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quarta-feira, 20 de maio de 2015
Programa nuclear iraniano: acordo atual melhor do que o de 2010 com o Brasil, diz iraniano
Então, toda aquela conversa em torno das maravilhas do acordo tripartite de 2010 não parece condizer com a realidade das coisas.
Pior para a realidade, não é mesmo?
Mas o principal autor do acordo de 2010 defende a sua versão, mais abaixo...
Paulo Roberto de Almeida
Acordo com potências é melhor do que o acertado com Brasil, diz iraniano
Entrevista: Mohammad Ali Ghanezadeh
Folha de S. Paulo, 20/05/2015
O embaixador do Irã no Brasil, Mohammad Ali Ghanezadeh, acompanha as negociações sobre o programa nuclear de seu país com as potências mundiais com uma certeza: as condições agora são "muito melhores" para Teerã do que as acertadas em 2010 na negociação entre Irã, Brasil e Turquia.
"O primeiro acordo era mais positivo para os países ocidentais", disse em entrevista à Folha.
O diplomata, que trata a necessidade de transferência de urânio para um outro país como algo já fora do texto a ser finalizado pelo Irã e o P5+1 (EUA, França, Reino Unido, Rússia, China e Alemanha) até 30 de junho, diz ser essa a grande vantagem das novas negociações.
"Em 2010, foi acertado que o urânio do Irã deveria ser transferido a outro país, e não havia garantia de que o material, transformado em combustível, voltaria para o país a tempo", disse. "Agora manteremos o material no Irã e nós mesmos produziremos nosso combustível, o que é muito melhor", afirmou. Para ele, não há nada que possa ser aproveitado do Acordo de Teerã (2010) no novo texto.
Folha - O Congresso dos EUA aprovou uma lei que permite aos parlamentares revisar o possível acordo entre Teerã e as potências ocidentais sobre o programa nuclear do Irã. Isso gera uma desconfiança sobre o compromisso americano?
Mohammad Ali Ghanezadeh - Em nossas negociações na Suíça, chegamos a um entendimento geral com o P5+1, que é a base deste acordo que será preparado. Conforme esse entendimento, estamos avançando. Se houver alguma mudança, isso vai ser um problema [interno] dos EUA e eles terão que chegar a uma solução.
Apesar da desconfiança histórica que o Irã tem em relação aos EUA, mais uma vez estamos experimentando para ver até onde pode chegar a confiança.
O objetivo da delegação iraniana é seriamente alcançar um acordo. Se a negociação não chegar ao final, será culpa dos EUA.
Do que o Irã não abre mão para fechar o acordo?
Para os iranianos, o importante é o reconhecimento do direito do Irã de ter tecnologia nuclear para fins pacíficos. E também é fundamental que o país continue suas pesquisas na área de ciência e tecnologia.
O texto final do acordo com as potências tem que ser fechado até 30 de junho. É possível aproveitar algo do que foi acertado por Brasil, Irã e Turquia na Declaração de Teerã, de 2010?
Não. O primeiro acordo, entre Irã, Brasil e Turquia, era mais positivo para os países ocidentais do que para os iranianos. Agora, as condições mudaram.
O acordo negociado agora é mais positivo para o Irã que o de 2010?
Sim. Esse acordo é muito positivo. Em 2010, foi acertado que o urânio do Irã deveria ser transferido a outro país, e não havia garantia de que o material, transformado em combustível, voltaria para o país a tempo. Agora [se o acordo for fechado] manteremos o material no Irã e nós mesmos produziremos nosso combustível, o que é muito melhor.
O Brasil poderia ajudar nas negociações com as potências?
O Irã não fez pedido a nenhum país, mas o país que quiser ajudar é bem-vindo.
O que significaria para o Irã a retirada de sanções?
Apesar de 36 anos de embargo, continuamos avançando na área de tecnologia nuclear. Desenvolvemos um satélite e colocamos ele em órbita –inclusive com um ser vivo.
É claro que [o fim das sanções] iria aumentar a velocidade de avanço iraniano na área de pesquisa e tecnologia. Mas também, retirando as sanções, os outros países terão uma oportunidade de aproveitar um mercado de 80 milhões de pessoas. Será bom para as duas partes.
O regime não teme uma abertura maior ao Ocidente?
O que a cultura ocidental poderia trazer que deixasse os iranianos preocupados? Acreditamos que o Irã é o único país democrático no Oriente Médio e, em 36 anos, tivemos 34 eleições livres [contando pleitos parlamentares e regionais]. As mulheres têm atividades em todas as áreas, 63% dos estudantes universitários são mulheres. A porcentagem de deputadas na Câmara iraniana, em relação à população, é muito maior que na Câmara dos Deputados do Brasil.
O Irã não é como alguns países do Oriente Médio onde as mulheres não têm direito nem de dirigir. Se essa influência chegasse para a Arábia Saudita, poderia gerar temor. Não no Irã.
O presidente do Iêmen, Abd Rabbo Mansour Hadi, acusa o Irã de apoiar os houthis contra seu governo. Para Teerã, esse governo não é legítimo?
É trabalho dos iemenitas reconhecer um governo ou tirá-lo do poder, não de outros. Mas um terço da população não está reconhecendo.
Os houthis são um terço da população do Iêmen e eles têm direitos. A Arábia Saudita, ao invés de contribuir para o reconhecimento do direito deles, os atacou. Não quis reconhecer as realidades da sociedade iemenita.
Acreditamos que esses problemas devem ser solucionados pela população do Iêmen. Somos contra a intervenção de qualquer país. O Irã não tem nenhuma força militar nem consultiva no território iemenita.
Nós temos muita preocupação do ponto de vista humanitário. Desejamos que essa guerra acabe o mais rápido possível. Pensamos que a polarização no Iêmen é um perigo e queremos a unidade desse território.
O conflito do Iêmen pode alcançar uma escala regional?
Não acho que chegará a se tornar um conflito regional. O ataque da Arábia Saudita ao Iêmen é um erro estratégico, e as consequências só trazem prejuízo para os sauditas. Primeiro, porque aumentou o perigo de ação extremista dentro da Arábia Saudita, ao dar mais espaço para grupos ativos no Iêmen, como a Al Qaeda.
Além disso, a fronteira deles não estava em perigo antes, porque os houthis tinham enviado uma mensagem de que a fronteira estava segura. Agora há um risco.
Há uma chance de cooperação direta do Irã com a coalizão liderada pelos EUA contra o Estado Islâmico no Iraque?
O problema do EI é uma produção desses países ocidentais, inclusive dos EUA, por isso eles não estão lutando seriamente contra a facção. Alguns países ocidentais e aliados dos ocidentais fornecem equipamentos e armas para o EI, por isso não nos juntamos à essa coalizão.
Mas como o Irã acredita que o EI é um perigo para o mundo islâmico e para o Irã, está lutando junto com o Iraque contra ele.
Com base em que o sr. diz que os EUA apoiam o EI?
Todos sabem que os americanos forneceriam equipamentos e armas aos curdos que lutam contra o EI, mas, de helicóptero, eles jogaram esse material justamente em locais onde está ativo o EI. Essas são informações da nossa inteligência.Além disso, os EUA dizem que eles são o país com maior poderio bélico, então como não conseguiram lutar contra um grupo?
Qual seria o interesse dos EUA em ajudar o EI?
Eles têm dois objetivos. Um é dar oportunidade para que extremistas que vivem em seus países migrem para [a Síria e o Iraque para] se unir ao EI e morram ali, tornando sua comunidade mais segura.
A outra razão é enfraquecer os países islâmicos para proteger a segurança de Israel. E os países islâmicos estão mais fracos.
Mas o EI não é uma ameaça também aos EUA?
Sim, mas eles não querem acreditar. Eles criaram a Al Qaeda no Afeganistão e deram a eles armas avançadas para lutar contra os russos [na década de 80]. A América não pensou que, um dia, eles poderiam se voltar contra os EUA, mas depois vimos o 11 de Setembro.
Como o Irã vê a abstenção do Brasil na votação na ONU sobre violações de direitos humanos no Irã?
A relação entre Brasil e Irã já tem 120 anos e nunca temos uma única mancha nela. Esse foi um movimento positivo, se comparado com votos anteriores, e nós agradecemos e saudamos. O Brasil tem ficado cada vez mais por dentro dos avanços dos direitos humanos no Irã e das medidas que temos tomados.
O governo brasileiro chegou a um entendimento que direitos humanos e democracia não são um projeto, mas um processo. O Brasil começou a entender mais a realidade da sociedade do Irã, deu um passo à frente baseado em fatos, e não em política.
E sobre a relação comercial entre os dois países? Ela teve uma queda no governo Dilma.
No início do governo Lula, nosso volume de comércio era de US$ 500 milhões [balança em 2002], e por causa da interação entre os dois governos, atingiu US$ 2,4 bilhões em 2011. Desde então, começou a cair. Em 2013, as trocas foram de US$ 1,6 bilhão.
O Brasil não tem usado as oportunidades que existem no Irã. No lado iraniano, estamos abertos e prontos para aumentar sem limitações.
O interessante é que essa relação é favorável ao Brasil. Dos US$ 1,6 bilhão, só 8 milhões foi de exportações iranianas para o Brasil. E esse mercado não usado pelo Brasil tem sido aproveitado por outros: China, Índia e até Austrália. Você não vai acreditar, mas no último ano, a nossa relação comercial com a América aumentou 30%, enquanto com o Brasil diminuiu.
Mas não acho que [a queda] seja uma questão política. Ela depende de alguns fatores, e um deles é a crise econômica mundial.
O jornalista americano-iraniano Jason Rezaian, do "The Washington Post", está detido desde julho passado e só no último mês foram apresentadas acusações contra ele –entre elas, espionagem. Diante de uma aproximação no diálogo com os EUA, não seria a hora de considerar sua libertação?
Ele foi preso por razões de segurança. A CIA e outros órgãos de inteligência nos EUA pediram que ele coletasse informações no Irã. Ele mesmo admitiu isso. Então ele não foi preso como jornalista. O caso está na Corte e eles estão avaliando [o caso] com base nas informações que eles têm. A decisão final sobre o seu destino é da Corte.
Não devemos ligar esse caso à questão nuclear. Os EUA também prenderam mais de 30 iranianos por causa de sanções e diferentes crimes, com diferentes acusações.
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IRÃ
Amorim contesta fala de embaixador do Irã sobre acordo mediado por Brasil
Isabel Fleck
Folha de S. Paulo, 20/05/2015
Em sabatina na Folha na manhã desta terça (19), o ex-chanceler Celso Amorim disse estranhar as declarações do embaixador iraniano no Brasil, Mohammad Ali Ghanezadeh, de que o acordo negociado com as potências agora é mais positivo para Teerã do que o acertado entre Brasil, Turquia e Irã em 2010, quando ele era ministro.
"É curioso porque as críticas que sempre foram feitas à Declaração de Teerã foi de que ela era insuficiente do ponto de vista do Ocidente, e agora o embaixador vem e diz que [a de agora] é melhor [para o Irã]", disse Amorim.
"Mesmo admitindo que pode haver ganhos para os dois lados, se eu tivesse que lidar com a opinião pública americana, eu ficaria preocupado com a declaração de que, depois de anos, os EUA negociam um acordo que é mais favorável ao declarado adversário do que o que havia sido negociado pelo Brasil e pela Turquia, e que os EUA rejeitaram."
Amorim reconhece que o acordo atual —que está sendo discutido entre o Irã o chamado P5+1 (EUA, França, Reino Unido, Rússia, China e Alemanha)— é mais amplo que o de 2010, que era mais "um gesto unilateral do Irã para ganhar confiança e possivelmente evitar que medidas fossem tomadas no Conselho de Segurança".
"É até possível que, do ponto de vista do Irã, que estaria, por exemplo, prevendo uma eliminação mais rápida das sanções, esse acordo possa ser mais favorável para eles", disse.
Para o ex-chanceler, que trata das negociações de 2010 em seu novo livro, "Teerã, Ramalá e Doha —memórias da política externa ativa e altiva", também chama a atenção o fato de os EUA negociarem um acordo agora, quando o Irã possui 10 toneladas de urânio levemente enriquecido.
"Naquela época, o Irã tinha 2.000 quilos, e uma das razões apontadas pela então secretária de Estado [Hillary Clinton] para não aceitar aquele acordo, contrariando o que o próprio presidente dos EUA havia sugerido, era o fato de o Irã ter aumentado de 1.200 para 2.000 quilos. Agora são 10.000", ressaltou.
"Evidentemente, com 10.000 quilos você está muito mais próximo de ter um pequenino arsenal do que com 2.000", disse.
Segundo Amorim, Hillary "sempre se revelou mais cética" da possibilidade de um acordo com o Irã do que o presidente Obama. "Também não se pode supor que ela não concordava, senão teria pedido demissão", afirmou. "Acho que os fatores eram complexos."
Ele revelou ter ouvido, depois, que nas três semanas que separaram o envio de uma carta por Obama a Lula e ao então premiê turco Recep Tayyip Erdogan respaldando as negociações e a divulgação da Declaração de Teerã, em 2010, Hillary teria assumido "compromissos com o Congresso norte-americano para que não adotasse sanções unilaterais e esperasse que ela conseguisse sanções do Conselho de Segurança da ONU".
OBAMISTA
Amorim contou ter escrito uma carta ao editor da "Foreign Policy", David Rothkopf, depois que este publicou um artigo no qual sugere que as negociações com o Irã serão o maior legado do governo Obama.
"Não me contive. Disse a ele: 'Primeiro, Cuba, depois, o Irã. Engajamento no lugar de confrontação. A política externa norte-americana está cada vez mais parecida com a brasileira'. Ele concordou comigo", contou Amorim, rindo. "Nesse ponto, sou Obamista", completou o ex-chanceler.
Apesar disso, ele revela que a relação do Brasil com os EUA durante o governo de George W. Bush era mais "direta".
"Nós tivemos muitas discordâncias, muito óbvias, desde o início do governo. (...) Mas a relação com o Bush era mais direta", disse. "A impressão que eu tinha nas conversas com o presidente Obama é que ele não dava atenção muito real ao que estava sendo dito. Ele [nos] tratava bem, mas eu discernia um certo paternalismo."
PROTAGONISMO
Amorim rejeitou a ideia de que o Brasil tenha deixado de ser um importante ator no cenário internacional nos quatro anos de governo Dilma Rousseff.
"O Brasil não caiu do mapa do mundo. O Brasil está presente no mapa do mundo, é sempre lembrado para funções, mas eu diria que os momentos variam", afirmou, citando que um dos principais programas de estudo em relações exteriores da Universidade Harvard inclui o Brasil na disciplina que estuda a política externa das potências.
"Tenho a certeza de que, no médio e longo prazo, a curva [da política externa brasileira] é ascendente. Pode haver momentos em que, por uma necessidade ou outra, certos aspectos recebam menor ou maior ênfase", disse.
Da diplomacia dos antigos comparada 'a dos modernos - Paulo Roberto de Almeida
Da diplomacia dos antigos comparada à dos modernos, por Paulo Roberto de Almeida
Sob a inspiração e com o devido copyright moral corretamente atribuído a um antecessor bem mais antigo e famoso: Benjamin Constant (De la liberté des anciens comparée à celle des modernes, discurso em 1819; disponível: http://www.panarchy.org/constant/liberte.1819.html; acesso em 21/04/2015).
Paulo Roberto de Almeida é diplomata e professor do Centro Universitário de Brasília – Uniceub (@pauloalmeida53).
Tratado Universal dos Deveres do Ser Humano - Simone Weil, via Aldemar Parola
A Moral dos Coitadinhos - Luiz Felipe Pondé
que transcrevo por inteiro, dada sua importância e complemento ao artigo de Luiz Felipe Pondé.
Grato ao Aldemar Parola.
Paulo Roberto de Almeida
Aldemar Parola
9 horas atrás - Compartilhada publicamenteNão sei porque comprei o livro, mas acho que folheei a primeira página e isso deve ter provocado em mim um forte impacto:
“A noção de obrigação ultrapassa a noção de direito, que lhe é subordinada e relativa. Um direito não é eficaz por si próprio, mas somente pela obrigação à qual corresponde; a realização efetiva de um direito provém não daquele que o possui, mas dos outros homens que se reconhecem obrigados a alguma coisa para com ele. A obrigação é eficaz desde que seja reconhecida. Uma obrigação não reconhecida por ninguém não perde nada da plenitude de seu ser. Um direito que não é reconhecido por ninguém não é grande coisa.
Não tem sentido dizer que os homens têm, por um lado, direitos, e por outro lado deveres. Essas palavras não exprimem senão diferenças de ponto de vista. Sua relação é a do objeto e do sujeito. Um homem, considerado em si mesmo, tem somente deveres, entre os quais se encontram certos deveres para consigo próprio. Os outros, considerados de seu ponto de vista, têm somente direitos. Ele tem direitos, por sua vez, quando é considerado do ponto de vista dos outros, que reconhecem ter obrigações para com ele. Um homem que estivesse sozinho no universo não teria nenhum direito, mas teria obrigações.”
Um ponto que sempre me intrigou foi porque existe uma Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela ONU em 1948 (alguns anos após a morte de Simone Weil) e não existe uma Declaração Universal das Obrigações (ou Deveres) do Ser Humano.
Aliás, o subtítulo de L’Enracinement é: PRÉLUDE À UNE DÉCLARATION DES DEVOIRS ENVERS L’ÊTRE HUMAIN. Na minha opinião, uma Declaração Universal das Responsabilidades Humanas deveria ter sido aprovada pela ONU antes da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Só recentemente descobri que o InterAction Council ( http://interactioncouncil.org/ ) em 1997 havia proposto uma Déclaration universelle des obligations de la personne (Declaração Universal dos Deveres do Homem na versão em português e na forma que me parece mais adequada na versão em inglês: “Universal Declaration of Human Responsibilities.") que não foi adotada pela ONU. É bem verdade que o InterAction Council, por ser composto principalmente por Chefes de Governo, entre os quais José Sarney, talvez não seja entidade mais adequada para tal proposição.
Todos os políticos deviam ler o livro L’Enracinement conforme recomendação de T. S. Elliot no prefácio por ele redigido para a primeira edição em língua inglesa:
“Este livro pertence à categoria dos prolegômenos à política que políticos raramente lêem e que a maioria deles provavelmente não compreende nem sabe como aplicar. Tais livros não influenciam a conduta contemporânea dos assuntos públicos: chegam muito tarde para homens e mulheres já engajados nessa atividade e comprometidos com o jargão do mercado. É um dos livros que devem ser estudados pelos jovens antes que seu tempo livre tenha sido perdido e sua capacidade de pensamento destruída na vida dos colégios eleitorais e assembleias legislativas; livros cujos efeitos, apenas podemos esperar, se tornariam aparentes no espírito de uma outra geração.”
Cingapura: cresceu mais de cem vezes desde a independencia - Paulo Silva Pinto (CB)
PAULO SILVA PINTO - Enviado especial
Correio Braziliense, 19/05/2015
Cingapura — Poucos países têm hoje uma situação econômica de que seus habitantes possam se gabar. Entre os que se livraram da colonização recentemente, a lista é ainda menor. E, se for para aumentar a restrição, considerando apenas as nações pobres em recursos naturais, sobra só uma. É por isso que os 5,47 milhões de moradores de Cingapura se preparam para fazer muita festa em 9 de agosto, quando o país completará 50 anos, cinco a menos do que Brasília. É a data em que os cingapurenses deixaram a Federação Malaia, a qual integravam havia menos de dois anos depois de terem deixado de fazer parte do território britânico.
As comemorações terão um sabor especial pelo fato de que Cingapura não pediu para sair, foi expulsa da Malásia. O argumento, na época, era que haveria grande risco para o equilíbrio de forças mantendo-se uma região na qual a composição étnica era diferente dos demais — 75% dos cingapurenses são de famílias de origem chinesa, e os demais se dividem basicamente entre os descendentes de malaios e indianos.
Com 718 km², 12% do território do Distrito Federal, Cingapura tem um Produto Interno Bruto (PIB) per capita de US$ 55.187, o terceiro maior do mundo. Entre 1965 e 2013, o PIB per capita foi multiplicado por 107, enquanto o da Malásia ficou em 32 vezes o que era. O Brasil conseguiu um fator intermediário: 43. Para avançar tanto, o governo do pequeno país asiático investiu pesadamente em educação e em infraestrutura.
Parte da água ainda é importada de Malásia, mas, cada vez menos, pois o esgoto é tratado de modo tão rigoroso que o líquido resultante pode ser ingerido pelas pessoas. De uma imensa favela à beira-mar, Cingapura virou um dos lugares mais organizados do mundo. O governo provê habitação social para 85% dos habitantes. Mas não paga aposentadoria com recursos públicos. Com isso, a carga tributária não passa de 16% do PIB. No Brasil, são 36%.
O país é um importante centro de logística, com o segundo maior porto do mundo — perde apenas para Roterdã, na Holanda. Embora o setor de serviços venha se expandindo rapidamente, a indústria responde por 29% do PIB. Mesmo sem produzir uma gota de petróleo, Cingapura tem uma das maiores refinarias do mundo. A construção de navios e plataformas de petróleo é um dos principais setores da economia.
Relações
O país aposta na relação com o Brasil, e uma demonstração disso está no fato de ter instalado em Brasília uma das poucas embaixadas que mantém mundo afora: são apenas 35. Há uma única outra representação nas Américas, em Washington. O embaixador brasileiro em Cingapura, Luís Fernando Serra, afirma, porém, que não é fácil o incremento das relações econômicas. “Tenho dificuldade de convencer brasileiros da importância de estar em um mercado tão significativo quanto esse.” O embaixador de Cingapura no Brasil, Choo Chiau Beng, é também empresário e passa a maior parte do tempo em seu país. Mas acompanha tudo o que acontece por aqui. Para ele, os protestos que ocorreram em junho de 2013 são resultado do aumento da classe média. “Isso eleva as expectativas e cobranças da população”, afirma.
A liberdade de manifestação é, aliás, um dos poucos itens que coloca o Brasil à frente de Cingapura. No país asiático, só é possível protestar se o governo autorizar, e o pedido deve ser feito com um mês de antecedência. Embora haja eleições diretas, a influência do partido que está no governo desde que o país foi criado é muito forte, o que limita o crescimento das legendas de oposição. O primeiro-ministro Lee Hsien Loong é o filho mais velho do fundador de Cingapura, Lee Kwan Yew, que governou o país por três décadas, até o começo dos anos 1990. Ele faleceu em 23 de março, aos 91 anos.
O repórter viajou a convite do governo de Cingapura.
Um escritor versatil, residente em Connecticut, falando de imigrantes nos EUA - Jose Inacio Werneck
Surpresas sempre acontecem.
Paulo Roberto de Almeida
Os imigrantes e a curiosa história de meus livros
Por José Inácio Werneck, de Bristol
No espaço de três anos, entre 2004 e 2006, escrevi não apenas o “Com Esperança no Coração” como também a novela “Sabor de Mar”, pela Editora Revan, e uma estranha obra que nem sei como explicar direito, mas que começou com um convite da editora Simon &Schuster.
Era, é ou foi um livro sobre o Pelé, em inglês. Que destino tomou, não sei. Sei apenas que um dia meu amigo escocês Hugh McIlvanney me telefonou de Londres dizendo que a Simon & Schuster ia publicar uma biografia de Pelé e, através de uma subsidiária chamada Gloria Books, lançar uma edição de luxo, de tiragem restrita.
Eu tinha sido escolhido para não somente escrever sobre Pelé como para traduzir para o inglês o que viria a ser produzido pelo respeitado jornalista-historiador João Máximo.
Pus mãos à obra. Escrevi sobre o dia em julho de 1957 em que me encontrava com um grupo de amigos no bar Veloso, na rua Montenegro (agora respectivamente Garota de Ipanema e Vinicius de Moraes), em Ipanema, e consegui uma carona (não tinha carro na ocasião) para ir ao Maracanã.
O Brasil enfrentava a Argentina. No segundo tempo um crioulinho franzino, de 16 anos, entrou em campo e fez um gol. Era Pelé. Fez ali sua estreia pela Seleção Brasileira e iniciou-se a maior história do futebol mundial.
Escrevi sobre isto e outros fatos de uma extraordinária carreira. Traduzi o que João Máximo botou no papel (melhor dizendo, computador) e editei, em inglês, o depoimento de diversos outros jornalistas brasileiros.
Tempos depois, num almoço em Londres, fiquei conhecendo os executivos de Gloria Books. O repasto era regado apenas a água mineral, pois eram todos muçulmanos, até que meu amigo Hugh McIlvanney resolveu por fim àquele “non-sense”, chamou o garcon e mandou descer um vinho. Na conta dos muçulmanos, é claro. A partir dali a refeição tornou-se mais saborosa.
Se me perguntarem o que aconteceu ao livro, não sei. Tenho as provas em casa, pois foi nelas que labutei para fazer a revisão. Recebi o pagamento que me era devido, mas apenas depois de longa troca de e-mails e telefonemas. Quando, em julho de 2013, estive outra vez com Hugh em seu apartamento, em Richmond (cercanias de Londres), ele me confessou que também nunca mais ouviu falar da biografia nem da tal “edição de luxo” em “tiragem limitada”.
Tão limitada que aparentemente ninguém sabe, ninguém viu. Se alguém souber, me dê notícias. Eu tinha também um plano de, junto com Roberto Porto e o já citado João Máximo, escrever um livro sobre o Jornal do Brasil, cuja fase áurea e posterior declínio nós três conhecíamos muito bem. Demoramos tanto a passar da ideia à realidade que nosso grande amigo Roberto Porto já morreu.
Chegará este livro a ver a luz do dia?
Quanto ao “Sabor de Mar”, passou por chuvas e trovoadas. Os percalços foram decorrentes do fato de que, para homenagear uma amiga morta, resolvi, quando estava no meio do livro, trocar o nome da protagonista de Ana Maria para Maria Eduarda.
Acontece que, por artes do computador, houve quatro ou cinco episódios em que o nome Ana Maria continuou aparecendo, o que confundiu os leitores e causou queixas e reclamações.
A boa notícia é que o “Sabor de Mar” acaba de passar por uma reedição que corrigiu este e outros erros. Ele agora pode ser encontrado em “e-book” nas seguintes editoras:
Gato Sabido Livraria
Site: http://www.gatosabido.com.br/ – Livraria da Travessa, Site: http://www.travessa.com.br/ – Livrarias Curitiba, Site: http:www.livrariascuritiba.com.br/ – Livraria do Advogado,
Site: http://www.livrariadoadvogado.com.br – Buqui, Site: http:www.buqui.com.br/ – JET Soluções Educacionais, Site: http://www.jetebooks.com.br- Livraria da Folha,
Direto da Redação é um fórum de debates, editado pelo jornalista Rui Martins.
terça-feira, 19 de maio de 2015
A Patria Corrupta, Corruptora, Fora-da-Lei, Prevaricadora, tudo sob patrocinio do governo - Carlos Brickmann
Paulo Roberto de Almeida
A casa da Mãe Dilma
Coluna Carlos Brickmann, 20/05/2015
Imagine o caro leitor que esteja andando na rua e, por algum motivo, pegue uma pedra e a atire na janela de uma casa. Na hipótese de haver algum policial por perto, o caro leitor será preso e, no mínimo, terá de prestar declarações na delegacia mais próxima - isso se tiver sorte e não apanhar antes de ser levado.
Pois bem: o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra, MST, invadiu ontem, em Brasília, o Ministério da Fazenda - nada mais justo, porque fazendas é exatamente o que querem invadir. Quebraram janelas, arrombaram portas, causaram prejuízos que serão pagos com dinheiro de nossos impostos. Impediram o ministro Joaquim Levy, por quase meia hora, de entrar em seu gabinete. Foram fotografados, filmados, gravados. Nenhum militante foi preso, nenhum militante detido para averiguações, a ninguém se pediu o pagamento pelo prejuízo. Foram embora, enfim - em direção ao outro Ministério, o do Desenvolvimento Agrário.
Todos os cidadãos são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros. Há os que têm direito de depredar a Câmara dos Deputados, como fez o grupo liderado por Bruno Maranhão, dirigente petista de nobre estirpe; há os que têm direito de invadir institutos de pesquisa e destruir espécimes desenvolvidos por mais de dez anos. Há os que invadem áreas próximas ao Pico do Jaraguá, em São Paulo, recebem determinação judicial de deixar a área mas têm direito à proteção da Funai para descumpri-la.
São os que, como o agente 007, dispõem de licença oficial para agir à margem da lei.
São os hóspedes queridos da casa da Mãe Dilma.
A Pátria transparente
Informação da coluna Cláudio Humberto (www.diariodopoder.com.br): apesar da Lei de Transparência, a Presidência da República segura as informações sobre o cartão corporativo de Rose Noronha, que chefiou seu escritório em São Paulo.
Pediu 45 dias para copiar e entregar o relatório dos gastos da servidora.
Acordo Ortografico do Bom Senso: bastam duas linhas - Francisco Seixas da Costa, Joao Costa
Não seria mais prático assim?
Paulo Roberto de Almeida
O Acordo poderia ter duas linhas...
Francisco Seixas da Costa
Blog duas ou três coisas, 18/05/2015
Um amigo que muito prezo, escreveu um texto delicioso sobre o Acordo Ortográfico, sob o título em epígrafe, que lhe pedi que me deixasse publicar por aqui. Ele aí vai:
"Para que fique bem clara a minha posição sobre o Acordo Ortográfico: percebo que este dispositivo interesse aos Ministérios dos Negócios Estrangeiros para dar uma imagem de cooperação entre os países de língua portuguesa. Se tivesse sido eu a escrevê-lo, teria a seguinte formulação:
Artigo único:
Reconheçam-se como válidas, em todos os países da CPLP, as normas ortográficas em vigor nos restantes países.
Esta formulação permitiria que o uso de qualquer variante ortográfica não pudesse ser penalizado ou considerado ilegítimo em qualquer país de língua oficial portuguesa ou em qualquer contexto de uso da língua.
Esta não foi a opção de quem negociou o Acordo Ortográfico, tendo sido preferida uma versão que tenta unificar a ortografia.
Quem me conhece sabe que não consegue arrancar de mim nenhuma posição inflamada a favor ou contra o Acordo Ortográfico. Sei que a ortografia é uma mera convenção, que nenhuma versão da nossa ortografia foi coerente entre transparência ou etimologia e que esta e outras versões de instrumentos de normalização ortográfica têm problemas técnicos já assinalados por vários. Não me parece que a versão 1990 seja pior ou melhor do que a versão 1945 – basta pensar no uso do hífen. É apenas uma convenção – o facto de “hospital” se escrever com h.
Muito do debate em torno do Acordo Ortográfico rasa o absurdo e descreve as consequências da sua aplicação como algo próximo do Armagedão. Há dados que me fazem manter-me longe deste debate.
Sempre que sai uma notícia num jornal sobre o Acordo Ortográfico, surgem centenas de comentários de leitores que, horrorizados, listam os horrores do Acordo Ortográfico em mensagens pejadas de erros ortográficos.
Ouvia, há tempos, alguém que tinha escrito “nada a opôr [sic]” vociferando que não retirava o acento circunflexo, porque se recusa a escrever com o Acordo Ortográfico, que sempre escreveu assim e não vai mudar!
O mesmo, tal e qual, ouvi de alguém que, num programa de rádio, dizia: “não é por causa dos brasileiros que vou tirar a cedilha de vocês”!
A obsessão com a ortografia e tudo o que se diz sobre o seu impacto no mundo é a consequência de uma escolarização em que as produções escritas são, tradicionalmente, corrigidas em função de desempenhos temáticos e ortográficos. Coesão e coerência, conformidade com sequências textuais ou explicitação de regras de pontuação são dimensões da escrita a que a escola nunca prestou a devida atenção, que justificam muitos problemas de escrita (e leitura) e que explicam que se dê tanta importância à ortografia.
Tratando-se apenas de uma convenção, a ortografia não gera penalizações. Se eu escrever a minha lista de compras para o supermercado com inúmeros erros, ninguém saberá e, mesmo que saiba, nada acontece. Só no sistema educativo é que há penalização do erro e é interessante verificar que a introdução do Acordo Ortográfico no sistema educativo se deu sem problemas.
Se é verdade que a ortografia é uma mera convenção e que quem redigiu o Acordo visou uma unificação da ortografia, também é verdade que qualquer pessoa minimamente informada sobre as variantes do português deveria saber que as diferenças fundamentais entre o português usado em Portugal, no Brasil, Angola, Moçambique não estão na ortografia. Tente-se escrever um texto em conjunto com um colega brasileiro e veja-se como se tropeça em cada linha. Há um evidente desconhecimento da língua portuguesa na génese de algumas decisões políticas, o que é confrangedor.
Passados vinte anos sobre a criação deste Acordo, não são ainda evidentes os passos claros que a CPLP está a dar para uma eficiente política de língua. Para dar apenas um exemplo, ainda não se vislumbra uma política comum sobre o ensino de português no estrangeiro.
Dito tudo isto, alguns amigos que conhecem esta minha posição (ou ausência de posição), perguntam-me se uso ou não o Acordo Ortográfico. Comecei a usar no dia em que li um arrazoado de argumentos nacionalistas e de comentários racistas sobre os restantes países da CPLP a propósito do Acordo Ortográfico. Pensei que não queria ser identificado com aquele tipo de argumentação e nesse mesmo dia passei a utilizar, sem grande dificuldade, a nova convenção ortográfica (nunca senti aquela insegurança de que alguns falam, dizendo “Agora não sei como se escreve”).
Passados alguns meses, participei numa reunião em que, em defesa do Acordo Ortográfico, ouvi um eminente académico tecer comentários absolutamente nacionalistas e a rasar o racismo... Fiquei sem saber o que fazer e, pela primeira vez, me deparei com a hesitação de não saber como escrever.
Cresce em mim a vontade de reagir de forma adolescente e não usar o Acordo quando escrevo àqueles que o defendem ferozmente e usar quando escrevo aos que são violentamente contra. Mas, por vezes, tenho de escrever a ambos e, nessa altura, penso: isto é apenas uma convenção, para quê gastar tempo a pensar no assunto?
Se se tivessem ficado pelas minhas duas linhas, ter-se-ia poupado muito tempo...
João Costa
PS: Ao reler o texto, apercebo-me de que, por vezes, o Acordo Ortográfico não tem mesmo importância nenhuma na forma como se escreve. E garanto que não foi intencional.
segunda-feira, 18 de maio de 2015
A moral dos coitadinhos - Luiz Felipe Ponde (FSP)
O Brasil é um país condenado a involuir, a não crescer, a regredir na escala civilizatória, em função de uma organização social e política inviável, totalmente incapaz de acumular riqueza para fins sociais, unicamente dedicada a carrear riquezas para os mais espertos (políticos e mandarins, em primeiro lugar, capitalistas promíscuos em segundo lugar, coitadinhos oprimidos em terceiro), tudo isso sendo pago pelo conjunto de trabalhadores e empresários, os únicos a criar riquezas que estão sendo dilapidadas por todos os demais.
Paulo Roberto de Almeida
A moral dos coitadinhos
Luiz Felipe Pondé
Folha de S.Paulo, Segunda-feira, 18 de maio de 2015
Penso como os britânicos: se dissociarmos direitos de deveres, viramos bebês que só sabem exigir direitos
A democracia contemporânea tem como um dos seus eixos a crença num contrato social baseado numa contabilidade de direitos. Todos querem direitos. Existe uma fé muito clara de que o direito a qualquer coisa que seja "é por si só um direito".
Filósofos britânicos dos séculos 18 e 19, entre eles Edmund Burke e Jeremy Bentham, integrantes do que a historiadora americana Gertrude Himmelfarb chama de iluminismo britânico, suspeitavam que uma democracia de direitos poderia levar à dissolução da relação entre direitos e deveres. E, por aí, a uma dissolução da noção de responsabilidade moral. Em termos contemporâneos, uma democracia de coitadinhos que pedem direito a tudo.
Os britânicos colocavam essa separação entre direitos e deveres na conta do delírio jacobino. A ideia dos britânicos era que se você trabalha muito (dever), você tem direito ao descanso. Se você é corajoso (dever), você tem direito à reverência daqueles que gozam da vida graças à sua coragem. Se você cuida bem de sua família (dever), você tem direito ao reconhecimento por parte daqueles cuidados por você.
Esses britânicos, que segundo Himmelfarb faziam uma sociologia das virtudes, entendiam que direitos e deveres são objetos da moral e jamais da política. Os jacobinos achavam que a política é que devia gerir os direitos. Para os britânicos, ao tornar isso objeto da política, os franceses eliminavam o fator esforço (dever) do ganho (direito).
Os franceses teriam inventado a ideia de que existem direitos "inalienáveis" do homem, pelo simples fato de que são homens. Acho a ideia fofa, mas continuo pensando como os britânicos: se dissociarmos direitos de deveres, viramos bebês chorões que só sabem exigir direitos.
Dito isso, vamos ao caso dos coitadinhos de hoje, no espírito de uma antropologia do ressentimento, a melhor ciência para compreendermos o espírito contemporâneo.
Vejamos o caso dos homens (gênero, não espécie) que estão começando a reclamar dos deveres masculinos. Na base dessa queixa está o bom e velho ressentimento.
Uma das demandas desses homens é o direito ao "aborto social". O termo é derivado de coisas como "nome social" para se referir a nomes transgêneros (ou seja, aceitos pela sociedade, mas sem referência ao sexo biológico, como uma menina que quer ser homem e passa a se chamar Roberto em vez de Alice, seu nome de nascimento).
"Aborto social" refere-se ao direito dos homens recusarem legalmente a paternidade de uma criança. Se o direito pega, o chamado "golpe da barriga" acaba. Nem a mãe nem a criança podem pedir grana (que é o que se pede, normalmente, em casos como esse, apesar de dinheiro não ser a coisa mais importante do mundo...).
A verdade é que, hoje, muitos homens mais jovens se sentem coitadinhos diante de mulheres superpoderosas. E já que as mulheres podem abortar os filhos, biologicamente (poder único da mulher), os homens reclamantes exigem o direito de abortar "socialmente" o feto. Sinto cheiro de ressentimento e vingança nessa, você não?
Mas existem fenômenos mais "sofisticados". Logo uma namorada vai ouvir do parceiro: "Você deve buscar funções que remunerem bem porque eu não estou disposto a arcar com o peso da obrigação de ser o provedor".
E aí, meninas superpoderosas, o que fazer com esses coitadinhos que não aguentam o peso e a solidão das obrigações? Nada a fazer, pois cobrar do homem o papel de provedor é "opressão", não?
Nada de ser professora de criança, nem de fazer artes plásticas, nem de trabalhar meio período, nem de trabalho "como escolha". Apenas a dura obrigação de prover. O trabalho deixa de ser uma opção existencial e se torna maldição cotidiana.
Claro que muitas meninas já vivem isso. Resta saber se estão confortáveis nesse lugar. Sendo a mentira a base de grande parte do pensamento público hoje, pouca gente tem a coragem de reconhecer a fria em que se meteu.
Ninguém quer deveres, só direitos. Mas são os deveres que sustentam a formação de vínculos; os direitos apenas geram demandas, por isso servem para políticos e embusteiros.
Mais crimes economicos do lulo-petismo: dependencia em nutrientes agricolas - Chico Graziano (OESP)
Assim são os petralhas, assim procedem os mafiosos, e vamos computando mais um crime econômico dos companheiros.
Paulo Roberto de Almeida
NPK: soberania roubada
Chico Graziano
O Estado de S. Paulo, sábado 16 de maio de 2015
(www.xicograziano.com.br)
O Brasil importa 75% dos adubos químicos utilizados na agricultura. E essa dependência externa, lamentavelmente, está crescendo. Em 2014, a produção nacional de fertilizantes encolheu 5,2%. Uma prova da falta de planejamento estratégico sobre o desenvolvimento nacional. Inexiste visão de longo prazo na política agrícola.
Adubos químicos fornecem a nutrição básica das plantas. Resumem-se na famosa composição NPK: nitrogênio, fósforo e potássio. Quem descobriu que os vegetais requerem elementos minerais para crescer foi Justus von Liebig. Aos 19 anos, o genial químico alemão apresentou, em 1822, sua tese intitulada “Como os corpos minerais se relacionam com os corpos vegetais”. Nela comprovava que as plantas não “comiam” matéria orgânica, conforme se pensava, mas apenas necessitavam das moléculas liberadas no húmus do solo.
A agricultura primitiva surgiu nos deltas – as várzeas dos rios – onde as enchentes cuidam de repor a riqueza da terra. Valia apenas a fertilidade própria do solo. Quando as lavouras avançaram para as florestas, terras “gordas”, ricas em matéria orgânica, se esgotavam e eram deixadas para descanso – o pousio - abrindo-se novas áreas. Nesse processo, estercos animais serviram de principal fonte de nutrientes. Depósitos naturais, como dejetos de aves (guano) encontrados nas ilhas do Pacífico, na costa peruana, se tornaram preciosos no século 19.
Após a Primeira Guerra Mundial a indústria de fertilizantes químicos se estruturou nos EUA e na Europa, tornando-se capaz de atender a expansão agrícola exigida pelo aumento populacional. No Brasil, somente a partir de 1950 se firmaram as empresas do ramo. Surgiu em 1974 o Programa Nacional de Fertilizantes e Calcário Agrícola, fortalecendo o setor. Resultado: no início dos anos 1980 o Brasil quase se tornou autossuficiente.
Entre 1976 e 2013, a produção brasileira de grãos se expandiu em 306%, passando de 47 milhões para 191 milhões de toneladas. Crescimento espetacular, ainda mais quando se verifica que a área cultivada aumentou apenas 51%, passando de 37 milhões para 56 milhões de hectares. Conclusão: houve forte elevação da produtividade física da terra, o dobro da observada, no mesmo período, na agricultura norte-americana.
O feito, sensacional, não teria ocorrido sem a intensificação no uso de NPK. Nos últimos 25 anos o consumo agrícola de fertilizantes se multiplicou por dez, ou seja, cresceu 1000%. Essa curva ascendente na demanda se destaca especialmente a partir de 1996, logo após a estabilização da economia. Sem a bagunça inflacionária, o crédito rural se tornou mais eficiente. Retornaram os investimentos. Deslanchou a agricultura. Mas o país deixou de acreditar na indústria nacional, ampliando as compras de fertilizantes no exterior. Bom para as multinacionais.
Os adubos nitrogenados se fabricam a partir de derivados do petróleo, e o Brasil poderia neles ter autossuficiência. Já os fosfatados se obtêm de depósitos de rochas ricas desse elemento. Encontrados em todo o mundo, no Brasil as maiores jazidas se encontram em Minas Gerais, Goiás e São Paulo, atendendo hoje a metade do consumo das lavouras. Poderia crescer. Quanto aos adubos potássicos, extraídos de rochas sedimentares, a situação é mais difícil, pois a dependência externa atinge 90%.
Através da Vale do Rio Doce, explora-se aqui apenas uma mina de potássio, no complexo Taquari-Vassouras, situado em Sergipe. Sabe-se existir reservas submarinas de potássio na costa brasileira, em depósitos semelhantes aos salinos. Jamais se tentou explorá-los. Localizam-se na Amazônia, porém, as melhores possibilidades. Por debaixo da selva se localiza, a 650 metros de profundidade, grande reserva natural de silvinita, sedimento que se espalha por vasta região entre o Amazonas e o Pará. Tais riquezas do subsolo se conhecem há décadas e, bem exploradas, poderiam atender até em 30% a demanda nacional.
Somente agora, porém, um projeto minerador, volumoso, se executa no município de Autazes (AM). Trata-se de um empreendimento dominado pela empresa canadense Falcon, que ainda aguarda as licenças ambientais e de lavra para iniciar sua exploração, prevendo começar a venda de fertilizante em 2018. Tudo demorado. Mais intrigante é saber que essas jazidas pertenceram à Petrobras até 2008, quando foram vendidas para a multinacional do Canadá. Quem realizou o negócio foi o então presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli.
Na época, o Ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, estava elaborando um “plano nacional de fertilizantes” que, lançado, jamais saiu do papel. Dilma Roussef, então ministra da Energia, ficou sabendo a posteriori que a Petrobrás havia vendido os direitos de exploração do potássio amazônico para a Falcon. “Ela deu um esporro no Gabrielli pela venda”, conta Stephanes em entrevista publicada fevereiro passado no Boletim Informativo nº 1290, da Federação da Agricultura do Paraná (FAEP).
Hoje, depois da corrupção descoberta pela operação Lava Jato, certos dirigentes da Petrobras se tornaram figuras suspeitas na malversação de dinheiro público. Teria sido respeitado o interesse público nessa venda das minas de potássio da Amazônia? Qual terá sido o real motivo da bronca da Dilma no Gabrielli? Quem testemunhou essa negociação? Teve propina nesse negócio também? Eu não coloco minha mão no fogo.
Por essas e outras a agricultura nacional, que espanta o mundo com a pujança de suas safras, padece da crescente dependência externa na compra de seus fertilizantes. Uma perda de soberania roubada pelo descaso governamental. Falta planejamento sobre o futuro do nosso país.
domingo, 17 de maio de 2015
Voce ja viu uma explosao nuclear? Entao veja algumas - Delanceyplace
Today's selection -- from Area 51 by Annie Jacobsen. In the summer of 1946, Alfred O'Donnell witnessed Operation Crossroads, a series of two nuclear weapon tests conducted by the United States on the Bikini Atoll -- which at that point was the most powerful explosion in the history of humanity. O'Donnell was a member of the arming party that would wire and fire the atomic bombs during the operation. The maximum yield in Operation Crossroads was 21 kilotons (or 0.021 megatons). This was followed in 1954 by the detonation of Castle Bravo at 15 megatons -- the largest device ever detonated in atmospheric testing by the United States. In 1961, the Soviet Union detonated Tsar Bomba, at 50 megatons the largest man-made explosion in history, destroying everything in a 22 mile radius and causing damage to houses in Scandinavia thousands of miles from the test:"Forty miles west of the lagoon, Alfred O'Donnell stood below deck in the control room of an observation ship watching the control bay. Above him, on deck, Los Alamos scientists, generals, admirals, and dignitaries waited in great anticipation for the bomb. Shielding their eyes were dark, 4.5-density goggles, necessary measures to prevent anyone from being blinded by the nuclear flash. O'Donnell worked the instrument panel in front of him. There were sixty seconds to go. He watched the auto sequence timer perform its function. With less than a minute remaining, the firing system moved into automation. The bars on the oscilloscopes moved from left to right as the signals passed down through the DN-11 relay system. There were ten seconds left. Then five seconds. The light for the arming signal blinked on. Two seconds. The firing signal flashed."O'Donnell kept his eyes on the control panel down to the last second, as was his job. In the event of a malfunction, it would be up to him to let the commander know. But the signal had been sent without a problem, and now it was moving down the underwater wires, racing toward the Baker bomb. If O'Donnell moved fast, he could make it onto the ship's deck in time to see the nuclear blast. Racing out of the control room, he pulled his goggles over his eyes. Up on the ship's deck he took a deep breath of sea air. There was nothing to see. The world in front of him was pitchblack viewed through the goggles. He stared into the blackness; it was quiet and still. He could have heard a pin drop. He listened to people breathing in the silence. Facing the lagoon, O'Donnell let go of the ship's railing and walked out farther on the deck. He knew the distance from the button to the bomb and the time it took for the signal to get there. In a matter of seconds, the signal would reach its destination.
"There was a blinding flash and things were not black anymore. Then there was a white-orange light that seemed brighter than the sun as the world in front of O'Donnell transformed again, this time to a fiery red. He watched a massive, megaton column of water rise up out of the lagoon. The mushroom cloud began to form. 'Monstrous! Terrifying! It kept getting bigger and bigger,' O'Donnell recalls. 'It was huge. The cloud. The mushroom cap. Like watching huge petals unfold on a giant flower. Up and out, the petals curled around and came back down under the bottom of the cap of the mushroom cloud.' Next came the wind. O'Donnell says, 'I watched the column as it started to bend. My eyes went back to the top of the mushroom cloud where ice was starting to form. The ice fell off and started to float down. Then it all disappeared into the fireball. Watching your first nuclear bomb go off is not something you ever forget.'
"Mesmerized by the Baker bomb's power, O'Donnell stood staring out over the sea from the ship's deck. He was so overwhelmed by what he'd witnessed, he forgot all about the shock blast that would come his way next. The wave of a nuclear bomb travels at approximately one hundred miles per hour, which means it would reach the ship four minutes after the initial blast. 'I forgot to hold on to the rail,' O'Donnell explains. 'When the shock wave came it picked me up and threw me ten feet back against the bulkhead.' Lying on the ship's deck, his body badly bruised, O'Donnell thought to himself: You damn fool! You had been forewarned."Video of Castle Bravo:Video of Tsar Bomba:Area 51: An Uncensored History of America's Top Secret Military BaseAuthor: Annie JacobsenPublisher: Little, Brown and CompanyCopyright: 2011 by Anne M. JacobsonPages: 28-29
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