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quarta-feira, 20 de maio de 2015

Programa nuclear iraniano: acordo atual melhor do que o de 2010 com o Brasil, diz iraniano

Se é um iraniano quem diz, deve ser verdade.
Então, toda aquela conversa em torno das maravilhas do acordo tripartite de 2010 não parece condizer com a realidade das coisas.
Pior para a realidade, não é mesmo?
Mas o principal autor do acordo de 2010 defende a sua versão, mais abaixo...
Paulo Roberto de Almeida

Acordo com potências é melhor do que o acertado com Brasil, diz iraniano
Entrevista: Mohammad Ali Ghanezadeh
Folha de S. Paulo, 20/05/2015

O embaixador do Irã no Brasil, Mohammad Ali Ghanezadeh, acompanha as negociações sobre o programa nuclear de seu país com as potências mundiais com uma certeza: as condições agora são "muito melhores" para Teerã do que as acertadas em 2010 na negociação entre Irã, Brasil e Turquia.
"O primeiro acordo era mais positivo para os países ocidentais", disse em entrevista à Folha.
O diplomata, que trata a necessidade de transferência de urânio para um outro país como algo já fora do texto a ser finalizado pelo Irã e o P5+1 (EUA, França, Reino Unido, Rússia, China e Alemanha) até 30 de junho, diz ser essa a grande vantagem das novas negociações.
"Em 2010, foi acertado que o urânio do Irã deveria ser transferido a outro país, e não havia garantia de que o material, transformado em combustível, voltaria para o país a tempo", disse. "Agora manteremos o material no Irã e nós mesmos produziremos nosso combustível, o que é muito melhor", afirmou. Para ele, não há nada que possa ser aproveitado do Acordo de Teerã (2010) no novo texto.

Folha - O Congresso dos EUA aprovou uma lei que permite aos parlamentares revisar o possível acordo entre Teerã e as potências ocidentais sobre o programa nuclear do Irã. Isso gera uma desconfiança sobre o compromisso americano?
Mohammad Ali Ghanezadeh - Em nossas negociações na Suíça, chegamos a um entendimento geral com o P5+1, que é a base deste acordo que será preparado. Conforme esse entendimento, estamos avançando. Se houver alguma mudança, isso vai ser um problema [interno] dos EUA e eles terão que chegar a uma solução.
Apesar da desconfiança histórica que o Irã tem em relação aos EUA, mais uma vez estamos experimentando para ver até onde pode chegar a confiança.
O objetivo da delegação iraniana é seriamente alcançar um acordo. Se a negociação não chegar ao final, será culpa dos EUA.

Do que o Irã não abre mão para fechar o acordo?
Para os iranianos, o importante é o reconhecimento do direito do Irã de ter tecnologia nuclear para fins pacíficos. E também é fundamental que o país continue suas pesquisas na área de ciência e tecnologia.

O texto final do acordo com as potências tem que ser fechado até 30 de junho. É possível aproveitar algo do que foi acertado por Brasil, Irã e Turquia na Declaração de Teerã, de 2010?
Não. O primeiro acordo, entre Irã, Brasil e Turquia, era mais positivo para os países ocidentais do que para os iranianos. Agora, as condições mudaram.

O acordo negociado agora é mais positivo para o Irã que o de 2010?
Sim. Esse acordo é muito positivo. Em 2010, foi acertado que o urânio do Irã deveria ser transferido a outro país, e não havia garantia de que o material, transformado em combustível, voltaria para o país a tempo. Agora [se o acordo for fechado] manteremos o material no Irã e nós mesmos produziremos nosso combustível, o que é muito melhor.

O Brasil poderia ajudar nas negociações com as potências?
O Irã não fez pedido a nenhum país, mas o país que quiser ajudar é bem-vindo.

O que significaria para o Irã a retirada de sanções?
Apesar de 36 anos de embargo, continuamos avançando na área de tecnologia nuclear. Desenvolvemos um satélite e colocamos ele em órbita –inclusive com um ser vivo.
É claro que [o fim das sanções] iria aumentar a velocidade de avanço iraniano na área de pesquisa e tecnologia. Mas também, retirando as sanções, os outros países terão uma oportunidade de aproveitar um mercado de 80 milhões de pessoas. Será bom para as duas partes.

O regime não teme uma abertura maior ao Ocidente?
O que a cultura ocidental poderia trazer que deixasse os iranianos preocupados? Acreditamos que o Irã é o único país democrático no Oriente Médio e, em 36 anos, tivemos 34 eleições livres [contando pleitos parlamentares e regionais]. As mulheres têm atividades em todas as áreas, 63% dos estudantes universitários são mulheres. A porcentagem de deputadas na Câmara iraniana, em relação à população, é muito maior que na Câmara dos Deputados do Brasil.
O Irã não é como alguns países do Oriente Médio onde as mulheres não têm direito nem de dirigir. Se essa influência chegasse para a Arábia Saudita, poderia gerar temor. Não no Irã.

O presidente do Iêmen, Abd Rabbo Mansour Hadi, acusa o Irã de apoiar os houthis contra seu governo. Para Teerã, esse governo não é legítimo?
É trabalho dos iemenitas reconhecer um governo ou tirá-lo do poder, não de outros. Mas um terço da população não está reconhecendo.
Os houthis são um terço da população do Iêmen e eles têm direitos. A Arábia Saudita, ao invés de contribuir para o reconhecimento do direito deles, os atacou. Não quis reconhecer as realidades da sociedade iemenita.
Acreditamos que esses problemas devem ser solucionados pela população do Iêmen. Somos contra a intervenção de qualquer país. O Irã não tem nenhuma força militar nem consultiva no território iemenita.
Nós temos muita preocupação do ponto de vista humanitário. Desejamos que essa guerra acabe o mais rápido possível. Pensamos que a polarização no Iêmen é um perigo e queremos a unidade desse território.

O conflito do Iêmen pode alcançar uma escala regional?
Não acho que chegará a se tornar um conflito regional. O ataque da Arábia Saudita ao Iêmen é um erro estratégico, e as consequências só trazem prejuízo para os sauditas. Primeiro, porque aumentou o perigo de ação extremista dentro da Arábia Saudita, ao dar mais espaço para grupos ativos no Iêmen, como a Al Qaeda.
Além disso, a fronteira deles não estava em perigo antes, porque os houthis tinham enviado uma mensagem de que a fronteira estava segura. Agora há um risco.

Há uma chance de cooperação direta do Irã com a coalizão liderada pelos EUA contra o Estado Islâmico no Iraque?
O problema do EI é uma produção desses países ocidentais, inclusive dos EUA, por isso eles não estão lutando seriamente contra a facção. Alguns países ocidentais e aliados dos ocidentais fornecem equipamentos e armas para o EI, por isso não nos juntamos à essa coalizão.
Mas como o Irã acredita que o EI é um perigo para o mundo islâmico e para o Irã, está lutando junto com o Iraque contra ele.

Com base em que o sr. diz que os EUA apoiam o EI?
Todos sabem que os americanos forneceriam equipamentos e armas aos curdos que lutam contra o EI, mas, de helicóptero, eles jogaram esse material justamente em locais onde está ativo o EI. Essas são informações da nossa inteligência.Além disso, os EUA dizem que eles são o país com maior poderio bélico, então como não conseguiram lutar contra um grupo?

Qual seria o interesse dos EUA em ajudar o EI?
Eles têm dois objetivos. Um é dar oportunidade para que extremistas que vivem em seus países migrem para [a Síria e o Iraque para] se unir ao EI e morram ali, tornando sua comunidade mais segura.
A outra razão é enfraquecer os países islâmicos para proteger a segurança de Israel. E os países islâmicos estão mais fracos.

Mas o EI não é uma ameaça também aos EUA?
Sim, mas eles não querem acreditar. Eles criaram a Al Qaeda no Afeganistão e deram a eles armas avançadas para lutar contra os russos [na década de 80]. A América não pensou que, um dia, eles poderiam se voltar contra os EUA, mas depois vimos o 11 de Setembro.

Como o Irã vê a abstenção do Brasil na votação na ONU sobre violações de direitos humanos no Irã?
A relação entre Brasil e Irã já tem 120 anos e nunca temos uma única mancha nela. Esse foi um movimento positivo, se comparado com votos anteriores, e nós agradecemos e saudamos. O Brasil tem ficado cada vez mais por dentro dos avanços dos direitos humanos no Irã e das medidas que temos tomados.
O governo brasileiro chegou a um entendimento que direitos humanos e democracia não são um projeto, mas um processo. O Brasil começou a entender mais a realidade da sociedade do Irã, deu um passo à frente baseado em fatos, e não em política.

E sobre a relação comercial entre os dois países? Ela teve uma queda no governo Dilma.
No início do governo Lula, nosso volume de comércio era de US$ 500 milhões [balança em 2002], e por causa da interação entre os dois governos, atingiu US$ 2,4 bilhões em 2011. Desde então, começou a cair. Em 2013, as trocas foram de US$ 1,6 bilhão.
O Brasil não tem usado as oportunidades que existem no Irã. No lado iraniano, estamos abertos e prontos para aumentar sem limitações.
O interessante é que essa relação é favorável ao Brasil. Dos US$ 1,6 bilhão, só 8 milhões foi de exportações iranianas para o Brasil. E esse mercado não usado pelo Brasil tem sido aproveitado por outros: China, Índia e até Austrália. Você não vai acreditar, mas no último ano, a nossa relação comercial com a América aumentou 30%, enquanto com o Brasil diminuiu.
Mas não acho que [a queda] seja uma questão política. Ela depende de alguns fatores, e um deles é a crise econômica mundial.

O jornalista americano-iraniano Jason Rezaian, do "The Washington Post", está detido desde julho passado e só no último mês foram apresentadas acusações contra ele –entre elas, espionagem. Diante de uma aproximação no diálogo com os EUA, não seria a hora de considerar sua libertação?
Ele foi preso por razões de segurança. A CIA e outros órgãos de inteligência nos EUA pediram que ele coletasse informações no Irã. Ele mesmo admitiu isso. Então ele não foi preso como jornalista. O caso está na Corte e eles estão avaliando [o caso] com base nas informações que eles têm. A decisão final sobre o seu destino é da Corte.
Não devemos ligar esse caso à questão nuclear. Os EUA também prenderam mais de 30 iranianos por causa de sanções e diferentes crimes, com diferentes acusações.
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 IRÃ
 Amorim contesta fala de embaixador do Irã sobre acordo mediado por Brasil
Isabel Fleck
Folha de S. Paulo, 20/05/2015

Em sabatina na Folha na manhã desta terça (19), o ex-chanceler Celso Amorim disse estranhar as declarações do embaixador iraniano no Brasil, Mohammad Ali Ghanezadeh, de que o acordo negociado com as potências agora é mais positivo para Teerã do que o acertado entre Brasil, Turquia e Irã em 2010, quando ele era ministro.
"É curioso porque as críticas que sempre foram feitas à Declaração de Teerã foi de que ela era insuficiente do ponto de vista do Ocidente, e agora o embaixador vem e diz que [a de agora] é melhor [para o Irã]", disse Amorim.
"Mesmo admitindo que pode haver ganhos para os dois lados, se eu tivesse que lidar com a opinião pública americana, eu ficaria preocupado com a declaração de que, depois de anos, os EUA negociam um acordo que é mais favorável ao declarado adversário do que o que havia sido negociado pelo Brasil e pela Turquia, e que os EUA rejeitaram."
Amorim reconhece que o acordo atual —que está sendo discutido entre o Irã o chamado P5+1 (EUA, França, Reino Unido, Rússia, China e Alemanha)— é mais amplo que o de 2010, que era mais "um gesto unilateral do Irã para ganhar confiança e possivelmente evitar que medidas fossem tomadas no Conselho de Segurança".
"É até possível que, do ponto de vista do Irã, que estaria, por exemplo, prevendo uma eliminação mais rápida das sanções, esse acordo possa ser mais favorável para eles", disse.
Para o ex-chanceler, que trata das negociações de 2010 em seu novo livro, "Teerã, Ramalá e Doha —memórias da política externa ativa e altiva", também chama a atenção o fato de os EUA negociarem um acordo agora, quando o Irã possui 10 toneladas de urânio levemente enriquecido.
"Naquela época, o Irã tinha 2.000 quilos, e uma das razões apontadas pela então secretária de Estado [Hillary Clinton] para não aceitar aquele acordo, contrariando o que o próprio presidente dos EUA havia sugerido, era o fato de o Irã ter aumentado de 1.200 para 2.000 quilos. Agora são 10.000", ressaltou.
"Evidentemente, com 10.000 quilos você está muito mais próximo de ter um pequenino arsenal do que com 2.000", disse.
Segundo Amorim, Hillary "sempre se revelou mais cética" da possibilidade de um acordo com o Irã do que o presidente Obama. "Também não se pode supor que ela não concordava, senão teria pedido demissão", afirmou. "Acho que os fatores eram complexos."
Ele revelou ter ouvido, depois, que nas três semanas que separaram o envio de uma carta por Obama a Lula e ao então premiê turco Recep Tayyip Erdogan respaldando as negociações e a divulgação da Declaração de Teerã, em 2010, Hillary teria assumido "compromissos com o Congresso norte-americano para que não adotasse sanções unilaterais e esperasse que ela conseguisse sanções do Conselho de Segurança da ONU".
OBAMISTA
Amorim contou ter escrito uma carta ao editor da "Foreign Policy", David Rothkopf, depois que este publicou um artigo no qual sugere que as negociações com o Irã serão o maior legado do governo Obama.
"Não me contive. Disse a ele: 'Primeiro, Cuba, depois, o Irã. Engajamento no lugar de confrontação. A política externa norte-americana está cada vez mais parecida com a brasileira'. Ele concordou comigo", contou Amorim, rindo. "Nesse ponto, sou Obamista", completou o ex-chanceler.
Apesar disso, ele revela que a relação do Brasil com os EUA durante o governo de George W. Bush era mais "direta".
"Nós tivemos muitas discordâncias, muito óbvias, desde o início do governo. (...) Mas a relação com o Bush era mais direta", disse. "A impressão que eu tinha nas conversas com o presidente Obama é que ele não dava atenção muito real ao que estava sendo dito. Ele [nos] tratava bem, mas eu discernia um certo paternalismo."
PROTAGONISMO
Amorim rejeitou a ideia de que o Brasil tenha deixado de ser um importante ator no cenário internacional nos quatro anos de governo Dilma Rousseff.
"O Brasil não caiu do mapa do mundo. O Brasil está presente no mapa do mundo, é sempre lembrado para funções, mas eu diria que os momentos variam", afirmou, citando que um dos principais programas de estudo em relações exteriores da Universidade Harvard inclui o Brasil na disciplina que estuda a política externa das potências.
"Tenho a certeza de que, no médio e longo prazo, a curva [da política externa brasileira] é ascendente. Pode haver momentos em que, por uma necessidade ou outra, certos aspectos recebam menor ou maior ênfase", disse.

Da diplomacia dos antigos comparada 'a dos modernos - Paulo Roberto de Almeida

O trabalho mais recente publicado:


Mundorama (20/05/2015; 
Relação de Originais n. 2822; Publicados n. 1178.

Da diplomacia dos antigos comparada à dos modernos, por Paulo Roberto de Almeida

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Sob a inspiração e com o devido copyright moral corretamente atribuído a um antecessor bem mais antigo e famoso: Benjamin Constant (De la liberté des anciens comparée à celle des modernes, discurso em 1819; disponível: http://www.panarchy.org/constant/liberte.1819.html; acesso em 21/04/2015).
Messieurs,
Eu me proponho submeter-vos algumas distinções – ainda bastante novas chez nous – entre dois gêneros de diplomacia, cujas diferenças recíprocas podem ter, hélas, permanecido despercebidas até aqui, ou que, pelo menos, foram pouco ressaltadas pelos ensaístas. Uma é a diplomacia tradicional, tal como praticada pelos antigos, bastante apreciada por eles, tanto pelos profissionais do ramo, quanto pela sociedade em geral. A outra, é esta que estamos vendo implementada pelos modernos, e que lhes parece, a eles, perfeitamente adequada às necessidades do país, quando, na verdade, ela só contempla os interesses do pequeno grupo que a formulou e que a conduz. Tal exercício de comparação, se não me engano, me parece interessante por duas razões principais.
Primeiramente, a confusão entre as duas espécies de diplomacia constitui entre nós, sobretudo numa época revolucionária como esta, a causa de muitos males. O país parece ter cansado de tantos experimentos inúteis, cujos autores, irritados pelo pouco sucesso que tiveram nessas experiências amadoras, ainda tentam constrangê-lo a aceitar tudo aquilo que a sociedade manifestamente não quer. Em segundo lugar, porque o governo atual veicula uma noção de democracia e de participação popular que está nas antípodas do que se descobriu serem os desejos – talvez confusos – dos estratos mais esclarecidos da sociedade, que se redescobre um poder que, até aqui, ela acreditava não possuir. Abrem-se, portanto, perspectivas diferentes daquelas que tivemos até há pouco, desde a ruptura entre os tempos dos antigos e esta época dos modernos, chances talvez nunca antes percebidas pela opinião pública mais engajada na participação cidadã.
Eu sei que se tenta confundir a exata apreensão e a correta compreensão dessa realidade, apelando para falsos sinais de adequação entre a diplomacia moderna e a antiga, supostamente equivalentes, ou ainda, tomando a primeira como funcionalmente superior à segunda, o que é obviamente falso. A própria opinião pública hesita quanto aos caminhos e ações que devem ser tomados para realmente conciliar o que era forte e valioso, nos tempos antigos, e o que de novo lhe pretendem vender como sendo a sua vontade, mas que, aparentemente, nada mais é senão o chamado ouro dos tolos, a eterna mercadoria do populismo, envelopado na fantasia da mistificação. Vamos, portanto, neste exercício, efetuar as distinções que se impõem entre os dois tipos de diplomacia.
Da diplomacia dos antigos (sem qualquer demérito pela antiguidade)
Os tempos antigos, do Ancien Régime, não eram perfeitos, como todos sabem. Depois de convulsões políticas e sobressaltos econômicos, a nação parecia finalmente ter encontrado o caminho da estabilização, da previsibilidade, de um futuro um pouco menos confuso e incerto, do que aqueles que prevaleciam nos tempos da tirania, ou mesmo durante a fase de reconstrução do regime de liberdades, época assaz agitada pela demagogia política, pela exacerbação das vontades, muito perturbada pelo rebaixamento excepcional das moedas em circulação (foram várias). Ainda se teve de fazer ajustes de meio de percurso, mas, ao fim e ao cabo dos tempos antigos, tudo parecia ter entrado nos eixos para a retomada de um processo sustentado de crescimento e de prosperidade. As dores da transição foram rapidamente sanadas, tanto porque os modernos prometiam respeitar velhos acordos e convenções já formalizadas pelos antigos, e se propunham elevar ainda mais o novo respeito alcançado pelo país nos cenáculos externos.
No que se refere especificamente à diplomacia, a dos antigos sabia preservar o legado de tradições profissionais ainda mais antigas, e estava, senão codificada, pelo menos sistematizada num conjunto de práticas e de posturas que contemplavam os grandes interesses da nação na frente externa, sem constituir necessariamente uma alavanca poderosa para o seu desenvolvimento. Mas isto se devia a que ela era efetivamente tradicional, e se apegava ainda a velhas doutrinas que, se tinham tido sucesso em determinadas épocas, talvez não se prestassem mais aos novos tempos de abertura econômica e de liberalização comercial. Os diplomatas do Ancien Régime tinham sido treinados em escolas que valorizavam antigas noções de independência nacional e de autonomia tecnológica, de tempos nos quais se justificava o mercantilismo e se promovia, até com orgulho, a autarquia. No geral, contudo, eles sabiam distinguir, de modo bastante claro, entre os interesses do Estado (e da nação) e os dos grupos políticos que a dividiam em correntes contraditórias, passavelmente opostas entre si.
Mais importante, talvez, não tanto quanto aos temas e posturas, mas quanto aos procedimentos e formas de trabalho, a diplomacia dos antigos se desenvolvia mediante processos e métodos formalizados e rotineiros, que constituíam uma cadeia previsível de decisões, transparente, eficiente. Seu formato era o de uma perfeita pirâmide: na sua base estavam os trabalhadores manuais, aparentemente assimilados aos antigos ilotas, mas perfeitamente treinados nas técnicas e inseridos numa organização que sabia valorizar a competência primária e a responsabilidade individual sobre dossiês adrede distribuídos pelas áreas de competência específica. Cada uma destas era chamada a se manifestar sobre um determinado assunto, congregando opiniões e argumentos – todos eles rigorosamente apoiados em dados empíricos e simulações de efeitos – que depois eram assemblados e levados à consideração do nível superior para sua ultimação sob a forma de instrução, prontamente transmitida a um dos muitos agentes da instituição no exterior. Os tribunos eleitos reconheciam o valor da organização e vários chefes do Ancien Régime se valiam dessas competências, trazendo para trabalhar junto de si um determinado número desses profissionais, que podiam assim se exercer diretamente no centro de comando de decisões políticas. Aparentemente funcionou a contento de todos.
Este era o universo dos antigos, no campo da diplomacia; suas tarefas não eram unicamente compostas de missões informativas ou representativas, mas também de um papel formulador e executor da própria substância da política exterior que o soberano pretendia implementar, sempre sob estreito aconselhamento e consultas constantes entre os técnicos e os responsáveis últimos pelas decisões. Plebeus e aristocratas conviviam nessa atmosfera ainda um pouco patrimonialista, pois as regras eram conhecidas de todos, e mesmo servos de gleba podiam aspirar, um dia, alcançar pelos seus próprios méritos uma posição de maior realce na hierarquia disciplinada que constituía o edifício diplomático dos antigos. Alguns membros da casta compareciam à ágora, em algumas ocasiões, para explicar aos cidadãos as razões de tais e tais escolhas; no mais das vezes, contudo, se tratava de um clã bastante discreto e reservado, mesmo se alguns ousavam, por vezes, assinar escritos explicativos ou mesmo panfletos interpretativos. Os meios não eram especialmente abundantes, mas eram suficientes para o correto desempenho das missões que lhes eram atribuídas, de modo claro, direto, devidamente registradas nos anais e expedientes cuidadosamente preservados e regularmente arquivados. 
Messieurs, estou sendo, par hasard, condescendente com a diplomacia dos antigos? Não creio, tanto porque frequentei muito esses meios e sei do que vos falo, tanto pela minha experiência pessoal de terreno, quanto por delongados estudos e as muitas missões empreendidas a serviço dos barões daqueles tempos. Não pretendo que ela fosse perfeita, longe disso, mas parece ter sido bastante respeitada, na região e fora dela, chegando mesmo alguns vizinhos a inventar esse provável exagero ao dizer que essa diplomacia nunca improvisava. Não estou muito seguro disso, e creio mesmo que ela devia improvisar de tempos em tempos, uma vez que algumas decisões tinham de ser tomadas mesmo com escassa informação disponível, inclusive porque o pessoal era limitado em número – a despeito de ser de qualidade notoriamente superior à de outros serviços – e também porque a agenda de negociações não esperava que estivéssemos totalmente prontos para nos impor toda a sua urgência e sua grande complexidade.
Muitas vezes suávamos frios em conferências multilaterais, quando decisões relevantes para a economia nacional tinham de ser tomadas, mesmo na ausência de instruções precisas da capital, ou em face de orientações lacunares e insuficientes para adotar uma das opções sobre a mesa; nessas horas valia a experiência do negociador, seu conhecimento dos dossiês, e algum tirocínio do que fosse o interesse nacional, em toda a sua complexidade, livre de qualquer amarra da política vulgar. À falta de instruções seguras da capital, podíamos ser conservadores, mas sempre animados de propósitos legítimos: preservar os ganhos já alcançados pelo país na economia mundial, avaliar eventuais ganhos oferecidos pelas novas regras que se cogitava implementar, e decidir, apoiados no melhor conhecimento de que se dispunha, as opções apresentando as melhores vantagens comparativas, ainda que relativas, como ensinou mestre David Ricardo. Havendo cláusulas de exceção, ou reservas quanto a dispositivos intrusivos, se podia fazer recurso a esse tipo de expediente de escape, ou de socorro. Opções abertas sempre são de melhor alvitre do que obrigações muito rígidas ou regras inderrogáveis.
Em resumo, a antiga diplomacia, ou a diplomacia dos antigos, era um mélange de conservação e de renovação, de cautela e de ousadia, de passos bem medidos, com poucas rupturas de continuidade, tudo meticulosamente registrado, documentado, para iluminar a memória dos contemporâneos com os registros do passado, e para instruir os futuros cronistas sobre os motivos de terem sido conduzidos os assuntos em tal ou tal sentido, num serviço tão tradicional quanto circunspecto em sua maneira de ser. Mais importante: éramos respeitados em função do nosso saber (feito, na verdade, bem mais de experiência adquirida) e da dedicação ao estudo dos dossiês. Até se dizia, vejam só, que representávamos o consenso possível em matérias sempre tão complexas quanto são os assuntos exteriores, envolvendo soberania e, mais que tudo, a credibilidade nacional.
Voilà Messieurs, creio ter traçado um retrato peut-être trop flatteur, mas assaz realista da diplomacia do Ancien Régime, sem sequer precisar abordar algum tema de substância, apenas me limitando ao seu espírito, ao seu modo de ser, vale dizer, à sua natureza profunda. Não é preciso, aliás, penetrar nas querelas políticas, ou nas disputas dos políticos – sempre mutáveis e inconstantes –, para refletir sobre as características dessa diplomacia que criou escola e deixou saudades em espíritos mais sentimentais. Ela constituía, acima de várias outras qualidades, um modo de ser, o resultado natural de uma longa evolução, um estilo muito peculiar entre todos os demais serviços do Estado. E, se me permitem uma referência literária, retirada do nosso caro Buffon, em seu discours de réception na Academia, ousaria dizer que, nessa diplomacia dos antigos, le style c’est l’homme même, ou seja, ela era fundamentalmente uma maneira de ser, ou então, de navegar, entre um porto e outro de todas as representações abertas ao engenho e arte dos nossos nômades profissionais.
Messieurs, essa era a diplomacia dos antigos, como penosamente me vem agora à mente umas poucas lembranças, fugidias, de uma época que não parece muito perto de voltar, uma vez que estamos reduzidos à diplomacia dos modernos, nestes tempos não convencionais, nunca antes vistos num país tão contraditório e tão cheio de surpresas.
Da diplomacia dos modernos (e das surpresas que ela trouxe)
O que traz a diplomacia dos modernos a esse ambiente já vetusto, mas jamais empoeirado, que constituía a diplomacia dos antigos num país em transformação? O que poderia ela representar de novo para um serviço talvez enclausurado na sua suficiência, infenso às reviravoltas do poder, mas jamais distante das preocupações fundamentais da nação? Do que seria feita a modernidade numa área tão sensível da ação estatal?
Aos olhos de alguns, parecia que, finalmente, se instalava o republicanismo por entre as colunas um tantinho aristocráticas, quase monárquicas, do Ancien Régime. A chegada dos modernos foi cantada em prosa e verso como sendo o reencontro da nação com suas raízes profundas, certamente mais rústicas do que os trejeitos das elites nos ambientes acarpetados dos palácios de função. A nação parecia prestes a resgatar certas dívidas antigas, tão antigas quanto as oligarquias carcomidas que rapidamente foram se aliando aos novos representantes da modernidade ensaiada, estes ainda incertos sobre como controlar aquela máquina imensa, quase uma imensa caverna regurgitando de tesouros insuspeitos. Lampedusa, provavelmente, saberia encontrar as palavras certas para fazer a descrição fiel da nova situação, e poderia escolher as boas imagens para representar os cristãos-novos da modernidade anunciada em tons algo triunfalistas.
Não se tinha percebido ainda qual era o espírito dessa república de fachada, à la Potemkin, com muita figuração e pouco conteúdo, muito discurso e pouca substância, com excesso de publicidade e grau extremamente baixo de realizações. Na verdade, se manteve, no começo pelo menos, muitas das orientações gerais que tinham sido legadas pelo Ancien Régime, mesmo se este era denunciado desonestamente por alguma herança que se pretendia malfadada. Eram arroubos de aprendizes, em meio à preservação das anteriores linhas de conduta no tocante ao que importava: o emprego, a moeda, o valor das pequenas coisas, a credibilidade das regras estáveis. As coisas só começaram a se complicar, realmente, do meio para o fim, mas na diplomacia a coisa se precipitou.
A diplomacia dos antigos foi mudada desde o início, em nome de uma suposta modernidade que hoje se considera ser uma mera volta atrás na roda da História, um retorno a velhas concepções que acreditávamos terem sido superadas por experiências já testadas e desacreditadas pelos fracassos acumulados em anos e décadas de ensaios e erros, inclusive em tentativas frustradas dos antigos. As concepções que comandaram as mudanças já estavam sedimentadas desde longas décadas nas mentes dos soi-disant modernos; alguns deles, aliás, conseguiam ser ainda mais coerentemente anacrônicos: eles mantinham as mesmas ideias desde os tempos em que o Império distribuía as cartas um pouco em todas as partes do universo, sobretudo no hemisfério, e pretendiam aplicá-las aos novos tempos, como se o mundo tivesse se mantido tal qual, como se o Império fosse o mesmo, depois de quatro ou cinco décadas de mudanças não controladas.
Os modernos pretendiam rejeitar qualquer aliança com os representantes do Império e estabelecer uma parceria dita estratégica com os representantes do Império do Meio, que eles acreditavam ser os novos aliados preferenciais. Sequer se lembravam de uma velha frase do mais famoso imperador do Oriente, segundo quem o imperialismo era apenas um “tigre de papel”, e como tal deveria ser tratado. Esses companheiros orientais, por falar nisso, abandonaram antigas diatribes anti-imperialistas e trataram de usar a seu proveito, na máxima extensão possível, as benesses do velho Império – que continuava novo, na verdade – para negócios dos mais diversos tipos: troca de saberes, comércio ampliado, investimentos, pirataria, contrafação, possibilidades no campo das capacitações humanas em ciência e tecnologia, enfim, tudo aquilo em que o Império imperialista (se nos perdoam a redundância) continua primando pela excelência.
Totalmente ignaros quanto a essas mudanças certamente dialéticas, os modernos inventaram uma tal de “mudança no eixo das relações de força no mundo”, para a qual pretendiam contar com o apoio e a ação conjunta dos companheiros orientais, mas nisso se viram frustrados pelo pouco companheirismo e reduzida coordenação da parte dos novos companheiros. Eles até queriam inaugurar essa trouvaille bizarre que seria uma “nova geografia do comércio internacional”, feita essencialmente de relações Sul-Sul, como se esses intercâmbios tivessem de ser feitos à exclusão de todos os demais, com os velhos parceiros do Norte, aliás bem mais providos de mercados e de créditos do que os novos, os do Sul, recorrendo, por vezes, a insolvências e outras práticas heterodoxas, digamos assim. Os modernos nem se deram conta que os companheiros orientais já tinham inaugurado, bem antes, a tal de “nova geografia do comércio internacional”, que era feita, justamente, de suas exportações de todos os tipos de produtos para todos os parceiros possíveis, com ênfase especial nos mercados dos velhos imperialistas, os mais atrativos a que podem aspirar os emergentes dinâmicos da economia mundial.
Em outra iniciativa infeliz, os modernos se empenharam em implodir propostas dos velhos imperialistas de liberalizar o comércio no âmbito regional, alegando que o que eles pretendiam não era bem integração, e sim um projeto de anexação, perverso portanto, e como tal devendo ser devidamente sabotado pelos novos anti-imperialistas no poder. Tal foi feito, com sucesso surpreendentemente rápido, tendo os modernos encontrado aliados complacentes (ainda mais anti-imperialistas) no próprio continente, o que permitiu uma implosão rápida, definitiva, sem apelo, desse projeto imperialista. Menos feliz foi constatar que os demais possíveis parceiros na luta anti-imperialista logo apelaram ao império para que este negociasse tratados bilaterais de adesão, que lhes permitisse acesso privilegiado ao mercado dos velhacos imperialistas. Ah, ces lâches, ces traîtres! Eles não percebem que estão se metendo na jaula do leão.
Inabalados por essas surpresas desagradáveis, os modernos buscaram expulsar o império de todas as instâncias de coordenação e consulta da região, e assim também foi feito, com a constituição de novas entidades, exclusivamente regionais, numa mostra de orgulho e de afirmação identitários que certamente contaria com a plena aprovação dos próceres da independência, esses antigos heróis da pátria continental, enfim liberta da tutela imperial e de influências nefastas vindas de parceiros não desejados. Mais um sucesso, igualmente, nessa nova empreitada, e assim passamos a dispor, graças aos modernos, de entidades dedicadas exclusivamente aos interesses regionais, mesmo se esses interesses estavam difusamente representados nas novas estruturas para poder cumprir adequadamente o que supostamente eram os seus objetivos: integrar todos num impulso vital em direção de um novo tipo de desenvolvimento, autônomo, integral, justo, igualitário, inclusivo, progressista, soberano, ativo e altivo, bref, moderno.
Não importa muito se essa modernidade se fez em torno de velhas ideias, as tais defendidas pelos modernos, retiradas por eles de velhos alfarrábios de outras eras, feitas de muita intervenção estatal, de dirigismo, de protecionismo, de espaços para a implementação de políticas setoriais de desenvolvimento nacional. Tudo isso, ao fim e ao cabo, vai contra os objetivos da integração que se pretende impulsionar mediante projetos grandiosos traçados nas conferências de cúpula e nos encontros políticos. Enfim, não se pode pretender que tudo se faça ao mesmo tempo, e que tudo aconteça como num passe de mágica, inclusive, naquilo que funcionava antes. Existia, por exemplo, um pequeno espaço de livre comércio, que deveria evoluir para uma união aduaneira, e depois, de maneira otimista, para um mercado comum, como o daqueles velhos europeus imperialistas. O fato é que essas coisas meramente comerciais foram julgadas pouco condizentes com o novo espírito inclusivo, progressista, dos modernos. Não houve hesitação: o ânimo mesquinhamente comercialista que tinha presidido à assinatura dos velhos acordos foi substituído pela nova abertura de espírito, social, inclusivo, avançado e progressista, dos novos acordos rapidamente concluídos, todos eles destinados a melhor defender os direitos sociais dos trabalhadores, mesmo se o comércio – esse outro grande traidor das melhores esperanças – insistia em diminuir perigosamente de volume e enfrentar alguns sobressaltos imprevistos.
No terreno dos procedimentos, finalmente, as mudanças foram sensíveis, lato senso, e muito pouco sensíveis, estrito senso. A começar pela famosa pirâmide dos processos decisórios, rapidamente invertida pelo esprit partisan, dito de centralismo democrático (na verdade autoritário) dos modernos. Os ilotas responsáveis pelo trabalho duro em cada uma das áreas e células em que se tinha organizado a casa antiga, numa divisão social do trabalho dada pelas competências técnicas de cada um, passaram a ser mais orientados pela linha do comitê central, do que preferencialmente pela análise técnica de cada assunto do dossiê; assim, todo o processo começou a funcionar de modo estranhamente alterado, de cima para baixo, e não segundo o curso natural das coisas, como ocorria no Ancien Régime. De resto, como explicar decisões bizarras e tomadas de posição inéditas, que dificilmente teriam emergido a partir do fluxo normal de estudo dos temas, baseado na memória dos antigos e nos maços da memória coletiva? Aliás, pergunta-se até onde, e se, algumas delas estão devidamente registradas nos cartapácios onde antigamente se guardava todo o itinerário anotado das instruções adotadas?
Que reste-t-il de tout cela? Une photo, vieille photo, d’une ancienne demeure?
Messieurs, o quadro que estou traçando pode parecer exageradamente sombrio, e pouco condizente com as novas disposições dos modernos, mas o fato é que nenhum dos objetivos que eles mesmos se tinham fixado para sua diplomacia ativa e altiva – e soberana, cela va sans dire – foram alcançados, e não foi por falta de empenho: não só o representante le plus en vue dos modernos saiu pelo mundo em desabalada carreira de viagens, visitas, convescotes e outras conferências grandiosas, como também o assessor principal para essas coisas de soberania passou o tempo todo indo de um aeroporto a outro, de uma capital a outra. Era preciso proclamar os novos tempos e as intenções de mudança nas relações de força teimosamente presentes no mundo arrogante dos velhos senhores, e de reforma do comércio internacional, em prol da tal nova geografia.
Vous savez, Messieurs, ce qui en est résulté de tous ces projets. Enfin, c’est le droit, pour chacun, d’influer sur l’administration du Gouvernement, soit par la nomination de tous ou de certains fonctionnaires, soit par des représentations, des pétitions, des demandes, que l’autorité est plus ou moins obligée de prendre en considération. Os modernos abusaram de todas essas prerrogativas até a exaustão, multiplicando cargos e novas agências estatais à outrance. C’est probablement par un coup de malchance que as aspirações não se materializaram; e não foi certamente por falta de presença no mundo: nenhum petit village ficou à margem da nova cartografia universal tão sabiamente desenhada pelo guia genial dos povos.
Mas, o que restou, finalmente, da diplomacia dos modernos, comparada à dos antigos? Vejamos antes, brevemente, em que consistia a diplomacia dos antigos, como nos recomendaria nosso velho amigo Benjamin Constant. Ela consistia em exercer coletivamente, mas diretamente, antigos princípios de soberania – sem precisar ficar proclamando a sua defesa a cada instância, a cada momento, en tout et pour tout – e a deliberar, no pleno respeito dos processos decisórios bem experimentados, sobre todos os acordos e os tratados de aliança e de cooperação, dos quais pleno e integral conhecimento era dado em seguida ao corpo parlamentar da nação, para seu debate e eventual aprovação; ela também se preocupava em dar a devida publicidade a esses atos internacionais pelos meios disponíveis, para que os citoyens deles tivessem consciência, sem que qualquer secret d’office fosse subtraído aos representantes da nação.
Messieurs, s’il y a un souvenir qui me poursuit sans cesse, c’est celui-ci : ele pode até parecer une vieille chanson d’automne, mas ele se baseia nas boas qualidades da diplomacia dos antigos em comparação com essa, supostamente “moderna”, dos modernos. Em todos os pontos de substância, e mesmo nos de organização e métodos, em torno dos quais as duas foram exercidas, em suas respectivas plenitudes, não encontro modernidades efetivas na diplomacia dos modernos, só velharias, e muitos fracassos acumulados. Alors, que reste-t-il des beaux jours das parcerias estratégicas, escolhidas entre os anti-hegemônicos, que prometiam nos conduzir aux sommets des inner circles do poder mundial, a tal de democratização das relações internacionais? Que reste-t-il da fabulosa organização sem a tutela do império, que pretendia manter a democracia e inaugurar uma nova era de desenvolvimento inclusivo, com comércio ampliado entre os parceiros progressistas e novos direitos assegurados a todo o povo trabalhador? Que reste-t-il de tout cela? Une photo, vieille photo?
O fato é, Messieurs, que a diplomacia dos modernos falhou, miseravelmente, nas suas expectativas mais otimistas, e até nas mais prosaicas, aquelas que dependiam da concordância dos novos aliados e parceiros estratégicos para mudar irreversivelmente o velho mundo dos velhacos imperialistas. Existem, claro, novos e ambiciosos órgãos, como esses bancos de financiamento estatal, que proliferaram como champignons après la pluie, e que deveriam trazer novos negócios para nossos mais valentes capitalistas. Mas a realidade é que não falta dinheiro no mundo; o que falta, na verdade, são bons projetos para serem financiados com o dinheiro privado dos capitalistas, sempre ávidos para colocar seus recursos em coisas que lhes permitam retornos razoáveis.
Esta é, de fato, uma pergunta que je me fais, Messieurs: se existe tanto dinheiro privado pelo mundo, por que fazer arranjos financeiros oficiais em todos esses bancos estatais, por que dispersar o dinheiro público, quando ele deveria se dirigir às nossas necessidades realmente sociais e mais urgentes? E se uma análise de custo-benefício indicar que não caberia realizar investimentos que tiveram uma decisão puramente política em seu desenho e avaliação? O que fazer com tantos capitalistas promíscuos que se aproximam dos modernos apenas para arrancar os parcos recursos? E o que dizer dos impostos de todos os citoyens que são canalizados para projetos duvidosos no exterior, et qui plus est, tenus dans le plus grand secret ? C’est cela une marque de diplomatie, par hasard ? La diplomatie du secret, du cache-cache ?
J’avoue, Messieurs, que je n’ai pas de réponses à toutes ces questions. Começo a desconfiar – mas esta já era uma suposição de départ – que a diplomacia dos ditos modernos é feita, na verdade, de velharias, de ideias muito antigas, que se aposentaram em outras paragens e que acabaram aportando por aqui e aqui ficando, pois encontraram terreno fértil na cabeça de certos amadores da diplomacia, uma tribo de exóticos e de sonhadores que ainda não atinou, hélas, que o mundo mudou, e que eles, sem perceber, acabaram ficando anacrônicos. E se por acaso estivéssemos todos enganados, no sentido em que os antigos são os verdadeiros modernos, e que os tais modernos se revelaram surpreendentemente en arrière des faits et des choses ? Voyez bien, honnêtes gens!
Pode até ser que este meu relatório de minoria, Messieurs, não sirva para muita coisa, em nossos tempos não convencionais. Mas não hesito em apresentá-lo aos senhores, na esperança (peut-être illusoire) de que seu esprit de contradiction possa convencer de ce formidable bouleversement du monde alguns céticos dispersos dans cette ancienne demeure, riche de traditions, par trop respectable, mais devenue – comment le dire Messieurs? – dispensable, superflue, négligeable?
Como diriam em certas terras exóticas, talvez bizarras: não há bem que sempre dure, não há mal que nunca se acabe. Os anos de bonança, quando tudo parecia fácil e alcançável, parecem aujourd’hui révolus. É tempo de pensar em revisar certas ideias fora de lugar e fora de época; é hora de repensar os fundamentos dessa tal de diplomacia dos modernos. Mal parafraseando os epígonos, ela se parece com aquelas estruturas sociais desajustadas, perdidas na transição entre dois modos de produção, e que não conseguiram combinar muito bem as forças produtivas da nação, uma infraestrutura pujante ainda que contida por um Estado feudal, e a superestrutura das relações de produção, que carecem de que lhes quebrem os grilhões que as prendem a noções antiquadas, contaminadas pela poeira dos tempos, mesmo que pouco convencionais. L’édifice bien décoré proposé en tant que modèle et hautement chanté par les modernes ce serait-il, finalement, écroulé ?
Il est temps, Messieurs, de repartir, alors, pour de bon. J’ai confiance que les bonnes idées prévaudront, car ce sont elles qui sont les bonnes, même anciennes. En fait, Messieurs, les modernes, sommes nous. Ils sont les arriérés, les âmes candides, les décervelés. Défions-nous donc, Messieurs, de cette admiration béate, déplacée, qu’ils entretiennent pour certaines idées qui semblaient modernes, mais qui, en fait, ce sont des réminiscences antiques, d’une époque complètement révolue. Libérons-nous de tout cela, car nous ne sommes pas esclaves de concepts liés a des anciens despotismes. La diplomatie antique, Messieurs, voilà la véritable modernité! En plus, elle défend les libertés, contre les amis des dictatures et des tyrannies.
Réjouissons-nous donc de sages conseils de la diplomatie des anciens, car c’est elle qui nous a amené les progrès que les civilisations réussies ont consenti à l’Humanité toute entière. C’est elle qui nous a mené à tout ce que l’ancienne maison de notre diplomatie a construit de bien et de durable. C’est elle qui va nous faire revenir sur le chemin de l’avenir, car c’est elle qui correspond le mieux à l’éducation morale des citoyens…
Nota final: o presente texto é alegórico, no sentido mais abstrato possível, e não pretende reproduzir nenhuma situação concreta; honni soit qui mal y pense
Paulo Roberto de Almeida é diplomata e professor do Centro Universitário de Brasília – Uniceub (@pauloalmeida53).

Tratado Universal dos Deveres do Ser Humano - Simone Weil, via Aldemar Parola

Devo ao atento leitor deste blog Aldemar Parola este comentário a esta minha postagem
A Moral dos Coitadinhos - Luiz Felipe Pondé
que transcrevo por inteiro, dada sua importância e complemento ao artigo de Luiz Felipe Pondé.
Grato ao Aldemar Parola.
Paulo Roberto de Almeida

Aldemar Parola

9 horas atrás  -  Compartilhada publicamente
 
Considero muito oportuno o artigo do Pondé e me faz lembrar do livro L’Enracinement, de Simone Weil, que li, há cerca de cinquenta anos, quando sua obra ainda não era suficientemente conhecida.

Não sei porque comprei o livro, mas acho que folheei a primeira página e isso deve ter provocado em mim um forte impacto:
“A noção de obrigação ultrapassa a noção de direito, que lhe é subordinada e relativa. Um direito não é eficaz por si próprio, mas somente pela obrigação à qual corresponde; a realização efetiva de um direito provém não daquele que o possui, mas dos outros homens que se reconhecem obrigados a alguma coisa para com ele. A obrigação é eficaz desde que seja reconhecida. Uma obrigação não reconhecida por ninguém não perde nada da plenitude de seu ser. Um direito que não é reconhecido por ninguém não é grande coisa.
Não tem sentido dizer que os homens têm, por um lado, direitos, e por outro lado deveres. Essas palavras não exprimem senão diferenças de ponto de vista. Sua relação é a do objeto e do sujeito. Um homem, considerado em si mesmo, tem somente deveres, entre os quais se encontram certos deveres para consigo próprio. Os outros, considerados de seu ponto de vista, têm somente direitos. Ele tem direitos, por sua vez, quando é considerado do ponto de vista dos outros, que reconhecem ter obrigações para com ele. Um homem que estivesse sozinho no universo não teria nenhum direito, mas teria obrigações.”

Um ponto que sempre me intrigou foi porque existe uma Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela ONU em 1948 (alguns anos após a morte de Simone Weil) e não existe uma Declaração Universal das Obrigações (ou Deveres) do Ser Humano.

Aliás, o subtítulo de L’Enracinement é: PRÉLUDE À UNE DÉCLARATION DES DEVOIRS ENVERS L’ÊTRE HUMAIN. Na minha opinião, uma Declaração Universal das Responsabilidades Humanas deveria ter sido aprovada pela ONU antes da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Só recentemente descobri que o InterAction Council   ( http://interactioncouncil.org/ ) em 1997 havia proposto uma Déclaration universelle des obligations de la personne (Declaração Universal dos Deveres do Homem  na versão em português e na forma que me parece mais adequada na versão em inglês: “Universal Declaration of Human Responsibilities.") que não foi adotada pela ONU. É bem verdade que o InterAction Council, por ser composto principalmente por Chefes de Governo, entre os quais José Sarney, talvez não seja entidade mais adequada para tal proposição.

Todos os políticos deviam ler o livro L’Enracinement conforme recomendação de T. S. Elliot no prefácio por ele redigido para a primeira edição em língua inglesa:
“Este livro pertence à categoria dos prolegômenos à política que políticos raramente lêem e que a maioria deles provavelmente não compreende nem sabe como aplicar. Tais livros não influenciam a conduta contemporânea dos assuntos públicos: chegam muito tarde para homens e mulheres já engajados nessa atividade e comprometidos com o jargão do mercado. É um dos livros que devem ser estudados pelos jovens antes que seu tempo livre tenha sido perdido e sua capacidade de pensamento destruída na vida dos colégios eleitorais e assembleias legislativas; livros cujos efeitos, apenas podemos esperar, se tornariam aparentes no espírito de uma outra geração.”

Cingapura: cresceu mais de cem vezes desde a independencia - Paulo Silva Pinto (CB)

De favela a primeiro mundo
PAULO SILVA PINTO - Enviado especial
 Correio Braziliense, 19/05/2015

Cingapura — Poucos países têm hoje uma situação econômica de que seus habitantes possam se gabar. Entre os que se livraram da colonização recentemente, a lista é ainda menor. E, se for para aumentar a restrição, considerando apenas as nações pobres em recursos naturais, sobra só uma. É por isso que os 5,47 milhões de moradores de Cingapura se preparam para fazer muita festa em 9 de agosto, quando o país completará 50 anos, cinco a menos do que Brasília. É a data em que os cingapurenses deixaram a Federação Malaia, a qual integravam havia menos de dois anos depois de terem deixado de fazer parte do território britânico.
As comemorações terão um sabor especial pelo fato de que Cingapura não pediu para sair, foi expulsa da Malásia. O argumento, na época, era que haveria grande risco para o equilíbrio de forças mantendo-se uma região na qual a composição étnica era diferente dos demais — 75% dos cingapurenses são de famílias de origem chinesa, e os demais se dividem basicamente entre os descendentes de malaios e indianos.
Com 718 km², 12% do território do Distrito Federal, Cingapura tem um Produto Interno Bruto (PIB) per capita de US$ 55.187, o terceiro maior do mundo. Entre 1965 e 2013, o PIB per capita foi multiplicado por 107, enquanto o da Malásia ficou em 32 vezes o que era. O Brasil conseguiu um fator intermediário: 43. Para avançar tanto, o governo do pequeno país asiático investiu pesadamente em educação e em infraestrutura.
Parte da água ainda é importada de Malásia, mas, cada vez menos, pois o esgoto é tratado de modo tão rigoroso que o líquido resultante pode ser ingerido pelas pessoas. De uma imensa favela à beira-mar, Cingapura virou um dos lugares mais organizados do mundo. O governo provê habitação social para 85% dos habitantes. Mas não paga aposentadoria com recursos públicos. Com isso, a carga tributária não passa de 16% do PIB. No Brasil, são 36%.
O país é um importante centro de logística, com o segundo maior porto do mundo — perde apenas para Roterdã, na Holanda. Embora o setor de serviços venha se expandindo rapidamente, a indústria responde por 29% do PIB. Mesmo sem produzir uma gota de petróleo, Cingapura tem uma das maiores refinarias do mundo. A construção de navios e plataformas de petróleo é um dos principais setores da economia.
Relações
O país aposta na relação com o Brasil, e uma demonstração disso está no fato de ter instalado em Brasília uma das poucas embaixadas que mantém mundo afora: são apenas 35. Há uma única outra representação nas Américas, em Washington. O embaixador brasileiro em Cingapura, Luís Fernando Serra, afirma, porém, que não é fácil o incremento das relações econômicas. “Tenho dificuldade de convencer brasileiros da importância de estar em um mercado tão significativo quanto esse.” O embaixador de Cingapura no Brasil, Choo Chiau Beng, é também empresário e passa a maior parte do tempo em seu país. Mas acompanha tudo o que acontece por aqui. Para ele, os protestos que ocorreram em junho de 2013 são resultado do aumento da classe média. “Isso eleva as expectativas e cobranças da população”, afirma.
A liberdade de manifestação é, aliás, um dos poucos itens que coloca o Brasil à frente de Cingapura. No país asiático, só é possível protestar se o governo autorizar, e o pedido deve ser feito com um mês de antecedência. Embora haja eleições diretas, a influência do partido que está no governo desde que o país foi criado é muito forte, o que limita o crescimento das legendas de oposição. O primeiro-ministro Lee Hsien Loong é o filho mais velho do fundador de Cingapura, Lee Kwan Yew, que governou o país por três décadas, até o começo dos anos 1990. Ele faleceu em 23 de março, aos 91 anos.
O repórter viajou a convite do governo de Cingapura.

Um escritor versatil, residente em Connecticut, falando de imigrantes nos EUA - Jose Inacio Werneck

Não sabia ser vizinho de tão distinguido jornalista, ainda mais escrevendo sobre os imigrantes na Nova Inglaterra.
Surpresas sempre acontecem.
Paulo Roberto de Almeida

Os imigrantes e a curiosa história de meus livros

Correio do Brasil, 19/5/2015 15:00
Por José Inácio Werneck, de Bristol

Colunista conta como perdeu a chance de ter seu livro editado pela Record
Colunista conta como perdeu a chance de ter seu livro editado pela Record
Às vezes as pessoas me perguntam por que e como vim a dar com os costados nos Estados Unidos. A resposta está em meu livro “Com Esperança no Coração: Os Imigrantes Brasileiros nos Estados Unidos”.
Sou um autor meio secreto. Mal orientado pelo jornalista Moacir Japiassu, recusei uma oferta da Editora Record para publicar o mencionado livro. Foi lançado na  surdina pela Augurium Editora, me deu  prejuízo e hoje, estranhamente, sem que eu saiba como, pode ser encontrado na Amazon.
No espaço de três anos, entre 2004 e 2006, escrevi não apenas o “Com Esperança no Coração” como  também a novela “Sabor de Mar”, pela Editora Revan, e uma estranha obra que nem sei como explicar direito, mas que começou com um convite da editora Simon &Schuster.
Era, é ou foi um livro sobre o Pelé, em inglês. Que destino tomou, não sei. Sei apenas que um dia meu amigo escocês Hugh McIlvanney me telefonou de Londres dizendo que a Simon & Schuster ia publicar uma biografia de Pelé e, através de uma subsidiária chamada Gloria Books, lançar uma edição de luxo, de tiragem restrita.
Eu tinha sido escolhido para não somente escrever sobre Pelé como para traduzir para o inglês o que viria a ser produzido  pelo respeitado jornalista-historiador João  Máximo.
Pus mãos à obra. Escrevi sobre o dia em julho de 1957 em que  me encontrava com um grupo de amigos no bar Veloso, na rua Montenegro (agora respectivamente Garota de Ipanema e Vinicius de Moraes), em Ipanema,  e consegui uma carona (não tinha carro na ocasião) para ir ao Maracanã.
O Brasil enfrentava a Argentina. No segundo tempo um crioulinho franzino, de 16 anos, entrou em campo e fez um gol. Era Pelé. Fez ali sua estreia pela Seleção Brasileira e iniciou-se a maior história do futebol mundial.
Escrevi sobre isto e outros fatos de uma extraordinária carreira. Traduzi o que João Máximo botou no papel (melhor dizendo, computador) e editei, em inglês, o depoimento de diversos outros jornalistas brasileiros.
Tempos depois, num almoço em Londres, fiquei conhecendo os executivos de Gloria Books. O repasto era regado apenas a água mineral, pois eram todos muçulmanos, até que meu amigo Hugh McIlvanney resolveu por fim àquele “non-sense”, chamou o garcon e mandou descer um vinho. Na conta dos muçulmanos, é claro. A partir dali a refeição tornou-se mais saborosa.
Se me perguntarem o que aconteceu ao livro, não sei. Tenho as provas em casa, pois foi nelas que labutei para fazer a revisão. Recebi o pagamento que me era devido, mas apenas depois de longa troca de e-mails e telefonemas. Quando, em julho de  2013, estive outra vez com Hugh em seu apartamento, em Richmond (cercanias de Londres), ele  me confessou que também nunca mais ouviu falar da biografia nem da tal “edição de luxo” em “tiragem limitada”.
Tão limitada que aparentemente ninguém sabe, ninguém viu. Se alguém souber, me dê notícias. Eu tinha também um plano  de, junto com Roberto Porto e o já citado João Máximo, escrever um livro sobre o Jornal do Brasil, cuja fase áurea e posterior declínio nós três conhecíamos muito bem. Demoramos tanto a passar da ideia à realidade que nosso grande amigo Roberto Porto já morreu.
Chegará este livro a ver a luz do dia?
Quanto ao “Sabor de Mar”, passou por chuvas e trovoadas. Os percalços foram decorrentes do fato de que, para homenagear uma amiga morta, resolvi,  quando estava no meio do livro, trocar o nome da protagonista de Ana Maria para Maria Eduarda.
Acontece que, por artes do computador, houve quatro ou cinco episódios em que o nome Ana Maria continuou aparecendo, o que confundiu os leitores e causou queixas e reclamações.
A boa notícia é que o “Sabor de Mar” acaba de passar por uma reedição que corrigiu este e outros erros. Ele agora pode ser encontrado em “e-book” nas seguintes editoras:
Gato Sabido Livraria
Site: http://www.gatosabido.com.br/ –  Livraria da Travessa,  Site: http://www.travessa.com.br/ – Livrarias Curitiba, Site: http:www.livrariascuritiba.com.br/ – Livraria do Advogado,
Site: http://www.livrariadoadvogado.com.br – Buqui, Site: http:www.buqui.com.br/ – JET Soluções Educacionais, Site: http://www.jetebooks.com.br- Livraria da Folha,
José Inácio Werneck, jornalista e escritor, trabalhou no Jornal do Brasil e na BBC, em Londres. Colaborou com jornais brasileiros e estrangeiros. Cobriu Jogos Olímpicos e Copas do Mundo no exterior. Foi locutor, comentarista, colunista e supervisor da ESPN Internacional e ESPN do Brasil. Colabora com a Gazeta Esportiva. Escreveu Com Esperança no Coração sobre emigrantes brasileiros nos EUA e Sabor de Mar. É intérprete judicial em Bristol, no Connecticut, EUA, onde vive.
Direto da Redação é um fórum de debates, editado pelo jornalista Rui Martins.

terça-feira, 19 de maio de 2015

A Patria Corrupta, Corruptora, Fora-da-Lei, Prevaricadora, tudo sob patrocinio do governo - Carlos Brickmann

Não se podia esperar mesmo outra coisa de quem comanda...
Paulo Roberto de Almeida

A casa da Mãe Dilma
Coluna Carlos Brickmann, 20/05/2015

Imagine o caro leitor que esteja andando na rua e, por algum motivo, pegue uma pedra e a atire na janela de uma casa. Na hipótese de haver algum policial por perto, o caro leitor será preso e, no mínimo, terá de prestar declarações na delegacia mais próxima - isso se tiver sorte e não apanhar antes de ser levado.
Pois bem: o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra, MST, invadiu ontem, em Brasília, o Ministério da Fazenda - nada mais justo, porque fazendas é exatamente o que querem invadir. Quebraram janelas, arrombaram portas, causaram prejuízos que serão pagos com dinheiro de nossos impostos. Impediram o ministro Joaquim Levy, por quase meia hora, de entrar em seu gabinete. Foram fotografados, filmados, gravados. Nenhum militante foi preso, nenhum militante detido para averiguações, a ninguém se pediu o pagamento pelo prejuízo. Foram embora, enfim - em direção ao outro Ministério, o do Desenvolvimento Agrário.
Todos os cidadãos são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros. Há os que têm direito de depredar a Câmara dos Deputados, como fez o grupo liderado por Bruno Maranhão, dirigente petista de nobre estirpe; há os que têm direito de invadir institutos de pesquisa e destruir espécimes desenvolvidos por mais de dez anos. Há os que invadem áreas próximas ao Pico do Jaraguá, em São Paulo, recebem determinação judicial de deixar a área mas têm direito à proteção da Funai para descumpri-la.
São os que, como o agente 007, dispõem de licença oficial para agir à margem da lei.
São os hóspedes queridos da casa da Mãe Dilma.

A Pátria transparente
Informação da coluna Cláudio Humberto (www.diariodopoder.com.br): apesar da Lei de Transparência, a Presidência da República segura as informações sobre o cartão corporativo de Rose Noronha, que chefiou seu escritório em São Paulo.

Pediu 45 dias para copiar e entregar o relatório dos gastos da servidora.

Acordo Ortografico do Bom Senso: bastam duas linhas - Francisco Seixas da Costa, Joao Costa

Absolutamente sensato o João Costa. Em lugar de procurar sarna para se coçar -- ou talvez procurando, e deixando os lucros da operação com as editoras, que teriam de reimprimir e publicar todos os livros adotados oficialmente nas escolas, com despesas incomensuráveis para os governos (talvez tenha sido intencional) -- os países da CPLP, essa construção genial da civilização lusitana, poderiam adotar a proposta de acordo sugerida pelo João Costa: basta que todos os países membros desse conclave intelectual, literário e cultural, aceitem reciprocamente as respectivas ortografias para que os livros circulem livremente entre eles. E que as pessoas sejam livres para aceitar a ortografia que desejarem, desde que não ofenda regras mínimas de gramática e de construção estilística, todo o resto seria aceitável.
Não seria mais prático assim?
Paulo Roberto de Almeida

O Acordo poderia ter duas linhas...
Francisco Seixas da Costa
Blog duas ou três coisas, 18/05/2015

Um amigo que muito prezo, escreveu um texto delicioso sobre o Acordo Ortográfico, sob o título em epígrafe, que lhe pedi que me deixasse publicar por aqui. Ele aí vai:

"Para que fique bem clara a minha posição sobre o Acordo Ortográfico: percebo que este dispositivo interesse aos Ministérios dos Negócios Estrangeiros para dar uma imagem de cooperação entre os países de língua portuguesa. Se tivesse sido eu a escrevê-lo, teria a seguinte formulação:

Artigo único:

Reconheçam-se como válidas, em todos os países da CPLP, as normas ortográficas em vigor nos restantes países.


Esta formulação permitiria que o uso de qualquer variante ortográfica não pudesse ser penalizado ou considerado ilegítimo em qualquer país de língua oficial portuguesa ou em qualquer contexto de uso da língua.

Esta não foi a opção de quem negociou o Acordo Ortográfico, tendo sido preferida uma versão que tenta unificar a ortografia.

Quem me conhece sabe que não consegue arrancar de mim nenhuma posição inflamada a favor ou contra o Acordo Ortográfico. Sei que a ortografia é uma mera convenção, que nenhuma versão da nossa ortografia foi coerente entre transparência ou etimologia e que esta e outras versões de instrumentos de normalização ortográfica têm problemas técnicos já assinalados por vários. Não me parece que a versão 1990 seja pior ou melhor do que a versão 1945 – basta pensar no uso do hífen. É apenas uma convenção – o facto de “hospital” se escrever com h.

Muito do debate em torno do Acordo Ortográfico rasa o absurdo e descreve as consequências da sua aplicação como algo próximo do Armagedão. Há dados que me fazem manter-me longe deste debate.

Sempre que sai uma notícia num jornal sobre o Acordo Ortográfico, surgem centenas de comentários de leitores que, horrorizados, listam os horrores do Acordo Ortográfico em mensagens pejadas de erros ortográficos.

Ouvia, há tempos, alguém que tinha escrito “nada a opôr [sic]” vociferando que não retirava o acento circunflexo, porque se recusa a escrever com o Acordo Ortográfico, que sempre escreveu assim e não vai mudar!

O mesmo, tal e qual, ouvi de alguém que, num programa de rádio, dizia: “não é por causa dos brasileiros que vou tirar a cedilha de vocês”!

A obsessão com a ortografia e tudo o que se diz sobre o seu impacto no mundo é a consequência de uma escolarização em que as produções escritas são, tradicionalmente, corrigidas em função de desempenhos temáticos e ortográficos. Coesão e coerência, conformidade com sequências textuais ou explicitação de regras de pontuação são dimensões da escrita a que a escola nunca prestou a devida atenção, que justificam muitos problemas de escrita (e leitura) e que explicam que se dê tanta importância à ortografia.

Tratando-se apenas de uma convenção, a ortografia não gera penalizações. Se eu escrever a minha lista de compras para o supermercado com inúmeros erros, ninguém saberá e, mesmo que saiba, nada acontece. Só no sistema educativo é que há penalização do erro e é interessante verificar que a introdução do Acordo Ortográfico no sistema educativo se deu sem problemas.

Se é verdade que a ortografia é uma mera convenção e que quem redigiu o Acordo visou uma unificação da ortografia, também é verdade que qualquer pessoa minimamente informada sobre as variantes do português deveria saber que as diferenças fundamentais entre o português usado em Portugal, no Brasil, Angola, Moçambique não estão na ortografia. Tente-se escrever um texto em conjunto com um colega brasileiro e veja-se como se tropeça em cada linha. Há um evidente desconhecimento da língua portuguesa na génese de algumas decisões políticas, o que é confrangedor.

Passados vinte anos sobre a criação deste Acordo, não são ainda evidentes os passos claros que a CPLP está a dar para uma eficiente política de língua. Para dar apenas um exemplo, ainda não se vislumbra uma política comum sobre o ensino de português no estrangeiro.

Dito tudo isto, alguns amigos que conhecem esta minha posição (ou ausência de posição), perguntam-me se uso ou não o Acordo Ortográfico. Comecei a usar no dia em que li um arrazoado de argumentos nacionalistas e de comentários racistas sobre os restantes países da CPLP a propósito do Acordo Ortográfico. Pensei que não queria ser identificado com aquele tipo de argumentação e nesse mesmo dia passei a utilizar, sem grande dificuldade, a nova convenção ortográfica (nunca senti aquela insegurança de que alguns falam, dizendo “Agora não sei como se escreve”).

Passados alguns meses, participei numa reunião em que, em defesa do Acordo Ortográfico, ouvi um eminente académico tecer comentários absolutamente nacionalistas e a rasar o racismo... Fiquei sem saber o que fazer e, pela primeira vez, me deparei com a hesitação de não saber como escrever.

Cresce em mim a vontade de reagir de forma adolescente e não usar o Acordo quando escrevo àqueles que o defendem ferozmente e usar quando escrevo aos que são violentamente contra. Mas, por vezes, tenho de escrever a ambos e, nessa altura, penso: isto é apenas uma convenção, para quê gastar tempo a pensar no assunto?

Se se tivessem ficado pelas minhas duas linhas, ter-se-ia poupado muito tempo...

João Costa

PS: Ao reler o texto, apercebo-me de que, por vezes, o Acordo Ortográfico não tem mesmo importância nenhuma na forma como se escreve. E garanto que não foi intencional.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

A moral dos coitadinhos - Luiz Felipe Ponde (FSP)

Na verdade, o Brasil foi muito além disso, pois além de criar uma moral -- e uma política -- dos coitadinhos, a constituinte congressual criou uma Constituição de todos os direitos e nenhum dever, instalando as bases de uma sociedade economicamente inviável, uma vez que a esquizofrenia econômica dos constituintes -- que continua com os congressistas desde então, com o PT e boa parte da esquerda e da própria sociedade -- faz com que mais e mais deveres são colocados nas "costas" do Estado, e mais e direitos são atribuídos a todos e a qualquer um, especialmente a grupos peculiares, e bizarros, que se acham oprimidos e reivindicam tratamento especial.
O Brasil é um país condenado a involuir, a não crescer, a regredir na escala civilizatória, em função de uma organização social e política inviável, totalmente incapaz de acumular riqueza para fins sociais, unicamente dedicada a carrear riquezas para os mais espertos (políticos e mandarins, em primeiro lugar, capitalistas promíscuos em segundo lugar, coitadinhos oprimidos em terceiro), tudo isso sendo pago pelo conjunto de trabalhadores e empresários, os únicos a criar riquezas que estão sendo dilapidadas por todos os demais.
Paulo Roberto de Almeida

A moral dos coitadinhos
Luiz Felipe Pondé
Folha de S.Paulo, Segunda-feira, 18 de maio de 2015

Penso como os britânicos: se dissociarmos direitos de deveres, viramos bebês que só sabem exigir direitos

A democracia contemporânea tem como um dos seus eixos a crença num contrato social baseado numa contabilidade de direitos. Todos querem direitos. Existe uma fé muito clara de que o direito a qualquer coisa que seja "é por si só um direito".

Filósofos britânicos dos séculos 18 e 19, entre eles Edmund Burke e Jeremy Bentham, integrantes do que a historiadora americana Gertrude Himmelfarb chama de iluminismo britânico, suspeitavam que uma democracia de direitos poderia levar à dissolução da relação entre direitos e deveres. E, por aí, a uma dissolução da noção de responsabilidade moral. Em termos contemporâneos, uma democracia de coitadinhos que pedem direito a tudo.

Os britânicos colocavam essa separação entre direitos e deveres na conta do delírio jacobino. A ideia dos britânicos era que se você trabalha muito (dever), você tem direito ao descanso. Se você é corajoso (dever), você tem direito à reverência daqueles que gozam da vida graças à sua coragem. Se você cuida bem de sua família (dever), você tem direito ao reconhecimento por parte daqueles cuidados por você.

Esses britânicos, que segundo Himmelfarb faziam uma sociologia das virtudes, entendiam que direitos e deveres são objetos da moral e jamais da política. Os jacobinos achavam que a política é que devia gerir os direitos. Para os britânicos, ao tornar isso objeto da política, os franceses eliminavam o fator esforço (dever) do ganho (direito).

Os franceses teriam inventado a ideia de que existem direitos "inalienáveis" do homem, pelo simples fato de que são homens. Acho a ideia fofa, mas continuo pensando como os britânicos: se dissociarmos direitos de deveres, viramos bebês chorões que só sabem exigir direitos.

Dito isso, vamos ao caso dos coitadinhos de hoje, no espírito de uma antropologia do ressentimento, a melhor ciência para compreendermos o espírito contemporâneo.

Vejamos o caso dos homens (gênero, não espécie) que estão começando a reclamar dos deveres masculinos. Na base dessa queixa está o bom e velho ressentimento.

Uma das demandas desses homens é o direito ao "aborto social". O termo é derivado de coisas como "nome social" para se referir a nomes transgêneros (ou seja, aceitos pela sociedade, mas sem referência ao sexo biológico, como uma menina que quer ser homem e passa a se chamar Roberto em vez de Alice, seu nome de nascimento).

"Aborto social" refere-se ao direito dos homens recusarem legalmente a paternidade de uma criança. Se o direito pega, o chamado "golpe da barriga" acaba. Nem a mãe nem a criança podem pedir grana (que é o que se pede, normalmente, em casos como esse, apesar de dinheiro não ser a coisa mais importante do mundo...).

A verdade é que, hoje, muitos homens mais jovens se sentem coitadinhos diante de mulheres superpoderosas. E já que as mulheres podem abortar os filhos, biologicamente (poder único da mulher), os homens reclamantes exigem o direito de abortar "socialmente" o feto. Sinto cheiro de ressentimento e vingança nessa, você não?

Mas existem fenômenos mais "sofisticados". Logo uma namorada vai ouvir do parceiro: "Você deve buscar funções que remunerem bem porque eu não estou disposto a arcar com o peso da obrigação de ser o provedor".

E aí, meninas superpoderosas, o que fazer com esses coitadinhos que não aguentam o peso e a solidão das obrigações? Nada a fazer, pois cobrar do homem o papel de provedor é "opressão", não?

Nada de ser professora de criança, nem de fazer artes plásticas, nem de trabalhar meio período, nem de trabalho "como escolha". Apenas a dura obrigação de prover. O trabalho deixa de ser uma opção existencial e se torna maldição cotidiana.

Claro que muitas meninas já vivem isso. Resta saber se estão confortáveis nesse lugar. Sendo a mentira a base de grande parte do pensamento público hoje, pouca gente tem a coragem de reconhecer a fria em que se meteu.

Ninguém quer deveres, só direitos. Mas são os deveres que sustentam a formação de vínculos; os direitos apenas geram demandas, por isso servem para políticos e embusteiros.

Mais crimes economicos do lulo-petismo: dependencia em nutrientes agricolas - Chico Graziano (OESP)

Muita suspeita a venda das jazidas de silvinita da Amazônia, que pertenciam à Petrobras, a uma multinacional canadense, um negócio que nem se sabe se foi aprovado pelo Conselho de Administração. O fato é que a presidente desse Conselho, atual mandatária, se irritou com o presidente da Petrobras por essa decisão. Pode indicar, como no caso de Pasadena, uma operação deliberada no exterior para obter "faturamento" em dólar, livre de controles no Brasil.
Assim são os petralhas, assim procedem os mafiosos, e vamos computando mais um crime econômico dos companheiros.
Paulo Roberto de Almeida

NPK: soberania roubada
Chico Graziano
 O Estado de S. Paulo, sábado 16 de maio de 2015
(www.xicograziano.com.br)
O Brasil importa 75% dos adubos químicos utilizados na agricultura. E  essa dependência externa, lamentavelmente, está crescendo. Em 2014, a  produção nacional de fertilizantes encolheu 5,2%. Uma prova da falta de  planejamento estratégico sobre o desenvolvimento nacional. Inexiste visão  de longo prazo na política agrícola.

Adubos químicos fornecem a nutrição básica das plantas. Resumem-se na famosa composição NPK: nitrogênio, fósforo e potássio. Quem descobriu que os vegetais requerem elementos minerais para crescer foi Justus von Liebig. Aos 19 anos, o genial químico alemão apresentou, em 1822, sua tese intitulada “Como os corpos minerais se relacionam com os corpos vegetais”. Nela comprovava que as plantas não “comiam” matéria  orgânica, conforme se pensava, mas apenas necessitavam das moléculas liberadas no húmus do solo.

A agricultura primitiva surgiu nos deltas – as várzeas dos rios – onde as  enchentes cuidam de repor a riqueza da terra. Valia apenas a fertilidade  própria do solo. Quando as lavouras avançaram para as florestas, terras “gordas”, ricas em matéria orgânica, se esgotavam e eram deixadas para descanso – o pousio - abrindo-se novas áreas. Nesse processo, estercos animais serviram de principal fonte de nutrientes. Depósitos naturais, como  dejetos de aves (guano) encontrados nas ilhas do Pacífico, na costa  peruana, se tornaram preciosos no século 19.

Após a Primeira Guerra Mundial a indústria de fertilizantes químicos se  estruturou nos EUA e na Europa, tornando-se capaz de atender a expansão agrícola exigida pelo aumento populacional. No Brasil, somente a partir de 1950 se firmaram as empresas do ramo. Surgiu em 1974 o Programa Nacional de Fertilizantes e Calcário Agrícola, fortalecendo o setor.  Resultado: no início dos anos 1980 o Brasil quase se tornou  autossuficiente.

Entre 1976 e 2013, a produção brasileira de grãos se expandiu em 306%, passando de 47 milhões para 191 milhões de toneladas.  Crescimento espetacular, ainda mais quando se verifica que a área cultivada aumentou apenas 51%, passando de 37 milhões para 56 milhões de hectares. Conclusão: houve forte elevação da produtividade física da terra, o dobro  da observada, no mesmo período, na agricultura norte-americana.

O feito, sensacional, não teria ocorrido sem a intensificação no uso de NPK. Nos últimos 25 anos o consumo agrícola de fertilizantes se multiplicou por dez, ou seja, cresceu 1000%. Essa curva ascendente na  demanda se destaca especialmente a partir de 1996, logo após a estabilização da economia. Sem a bagunça inflacionária, o crédito rural se tornou mais eficiente. Retornaram os investimentos. Deslanchou a  agricultura. Mas o país deixou de acreditar na indústria nacional, ampliando as compras de fertilizantes no exterior. Bom para as multinacionais.

Os adubos nitrogenados se fabricam a partir de derivados do petróleo, e o Brasil poderia neles ter autossuficiência. Já os fosfatados se obtêm de depósitos de rochas ricas desse elemento. Encontrados em todo o mundo, no Brasil as maiores jazidas se encontram em Minas Gerais, Goiás e São Paulo, atendendo hoje a metade do consumo das lavouras. Poderia crescer. Quanto aos adubos potássicos, extraídos de rochas sedimentares, a situação é mais difícil, pois a dependência externa atinge 90%.

Através da Vale do Rio Doce, explora-se aqui apenas uma mina de potássio, no complexo Taquari-Vassouras, situado em Sergipe. Sabe-se existir reservas submarinas de potássio na costa brasileira, em depósitos semelhantes aos salinos. Jamais se tentou explorá-los. Localizam-se na Amazônia, porém, as melhores possibilidades. Por debaixo da selva se localiza, a 650 metros de profundidade, grande reserva natural de silvinita, sedimento que se espalha por vasta região entre o Amazonas e o Pará. Tais riquezas do subsolo se conhecem há décadas e, bem exploradas, poderiam  atender até em 30% a demanda nacional.

Somente agora, porém, um projeto minerador, volumoso, se executa no município de Autazes (AM). Trata-se de um empreendimento dominado pela empresa canadense Falcon, que ainda aguarda as licenças ambientais e de lavra para iniciar sua exploração, prevendo começar a venda de fertilizante em 2018. Tudo demorado. Mais intrigante é saber que essas jazidas pertenceram à Petrobras até 2008, quando foram vendidas para a  multinacional do Canadá.  Quem realizou o negócio foi o então presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli.

Na época, o Ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, estava  elaborando um “plano nacional de fertilizantes” que, lançado, jamais saiu do papel. Dilma Roussef, então ministra da Energia, ficou sabendo a posteriori que a Petrobrás havia vendido os direitos de exploração do  potássio amazônico para a Falcon. “Ela deu um esporro no Gabrielli pela venda”, conta Stephanes em entrevista publicada fevereiro passado no Boletim Informativo nº 1290, da Federação da Agricultura do Paraná (FAEP).

Hoje, depois da corrupção descoberta pela operação Lava Jato, certos dirigentes da Petrobras se tornaram figuras suspeitas na malversação de dinheiro público. Teria sido respeitado o interesse público nessa venda das minas de potássio da Amazônia? Qual terá sido o real motivo da bronca da  Dilma no Gabrielli? Quem testemunhou essa negociação? Teve propina nesse negócio também? Eu não coloco minha mão no fogo.

Por essas e outras a agricultura nacional, que espanta o mundo com a pujança de suas safras, padece da crescente dependência externa na compra de seus fertilizantes. Uma perda de soberania roubada pelo descaso governamental. Falta planejamento sobre o futuro do nosso país.

domingo, 17 de maio de 2015

Voce ja viu uma explosao nuclear? Entao veja algumas - Delanceyplace

Today's selection -- from Area 51 by Annie Jacobsen. In the summer of 1946, Alfred O'Donnell witnessed Operation Crossroads, a series of two nuclear weapon tests conducted by the United States on the Bikini Atoll -- which at that point was the most powerful explosion in the history of humanity. O'Donnell was a member of the arming party that would wire and fire the atomic bombs during the operation. The maximum yield in Operation Crossroads was 21 kilotons (or 0.021 megatons). This was followed in 1954 by the detonation of Castle Bravo at 15 megatons -- the largest device ever detonated in atmospheric testing by the United States. In 1961, the Soviet Union detonated Tsar Bomba, at 50 megatons the largest man-made explosion in history, destroying everything in a 22 mile radius and causing damage to houses in Scandinavia thousands of miles from the test:

"Forty miles west of the lagoon, Alfred O'Donnell stood below deck in the control room of an observation ship watching the control bay. Above him, on deck, Los Alamos scientists, generals, admirals, and dignitaries waited in great anticipation for the bomb. Shielding their eyes were dark, 4.5-density goggles, necessary measures to prevent anyone from being blinded by the nuclear flash. O'Donnell worked the instrument panel in front of him. There were sixty seconds to go. He watched the auto sequence timer perform its function. With less than a minute remaining, the firing system moved into automation. The bars on the oscilloscopes moved from left to right as the signals passed down through the DN-11 relay system. There were ten seconds left. Then five seconds. The light for the arming signal blinked on. Two seconds. The firing signal flashed. 

"O'Donnell kept his eyes on the control panel down to the last second, as was his job. In the event of a malfunction, it would be up to him to let the commander know. But the signal had been sent without a problem, and now it was moving down the underwater wires, racing toward the Baker bomb. If O'Donnell moved fast, he could make it onto the ship's deck in time to see the nuclear blast. Racing out of the control room, he pulled his goggles over his eyes. Up on the ship's deck he took a deep breath of sea air. There was nothing to see. The world in front of him was pitchblack viewed through the goggles. He stared into the blackness; it was quiet and still. He could have heard a pin drop. He listened to people breathing in the silence. Facing the lagoon, O'Donnell let go of the ship's railing and walked out farther on the deck. He knew the distance from the button to the bomb and the time it took for the signal to get there. In a matter of seconds, the signal would reach its destination. 

"There was a blinding flash and things were not black anymore. Then there was a white-orange light that seemed brighter than the sun as the world in front of O'Donnell transformed again, this time to a fiery red. He watched a massive, megaton column of water rise up out of the lagoon. The mushroom cloud began to form. 'Monstrous! Terrifying! It kept getting bigger and bigger,' O'Donnell recalls. 'It was huge. The cloud. The mushroom cap. Like watching huge petals unfold on a giant flower. Up and out, the petals curled around and came back down under the bottom of the cap of the mushroom cloud.' Next came the wind. O'Donnell says, 'I watched the column as it started to bend. My eyes went back to the top of the mushroom cloud where ice was starting to form. The ice fell off and started to float down. Then it all disappeared into the fireball. Watching your first nuclear bomb go off is not something you ever forget.'


"Mesmerized by the Baker bomb's power, O'Donnell stood staring out over the sea from the ship's deck. He was so overwhelmed by what he'd witnessed, he forgot all about the shock blast that would come his way next. The wave of a nuclear bomb travels at approximately one hundred miles per hour, which means it would reach the ship four minutes after the initial blast. 'I forgot to hold on to the rail,' O'Donnell explains. 'When the shock wave came it picked me up and threw me ten feet back against the bulkhead.' Lying on the ship's deck, his body badly bruised, O'Donnell thought to himself: You damn fool! You had been forewarned."

Video of Castle Bravo:



Video of Tsar Bomba:  





Area 51: An Uncensored History of America's Top Secret Military Base
Author: Annie Jacobsen
Publisher: Little, Brown and Company
Copyright: 2011 by Anne M. Jacobson
Pages: 28-29

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