Quem, no Brasil, tem poder para determinar as principais variáveis do jogo econômico?
Quem determina juros, aplica tarifas, corrige tabelas, concede subsídios, dá isenções, atende demandas de proteção, subvenciona movimentos ditos sociais?
Quem impede brasileiros de legitimamente se abastecer no exterior, cobra impostos e contribuições abusivos sobre todos os bens e serviços comercializáveis, quem promete segurança, saúde, educação, transportes e uma infinidade de outras coisas e não cumpre?
Quem diz que toda essa carga fiscal é para melhor atender à população?
Quem tenta nos enganar dizendo num dia que não permitirá a volta da inflação e no outro dia introduz uma medida demagógica e eleitoreira de subsidiar eletrodomésticos para os já contemplados dos subsídios da casa própria, aumentando a dívida pública em dezenas de bilhões de reais?
Quem abusa da nossa paciência mentindo deliberadamente nos meios de comunicação e fazendo propaganda enganosa o tempo todo?
Quem nos trata como bebês irresponsáveis e pretende ser a babá incontornável em todos os aspectos da vida privada?
Que alimenta esse fascismo corporativo que inferniza a nossa vida com agências governamentais que pretendem decidir por nós o que é melhor para nós mesmos?
Sim, você já descobriu: é ele mesmo, o ogro famélico que se alimenta de nossos recursos para tentar saciar sua fome inaudita. Por acaso ele também disponibiliza as informações que nos permitem confirmar que, se o Estado brasileiro foi, algum dia, um promotor do crescimento brasileiro, ele se tornou, atualmente, no mais formidável obstrutor do processo brasileiro de desenvolvimento.
Ele é o próprio terror econômico...
Paulo Roberto de Almeida
Onde está o terror econômico
Editorial O Estado de S.Paulo, 18 de junho de 2013
Continuam piorando as perspectivas da economia
brasileira para este ano, segundo a pesquisa realizada semanalmente pelo
Banco Central (BC) com cerca de cem instituições do mercado financeiro e
do setor de consultoria. Os economistas aumentaram suas projeções de
inflação, agora estimada em 5,83%, e reduziram as do crescimento
econômico (2,49%), da produção da indústria (2,5%) e do saldo comercial
(reduzido para pífios US$ 6,55 bilhões).
Elevaram para US$ 73,66 bilhões, ao mesmo tempo, a previsão do buraco
na conta corrente do balanço de pagamentos. Basta ler esses números
para identificar um dos focos do terrorismo econômico denunciado pela
presidente Dilma Rousseff. Um dos principais aliados desse foco é
naturalmente o BC, responsável pela divulgação de tanto pessimismo.
Outros focos devem estar nas entidades representativas da indústria,
em organizações acadêmicas, como a Fundação Getúlio Vargas (FGV), e até
no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fontes de
informações pouco animadoras sobre a evolução dos preços, a recuperação
da atividade, o emprego industrial e a disposição dos empresários de se
arriscar em novos investimentos.
Auxiliares próximos da presidente já identificaram uma crise de
confiança. Evitam falar disso publicamente, mas já se esforçam para
embelezar a imagem do governo. O BC elevou os juros básicos,
intensificando e tornando mais sério o combate à inflação, e seu
presidente, Alexandre Tombini, promete agir sem restrições para conter a
alta de preços. Não basta, no entanto, restabelecer a confiança na
política monetária, quando o lado fiscal permanece uma barafunda.
O ministro da Fazenda promete alcançar a meta de superávit primário
equivalente a 3,1% do PIB, enquanto o secretário do Tesouro desqualifica
esse objetivo e o condiciona a uma estratégia de gastos anticíclicos.
Mesmo a promessa do ministro pouco significa em termos de austeridade.
O governo ainda se mostra disposto a abater investimentos e
desonerações da meta fiscal e anuncia, além disso, a intenção de incluir
na conta receitas de concessões e os bônus do leilão de blocos do
pré-sal. Usará, portanto, receitas eventuais para ajeitar uma
contabilidade formada, em um dos lados, por despesas permanentes cada
vez maiores.
Em 30 dias investidores de fora tiraram da Bovespa R$ 8 bilhões,
reduzindo a R$ 3,4 bilhões o saldo de aplicações estrangeiras. A fuga de
capitais tem afetado muitas economias emergentes e é motivada, na maior
parte dos casos, pela perspectiva de uma política monetária menos
folgada nos Estados Unidos e, portanto, de mudanças no mercado
financeiro internacional.
Mas fatores internos também minam a confiança no Brasil e isso é
reconhecido sem dificuldade entre especialistas. A Standard & Poor's
já ameaçou rebaixar a classificação do Brasil. Há um sério risco de
rebaixamento pelas agências de classificação até o começo de 2014,
segundo informe do Banco Barclays divulgado em Nova York. O crescimento
permanece baixo e a inflação continua alta, de acordo com o informe.
Mesmo no governo poucas pessoas parecem levar a sério a conversa
sobre terrorismo econômico. O problema de credibilidade é reconhecido,
mas a única mudança relevante, até agora, foi a da política monetária.
Demonstrando mais preocupação com as eleições, a presidente Dilma
Rousseff lançou mais um programa de estímulo ao consumo, o Minha Casa
Melhor, apesar do comprovado fracasso dessa estratégia nos últimos dois
anos e meio.
Os problemas de produção e de oferta, amplamente reconhecidos por
especialistas como os mais importantes, continuam sendo atacados com
ações desarticuladas, claramente improvisadas e de alcance limitado.
Além disso, o ativismo do governo - de fato, hiperativismo -,
apontado como um dos fatores de desconforto e desconfiança do
empresariado, tanto nacional quanto estrangeiro, será mantido, como
deixou claro a ministra chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Eis aí uma
promessa aterrorizante.