quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Sobre um tirano e seus amigos: o caso excepcionalmente exemplar do tirano de Moscou e seus amigos eventuais - Paulo Roberto de Almeida

Sobre um tirano e seus amigos: o caso excepcionalmente exemplar do tirano de Moscou e seus amigos eventuais.

Paulo Roberto de Almeida 

Putin tornou-se o ditador de uma única obsessão: dobrar a Ucrânia, o que ele não conseguirá fazer. 

Vai continuar sacrificando seus soldados, e os muitos mercenários que comprou, sem jamais atingir seus objetivos, a despeito da ajuda vinda de seu submisso amigo americano. 

Putin vai passar à História como um tirano fracassado e aqueles que o apoiam serão considerados como amigos de um criminoso de guerra, de um sequestrador de crianças, autor de crimes contra a humanidade. 

Como algum estadista responsável pode sequer tolerar ser considerado amigo de um monstro como Putin?

Putin só vai conseguir destruir o próprio potencial econômico e humano do seu país, o maior do planeta. 

Existe alguma razão razoável para alguém pretender alinhar seu país a um tirano desse calibre? Existe algum sentido nesse tipo de ignomínia? 

Os que o fazem devem igualmente pretender exibir a mesma prepotência ditatorial que tem o tirano de Moscou, o grande senhor de todos os crimes, aguardando um Nuremberg só seu. 

A História também julgará os que estiveram do seu lado…

Paulo Roberto de Almeida


From: nazar_andrew:

“Trump wants the war in Ukraine to end. Zelensky wants the war in 🇺🇦 to end. Many other presidents and prime ministers want the war to end. Putin is not one of those presidents. The war in 🇺🇦 has become the political, psychological and economic center of Putin’s regime.

That basic asymmetry would seem to doom any attempt at a negotiated peace — it is, in fact, the main reason no meaningful peace negotiations have occurred in the three and a half years since 🇷🇺 began its full-scale invasion.”

terça-feira, 12 de agosto de 2025

Existem protecionismos e protecionismos: o de Trump é o primeiro na história que vai conseguir destruir o seu país - Paulo Roberto de Almeida

Existem protecionismos e protecionismos: o de Trump é o primeiro na história que vai conseguir destruir o seu país

Paulo Roberto de Almeida

        Na história econômica mundial, sobretudo no percurso das políticas e práticas comerciais, o protecionismo sempre foi bem mais frequente, recorrente, intensivo e comum, do que o livre comércio e o liberalismo nas políticas comerciais dos Estados nacionais.
        O livre comércio sempre teve mais inimigos e opositores, do que o protecionismo, praticado à larga e de forma permanente. Empresários e políticos sempre recorreram ao protecionismo, como forma de criar e de proteger sua renda, mesmo sabendo que a prática, e a política, prejudica os mais pobres, os consumidores em geral.
        O Brasil, por exemplo, sempre foi um dos países mais protecionistas do mundo, em toda a sua história independente, e ainda tem economista que se orgulha desse gesto ofensivo ao bem-estar da maioria da população, pretendendo defender a "indústria nacional" e a renda do país. Isso é uma mentira, pois não existe nenhuma "indústria nacional", ou seja, do país, apenas indústrias de empresários privados e indústrias estatais, que são controladas e abusadas por políticos oportunistas e rentistas.
        Os Estados Unidos também já foram muito protecionistas, a primeira vez para se vingar da Grã-Bretanha, durante a segunda guerra da independência, depois ocaionalmente ao longo de uma história que também conheceu seus presidentes protecionistas e orgulhosos de sê-lo: McKinley, por exemplo, ou Hoover, este precipitando a maior depressão nas economias capitalistas avançadas de que se tem notícia na história econômica mundial.
        Portanto, nada de inusual, exótico ou estranho no protecionismo. O livre cambismo, sim, é uma exceção, ou uma raridade.
        Agora, Trump é um caso raro, e vai passar à História como o presidente protecionista que conseguiu fazer regredir a indústria em seu país, e que provavelmente vai destruir setores importantes da economia americana, atrasar o país e fazê-lo retroceder parcialmente para a segunda revolução industrial.
Eu acho incrível que os economistas sensatos e os empresários normais não estejam gritando alto contra o protecionismo de Trump, que só pode prejudicar a todos nos EUA, em especial os mais pobres e os consumidores em geral.
        O protecionismo mais destrutivo, o mais burro, o mais estúpido da história dos EUA, totalmente compatível com a mentalidade doentia, profundamente ignorante, autoritária e soberba desse presidente que está acelerando o declínio americano.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 12/08/2025

O tarifaço de um desvairado e a vingança de uma família de canalhas políticos - Paulo Roberto de Almeida

O tarifaço de um desvairado e a vingança de uma família de canalhas políticos

Paulo Roberto de Almeida

 Os tarifaços de Trump (sim, são vários, todos ilegais do ponto de vista do sistema multilateral de comércio) são flexíveis, pois podem ser postergados, flexibilizados, contornados, segundo os interesses exclusivamente nacionais dos EUA e do governo Trump, como já vimos em vários casos, nomeadamente China e México, entre outros. Apenas sobre o Brasil, seu tarifaço de 10% acrescido de mais 40%, mais seção 301 do Trade Act e outras medidas políticas, deverá ser aplicado deliberadamente, punitivamente, impreterivelmente, pois tal é a decisão do novo candidato a imperador do mundo.

O Brasil produtivo, tanto o das commodities, quanto (e mais importante) o de manufaturados, vai ser duramente penalizado, bem mais do que outros parceiros dos EUA, e isso por EXCLUSIVA RESPONSABILIDADE DA FAMÍLIA BOLSONARO, que mais uma vez colocou seus interesses pessoais acima dos interesses nacionais, e exclusicamente para tentar escapar de uma justa punição por tentarem dar um golpe no Brasil e implantar uma vergonhosa ditadura, e nem seria igual a de 1964, por seria inteiramente SUBMISSA a Trump e aos EUA, o que nem os militares de 1964 ousaram ser. Sórdidos canalhas, ao retirar emprego e renda de centenas de milhares de trabalhadores e ao inviabilizsr centenas de empresas, pequenas, médias e grandes.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília 12/08/2025

Lula quer resposta a tarifaço com grupo que Trump odeia:
https://www.youtube.com/watch?v=yMkwiIlmQag

Tarifaço começa com quase nenhuma chance de acabar:
https://www.youtube.com/watch?v=dwFU8pPx6b4

Calor da crise política aumenta e não tem bombeiro:
https://www.youtube.com/watch?v=HVhrdZrzCaU

Moraes abandona prudência e prende Bolsonaro em casa:
https://www.youtube.com/watch?v=UqFv0152GwE

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A Região Sul do país segue como a mais afetada pelo tarifaço, mesmo após o anúncio da lista de isenção para quase 700 setores. Depois de São Paulo, os estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, são, respectivamente, os mais prejudicados com a nova taxação que entrou em vigor na quarta-feira, dia 6. A corrida agora é para atenuar os impactos do tarifaço.
https://www.youtube.com/watch?v=Pxtjwvntgd4

As tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, devem causar um impacto de US$ 2 trilhões até 2027 em relação ao cenário anterior ao conflito tarifário, segundo estimativas da Bloomberg Economics.
https://www.youtube.com/watch?v=pzg5cLxZEJY

domingo, 10 de agosto de 2025

A grande Ilusão do BRICS e o universo paralelo da diplomacia brasileira (2022) - Paulo Roberto de Almeida


A grande ilusão do Brics e o universo paralelo da diplomacia brasileira
Paulo Roberto de Almeida
Diplomatizzando – 2022

Índice

Prefácio: Brics: uma ideia em busca de algum conteúdo
1. O papel dos Brics na economia mundial
O Bric e os Brics
A Rússia, um “animal menos igual que os outros”
A China e a Índia
E o Brasil nesse processo?

2. A fascinação exercida pelo Brics nos meios acadêmicos
Esse obscuro objeto de curiosidade
O Brasil, como fica no retrato?
Russia e China: do comunismo a um capitalismo especial
O fascínio é justificado?
O que os Brics podem oferecer ao mundo?

3. Radiografia do Bric: indagações a partir do Brasil
Introdução: a caminho da Briclândia
Radiografia dos Brics
Ficha corrida dos personagens
De onde vieram, para onde vão?
New kids in the block
Políticas domésticas
Políticas econômicas externas
Impacto dos Brics na economia mundial
Impacto da economia mundial sobre os Brics
Consequências geoestratégicas
O Brasil e os Brics
Alguma conclusão preventiva?

4. A democracia nos Brics
A democracia é um critério universal?
Como se situam os Brics do ponto de vista do critério democrático?
Alguma chance de o critério democrático ser adotado no âmbito dos Brics?

5. Sobre a morte do G8 e a ascensão do Brics
Sobre um funeral anunciado
Qualificando o debate
O que define o G7, e deveria definir também o Brics e o G20
Quais as funções do G7, que deveriam, também, ser cumpridas pelo G20?

6. O Bric e a substituição de hegemonias
Introdução: por que o Bric e apenas o Bric?
Bric: uma nova categoria conceitual ou apenas um acrônimo apelativo?
O Bric na ordem global: um papel relevante, ou apenas uma instância formal?
O Bric e a economia política da nova ordem mundial: contrastes e confrontos
Grandezas e misérias da substituição hegemônica: lições da História
Conclusão: um acrônimo talvez invertido

7. Os Brics na crise econômica mundial de 2008-2009
Existe um papel para os Brics na crise econômica?
Os Brics podem sustentar uma recuperação financeira europeia?
A ascensão dos Brics tornaria o mundo mais multipolar e democrático?

8. O futuro econômico do Brics e dos Brics
Das distinções necessárias
O Brics representa uma proposta alternativa à ordem mundial do G7?
O que teriam os Brics a oferecer de melhor para uma nova ordem mundial?
O futuro econômico do Brics (se existe um...)
Existe algum legado a ser deixado pelo Brics?

9. O Brasil no Brics: a dialética de uma ambição
O Brasil e os principais componentes de sua geoeconomia elementar
Potencial e limitações da economia brasileira no contexto internacional
A emergência econômica e a presença política internacional do Brasil
A política externa brasileira e sua atuação no âmbito do Brics
O que busca o Brasil nos Brics? O que deveria, talvez, buscar?

10. O lugar dos Brics na agenda externa do Brasil
Uma sigla inventada por um economista de finanças
Um novo animal no cenário diplomático mundial
Existe um papel para o Brics na atual configuração de poder?
Vínculos e efeitos futuros: um exercício especulativo

11. Contra as parcerias estratégicas: um relatório de minoria
Introdução: o que é um relatório de minoria?
O que é estratégico numa parceria?
Quando o estratégico vira simplesmente tático
Parcerias são sempre assimétricas, estrategicamente desiguais
A experiência brasileira de parcerias: formuladas ex-ante
A proliferação e o abuso de uma relação não assumida

Posfácio: O Brics depois da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia

Indicações bibliográficas
Nota sobre o autor


Vidas Paralelas: Rubens Ricupero e Celso Lafer nas relações internacionais do Brasil (2025) - Paulo Roberto de Almeida

Já em pré-venda, no Ateliê de Humanidades  


Prefácio
Fernando Paulo de Mello Barreto Filho

A título de apresentação:
Uma nota pessoal sobre minhas afinidades eletivas

1. Uma história intelectual: paralelas que se cruzam
1.1. Por que uma história intelectual paralela?
1.2. Por que vidas paralelas numa história intelectual?
1.3. Quão “paralelos” são Rubens Ricupero e Celso Lafer?
1.4. A importância de Ricupero e de Lafer nas relações internacionais do Brasil
1.5. O sentido ético de uma vida dedicada à construção do Brasil

2. Rubens Ricupero: um projeto para o Brasil no mundo
2.1. Do Brás italiano para o Rio de Janeiro cosmopolita
2.2. Um começo desconcertante na vida diplomática
2.3. Uma carreira progressivamente ascendente, pela via amazônica
2.4. Afinidades eletivas com base no estudo do Brasil e no conhecimento do mundo
2.5. Professor de diplomatas e de universitários, no Instituto Rio Branco e na UnB
2.6. O assessor internacional e o Diário de Bordo da viagem de Tancredo Neves
2.7. O Brasil no sistema multilateral de comércio
2.8. O mais importante plano de estabilização da história econômica brasileira
2.9. Unctad: a batalha pela redução das desigualdades globais
2.10. Um pensador internacionalista, o George Kennan brasileiro
2. 11. A figura incontornável de Rio Branco, o paradigma da ação diplomática
2.12. Brasil: um futuro pior que o passado?
2.13. O Brasil foi construído pela sua diplomacia? De certo modo, sim
2.14. Quais as grandes leituras de Rubens Ricupero?

3. Celso Lafer: um dos pais fundadores das relações internacionais no Brasil
3.1. A abertura de asas de um intelectual promissor
3.2. A tese de Cornell sobre o Plano de Metas de JK
3.3. Irredutível liberal: ensaios e desafios
3.4. As relações econômicas internacionais: reciprocidade de interesses
3.5. A trajetória de Celso Lafer nas relações internacionais do Brasil
3.6. Direitos humanos: a dimensão moral do trabalho intelectual
3.7. Um diálogo permanente com Hannah Arendt
3.8. Norberto Bobbio: afinidades eletivas com o sábio italiano
3.9. A aventura da revista Política Externa e seu papel no cenário editorial
3.10. A diplomacia na prática: a primeira experiência na chancelaria, 1992
3.11. A diplomacia na prática: a segunda experiência na chancelaria, 2001-2002
3.12. No templo dos imortais: “intelectual militante” e “observador participante”
3.13. O judaísmo laico de Lafer e a unidade espiritual do mundo de Zweig
3.14. Uma coletânea dos mais importantes artigos num amplo espectro intelectual
4. Paralelas convergentes: considerações finais
4.1. Bildung pessoal nas relações internacionais do Brasil
4.2. A dupla dimensão das vidas paralelas
4.3. Dois “professores” e não só de política externa
4.4. A République des Lettres do Itamaraty e dois dos seus representantes

Bibliografia

Em venda na Amazon.com.br (link).

Mangabeira por Muniz Sodré (FSP)

Um diagnóstico com brilho de pirita

 Muniz Sodré

FOLHA DE S PAULO , 09.ago.2025 às 14h35


Nem tudo que reluz é ouro, nem tudo que brilha em Harvard deve ser levado, acriticamente, a sério. 

É o que vem à mente após a leitura de um texto do renomado professor de filosofia e teoria social daquela universidade, Roberto Mangabeira Unger, brasileiro-americano. 

Ele compartilha o bom senso já generalizado de que o Brasil precisa deslocar-se do fornecimento de commodities físicas para o de serviços de conhecimento. Nisso é fundamental universidade de alto nível.

Até aí, reluz o argumento. 

Em seguida, porém, sustenta que entrave para o nível desejado é a dificuldade brasileira na contratação de professores estrangeiros. 

Ninguém duvida da importância da diversidade de cérebros, nem minimiza os desestímulos paralisantes de verbas e burocracia. 

Mas, para quem chefiou por duas vezes uma Secretaria de Assuntos Estratégicos, é surpreendente desconhecer a excelência das instituições nacionais que combinam ensino, pesquisa e extensão. Cabe especular se, no exercício daquelas funções, alguma vez se cogitou definir universidade como recurso estratégico.

Ninguém é titular em Harvard à toa. Ainda mais quando referendado por pensadores como Jürgen Habermas e Richard Rorty, luminares da elite acadêmica internacional. Entre nós, Unger pertence à linhagem baiana dos Mangabeira, berço de políticos e juristas importantes. A seu avô, Otávio Mangabeira, então governador da Bahia, atribui-se a boutade jurídico-política "o povo é uma massa falida".

Autor complexo, Unger presta-se mais à compreensão nos escritos programáticos, fonte provável de suas intervenções e relacionamentos ao longo de décadas com políticos brasileiros. Centraliza a discussão de alternativas às formas institucionais que regem a sociedade, sempre guiado pelo pressuposto filosófico de um "infinito corporificado no finito humano". 

Ou seja, o homem como algo mais do que o fechamento societário lhe permite ser.

Presume-se que esse tipo de discurso, atrativo a iniciados em filosofia, possa render discussões sedutoras na távola redonda dos scholars e, mesmo, de artistas. 

Deriva de uma linha dos "studia humanitatis" oitocentistas, em que se valorizavam a civilidade iluminista e o homem de letras, entendido como sujeito de uma autoridade ideológica análoga a do sábio ou a do herói cívico. Era a perspectiva do escocês Thomas Carlyle, expoente da reacionária historiografia romântica na Inglaterra.

O pensamento programático de Unger persegue a busca política de um herói, um homem de qualidades. Seria o caminho para elevar o nível universitário, rumo à competitividade em serviços. 

Mas ele é taxativo: Lula não é líder sério, ideal seria alguém parecido a Prudente de Morais: histórico ponto de ascensão das oligarquias agrárias, o exterminador de Canudos. 

Diagnóstico estranho, coincidente com a agressão americana, para quem aceitou posições nos governos de Lula e Dilma, numa espécie de ministério de ideias fora do lugar.

O diagnóstico mais se ofusca ao esquecer que a política de chantagem/humilhação de Trump, incubadora de antiuniversidades, não poupa a instituição do professor Unger. 

Filosoficamente preocupado com a abstrata libertação do homem, ele não enxerga o momento de resistência ao milicianismo imperial. 

Diz, porém, José Sócrates, ex-premiê português: "A Europa aceitou a humilhação, o Brasil enfrentou-a". E o New York Times: "Talvez não exista um líder mundial desafiando o presidente Trump com tanta veemência quanto Lula".


O BRICS É UMA MIRAGEM - Editorial do Estadão e meus comentários, Paulo Roberto de Almeida

Um editorial do Estadão e meus comentários prévios sobre a grande fraude do BRIC-BRICS-BRICS+

Paulo Roberto de Almeida

        Tudo o que já escrevi sobre o BRIC, todas as reflexões sobre o BRICS no seguimento e, mais recentemente, as críticas dirigidas ao BRICS+ estão sintetizadas neste editorial do Estadão, que subscrevo em sua integridade.

        Amorim, aliás, tinha ódio de mim por apontar, desde 2006, a inconsistência desse agrupamento contra a própria natureza de nossa política externa e contra todos os padrões tradicionais de trabalho de nossa diplomacia profissional. 

        Sempre considerei estranho e muito indesejável o Itamaraty se submeter tão passivamente a uma ideia vinda do alto — da diplomacia personalista e atiçada pela personalidade megalomaníaca de seu assessor, antes chanceler — sem qualquer estudo técnico que embasasse essa ideia maluca — a do Brasil aliado a duas grandes autocracias e a uma democracia de baixa qualidade — apenas para satisfazer os baixos instintos antiamericanos dos petistas, sem qualquer resistência intelectual e sem demonstrar conceitualmente e na prática a insustentabilidade desse projeto contrário aos interesses nacionais. 

        Não estou dizendo isto agora: formulei minhas observações desde 2006, e numa série de artigos e entrevistas, depois enfeixados no livro A Grande Ilusão do Brics e o universo paralelo da diplomacia brasileira (2022), disponível em Kindle; mantenho todas as críticas que fiz, ainda que de forma moderada (por ainda estar na ativa) e pelas quais paguei o duro preço do ostracismo ilegal imposto pelo ideólogo que se acredita diplomata.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 10/08/2025


O BRICS É UMA MIRAGEM

A reação nula à ofensiva tarifária de Trump rasga a fantasia de Lula a respeito do Brics, que em seu primeiro grande teste como bloco econômico mostrou que, na prática, é cada um por si

Editorial – Estadão, 09/08/25

A mais recente investida tarifária de Donald Trump contra Brasil e Índia – ambos atingidos com sobretaxas de 50% – foi o primeiro teste real da capacidade do Brics de agir como bloco. O resultado foi desolador: silêncio, hesitação e, por fim, declarações vagas que não ousaram sequer mencionar o agressor. Se o Brics já parecia um clube retórico, sob a presidência brasileira provou-se irrelevante.

O contraste entre o tamanho da retórica e a inércia prática revela muito sobre a política externa do governo Lula. Desde o início do terceiro mandato, o presidente apostou no Brics como vitrine de liderança global e contraponto à “hegemonia” americana. Essa aposta, como se vê agora, foi um grosseiro erro de cálculo: a China, real centro de gravidade do grupo, move-se segundo seus próprios interesses; a Índia busca equilibrar-se entre Moscou e Washington; e os autocratas agregados à mesa pouco ou nada podem oferecer além do ressentimento diante da política de força dos Estados Unidos.

O episódio também expôs o isolamento estratégico do Brasil. Em vez de preparar terreno para negociações diretas com Washington – algo que um estadista faria mesmo diante de antagonismos pessoais –, Lula preferiu acionar um foro incapaz de oferecer respostas concretas. Essa escolha tem menos a ver com pragmatismo e mais com a esclerosada “doutrina Amorim”, inspirada pelo chanceler de facto Celso Amorim: antiamericanismo como princípio, aproximação automática com China e Rússia como meio, e, como fim, a crença de que um tal “Sul Global” coeso existe e aguarda ansiosamente a liderança de Lula.

A realidade é bem menos romântica. O Brics, criado como plataforma para grandes economias emergentes ampliarem sua voz em instituições multilaterais, degenerou em arena de disputa sino-indiana e instrumento de projeção geopolítica de Pequim. A ampliação recente, patrocinada por China e Rússia com a complacência de Lula, diluiu a influência brasileira e reforçou o caráter autoritário do clube. Na prática, servimos como figurantes para causas alheias – e, agora, como alvo fácil para um governo americano disposto a punir quem flerta com rivais estratégicos.

Trump, ao substituir as regras de Bretton Woods por negociações transacionais e confrontos bilaterais, reposicionou o tabuleiro global. Nesse jogo, países como o Brasil não são protagonistas: são peças a serem descartadas ou usadas como exemplo. A reação brasileira – consultar parceiros para “avaliar impactos” – não impressiona nem adversários nem aliados. Ao contrário: sinaliza fraqueza e confirma a percepção de que Brasília não dispõe de estratégia para ir além de declarações protocolares.

O custo dessa imprudência já é visível – e salgado. Exportadores perdem acesso ao maior mercado do mundo; setores inteiros, do agronegócio à indústria, enfrentam incertezas; e a margem de manobra diplomática encolhe a olhos vistos. Enquanto isso, o Planalto insiste em discursos sobre a substituição do dólar, acenos públicos a regimes autoritários e gestos de alinhamento a Pequim – provocações gratuitas que apenas agravam o quadro.

Não há nada de inevitável nesse enredo. A tradição diplomática brasileira sempre foi de não alinhamento pragmático: cultivar relações com todos, preservar autonomia e evitar ser arrastado para disputas alheias. Essa tradição, que historicamente permitiu ao Brasil atuar como interlocutor confiável, está sendo corroída por escolhas ideológicas e pelas ambições pessoais de Lula, que sacrificam o capital diplomático do País em nome de uma narrativa terceiro-mundista.

O episódio deveria servir de lição. A independência não se constrói com bravatas contra Washington nem com subserviência a Pequim, mas com credibilidade, diversificação de parcerias e defesa consistente dos próprios interesses. Enquanto Lula insistir em transformar a política externa em palanque ideológico, o Brasil continuará pagando a conta – e, no teatro geopolítico, seguirá confinado ao papel de coadjuvante descartável, assistindo de fora às decisões que moldam a ordem internacional.”

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...