quarta-feira, 5 de março de 2025

“LET’S MAKE CHINA THE CENTER OF THE WORLD AGAIN” - Paulo Pinto (Linkedin)

 

“LET’S MAKE CHINA THE CENTER OF THE WORLD AGAIN” 

Os chineses desenvolveram, bem cedo em sua História, uma visão sino cêntrica do mundo. Este pensamento incluía dois componentes principais. O primeiro era a ideia de que o Imperador da China reinava sobre aquele país e áreas vizinhas, sem que, entre estas, fosse estabelecida qualquer distinção ou limites geográficos - eram consideradas simplesmente uma vasta mancha amorfa.

O segundo aspecto dizia respeito à percepção chinesa de que o planeta -dentro dos limites então alcançáveis - poderia ser governado de forma harmoniosa e pacífica, como uma sociedade ideal, sob o mando de um Imperador virtuoso. Unidade e harmonia eram, assim, os objetivos a serem atingidos, numa visão utópica de como deveriam estabelecer-se as relações internacionais, sempre ditadas a partir de um centro de decisões localizado dentro da China[1].

Inicialmente, cabe ressaltar que as relações da China com o Sudeste Asiático – o entorno chinês mais próximo - foram historicamente marcadas pela busca constante do equilíbrio regional. Os chineses, assim, demonstravam determinação no sentido de pacificarem os "bárbaros" situados ao sul de suas fronteiras, ao mesmo tempo em que procuravam transmitir-lhes suas normas de comportamento confucionista.

Nesta perspectiva, a influência criada pela China era expressa pela sua incontestável superioridade, no plano interno, em termos de organização política e social, incluindo a defesa de normas éticas de comportamento que os chineses procurariam divulgar nas relações com outras nações. Não se buscava o domínio econômico ou a conquista territorial dos Estados vizinhos, com o emprego da força. Como resultado, o Sudeste Asiático tinha a percepção constante da existência de uma potência regional a ser levada em conta, mas não permanentemente temida[2].

Verifica-se, nessa perspectiva, que, graças a este tipo de relacionamento, ao chegar-se ao início da “política de modernização da China”, na década de 1980, houve desdobramentos que facilitaram o atual avanço do processo de congruência entre a área de influência tradicional da cultura chinesa e uma nova fronteira econômica da RPC.

A crescente regionalização da produção evoluía, de forma que a interação de novas tendências, como a redução nos custos da mobilidade dos fatores de produção e as economias de escala exigidas por processos produtivos crescentemente sofisticados, proporcionavam o surgimento dos chamados "tigres" ou "novas economias industrializadas".  Os efeitos de tais reajustes seriam evidentes no aparecimento de formas de relacionamento inovadoras, que incluiriam diferentes tipos de parcerias entre o Japão, novas economias industrializadas no Sudeste Asiático e partes da China.

A emergência de certos países e agrupamentos regionais, sempre de acordo com esta linha de raciocínio, não se deveria a experiências isoladas, mas a fenômeno integrado, que projetaria sobre a área, como um todo, os benefícios da acumulação de capital e da experiência modernizadora resultante da aplicação prática de novos conhecimentos científicos e tecnológicos.

A estabilidade e o progresso na Ásia Pacífico passaram a ser entendidos, por setores de opinião, como dependentes, cada vez mais, de processos de cooperação que garantissem a negociação entre suas diferentes culturas. Nesse contexto, despertava crescente interesse os vínculos históricos entre a China e o Sudeste Asiático.

Isto porque, a maioria dos países do Sudeste Asiático compartilha - conforme assinalado acima - de passado que os inseriu, em maior ou menor escala, em esfera de influência de duas grandes civilizações: a chinesa e a indiana, que interagiram, através dos séculos, com culturas locais. O Budismo, o Islã, o Hinduísmo e o Confucionismo deixaram, assim, marcas profundas que continuam a diferenciar ou aproximar pessoas.

A este mosaico de heranças culturais seculares, somou-se, mais recentemente, o colonialismo europeu que impôs, pela força, novos valores e normas de organização e comportamento. A partir do término da Segunda Grande Guerra, os Estados recém independentes da região foram divididos, pela rivalidade ideológica das superpotências, entre os que serviriam como a vitrine da economia de mercado e os que seguiriam o sistema de planejamento centralmente planificado.

Com a multipolaridade resultante do término da Guerra Fria, ocorreu o recuo das esferas de domínio de Washington e Moscou. Como consequência, no Sudeste Asiático, tornou-se possível o ressurgimento de influências político culturais antigas, como a chinesa. Hoje, quando se discutem os efeitos da presença avassaladora da cultura de massa, resultante da globalização, os países da área buscam, em sua própria região, marcos de referência que permitam afirmar valores, ideias e crenças, consolidadas através de uma história compartilhada numa geografia determinada.

No Sudeste Asiático, nessa perspectiva, verificou-se a gestação de um novo conjunto de mudanças que afetaram não apenas a economia, através da reorganização frequente de suas vantagens competitivas, transformações técnico industriais nas formas de produzir e alterações na organização da sociedade. Tudo isso ocorreu, no entanto, com a preservação de valores culturais que, passando de geração a geração, garantiram uma base de sustentação do modelo que se consolidava.

Na prática, este processo evoluiu com a busca da construção de sucessivos "building blocks". Na primeira etapa dessa construção de blocos, logo após o desaparecimento de Mao Zedong, integrou-se o próprio sistema econômico chinês.  Em seguida, foi permitida a abertura de cidades costeiras ao comércio internacional, com a criação das Áreas Econômicas Especiais, onde foram adotadas práticas de economia de mercado dentro de um sistema centralmente planificado mais amplo. Os blocos seguintes foram surgindo ao longo do rio Yangtze, até chegar a Xangai, onde se situaria a "cabeça do dragão".

Gradativamente, houve a consolidação de Hong Kong e Macau no sistema produtivo da RPC. A crescente integração econômica - e futuramente política - com Taiwan será o passo seguinte. A expansão da fronteira econômica chinesa em direção ao Sudeste Asiático foi a fase seguinte, que foi facilitada pela existência, ao Sul da China, de uma rede de indivíduos com origem étnica comum, chamados “chineses de ultramar", que têm como referência uma mesma identidade cultural.

Assim, gradativamente, chegou-se a uma congruência entre a área de influência tradicional da cultura chinesa e uma nova fronteira econômica da RPC.

Este último desenvolvimento ocorreu através de um fenômeno de "cross fertilization", caracterizado por intercâmbio de referenciais de valores, entre aquela área considerada historicamente como situada na periferia do Império do Centro e a RPC.

O conjunto de transformações ocorreu de forma a sugerir, mesmo, a emergência de um novo paradigma regional. Isto porque, por um lado, a existência de uma base cultural chinesa servia de plataforma de sustentação para um processo de cooperação com o Sudeste Asiático.

Por outro, houve os tipos de contribuições seguintes:

- Os países bem-sucedidos como a "vitrine do Capitalismo no Sudeste Asiático" - a exemplo de Cingapura - indicaram os rumos para o aperfeiçoamento da "economia socialista de mercado", com características chinesas, então buscada pelo programa de modernização da RPC; e

- A persistência do Vietnã em manter seu sistema central de planejamento, ao mesmo tempo em que adotou "práticas de economia de mercado", reforçou a proposta chinesa de preservar a vertente "socialista" entre as medidas adotadas, no programa de modernização da República Popular da China.

O interesse quanto à reflexão sobre o tema deve-se à influência que a emergência de um bloco político de interesses recíprocos e de mega proporções - como o representado pela China e o Sudeste Asiático - exerce no ritmo de integração e cooperação na Ásia-Pacífico, um dos laboratórios de modernidade do planeta, bem como, conforme assinalado na introdução, o enfraquecimento do modelo unipolar em vigor, determinado pelos EUA, comece a recuar em suas áreas de influência conquistadas nas últimas décadas.

Haveria espaço futuro para o renascimento de algo a sugerir como um centro do mundo situado na China? Seriam as “Rotas das Sedas” iniciativas chinesas nesse sentido?

A ROTA DAS SEDAS MARÍTIMA E O “CINTURÃO” EUROASIÁTICO

“A maior parte da China é desprovida de litoral, o que leva o país a voltar-se muito mais para a terra do que ao oceano. A contribuição de Zheng He[3], portanto, significou tanto a propagação da ‘civilização terrestre’ chinesa (pelo Sudeste Asiático), quanto a divulgação interna, na China, da experiência de contato com “civilizações marítimas”.nbsp; O Século XXI será direcionado para os oceanos. O pensamento voltado para os oceanos significa abertura e civilização, avanço e progresso. Cabe resgatar, portanto, o espírito de Zheng He e marchar em direção à abertura proporcionada pelo desenvolvimento pacífico de ampla civilização marítima”4]

A citação faz parte do discurso atual de Pequim de recorrer à História, para demonstrar a importância dos oceanos à interação entre a “civilização terrestre chinesa” e as civilizações ultramarinas, enquanto busca dar versão benigna às viagens do Almirante Zheng He, ocorridas há 600 anos, ao Sudeste Asiático.

Existem, no entanto, críticos severos da tese atual dos dirigentes chineses, quanto aos efeitos dos périplos de Zheng He. Setores de opinião descrevem suas viagens como predadoras e destinadas a criar vínculos de dependência, entre as nações “visitadas” e o então poderoso Império chinês.

Os dirigentes chineses pretendem, de qualquer forma, resgatar as referidas expedições marítimas históricas como registro de suas “intenções pacíficas” e exemplo da permanente busca de “harmonia” – em oposição a “hegemonia” – nas relações da China com seus vizinhos ao sul de suas fronteiras. O Partido Comunista Chinês (PCC), portanto, se esforça, tanto no plano interno, quanto no das relações com o exterior, no sentido do convencimento de que, em todos os momentos de emergência do país – há 600 anos, como agora - a China pode ser forte, sem representar ameaça regional ou mundial.

Este enunciado de intenções pode ser tranquilizador para os que habitam ao sul da China. Na década de 1980, principalmente, havia extrema preocupação, no Sudeste Asiático, quanto a possível “China Threat”, diante da abertura daquele país ao exterior. Agora, haveria pelo menos um enunciado de intenções pacíficas sínicas com respeito a seus vizinhos austrais.

Existe, contudo, proposta chinesa recente de criação de uma nova Rota das Sedas (também chamada de “cinturão”), como um projeto estratégico que visa a transformar a Ásia Central de sua condição atual de “land locked” (sem acesso ao mar) em “land-linked” (com ligação terrestre) proporcionando, assim, acesso a mercados e portos no Oceano Índico, Golfo Pérsico e Oceano Atlântico.

Sua implementação representará, sem dúvida, a melhoria da malha ferroviária através da região, ligando o Irã ao Tajiquistão [5], atravessando o Afeganistão e chegando à fronteira com a China. Em sua dimensão de “ponte terrestre eurasiana”, conjuntos de ferrovias, estradas e dutos conduzirão bens e recursos naturais, nos dois sentidos, entre o porto de Lianyungang, na China oriental, através do Cazaquistão, na Ásia Central, até Roterdam, e entre o delta do Rio das Pérolas, no sudeste da China, através do Sudeste Asiático, e também Roterdam. Cabe lembrar que já existe a ferrovia transiberiana, no percurso de Vladivostok, na Rússia oriental, a Roterdam.

A RPC entende, nessa perspectiva, uma “New Silk Route” (ou cinturão, “belt”) como ligação terrestre para facilitar seu abastecimento de recursos naturais e a venda de produtos “made in China”. Para tanto,  a China pretende utilizar esta intensa capilaridade de ferrovias, estradas e dutos [6].

Torna-se pouco convincente, no entanto, que a China queira relacionar sua expansão, pelo continente eurasiano, com o ressurgimento da “Rota das Sedas” (marítima, pelo Sudeste Asiático). A visão chinesa, neste caso, busca a mesma justificativa utilizada no caso das viagens marítimas do já referido Almirante Zheng He, que projetara – sempre de acordo com a narrativa de Pequim - poder e cultura chineses superiores, principalmente no Sudeste Asiático, há seiscentos anos.

De “Building Blocks”, no Sudeste Asiático, à Expansão por Círculos Concêntricos, na Ásia Central.

A montagem de esfera de influência da China, na Ásia Central, não parece seguir o mesmo processo de emergência pacífica de sucessivos blocos, no contexto de identidade cultural compartilhada – conforme a teoria acima exposta para a reintegração do Sudeste Asiático à antiga esfera de influência do Império do Centro. Observadores centro-asiáticos, a propósito, temem que a expansão chinesa em curso naquela região siga o rumo de “círculos concêntricos”, com base em teoria de “fronteiras estratégicas”.

Na medida em que seria possível raciocinar, com respeito às relações da China com a Ásia Central, nos mesmos termos de sucessivos blocos - conforme a teoria defendida pela RPC para a reintegração do Sudeste Asiático na antiga área de influência do Império do Centro – caberia identificar, inicialmente, o caminho seguido por Pequim, no esforço de expansão ocidental de seu território.

Lembra-se, a propósito, que, com o colapso da União Soviética, em 1991, estados independentes, com forte influência do Islã, surgiram ao redor das fronteiras ocidentais da China. De repente, diante do efeito demonstrativo da emancipação da URSS de novas Repúblicas, como a do Tajiquistão, onde predomina a mesma religião, Pequim se viu forçada a confrontar desafios a sua autoridade na província limítrofe mais remota – a de Xinjiang que, apropriadamente, significa “nova fronteira”, no idioma chinês. A prioridade da RPC foi, desde o início da década de 1990, a manutenção do domínio e estabilidade sobre seu próprio território.

O conceito de fronteira empregado no que diz respeito à Xinjiang, no entanto, sempre teve, para Pequim, conotação bastante “móvel”. Isto é, dependendo da necessidade de explorar recursos e da capacidade de projetar poder para garantir tal apropriação, o traçado destas “fronteiras” poderia expandir-se ou retrair-se.

Em seu livro “The New Silk Road Diplomacy”, Hasan H. Karrar[7] explica que “the optimum level of expansion varied over time, a fact borne out by the cyclical expansion and withdrawal from Western Regions that corresponded with the centre’s ability to project decisive power into the contested frontier zone”.

Com o crescimento econômico acelerado recente, no entanto, a RPC começou a identificar crescente competição internacional por recursos energéticos e influência na Ásia Central, agora livre do controle que Moscou exercia sobre a extinta URSS.

Nessa perspectiva, sempre de acordo com Hasan Karrar, imperativos de ordem econômica e de segurança determinam a estratégia expansionista chinesa, a partir da província de Xinjiang, no sentido ocidental, em direção à “Eurásia”. Registra, a propósito, que durante a Dinastia Qing, em 1884, aquele território foi incorporado pelos chineses e, em 1949, tornou-se uma “região autônoma” da recém fundada República Popular.

Sempre segundo este raciocínio, o conceito de uma nova Rota das Sedas (cinturão), para os chineses, significa, inicialmente, a estabilização de Xinjiang, que, como se sabe, tem sofrido períodos de intensa turbulência. Em sua expansão ocidental, em direção à Eurásia, a China continuaria no esforço de desenvolver as regiões ocidentais mais remotas e garantir o fornecimento de recursos naturais.

Haveria, assim, uma visão chinesa de que a expansão de suas fronteiras no sentido ocidental seria dependente de uma política de sucessivos círculos concêntricos. Isto é, haveria um centro de poder em Pequim que, dependendo do poderio militar e força econômica do momento, teria capacidade de projetar ou retrair influência além de seu território, criando os tais círculos concêntricos. Este tipo evolução ou retração teria ocorrido, de forma cíclica, no decorrer da longa história da China.

Cabe registrar que a Ásia Central tem representado área propícia para sucessivos períodos de expansão de diferentes impérios - além do chinês - tendo em vista a fragilidade das diferentes formas de instituições políticas que lá se instalaram, bem como abundância de atores não estatais, que variam de traficantes e bandos de saqueadores a pequenas aldeias. Essa complexidade é bem descrita no livro “The Great Game”, de Peter Hopkirk.[8]

Enquanto isso, Pequim continua a evocar narrativas das viagens de Zheng He, que servem como conforto para os que se preocupam com sua expansão marítima. A projeção de seu poder terrestre, no entanto, não combina com a ideia de ascensão pacífica marítima chinesa, conforme mencionado acima. Reflete, sim, esforço de expansão de doutrina de fronteira estratégica.

Sabe-se, a propósito, que a China não adere ao conceito ocidental westfaliano sobre nações-estados, com fronteiras estabelecidas. Ademais, a preferência da RPC por “fronteiras estratégicas” leva observadores a acreditarem que a RPC é motivada por uma proposta de “Lebensraum”, ou “espaço vital” que foi, como se sabe, pedra fundamental da filosofia de Adolf Hitler, que acreditava merecer a Alemanha territórios adicionais, principalmente na região eslava oriental, para crescer.

O impulso atual da RPC, em direção aos territórios da Ásia Central, lembra política japonesa da década de 1930, que levou à invasão  do território chinês da Manchúria. Com base na ideologia chamada de “Manchukuo”, a agressão nipônica era dividida em três etapas: 1) amplo investimento na infraestrutura para a extração de recursos naturais; 2) intervenção militar para a proteção de interesses econômicos; e 3) absorção sociopolítica, com o estabelecimento de governo fantoche. Este foi o processo adotado pelos japoneses, na década de 1930, com a invasão da Manchúria e o posterior estabelecimento, no “governo” daquela província chinesa do “Imperador Puyi”, da já então extinta dinastia chinesa Qing.

No que diz respeito à “Rota das Sedas”(cinturão), situa-se em região que separa a China da Ásia Central e Europa e é uma das mais inóspitas do mundo. A maior parte é coberta pelo deserto de Taklamakan, e sofre pela ausência de chuva e por frequentes tempestades de areia. Apesar de poucas estradas, em péssimas condições, caravanas fizeram seu percurso, durante séculos.

Ao invés de comercializar sedas, porcelanas, tapetes, pérolas e especiarias, os chineses hoje vendem eletrônicos, automóveis, aparelhos de telecomunicações, enquanto investem em portos, ferrovias, estradas, projetos de exploração de gás e petróleo e minas.

No momento, a China aparenta estar expandindo seus interesses por acesso a recursos naturais e a novos mercados, ao Pacífico Ocidental, ao redor da periferia dos países do Sudeste Asiático, e ao Sul da Ásia, bem como em direção à Ásia Central e crescentemente sobre o continente eurasiano.

CONCLUSÃO

Este artigo, propositalmente, deixa de mencionar as “Rotas da Seda” já presentes nos continentes africano e latino-americano.

Com respeito ao relacionamento da RPC com o Sudeste Asiático, Pequim formula discurso com o realce de laços históricos - mencionados no decorrer deste texto - que têm sido capazes de garantir a inserção internacional chinesa atual em universo de influência cultural do antigo “Império do Centro”. Procura, então, dar versão benigna às viagens do Almirante Zheng He, ocorridas há 600 anos, aos mares austrais do continente asiático.

Quanto à Ásia Central e Eurásia, registram-se formulações quanto ao ressurgimento de uma Nova Rota das Sedas. Esta, no entanto, parece basear-se na consolidação de corredores já existentes há séculos, através do Continente Eurasiano.

Nessa perspectiva, a China está empenhada na frenética construção de ferrovias, estradas e dutos para a importação de recursos energéticos, através da Eurásia. Tais vias de transporte substituirão as caravanas de camelos da antiga Rota das Sedas. Da mesma forma, a moderna Marinha da RPC substitui a frota de Zheng He, nas costas da África e do Mediterrâneo.

O vazio, em termos de discurso chinês atual sobre suas intenções quanto à Ásia Central e Eurásia, a propósito, permite o surgimento de análises com base em formulações tradicionais naquele país. Assim, segundo o I Ching (livro de “previsões chinesas”) existem cinco elementos na natureza: terra, água, madeira, fogo e metal. Em torno destes, são feitos diagnósticos médicos, arrumadas divisões e móveis em escritórios e apartamentos e preparadas receitas culinárias, entre outras utilidades.

Há, também, raciocínios de inserção internacional da China que seriam condicionados por tais variáveis (participei de seminário em Singapura, dedicado a formulação de cenários de agregação regionais, quando servi naquele país na década de 1990).

Assim, a terra seria o elemento do Império do Centro, que por definição, se situa no “centro do mundo” – conforme mencionado no título.

A terra absorve a água, que representaria os países ao norte. Daí, os chineses nunca terem temido, por exemplo, a extinta União Soviética, pois acreditavam que seu exército popular, com milhões de indivíduos, absorveria eventuais forças invasoras da URSS, mesmo diante da superioridade de equipamento militar do vizinho.

A madeira, contudo, fere a terra e situa-se a leste, onde se encontra o Japão, inimigo histórico, capaz, sim, de ferir a China – conforme já o demonstrou.

Ao sul do país que se considera central, aparece o Sudeste Asiático representado pelo fogo – que também pode ser apagado pela terra. Daí, talvez, os dirigentes atuais da RPC, inspirados pelo I Ching, buscam estreitar as relações com aquela parte do mundo, precavendo-se contra labaredas de desconfianças históricas.

Ao ocidente, em direção à Ásia Central e Eurásia o elemento é o metal – que deriva da terra. Na perspectiva deste tipo de formulação simplista - mas ilustrativa - da inserção internacional da RPC, parece que o país que se considera no centro do mundo, entenderia ser direito seu expandir-se sobre terras ocidentais, em processo cíclico, sempre que haja recursos estratégicos que o justifiquem e poder que lhe permita assim proceder.

Pode ser oportuno, no entanto, conhecer o discurso da China sobre sua ascensão pacífica terrestre, em direção oeste, no rumo da Ásia Central e Eurásia, na medida em que a proposta, hoje prevalecente, de um mundo unipolar que se pode, cada vez mais, definir como o governo “of the Real State, by the Real State, for the Real State”, comece a recuar na face do planeta.

[1] . Fairbanks, John K; “East Asia - Tradition and Transformation”,. Modern Asia Editions. l976.

[2].  Pereira Pinto, Paulo Antônio “A China e o Sudeste Asiático”, Editora da Universidade – UFRGS. 2000.

[3] “Wikipedia, the free encyclopedia” http:en.wikipedia.org/wiki/Zheng_he.

[4]Jornal do Povo, em Pequim, em 12.07.05. Artigo “Why do we commemorate Zheng He?”

[5] “Wikipedia, the free encyclopedia”- A República do Tajiquistão é um país montanhoso encravado da Ásia Central. Faz fronteira com o Afeganistão ao sul, com o Uzbequistão ao oeste, Quirguistão ao norte, e a República Popular da China ao leste.

[6] Lin, Christina , “Visiting Scholar at the Center for Transatlantic Relations at the Paul H. Nitze School of Advanced International Studies”, - Resumo de trabalho intitulado “China’s New Silk Road to the Mediterranean: The Eurasian Land Bridge and Return of Admiral Zheng He”, Outubro de 2011. “ISPSW Strategy Series: Focus on Defense and International Security”.

[7] KARRAR, Hasan H. 2010.“The New Silk Road Diplomacy – China’s Central Asian Foreign Policy Since the Cold War”.

[8] Kodansha International, New York.


Homenagem a Samuel Pinheiro Guimarães - Revista Oikos

Intro: Samuel foi o mais autêntico representante do pensamento desenvolvimentista na diplomacia brasileira. Permaneceu fiel à suas ideias do final dos anos 1950 e do início dos anos 1960 durante toda a sua vida, coerentemente consistente com a sua validade em pleno seculo XXI, quando finalmente chegou ao poder no primeiro governo do PT e em quase todo o segundo.

E aplicou essas ideias à prática diplomática e aos conceitos da política externa. Era um ideólogo, bem mais do que Celso Amorim, este bem mais pragmático (pois que atravessou com sucesso vários governos). Samuel permaneceu fiel; nunca mudou de ideias…

Paulo Roberto de Almeida 

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Está disponível a nova edição da revista Oikos Revista de Economia Política Internacional do PEPI/IE-UFRJ com o dossiê em homenagem a Samuel Pinheiro Guimarães, intitulado Política Externa, Desenvolvimento e Autonomia: reflexões a partir do legado de Samuel Pinheiro Guimarães. A edição foi organizada por Cristina Pecequilo (UNIFESP), Raphael Padula (UFRJ/PEPI) e Thiago Rodrigues (UFF/INEST), e traz artigos inéditos sobre sua trajetória intelectual e diplomática.

Acesse em: https://revistas.ufrj.br/index.php/oikos/issue/view/2902


https://revistas.ufrj.br/index.php/oikos/issue/view/2902

Artigos:

Autonomia e desenvolvimento: o pensamento em política externa de San Tiago Dantas e Samuel Pinheiro Guimarães(Magno Klein)

Samuel Pinheiro Guimarães e a teoria dos grandes Estados hegemônicos (Carlos Eduardo Vidigal)

O regionalismo latino-americano pós-liberal/ pós-hegemônico a partir da teoria da autonomia (Carolina Albuquerque Silva)

O papel da imprensa na política externa brasileira: a interpretação teórica de Samuel Pinheiro Guimarães e as percepções dos chanceleres da PEI e da PEAA (Diogo Ives)

A tradição diplomática brasileira e a relação estratégica entre Brasil e China à luz da obra de Samuel Pinheiro Guimarães (Joaquim Carlos Racy, Regina Maria A. F. Gadelha e Luiz Fernando Mocelin Speracete)

O MERCOSUL enquanto meio para alcançar autonomia: o pensamento de Samuel Pinheiro Guimarães (Marcela Franzoni, Luan Olliveira Pessoa e Victor Ferreira de Almeida)


O Credo de Rui Barbosa: trechos de um discurso de 1896, retornado do exilio (a partir de Francisco Braga)

 Meu país conhece o meu credo político, porque o meu credo político está na minha vida inteira. Creio na liberdade onipotente, criadora das nações robustas; creio na lei, emanação dela, o seu órgão capital, a primeira das suas necessidades; creio que, neste regime, não há poderes soberanos, e soberano é só o direito, interpretado pelos tribunais; creio que a própria soberania popular necessita de limites, e que esses limites vêm a ser as suas Constituições, por ela mesma criadas, nas suas horas de inspiração jurídica, em garantia contra os seus impulsos de paixão desordenada; creio que a República decai, porque se deixou estragar confiando-se ao regime da força; creio que a Federação perecerá, se continuar a não saber acatar e elevar a justiça; porque da justiça nasce a confiança, da confiança a tranqüilidade, da tranqüilidade o trabalho, do trabalho a produção, da produção o crédito, do crédito a opulência, da opulência a respeitabilidade, a duração, o vigor; creio no governo do povo pelo povo; creio, porém, que o governo do povo pelo povo tem a base da sua legitimidade na cultura da inteligência nacional pelo desenvolvimento nacional do ensino, para o qual as maiores liberalidades do Tesouro constituíram sempre o mais reprodutivo emprego da riqueza pública; creio na tribuna sem fúrias e na imprensa sem restrições, porque creio no poder da razão e da verdade; creio na moderação e na tolerância, no progresso e na tradição, no respeito e na disciplina, na impotência fatal dos incompetentes e no valor insuprível das capacidades. 

Rejeito as doutrinas de arbítrio; abomino as ditaduras de todo gênero, militares ou científicas, coroadas ou populares; detesto os estados de sítio, as suspensões de garantias, as razões de Estado, as leis de salvação pública; odeio as combinações hipócritas do absolutismo dissimulado sob as formas democráticas e republicanas; oponho-me aos governos de seita, aos governos de facção, aos governos de ignorância; e quando esta se traduz pela abolição geral das grandes instituições docentes, isto é, pela hostilidade radical à inteligência do País nos focos mais altos da sua cultura, a estúpida selvageria dessa fórmula administrativa impressiona-me como o bramir de um oceano de barbaria ameaçando as fronteiras de nossa nacionalidade.

Tributo a Rui Barbosa - Francisco Braga

 Tenho o prazer de enviar-lhe meu artigo sobre RUI BARBOSA, um dos intelectuais e políticos brasileiros mais conhecidos do seu tempo, que, durante sua vida de 73 anos, produziu mais de cem volumes, entre sua produção jornalística puramente literária, ensaios e muitos e variados discursos. Aqui será visto um trecho do discurso no Senado Federal em 13/10/1896, que foi chamado de seu CREDO POLÍTICO.



Cordial abraço,
Francisco Braga

CREDO POLÍTICO DE RUI BARBOSA

Por FRANCISCO JOSÉ DOS SANTOS BRAGA 
Dedico este post ao são-joanense Dr. ROGÉRIO MEDEIROS GARCIA DE LIMA, desembargador do TJ-MG e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, professor, conferencista, escritor, autor de várias obras de Direito e, ocasionalmente, de livros alheios ao mundo jurídico.
Rui Barbosa em sua biblioteca, sem data (foto: Arquivo Nacional/Fundo Correio da Manhã)-Fonte: Agência Senado

 

De seus 55 anos de vida pública, Ruy Barbosa passou 32 no Senado. Foi recordista de mandatos. Inaugurou o Senado da República, em 1890, e só o deixou em 1923, quando morreu, aos 72 anos de idade. Antes, no Império, havia sido deputado provincial e deputado geral. 

Rui assumiu o papel de professor político não somente no Parlamento. Para alertar a sociedade e tentar reverter os abusos dos governantes, ele também fez uso sistemático do habeas corpus nos tribunais (como advogado) e dos artigos de opinião na imprensa (como jornalista). 
Foi senador (pela Bahia) com mais mandatos: cinco (de 1890 a 1923), sem interrupção. Foi senador logo na primeira legislatura da República e se reelegeu quatro vezes até o fim da vida. 
O seu Credo Político foi extraído do discurso que proferiu no Senado Federal em 13 de outubro de 1896  discurso conhecido como "Resposta a César Zama", na época, adversário ferrenho de Ruy Barbosa, no governo Floriano Peixoto, em virtude de questões como a Guerra de Canudos, o encilhamento e o voto censitário. 
Nesse discurso, Rui rebate à provocação da Câmara dos Deputados, fazendo um relato de sua trajetória política dos últimos anos e produzindo um de seus textos mais icônicos, que se configura no “Credo Político” de pp. 50 a 51. 
 
CREDO POLÍTICO DE RUI BARBOSA
 
Meu país conhece o meu credo político, porque o meu credo político está na minha vida inteira. Creiona liberdade onipotente, criadora das nações robustas; creio na lei, emanação dela, o seu órgão capital, a primeira das suas necessidades; creio que, neste regime, não há poderes soberanos, e soberano é só o direito, interpretado pelos tribunais; creio que a própria soberania popular necessita de limites, e que esses limites vêm a ser as suas Constituições, por ela mesma criadas, nas suas horas de inspiração jurídica, em garantia contra os seus impulsos de paixão desordenada; creio que a República decai, porque se deixou estragar confiando-se ao regime da força; creio que a Federação perecerá, se continuar a não saber acatar e elevar a justiça; porque da justiça nasce a confiança, da confiança a tranqüilidade, da tranqüilidade o trabalho, do trabalho a produção, da produção o crédito, do crédito a opulência, da opulência a respeitabilidade, a duração, o vigor; creio no governo do povo pelo povo; creio, porém, que o governo do povo pelo povo tem a base da sua legitimidade na cultura da inteligência nacional pelo desenvolvimento nacional do ensino, para o qual as maiores liberalidades do Tesouro constituíram sempre o mais reprodutivo emprego da riqueza pública; creio na tribuna sem fúrias e na imprensa sem restrições, porque creio no poder da razão e da verdade; creio na moderação e na tolerância, no progresso e na tradição, no respeito e na disciplina, na impotência fatal dos incompetentes e no valor insuprível das capacidades. 
Rejeito as doutrinas de arbítrio; abomino as ditaduras de todo gênero, militares ou científicas, coroadas ou populares; detesto os estados de sítio, as suspensões de garantias, as razões de Estado, as leis de salvação pública; odeio as combinações hipócritas do absolutismo dissimulado sob as formas democráticas e republicanas; oponho-me aos governos de seita, aos governos de facção, aos governos de ignorância; e quando esta se traduz pela abolição geral das grandes instituições docentes, isto é, pela hostilidade radical à inteligência do País nos focos mais altos da sua cultura, a estúpida selvageria dessa fórmula administrativa impressiona-me como o bramir de um oceano de barbaria ameaçando as fronteiras de nossa nacionalidade.
 
Corolário do Credo Político de Rui Barbosa
 
Imediatamente após a exposição do seu Crédito Político, Rui dá a sua impressão sobre o que acaba de proferir, onde explicita bem as duas seções que o compõem: 
 
Vós bem o sabeis, senhores; essas são as minhas crenças, esses os meus ódios. E um homem que tem embebidos na sua vida esses ódios santos e essas crenças incorruptíveis, não pode ter programas que fazer. Seu futuro está ligado ao seu passado pelo nobre cativeiro do dever. Um refletirá o outro, por uma dessas necessidades da consciência que o interesse não amolga.
 
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Não pretendo furtar-me à oportunidade de referir-me ainda ao célebre discurso, transcrevendo uma passagem nas pp. 107-8, em que Rui fala da importância de sua vida pública, embora reconheça que esta labora em detrimento de sua banca de advocacia muito mais rentável: 
 
Não há, senhores, nem pode haver aliança entre a política e os meus interesses privados. A política é e será sempre a inimiga da minha prosperidade profissional. A minha banca de advogado seria um tesouro, se eu lhe pudesse consagrar exclusivamente o meu espírito e o meu tempo, repartidos, até hoje, com as exigências dessa rival intolerante. Mas, se o trabalho não fosse, como infelizmente creio que há de ser até ao termo de meus dias, o instrumento de minha subsistência, não é aos áridos labores forenses que eu consagraria a minha vida. A minha vocação reclamava um ideal mais alto: o das letras, o da arte, ou o da ciência desinteressada. Os que me conhecerem a natureza, hão de reconhecer que, com os meus instintos e os meus gostos, não pode ser voluntária a minha absorção no comércio dos autos.
Senhores, isto já não é um discurso: é a confidência geral da minha vida, exposta como um livro aberto aos olhos do País. (...) 
 
Resposta a César Zama. Discurso no Senado Federal em 13 de outubro de 1896.
 
 
II. BIBLIOGRAFIA
 
 
BARBOSA, RUY: Discurso pronunciado no Senado Federal em sessão de 13 de outubro de 1896, Ouro Preto: Imprensa Official do Estado de Minas Geraes, 1897, 113 p. Disponível inhttps://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/222312.

BRAGA, Francisco J.S.: Rui Barbosa em Haia (1907) e Buenos Aires (1916), post publicado em 26 de agosto de 2013
 
MARINHO, Josaphat: Rui Barbosa e o advogado,  Brasília: Revista de Informação Legislativa, v. 33, nº 132, out/dez 1996, pp. 5-9.

NOGUEIRA, Rubem: O advogado Rui Barbosa : Momentos Culminantes de sua Vida Profissional, Rio de Janeiro: Gráfica Olímpica Editora, 1949, 478 p. 

The war that money can’t buy - Viktor Kravchuk

 

Vamos olhar para dentro, again (Economic Consequences of Mister Trump) - Paulo Roberto de Almeida

Vamos olhar para dentro, again

Paulo Roberto de Almeida

Nota sobre o retorno dos EUA sobre si mesmo, na introversão trumpista. 


        Trump está anunciando o maior programa de introversão umbilical da história dos EUA, ever. Não sei se vai conseguir nos próximos 3,5 anos, mas é possível que consiga entravar os EUA por anos à frente.

        Xi Jinping e toda a China agradecem a facilitação desse trabalho no sentido de “make China great again”. 

        Três séculos atrás, um Imperador idiota, aconselhado por mandarins talvez  “republicanos”, resolveu fechar os portos da China aos contatos estrangeiros, expulsar os “imigrantes” e passar a viver na excelência de suas realizações anteriores, excelentes até ali.

        Em consequência, a China passou em branco pela primeira revolução industrial, pela segunda, e na terceira, estava imersa no Grande Salto para a Frente e na Revolução Cultural do maoísmo demencial, e conseguiu recuar o gigante asiático da primeira economia do mundo (1/3 do PIB global) até o século XVIII, para menos de 5% do PIB total sob Mao.

        Deng, com certo esforço, logrou colar a China à 4a. revolução industrial, e ela já está a caminho da 5a. e possivelmente já está na 6a., com distinção.

        Trump quer recuar os EUA abaixo da 3a. revolução industrial, para o fordismo da 2a., a do motor à explosão e do petróleo.

        Os chineses só observam, satisfeitos, mas silenciosos. 

        Como diria Napoleão, nunca interrompa seu inimigo quando ele estiver fazendo alguma bobagem. Keep quiet China!

        Trump está ajudando a fazer a China great again, e ela agradece, mas só silenciosamente, para não interromper esse magnífico processo de retrocesso programado, deliberado e voluntário.

        Arnold Toynbee e Carlo Maria Cipolla, estudiosos da sucessão e da decadência dos impérios, já faleceram, pois teriam excelente material empírico para continuar A Study of History e The Economic Decline of Empires em novas bases, nunca antes vistas na História.

        Trump merece todo o crédito pela obra grandiosa, aplaudido freneticamente pelos republicanos amestrados.

        Confesso que eu nunca esperei ter uma exposição completa de um painel inteiro do desenvolvimento histórico num único discurso alucinante no Congresso americano. Thanks Donald: como diria Keynes, teremos consequências econômicas de Mister Trump.

        Encerro, deplorando o espetáculo.

Paulo Roberto Almeida

Brasília, 5 de março de 2025


terça-feira, 4 de março de 2025

Hugh Wilford. The CIA: An Imperial History - A Roundtable Book Review

H-Diplo|RJISSF Roundtable 16-26 on Wilford, _The CIA_


H-Diplo | Robert Jervis International Security Studies Forum

Roundtable Review 16-26 

Hugh Wilford. The CIA: An Imperial History. Basic Books, 2024. ISBN: 9781541645912.

3 March 2025 | PDF: https://issforum.org/to/jrt16-26 | Website: rjissf.org | Twitter: @HDiplo

 

Contents

Introduction by Rhodri Jeffreys-Jones, University of Edinburgh. 2

Review by Paul Thomas Chamberlin, Columbia University. 7

Review by Thomas C. Field Jr., Embry-Riddle Aeronautical University. 11

Review by Molly Geidel, Dartmouth College. 14

Review by Stuart Schrader, Johns Hopkins University. 19

Review by Simon Willmetts, Leiden University. 25

Response by Hugh Wilford, California State University, Long Beach. 35


Introduction by Rhodri Jeffreys-Jones, University of Edinburgh

In his latest book, The CIA: An Imperial History, Hugh Wilford recognizes the impossibility of being comprehensive. Because the life-span of the Central Intelligence Agency (CIA), which was founded in 1947 and is still functioning today, coincides with the period of America’s status as a great power, it would be an unachievable task to cram between two covers an exhaustive account that would need to double as a history of the contemporary world.[1] Wilford wisely chooses a more selective approach. Thematically, he concentrates on the proposition that the CIA was an imperial agency. Methodologically, he employs a biographical approach that in the nineteenth century was associated with the Scottish historian Thomas Carlyle (1795–1881).[2] He by no means entirely goes along with Carlyle's working proposition that great men made history. But his narrative does operate on the principle that history can be better understood by taking the human approach, in this case the study of representative leading figures.

The five reviewers see the book as well written, not just stylistically, but also in the way in which Wilford synthesizes a complex argument: appropriately both Thomas F. Field, Jr. and Stuart Schrader use the word “elegant” to describe the author’s achievement. Also unanimously, the reviewers see the book as thought-provoking. All of them agree with Wilford’s contention that the CIA’s mentalities and actions were a manifestation of imperialism. All five of them see this as regrettable.[3] At the same time, each of the reviewers has distinctive emphases and perspectives that enrich their collective dialogue.

Paul Thomas Chamberlin shows how Wilford challenges the “foundational myth” that the CIA was established in response to the Pearl Harbor attack of 1941. Rather, it was a response to Washington’s determination to enact an imperial role in the post-World War II era. He notes Wilford’s further point that prominent figures in the early CIA, such as Kermit Roosevelt, had private education and Ivy League backgrounds that made them similar to their UK counterparts, and susceptible to the absorption of British imperial ideology articulated by writers such as Rudyard Kipling and T.E. Lawrence (“Lawrence of Arabia”).[4] Chamberlin wonders whether there were further “structural and institutional dimensions of the CIA's imperialism” and reflects that the agency was just one of several utensils in “America's imperial toolbox,” but still finds Wilford's argument to be “compelling.”

Like Chamberlin, Thomas C. Field, Jr., is impressed by Wilford’s genius in arguing that the leading CIA men were at heart anti-imperialists who found that operating in secret was a way of circumventing the inconvenience of having principles.[5] Though crediting British influence, he describes the reliance of the United States on CIA-style covert operations, one of the book’s “throughlines,” as distinctively American. He notes that the biographical methodology “tends to depict a rather episodic history of CIA operations, jumping from highlight (Iran) to highlight (Vietnam).” Field concludes by considering the final section of the book, and Wilford’s view of what happened to the CIA and the mentalities behind it after the damaging revelations and congressional investigations of 1975.[6] He argues that some of Wilford’s earlier findings on voluntarism, or the recruitment of the private sector for intelligence work, may have a continuing applicability in the twenty-first century.[7]

Molly Geidel highlights Wilford’s account of CIA leaders’ storytelling, the importance of which is his “most important argument.” Imperialism is the “defining feature” of that storytelling and an “attendant orientalism” its unsavory embellishment. At the same time, she applauds Wilford’s account of the “homosocial ties” that bound influential CIA actors like Edward Lansdale to their neocolonial collaborators. She illustrates the harm done by CIA covert operations, offering mortality numbers in support of her point (here, it would be interesting to see some comparisons with other countries’ imperial violence, and with the global history of the statistics of deadly quarrels).[8] She argues that Wilford accepts CIA leaders’ professed anti-imperialism “a bit too credulously,” and points to the imperial-style elitist indoctrination of students “which persists to this day in the United States,” which helps explain the response of some campus leaders to recent student unrest, and which is, in fact, foreshadowed in the narrative of The CIA: An Imperial History (252).

(…)


Read the RoundTable review here: 


https://www.academia.edu/128011959/H_Diplo_Wilford_The_CIA_History_roundtable_Book_Review

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