domingo, 27 de janeiro de 2013

Uma pequena grande licao de economia

Para os que desejam aprender sobre a retorica oficial e sobre a realidade da economia Brasileira.
Paulo Roberto de Almeida

O fiasco econômico do realismo abstrato
Rolf Kuntz
O Estado de S.Paulo, Domingo 26/01/2013

Davos - A economia global continua um cenário ideal para quem curte as emoções da incerteza e do perigo iminente. Talvez por isso poucos empresários brasileiros e altos funcionários federais tenham aparecido em Davos, onde se reuniram meia centena de chefes de Estado e de governo e mais de 2 mil banqueiros, ministros, acadêmicos e figuras do mundo dos negócios. No Brasil, a maior parte do empresariado já tem emoções mais que suficientes. Quanto aos governantes, podem dispensar as discussões e conversas do Fórum Econômico Mundial. Para eles, o ambiente hostil do mercado internacional é mais que um dado indiscutível. É um pressuposto útil, porque serve para explicar os infortúnios, embora a economia seja muito fechada. Davos retribui a esnobação e concentra o foco nas economias avançadas ainda em apuros e naquelas emergentes governadas por equipes mais humildes e mais afeitas ao receituário prosaico. Curiosamente, esses países têm crescido muito mais que o Brasil, embora mais expostos à crise global, e exibem taxas de inflação menores.

A valorização cambial afetou vários desses países, em 2012, enquanto o real se depreciou. Apesar disso, muitos apresentaram contas correntes superavitárias ou com déficits proporcionalmente menores que o brasileiro - 2,8% do produto interno bruto (PIB). Seu crescimento econômico foi geralmente maior que o do Brasil ou, nos piores casos, muito parecido. Alguns exemplos: República Checa, Hungria, Rússia, Malásia, Cingapura, Coreia do Sul, Tailândia, México e Israel.

Governantes e empresários desses países poderiam ter feito um barulhão contra a guerra cambial denunciada pelos brasileiros e agora intensificada pelo Banco do Japão. As autoridades japonesas poderiam refutar a acusação, como têm feito as americanas e europeias. Poderiam justificar a expansão da moeda (um tsunami, segundo a presidente Dilma Rousseff) como um esforço para reanimar a economia. Mas a explicação seria inútil, porque os líderes brasilienses continuariam gritando. As autoridades daqueles outros emergentes talvez tenham julgado mais prático deixar de lado a retórica defensiva e cuidar de tarefas mais humildes e mais cansativas. Nesses países, a maior parte das taxas de inflação ficou entre 1,8% (Israel) e 5,1% (Rússia). O caso da Hungria (5,7%) seria provavelmente descritível como o famigerado "ponto fora da curva".

Déficits em contas correntes, ensinavam os velhos manuais, têm como contrapartida o ingresso de financiamentos necessários à aceleração da economia. Casos como o da China, com superávit igual a 2,7% do PIB e crescimento econômico estimado em 7,7%, eram em geral negligenciados, por serem muito raros ou facilmente explicáveis por um taxa de poupança muito alta. Muito mais interessante seria dedicar um capítulo à estranha combinação brasileira de conta corrente deficitária, investimento inferior a 20% do PIB (somados recursos internos e externos) e crescimento econômico de 2,7% em 2011 e cerca de 1% em 2012. Seria preciso, naturalmente, confrontar o tempo de construção de um estrada no Brasil e na maior parte dos outros emergentes, assim como os custos da obra e a eficiência da gestão pública.

Manuais de economia seriam mais interessantes, teoricamente instrutivos e praticamente úteis, se mais espaço fosse dedicado a assuntos típicos do noticiário policial e dos inquéritos sobre patologias administrativas. Autores estrangeiros são em geral pouco familiarizados com o caso brasileiro. Quanto aos nacionais, talvez considerem teoricamente irrelevantes os detalhes sórdidos da política e da administração. Com alguma caricatura e, certamente, com alguma injustiça, seria possível resumir o cenário em dois blocos:

1) Os herdeiros da tradição neoclássica tendem a escrever como se os mercados fossem altamente concorrenciais, a transmissão dos estímulos ocorresse como nas economias avançadas e com maior inclusão social, a captura das agências por interesses privados fosse exceção e o investimento, variável decisiva, fosse representável por uma taxa simples e límpida, sem a consideração de fatores como prazos, custo, qualidade e importância prática do projeto. O valor gasto numa ponte entre o nada e lugar nenhum, enxertado no Orçamento por um político malandro, é contado na taxa de investimento. É somado, portanto, à verba aplicada numa estrada essencial para o escoamento da soja do Centro-Oeste ou da produção industrial. O erro seria desimportante, se obras como a da ponte inútil e superfaturada fossem excepcionais. Não são.

2) Os "heterodoxos" declaram-se muito diferentes dos neoclássicos, mas são muito mais parecidos do que admitem. Raramente se preocupam com a qualidade, o custo e a produtividade do investimento, embora se apresentem como mais realistas. Esse realismo se traduz, com frequência, num compromisso vago com uma noção ainda mais vaga de "processo dialético". Como tendem a cuidar quase só das variáveis macroeconômicas (as microeconômicas foram inventadas para engenheiros, caminhoneiros e gerentes), supervalorizam os efeitos positivos do gasto público, da expansão monetária e da manipulação cambial. No Brasil, esses fatores têm produzido relaxamento fiscal, inflação, piora das contas externas e quase nenhum crescimento. Em seu estranho realismo, esses heterodoxos dão mais importância aos números do que aos fatos representados.

Sem uma história de sucesso para contar, autoridades e empresários brasileiros preferem ficar em casa e mandar a Davos uma representação minúscula. Outros, mesmo com resultados ruins, enfrentam a discussão e disputam as atenções. E outros, com desempenho invejável, continuam batendo ponto na cidade. Um pouco mais de promoção pode sempre ajudar, mesmo quando se trata de países altamente competitivos, como China, Coreia do Sul, Indonésia, Alemanha e Chile.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Brasil: maquiagem a la Argentina das contas de comercio exterior

Parece que o Brasil sempre acaba imitando a Argentina, assim dizem, pelo menos. E nem sempre para o melhor; corrijo, sempre para pior...
Agora são as contas de comércio exterior, que recebem um "tratamento argentino", antes de serem liberadas ao distingo público.
Desse jeito vamos acabar acompanhando os argentinos em seu recuo para o protecionismo dos anos 1980 (já estamos lá), para o dirigismo dos anos 1970, para a confusão dos anos 1960 e vai por aí.
Não sei se vamos conseguir acompanhar os argentinos naquilo que fizeram de pior: o retorno aos controles de capitais e manipulações cambiais dos anos 1950, e quem sabe até, dos anos 1930?
Mais um esforço da equipe econômica e vamos continuar avançando rapidamente para trás...
Paulo Roberto de Almeida 

Contabilidade paralela

Instituo Teotonio Vilela, 25/01/2013
  Balança comercial é o alvo da vez nas maquiagens nas contas públicas promovidas pelo governo Dilma

As manobras levadas a cabo tanto pela equipe econômica comprometem a credibilidade das informações divulgadas pelo governo federal e corrompem a necessária prestação de contas à sociedade. Ilustram, também, o desprezo petista em relação à transparência e a lisura que devem nortear a administração pública. As críticas estão na Carta de Formulação e Mobilização Política desta terça-feira (22). "Tem maquiagem para todo lado nas contas da gestão de Dilma Rousseff; agora é a vez da balança comercial", alerta o documento editado pelo Instituto Teotonio Vilela. Leia a íntegra abaixo:
Está cada vez mais difícil confiar na contabilidade oficial. A gestão petista especializou-se em artifícios de toda sorte para maquiar seus maus resultados. Agora é a vez de a balança comercial ser manipulada. Não fosse isso, o país poderia até ter apresentado déficit no seu comércio exterior em 2012.
A maquiagem está ficando explícita aos pouquinhos, na divulgação dos resultados semanais da balança neste primeiro mês do ano. O que começou com um rombo de US$ 100 milhões na primeira semana de janeiro, chegou a US$ 1,7 bilhão na terceira. Trata-se de comportamento inédito em 18 anos de medições.
Na soma, as transações comerciais com o exterior acumulam até agora US$ 2,7 bilhões no vermelho, de acordo com informações divulgadas ontem pelo Ministério do Desenvolvimento. Mantida a tendência, a balança brasileira terá, neste janeiro, o pior resultado mensal verificado desde o início da série histórica da Secretaria de Comércio Exterior, iniciada em 1995.
Terão as condições piorado tanto, e de maneira tão repentina? A resposta é não.
A explicação para o que está acontecendo com as transações de comércio exterior neste início de 2013 deve ser buscada no último trimestre de 2012, quando a Petrobras deixou de registrar suas importações de petróleo e derivados no sistema. São estas operações que estão agora engordando as estatísticas da balança e inflando o déficit.
A postergação dos registros na contabilidade não tem nada de fortuito. Baseia-se numa decisão da Receita Federal, que passou a permitir, desde junho último, que a esta­tal registrasse suas operações de compra e venda de combustíveis até 50 dias após o desembaraço nas alfândegas.
Estima-se que a Petrobras tenha deixado de lançar algo como US$ 10 bilhões na conta das importações do país em 2012. As exportações, porém, foram todas computadas até o fim de dezembro. Com isso, o governo conseguiu manobrar para evitar que o saldo da balança comercial decaísse para terreno negativo no ano passado, como mostra O Globo em sua edição de hoje.
A maquiagem pode até ter impedido o déficit em 2012, mas não evitou que a balança comercial brasileira exibisse seu pior desempenho em dez anos: o superávit foi de apenas US$ 19,4 bilhões, com queda de 34,8% sobre o ano anterior.
Como se sabe, as ocorrências exotéricas nas estatísticas do comércio exterior brasileiro estão longe de ser caso isolado. As contas públicas foram objeto de manipulação muito mais grave na virada do ano, com objetivo de engordar o superávit fiscal e forjar a consecução da meta fixada para o ano.
Trata-se de lambança com a qual o PT conseguiu superar-se em criatividade e ousadia. O nefasto histórico inclui, ainda, as bilionárias transferências para o BNDES feitas ao longo dos últimos quatro anos e o encontro de contas feito com papéis da Petrobras – sempre ela – por ocasião da capitalização da empresa, em 2009.
As manobras levadas a cabo tanto pela equipe econômica – seja com as bênçãos de Lula, seja agora com as de Dilma Rousseff – comprometem a credibilidade das informações divulgadas pelo governo federal e corrompem a necessária prestação de contas à sociedade. Ilustram, também, o desprezo petista em relação à transparência e a lisura que devem nortear a administração pública. Se o partido que está no poder é capaz de todo tipo de maquiagem na contabilidade oficial para ludibriar os contribuintes, imagine o que não acontece de ainda pior por debaixo dos panos.
(Fonte: ITV/ Foto: Arquivo/Appa)

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O Estado como fator anticompetitivo no Brasil

Na verdade, todos esse apoios e subsídios são ilusórios, e os empresários não vão se tornar mais competitivos; estão apenas fechando o mercado para a competição externa.
Enquanto não se convencerem de que têm de lutar contra impostos e burocracia estatal, a indústria vai continuar desaparecendo lentamente no Brasil, por mais que se busquem "soluções" ilusórias desse tipo.
Paulo Roberto de Almeida

A margem preferencial dada à indústria nacional

22 de janeiro de 2013
Editorial O Estado de S.Paulo
A indústria brasileira produz a um preço elevado, em razão de diversos fatores sobejamente conhecidos, e exibe baixa produtividade. Foi por isso que o governo aceitou instituir, na compra de equipamentos, uma preferência que pode chegar a até 20% a mais do que o preço do produto importado.
Trata-se de uma margem importante, que mostra ser muito reduzida a competitividade de nossa indústria, mas o governo tomou essa medida com caráter provisório e fixando em R$ 15 bilhões, no máximo, os gastos nos leilões realizados para estimular a indústria nacional por meio das suas compras. A ideia dessa preferência ao produto nacional foi apresentada no governo Lula, mas se concretizou no de Dilma Rousseff. Até agora, foram gastos R$ 2,5 bilhões, sinal de que o sistema de preferências demora a deslanchar, o que, aliás, é uma característica das iniciativas do governo.
Mas interessa examinar quais foram os principais produtos comprados pelo governo com a margem de preferência, pois dão uma ideia de em quais ramos a indústria nacional ostenta uma produtividade melhor. São tratores, escavadeiras, caminhões, ambulâncias e uniformes escolares. São todos produtos para os quais a demanda interna é elevada, o que permite auferir as vantagens de uma produção de massa.
A maioria desses bens, no entanto, tem componentes importados, o que reduz o valor dos incentivos. Existem algumas dúvidas a respeito do efeito dessa margem preferencial no desenvolvimento de tecnologias inovadoras. As compras do governo, porém, estão possibilitando ganhos de produção efetivos, especialmente no caso dos tratores, que têm função importante no desenvolvimento da agricultura, assim como no caso das escavadeiras para a construção civil e obras de infraestrutura.
Porém, se consideramos que o gasto efetivo do governo foi até agora de apenas R$ 2,5 bilhões, não se pode considerar a preferência como fator de salvação da indústria.
Existe, ainda, o risco de que os setores favorecidos se acostumem a viver com a participação do governo e não se mobilizem para desenvolver inovações tecnológicas ou know-how que reduza o custo dos bens oferecidos.
Mas, já que isso tem caráter provisório, seria útil exigir que as empresas beneficiadas comprovem que a margem preferencial auferida permitiu investimentos que reduzem de maneira constante o preço e aumentem a qualidade dos produtos oferecidos, pois os 20% representam, de fato, um gasto da sociedade.

To Kindle or not to Kindle?: o futuro dos ebooks...

Parece que foi ontem: o livro começou a circular com mais facilidades fazem mais ou menos 500 anos. E eu já consegui acumular, creio, uns 5 mil livros, mas preciso ainda contar...
Agora, fica pesado carregar todos esses livros de um lado a outro, tanto é assim que deixei a maior parte dos meus livros no Brasil, e trouxe apenas o essencial para os EUA, ainda assim para facilitar uma consulta que não sei se virá, pois grande parte deles já se encontra diponível ou em formato eletrônico (os mais recentes e editados nos EUA) ou em bibliotecas universitárias dos EUA (os puramente brasileiros e antigos), que parecem ter tudo...
Quanto ao Kindle, não tenho ndada contra, muito pelo contrario...
Paulo Roberto de Almeida

Tempo de Kindle
MARCELO COELHO (coelhofsp@uol.com.br)
Folha de São Paulo, 23.01.2013 – pág. E12

É muito chato ler qualquer livro em que o texto tem a invariável aparência de um documento do Word

Ando meio cansado dos tradicionais elogios ao livro impresso. Aquela conversa de "adoro cheiro de livro" não me convence muito; de tão repetitiva, parece perder a sinceridade que possa ter tido, tornando-se talvez só um clichê.

Não sei se muita gente apreciava de fato o cheiro do livro antes de surgir a ameaça do Kindle e outros formatos eletrônicos.

São raros, aliás, os livros que têm cheiro de fato, a não ser que você afunde o nariz dentro deles, atividade dificilmente compatível com a da leitura propriamente dita. Tudo bem, alguns livros da infância trazem esse tipo de memória guardada nas páginas.

Mas a encadernação ou a cola podem até produzir um odor próximo do amargo e do enjoativo: algumas edições de arte, com papel brilhante e pesado, estão nessa categoria. Além de apresentarem o defeito de refletir a luz, se a lâmpada for forte demais.

Quanto ao contato da pele do dedo com o papel, não sei que prazer se tira disso. Já me cortei com as bordas de edições muito perfeitas. O papel mais macio, por sua vez, pode exigir uma lambida nos dedos de vez em quando, coisa que na minha opinião fere um pouco a etiqueta de qualquer escritório ou biblioteca. Um pouco mais e estaremos todos mexendo os lábios durante a leitura.

É que todo esse apelo à "fisicalidade" do livro tende a ser uma traição, acho, do que há de mais espiritual no ato de ler. Não é prazer que deva ser contaminado por apelos táteis, olfativos ou, pronunciemos a palavra, gastronômicos.

O livro impresso, quando se manifesta na conversa sobre tato e perfume, inscreve-se no mesmo capítulo que mobiliza os adeptos da "slow food", os especialistas em charutos, os que percebem notas de canela e mirtilo no vinho não sei das quantas. É vontade de refinamento, decorada e repetida num esforço de autoconvencimento.

Quanto à praticidade, tenho também minhas dúvidas. Não é fácil segurar nas mãos uma boa edição de "Guerra e Paz". A versão encadernada pesa muito. Em formato de bolso, é raramente resistente aos meses de investida. Em dois volumes? Aí não vale.

Tenho livros baratos que se despedaçaram antes de eu chegar ao final. Livros mais caros, de capa dura, resistem obtusamente à informalidade e ao conforto de um uso cotidiano. O papel antigo fica amarelo e ganha manchas. O papel de luxo, tipo bíblia, cria orelhinhas e se rasga facilmente. Um dicionário grande, editado em volume único (penso no "Houaiss") é objeto de alto risco. Em vários volumes? Sempre erro ao calcular a ordem alfabética.

Resultado: comprei um Kindle, numa viagem, há coisa de dois anos. O produto agora está disponível no Brasil.

Fica o testemunho: nunca uso a geringonça. A ausência de cheiro é o de menos. Os problemas são outros. Em primeiro lugar, é muito chato ler qualquer livro em que o texto tem a invariável aparência de um documento do Word. Será incompetência minha ou toda a arte da tipografia desaparece com o Kindle?

E as capas? Não existirão mais? Voltamos ao século 19 com essa novidade eletrônica. Além disso, não me conformo em pagar, digamos, quarenta reais apenas pelo direito abstrato de baixar um arquivo literário na máquina.

A abstração do Kindle tem outra consequência, mais grave do que a questão do cheiro do papel. É que, como em toda tecnologia contemporânea, o espaço entra em vias de desaparecimento, sendo substituído pelo tempo. Não ficam mais evidentes a página de trás, a página da frente, a página par, a página ímpar, a grossura do livro que estamos lendo, ou o seu lugar na prateleira.

Tudo passa a se situar numa névoa temporal, entre o "agora" e o "não ainda", sem o "para trás" ou o "mais adiante". Por isso se fala na "memória" do computador, e não no seu "armário" ou no seu "depósito". Última vitória do tempo, o sistema de arquivos em "nuvem" eliminou o problema do "espaço em disco".

Com o Kindle, você nem precisa de marcador de livro: ele liga sozinho na página em que você interrompeu a leitura. Só que, assim, você também deixa de folhear o livro e reler por acaso alguma passagem.

Claro que vão inventar, um dia desses, a "função folhear", e um comando de produção de odores, assim como os computadores imitam o barulho de páginas sendo viradas. Mas aí eu já não estarei, provavelmente, lendo mais coisa nenhuma. Mais uma vitória do tempo, aliás.

O governo de uma nota so' - Alexandre Schwartsman

Mas diferente do sambinha, que era chatinho de letra, mas tinha uma toada boa, o samba do governo doido não tem toada nem letra que preste, só tem zumbido, azucrinação, ranger de dentes, arrastar de cadeiras e cordas se rompendo ao menor movimento do compositor-intérprete, que só parece conhecer meia nota, nem uma nota inteira.
Tem também aquela do pato, e do ganso, com o andar desajeitada, e dizem que o pato é tiro certo: cada passo uma c....
Eta governo bisonho....
Paulo Roberto de Almeida

Para quem só tem martelo...



Tudo é prego. Se tivesse que resumir as várias tentativas fracassadas para reviver a economia, acho que nada descreveria melhor o insucesso do que a imagem de alguém tentando resolver um problema com instrumentos inadequados e, pior, sem perceber o desajuste.
Na verdade, da mesma forma que dizem que os generais sempre lutam a última guerra, o governo parece resolvido a lidar com as dificuldades de hoje recorrendo aos instrumentos que usou para superar a recessão de 2008-09.
Ocorre que, na época, a natureza do problema era outra. Naquele momento a crise financeira levou a uma recessão mundial sincronizada, traduzida, por exemplo, em quedas de dois dígitos na produção industrial em qualquer meridiano ou paralelo que se olhasse. Era um caso clássico de insuficiência de demanda, expressa na queda tanto do consumo quanto do investimento.
Por conta disso, o desemprego (já ajustado à sazonalidade e à fuga de parcela da população do mercado de trabalho, o chamado “desalento”) saltou de 7% para 9% da força de trabalho em poucos meses. Sob estas circunstâncias, políticas de incentivo ao consumo têm boa chance de recolocar a economia na rota de expansão, às vezes até demais, como os exageros de 2009 e 2010 demonstraram (mas, vocês sabem, havia eleição a ganhar).
Em contraste, a desaceleração do crescimento em 2011 e 2012 para níveis inferiores a 2% ao ano foi acompanhada de queda persistente do desemprego. Neste contexto, a tentativa de impulsionar a economia pelo aumento do consumo perde muito da sua eficácia.
Parte deste aumento se dirige ao consumo de serviços, que, em sua esmagadora maioria, têm que ser produzidos localmente (quase ninguém manda os filhos para a escola em Buenos Aires, ou vai se tratar com um médico nova-iorquino), exigindo maior emprego no setor. Isto não é um problema enquanto a mão de obra é abundante, mas, com desemprego reduzido, leva a aumentos salariais que superam em muito o crescimento acanhado da produtividade.
O setor de serviços convive com isso aumentando seus preços, o que nos ajuda a entender porque a inflação deste segmento tem rodado na casa dos 9% ao ano e segue acelerando. Já a indústria, pressionada pela competição externa, não consegue fazê-lo, o que se traduz em redução de margens e problemas de competitividade, e, portanto, dificuldades para aumentar a produção.
Assim, o aumento das importações (o “vazamento” da demanda para o exterior) é a forma pela qual a economia consegue compatibilizar a maior demanda por bens e a incapacidade industrial em competir, não apenas com o exterior, mas, principalmente, com os serviços pela mão-de-obra agora escassa. Por este motivo, políticas de incentivo à demanda acabam apresentando pouca tração em termos de crescimento. E, por não entender esta dinâmica, o governo insiste com o martelo, na esperança de achar, em algum lugar, um mísero prego.
É contra este pano de fundo que se entende o abandono do tripé macroeconômico. Seu arranjo impedia as marteladas, já que o limite para a taxa de juros era a meta de inflação, enquanto a meta fiscal restringia (ainda que de modo muito imperfeito) a expansão desmesurada do gasto.
Não se trata, portanto, de dizer que a desaceleração econômica resultou do abandono do tripé, mas, pelo contrário, que a conjugação de baixa expansão com a percepção errônea da natureza do problema levou à deterioração da política macroeconômica.
O Brasil cresce pouco por problemas do lado da oferta: expansão medíocre da produtividade, educação inadequada, e investimento insuficiente. Por falta deste entendimento o governo acredita que pode sacrificar a estabilidade em troca de mais crescimento, mas colhe apenas mais inflação sem ganho perceptível de produto. E, pelo andar da carruagem, prosseguirá com os sacrifícios, sem a devida atenção aos efeitos colaterais das suas marteladas.

A equipe econômica em ordem unida
(Publicado 23/Jan/2013)

Capes: Professor visitante em Harvard (30 de Janeiro!!!)

Apressem-se atrasadinhos...

Programa CÁTEDRA CAPES/ UNIVERSIDADE DE HARVARD – PROFESSOR VISITANTE SENIOR NOS EUA PDF Imprimir E-mail
A CAPES, por meio da Coordenação Geral de Programas, e a Universidade de Harvard, tornam pública a realização de seleção de bolsista para a Cátedra CAPES/ Universidade de Harvard – Professor Visitante Sênior nos EUA.

Objetivos:

  • Aprofundar a cooperação acadêmica entre instituições de ensino superior e centros de ciência e tecnologia brasileiros e americanos, a fim de promover o desenvolvimento da ciência e tecnologia em ambos os países;
  • Aprofundar a cooperação entre pesquisadores e educadores de instituições de pesquisa e ensino superior no Brasil e seus pares da Universidade de Harvard;
  • Aumentar o conhecimento na Universidade de Harvard sobre as contribuições de notáveis pesquisadores e educadores do Brasil, por meio da concessão de bolsa a notável pesquisador e professor sênior do Brasil, especialista em qualquer disciplina ou área acadêmica.

Benefícios:

  • Estipêndio mensal: US$ 10.400,00 (dez mil e quatrocentos dólares americanos), por até um ano acadêmico de Harvard;
  • Passagem aérea de ida e volta em classe econômica promocional;
  • Estipêndio no valor de US$ 8.000,00 (oito mil dólares americanos), custeado pelo Centro David Rockefeller para Estudos Latino-Americanos da Universidade de Harvard, desde que o professor visitante permaneça em Harvard por, no mínimo, quatro meses; e,
  • Acesso às instalações e serviços da Universidade de Harvard, normalmente fornecidos a acadêmicos visitantes, como espaço de escritório e conexão à internet, laboratórios e equipamentos apropriados, bibliotecas, e qualquer outra cortesia ou comodidade normalmente fornecida à comunidade acadêmica.

Data limite para inscrição:

Até 30 de janeiro de 2013.

Links disponíveis


Documentos para download

Publicação na WEB Nome do documento Formatos disponíveis
11/12/2012 Edital 54/2012 - Cátedra CAPES/Harvard DOC
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110kb

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Petrobras: gestao companheira pode rebaixar classificacao de risco

Projeção de endividamento põe nota da Petrobrás sob risco de rebaixamento

Caso as agências rebaixem estatal, empréstimos vão ficar mais caros, ações serão vendidas e capacidade de investimento será limitada 

22 de janeiro de 2013
Sabrina Valle, de O Estado de S. Paulo
 
RIO - A luz amarela sobre o endividamento da Petrobrás foi acesa dentro da empresa, jogando mais pressão por um aumento de combustíveis antes da divulgação dos resultados do quarto trimestre. Segundo fontes da companhia, a estatal ultrapassou a barreira que é usada como referência por agências de classificação de risco - nível de alavancagem de 2,5 vezes a relação entre dívida líquida sobre a geração de caixa medida pelo Ebitda (sigla em inglês para lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização).
A partir desse patamar de 2,5 vezes, a petroleira passa a conviver com o risco de ter sua nota rebaixada pelas agências internacionais, o que deixaria empréstimos mais caros, forçaria a venda de ações e limitaria a capacidade de investimento da empresa, com reflexos negativos para toda a cadeia de fornecedores.
Projeções internas dão conta de que, em parte do quarto trimestre, esse limite teria ultrapassado a relação de 2,6 vezes. A luz vermelha acende ao redor do 3. No mês passado, a agência Moody’s já colocou a Petrobrás sob perspectiva de um possível rebaixamento da nota da dívida, o primeiro sinal negativo vindo do mercado.
A projeção interna acima de 2,6 vezes era parcial, pois o resultado do quarto trimestre não estava fechado - a apresentação dos resultados ocorrerá no próximo dia 4 de fevereiro. Espera-se que o reajuste do diesel e da gasolina saia até esta data.
Dessa forma, a empresa divulgaria ao mercado a má notícia (o rompimento do nível de 2,5 vezes) já com um alívio (o aumento) para o caixa.
"O rebaixamento não é automático, e ninguém o faria em véspera de reajuste. Mas é uma ameaça que ronda a Petrobrás", disse o analista de petróleo da BES Securities do Brasil, Oswaldo Telles Filho.
O possível reajuste, estimado em 7% para a gasolina e até 5% para o diesel, no entanto, não seria suficiente para deixar a companhia em níveis confortáveis, apenas amenizaria a piora na relação de endividamento. "Ajuda a não piorar, mas não resolve", diz uma fonte da companhia. Na área de captação há grande preocupação com o indicador.
A Petrobrás ganhou em 2007 grau de investimento, classificação que lhe permite melhores condições para se financiar no mercado internacional.
Em 2009, mudou o patamar da dívida, com alta de US$ 25 bilhões, e desde então há piora.
Relação. No terceiro trimestre, a relação dívida líquida/Ebitda ficou em 2,42 vezes, bem acima da 1,66 vez do quarto trimestre de 2011. Segundo cálculos do analista Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), um aumento de 7% para a gasolina e 5% para o diesel reduziria a relação entre 0,05 e 0,07 ponto.
Ou seja, mesmo com o aumento nos combustíveis a Petrobrás ainda correria o risco de manter o indicador acima de 2,5 vezes. "Seria um descanso, mas estaria longe de resolver o problema da companhia", disse Pires. "Mas a inflação está crescendo a galope, estou descrente quanto a um reajuste neste mês."
O balanço mais recente (3.º trimestre de 2012) diz que o endividamento líquido em reais da Petrobrás aumentara 30% em relação ao ano anterior, para R$ 133,9 bilhões, em decorrência de captações de longo prazo e do impacto de uma depreciação cambial de 8,3%.
Outro analista que prefere o anonimato diz que a petroleira teria caixa próprio para sobreviver por apenas mais um ano: "A evolução da dívida é extremamente preocupante. O governo e o conselho de administração estão apostando em fartura no financiamento, mas isso pode acabar de uma hora para outra".
O mercado aposta em aumento de cerca de 7% para a gasolina e até 5% para o diesel, já que essa é a diferença que falta para que seja atendida a previsão do plano de negócios da companhia 2012-2016.
O documento previa alta de 15% de forma a viabilizar os US$ 236,4 bilhões em investimentos, e apenas parte foi concedida no ano passado.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...