mim, isso é desperdício de tempo ou - pior - demagogia linguística. Um humorista certamente diria que a banca do Enem está "tipo bolada nessas quebradas de perguntar umas paradas pra galera" - ele ironiza.
Mas nem todo mundo concorda com eles. Para o linguista Marcos Bagno, não há oposição entre "uso oral e informal" e "norma culta": uma manifestação culta, falada ou escrita, pode ser perfeitamente informal (veja texto abaixo).
Na redação, deve ser usada norma padrão
De acordo com o MEC, o Enem obedece a uma matriz de referência a qual contempla uma lista de conteúdos, em consonância com os Parâmetros Curriculares Nacionais. Segundo o órgão, a prova de Linguagens e Códigos apresenta questões que exigem do participante uma reflexão sobre as normas e usos da língua portuguesa, contemplando os processos de aprendizagens da língua materna nos quais se inserem a leitura e a escrita.
"O pressuposto é o de que todo uso gramatical e linguístico é contextualizado em práticas de linguagem que podem ser orais, escritas, formais, informais e literárias, entendendo que todas essas formas de uso da língua são autênticas e legítimas", diz a nota do MEC.
O texto enviado pelo ministério ressalta ainda que "o participante durante a resolução das questões tem condições de fazer julgamentos sobre esses diversos usos e normas, a partir de diferentes gêneros textuais, além de ser obrigado a fazer uso exclusivo da norma padrão da língua portuguesa na produção de sua redação".

Equador: como destruir o sistema financeiro do pais...

Se trata exatamente disso: o presidente quer supostamente taxar as atividades financeiras para poder financiar seu populismo distributivista. Vai dar errado, obviamente, pois haverá uma desintermediação financeira e um aumento da informalidade monetária, com práticas de escambo e pagamento direto. Ou seja, o país vai ficar mais pobre.
O que, contudo, a matéria não diz é que o Equador, país que já passou por "n" crises financeiras, e vários calotes, não possui mais, desde 2001, moeda nacional, e sim usa o dólar.
O que o governo está fazendo é usar seu poder arbitrário para confiscar o faturamento em dólar dos bancos. O custo será de toda a população, em especial dos mais pobres, que terão mais inflação e mais transações feitas à margem do sistema bancário. Como a Argentina (et pour cause), o Equador também vai começar baixa taxa de bancarização.
Isso é sinal de progresso?
Paulo Roberto de Almeida 


Equador Governo

Equador: presidente quer repartir lucro dos bancos com os pobres

Infolatam/Efe
Quito, 8 novembro 2012
Las claves
  • Correa, um economista de esquerda que enfrentará um ex-banqueiro nas eleições presidenciais de 2013, se confirmar sua candidatura, espera arrecadar US$ 164 milhões adicionais dos bancos privados com a proposta.
  • O projeto contempla a cobrança de 12% do Imposto ao Valor Agregado (IVA) pelos serviços financeiros, que atualmente estão exonerados, e eleva os encargos sobre os fundos depositados no exterior, entre outras medidas.
O presidente do Equador, Rafael Correa, quer transferir parte dos lucros dos bancos aos pobres com um projeto de lei foi debatido nesta quinta-feira na Assembleia Nacional e que, segundo os banqueiros, significa “quase um confisco”.
Correa, um economista de esquerda que enfrentará um ex-banqueiro nas eleições presidenciais de 2013, se confirmar sua candidatura, espera arrecadar US$ 164 milhões adicionais dos bancos privados com a proposta.
O Estado forneceria outros US$ 140 milhões para elevar de US$ 35 a US$ 50 o chamado Bônus de Desenvolvimento Humano (BDH), que recebem mensalmente 1,2 milhões de pessoas pobres no Equador.
Na Assembleia Nacional, os legisladores aliados ao governo mostraram um apoio entusiasmado ao projeto, enquanto os parlamentares de oposição mostraram cuidado em não parecer que defendiam os bancos.
O Equador não passou pela grave crise econômica que transformou os banqueiros em objeto de críticas nos países desenvolvidos nos últimos anos. No entanto, está fresco na memória o colapso financeiro de 1999, que forçou o Estado a nacionalizar instituições quebradas, a um custo de US$ 8 bilhões.
Correa lembrou o fato nesta quarta-feira em entrevista televisiva na qual disse que enquanto nessa ocasião foram socializadas as perdas dos bancos, com seu projeto de lei pela primeira vez serão socializados os lucros.
A voz discordante chega das associações empresariais e, certamente, dos próprios bancos, que enfatiza que as entidades financeiras de hoje são as que não receberam ajudas estatais em 1999 e não deveriam pagar pelos erros de outros.
O diretor-executivo da Associação de Bancos Privados do Equador, César Robalino, previu hoje que o setor registrará lucro líquido de US$ 300 milhões este ano, o que representa uma rentabilidade de 12%.
No entanto, segundo seus cálculos, essa rentabilidade se reduziria a 5% em 2013 com a aplicação de novos impostos, o que seria similar à inflação prevista, com o que o lucro real seria nulo.
“É quase um confisco”, lamentou Robalino.
O projeto contempla a cobrança de 12% do Imposto ao Valor Agregado (IVA) pelos serviços financeiros, que atualmente estão exonerados, e eleva os encargos sobre os fundos depositados no exterior, entre outras medidas.
O projeto também dá poder à Junta Bancária, uma entidade estatal, para pôr teto aos salários dos diretores dos bancos e amplia o acesso do Serviço de Rendas Internas (SRI) à informação bancária dos cidadãos.
A proposta da alta do bônus foi apresentada originalmente por Guillermo Lasso, um ex-banqueiro que é candidato à presidência no pleito de fevereiro de 2013, mas ele disse que a pagaria com os fundos que o Estado destina à publicidade.
Correa, que deve se apresentar à reeleição, reagiu prometendo o mesmo aumento, mas custeado com um aumento dos encargos aos bancos.
Após o debate de hoje o projeto de lei irá a uma comissão da Assembleia, que elaborará um segundo relatório que devolverá ao plenário, para finalmente ser votado.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Livro: Economia e Ideologia - André Nunes

Tenho a grata satisfação de anunciar o lançamento do livro do meu amigo (que esta não seja a principal razão, ou seja, suspeita), mas, sobretudo, economista competentíssimo, e, objetivamente, colega de disciplina de Economia no Uniceub (Brasília), 
André Nunes:
         Economia e Ideologia: notas de aula de um curso de introdução à Economia Política
        (Curitiba: Editora CRV, 2012)

para o qual tive a grata satisfação de assinar um Prefácio, que transcrevo abaixo, depois do resumo-apresentação.   

O lançamento será feito amanhã, sexta-feira, dia 9 de novembro, das 17 às 21:00 hs, na Livraria Dom Quixote, no Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília.


Resumo do livro: 
O livro Economia e Ideologia é um texto de introdução à economia que discute questões de economia política, evolução das ideias sociais e história do pensamento.  Ele foi pensado como um guia de estudos para alunos de graduação em direito e relações internacionais, entretanto, a versão final transbordou esta primeira intenção, sendo leitura interessante, não apenas para estudantes universitários, mas para todos que tenham interesse em conhecer um pouco das intrincadas ligações entre a economia e a ideologia.
Dois temas são recorrentes no livro. O primeiro é a forma de pensar dos economistas, com seus modelos e hipóteses. Simplificam-se estes modelos e tenta-se fazê-los conversar com os outros modos de pensar das ciências sociais.  O segundo tema é o constante conflito entre o intervencionismo estatal e o livre funcionamento dos mercados.  O livro mostra que os mercados não tem a pretensão de construir uma sociedade mais justa, seu objetivo é estabelecer um espaço de transações livres entre agentes econômicos, permitindo ganhos entre as partes e, por esse motivo, engendra um poderoso sistema de incentivos que cria e distribui riquezas.  
O livro inova ao trazer links para dezenas de vídeos sobre introdução a economia e economia política, disponíveis no YouTube. A intenção é tornar mais atraente um tema que, em princípio, parece árduo aos estudantes e ao público em geral. Espero ter atingido este objetivo.
                                                                                                                       
O Autor
Novembro de 2012


Prefácio [a Economia e Ideologia:

Notas de aula de um curso de introdução à Economia Política]


Paulo Roberto de Almeida
Diplomata, professor de Economia Política no Uniceub

Economia envolta em ideologia representa uma combinação persistente: a despeito de mais de dois séculos de evolução teórica e prática, desde a velha Economia Política até a moderna síntese neokeynesiana, essa mistura algo indigesta insiste em contaminar os debates intelectuais e o receituário prescritivo das diversas vertentes contemporâneas das ciências econômicas (apropriadamente, no plural). Aparentemente, estamos condenados a essa mistura pelo futuro previsível.
Com efeito, a antiga disciplina, definida como um instrumento a ser usado pelos estadistas, tal como a concebeu Adam Smith, já não possui mais – se é que algum dia possuiu – uniformidade conceitual ou unidade de métodos empíricos, tantas são as correntes, ou escolas, que disputam a preferência dos consumidores, isto é, todos nós: estudantes de economia (ou de direito, além de outras disciplinas das humanidades), profissionais de mercado, burocratas públicos, ou simples cidadãos consumidores. Todos nós, consciente ou inconscientemente, possuímos alguma visão de como deveria ser organizada a economia para melhor servir nossos objetivos individuais ou metas sociais.
A grande questão, contudo, é que essas preferências estão sempre marcadas por nossa formação educacional, nossa posição no sistema produtivo, nossa inserção no mundo dos intercâmbios (e todos os dias estamos fazendo intercâmbios, desde a compra do pão e leite pelas manhãs, até a escolha de algum canal de TV pela noite). Tudo isso intermediado por moeda: nosso próprio dinheiro, fruto do trabalho, a mesada familiar, a herança dos antecessores, uma simples aposta de loteria. O dinheiro permeia e azeita essas transações, aliás, hoje bem mais em sua forma eletrônica do que em papel ou moedas metálicas.
Obviamente, todos nós preferiríamos ter uma renda maior do que aquela efetivamente disponível em nossos bolsos ou contas correntes. Isso porque, segundo uma velha “lei” da economia, as necessidades são infinitas, e os meios são limitados. Essa é a lei geral da escassez que preside ao destino da humanidade, e a economia é justamente a arte – alguns a consideram uma ciência – de melhor organizar os nossos recursos escassos para atender ao máximo de nossas necessidades ou desejos de consumo. Este livro, como não poderia deixar de ocorrer num texto de economia, discute e esclarece as melhores formas de fazê-lo, evidenciando, justamente, como as mais poderosas ideologias nasceram, como ela se desenvolveram, e como elas penetram, e quase submergem, as principais escolas de pensamento econômico.
Três são as principais, com pequenas derivações paralelas de cada uma delas: a economia política clássica, que se tornou neoclássica, com o marginalismo do século XIX, e que depois evoluiu para o chamado mainstream economics, ou seja, a corrente dominante na economia contemporânea; o socialismo, especialmente na sua vertente marxista, que se materializou no mais poderoso desafio à economia de mercado no decorrer de quase quatro quintos do século XX, ao lado das variantes fascistas e dos modelos verticais ou autárquicos de organização produtiva; finalmente, uma derivação da escola neoclássica, o keynesianismo teórico e aplicado, que teve seus momentos de sucesso e fracasso, ao longo da segunda metade do século XX, até ser combinado a alguns elementos mais puramente marginalistas para se apresentar hoje como uma “síntese neokeynesiana”. Poderíamos apontar também a chamada “escola austríaca de economia”, que deriva, em grande medida, dos ensinamentos consolidados na versão liberal da disciplina, herdada da tradição clássica, a de Smith.
Todas essas vertentes econômicas, ou escolas de pensamento, têm de ser necessariamente divergentes, ou opostas entre si? Não exatamente, já que nossas preferências e inclinações nos levam a escolher, em alguns casos, soluções totalmente privatistas para atender nossas necessidades de consumo, ou a exigir, em outros casos, algum tipo de resposta governamental aos problemas que enfrentamos na vida diária: segurança, transporte, infraestrutura, justiça e tantas outras coisas. Estas são as duas balizas que permeiam quase todas as escolhas econômicas: de um lado, os mercados, como provedores da maior parte dos bens e serviços que consumimos; de outro, o Estado, como garantidor de alguns bens públicos, dos quais nos convertemos em demandantes, em troca dos impostos que pagamos a esse mesmo Estado.
De certa forma, as ideologias econômicas giram em torno desses dois polos da moderna organização econômica: de um lado, o mercado (ou melhor, os mercados, pois existem vários, para toda e qualquer necessidade, mesmo as mais íntimas e por vezes secretas); de outro, o Estado, ou melhor, o governo, pois o Estado é um ente “abstrato”, feito de leis e instituições, que só se materializa quando representado por indivíduos que assumem seu comando temporariamente (pelo menos nos sistemas democráticos) e por funcionários mais ou menos estáveis que asseguram a continuidade dos serviços públicos. A economia política clássica, o socialismo marxista (e suas variantes) e o keynesianismo representam, grosso modo, formas alternadas, ou distintas, de organização social da produção e da distribuição, que combinam, em graus diversos, “quantidades” variadas de Estado e de mercado: desde o regime mais liberal – o famoso laissez-faire da era clássica, que de fato nunca existiu – ao mais autoritariamente estatizante – o dos regimes coletivistas, de tipo bolchevique ou fascista –, sem esquecer o dirigismo econômico mais moderado do keynesianismo, o mundo conheceu as mais diversas experiências econômicas, algumas mais felizes do que outras.
Com efeito, se olharmos o mundo contemporâneo – no qual a renda pessoal de um cidadão do Luxemburgo, da Suíça ou de Nova York, pode representar mais de duzentas vezes os magros recursos com que devem sobreviver os habitantes de certas regiões da África – contemplaremos todos os tipos de arranjos econômicos e de sistemas políticos para organizar a produção e a distribuição de bens e serviços. Invariavelmente, essas formações representam diferentes combinações de mercados livres (ou não) e de instituições estatais (ou até Estados “falidos”), sistemas únicos e originais, em cada caso, mas que podem representar a diferença entre a vida e a morte para os indivíduos que nascem e vivem em cada uma delas. De fato, a disponibilidade de serviços médicos preventivos, ou curativos, delimitam as chances de sobrevivência de crianças nascidas na miserável Somália ou na riquíssima Noruega: as taxas de mortalidade infantil expressam essas chances de maneira altamente eloquente.
Essa diferença entre a vida e a morte pode ser explicada por determinismos geográficos, disponibilidade de recursos naturais, educação do povo, qualidade das instituições públicas, mas também pode derivar dos tipos de políticas econômicas que são implementadas num e noutro caso; essas políticas estão sempre ligadas ao papel respectivo dos Estados e dos mercados nos diversos sistemas de organização produtiva que existem nesses países. De maneira geral, o que podemos observar, a partir desses diferentes experimentos de políticas econômicas, ao longo dos últimos dois ou três séculos, é que os países mais abertos ao exercício das liberdades individuais – ou seja, caracterizados pela existência de mercados mais livres – são notoriamente mais ricos do que aqueles que se enredaram em arranjos mais fortemente dominados pelo poder do Estado – tanto é assim que os sistemas totalmente estatizados representaram um rotundo fracasso e terminaram por desaparecer quase por completo da face da terra, restando duas ou três “ilhas” de miséria comunista nas antípodas do planeta.
Este livro, elaborado por um economista de formação, e professor por opção, explica como isso se deu e desvenda os mecanismos econômicos pelos quais as sociedades organizadas podem criar mais ou menos riqueza, segundo as soluções econômicas, e as opções de mais Estado ou mais mercados, que escolham (ou a que são levadas por lideranças políticas particularmente bem sucedidas no exercício do poder). Em cada uma das vertentes econômicas delineadas, ele tenta separar os elementos econômicos efetivos, da ideologia que muitas vezes envolve, e obscurece, as escolhas específicas feitas pelos homens, economistas ou não. Keynes costumava dizer que os estadistas, ou os líderes políticos, estão sempre tomando decisões, conscientemente ou não, com base nas ideias de algum economista falecido. Isso é tanto mais verdade no seu caso, pois é um fato que o destino da maior parte das sociedades modernas foi determinado pelas escolhas que seus dirigentes fizeram em torno de receitas inspiradas ou sugeridas pelo próprio Keynes.
Muitos economistas, da escola liberal, rejeitam, obviamente, esse excesso de keynesianismo aplicado, que pode ter conduzido algumas dessas modernas democracias de mercado aos impasses, agruras e crises em que elas se debatem nesta virada da primeira década do novo milênio. Outros, herdeiros intelectuais da tradição marxista, acreditam que as crises recorrentes são o resultado inevitável do modo de produção capitalista, e continuam a depositar sua fé nos sistemas socialistas, ou seja, estatais, de produção e distribuição de bens e riquezas. Isto quer dizer que, 230 anos depois da obra inaugural de Adam Smith – A Riqueza das Nações – ainda não existe consenso possível entre as várias escolas de pensamento econômico? Talvez não!
Depois de mais de dois séculos desde a obra seminal do filósofo escocês (que é de 1776, o mesmo ano da independência americana), pode-se dizer, com algum grau de ceticismo sadio, que a economia política conseguiu estabelecer alguns consensos conceituais em torno de seus argumentos explicativos e de suas prescrições práticas. A grande questão permanece a mesma que tinha presidido à investigação iniciada por Smith, e que foi continuada mais recentemente por David Landes: por que algumas nações conseguiram ser tão ricas, enquanto outras permanecem numa inacreditável pobreza material?
Essa pergunta é aparentemente complexa, tantas são as variáveis – naturais, sociais, políticas, culturais – que podem explicar o sucesso de algumas e o fracasso de outras sociedades. Na verdade, algumas respostas tentativas a essa questão são menos complicadas do que aparece à primeira vista, se atentarmos, justamente, para alguns dos consensos que podem ter emergido ao longo desses dois séculos de triunfos econômicos e de tragédias sociais. E quais seriam esses consensos?
Diferentemente das velhas teorias, que colocavam essas diferenças na conta de fatalidades naturais, de determinismos geográficos, de configurações raciais ou de peculiaridades religiosas ou políticas, ou ainda, contrariamente às teses equivocadas que debitavam a miséria dos desafortunados à exploração dos atualmente mais ricos, a economia política contemporânea sabe que a essência das desigualdades sociais e de riqueza entre as nações deriva, fundamentalmente, dos diferenciais de produtividade humana entre elas. Esses diferenciais de produtividade são explicados, em primeiro lugar, pela disponibilidade (existente, ou criada) de capital humano de boa capacitação técnica e educacional, mas também pela qualidade das instituições públicas, bem como pelo ambiente geral de negócios, já que é nesse ambiente de iniciativas econômicas que se desempenham empresários e trabalhadores, de preferência da forma mais livre possível (aqui, um cenário virtualmente inexistente naquelas sociedades que caíram nos extremos do coletivismo). Obviamente, a geografia, os recursos naturais e as dotações próprias dos povos e comunidades organizadas também desempenham um papel importante nesses diferenciais de produtividade entre as nações, mas os fundamentos mais relevantes das desigualdades modernas são dados, propriamente, por elementos institucionais e políticos (ou, mais exatamente, pelas políticas econômicas).
Essas duas condições – as instituições governamentais e a qualidade das políticas públicas – são as que moldam, contribuem, ou obstaculizam, segundo os casos, o atingimento de graus mais elevados de produtividade, que é, finalmente, o fator principal e o responsável último pela criação de riqueza numa dada sociedade (ou seja, o determinante do bem-estar dos indivíduos). Em outros termos: na inexistência prática de obstáculos técnicos ou materiais ao desenvolvimento das nações – já que a imensa maioria das tecnologias dominadas e dos conhecimentos práticos que podem impulsionar o crescimento de uma economia está razoavelmente disseminada e livremente disponível nos sistemas abertos de coleta de dados e de informações úteis para a saúde, a educação e a atividade produtiva – os únicos fatores que podem explicar a preservação da miséria e as imensas decalagens entre ricos e pobres no mundo contemporâneo, são justamente essas diferenças, para melhor ou para pior, entre as instituições e as políticas dos países.
Mais concretamente, quais seriam os consensos alcançados pela ciência econômica (se existe apenas uma), tanto pelo lado teórico, quanto pelos aspectos práticos, que poderiam contribuir para um ritmo mais robusto de desenvolvimento humano e social, com transformação produtiva e uma melhor distribuição de renda entre os indivíduos? Eles poderiam ser enunciados sob a forma de cinco conjuntos de elementos macroeconômicos e setoriais que deveriam integrar um “receituário” de progressos humanos e sociais nas nações orientadas claramente pelo objetivo de prover o maior bem-estar possível para os seus cidadãos:
1) um ritmo de crescimento sustentável e sustentado, a taxas razoáveis (que não precisam ser muito altas, mas preferencialmente constantes), pois sem ele seria impossível ter desenvolvimento; esse  processo depende, por sua vez, de estabilidade macroeconômica nos elementos essenciais do sistema: inflação baixa; contas públicas equilibradas ou apenas moderadamente negativas; poupança e investimentos elevados, em relação ao consumo; câmbio e juros neutros ou realistas (ou seja, mais próximos dos equilíbrios de mercado do que determinados politicamente);
2) mercados abertos e competitivos, o que significa ausência de barreiras governamentais ao lançamento de novas iniciativas empresariais, combate aos monopólios e carteis (que são muitas vezes criados pelos próprios governos) e estímulos a todos os tipos de mecanismos concorrenciais na oferta de bens e serviços, inclusive pelo próprio governo;
3) boa governança, que significa instituições públicas funcionais e responsáveis (accountable, na terminologia inglesa), transparentes e isentas do peso nefasto de corporações de interesses particulares ou de lobbies indevidos; sistemas eficientes de solução de disputas (judiciário), de maneira a reduzir os chamados custos de transações entre indivíduos e empresas;
4) investimentos contínuos no capital humano, o fator possivelmente mais relevante para o atingimento de altos níveis de produtividade e de melhoria no perfil distributivo da renda nacional, o que significa, primariamente, educação de qualidade nos ciclos obrigatórios ou universais, seguida de metas de desempenho no ciclo superior e nos estudos especializados ou pós-graduados; a competição e a cobrança de resultados, num ambiente de pesquisa livre, podem resultar em altos níveis de inovação, que deve ser dirigida ao sistema produtivo, ao mesmo tempo em que se assegura uma oferta razoável de pessoal médio dotado de capacitação técnica;
5) abertura ao comércio exterior e aos investimentos estrangeiros diretos, reconhecidamente as fontes mais seguras, rápidas e eficientes para a absorção de inovações produtivas e de modernização tecnológica; essa abertura não significa, necessariamente, orientações “liberais” em comércio exterior, e pode conviver com certo grau de protecionismo setorial (mas temporário); ela tem a ver com atitudes inteligentes em termos de aquisição de conhecimentos pela via dos mercados (sempre mais rápidos e mais flexíveis do que os governos) e de interação com padrões produtivos mais avançados, propensos, justamente, à maior inserção internacional dos sistemas produtivos nacionais. Para comprovar os méritos dessa abertura, basta traçar uma lista sumária dos países mais ricos no mundo; se constata, assim, que eles são, via de regra, os mais abertos ao comércio e aos investimentos diretos estrangeiros.
Dito o que vai acima, como evidência dos consensos alcançados nas ciências econômicas – embora modestos e nem sempre seguidos pelos líderes políticos –, o que poderia ser argumentado em torno das diferenças e obstáculos ainda existentes, no terreno prático, para que a moderna economia política possa trazer respostas úteis aos desafios e dilemas de desenvolvimento de países como o Brasil? O primeiro ensinamento, que o livro de André Nunes ajuda justamente a elucidar, é que devemos separar, racionalmente, os elementos ideológicos do ferramental econômico que é possível mobilizar para fins de crescimento e de desenvolvimento econômico.
Sou suspeito para me pronunciar sobre as qualidades (reais) deste pequeno curso de introdução à economia política para leigos – no caso, estudantes de direito e áreas afins – uma vez que somos colegas de disciplina na Faculdade de Direito do Centro Universitário de Brasília (Uniceub) e partilhamos, em grande medida, das mesmas inclinações políticas e de orientações econômicas similares. Mas, com base numa longa experiência de estudos teóricos, e de aprendizados práticos – no Brasil e em muitos outros países aos quais me conduziu meu nomadismo diplomático – sei reconhecer as virtudes didáticas do autor deste pequeno-grande livro de iniciação às grandes questões que compõem o coração da economia política enquanto guia de ação para os estadistas, tal como a concebia Adam Smith e vários de seus seguidores.
Tenho certeza de que esta obra cumpre integralmente seu papel de guia do pensamento e de farol para a ação prática de alunos e professores que se dispõem a penetrar em alguns dos meandros da ciência. Façam bom proveito deste livro e tenham tanta satisfação em sua leitura quanto eu tive ao apropriar-me de algumas de suas reflexões e ensinamentos para aperfeiçoar minha própria didática de ensino e de compreensão dos fenômenos econômicos. Meus votos de longa vida no itinerário editorial que ele agora empreende.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, julho de 2012

Republica Corporativa do Brasil: um gigante que se acorrenta a si mesmo...

Inacreditável Brasil: não contente de viver todo regulamentado, todo amarrado a regulamentos medievais, corporações de ofício, guildas e outras máfias organizadas para explorar alguma reserva de mercado, ainda encontra jeito de se amarrar um pouco mais, criando mais uma dessas chasses gardées, que o deixam imobilizado e prometem infernizar a nossa vida com um elo dessas corrente estúpida que se chama fascismo corporativo.
Paulo Roberto de Almeida


Aprovado projeto que regulamenta profissão de historiador

Aprovado projeto que regulamenta profissão de historiador
Aprovação deixa projeto muito próximo de uma realidade concreta. Entenda a situação.
O Senado aprovou nesta quarta-feira (7) projeto que regulamenta a profissão de historiador. O PLS 368/09, do senador Paulo Paim (PT-RS), estabelece que o exercício é privativo dos diplomados em cursos de graduação, mestrado ou doutorado em História. Os historiadores poderão atuar como professores de História nos ensinos básico e superior; em planejamento, organização, implantação e direção de serviços de pesquisa histórica; e no assessoramento voltado à avaliação e seleção de documentos para fins de preservação.
Aprovado nas comissões de Assuntos Sociais (CAS); de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ); e de Educação, Cultura e Esporte (CE),  o projeto recebeu emenda, em Plenário, do senador Alvaro Dias (PSDB-PR) que retirou do texto original a referência aos locais onde o trabalho do historiador poderia ser desempenhado.

Discussão

Assim como Pedro Taques (PDT-MT), o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) votou contra o projeto. Ele considerou "um profundo equívoco" dar exclusividade em atividades de ensino e pesquisa, seja em graduação ou pós-graduação, apenas para quem tem formação em História. Na opinião do parlamentar, a situação cria "absurdos" como impedir que economistas, sociólogos, diplomatas ou outros profissionais qualificados ministrem a disciplina, havendo o risco de "engessar" o ensino da História.
– [A História] É a investigação sobre a evolução das sociedades humanas que tem que ser vista sob os mais diferentes prismas. História é política. História é vida. História é pluralismo. Não pode ser objeto de um carimbo profissional – argumentou.
Aloysio Nunes ainda condenou o que chamou de "reserva de mercado" dos profissionais com curso superior em História e a formação de uma "República Corporativa do Brasil", onde cada profissão exige "seu nicho de atividade exclusiva em prejuízo da universalidade do conhecimento".

Capacitação

Já a senadora Ana Amélia (PP-RS) defendeu o projeto ao ler relatório do senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), aprovado na CCJ, em que este declara que "a omissão do legislador pode permitir que pessoas inabilitadas no exercício profissional coloque em risco valores, objetos ou pessoas."
O texto ressalta ainda a relevância do papel do historiador na sociedade, com "impactos culturais e educativos" capazes de ensejar "a presença de normas regulamentadoras" da profissão. E conclui que não pode permitir que o campo de atividade desses profissionais seja ocupado por pessoas de outras áreas, muitas delas regulamentadas, mas sem a capacitação necessária para exercer o trabalho.

A matéria segue agora para votação na Câmara dos Deputados.
Fonte: Agência Senado

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...