terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Que tal recorrer a um palavrão? - Dartagnan da Silva Zanela

 A LUZ DO LUAR SOBRE OS CEMITÉRIOS ESQUECIDOS

 

por Dartagnan da Silva Zanela (*)


Mário Souto Maior é o autor do “Dicionário do Palavrão e termos afins”, onde o mesmo reuniu, nada mais, nada menos, que três mil insultos que fazem parte da língua portuguesa, cujo imperador, segundo Fernando Pessoa, é o grande Padre Antônio Vieira.

 

Se o amigo leitor nunca consultou a referida obra, sugiro que o faça para, quem sabe, poder enriquecer mais o seu vocabulário com aquelas pérolas que não são assim tão preciosas.

 

Sim, eu sei, todo mundo sabe, não é de bom alvitre proferir impropérios, porém, há ocasiões em que essas são as únicas palavras que verdadeiramente podem ser ditas para expressar com clareza o que estamos sentindo.

 

Aliás, como certa feita havia dito Millôr Fernandes, todo mundo tem o sacrossanto direito ao “phoda-se”, pois é preferível dizer cobras e lagartos num momento de indignação do que ficar guardando potes e mais potes de fel e rancor no coração, para alimentar mesquinhas vinganças e outras coisinhas insalubres semelhantes.

 

Todavia, é importante lembrar que há uma diferença abissal, ontológica mesmo, entre um palavrão rasteiro, proferido no calor de uma troca de farpas, e ficar a torto e a direito chamando os desafetos e adversários de fascistas, nazistas, genocidas, racistas, machistas e etc.

 

Quando alguém adota esse tipo de subterfúgio, há um terrível ardil subjacente a essa ação.

 

Quando mandamos alguém para a casa do chapéu estamos apenas expressando nossa bílis num dado momento. Fica claro, a quem tiver olhos e ouvidos para testemunhar, que estamos insatisfeitos com algo ou alguém, que estamos desequilibrados e ponto final.

 

 

Agora, quando chamamos, levianamente, alguém de fascista, nazista ou algo que o valha, o mecanismo é bem outro. O que estamos fazendo é grudar um rótulo infame sobre uma pessoa e, ao fazer isso, estamos, ao mesmo tempo, difamando-a e descaracterizando o termo utilizado de, repito, uma forma leviana. Por isso, é importante não esquecermos que esse tipo de atitude é uma combinação sulfurosa de ignorância e malícia.

 

Creio que dá para perceber a diferença grintante que há entre utilizar um dos três mil termos catalogados por Mário Souto Maior e simplesmente taxar algum indivíduo de nazista e fascista. Creio que dá para perceber o tamanho da perversidade que se faz presente nesse gesto tão cínico quanto oportunista.

 

Não é à toa, nem por acaso, que George Orwell, em seu livro, “O que é o Fascismo? E outros ensaios”, nos chama a atenção para o perigo de ficarmos utilizando de forma indiscriminada esses termos como se eles fossem um punhado de insultos de botequim. Na real, isso seria uma faca de dois gumes.

 

Uma faca de dois gumes porque, primeiro, se está jogando uma pecha infame sobre uma pessoa. Aliás, já pararam pra pensar o que significa rotular alguém, que não é nazista, de nazista? Imagino que não. Falta empatia, apesar de se falar tanto nela, não é mesmo?

 

Não apenas isso, mas também falta borbotões de conhecimento a respeito do que foi realmente o Nacional-Socialismo, o Fascismo, o Holocausto e tutti quanti, tendo em vista que raras são as pessoas que realmente leram, ao menos, um livro sobre essas lúgubres páginas da história.

 

O segundo ponto, de acordo com Orwell, tão problemático quanto o primeiro, é o fato de que, de tanto esses termos serem usados forma maliciosa, de maneira inapropriada, para estigmatizar nossos desafetos, eles acabam perdendo o seu poder descritivo, a sua capacidade de captar e denunciar a realidade, tal qual ela é e aí, meu caro Watson, corremos o risco de não sermos capazes de reconhecer um nazista de verdade quando ele aparecer diante de nossos vistas. E aí, com o perdão da palavra, o buraco será bem mais embaixo.

 

Enfim, não abramos mão do nosso direito ao insulto, como diria o velho Millôr Fernandes, mas não sejamos levianos e maldosamente maquiavélicos ao exercê-lo. As vítimas do nazismo, no silêncio dos seus jazigos, agradecem e, as que sobreviveram e que ainda estão vivas, também.

 

(*) professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de “O SEPULCRO CAIADO”, entre outros livros.

 

Parece que o antissemitismo voltou à "moda" - Livro: The New American Anti-Semitism: The Left, the Right, and the Jews, Benjamin Ginsberg

 

The New American Anti-Semitism: The Left, the Right, and the Jews is a powerful call to action—one that boldly confronts one of the most pressing issue of our day. 

This NEW RELEASE is for anyone and everyone concerned with the rising threat of bigotry and hatred in our country. It’s a harsh but necessary wake up call… not only for Jews, but for all Americans.
 
Surprisingly, the most virulent form of anti-Semitism today is the result of toxic identity politics and anti-Israeli sentiment coming from today’s political Left.
 
Perhaps the most persecuted people in all of history, Jews have stood tall in the face of unprecedented persecution in all places, at all times. Their culture’s rigorous emphasis on education and achievement catapults them to the upper echelons of the societies in which they live.
 
But their success too often breeds resentment and jealousy, leading to an ugly anti-Semitism that has led, historically, to unspeakable violence.
 
In this urgent new work, Dr. Benjamin Ginsberg—political scientist, professor, and bestselling author—exposes the ugly face of this new, progressive anti-Semitism (which is also thriving in Europe).
 
To combat it, he urges American Jews to form new political alliances, particularly with evangelical Christians.
 
The stakes of not doing so, says Ginsberg, are horrifically high—not only for the survival of the Jewish people, but for America’s survival.
 
Jews have been good for America; and America has been good to the Jews.
 
But things can change ... and Jews can never afford to forget their history.


Lula-Holocausto: uma sucessão de equívocos, da parte de Lula e, sobretudo, do governo de Israel - Felipe Igreja (Rádio CBN)

Uma longa entrevista que concedi ao repórter Felipe Igreja, da Rádio CBN, e que foi transmitida oralmente em horário que desconheço (e que não ouvi), a propósito dos episódios certamente infelizes em torno da questão "Lula-Holocausto", acabou transformando-se, na versão escrita da matéria da Rádio, numa única frase minha, na qual eu "explicava" a reação exagerada do governo de Israel – persona non grata, a Lula – como sendo uma postura preventiva do governo ultradireitista, no sentido de dissuadir outros dirigentes de se associarem a protesto de Lula contra os massacres do Exército de Israel contra a população civil de Gaza. Transcrevo o que veio na matéria escrita, mas sem o link para a emissão oral na Rádio. (PRA)


Lula se reúne com assessor internacional após ser declarado 'pessoa indesejada' em Israel
Os dois debatem a crise gerada pela fala do presidente, ao comparar as ações militares de Israel em Gaza com o holocausto.
Por Felipe Igreja
Brasília, 19/02/2024 13h26


Depois de ser declarado pessoa indesejada em Israel, o presidente Lula se reúne com o assessor internacional, Celso Amorim, no Palácio da Alvorada. Os dois debatem a crise gerada pela fala do presidente, ao comparar as ações militares de Israel em Gaza com o holocausto do exército nazista na Segunda Guerra Mundial.
A avaliação da chancelaria brasileira e de interlocutores do planalto é que de fato Lula não deveria ter feito a comparação e que não há como comparar o holocausto com outro evento, mas que a fala do presidente foi feita de improviso, sem representar uma fala formal.
A avaliação agora é que Israel está escalando ao crise, ao declarar Lula persona non grata e convocar o embaixador brasileiro em Israel, Frederico Meyer, para uma reunião no museu do Holocausto ao invés da chancelaria. Diplomatas não entendem porque convocar o embaixador brasileiro para um local público e dizem ainda que não há histórico de um presidente brasileiro ter sido declarado pessoa indesejada por algum outro país.
Para o diplomata Paulo Roberto de Almeida, a reação de Israel é exagerada, mas pode ser entendida ainda como uma ação preventiva, para evitar que dirigentes de outros países façam falas contra os israelenses.
Mais cedo, o ministro de Relações Exteriores israelense, Israel Katz, disse que Lula é uma personalidade indesejável em Israel até que ele peça desculpas e se retrate de suas palavras. Até o momento o Itamaraty não se pronunciou de forma oficial, mas avaliação é que um pedido formal de desculpas ainda não está no radar, embora o embaixador Rubens Ricupero, em entrevista ao jornal da CBN, tenha avaliado que essa seria uma solução possível.
Lembrando que ontem, no fim da viagem ao Egito e à Etiópia, na África,, Lula se referiu às ações militares de Israel na Faixa de Gaza como genocídio e chacina contra os civis palestinos e depois comparou o que ocorre em Gaza com o holocausto nazista.


Quando Einstein e Hannah Arendt condenaram israelenses - 1948

Quando Einstein e Hannah Arendt condenaram israelenses

No dia 2 de dezembro de 1948, o jornal americano The New York Times publicou uma carta, assinada por Albert Einstein, Hannah Arendt e Sidney Hook, entre outros, condenando as ações de Menachem Begin, líder do novo Partido da Liberdade, em visita aos Estados Unidos.                                                                                                                   

Entre os fenômenos políticos perturbadores de nossos tempos está a emergência no recém criado Estado de Israel do ''Partido da Liberdade'' (Tenuat Haherut), um partido político estreitamente assemelhado em sua organização, métodos, filosofia política e apelo social aos partidosl Nazista e Fascista.

Ele foi formado a partir de membros e seguidores do antigo Irgun Zvai Leumi, uma organização terrorista, facção direitista e organização chauvinista na Palestina.

A visita atual de Menachem Begin, líder deste partido, aos Estados Unidos é, obviamente, calculada no sentido de dar a impressão de apoio americano ao seu partido, por ocasião do advento das eleições israelitas e para cimentar laços políticos com os elementos Sionistas conservadores dos Estados Unidos.

Vários americanos de reputação nacional têm emprestado seu nome para dar boas vindas a sua visita. É inconcebível que aqueles que se opõem ao fascismo no mundo, se corretamente informados sobre a história política e perspectivas de Mr. Begin, possam acrescentar seus nomes e apoio ao movimento que ele representa.

Embora esse irreparável perigo ocorra pela forma de contribuições financeiras, manifestações públicas a favor de Begin ou pela criação na Palestina da impressão de que um grande segmento da América apóia os elementos fascistas em Israel, o público americano deve ser informado sobre a historia e os objetivos do Sr. Begin e do seu movimento.

As promessas públicas do Partido de Begin não correspondem, quaisquer que sejam, ao seu caráter real. Hoje falam de liberdade, democracia e antiimperialismo, enquanto até recentemente pregavam abertamente a doutrina do Estado Fascista. É em suas ações que o partido terrorista denuncia o seu caráter real; de suas ações do passado podemos julgar o que dele pode ser esperado fazer no futuro.


Ataque sobre Deir Iassin

Um exemplo chocante foi seu comportamento na vila árabe de Deir Iassin. Esta vila, distante das principais estradas e circundada por terras judaicas,p não tomou nenhuma parte na guerra e chegou a contrariar o lado árabe que queria usar a vila como sua base.

Em 9 de abril (The New York Times) bandos terroristas atacaram esta vila pacifista, que não era um objetivo militar na luta, matando a maioria de seus habitantes — 240 homens, mulheres e crianças — e mantiveram alguns deles vivos para desfilarem como cativos através das ruas de Jerusalém.

A maior parte da comunidade judaica ficou horrorizada com aquela ação e a Agência Judaica mandou um telegrama de pesar ao Rei Abdulah da Trans-Jordânia. Contudo, os terroristas, longe de se envergonharem de seu ato, ficaram orgulhosos com aquele massacre, divulgado amplamente e convidaram os correspondentes estrangeiros no país para testemunharem os cadáveres amontoados e a devastação geral em Deir Iassin.

O acontecimento de Deir Iassin exemplifica o caráter e as ações do Partido da Liberdade.

No interior da comunidade judaica eles têm propugnado uma mistura de ultra nacionalismo, misticismo religioso e superioridade racial. Como outros partidos fascistas eles têm sido usados para esmagar as greves e têm-se dedicado à destruição de sindicatos livres. Em seu lugar eles têm proposto sindicatos corporativistas no modelo fascista italiano.

Durante os últimos anos da esporádica violência antibritânica, os grupos IZL e Stern inauguraram um reino de terror na comunidadel Judaica Palestina. Professores foram espancados por se pronunciarem contra eles, adultos foram alvejados por não deixarem suas crianças juntar-se a eles. Por métodos de gangsterismo, açoites, quebra-vidraças e roubos em larga escala, os terroristas intimidavam a população e exigia-lhe pesado tributo.

Os membros do Partido da Liberdade não têm nenhuma participação nos logros construtivos na Palestina. Eles não reivindicam nenhuma terra, nenhuma construção de habitações e apenas depreciam a atividade defensiva judaica. Seus esforços de imigração muito propagandeado foram diminutos e devotados principalmente para atraírem compatriotas fascistas.


Discrepâncias Observadas

As discrepâncias entre os bravos clamores que estão sendo feitos agora por Begin e seu partido e a história de sua performance no passado da Palestina não portam a marca de um partido qualquer. Este é o selo de um Partido fascista, pelo qual o terrorismo e o embuste são os meios e o ''Estado Regente'' é o objetivo.

À luz das considerações anteriores, é imperativo que a verdade sobre o Sr. Begin e seu movimento seja tornado conhecido neste país. É de toda maneira trágico que a liderança maior do Sionismo Americano tenha se recusado a participar da campanha contra os esforços de Begin, ou mesmo de expor aos seus constituintes os perigos para Israel do apoio a Begin.

Os abaixo assinados, portanto, através deste meio de publicidade apresentam alguns fatos salientes que dizem respeito a Begin e seu Partido; e recomendam a todos os interessados a não apoiarem esta última manifestação do fascismo.

Nova York, 2 de dezembro de 1948

Isidore Abramowitz,

Albert Eistein

Hannah Arendt,

Abraham Brick,

Rabino Jessurun Cardozo,

Herman Eisen,

Hayim Fineman,

M. Gallen,

HH. Harris,

Zelig S. Harris,

Sidney Hook,

Fred Karush,

Bruria Kaufman,

Irma L. Lindheim,

Nachman Maisel,

Seymour Melmam,

Myer D. Mendelson,

Harry M. Oslinsky,

Samuel Pitlick,

Fritz Rohrlich,

Louis P. Rocker,

Ruth Sagis,

Itzhak Sankowsky,

I.J. Shoenberg,

Samuel Shuman,

M. Singer,

Irma Wolfe,

Stefan Wolfe.

A versão deste documento online foi copiada de um microfilme da edição impressa do The New York Times, pesquisada pela professora universitária Laura Nader e outros acadêmicos na Universidade de Berkeley, Califórnia. Uma versão escaneada pode ser vista, em formato .pdf, em Proquest: University Microfilms

O indesejável retorno das alucinações diplomáticas - Paulo Roberto de Almeida

O indesejável retorno das alucinações diplomáticas

Paulo Roberto de Almeida


A diplomacia brasileira sofreu um bocado sob as alucinações antiglobalistas dos idiotas que a comandaram no governo anterior. Para traduzir o impacto da franja lunática no corpo dos diplomatas profissionais escrevi um livro, em 2019, chamado “Miséria da Diplomacia: a destruição da Inteligência no Itamaraty” (livremente disponivel em minha página em Academia.edu).

Ela agora vai provavelmente sofrer de novo sob as alucinações partidárias do lulopetismo de volta ao poder. Os diplomatas começam a lamentar as novas derrapagens em curso.

Pergunto-me que titulo devo dar ao novo livro que pretendo escrever sobre os novos desvios da política externa pela ação desenfreada dos companheiros no terreno sensivel da política externa.

Sugestões podem ser feitas neste mesmo canal.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 20/02/2024

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Diplomacia em Frangalhos - Hélio Schwartsman (FSP)

DIPLOMACIA EM FRANGALHOS

Quando fala de improviso, Lula parece mais diretor de grêmio estudantil do que presidente da República

Hélio Schwartsman

FOLHA DE S. PAULO, 19/02/2924


"Ah, Luiz Inácio Lula da Silva... 

Quando ele segue o roteiro preparado pelo Itamaraty, ainda é possível enxergar uma posição minimamente coerente com a tradição diplomática brasileira. Foi o caso do discurso que ele fez no sábado (17) na abertura da cúpula da União Africana em Adis Abeba. Ali, sem deixar de criticar Israel, também condenou os ataques do Hamas e pediu a libertação imediata de todos os reféns.

Basta, porém, que Lula comece a falar de improviso para comportar-se não como presidente da República mas como diretor de grêmio estudantil, desfiando os mais ignorantes chavões da esquerda. Foi o que ele fez no domingo (18), ao equiparar as operações de Israel em Gaza ao Holocausto nazista. É difícil até listar o número de instâncias em que a comparação é errada. Hitler, com base numa concepção essencialista de hierarquias raciais, se pôs a eliminar todos os judeus da Europa. Israel reage, ainda que desproporcionalmente, a um ataque terrorista.

Não estou sugerindo que Israel seja inimputável. Eu mesmo critico quase que semanalmente a mão pesada do governo Netanyahu. Penso que imperativos morais e legais exigiriam que as ações militares fossem muito mais cuidadosas, mesmo que isso implique retardar o objetivo legítimo de reduzir a capacidade do Hamas de atacar Israel.

Lula, ao dizer que Tel Aviv repete Hitler, desfere contra os israelenses um golpe abaixo da cintura. É algo que contradiz o argumento que o próprio presidente sempre invoca para justificar a mansidão com que trata violações cometidas por aliados seus, como Maduro e Putin: não se pode ser muito veemente nas declarações para não perder o poder de influenciar.

Na administração Bolsonaro padecíamos do problema oposto, que era a adesão automática às mais extremas posições do governo Netanyahu. Para quem olha de fora esse zigue-zague, a conclusão inescapável é que o Brasil não mantém uma política externa séria.


Livro: O movimento da Independência: homens e mulheres na conquista da autonomia nacional - André Heráclio do Rego (coord). Lançamento

Recebido do meu amigo e colega André Heráclio do Rego, coordenador deste livro, no qual colaborei com um capítulo. (PRA)

Prezados amigos, tenho a satisfação de convidá-los para o lançamento do livro que organizei, "O movimento da Independência: homens e mulheres na conquista da autonomia nacional", no próximo dia 22 de fevereiro, no IHG-DF, 19hs.

Independência resgata heróis para a História
 
Organizada pelo diplomata André Heráclio do Rêgo, coleção de 11 ensaios reúne especialistas que mostram a amplitude do 7 de Setembro de 1822.
 
Diplomata, escritor e historiador André Heráclio do Rêgo lança "O Movimento da Independência - Homens e Mulheres na Conquista da Autonomia Nacional”. A obra reúne ensaios de especialistas com visão plural sobre os processos históricos como os da Revolução Pernambucana, da guerra de independência na Bahia e do decisivo empoderamento feminino de que foram protagonistas a arquiduquesa Leopoldina e a primeira militar brasileira, Maria Quitéria.
 A obra nasceu de um seminário realizado na Câmara dos Deputados em comemoração ao bicentenário da independência do Brasil , em 2022. “O movimento da Independência, expressão criada pelo historiador e diplomata Oliveira Lima, não se limitou ao episódio do grito do Ipiranga ou às negociações políticas na corte. Trata-se de um processo muito mais complexo e longo, que envolveu inclusive projetos diferentes de Independência, como foi o caso da Revolução de 1817”. Quem explica é André Heráclio, doutor em Estudos Portugueses, Brasileiros e da África Lusófona pela Universidade de Paris Nanterre e sócio do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano.
 O livro, que reúne 11 textos, é uma contribuição às raras iniciativas para comemorar uma das mais importantes datas, assevera o organizador.   No primeiro, “A política joanina no Brasil, centralização e consolidação do estado”, de autoria de Arno Wehling, presidente de honra do IHGB e acadêmico da ABL, o foco é a centralização e a consolidação do Estado. O segundo, do diplomata Paulo Roberto de Almeida, é dedicado a “Hipólito da Costa: o primeiro estadista do Brasil”, que se destacou por suas ideias pioneiras sobre a construção do Estado.
 “Dom João VI entre a história e a memória nos 200 anos da nação”, terceiro ensaio, é da autoria de Jurandir Malerba, professor de História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e mostra como Dom João VI atuou decisivamente para a solução monárquica e centralizadora que se adotou com a Independência. 
Já a Revolução Pernambucana de 1817 é tratada no ensaio “José Bonifácio e outro projeto para o Brasil”, de autoria do organizador. O Patriarca da Independência foi uma figura central na construção do Brasil, mas seu projeto não é era o único. “Havia outro, anterior ao dele, o dos revolucionários pernambucanos de 1817, que propugnava uma outra Independência, caracterizada pela República e pelo federalismo”, destaca André Heráclio.
Os dois ensaios seguintes têm como personagem principal a imperatriz Leopoldina, e projetam a mulher não apenas na Independência do Brasil, mas na sociedade de seu tempo. O primeiro, de autoria de Maria Celi Chaves Vasconcelos é também uma busca pela participação feminina na política nacional. O ensaio seguinte, também sobre Leopoldina, é de autoria da historiadora Denise G Porto: “A imperatriz austríaca e a viajante inglesa: entre cartas e tristezas, a história de uma amizade nos tempos da Independência”.
Dom Pedro I, marido de dona Leopoldina, centraliza o que Theodoro Menck, doutor em História das Relações Exteriores pela Universidade de Brasília (UnB),  chama “diversas independências”, e que contraria a crença de que a independência raiou apenas no dia 7 de setembro de 1822 às margens do Ipiranga. Outro ensaio sobre Dom Pedro I é de Luiz Carlos Villalta, doutor e mestre em História Social e professor da UFMG.
O incipiente poder feminino também aparece nos ensaios subsequentes. O primeiro, do doutor em História Ibérica pela École des Hautes Etudes en Sciences Sociales (EHESS-Paris) Paulo de Assunção, “Amélia de Leuchtenberg, a nobre imperatriz do Brasil”, busca resgatar a trajetória dessa personagem feminina da elite, quase desconhecida no século 19 e nos dias atuais. O segundo, do pesquisador e dramaturgo Maurício Melo Júnior, traz a epopeia de Maria Quitéria, que fugiu de casa, disfarçou-se de homem e alistou-se no Exército para lutar. O livro se conclui com um ensaio do renomado jurista Ives Gandra Martins, professor de Direito da Universidade Mackenzie, que resume o percurso histórico do período da Independência até os dias de hoje.
 
Sobre André Heráclio do Rêgo – diplomata, historiador e escritor, é graduado em Diplomacia pelo Instituto Rio Branco, tem mestrado em Estudos Ibéricos e Ibero-Americanos pela pela Universidade de Paris Nanterre, doutorado em Estudos Portugueses, brasileiros e da África Lusófona pela mesma universidade e pós-doutorado na Universidade Católica de Lisboa, em História Social, e no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), da Universidade de São Paulo. Sócio de várias instituições acadêmicas, entre as quais o IHGB, o IAHGP, o IHGSP, o IHGDF, o IHGP e a Sociedade de Geografia de Lisboa.


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Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...