Chefe-adjunto da Inteligência da Ucrânia chama assassinato de Putin de ‘prioridade’
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
quinta-feira, 25 de maio de 2023
Sinceridade de um chefe de inteligência da Ucrânia: "matar Putin é nossa prioridade" (agência de notícias russa Ria Novosti)
"Racismo estrutural", no Brasil e nos EUA - José Antonio de Macedo Soares, Paulo Roberto de Almeida
Para quem acha que o Brasil sofre de "racismo estrutural":
No dia 8 de junho de 1953, há setenta anos, a Suprema Corte dos EUA decidiu que restaurantes, bares e cafés em Washington D.C. não poderiam recusar a servir clientes negros (District of Columbia v. John R. Thompson Co.Inc.).Pescado na "Folhinha do Futuro", para o mês de Junho, preparada todo mês pelo meu bom amigo José Antonio de Macedo Soares.
PRA: Mas essa decisão só afetava Washington, pois no Deep South, o Apartheid durou até meados dos anos 1960, senão mais.
Permito-me aliás, lembrar quefoi essa mesma corte, mas na década final do século XIX que decidiu que os estados podiam, sim, manter a discriminação nas escolas, ou seja, as melhores para brancos, o que tiver para os negros. Foi o famoso "ruling" Qual But Separated, ou seja, os negros eram iguais aos brancos, mas estes tinham o direito de mantê-los bem apartados de escolas públicas.
Lembro ainda que o super racista presidente Woodrow Wilson, saudado como famoso progressista, pelos seus "14 pontos" para as negociações de paz de Paris, após o armistício da Grande Guerra, foi o sulista que federalizou o racismo no serviço público federal, separando brancos e negros em todas as repartições públicas. Os estados do Sul aproveitaram para recrudescer no Apartheid e a Ku-Klux-Klan para linchar milhares de negros em árvores de vários estados do Sul.
Aquilo sim era racismo estrutural...
Diálogos da Brazil Conference, de Harvard a BH: respostas a questões - Paulo Roberto de Almeida
A conferência vai ser amanhã, dia 26, e o moderador, provavelmente o colega acadêmico e especialista em política externa brasileira Guilherme Casarões, formulará as perguntas que julgar pertinentes, sobretudo depois do G7 de Hiroshima. Mas como ele me havia enviado previamente uma série de questões que serão abordadas, preparei algumas notas para fixar algumas ideias, como sempre faço. Mas, também, como sempre faço, nunca leio o que escrevi, por isso resolvi já colocar de antemão meus comentários a algumas dessas questões, para informação dos distintos leitores deste meu modesto blog.
Diálogos da Brazil Conference, de Harvard a BH: respostas a questões
Paulo Roberto de Almeida
Diplomata, professor
(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)
Respostas tentativas a questões colocadas pelo moderador, para o evento de 26/05/2023.
1) Pergunta introdutória: estamos em 2023, com um velho e novo governo e velhos e novos desafios políticos, econômicos e sociais. Que Brasil é esse e que mundo é esse em que o Brasil terá que navegar daqui para a frente?
PRA: O mundo mudou, para melhor – no plano dos progressos materiais, embora não para todos –, mas também para pior: com um acirramento da insegurança internacional, em virtude de um Estado nuclear transgressor da Carta da ONU e das normas mais elementares do Direito Internacional. O Brasil também mudou, para melhor – ao se livrar do pior governo conhecido desde que aqui chegou o primeiro governador-geral, D. Tomé de Souza, ou seja, desde 1549 –, mas também para uma situação incerta, ao se ter um novo governo que está olhando o Brasil com os olhos no retrovisor.
A globalização se fragmentou, e alguns Estados revisionistas, por acaso não democráticos, começam a proclamar a necessidade de uma nova “ordem mundial”, algo que só ocorre ao cabo de grandes catástrofes. O pior é que os dirigentes brasileiros, e certamente o PT, parecem concordar com essa ideia insana.
2) Como já dissemos, os desafios do Brasil (em casa e no mundo) são enormes. Quais, na sua opinião, deveriam ser as prioridades deste novo governo - imediatas e no médio prazo do mandato - para garantir que o Brasil resgate seu caminho para o desenvolvimento?
PRA: Desenvolvimento se faz com investimentos. Investimentos se fazem a partir de um sólido ambiente de negócios, com um quadro transparente e claro das políticas governamentais, com certa definição de prioridades. O governo atual se elegeu muito mais como recusa do desgoverno bolsonarista do que por virtudes próprias, inclusive porque não apresentou, até agora, um plano claro de governo, além de alguns slogans atraentes. O principal desafio é a estabilidade econômica – ou seja, equilíbrio das contas públicas –, num ambiente de baixa inflação – o que ainda não é o caso – e de previsibilidade quanto aos rumos futuros, ou seja, prioridades bem estabelecidas. O segundo desafio, mais externo do que aparentemente interno, é o de contemplar as preocupações dos países democráticos avançados com a destruição da Amazônia e dos povos indígenas, e o Brasil ainda não provou que pode responder adequadamente a essas preocupações. O terceiro desafio é o de elevar os níveis medíocres da produtividade, principal fator da perda de competitividades externa da economia brasileira; esse desafio depende não exatamente de reformas educacionais, mas de uma verdadeira revolução nos padrões educacionais do Brasil, nas escolas públicas em especial. Uma quarta prioridade do Brasil deveria ser a integração na América do Sul, algo que dificilmente passará por uma coordenação continental, dado o nível de fragmentação da região: caberia ao Brasil fazer os primeiros gestos, de natureza puramente unilateral, ou seja, abrir voluntariamente seus mercados aos países vizinhos.
3) O governo Lula definiu algumas prioridades para sua agenda externa. Temas como meio ambiente, direitos humanos e comércio estão na pauta. Lula também busca resgatar a centralidade brasileira na América do Sul e na África, ao mesmo tempo em que se equilibra na disputa das grandes potências. Esse caminho faz sentido? Querer que o Brasil volte ao tabuleiro mundial é suficiente para garantir o desenvolvimento, ao menos no cenário externo?
PRA: Todas essas são prioridades compreensíveis, mas elas deveriam ser, antes de mais nada, objeto de estudos técnicos da diplomacia profissional, não de falas improvisadas do presidente, que revela apenas a sua ignorância sobre temas básicos do sistema mundial, como sua megalomania de pretender opinar sobre quaisquer assuntos da agenda global, sem ter conhecimento e domínio suficientes sobre cada assunto. A diplomacia presidencial, que ele encarna como nenhum outro presidente das últimas décadas, pode ser um desastre, se partindo de um político despreparado e sobretudo voluntarioso e que se acha dotado de capacidades que ele não tem. Vou resumir numa fórmula: se o Brasil pretende ter sucesso nessas prioridades externas, como anunciou o presidente, ele precisa começar por fazer o dever de casa, ou seja, resolver os problemas internos em todas essas áreas: meio ambiente, direitos humanos, abertura econômica e liberalização comercial, além de predisposição de superar o tradicional protecionismo de suas elites econômicas para abrir-se aos vizinhos.
4) A China, nosso maior parceiro comercial, pode representar tanto uma bênção quanto uma maldição para o Brasil. Há, de um lado, toda a pujança do nosso setor primário, responsável por superávits sucessivos junto ao maior mercado mundial. De outro lado, alguns apontam os riscos (já em curso) de reprimarização da economia brasileira e de competição desleal em setores industriais, do varejo e da alta tecnologia. O que a China representa para o desenvolvimento brasileiro?
PRA: Vamos ser claros: a China não é um problema, nem para o Brasil, nem para o mundo. Ela tem – descartando essa conversa de “nova ordem mundial” – um papel positivo na economia mundial, e não pretende exportar o seu “comunismo” para ninguém; aliás, o slogan de “socialismo com características chinesas” é uma conversa para incautos; o que a China tem é um capitalismo com características chinesas, ou seja, uma economia de mercado muito integrada ao mundo, mais pelo lado do comércio até aqui, mas as demais vertentes financeiras, de investimento, moedas e tecnologia também seguem na sequência. A China é um desafio e um estímulo ao desenvolvimento brasileiro, tanto pelo lado dos desafios e da competição, quanto pelo lado do aprendizado do que deve ser feito para superar os problemas do presente: crescer pela integração aos mercados mundiais, oferecer um ambiente de negócios receptivo e aberto, cuidar da infraestrutura e, sobretudo, cuidar do capital humano, ou seja, ter mão-de-obra de alta qualidade em todos os setores.
O que não se pode é aderir a essa ideia insana de nova ordem global: a ordem de Bretton Woods, a despeito de reformas que podem ser feitas, ainda é a base inquestionável do funcionamento de uma sólida economia de mercado, multilateral e aberta às inovações.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4390: 8 maio 2023, 3 p.
Despite war, Ukraine allows Russian oil and gas to cross its territory - David L. Stern, Sammy Westfall (WP)
The Washington Post, May 25, 2023
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Despite war, Ukraine allows Russian oil and gas to cross its territory
KYIV, Ukraine — Despite a brutal Russian invasion that has killed tens of thousands of Ukrainian soldiers and civilians and laid waste to swaths of the country, Ukraine continues to allow Russian oil and gas to cross its territory to serve its European neighbors — generating revenue for Kyiv and Moscow and illustrating how hard it is for the bitter enemies to cut ties. Senior Ukrainian officials have demanded that their Western partners impose tougher sanctions and cut virtually all economic ties to Russia, saying “more must be done” to cripple Moscow’s war machine. But as surreal as it might seem, Ukraine insists that it has virtually no choice but to maintain its own commercial deals and has lobbied to preserve them, arguing that they provide some leverage over the Kremlin and help constrain where the Russian military carries out airstrikes. Oleksiy Chernyshov, the chief executive of Ukraine’s state energy company Naftogaz, conceded the bizarre optics of Ukraine still doing business with Russia. “It is for me, it’s impossible, as a Ukrainian citizen — that is my first reaction,” Chernyshov said, adding that this was a personal and emotional response. But Naftogaz — and senior political leaders — insist that Ukraine cannot and should not shut the pipelines, both to lay claim to residual revenue (although the amount Moscow is paying, if anything, is not public information) and because some of Kyiv’s European supporters are still dependent on Russian oil and gas. Russia’s continuing profits, and Kyiv’s frustrations, were spotlighted recently in classified U.S. intelligence documents leaked on the Discord messaging platform, which said that Ukrainian President Volodymyr Zelensky considered blowing up the Druzhba oil pipeline earlier this year. According to the document, which was obtained by The Washington Post, U.S. officials questioned the seriousness of the threats, which may have been an outburst of frustration at Hungarian Prime Minister Viktor Orban, who has voiced pro-Kremlin positions and insisted on an exemption from a European Union effort to end purchases of Russian oil.
Moscow sent about 300,000 barrels of oil per day last year through the Druzhba — or “Friendship” — pipeline, which crosses Ukraine. Russia is also obligated to pump some 40 billion cubic meters of gas annually through Ukraine’s gas transit system because of supply agreements that predate the full-scale invasion in February 2022. Ukrainian officials say they are in a quandary. Russian hydrocarbons crossing their territory earn the Kremlin millions of dollars and help fund its war machine. But Kyiv also needs the money it earns on transit and wants to be a reliable economic partner to European nations, some of which could face destabilizing price increases if Russian energy supplies were suddenly cut off. Chernyshov said Kyiv must uphold its contractual obligations, and the decision to end the deliveries lies with the countries on the receiving end, such as Hungary, which need Russian oil and gas for heat in the winter. “This stream has not been stopped in order not to make other countries that are supporting Ukraine freeze,” he said. The Kremlin has used energy supplies as a weapon, including in the 2000s when it twice cut off supplies to Europe. But Kyiv has also insisted that Russia’s gas must continue to flow, even in the years since Moscow illegally annexed Crimea in 2014 and fomented a separatist war in the eastern Donbas region. Ukraine insisted that it should sustain its role as a transit country, while also demanding that countries like Germany not help Russia build new pipelines — a view critics called hypocritical. Now, Ukraine says all of its supporters should reduce or eliminate their use of Russian energy. A working group on Russian sanctions, chaired by Andriy Yermak, the head of the Ukrainian presidential office, and Michael McFaul, the former U.S. ambassador to Russia, published an “action plan” last month that laid out additional steps that should be taken to punish Russia — but the plan pointedly called for preserving the transit of Russian energy across Ukraine. It also called for suspending “all remaining Russian-controlled pipeline routes” taking Russian gas to the European market, as well as the TurkStream pipeline through Turkey. “End the direct supply of Russian gas to the European Union, except through Ukraine,” the action plan said.
Anders Aslund, an economic expert focusing on the former Soviet Union who was part of the sanctions working group, said the logic of maintaining transit across Ukraine was clear: Gas would go to European markets regardless, because the E.U. included several exceptions, or “carveouts,” to its embargo regime for countries like Hungary. What’s more, Russia is committed to paying Ukraine a total $7 billion over a five-year contract signed in 2019, called a “pump or pay” agreement, which requires Moscow to pay whether it ships any gas. “So why not get the money?” Aslund said. “The contracts have been agreed with the European Union for these carveouts.” The goal of the sanctions is not to introduce “a general ban against trade with Russia,” Aslund said, but “to cause Russia maximum damage without causing Ukraine more damage than necessary.” On May 10, E.U. envoys met in Brussels to discuss a new package of sanctions against Russia, its 11th so far. Previous measures targeted individuals, businesses and sectors of the Russian economy, and restricted exports and imports. European Commission President Ursula von der Leyen, at a news conference with Zelensky in Kyiv the previous day, said the E.U. would “continue to do everything” in its power “to erode Putin’s war machine and his revenue.” Zelensky praised the E.U. proposals, which he said would hit Russia’s atomic energy sector. But he and other officials have said this is still not enough. Under its gas contract with Kyiv, Russia is obligated to pay Ukraine some $1 billion to $1.5 billion annually. After the war began, one key entry point for Russian gas in occupied territory in the east was shut down, with conflicting claims over who was responsible. saying Ukrainian officials insisted there was capacity to send all Russian gas through another entry point. However, Russia drastically reduced the amount of gas that it pumped through Ukraine. In September, Naftogaz filed a case at the International Court of Arbitration in Paris, saying that “funds were not paid” by Russian state gas company Gazprom “neither on time nor in full” under the terms of the contract. Naftogaz declined to specify how much was missing from payments, however. “We will make Gazprom pay,” said Yuriy Vitrenko, the head of Naftogaz at the time. Gazprom, in response, said there were no “appropriate reasons” to pursue the case and threatened to impose financial penalties against Naftogaz. Gas has been at the center of Russia and Ukraine’s troubled relationship for decades. At one point, Russia sent more than 80 percent of its gas across Ukraine to European countries. Russia hoped to bypass Ukraine by opening two gas pipelines across the North Sea to Germany. As the second, called Nord Stream 2, was being built, Ukrainian officials argued that some of Russia’s gas should continue to traverse Ukraine as a way of preventing a full-scale war. Nord Stream 2 was built but never used. The war happened anyway. Still, Nataliia Shapoval, vice president for policy research at the Kyiv School of Economics, said Russia’s use of Ukrainian pipelines “creates some additional protection” and has appeared to limit Moscow’s airstrikes. “During their campaign against the energy sector this winter, gas transportation and storage were not their primary targets, for sure,” Shapoval said. The Druzhba oil pipeline has likewise been spared, halting operations for only “a couple of days, when they didn’t have the power to run the pumps,” said Matthew Sagers, an energy transport expert at S&P Global Commodity Insights in London. Sagers said Druzhba carried about 80 percent of oil for Hungary’s largest oil company, MOL, last year and is supposed to carry between 50 and 55 percent this year. In addition to Hungary, the Czech Republic and Slovakia depend on oil shipped through Druzhba. Plus, Ukraine earned close to $180 million on transit fees from Druzhba last year, Sagers said. “Money is money.” In the end, Sagers said, the Ukrainians “don’t need to blow up the pipeline — they could just simply stop doing business if they wanted to.” | |||||||||||||||
Reflexões sobre uma grande fissura diplomática - Paulo Roberto de Almeida
Reflexões sobre uma grande fissura diplomática
Existe uma visão do mundo, que abrange, incorpora e domina atualmente a diplomacia brasileira, que se funda sobre uma divisão radical e uma ruptura incontornável entre, de um lado, os interesses do chamado Norte Global (inexistente, mas que se considera ser representado pelos velhos colonialistas europeus e pelo hegemon universal desde meados do século XX), sempre imperialistas e opressores, e, de outro lado, os interesses do chamado Sul Global (antigamente chamado de Terceiro Mundo, ou países em desenvolvimento, antes subdesenvolvidos e dominados colonialmente pelos primeiros). Não se sabe exatamente quem representa esse Sul Global, mas Brasil, Índia e alguns outros Estados ex-colônias reivindicam tal liderança.
Segundo essa visão, há uma absoluta necessidade, dada a arrogância do Norte Global, de uma "nova ordem mundial" e de um "novo sistema financeiro internacional", obviamente não baseados na dominação do Sul Global pelos países do Norte, e de sabor distintamente antiocidental, pois que recusando o dólar nos intercâmbios comerciais e financeiros e promovendo moedas locais ou uma moeda comum de países afins (como os Brics, ou os do Mercosul, por exemplo).
A isso se dá, curiosamente, o nome de "democratização das relações internacionais", ou, no plano instrumental, uma indefinida "multipolaridade". Também se reclama a reforma da Carta da ONU e a ampliação do seu Conselho de Segurança, para acomodar as pretensões dessas novas potências emergentes.
Curiosamente, esses projetos, ruidosamente saudados e apoiados em certas esferas, são liderados explicitamente pelas duas grandes autocracias remanescentes das grandes potências socialistas da era da Guerra Fria. Não há como recusar a orientação claramente antiliberal e antidemocráticas dessas duas grandes potências, uma economicamente ou apenas militarmente.
Mais estranho ainda não existe, nessa nova "ordem global", nenhuma referência a democracia, liberdades individuais ou defesa dos direitos humanos, que são, supostamente, valores e princípios tradicionais da diplomacia brasileira, ademais de todas aquelas cláusulas de relações internacionais que estão inscritas no Art. 4 da Constituição de 1988, muito coincidentes com os grandes princípios da Carta das Nações Unidos e de vários tratados internacionais baseados nos direitos e garantias fundamentais de um Estado de Direito e de acordo a normas elementares do Direito Internacional.
O Brasil é uma antiga dependência colonial que se desenvolveu lentamente ao abrigo da ordem econômica liberal da belle époque, depois no contexto da ordem econômica mundial de Bretton Woods, ainda hoje dominante, a despeito de crises e reformas.
A adesão da atual diplomacia brasileira a essas duas autocracias, ainda que a pretexto de "neutralidade", pode incorporar o Brasil a uma nova, mais do que possível, Segunda Guerra Fria, desta vez mais de caráter econômica e tecnológica do que a pretexto de recusar a ordem capitalista e substitui-la por um "modo de produção socialista".
Não tenho certeza de que essa "ordem alternativa" esteja conforme aos interesses materiais do Brasil, e certamente não estaria de acordo a nossos princípios e valores democráticos, de defesa das liberdades individuais e dos direitos humanos.
Temo a deformação, mais uma vez, da diplomacia brasileira num sentido nitidamente antiocidental (como se esse mundo fosse contrário aos interesses nacionais) e em favor de ditadura explícitas ou disfarçadas.
Seria essa a tendência? Desde já manifesto minha inconformidade, sobretudo porque se atribui a guerra de agressão da Rússia à Ucrânia a um suposto "cerco da Otan" à Rússia, desprezando totalmente a vontade soberana de ex-países dominados pelos impérios russo e soviético, que simplesmente buscavam garantias no Ocidente (UE e Otan, justamente) contra o abraço do urso russo, muito conhecido na história trágica de todos esses países nos últimos dois séculos.
Deixo aqui estas minhas reflexões sobre o momento diplomático do Brasil atual.
BH, 25/05/2023
Chamada de artigos – Revista do IHG-DF, n. 13
Chamada Pública – Edital de publicação para o N. 13 da Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal
(ISSN 2525-6653)
Período de submissão: os artigos devem ser enviados ao e-mail ihgdfederal@gmail.com, até o dia 31/07/2023
Sobre a Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal:
1) Linha Editorial
A Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal aceita para publicação artigos, ensaios, documentos, resenhas bibliográficas e biográficas, entrevistas e atualidades relacionados às áreas de ciências humanas, sociais aplicadas e linguística, letras e artes, resultantes de estudos teóricos, pesquisas, reflexões sobre práticas atualizadas na área. Os textos em português devem ser inéditos, de autores(as) brasileiros(as) ou estrangeiros(as), conforme padrão da Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal.
2) Periodicidade:
A Revista do IHGDF tem periodicidade semestral.
3) Diretrizes para Autores
1. Os artigos, de preferência inéditos, terão extensão variável, de 15 a 25 páginas, com aproximadamente 36 a 60 mil caracteres.
2. Cada artigo, com título em ponto 14 e corpo do texto em ponto 12, deve vir acompanhado de resumo em português e abstract em inglês, de aproximadamente 80 palavras, bem como palavras-chave e key words. Ao final do artigo, o autor incluirá um breve currículo de até 10 linhas.
3. Na primeira página, abaixo do nome do autor, deve constar uma informação sintética sobre a formação e vinculação institucional do autor, de até duas linhas.
4. Notas de rodapé (ao pé da página) apenas quando indispensáveis; as referências bibliográficas e citações no corpo do texto devem seguir o modelo (Autor, ano: p.); bibliografia, distinguindo entre fontes e literatura secundária, deve vir em ordem alfabética ao final do artigo, observando as normas da ABNT (6023/2018).
5. Resenhas de livros terão de preferência entre 3 e 10 páginas, começando com a identificação precisa da obra, depois de eventual título fantasia.
6. Encaminhar as colaborações ao e-mail: ihgdfederal@gmail.com.
7. Os membros dos conselhos consultivo e editorial atuarão como pareceristas anônimos; pareceristas externos poderão atuar para temas especializados.
4) Declaração de Direito Autoral
Ao submeter um artigo à REVISTA do IHGDF e tê-lo aprovado, os autores mantem os direitos de autoria e concordam em ceder, sem remuneração, os seguintes direitos autorais à REVISTA do IHGDF: os direitos de primeira publicação e permissão para que esta revista redistribua esse artigo e seus dados aos serviços de indexação e referências que seus editores julguem usados.
quarta-feira, 24 de maio de 2023
Ucrânia: derrota para o Grupo Wagner em Bakhmut - Raul Ilargi Meijer (Automatic Earth Blogger)
War - NATO Beaten By "A Restaurant Owner & A Bunch Of Convicts"?
WEDNESDAY, MAY 24, 2023 - 12:00 AM
Authored by Raul Ilargi Meijer via The Automatic Earth blog,
In Bakhmut/Artyomovsk, all of NATO, all 31 member nations, were defeated by a restaurant owner and a bunch of convicts, is how I saw someone describe it. That of course caricatures the situation somewhat (Wagner is well-organized), but it’s not that far off. And that spells a serious problem for NATO.
All of those 31 members may have lots of control over their media, but in the end you can’t endlessly deny being defeated.
So what will NATO do now? They will double down, and then again. And at the end of the “doubling down road” lie nuclear weapons. Not Russian nukes, because as my friend Wayne wrote the other day, their high-precision hypersonic missiles make nukes look crude and primitive, Middle Ages territory. But NATO/US never developed such weapons. They spent 10+ times as much money on weapons, still do, and -comparatively – ended up with bows and arrows.
Nuclear bombs are good only to create widespread panic and destruction. But that includes your own destruction, because of Mutually Assured Destruction protocols. Which also go back almost as far as the bow and arrow. If you fire a nuclear missile, one very much like it will land on your head a few minutes later. End of story, end of you.
US/NATO, the “collective west”, the hegemon, has lost. And has missed the moment when that occurred. Because hegemon equals hubris. Look at what they’ve all still been saying, and you notice they can’t see, and can’t acknowledge, that -and how- the world has changed. Not just this weekend, and the 9 months before, in Artyomovsk. It’s the entire story of Ukraine: it illustrates how the West “lost it”.
The US plotted a coup and moved NATO’s borders east, and Russia reacted exactly how they said they would. No nukes, no nazis, no NATO. They got the last two, and know they can expect the first too. But still the west maintains Russia’s special operation was entirely unprovoked. Look, they’re not even listening anymore. They would like to negotiate and end all this, but negotiate about what? Putting AZOV back on the borders of the Donbass, so they can kill more Russians there? Not going to happen.
It’s not only about weaponry, though that plays a major role: the hegemon can no longer make its demands based on military might. It’s been surpassed.
Nor can it make demands based on the dollar’s reserve currency status, and it caused that itself. Weaponization of the currency has backfired to the extent that de-dollarization has become a process that can no longer be halted.
The moment that Saudi prince MbS turned his back on “Joe Biden” is a milestone. Because once he did that, it was obvious many would follow. In central Asia, if you are Kazachstan or Uzbekistan, why on earth would you opt to go with G7/US/NATO instead of BRICS? Why go with the power that is waning, and not the one in ascendancy? Russia is your biggest neighbor, strongly connected to China which is building its BRI network in your region, and the nearby Arab states are about to join that network. Why would you link yourself to the G7? When you know all your neighbors do not?
Then there are the voices that say the US will push for a bigger and wider war, perhaps including American troops. First, because NATO is losing, and second, because it could mean American boots on the ground, and presidents don’t lose elections in wartime. I’ve said before, I would expect them to go with Polish troops first, possibly on Polish territory too. But the Polish don’t appear all that eager anymore. And neither would any other European NATO country. German and French and Dutch troops are in no shape for war, and in the US over 70% of potential troops are grossly overweight and/or handicapped in some other way.
Ukraine had perhaps the best boots on the ground force in Europe, financed and trained since 2014 by NATO, and they lost to a caterer and a loose group of hired hands. You’re not going to win that. Your only option is long distance weapons, missiles, planes, you name it. But NATO has no advantage in that over Russia. To put it mildly.
The sole thing that’s in your favor is that Russia doesn’t seek to destroy you. They want to live in peace and trade with you. Same thing for China. NATO equals unipolar. But the world has moved towards multipolar. Ergo, NATO is obsolete. Ukraine will never reconquer its “lost” territories, and Zelensky will move to some property in Italy or Florida, never to be heard from again, unless perhaps in his obituary. The deaths of some 300,000 of his countrymen will be on his conscience.
But also on that of all the “leaders” who have sent their second-hand armory to Kiev. They are just as responsible for all those deaths. The world has changed a lot in the past few years, and ignorance is no excuse if you are a “leader”, or a “Joe Biden”. Not even if you’re “just” a voter or reader. Those deaths will be on your head when you go see St. Peter at the gate.
PS: Don’t be surprised if “Joe Biden” sends US boots on the ground anyway. No hegemon has ever given up power lightly. That part of the road is yours, US and EU voters. You may have to fill up the streets like you’ve never seen. The rest, the majority, of the world will be waiting to see if you do or not. They’re prepared for either of the two options
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