domingo, 9 de março de 2025

Michael Ignarieff explores the new world being created by authoritarians - Juan Francisco Alonso (BBC News Mundo)

Trump erra se pensa que vai alcançar a paz repartindo o mundo entre potências autoritárias'

  • Author, Juan Francisco Alonso
  • Role, BBC News Mundo

Em crise. É assim que está a ordem mundial unipolar que prevalece desde o colapso da União Soviética e o fim da Guerra Fria no início da década de 1990.

A posição dos Estados Unidos como única superpotência já não é questionada apenas por rivais como a China ou a Rússia, mas também dentro do próprio país.

"Não é normal que o mundo tenha uma potência unipolar. Isso era uma anomalia, um produto do fim da Guerra Fria, mas finalmente vamos chegar a um ponto em que vamos ter um mundo multipolar, com potências em diferentes partes do planeta", declarou o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, em uma entrevista no início de fevereiro.

Será que a declaração do chefe da diplomacia americana é uma admissão de que os Estados Unidos estão dispostos a ceder parte do enorme poder de que desfrutam a outros atores globais? Como poderia ser essa nova ordem mundial?

Para responder a estas e outras perguntas, a BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC, conversou com o historiador Michael Ignatieff, ex-candidato a primeiro-ministro do Canadá, ex-reitor da Universidade Central Europeia e vencedor do prêmio Princesa das Astúrias em ciências sociais em 2024.

Matriosca russa com rostos de Trump, Putin e Xi

CRÉDITO, GETTY IMAGES

Legenda da foto, Uma nova ordem multipolar está surgindo, possivelmente liderada por EUA, China e Rússia

BBC News Mundo - Em seu segundo mandato, Donald Trump, com o seu desejo de assumir o controle da Groenlândia, recuperar o Canal do Panamá e anexar o Canadá, parece estar mostrando um lado imperialista nunca antes visto. De onde vem tudo isso?

Michael Ignatieff Trump é uma figura para a antropologia. Eu o considero um enganador. Ele é uma daquelas pessoas que vira tudo de cabeça para baixo para confundir e surpreender.

Fim do Novo podcast investigativo: A Raposa

É muito difícil saber se existe realmente uma estratégia por trás dos seus anúncios ou se são simplesmente um conjunto de improvisações com as quais ele busca obter alguns objetivos transacionais, dependendo da reação que haja.

Certamente pode-se dizer que nas ações de Trump há elementos do clássico imperialismo ianque do século 19, mas acredito que há algo novo, e isso é a provocação. 

Ele vê o que pode obter com suas provocações e, por isso, acredito que se responderem a ele com força, como fizeram o Canadá e o México com as ameaças de tarifas, é possível fazê-lo retroceder.

Europa deveria fazer o mesmo. Trump já deixou claro que não quer mais defender a Europa Ocidental. Em vez de chorar e arrancar os cabelos, a Europa tem de enfrentar os fatos. A Espanhagasta 1,3% do seu Produto Interno Bruto (PIB) em defesa. Não é suficiente.

Durante 80 anos, nós demos como certa a proteção americana, mas agora ela está chegando ao fim. Então, não precisamos enlouquecer, simplesmente temos que nos defender.

BBC News Mundo - Mas, nos últimos anos, muitos países europeus aumentaram seus gastos com defesa, e isso não parece satisfazer Trump e sua turma.

Ignatieff - Vou dizer outra coisa que é muito impopular: não basta aumentar o orçamento da defesa. Também é necessário fazer com que mais jovens se alistem no serviço militar. Hoje, a herdeira do trono espanhol (princesa Leonor) está em um navio da Marinha prestando serviço militar, e talvez no futuro, daqui a 5 ou 10 anos, muitos espanhóis tenham que fazer o mesmo.

O que eu acho absolutamente errado é permitir que Trump assuma o controle de nossas cabeças e nos impeça de reagir. Precisamos reagir, defender nossa soberania e independência nacional e usar os instrumentos que temos para promover nossos interesses.

Rubio e Lavrov reunidos na Arábia Saudita

CRÉDITO, GETTY IMAGES

Legenda da foto, Para o historiador, a reunião entre os EUA e a Rússia sobre a Ucrânia é o prelúdio de um acordo que vai sacrificar tanto o país invadido como os aliados europeus

BBC News Mundo - Além de aumentar os gastos com defesa, você acha que os países europeus deveriam pensar em retomar o serviço militar obrigatório para acabar com a dependência dos EUA em termos de segurança?

Ignatieff - Vou me tornar muito impopular entre o público da BBC News Mundo ao propor o serviço militar obrigatório na América Latina, na Espanha e no Canadá. O que estou dizendo é que não se trata apenas de aumentar os gastos com defesa, o que vai implicar em sacrifícios dolorosos em nossos gastos sociais. Também vamos precisar de mais pessoas dispostas a servir. 

Qualquer pessoa em sã consciência quer que isso seja feito voluntariamente, mas acho que não podemos excluir a possibilidade de recrutamento obrigatório.

Vejamos o caso do Reino Unido. O primeiro-ministro (Keir) Starmer disse recentemente que queria enviar tropas britânicas para a Ucrânia, mas todos os especialistas militares disseram que o país não tem tropas suficientes. 

Países como a Espanha não só vão ter que aumentar seu percentual de gastos com defesa e reinvestir em suas indústrias militares, como também vão precisar de mais jovens para prestar serviço militar.

O Canadá e outros aliados vão ter o mesmo problema. Os jovens relutam muito em prestar serviço militar, mas acho que essa é uma necessidade do novo mundo em que entramos.

BBC News Mundo - Por que é que Trump está brigando com aliados como o Canadá e a Europa, ao mesmo tempo que se aproxima de rivais como a Rússia de Putin?

Ignatieff - Esta é uma pergunta muito boa. Acho que há duas coisas em jogo. 

A primeira, e isso ficou evidente no discurso do vice-presidente (J.D.) Vance (na Conferência de Segurança de Munique, em que ele afirmou que a liberdade de expressão na Europa está sob ataque devido às medidas tomadas para conter a direita radical), é que esses revolucionários de direita radical que governam os EUA acreditam que seus antigos aliados — Canadá e Europa Ocidental — estão presos a uma espécie de liberalismo permissivo que eles já derrotaram dentro dos EUA, e agora querem derrotar em todo o mundo. E, por causa disso, de repente eles veem seus aliados como inimigos.

O segundo problema está no cerne dos eleitores de Trump, que estão exaustos e desiludidos com as "guerras intermináveis", com os desastres no Iraque e no Afeganistão. Esses eleitores acham que o país está voltando ao que vivenciou durante o Vietnã, aquela sensação de que seus jovens estão indo para o exterior para lutar batalhas sem sentido.

E a este último deve ser acrescentado um elemento muito importante: a fadiga em relação ao custo do império, e o desejo de repassar essa conta para os aliados. "Europa, se você quiser nossa ajuda, vai ter que pagar por ela".

Os EUA estão cansados de suportar esses fardos econômicos, e o que estão fazendo com a Europa hoje, certamente vão fazer com a Ásia amanhã. 

Em breve, Trump vai se dirigir aos taiwaneses, sul-coreanos e japoneses, e dizer a eles: Por que estamos gastando tanto dinheiro para defendê-los? E assim vai ser com todos os sistemas de aliança que os EUA mantêm desde 1945.

O mundo com o qual estávamos acostumados, em que os EUA forneciam bens públicos como segurança e liberdade, acabou — e não creio que vá mudar. Não acho que possamos esperar que Trump deixe a presidência para que Washington dê uma guinada. 

Acho que isso é permanente, é uma nova característica da política americana.

Ignatieff em coletiva de imprensa

CRÉDITO, GETTY IMAGES

Legenda da foto, Ignatieff acredita que a Europa, o Canadá e outros antigos aliados dos EUA devem reconhecer que precisam aprender a se defender por conta própria

BBC News Mundo - Como você interpreta a declaração do secretário Rubio sobre um mundo multipolar? É o anúncio de que os EUA estão dispostos a compartilhar o poder?

Ignatieff - Rubio admite que os EUA não querem ser o único garantidor da ordem no sistema mundial, mas se os EUA estão dispostos a compartilhar o poder, é outra coisa.

Será que os EUA realmente querem compartilhar o mundo com a Rússia e a China? Não sei, há uma parte do eleitorado dos EUA que é muito hostil à China, por causa da inundação de produtos chineses baratos que prejudicam a produção americana.

Acho que Trump está disposto a fazer as pazes com a Rússia e compartilhar o poder com eles, ao custo de trair os ucranianos. Mas acho que não está claro o que ele vai fazer com a China, porque os EUA têm um enorme déficit comercial com a China.

Se Trump tomar a decisão estratégica de dividir o mundo com a China de Xi Jinping e a Rússia de (Vladimir) Putin e disser "os EUA ficam com a área da Groenlândia até o Chile, a China fica com o Leste Asiático, e a Rússia com a Eurásia", isso seria revolucionário, e mudaria o mundo. Mas não acho que tenha tomado essa decisão.

BBC News Mundo - Essa nova ordem mundial teria três atores. Na sua opinião, ela seria mais perigosa do que a bipolar que surgiu após a Segunda Guerra Mundial, considerando que dois dos três centros de poder são liderados por governos ditatoriais?

Ignatieff - Trump não se importa com o fato de (China e Rússia) serem ditatoriais. Não acha que, por serem ditatoriais, são mais ou menos perigosos. 

Ele acredita que pode fazer acordos com qualquer país, independentemente do tipo de regime.

E também acredito que ele não tem afinidade com as democracias, pois já demonstrou que vê as coisas por uma lente econômica, sem exceções. 

Por exemplo, se os países latino-americanos tiverem um superávit comercial com os EUA, ele vai impor tarifas a eles, independentemente de se tratar da Venezuela autoritária de (Nicolás) Maduro ou do Chile democrático.

Trump ignora que há uma enorme quantidade de pesquisas mostrando que as democracias não entram em guerra com outras democracias. 

Vladimir Putin invadiu a Ucrânia porque a Ucrânia é uma democracia, e a Rússia, não. Então, ele está cometendo um grave erro estratégico se achar que pode dividir o mundo com potências autoritárias e alcançar a paz.

Se você conceder à China uma esfera de influência no Leste Asiático e der a ela carta branca, qual será o limite dessa área de influência? Por que parar em Taiwan? Pequim poderia pensar: bem, vamos para a Austrália ou para a Indonésia. A China é um país enorme e muito, muito poderoso.

No entanto, quero deixar claro que não acredito que, se a Rússia alcançar a paz na Ucrânia, vai invadir imediatamente a Europa Oriental, ou que a China tenha pressa em tomar Taiwan ou desafiar as Filipinas. 

O que estou dizendo é que regimes como o russo e o chinês não são amantes da paz.

Soldados ucranianos em Donbas

CRÉDITO, GETTY IMAGES

Legenda da foto, A dependência da Ucrânia da ajuda militar americana torna o país vulnerável à pressão de Trump

BBC News Mundo - Como você acha que o mundo será dividido sob esta nova ordem tripolar?

Ignatieff - Vladimir Putin quer claramente restabelecer a esfera de influência que a extinta União Soviética conquistou após a conferência de Yalta em 1945.

Ele vai querer recuperar o quintal que tinha na Europa Oriental. No entanto, o problema é que agora a maior parte dos países que estavam nesse quintal estão na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) — Hungria, República Tcheca, Polônia e os países bálticos —, e a questão é se Trump vai respeitar os compromissos do Artigo 5 (defender qualquer país membro da Otan que seja atacado). Os russos querem que essa garantia desapareça.

Se a proteção da Otan desaparecer, todos esses países (da Europa Oriental) vão voltar, mais cedo ou mais tarde, para a esfera de influência russa, e sua soberania e segurança nacionais serão comprometidas.

BBC News Mundo - É por isso que a reunião entre os EUA e a Rússia sobre a Ucrânia, realizada na Arábia Saudita, fez disparar os alarmes na Europa.

Ignatieff - Exatamente, os ucranianos entendem que, devido à sua dependência de equipamentos militares americanos, Trump pode forçá-los a aceitar um acordo que eles não querem aceitar.

O que é sombrio nesses acordos é que Trump pode estar entregando a Europa Oriental à Rússia, do Báltico até o Danúbio e o Mar Negro, de modo que podemos ter uma nova Cortina de Ferro, e voltar à situação anterior a 1989. E isso vai ser uma receita para a instabilidade.

BBC News Mundo - Por quê?

Ignatieff - Você acha que os poloneses querem estar novamente sob a esfera de influência russa? Eles prefeririam morrer. Então, é um grande problema para a Europa.

Os países da Europa Oriental enfrentaram a influência russa porque os americanos disseram: "Nós defenderemos vocês". 

Bem, se os americanos não os defenderem mais, o mundo inteiro vai começar a entrar em colapso. Portanto, a suposição de que isso (forçar a Ucrânia a ceder às exigências da Rússia) compra a paz é uma loucura.

Se Putin decidir subverter a democracia nos Balcãs e no Báltico, mais cedo ou mais tarde os disparos vão começar e pessoas vão morrer. 

Apaziguar Putin não é uma receita para a estabilidade e a paz. É uma receita para mais caos na Europa.

Arame farpado em frente ao Portão de Brandemburgo, em Berlim, em 1961, durante a construção do Muro de Berlim.

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Legenda da foto, Ignatieff alerta para a possibilidade de uma nova Cortina de Ferro atravessar a Europa

BBC News Mundo - Por que é que a segurança europeia já não é uma prioridade para Trump? Será que ele esqueceu que os dois grandes conflitos globais do século 20 tiveram origem neste continente?

Ignatieff - Ele não está nem um pouco interessado no que a história tem a ensinar (...) porque acha que a Europa foi tomada por um bando de liberais progressistas. Portanto, não se trata apenas de uma questão de custos econômicos, mas também de aversão ativa às sociedades e aos valores europeus.

Se fosse apenas uma questão de recursos, acho que isso poderia ser resolvido. 

Se ele dissesse "Sigo comprometido com a defesa da Europa, mas vocês precisam gastar mais dinheiro", os europeus buscariam o dinheiro. 

Mas o discurso de Vance revela outra coisa, porque ele não está dizendo apenas "não nos importamos com vocês", ele também está dizendo "não gostamos de vocês".

BBC News Mundo - Mas a Europa é um importante parceiro econômico dos EUA, o comércio entre os dois representa 30% do total global.

Ignatieff - Hoje, nos EUA, eles acham que a Europa é o passado (...) e acreditam que ela não tem nada a oferecer. Eles a veem como um mero concorrente e um fardo. 

Além disso, veem a Europa como tendo os valores errados, é liberal, progressista e secular.

A combinação entre ideologia, economia e tecnologia me faz pensar que essa é uma postura de longo prazo, que não acho que vai passar quando a loucura de Trump for substituída na Casa Branca. 

Vance poderia ser o próximo presidente dos EUA e, então, seriam mais oito anos disso.

BBC News Mundo - Trump disse que a guerra na Ucrânia é uma questão europeia, porque há um oceano no meio. Será que ele está disposto a entregar toda a Europa à Rússia?

Ignatieff - Acho que não, e o motivo é que isso vai fazer com que ele pareça fraco. 

Tenho certeza de que ele quer fazer um acordo com a Rússia, e não teria nenhum problema em trair a Ucrânia, mas ele não pode assinar um acordo que o faça parecer fraco.

Ele deve ter muito cuidado para fazer acordos em que saia vencedor, porque não quer que a opinião pública americana comece a dizer: "Você perdeu a Europa" (...) Se o slogan é Make America great again ("Tornar a América grande novamente"), entregar a Europa não torna os EUA grande, mas, sim, menor.

Hugo Chávez discursando na ONU em 2006

CRÉDITO, GETTY IMAGES

Legenda da foto, Líderes do chamado Sul Global, como o falecido Hugo Chávez, defenderam uma nova ordem internacional multipolar

BBC News Mundo - Como a Europa deveria responder? O que ela tem que fazer?

Ignatieff - Vejamos o lado econômico: (o ex-presidente do Banco Central Europeu) Mario Draghi deixou bem claro que, a menos que a Europa tenha um mercado único de capital e trabalho, não vai conseguir competir.

Não sou economista, portanto não é minha área, mas está claro que, apesar de haver um mercado comum de bens, não há um mercado de trabalho e, acima de tudo, de capital europeu. 

A formação de capital é fraca na Europa, e são necessárias enormes quantidades de capital para sermos competitivos em inteligência artificial, medicamentos e outras áreas.

No que diz respeito à defesa, a Europa vai ter que passar de 1,3% do PIB para 2,5% muito rapidamente. 

Em seguida, vai ter de reforçar o controle de suas fronteiras e, ao mesmo tempo, criar um fluxo migratório regular e legal para substituir sua demografia em declínio.

Tudo isso é difícil, mas tudo isso é possível, e então você vai ter que fazer alguns amigos. Quero dizer, poderia fazer muito mais negócios com o Canadá, com a Ásia e a África.

BBC News Mundo - Desde o fim do século 20, líderes latino-americanos, como o falecido Hugo Chávez, vêm falando sobre esta nova ordem multipolar. No entanto, não é apenas a Europa que parece estar excluída, mas também outras potências como a Índia, o Brasil e o México.

Ignatieff - Um mundo tripolar, com a China tendo uma esfera de influência no Leste Asiático, com a Rússia na Europa Oriental, e os EUA dominando tudo, da Groenlândia ao Chile, levanta a questão de onde ficam a África do Sul, o Brasil, a Índia e a Indonésia.

A China, a Rússia e os EUA podem dividir o mundo tanto quanto quiserem, mas haverá muitas partes do mundo que não se encaixam em lado nenhum, e isso é bom.

O desafio para a América Latina e outras regiões é desenvolver economias muito, muito fortes e sistemas políticos muito sólidos. Não precisa ser um gênio. Se você for forte, ninguém vai te pressionar.

Uma nova era na história da humanidade? - Paulo Roberto de Almeida

Uma nova era na história da humanidade?

Paulo Roberto de Almeida

A verdade verdadeira é que Trump e seus assessores não têm a menor ideia do que fazer com as tais “tarifas recíprocas”, uma imbecilidade sem tamanho, jamais vista na história do comércio mundial. 

Aliás, nem Lula, ou seus assessores, saberiam o que fazer para responder de maneira não imbecil a uma imbecilidade original. 

Como sempre haverá mais fumaça do que fogo, e a única coisa certa não é nem a incerteza, mas o caos, que é a única certeza que pode sair de um cérebro doentio como o de Trump.

Os historiadores, que já inventaram uma coisa chamada Renascimento entre a Idade Média e a era Moderna, antes da Contemporânea, vão ter de criar um equivalente para Caos, depois da Contemporaneidade, um recuo formidável nos progressos sociais e institucionais dos últimos 150 anos. 

Em estreita aliança com Putin, o idiota parece mesmo capaz de criar a maior confusão no sistema internacional, afetando, pois, todos os países do mundo, inclusive o Brasil.

Se Lula for visitar Putin no dia 8 de maio, ele jogará o Brasil no meio da confusão monumental criada pelos dois terroristas.

O século XXI já começou a entortar…

Paulo Roberto Almeida

Brasília, 9/03/2025


sábado, 8 de março de 2025

O Itamaraty na ditadura militar - Ismara Izepe de Souza, Bruno Fabricio Alcebino da Silva (Brasil De Fato)

 O Itamaraty na ditadura militar

 

Por ISMARA IZEPE DE SOUZA & BRUNO FABRICIO ALCEBINO DA SILVA*


Brasil De Fato, 8/03/2025

https://www.brasildefato.com.br/colunista/observatorio-de-politica-externa/2025/03/07/entre-a-resistencia-e-a-conivencia-o-itamaraty-e-a-ditadura-militar/


A ideia de que o Itamaraty é uma instituição pouco permeável às interações com o universo político interno, é insustentável diante das evidências

 

A ascensão da extrema direita no Brasil, nos últimos anos, veio acompanhada de recorrentes tentativas de alterar a narrativa sobre a ditadura militar (1964-1985). Se no período imediato à redemocratização do país, na década de 1980, se evidenciou junto à sociedade brasileira a herança negativa deixada pelos militares, a partir do governo de Jair Bolsonaro, junto às constantes ameaças à democracia, se acentuaram as investidas para promover uma imagem positiva daquele período.

As polêmicas que envolvem o inegável sucesso de Ainda estou aqui se constituem em um exemplo eloquente disso. O filme retrata, sob a perspectiva de Eunice Paiva, o desaparecimento de seu marido, o ex-deputado Rubens Paiva, morto pelo regime autoritário. No dia 2 de março, o longa-metragem fez história ao ganhar o Oscar de melhor filme internacional, fato inédito para o Brasil. Entre efusivas comemorações do campo progressista e da direita moderada e a produção de fake news pela extrema direita, o fato é que a memória sobre esse período continua sendo alvo de disputas.

A política externa parece ser exceção quando se trata das distintas narrativas sobre o regime autoritário, pois existe uma percepção quase generalizada sobre os seus acertos neste período. Nos 21 anos de governos militares, o perfil da inserção internacional brasileira se alterou bastante, não sendo possível falar de uma “política externa do regime militar”. Afinal, o alinhamento automático aos EUA promovido pelo governo de Castelo Branco (1964-1967) foi paulatinamente sendo substituído por uma política externa de teor desenvolvimentista, culminando no pragmatismo responsável do governo de Ernesto Geisel (1974-1979), que guarda, em seu caráter autônomo e altivo, similaridades com a política externa dos primeiros dois governos de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011).

O Ministério das Relações Exteriores (MRE), também conhecido como Itamaraty, tem características específicas junto à administração pública brasileira. O espírito de corpo que marca a sociabilidade entre os diplomatas fez com que a instituição preservasse uma memória positiva acerca de sua atuação durante os governos militares, veiculando a ideia de que o Ministério das Relações Exteriores esteve alheio aos aspectos mais abjetos da ditadura. A ideia veiculada e corroborada por estudiosos, diplomatas e imprensa foi a de que o Itamaraty continuou a pautar suas ações pelos interesses do desenvolvimento nacional, sem se deixar influenciar pelo que ocorria na política doméstica.

No entanto, na última década, pesquisas realizadas no âmbito acadêmico e àquelas que resultaram no Relatório Final da Comissão Nacional da Verdade demonstraram que o suposto distanciamento do Itamaraty da política doméstica e particularmente do aparato repressivo não existiu. Se a postura oficial foi a de alheamento ao que se passava no âmbito interno, nos bastidores o Itamaraty participou da engrenagem repressiva, auxiliando na vigilância e repressão de brasileiros exilados.

Mas também existiu o outro lado da moeda, ou seja, diplomatas indesejados e perseguidos pelo regime ditatorial, seja por não apresentarem uma postura condizente com o perfil ideal do diplomata, ou por ameaçarem os esquemas de corrupção envolvendo militares e o alto escalão do governo, como denuncia o caso de José Pinheiro Jobim.

Entre a conivência e o apoio

Inspirada nas experiências do Chile e Argentina, a Comissão Nacional da Verdade foi instituída no Brasil durante o governo da presidenta Dilma Rousseff (2011-2016) com o objetivo de investigar e esclarecer as graves violações de direitos humanos cometidas pela ditadura militar (1964-1985), sendo a própria ex-presidenta uma sobrevivente que foi presa e torturada durante o regime. Entre suas contribuições mais relevantes, a Comissão Nacional da Verdade dedicou um capítulo específico aos crimes cometidos no exterior com o apoio do Ministério das Relações Exteriores, demonstrando o envolvimento direto do Itamaraty na repressão transnacional e na perseguição de opositores políticos fora do Brasil.

relatório final, divulgado em 2014, fornece provas documentais e testemunhais fundamentais para o reconhecimento institucional dessas violações, reforçando a necessidade de preservação da memória histórica e responsabilização dos agentes envolvidos.

O Centro de Informações do Exterior (CIEX), criado em 1966, foi um dos principais mecanismos de espionagem e repressão utilizados pela ditadura militar brasileira contra opositores do regime que haviam deixado o país devido à perseguição política. Vinculado ao Ministério das Relações Exteriores e ao Serviço Nacional de Informações (SNI), o CIEX foi um centro clandestino que desempenhou papel crucial no monitoramento de exilados políticos brasileiros e na cooperação repressiva com outros regimes autoritários do Cone Sul, especialmente no âmbito da Operação Condor.

Pesquisadores brasileiros da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Universidade de São Paulo (USP), junto ao Instituto Norueguês de Relações Internacionais, realizaram pesquisas que resultaram em um banco de dados com cerca de 8 mil documentos que demonstram que o Itamaraty monitorou mais de 17 mil brasileiros no exterior. Apesar da diplomacia brasileira tradicionalmente se apresentar como neutra diante das políticas de segurança interna, esses documentos revelam que o Itamaraty estava diretamente envolvido na repressão, fornecendo informações detalhadas sobre atividades de exilados, dificultando a emissão de passaportes e concedendo dados estratégicos a outros serviços de inteligência (PENNA FILHO, 2009, p. 44-45).

O CIEX não operava de forma isolada. Ele era parte da Comunidade de Informações do Ministério das Relações Exteriores (CI/MRE), interligado a outros órgãos repressivos do Estado brasileiro, como o CIE (Centro de Informações do Exército), o Cenimar (Centro de Informações da Marinha) e o CISA (Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica) (COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE, 2014, p. 179). Esses centros trocavam dados sobre a localização, atividades e contatos de exilados brasileiros na Europa e na América Latina.

A existência do órgão de espionagem evidencia que o regime militar possuía um aparato repressivo sistemático e estruturado, com o Itamaraty como peça-chave na perseguição política dentro e fora do país. Segundo Balbino (2023, p. 11), o Ministério das Relações Exteriores não apenas colaborou com o regime militar, mas integrou-se ao aparato repressivo, fornecendo suporte logístico e burocrático para ações de vigilância e repressão.

Dentre os alvos do CIEX estavam figuras conhecidas, como o ex-presidente deposto João Goulart e o ex-governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola. O caso de João Goulart é um dos mais emblemáticos. Documentos apontam que ele foi monitorado de perto pelo CIEX e por serviços de inteligência de países vizinhos, como Uruguai e Argentina. A preocupação do regime autoritário era que o ex-presidente estivesse articulando um retorno político ao Brasil, o que levou à sua constante vigilância e ao cerceamento de suas movimentações (COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE, 2014, p. 192).

Leonel Brizola, por sua vez, tornou-se alvo prioritário da espionagem brasileira no exterior, especialmente no Uruguai. Registros indicam que agentes brasileiros acompanharam suas atividades, enviando relatórios detalhados sobre suas reuniões políticas e discursos públicos (PENNA FILHO, 2009).

Outro aspecto relevante foi a repressão aos exilados de menor expressão pública, mas igualmente considerados “subversivos” pelo regime. Documentos do CIEX revelam que estudantes, artistas e sindicalistas também eram alvo de monitoramento constante. Muitos tiveram passaportes negados e foram impedidos de retornar ao Brasil, enquanto outros foram presos e entregues às autoridades brasileiras em operações conjuntas com os regimes militares da região (COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE, 2014, p. 194).

O CIEX também desempenhou um papel fundamental na chamada Operação Condor, a rede de cooperação repressiva entre as ditaduras do Cone Sul (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai), que permitia a troca de informações sobre exilados e facilitava sequestros e assassinatos (PENNA FILHO, 2009, p. 48-49). Segundo documentos analisados pela Comissão Nacional da Verdade, o Brasil participou ativamente desse esquema, fornecendo dados sobre refugiados políticos e auxiliando na captura de opositores nos países vizinhos (COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE, 2014, p. 220).

Além disso, o apoio do Brasil ao golpe no Chile, em 1973, foi articulado por meio do Itamaraty e outros órgãos do aparato repressivo. O embaixador Antônio Cândido da Câmara Canto desempenhou um papel crucial nesse processo, fornecendo informações estratégicas e apoio logístico aos militares brasileiros que planejavam a deposição de Salvador Allende. Segundo Roberto Simon (2021), o Brasil, sob o comando do presidente militar Emílio Garrastazu Médici, não apenas auxiliou os conspiradores chilenos nos meses que antecederam o golpe, mas também contribuiu ativamente para consolidar o regime ditatorial de Augusto Pinochet.

Assim, o CIEX representou um dos pilares da repressão política no exterior, demonstrando que a ditadura militar brasileira não limitou sua ação ao território nacional, mas expandiu sua vigilância e perseguição a nível internacional. Ao colaborar ativamente com outros regimes autoritários e ao vigiar ininterruptamente seus opositores, o CIEX contribuiu para a perpetuação de um sistema de terror que marcou a história recente do Brasil. A análise de seus arquivos e de suas atividades é essencial para compreender a extensão da repressão política no período e reforça a importância de preservar a memória histórica para evitar que tais episódios se repitam. A ditadura não é “página virada”.

Diplomatas indesejáveis

Existiu o outro lado da moeda: a repressão sofrida por muitos diplomatas que não se adequaram ao comportamento considerado ideal pela ditadura. Menor em termos quantitativos se comparada a outros ministérios, a depuração também ocorreu no MRE. Logo após o golpe militar, os ministérios foram autorizados a iniciar investigações internas para identificar suspeição ideológica e afastar os servidores críticos ao novo regime.

Em 1964, o Itamaraty obteve especificidade ao poder criar uma comissão própria, sendo a Comissão de Investigação Sumária (CIS) conduzida por Vasco Leitão da Cunha, diplomata escolhido por Castelo Branco para chefiar o MRE. A CIS resultou em 97 diplomatas investigados e 20 exonerados (CARMO, 2018, p. 60).

Em 1968, no auge da repressão política interna, uma nova comissão foi formada, incidindo sobre condutas consideradas desviantes e recomendando a exoneração dos homossexuais. Segundo Gessica Carmo, houve a obrigatoriedade de exames médicos para atestar hábitos e ações íntimas, colocando esses diplomatas em condições vexatórias (2018, p. 65). Outros foram afastados por serem boêmios demais e por terem comportamentos avaliados como inadequados. O caso mais conhecido talvez seja o de Vinicius de Moraes, que foi afastado e posteriormente integrado aos quadros do Ministério da Educação e Cultura.

Cabem também algumas considerações sobre o diplomata José Pinheiro Jobim, vítima do regime militar por esboçar a intenção de registrar um esquema de corrupção relacionado à construção da Usina de Itaipu. No início da década de 1960, José Pinheiro Jobim foi designado pelo presidente João Goulart para conversar com autoridades paraguaias sobre o aproveitamento hidrelétrico do rio Paraná. O projeto saiu do papel durante os governos militares, mas os valores empenhados na suntuosa obra foram absurdamente maiores do que inicialmente se previa.

Em 1979, já aposentado, José Pinheiro Jobim afirmou junto a um círculo pequeno de conhecidos que estava preparando um livro sobre as irregularidades na construção da hidrelétrica binacional. Dias depois seu corpo foi encontrado e mesmo com indícios da farsa montada, a versão oficial foi a de suicídio. Em 2014, a Comissão Nacional da Verdade, ao reavivar o caso, reconheceu que o regime foi responsável pela tortura e a morte de José Pinheiro Jobim. A Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), em 2018, determinou que sua certidão de óbito fosse retificada, reconhecendo a morte violenta causada pelo Estado brasileiro.

O Ministério das Relações Exteriores entre a política de governo e a de Estado

Servidores de carreira do Ministério das Relações Exteriores contribuíram com o aparato repressivo através de uma estrutura burocrática de proporções grandiosas, no entanto, muitos deles foram vítimas das arbitrariedades cometidas pela ditadura militar. Os casos aqui apresentados evidenciam que as explicações polarizadas, que apontam toda a diplomacia brasileira genericamente como vítima ou como partícipe do aparato repressivo, não dão conta de uma realidade complexa e multifacetada.

Sendo assim, não se trata de demonizar ou enaltecer de forma exagerada o Ministério das Relações Exteriores. Como ocorre em qualquer instituição, os diplomatas são suscetíveis a assimilar interesses provenientes de espectros políticos e ideológicos distintos, havendo certamente entre eles os que ficaram satisfeitos em contribuir com a repressão e os que se indignaram e se arriscaram a combater as arbitrariedades cometidas pelos militares.

 O Itamaraty é reconhecido internacionalmente por formar excelentes quadros que já demonstraram capacidade de representar com maestria os interesses brasileiros. Nesse sentido, a instituição tem seus méritos na seta do tempo, ao preservar algumas tradições, como a defesa do multilateralismo e da solução pacífica de controvérsias. Mas junto às ações próprias de uma política de Estado caminham decisões condizentes com as prioridades dos governos de plantão, o que comprova que a política externa é também uma política de governo. A ideia de que o Itamaraty é uma instituição pouco permeável às interações com o universo político interno, é insustentável diante das evidências.

 

*Ismara Izepe de Souza é professora do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

*Bruno Fabricio Alcebino da Silva é graduando em Relações Internacionais e Ciências Econômicas pela Universidade Federal do ABC (UFABC).

 

Referências:


BALBINO, Camila Estefani de Andrade Simphrônio. O Itamaraty e suas conexões com o aparato repressivo durante a Ditadura Militar (1964-1985). Trabalho de Conclusão de Curso (Relações Internacionais) – Universidade Federal de São Paulo, Osasco, 2023.

CARMO, Gessica Fernanda do. Os soldados de terno? Ruptura, crise e reestruturação da diplomacia brasileira (1964-1969). Dissertação (Mestrado), Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, Campinas, SP, 2018.

COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE. Relatório Final. Brasília: CNV, 2014.

PENNA FILHO, Pio. O Itamaraty nos anos de chumbo – o Centro de Informações do Exterior (CIEX) e a repressão no Cone Sul (1966-1979). Revista Brasileira de Política Internacional, vol. 52, núm. 2, 2009, p. 43-62.

SIMON, Roberto. O Brasil contra a democracia: a ditadura, o golpe no Chile e a Guerra Fria na América do Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2021.

Miséria da diplomacia: a destruição da inteligência no Itamaraty, iniciando por uma citação de Alexander Soljenitsyn

Miséria da diplomacia: a destruição da inteligência no Itamaraty, iniciando por uma citação de Alexander Soljenitsyn

Mauricio David me contempla com uma citação de Alexander Soljenitsyn que ele retirou do frontspício de um livro meu de 2019, aliás o primeiro a respeito do bolsolavismo, chamado Miséria da Diplomacia: a destruição da inteligência no Itamaraty (2019). A citação feita por Mauricio David (que colocou o título abaixo), segue tal como eu a encontrei em algum livro que estava lendo no momento em que redigia o livro (eu tinha sido exonerado de meu cargo no Itamaraty pelo chanceler acidental e passava o meu tempo na biblioteca, lendo e escrevendo sobre o besteirol bolsolavista manchando a diplomacia brasileira):

Um grande pensador, um grande humanista : o Prêmio Nobel, Alexandre Soljenitsyn

Uma cegueira persistente – o sentimento de
uma superioridade ilusória – mantém a ideia de que
todos os países de grande extensão existentes em nosso
planeta devem seguir um desenvolvimento que os levará
ao estado dos sistemas ocidentais atuais, teoricamente os
melhores, praticamente os mais atrativos; que todos os
demais mundos estão apenas impedidos temporariamente
– por causa de governantes malvados ou por graves
desordens internas, ou por barbárie e incompreensão –
de se lançar na via da democracia ocidental, com
partidos múltiplos, e de adotar o modo de vida ocidental.
E cada país é julgado segundo seu grau de avanço nessa
via. Mas, na verdade, esta concepção nasceu da
incompreensão pelo Ocidente sobre a essência dos
demais mundos, que são abusivamente medidos segundo
o padrão ocidental. O cenário real do desenvolvimento
em nosso planeta tem pouco a ver com isso.


Alexandre Soljenitsyn, discurso na 327ª. formatura na Universidade de Harvard, junho de 1978.

(agradeço ao nosso colega e também grande humanista. Paulo Roberto de Almeida, a citação)

Aos que estiverem interessados em conhecer o livro, informo sobre as duas edições:

1) Miséria da diplomacia: a destruição da inteligência no Itamaraty, Brasília: Edição do autor, 2019, 184 p. Plataforma Academia.edu (link para o miolo do livro: https://www.academia.edu/40000881/A_Destruicao_da_Inteligencia_no_Itamaraty_Edição_do_Autor_2019_ ) e Research Gate (link: https://www.researchgate.net/publication/334450922_Miseria_da_diplomacia_a_destruicao_da_Inteligencia_no_Itamaraty_2019

2) Miséria da diplomacia: a destruição da inteligência no Itamaraty, Boa Vista: Editora da UFRR, 2019, 165 p., livro eletrônico; disponível nos links: https://docs.wixstatic.com/ugd/6e2800_3e88aadf851b4b2ba4b54c6707fd9086.pdf . Incorporado à plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/39882114/Miseria_da_diplomacia_a_destruicao_da_inteligencia_no_Itamaraty_Ed._UFRR_2019_ e a Research Gate https://www.researchgate.net/publication/334593501_Miseria_da_diplomacia_a_destruicao_da_inteligencia_no_Itamaraty

Miséria da Diplomacia: onde tudo começou - Paulo Roberto de Almeida

 Miséria da Diplomacia: A Destruição da Inteligência no Itamaraty (2019)

Paulo Roberto de Almeida

Meu amigo e abastecedor de materiais da imprensa corrente (só a de boa qualidade), Mauricio David, recomenda a leitura do meu primeiro livrinho sobre a horrenda e nefasta dominação do bolsolavismo diplomático sobre a política externa e sobre o trabalho do Itamaraty, o corpo de profissionais encarregados de operar e concretizar as ideias (se por acaso existem) do chefe de Estado e de governo sobre a ação externa do Estado brasileiro: Miséria da Diplomacia: a destruição da inteligência no Itamaraty (2019).

A esse livrinho — publicado em duas edições, uma digital pessoal, de autor, e uma outra pela Editora da UFRR, que está abaico disponivel na plataforma Academia.edu — se seguiu uma série de quatro outros: O Itamaraty num Labirinto de Sombras (2020), Uma Certa Ideia do Itamaraty (2020), O Itamaraty Sequestrado (2021), culminando com Apogeu e Demolição da Política Externa (Appris, 2021), que todos eles trazem minha análise e avaliação sobre o que foi, em épocas passadas, a política externa e a diplomacia dos vários governos e regimes havidos no Brasil.

Aproveitei o link da edição da UFRR para reler esse livrinho escrito de forma algo improvisada e apressada apenas para registrar a minha total desconformidade com o que vinha ocorrendo na política externa e com o que vinha sendo atacado o Itamaraty (uma instituição feudal-burocrática, mas de boa qualidade intelectual), a instituição à qual eu estive ligado de forma ativa entre 1977 e 2021, e da qual sempre fui um analista severo e muito crítico (sobretudo de alguns dogmas duvidosos), hoje apenas um observador isento de seus caminhos incertos e inquietantes.

Ao reler o livrinho, excluindo o caráter prolixo de algumas passagens, muito intelectualoides, descobri que ele oferece um retrato fiel do que foram os dois anos nos quais um chanceler acidental, tresloucado por seus fundamentalismos exóticos, conseguiu destruir muito do capital intelectual, e também humano, pelo qual a minha ex-Santa Casa (do Barão, melhor dito) era conhecida.

Um ano depois de publicar esse livro, tentei um exercício de recuperação de nosso capital intelectual, convidando mais de meia centena de colegas a um exercício clandestino (ou seja, secreto e discreto) de “planejamento de uma política externa pós-bolsonarista”, algo que uma instituição respeitável como sempre foi o Itamaraty pideria facilmente fazer. Talvez pelo fato da pandemia, ou por excesso de temores da parte dessas cinco dezenas de colegas, as respostas foram exígua, menos de cinco, o que me levou a cancelar a iniciativa. Continuei exercendo solitariamente meu trabalho de resistência intelectual ao besteirol bolsolavista, não só no âmbito da política externa e da diplomacia.

Um dia vou relatar como foi essa frustrada tentativa minha de resgatar a dignidade do Itamaraty em face do arbítrio imbecil dos amadores que destruiram a nossa diplomacia, depois dos desvios lulopetistas da fase anterior, a diplomacia partidária de aliança com regimes liberticidas.

Por enquanto, convido todos os interessados a ler, se desejarem, o meu primeiro libelo contra a burrice erigida em diretrizes diplomáticas.

Todos os livros da série estão disponíveis em minha página da plataforma Academia.edu.

Paulo Roberto Almeida

Brasília, 8/03/2025

https://www.academia.edu/40000881/A_Destruicao_da_Inteligencia_no_Itamaraty_Edição_do_Autor_2019_

Trump É um perigo mortal para os EUA e para o mundo - Paulo Roberto de Almeida

Trump É um perigo mortal para os EUA e para o mundo

Paulo Roberto de Almeida 

 Era evidente que Trump era um perigo mortal para os EUA e para o mundo, sobretudo aliado e submisso a um tirano que o manipula desde muito.

Não pode haver nenhuma outra explicação para saber como foi possível que uma nação democrática e basicamente livre — com exceção dos idiotas do armamentismo, que cultuam a violência primária — se entregasse totalmente ao maior vilão desonesto da história do capitalismo americano, inclusive com a submissão completa do outrora racional e aberto ao livre comércio dos grandes caciques do Partido Republicano a um desequilibrado mentiroso, senão esta: uma nação de ignorantes, ingênuos, frustrados pelo seu declínio e pelos recuos temporários na economia, enfim uma nação de arrogantes imperialistas, muitos deles completos idiotas.

Com o perdão de meus amigos americanos, eu pergunto: como vocês foram tão tolos e ingênuos ao ponto de se entregarem a um criminoso machista, xenófobo, supremacista idiota arrogante, que mal sabe falar, e sequer consegue pensar?

Não só vocês estão pagando um preço indevido e excessivo por apoiar um idiota malévolo, mas o mundo inteiro está sofrendo por ele ter se aliado a um totalitário criminoso e destruidor da paz internacional.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 8/03/2025

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