terça-feira, 22 de julho de 2025

Todos querem sua fatia do orçamento público - Bruno Carazza (Valor Econômico)

 As castas encasteladas no grande mandarinato estatal continuam a assaltar, até aqui impunemente, o orçamento público, até aqui impunemente, e de maneira crescente, garantindo, contra a ética e a própria Justiça tributária (supostamente vigiada pela Receita Federal) privilégios aristocráticos exorbitantes, que constituem um ESCÁRNIO contra os brasileiros humildes que ganham salário mínimo e são pesadamente taxados por uma estrutura impositiva altamente regressiva. Até quando esses privilégios vão continuar?

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Todos querem sua fatia do orçamento público
Bruno Carazza
Valor Econômico, segunda-feira, 21 de julho de 2025

Corporações do serviço público buscam ficar a salvo do ajuste fiscal e ter liberdade para autoconceder benefícios

Enquanto a sociedade se distrai com os tarifaços de Trump ou as reviravoltas do processo contra Bolsonaro, a deterioração fiscal e a apropriação de recursos públicos por grupos privados correm soltas.
Na semana passada, usei este espaço para denunciar os pagamentos de honorários para advogados públicos, que estavam sendo realizados em valores superiores a centenas de milhares de reais sem a divulgação no portal de transparência do governo federal desde novembro do ano passado.
Num caso raro de resposta rápida a uma cobrança pública, que foi amplificada por reportagens em diversos veículos de imprensa, o governo disponibilizou as informações sobre os valores na quinta-feira. No dia seguinte, uma procuradora da Fazenda Nacional que recebeu R$ 193.226,92 em honorários apenas no mês de janeiro deste ano me procurou numa rede social para me acusar de estar agindo em nome dos grandes escritórios de advocacia da Faria Lima para “sucatear os serviços públicos”.
Entre acusações pessoais, a procuradora usou um argumento repetido à exaustão pelos integrantes da AGU e das procuradorias da Fazenda, do Banco Central e de autarquias federais. Para eles, os honorários usados para turbinar os seus rendimentos são “verba privada” - ou seja, na sua visão, não integram o orçamento público.
Desde 2017 a União já transferiu, em valores corrigidos pelo IPCA, mais de R$ 18,5 bilhões à associação privada (!!!) que administra os pagamentos aos integrantes das suas carreiras. Apesar de ser uma aberração, a apropriação de recursos públicos ameaça se tornar uma tendência entre a elite do serviço público brasileiro.
Na quarta-feira (16) o plenário da Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei nº 1872/2025, que cria o Fundo de Fortalecimento da Cidadania e Aperfeiçoamento do Ministério Público da União. Para quem acompanha a fábrica de privilégios que é o Estado brasileiro, fica uma dica: sempre desconfie dos nomes bonitos, principalmente aqueles que usam “cidadania”, “democracia”, “social” e afins - é bandeira vermelha de que vem alguma tungada no Erário ou, de forma direta, no contribuinte brasileiro.
O fundo do Ministério Público não tem nada de medida para fortalecer a cidadania. Seu objetivo é garantir para o MPU recursos orçamentários, receitas de inscrições de concursos e ainda 10% da arrecadação de custas judiciais, multas aplicadas pela Justiça e alienação de bens considerados abandonados. Tal qual acontece com o Conselho Curador dos Honorários Advocatícios, a gestão do montante arrebanhado pelo fundo do MPU ficará totalmente a cargo de integrantes do órgão, sem nenhuma supervisão de representantes externos à corporação.
Em termos práticos, se virar lei, o fundo garantirá ao MPU a liberdade para administrar recursos bilionários que ficarão a salvo das imposições dos ajustes fiscais. E muito embora a versão final aprovada pela Câmara tenha vedado a aplicação das receitas do fundo com despesas de pessoal, não será surpresa se essa trava for retirada ou simplesmente ignorada no futuro.
A corrida pela privatização do orçamento público é generalizada entre as carreiras (ou seriam castas?) do serviço público. Proposta parecida está na pauta da Câmara contemplando a Defensoria Pública da União (com seu “Fundo de Fortalecimento do Aceso à Justiça e Promoção dos Direitos Fundamentais”, mais um nome bonito). Da mesma forma, magistrados, delegados da Polícia Federal, auditores da Receita Federal e técnicos do Banco Central, entre outras corporações, têm propostas para assegurar para si a destinação de recursos a fundos parafiscais que poderão ser administrados livremente.
Essa situação se replica nos Estados. No fim de 2024, o governador Romeu Zema (Novo-MG) sancionou lei criando fundos para o Ministério Público, a Defensoria Pública e a Advocacia-Geral do Estado mineiros. Para turbinar esses instrumentos financeiros, além de dotações orçamentárias repassadas pelo Estado, a norma garante aos respectivos órgãos parte do valor recolhido com emolumentos cartoriais e valores provenientes de acordos firmados com entes públicos ou privados - aí incluídos os famosos Termos de Ajustamento de Conduta (TACs).
Os fundos do MP, da Defensoria e da AGE mineiros poderão ser utilizados para múltiplas funções, desde a construção e reforma de imóveis até a aquisição de equipamentos e o treinamento de pessoal. No rol de possibilidades de uso do dinheiro do fundo consta a “realização de despesas de caráter indenizatório”. Em outras palavras: o MP, a Defensoria e a AGE deram um jeito de assegurar recursos para pagar, com total liberdade, os penduricalhos milionários para promotores, procuradores e defensores públicos.
Nesta lógica privatizante do orçamento levada a cabo pelas instituições que deveriam zelar pela boa aplicação dos recursos públicos, em breve precisaremos trocar o lema da bandeira nacional: sai o “Ordem e Progresso” e deveria entrar o “Farinha Pouca, Meu Pirão Primeiro”. É muito mais apropriado.

Perguntas ainda não respondidas adequadamente - Paulo Roberto de Almeida

Perguntas ainda não respondidas adequadamente:

Por que o povo russo, sim, não apenas Putin, está empenhado em massacrar, matar o povo ucraniano, sua cultura, seu patrimônio, depois de ter sido castigado duramente por muitos invasores ao longo dos séculos? Mongois, vikings, suecos, franceses, alemães violentaram o território russo em diversas ocasiões, o que pode ter provocado uma certa paranoia (mas logo o povo irmão da Ucrânia?).

Por que o povo de Israel está denegando ao povo palestino o direito de ter o seu Estado, como os judeus o fizeram, beneficiados temporariamente por circunstâncias excepcionais? Por que invadem suas terras e pretendem implantar o Grande Israel, que nada mais é do que um mito religioso?

Por que determinadas seitas islâmicas se empenham em dominar outros povos, por vezes até outros muçulmanos, estendendo uma dominação que se apoia numa leitura monopolista e imperiaista da sua religião, nunca aberta ao trabalho de exegese? A exegese, ou seja, a critica e a interpretação do texto religioso, foi o que permitiu ao povo judeu e aos povos cristãos a libertação da religião opressiva, fanática e monopolista.

Por que o povo brasileiro não consegue se libertar de uma cultura oligárquica, responsável por uma das sociedades mais desiguais do mundo? Por que não consegue deixar de apoiar políticos corruptos, demagogos e mediocres? Deve ser por falta de educação, mas depois de tanto tempo ainda não conseguiu resolver essa questão elementar?

Perguntas, por enquanto, sem respostas adequadas. 

Virão algum dia?

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 22/07/2925


segunda-feira, 21 de julho de 2025

Oyez, oyez, citoyens! Relembrando Nelson Rodrigues e Umberto Eco - Paulo Roberto de Almeida

Oyez, oyez, citoyens! Relembrando Nelson Rodrigues e Umberto Eco

        Não estou proibindo a burrice. Todos têm o amplo direito democrático de expressar suas estupidezes pessoais nos espaços que constroem para si próprios nas ferramentas disponíveis de informação e de comunicação.
        Nelson Rodrigues, antes da internet, Umberto Eco, já no domínio das redes, alertaram para o perigo iminente da multiplicação dos idiotas nos espaços sociais: eles iriam se sobrepor às vozes da inteligência apenas pelo seu número avassalador. 
        Atuando solitariamente em meus espaços nestas ferramentas, defendendo meu quilombo de resistência intelectual, representado por meu blog Diplomatizzando, creio ter todo o direito de impedir a invasão dos idiotas e dos militantes ignorantes de certos credos extremistas nestes meus instrumentos de informação e de comunicação, recomendando aos enquadrados nas restrições que eles contenham seus comentários nos seus próprios espaços  ou nos de seus semelhantes e colegas de tribo. Não tenho porque poluir meu copyright com burrice alheia.
    
        Eis minha declaração de princípios:
“Diplomatizzando
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.”

        Sublinho racionalidade e inteligência; tudo o que ofender esses modestos critérios será imediatamente deletado das minhas ferramentas. 
C’est mon droit et mon devoir!
Proteção da inteligência, preservação da racionalidade. 

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 21/07/2025

Uma pequena história econômica, desastrosa, do mundo (e do Brasil) - Paulo Roberto de Almeida

Uma pequena história econômica, desastrosa, do mundo (e do Brasil)

Paulo Roberto de Almeida

Nota sobre a destruição do mundo por Mister Trump 

 

Não sei se a realidade atual do “comércio” bilateral Brasil- EUA, assim como a dos EUA para com o mundo inteiro, é ubuesca, surrealista, talvez kafkiana, ou apenas e simplesmente psiquiátrica: vcs escolhem a melhor opção.


Milhares de empresários e de trabalhadores, milhões de consumidores americanos e brasileiros, várias centenas de intermediários (nos documentos de crédito, financiamentos e pagamentos correntes), ou seja, toda a cadeia produtiva, comercial, atacadista e varejista dos dois paises, está à mercê dos humores de dois presidentes que não conseguem, não querem e não podem iniciar negociações, sequer uma primeira conversa a respeito da absurda medida adotada pelo presidente americano de taxar pesadamente, unilateralmente e ilegalmente (pelas regras do GATT) as exportações brasileiras para os EUA.


Todo o espetáculo grotesco dos contínuos tarifaços trumpistas, dirigidos de forma circense, aos 196 países da comunidade internacional, conforma algo tão inédito na história do GATT e da economia mundial que os futuros historiadores da área terão dificuldade em como classificar esses atos arbitrários e incompreensiveis, ao atingir pesadamente os interesses de todos, começando pelos interesses do seu próprio país e do seu povo. 

Parece algo similar à decisão de um novo Átila imperial mobilizando todos os seus guerreiros armados e colocando-os na linha de frente de invasões sucessivas de territórios estrangeiros, simplesmente com o objetivo de destruir o que encontram pela frente, sem qualquer critério de conquista e incorporação a uma nova ordem imperial: se trata de pura destruição do que existe, instituições que os próprios EUA tinham concebido e criado ao cabo da IIGM, depois dos equívocos monumentais que eles próprios tinham perpetrado em 1930 e 1934, ao adotar medidas comerciais e cambiais totalmente desastrosas, que aprofundaram a crise iniciada em 1929 e que mergulharam o mundo na Grande Depressão dos anos 1930, e que culminaram na maior guerra global (até aqui) na história da humanidade.


Trump, por ignorância excepcional, arrogância doentia e impulsividade demencial, está simplesmente desmantelando tudo o que os “pais fundadores” americanos tinham concebido e implementado, como nova ordem econômica global, começando em Bretton Woods (1944), aprofundado em Londres e Genebra (1946-47), e que durante 80 anos serviu para trazer paz e prosperidade ao mundo (sobretudo “ocidental”, pois que Stalin vetou a incorporação da URSS e do império soviético a essa nova ordem econômica), uma arquitetura comercial e financeira confirmada e ampliada a partir dos anos 1990.


Trump ignora tudo isso e se dispõe a destruir tudo o que existe, atingindo centenas de milhões, alguns bilhões de seres espalhados em praticamente todos os países do globo. Infelizmente a ONU não dispõe de um “esquadrão psiquiátrico emergencial” capaz de deter o tresloucado dirigente que se crê um imperador mundial. 

O novo Átila continua solto…

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 21/07/2025


Capitalismo e liberdade nos Estados Unidos e no Brasil: releitura do clássico de Milton Friedman na perspectiva do Brasil - Paulo Roberto de Almeida


Capitalismo e liberdade nos Estados Unidos e no Brasil

Apresentação-debate no dia 24/07, 19h00 (informarei o link)

Haverá um poster-convite para esta palestra que vou dar no dia 24/07, 19hs (informarei o link). Mas já transcrevo o texto que preparei sobre o tema. Há uma apresentação sintética que também colocarei à disposição dos interessados:

4957. Capitalismo e liberdade nos Estados Unidos e no Brasil: releitura do clássico de Milton Friedman na perspectiva do Brasil (Brasília: Diplomatizzando, 2025, 84 p.; ISBN: 978-65-01-53577-7), Brasília, 19 junho 2025, 84 p. Livro composto na série dos clássicos revisitados, para apresentação em evento da série de leituras do Livres em 24/07/2025. Disponível nas plataformas Academia.edu (link: https://www.academia.edu/.../Capitalismo_e_liberdade_nos...) e Research Gate (link: https://www.researchgate.net/.../392817753_Capitalismo_e...); divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/.../livro-disponivel...). Relação de Publicados n. 1579.




Leitura de livro: Eugênio Giovenardi: Os Fugitivos da Água - Paulo Roberto de Almeida

Resumo rápido por Paulo Roberto de Almeida

Leitura de livro:
Eugênio Giovenardi:
Os Fugitivos da Água
(Goiânia: Kelps, 2025)


        Estou lendo este "romance científico futurista", se assim posso classificar este livro, do meu amigo, colega sociólogo (embora eu nunca tenha exercido a profissão) e colega de academia, no caso o IHG-DF, obra que tem uma construção original, mas que é embasada (cada linha, cada parágrafo, cada capítulo) na mais pura informação científica, nos campos da ecologia, da sociologia, da economia, da biologia e muitas outras disciplinas trabalhadas com esmero e profundo conhecimento por este "Renaissance Man" (provavelmente mais do que isto).

        Trata-se de um relato feito em meados do século XXII, ou seja, em torno de 2150, sobre o desaparecimento do mundo como o conhecemos hoje, a partir de uma fissura geológica na África (entre o Sudão e a Etiópia) que precipita uma invasão dos mares sobre territórios habitados, uma espécie de "Segundo Dilúvio".
O suposto autor, ou narrador da catástrofe ecológica, é Seven Oitis, descrito como um "Naturólogo, Licenciado em Inteligência Ambiental", cujo nome, escrito ao inverso, significa simplesmente "Sítio Neves", ou a morada do Eugênio.

        Ele cita um autor de um livro, "O Outono Sem Fim" (publicado em 2119), que seria Lechar Nosrac, também um nome invertido, que remete à famosa Rachel Carson, autora de "Silent Spring" (1962; reeditado muitas vezes, e ainda hoje lido com devoção por todos os ativistas da defesa ambiental (o que é exatamente a mais importante atividade de Eugênio Giovenardi).
        A Rachel Carson é praticamente a "mãe" do movimento ecologista contemporâneo, tendo denunciado o uso de defensivos agrícolas por grandes empresas da área, sabotada por eles, mas que se impôs corajosamente até a proibição legal do uso de vários produtos tóxicos nocivos à alimentação humana. Vcs podem ter uma ideia da importância dela lendo a biografia na Wikipedia, e verificando os livros na Amazon.
        Não vou relatar o enredo do livro, pois quero que os que lerem esta nota procurem a obra para saber como é que a humanidade, ou boa parte dela, se tornou "Fugitiva da Água", um dilúvio, ou super inundação, causada pela destruição da natureza pela ação humana.
        O que sim gostaria de confirmar é a riqueza da informação científica manipulada de forma competente por Giovenardi, uma vez que, como afirmei acima, cada frase dele vem sustentada em fatos reais, do mundo natural, trabalhados por cientístas, e explicados de maneira racional, mas de forma agradável, atraente.

        Transcrevo um trecho, da p. 78-79:
        "Perguntava-se Lechar Nosrac [ou seja, a Rachel Carson do século XXII], em uma de suas muitas entrevistas à imprensa televisiva, 'como foi que se chegou a esta raiva do tempo, da natureza, do planeta? Que foi feito da primavera que chegava antes do verão?' As neves nórdicas e as águas da Antártida derretidas não só modificaram os costumes dos habitantes do mar, como alteraram o modo de vida dos moradores dos continentes invadidos. Documentários produzidos nos grandes degelos dos anos 2060 [ou seja, o resultado prático do aquecimento global, já em curso neste século], registravam cenas reveladoras dos alertas repetidos por inúmeras agências observadoras do clima e dos fenômenos físicos ao redor do planeta. Por incredulidade, ou incompetência ou 'interesses maiores' não haviam sido levados a sério pela população nem pelos órgãos da administração pública dos países, localizados à margem de oceanos e possuidores de grandes rios que neles desembocavam."

        Voilà, isso dá uma ideia de como Giovenardi desenvolve seu argumento, por vezes narrado pelo 'autor' (Seven Oitis) ou pela Rachel Carson (invertida) do futuro (a verdadeira morreu dois anos depois de seu famoso livro, em 1964. Os capítulos são descritos pelo narrador, com dois amigos também cientistas, e eles vão repassando toda a literatura científica sobre o meio ambiente desde os anos 1960, 70 (primeira conferência sobre meio ambiente, em Estocolmo, em 1972), os alertas do Clube de Roma e todos os malthusianos e catastrofistas do esgotamento dos recursos naturais, a destruição da natureza, os relatórios "da antiga Organização das Nações Unidas" (ou seja, ela já terá desaparecido no século XXII, e Trump, por uma vez, não é o culpado direto, pois o livro foi escrito antes que o laranjão começasse a destruir o mundo de forma mais afirmada) e uma pletora de outros materiais relacionados na bibliografia do livro.
        A obra termina, justamente, por uma entrevista com Lechar Nosrac, ou seja, a Rachel Carson do futuro.

        Aos que desejarem saber mais sobre o autor e suas obras, recomendo uma visita a uma (ou mais) de suas páginas, podendo começar por aqui.


Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 21/07/2025

domingo, 20 de julho de 2025

Apocalypse now? Uma reflexão sobre grandes crises que nos atingiram e seus principais responsáveis - Paulo Roberto de Almeida

 Apocalypse now?

Uma reflexão sobre grandes crises que nos atingiram e seus principais responsáveis

Paulo Roberto de Almeida

O mundo e o Brasil, todos nós, das quatro gerações que precederam a nossa, conhecemos algumas crises devastadoras, nos últimos cem anos. Todas elas podem ser identificadas pelos nomes dos principais (não exclusivos) responsáveis.

1929 foi uma simples crise do mercado acionário americano, e o país já estava a se recuperando em março-abril de 1930 (conforme li num número da Economist dessa data), quando o presidente Herbert Hoover sancionou a Lei Tarifária Smoot-Hawley em junho desse ano, contra a opinião de mais de 200 economistas, que tinham alertado nas páginas do NYT contra a aprovação desse ato protecionista.
Não deu outra: mais do que a crise da Bolsa de NY no ano anterior, o ato precipitou respostas de outros países, igualmente protecionistas, e preparou o terreno para as crises bancárias europeias de 1931, que lançaram o mundo na Grande Depressão.
Podemos chamar essa de "Crise Hoover".
Ambas foram responsáveis pela maior crise econômica no Brasil até aquele ano: em 1930-1931, o PIB decresceu 6%, mas depois se recuperou, com as medidas adequadas tomadas pelo novo ministro da Fazenda, Oswaldo Aranha.

2014-2015: foi uma crise cuidadosamente preparada pela sua administradora principal, a chefe da Casa Civil, e sua tropa de economistas amestrados da "Nova Matriz Econômica". Tivemos uma recessão superior à de 1931: menos 8% no PIB e menos 10% no PIB per capita. Foi a maior crise da história econômica do Brasil, até aqui.
Podemos chamar a essa de "Crise Dona Dilma".
A recuperação foi dura, e só veio depois do impeachment da presidente em 2016, com o governo Michel Temer e um programa dirigido pelo ministro da Fazenda Henrique Meirelles (que já tinha debelado a crise criada pela eleição de Lula em 2002, à frente do Banco Central entre 2003 e 2010) . Foi duro mas passou.

2025-202?: estemos assistindo à construção da "Crise Trump", que vai afetar não apenas os Estados Unidos, mas também o mundo inteiro, embora com variações em função das retaliações tarifárias e outras.
O Brasil vai ser um dos mais atingidos, não apenas em virtude das tarifas de 50% (talvez mais, se medidas retorsivas forem adotadas pelo Brasil), mas também pelas investigações da Seção 301 da Lei Comercial americana de 1974, tudo isso por motivação puramente política (entre elas a briga pessoal Trump-Lula), ligada ao clã dos "traidores da pátria", mais o efeito Brics+.

Como sempre, todas essas crises – mais a dos países em desenvolvimento de 1997-1999, a dos países desenvolvidos, a imobiliária de 2007 e a bancária de 2008 – resultam de uma mistura de políticas econômicas erradas e da impulsividade de certos dirigentes: Hoover, Dilma, agora Trump (with a little help from Lula, se este se agita muito contra o laranjão demencial).

Vou ter de atualizar meu quadro das crises econômicas relevantes, que já fiz com base no livro do Charles Kindleberger, Panic, Manias and Crashes, atualizado e aumentado para a AL e o Brasil até o início dos anos 2000.

Paulo Roberto de Almeida
Brasilia, 20/07/2025

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...