sexta-feira, 2 de setembro de 2016

De memorias e lembranças - Bolivar Lamounier e Paulo Roberto de Almeida

Primeiro, o relato de Bolivar Lamounier, neste dia triste de 1ro de setembro. Depois, meus comentários a respeito.
Paulo Roberto de Almeida 

FRAGMENTOS DE MEMÓRIA
Bolívar Lamounier – 01.09.2016

Não gosto de relatar episódios de minha vida pessoal, mas os acontecimentos de ontem (31.08) forçam-me a abrir uma exceção. Sei que todos ou quase todos os que me leem ficaram estupefatos ao acompanhar ao vivo e em cores a trapaça perpetrada contra o país pelo Senado Federal.  

Mais que estupefatos, humilhados e indignados frente à sem cerimônia com que  Renan Calheiros, o ministro Lewandovsky, Lula Primeiro e Único, o Notório, e muito provavelmente uma parcela do atual governo tramaram rasgar, como de fato rasgaram a Constituição Federal.

Os episódios que passo a relatar tiveram inicio no primeiro semestre de 1969. Os que viveram aquele período se lembram de que em dezembro de 1968, com a edição do Ato Institucional número 5,  o Brasil entrara nos chamados “anos de chumbo”. Repressão intensa, arbitrariedades de toda ordem.

No dia  25 de abril de 1969, com base no Ato 5, o governo decretou a aposentadoria compulsória de dezenas de professores do sistema público. Fernando Henrique, Florestan Fernandes, Octávio Ianni  e outros integravam a lista. Eu também fui agraciado, embora não estivesse na rede pública ou em qualquer outra função pública. Ensinava no IUPERJ – Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro-, uma instituição privada. 

Ou seja, fui aposentado de uma função que não exercia. Recorrer à Justiça? Ora, estávamos, como indiquei, nos “anos de chumbo”, e nem preciso lembrar que medidas baseadas nos atos institucionais eram insuscetíveis de apreciação judiciária. 

Mercê da referida aberração, fiz toda a minha carreira acadêmica em pequenas instituições privadas: o já citado Iuperj e posteriormente o Cebrap, para cuja fundação, liderada por Fernando Henrique, tive o privilégio de contribuir  na medida de minha capacidade e de minhas escassas credenciais. Dez anos mais tarde, no final de 1980, fundei o Idesp, Instituto de Estudos Econômicos e Políticos de São Paulo, que permaneceu em atividade até 2003. Lecionei na PUC-SP, num programa de mestrado em ciências sociais precariamente estabelecido, limitado ao período noturno. 

Impedido de exercer função pública, só vim a ser admitido na USP em 1984, e mesmo então sem oportunidade de ensinar na pós-graduação, uma vez que, nos três anos em que lá permaneci,  a universidade não deliberou sobre a validade ou não do doutorado que eu havia cursado e concluído na Universidade da Califórnia.  Em 1985, nomeado pela Presidência da República para a comissão incumbida de redigir um anteprojeto constitucional – a chamada Comissão Afonso Arinos- desinteressei-me do ensino; desliguei-me de ambas as universidades  e me dediquei por inteiro ao Idesp e a atividades privadas de consultoria.

Trocando em miúdos, a aberração jurídica de 1969 impediu-me não só de seguir a carreira acadêmica no padrão para o qual me julgava capacitado como de exercer alguma outra função pública. 

À época não estranhei, como não estranho até hoje, que o regime militar, por meio do Ato 5,  jogasse no lixo o pouco que o Brasil ainda possuía de vida constitucional.  Assim proceder é da índole de regimes autoritários. Ontem sim, estranhei não só o conteúdo, mas também  a frieza e a determinação com que Renan Calheiros, Ricardo Lewandovski et caterva  representaram seus papéis numa farsa meticulosamente concebida para fazer em ambiente pacífico e em plena democracia o que os militares fizeram pela força em 1969: rasgar novamente a Constituição. Conspurcar com seus pés sujos a fonte cristalina do artigo 52 parágrafo único da Constituição Federal, cujo cumprimento acarretaria a suspensão dos direitos políticos de Dilma Rousseff e sua inabilitação para o exercício de qualquer função política. Foi mais uma vez, como temos visto desde a ascensão de Lula e Dilma ao proscênio nacional, uma manobra  calcada numa concepção maliciosa e trapaceira da vida política.  

Ainda não está claro se a parcela mais respeitável do Senado recorrerá ao STF. Se não o fizer, ficarei um pouco mais triste, mas não surpreendido.

Do que acima expus os meus caros leitores e leitores  possivelmente concluirão que cometi crimes muito mais graves que os comprovadamente cometidos por Dilma Rousseff em sua nefasta passagem pela Presidência da República. Devo ter me levantado em armas e cometido atos terroristas, não? Ou me valido de recursos ilícitos para concorrer a mandatos eletivos. Ou, quem sabe, tomado ou influenciado medidas econômicas estúpidas, empobrecendo milhões de brasileiros e arrastando outros tantos para o desemprego. 

Não, não fiz nada disso. Desde logo, quem estudou comigo sabe que minha orientação ideológica foi sempre liberal, sendo essa a razão pela qual as esquerdas nutriam a meu respeito uma atitude de desconfiança não inferior à dos famigerados órgãos de segurança. O fato de eu ter passado três meses preso em 1966 em nada alterava tal atitude;  apenas confirmava, suponho, que aos olhos  da esquerda eu não passava de um trouxa liberal. 

Eu poderia ter pleiteado uma daquelas "indenizações" que o governo pagou a várias dezenas de antigos militantes e a alguns jornalistas. Optei por não fazê-lo. Não suportaria a vergonha.

Era minha intenção deixar este relato - este desabafo, melhor dizendo - para minhas memórias, se um dia vier a escrevê-las, mas confesso não ter resistido à emoção do dia de ontem; não sou jejuno em política, mas, otimista inveterado que sou, não imaginava presenciar tanta canalhice. Com uma indevida ponta de vaidade ou de orgulho, sabe Deus, me senti no direito de lembrar as palavras do apóstolo São Paulo: bonum certamen certavi, cursum consummavi, fidem servavi.

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Agora meu comentário a respeito do que foi transcrito acima:

Da arte de suportar o arbítrio reservadamente
Paulo Roberto de Almeida 

Depoimento pessoal de Bolívar Lamounier sobre as graves consequências dos anos de chumbo da ditadura militar sobre sua carreira acadêmica, que ele relembra agora por motivo de mais um arbítrio cometido contra a democracia num momento em que todos acreditávamos ser justamente de início da correção dos muitos arbítrios cometidos contra essa mesma democracia já de muito baixa qualidade nos anos companheiros que agora se encerram (não por um bang, mas por um bimp, como se diz). 
Compreendo inteiramente este tipo de rememoração dolorosa de Bolivar Lamounier pois eu também teria meu depoimento pessoal a fazer no momento em que encerro, já no atual "governo golpista", um longo ostracismo, um segundo exílio com o dobro da duração do primeiro (sob o regime militar justamente), a que fui levado durante todos os 13 anos do reinado companheiro, sem qualquer cargo ou função na carreira diplomática, por ter, desde o início, ousado escrever o que eu pensava sobre o o governo que se iniciava em 2003, e que despertaram o meu ceticismo desde aquele primeiro momento. 
Só voltei a ter um cargo no Itamaraty agora, a partir de 3/08/2016, quando o último tinha sido no século passado, e ainda assim não exatamente no Itamaraty, pois se trata da função de Diretor do IPRI, um órgão subordinado à Fundação Alexandre de Gusmão, uma autarquia da administração indireta vinculada ao MRE.
 Durante todos estes longos 13 anos suportei quase silenciosamente (a não ser por meus muitos escritos de resistência ao regime que eu sempre considerei espúrio) minha travessia de um deserto funcional humilhante, durante  os quais fiz da biblioteca do Itamaraty o meu gabinete de trabalho, e do meu blog Diplomatizzando o meu "quilombo de resistência intelectual ".
Creio que terminou agora, mas não deixarei de oferecer, futuramente, o meu depoimento sincero sobre estes novos anos de chumbo, pelo menos no âmbito da diplomacia companheira, uma perversão completa do que possa ou deva ser uma política externa credível e legítima para uma nação democrática. 
Nunca me rendi aos totalitários de um partido que agora se revela ser uma vulgar organização criminosa.

Paulo Roberto de Almeida 
Gramado, RS, 2/09/2016

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Guerra Fria: fontes para aulas e pesquisas - H-net

Apenas transcrevendo referências que podem ser úteis aos que se dedicam ao assunto:

Sources for teaching - Cold War course

by Przemyslaw Piotr Damski
To the enlisted sources I propose also:
Mikhail Geller and A. M. Nekrich, Utopia in power: the history of the Soviet Union from 1917 to the present (New York : Summit Books. 1986),
John Lewis Gaddis, The Cold War: A New History. (New York, NY: The Penguin Press. 2005).

Interesting view from East-Central Europe you can find in more general works by Piotr Stefan Wandycz:
P.S. Wandycz, The price of freedom : a history of East Central Europe from the Middle Ages to the present (London and New York : Routledge. 1992).
P.S. Wandycz, United States and Poland, (Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1980).
A. Kemp-Welch, Poland under Communism: A Cold War History, (Cambridge University Press. 2008)

To the list of primary sources I would add:
Vasili Mitrokhin and Christopher Andrew, The Mitrokhin Archive: The KGB in Europe and the West. (Allen Lane. 1999).
Vasili Mitrokhin and Christopher Andrew, The Mitrokhin Archive II: The KGB and the World (Allen Lane. 2005)
(The original documents in Russian are available here: https://digitalarchive.wilsoncenter.org/collection/52/mitrokhin-archive)
American documents are available here: https://history.state.gov/historicaldocuments
Links to different documents and materials you can also find here: https://www.mtholyoke.edu/acad/intrel/coldwar.htm and here: http://millercenter.org/academic/dgs/primaryresources/cold_war

I hope it is useful


Przemyslaw Piotr Damski
Faculty of Bussines and International Relations
Vistula University
Warsaw, Poland

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Re: Sources for teaching - Cold War course

by A Ross Johnson
I also suggest the Soviet documents related to countering Western broadcasting, in Johnson and Parta, eds., Cold War Broadcasting, CEU Press, and online in the Wilson Center Digital Archive, https://www.wilsoncenter.org/publication/cold-war-broadcasting

Another suggestion: The Media and Intra-Elite Communication in the USSR, RAND report, http://www.rand.org/pubs/reports/R2869.html

E sobre a América Latina: 

Re: Sources for teaching - Cold War course

by Richard Grossman
Quick suggestions on Latin America:

Secondary sources:
Stephen Rabe The Killing Zone: The United States Wages Cold War in Latin America (Oxford)
Clara Nieto The Masters of War: Latin America and US Aggression (Seven Stories Press)

Primary go to National Security Archives which is a private research organization.which has published lots of declassified documents.

Hope this is helpful.

Richard Grossman
Department of History
Northeastern Illinois University

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Re: Sources for teaching - Cold War course

by Robert Larson
You know, in terms of Soviet domestic politics, the secondary source I keep going to is Vladislav Zubok's A Failed Empire. It's very accessible. For primary sources, I'm no expert, but maybe something from Khrushchev's memoirs, or a bit of Samizdat literature? The latter could be a good discussion piece.

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Re: Sources for teaching - Cold War course

by Jenny Smith
Moshe Lewin's Gorbachev Phenomenon is pretty good, although not a comprehensive overview like Zubok's (which is also very good and I second the recommendation)

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Re: Sources for teaching - Cold War course

by Laura Deal
Zubok's book is a good one. CWIHP's Digital Archive (which I work for) also has some primary sources on censorship and mass media in the Soviet Union that might be useful: http://digitalarchive.wilsoncenter.org/collection/51/mass-media-and-cens...

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Re: Sources for teaching - Cold War course

by Grant Weller
I concur with Mr Larson. I've had great success with Zubok's _A Failed Empire_ in class, as well as the volume he coauthored with Constantine Pleshakov, _Inside the Kremlin's Cold War_. Though _Inside_ is an earlier work, students found the biographies included to be of great interest and made it a favorite. Another great primary source for the USSR would be the cartoons from _Krokodil_, many available online or in a collected published volume. Many anekdoti can be found on like and used to great effect, as well.

O Brasil atingido de psicose coletiva? - Luiz Olavo Baptista

 Meu amigo Luiz Olavo Baptista, horrorizado, como eu, com o espetáculo de ódios disseminados em todos os meios, com o cenário de divisão do país, e de fundamentalismo político (o religioso há muito existe) que tomou pé em nosso país desde algum tempo, faz estas reflexões que tenho o prazer de reproduzir aqui.
Paulo Roberto de Almeida 

Coxinhas, mortadelas e a psicose coletiva
  • Published on August 28, 2016
Experienced and Independent Arbitrator and Jurisconsult
Este texto, como outros que postei neste site contém anotações rápidas sobre coisas que chamam a minha atenção e não aspiram à dignidade dos textos acadêmicos, meros registros de sentimentos que são.
Pouco a pouco o país foi ensandecendo, dividindo-se fracionariamente, em polos opostos. Um conhecido me disse com cara séria e ar de quem acredita no que está dizendo que seu sonho era ver mortos todos os palmeirenses – ele é corintiano. Outro queria que se eliminassem os muçulmanos, ele integra um grupo que se intitula cristão (acho que há um novo significado para o termo) fundamentalista.
Nas mídias de comunicação social – aparentemente concebidas para congregar e aproximar pessoas, - alguns dirigem insultos a outros, os quais coroavam com a expressão coxinha; recebem respostas com agressões verbais de igual teor sendo e eram tachados como mortadelas. As mensagens de uns e outros exalam ódio exacerbado.
O ódio por razões políticas não é novo na história do Brasil. Antes de 1930, no Rio Grande do Sul, maragatos degolavam ximangos e vice versa. De novo os apelidos e o ódio assassino são coletivizados.
Essa atitude, para as pessoas não contaminadas pela psicose coletiva que ora grassa, é inaceitável. Não consigo aceitar ou compreender  o desrespeito ao direito de cada um pensar, falar e votar como quiser e suas manifestações, pacificas e ordeira serem respeitadas por todos mesmo que com elas não estejam de acordo. A Declaração Universal dos Direitos Humanos diz clara mente que:

Artigo 18  - Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular.
Artigo 19 - Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.

A psicose coletiva leva aos diferentes tipos de totalitarismo e desrespeito que ameaçam os direitos de cada um e das minorias.
Por isso é preciso voltar à sanidade, e lembrar que na origem da ideia de republica, lançada pela Revolução Francesa, o lema era liberdade igualdade e fraternidade. Com essa tríade, teremos de volta aquilo de que mais necessitamos para superar as dificuldades por que teremos que passar nos próximos anos.

Quase parecida com a minha biblioteca...

Só que não uso tênis, e meus cabelos não são assim de longos...

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Vergonha, apenas vergonha...

Existem momentos na vida nacional em que sentimos vergonha de ser brasileiros, poderia dizer o grande Rui Barbosa. 
O Brasil se expõe ao ridículo internacional de não respeitar a sua própria Constituição, e isso pelas mãos (e pés) daqueles mesmos que deveriam defendê-la.
Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 31 de agosto de 2016.

A Guerra Civil Espanhola em exposicao de fotojornalismo - Robert Capa (Sao Paulo)

As fotografias raras de Robert Capa na Guerra Civil Espanhola estão em São Paulo
Exposição do mestre do fotojornalismo de guerra registra um conflito dramático do século XX

Robert Capa em um de seus retratos mais difundidos.
FSP, São Paulo 22 JUL 2016 - 22:44 CEST
O grande mestre do fotojornalismo de guerra, o húngaro Robert Capa (1913-1954), um revolucionário da fotografia contemporânea, ganhou pela primeira vez (só) cinco anos atrás uma ampla exposição de seu trabalho original. Durante esse tempo, ela viajou por cinco países, sempre com um sucesso tremendo, e, agora, finalmente aterrissa no Brasil. A Valise Mexicana: a redescoberta dos negativos da Guerra Civil Espanhola de Capa, Taro e Chim, em cartaz na Caixa Cultural de São Paulo de 23 de julho a 2 de outubro, traz aos olhos paulistanos as imagens que Capa fez do conflito espanhol (1936-39) ao lado de seus parceiros Gerda Taro (1910-1937) e David ‘Chim’ Seymour (1911-1956). São fotografias únicas: históricas, artísticas e raras de ser vistas em seu contexto original.
Por isso, quem estiver na cidade deve aproveitar. São 4.500 negativos, que formam a tal Valise mexicana e que permaneceram desaparecidos por décadas, até serem recuperados na década de 1990 no México e, anos depois, arquivados com toda a importância merecida peloInternational Center of Photography (ICP) – fundado em Nova York pelo irmão de Capa, Cornell, que os recebeu em 2007 depois de uma busca incansável.
A história é que Capa mantinha um estúdio em Paris, para onde foi com Gerda, sua esposa, seguindo o rastro de Chim, o primeiro do grupo (todos judeus esquerdistas e exilados) a tentar a vida na França como fotógrafo, já que na Alemanha o nazismo estava em ascensão. Os três viram na Guerra Civil Espanhola uma oportunidade de trabalhar e ter destaque profissional. Em 1939, ano em que termina o conflito espanhol, estoura a Segunda Guerra Mundial, e Paris está na iminência de ser invadida pelo exército alemão. A pessoa responsável pelo estúdio naquele então embala o material e o entrega alguém de quem não se teve notícias por tempos. Até que Cornell os recuperou.

Refugiados andando na praia. Campo de internação francês para exilados republicanos, Le Barcarès, França. Março de 1939. ROBERT CAPA INTERNATIONAL CENTER OF PHOTOGRAPHY / MAGNUM

Nas fotos enfim resgatadas e agora expostas na Caixa Cultural, o que se vê é Capa e seus companheiros experimentando o estilo pelo qual ficariam consagrados, com fotos levemente tremidas, mais verossímeis que as nítidas no caso de conflitos, e tiradas quase sempre junto às cenas, como explica umareportagem da Ilustríssima sobre o mestre lançado à fama graças a um perfil publicado pela revista Picture Post.

Mulher amamentando e escutando um discurso político perto de Badajoz, Espanha, maio de 1936. CHIMESTATE OF DAVID SEYMOUR / MAGNUM
Vivendo essa vida imersa no perigo, os três fotógrafos, cujos nomes verdadeiros eram outros (Capa se chamava, na realidade, Endre Friedmann, Gerda era Gerta Phorylle e David, Dawid Szymin), morreram em ação. Gerda foi atropelada por um tanque na Espanha em 1937, Capa pisou em uma mina na Indochina em 1954 e Chim levou um tiro quando cobria a Guerra do Suez, em 1956. Talvez não sobre dizer que seus legados vivem eternamente.
Guerra Civil Espanhola teve início em 1936 após a sublevação de parte do Exército contra contra o Governo da época. Durou quase quatro anos e terminou com a vitória dos militares que levou o ditador Francisco Franco ao poder. Foi um dos momentos mais dramáticos do século XX. Em 2016, completa 80 anos.


Esquizofrenia e alienacao da esquerda - Wanderley Guilherme dos Santos, um alucinado

Posto aqui pois, por mais alucinado, alienado, paranoico e esquizofrênico que seja este sociólogo de esquerda, diferentemente dos jovens, que não leram nada e não sabem nem falar, este pelo menos teve uma educação à antiga, e sabe pelo menos se expressar, o que a Afastada sequer consegue fazer, por exemplo.
Mas as loucuras são extensas, disseminadas, amplas e irrestritas.
Paulo Roberto de Almeida

Governo Temer é profundamente antinacional. É pior que 64’. 
Entrevista com Wanderley Guilherme dos Santos
Marco Weissheimer
Sul21, 29/08/2016

“O governo de Michel Temer dá as primeiras passadas, acelerando para o grande salto para trás e a grande queima de estoques. A massa assalariada brasileira está sendo vendida a preços de saldo, com as liquidações iniciais dos programas educativos e sociais. O patrimônio de recursos materiais, como antes, será oferecido como xepa. A repressão à divergência não será tímida. Não há nada a esperar”. Esse é o resumo da obra que será exibida no Brasil nos próximos meses, talvez anos, na avaliação do cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, professor aposentado de Teoria Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisador sênior do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP-UERJ).
A entrevista é de Marco Weissheimer, publicada por Sul21, 29-08-2016.

Em um artigo intitulado “O grande salto para trás de Michel Temer”, publicado em seu blog “Segunda Opinião”, o cientista político prevê dias sombrios para o país e aponta algumas características do bloco que apoia Temer e que pretende implantar uma novaagenda política e econômica no país, sem ser referendada pelo voto popular, com a confirmação da derrubada da presidenta Dilma Rousseff.
Wanderley Guilherme dos Santos fala sobre essa agenda, destacando o seu caráter profundamente antinacional. Para ele, o movimento golpista pretende recolocar o Brasil no fluxo normal das relações do capitalismo que havia sido interrompido com a eleição de Lula em 2002. “O que vai acontecer agora, e já começou a acontecer, como tem ocorrido em várias democracias sociais no mundo inteiro, uma redefinição programática drástico dos contratos de solidariedade social com uma hegemonia desabrida da lógica do interesse do capital”, assinala. Para tanto, acrescenta, a esquerda foi expulsa do jogo político legal por algum tempo. “Eles não deixarão Lula ganhar a eleição em 2018 em hipótese alguma. Não sei como vão fazer, mas não deixarão”, diz, advertindo que a tentativa de prisão do ex-presidente Lula é uma possibilidade real neste cenário.
Eis a entrevista.
Como você definiria a atual situação política do país e, mais especificamente, o que está acontecendo no Senado nos últimos dias, com o julgamento do impeachment da presidenta Dilma Rousseff?
Eu não tenho acompanhado o Senado e nem o Supremo Tribunal Federal porque, já há algum tempo, tenho a convicção de que está tudo essencialmente resolvido. É uma peça cuja primeira montagem, para a minha sensibilidade, teve alguma emoção. Agora, virou algo mecânico. Por isso não estou acompanhando o que ocorre no Senado. Não vai daí nenhuma depreciação das pessoas. Elas estão cumprindo o protocolo, mas, no fundo, todos sabem que está resolvido.
Com a confirmação do afastamento de Dilma, quais podem ser as repercussões políticas e sociais no país?
Acho que ocorrerão desdobramentos e aprofundamentos do telos, da finalidade deste movimento que pretende recolocar o Brasil no fluxo normal das relações do capitalismo que havia sido interrompido com a eleição de Lula em 2002. A inserção do Brasil nosistema capitalista evoluiu muito durante os governos de Fernando Henrique Cardoso, quando foram construídos laços explícitos com o modelo internacional. Previamente a isso, havia uma indefinição sobre o rumo que o país iria tomar. Mesmo durante o período militar, havia uma disputa permanente entre os nacionalistas e os mais, digamos cosmopolitas. Isso foi resolvido, primeiro, com a vitória de Collor e, depois, com a de Fernando Henrique, quando tivemos oito anos de ajustamento da dinâmica brasileira ao modelo capitalista internacional. Isso foi interrompido em 2002.
O que vai acontecer agora, e já começou a acontecer, como tem ocorrido em várias democracias sociais no mundo inteiro, uma redefinição programática drástico dos contratos de solidariedade social com uma hegemonia desabrida da lógica do interesse do capital. Esse processo já está em curso.
Na sua opinião, pode ocorrer uma reação na sociedade a esse processo, especialmente entre os setores que devem ser mais atingidos por essa redefinição programática? Há uma aparente calmaria na sociedade hoje, considerando a gravidade de tudo o que está acontecendo. O que essa calmaria expressa? Apatia? Indiferença?
Acredito que temos aí uma composição de percepções. Em primeiro lugar, há o reconhecimento da falta de recursos. Os assalariados, de modo geral, com a ameaça dedesemprego, estão muito pouco dispostos a participar de manifestações com pautas universais, generalizantes. Só farão isso por questões específicas. Essa postura obedece a razões materiais compreensíveis. Em segundo lugar, por uma avaliação, na minha opinião bastante sensata também, de que esse esquema de redefinição programática e de reajustamento reacionário é muito forte e pouco vulnerável a pressões externas. Ele tem algumas instabilidades, como essa briga agora entre Gilmar Mendes e o Ministério Público Federal, mas elas não transbordarão para uma associação com quem está de fora. Assim, acredito que essa aparente apatia não é, na verdade, uma apatia, mas sim uma avaliação bastante pessimista, porém racional.
Em que medida a Constituição de 1988 está sendo afetada pelo que está acontecendo agora no Brasil?
A Constituição, propriamente, não está sendo atingida. O texto da Constituição consagra uma série de votos de boa vontade. O que aconteceu, de 2002 até aqui, foi uma tradução desses votos constitucionais em políticas específicas sérias e sistemáticas. Como essas intervenções sociais não foram constitucionalizadas, como ocorreu, por exemplo, com a Consolidação das Leis do Trabalho, elas ficaram muito vulneráveis a mudanças ministeriais e de governo. Então, o que está ocorrendo agora é um desmanche das políticas sociais construídas a partir de 2002 e a instalação de uma forma diferente de ler os votos constitucionais que não são específicos, mas sim declarações de intenções. O que está sendo atingido é a gramática que traduzia essas declarações de intenções em políticas sociais específicas.
Qual é, na sua avaliação, a capacidade do PT e da esquerda brasileira de um modo geral, de resistir a esse processo e de enfrentar o período que se abre agora na história do país?
Há um trabalho que vem sendo realizado há alguns anos junto ao subconsciente da sociedade para cultivar a impressão de que tudo o que vinha sendo feito desde 2002 era algo paliativo, populista e maligno para comprar o apoio das classes mais desfavorecidas. Foram anos de condicionamento da subjetividade nacional e grande parte dela ficou bastante hesitante no que pensar diante de uma lava jato. Não obstante a execução efetiva dos procedimentos legais que até agora condenaram empresários, burocratas, marqueteiros e alguns políticos, o único grande nome do PT condenado neste processo é o Vaccari (João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do partido).
Desde o início da Lava Jato, os vazamentos, delações, declarações são sempre em relação ao PT. Por isso não cessa a Lava Jato. Toda semana tem uma ameaça nova sobre a prisão de fulano ou de sicrano. E não acontece. Não acontece porque não tem base e as coisas não colam. Há alguns meses, o Lula seria preso por causa do sítio em Atibaia ou por um apartamento no Guarujá. Isso era martelado diariamente como se fosse verdadeiro e suficiente para tornar alguém incomunicável. A Lava Jato colheu os frutos desses 13 anos de cultivo de uma subjetividade disposta a aceitar determinadas coisas. E a devastação produzida por isso foi muito grande. A imensa maioria das forças de esquerda não tem nada a ver com o número de pessoas denunciadas e condenadas pelaLava Jato. Há uma discrepância absoluta aí e ninguém está se dando conta disso.
Há dois processos em curso. Há um processo teatral e um processo real. Os personagens reais estão lá na lista de denunciados e sentenciados pela Lava Jato, da qual não constam políticos do PT, com exceção de Vaccari e Delcídio, que era um recém-chegado ao partido. A Lava Jato continua produzindo essa devastação na esquerda.
Então, é natural que o eleitorado de esquerda esteja, não digo intimidado, mas aguardando os acontecimentos, pois foi colocado sobre seus representantes um véu generalizado de suspeição, o que faz com que ninguém se arrisque a por a mão no fogo por ninguém. A situação de meio paralisia que vemos hoje é uma situação de intimidação. Tudo contribui para um curto e médio prazo não muito róseo para aesquerda brasileira.
Você acredita que a Lava Jato, uma vez confirmado o afastamento da presidenta Dilma, tende a terminar?
Não. Pode até ser que eles tenham pensado nisso em algum momento do processo, mas acho que tomaram gosto pela coisa. É um poder que, agora, o Gilmar Mendesidentificou. É um poder excepcional esse de ter informações sigilosas sobre as pessoas, de saber quem faz o quê, em um contexto em que acusação e difamação se confundem. É um poder tirânico, aparentemente dentro da lei. Eu duvido que isso termine tão cedo.
Em que medida esse bloco que está apoiando Temer e a derrubada da Dilma é um bloco coeso e sólido, considerando especialmente as relações entre PMDB e PSDB?
Pode haver algumas rusgas internas, mas acho que o bloco reacionário é sólido. A esquerda foi expulsa do jogo político legal por algum tempo. Lamento, mas eu leio o que está escrito. Posso estar lendo errado, mas tento ler o que está escrito.
Como avalia a possibilidade do movimento sindical e dos movimentos sociais resistirem à agenda de políticas defendidas pelo bloco político e social de Temer, que inclui propostas como a flexibilização da CLT e a precarização de direitos?
Os movimentos sociais podem resistir um pouco, mas dentro do sistema político legal atual, lá entre eles, a situação não é tão fácil assim. Nem todos são reacionários de alfa a ômega. Há representantes dentro do Legislativo e da burocracia que tem interesses a defender e estão envolvidos com uma série de políticas. Então, acho que não será tão fácil para eles e não cumprirão 100 por cento do que gostariam os mais radicais deles, mas isso por conta de resistências dentro do próprio bloco deles. Esse bloco é muito sólido no seu veto à esquerda. O consenso básico deles é: esquerda fora. Esse é o denominador comum que os unifica.
“Em certo sentido, o golpe atual é pior que o de 64, pois tem um compromisso antinacional e reacionário muito mais violento”.
Tudo isso que estou dizendo não significa que nós vamos ficar olhando para tudo isso de braços cruzados, sem fazer nada. O que estou fazendo é procurar ver essa conjuntura com um olhar realista, inclusive para não criar expectativas falsas. As lideranças da esquerda não podem ficar levantando expectativas falsas que sabem que não poderão cumprir. Isso é ruim. O que não quer dizer que vamos ficar parados. Nós ficamos parados durante a ditadura? Não e tampouco ficaremos parados agora. Na ditadura, não acreditávamos que, em 48 horas, iríamos derrubar os generais. Nem por isso ficamos parados.
Em certo sentido, o golpe atual é pior que o de 64, pois tem um compromisso antinacional e reacionário muito mais violento que o dos militares daquela época. Estes tinham uma seção autoritária, mas comprometida com interesses nacionalistas. Não é o caso agora. Cerca de 90% desse bloco que apoia Temer é profundamente antinacional. Isso não está acontecendo só aqui, vem acontecendo pelo mundo inteiro depois da crise de 2008.
Você vê alguma possibilidade de Lula vencer a eleição em 2018 e retornar ao governo?
Eles não deixarão Lula ganhar essa eleição em hipótese alguma. Não sei como vão fazer, mas não deixarão. A esquerda não ganhará a eleição em 2018 de jeito nenhum. O que não quer dizer que a gente não vá mostrar a cara. Dependendo do andar da carruagem e se as eleições fossem livres, hoje eu acho que eles perderiam. O governo Temer é muito ruim e está afetando todo mundo. Se houvesse uma eleição para valer, eles perderiam. Como é que eles vão fazer eu não sei. O compromisso que eles estão assumindo, em nível nacional e internacional, é de tal envergadura que eles não podem perder a eleição em 2018.
Na sua opinião, o tema da prisão de Lula ainda é uma possibilidade?
Acho que sim. Estão preparando o ambiente e o farão quando avaliarem que isso provocará apenas alguns protestos impotentes. Há um ano, eles não fariam, pois não daria certo. Eles não estão para brincadeira e vêm trabalhando sistematicamente para “acostumar” a opinião pública com a ideia da prisão de Lula. Eles vêm realizando sucessivas ameaças, às quais reagimos, para ir criando o clima. A ideia é que, ao longo dessas sucessivas ameaças, a nossa reação vá perdendo força na sociedade.
Como definiria a atuação do STF neste processo? Há setores do Supremo que fazem parte orgânica desse bloco de Temer?
Sim, fazem. A maioria do Supremo é servil. Os que não são, se acomodam e se acovardam. Só esboçam alguma reação em coisas secundárias. Na hora de decidir sobre temas essenciais, isso desaparece.
Outra instituição que vem sendo apontada como uma protagonista do golpe é a chamada “grande mídia”. Como definiria o papel desse setor?
É claro que também faz parte desse mesmo bloco. Não há nenhuma dúvida quanto a isso. Esse encontro entre Legislativo, Judiciário, Supremo, empresariado e mídia é uma circunstância que aconteceu. Não é fácil de acontecer, mas aconteceu. Acho que nem foi o resultado de uma coisa totalmente planejada, pois é muito difícil planejar algo dessa natureza. Mas acontece e, quando acontece, eles têm consciência de que aconteceu. Eles sabem o que aconteceu e, por isso, estão à vontade para cometer as maiores barbaridades como se fossem verdades. Hoje, se alguém ligado à esquerda entra com um habeas corpus ou algo do gênero no Supremo, eles negarão o pedido. Pode parecer exagerado, mas é isso mesmo. O que está acontecendo não é brincadeira. A gente esquece como isso tudo começou. Há alguns anos, o que estamos vendo agora era algo impensável. Hoje acontece como se fosse algo normal.
Considerando o bloco político social que apoia Temer hoje é possível fazer uma comparação com aquele bloco que apoiou o golpe de 64?
Não, é uma realidade bem diferente. Em 64, não havia uma sociedade organizada e diversificada como hoje. Os militares obtiveram uma maioria conjuntural, mas depois as coisas foram ficando mais complicadas. Não tem nada a ver com 64. Como disse, acho que o que acontece agora, em certo sentido, é pior em função do caráter profundamente antinacional desse bloco.

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