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domingo, 22 de maio de 2016

Gustavo Franco: abriu-se uma janela de oportunidade para consertar as coisas (Entrevista Estadao)

Entrevista. Gustavo Franco
'Para reduzir a dívida pública, é preciso vender patrimônio', diz Gustavo Franco
Ex-presidente do Banco Central defende a privatização como caminho para recompor o fluxo de caixa do governo – que é o superávit primário
Alexa Salomão
O Estado de S.Paulo, 21maio 2016

O economista Gustavo Franco se diz surpreso com a excelente qualidade da equipe econômica. Ficou acima do que ele mesmo esperava. Também está positivamente surpreso com a decisão do presidente em exercício, Michel Temer, em “sentar na cadeira, fazer o diagnóstico e assinalar o legado – que parece horroroso”. Mas Gustavo Franco faz uma ressalva para o novo time: para reduzir a dívida pública, a prioridade neste momento, será preciso ir muito além do corte de gastos. Na avaliação dele, será preciso resgatar uma agenda perdida, a das privatizações. “Só conseguirá fazer reduções relevantes na dívida pública se vender patrimônio: concessões, participações, créditos. Esse é o principal desafio, cujos termos do enfrentamento ainda não estão definidos”, diz Franco. A seguir, os principais trechos da entrevista que concedeu ao Estado.

O que lhe parece a nova equipe econômica?
Melhor do que se esperava. Assinala que haverá uma guinada drástica da política econômica na direção do bom senso.

Quais são seus principais desafios?
No Ministério da Fazenda, o comando central de todos os desafios da área econômica, é difícil hierarquizar o mais sério e o mais urgente, inclusive porque eles lá dentro estão tendo uma percepção mais fina do que é possível perceber daqui de fora. Mas, para começar, é bastante claro que enxergaram uma situação fiscal muito pior do que se imaginava – e já se imaginava uma coisa muito pior do que o conhecido. Eu acredito que eles precisam deixar isso muito claro, na partida, evitar o que aconteceu com Joaquim Levy (ex-ministro da Fazenda): sentar na cadeira e assinalar o legado. Levy não assinalou o tamanho dos problemas que herdava e ficou parecendo que os problemas foram criados por ele. Hoje a gente vê muita gente colocando no Joaquim a culpa pelos descaminhos da política econômica. Começou muito bem a nova equipe em dar uma parada e fazer o diagnóstico. O próprio presidente Temer deve fazer um pronunciamento à nação. Independentemente disso, vejo com muita clareza que é preciso estabelecer qual é o legado – e ele parece horroroso.

Do lado de fora, conseguimos prever o que pode vir ou é obscuro?
É obscuro porque as coisas mais polêmicas ficam numa área que não é bem do orçamento ou dos bancos públicos federais. Ficam ali no meio disso: são as operações criativas envolvendo bancos, fundos, Tesouro. A área que, nós técnicos, chamamos de parafiscal. É onde a Lei de Responsabilidade Fiscal tem pouco a dizer, pouco controle, e onde ocorrem as piores atrocidades. Mas a síntese, por assim dizer, do problema fiscal é o nível do endividamento público interno. Nunca tivemos uma dívida interna tão grande e tão cara. O Brasil pagou de juros, no ano passado, o equivalente a 10% do PIB (Produto Interno Bruto). Isso é algo como duas vezes o que pagou o Tesouro grego. É a maior conta de juros do mundo. É claro que isso ocorre porque o juro é alto e porque a dívida é alta. A dívida é alta demais para o Brasil. Na minha percepção, esse é o maior desafio de todos. Não há muito precedente histórico, seja aqui, seja em outros países, de desalavancagem – a redução rápida do estoque da dívida interna. Há alguma coisa que vale observar no pós-guerra, nas economias desenvolvidas. Também naquele momento era uma dívida de guerra, com caráter excepcional. Pessoas que compraram algo como bônus da vitória não estavam tão interessadas em receber do mesmo jeito que hoje os detentores da dívida pública brasileira estão.

E como resolve?
Só conseguirá fazer reduções relevantes na dívida pública se vender patrimônio. Se vender ativos: concessões, participações, créditos. Esse é o principal desafio, cujos termos do enfrentamento ainda não estão definidos. Há boas intenções no ar, mas não vimos nada operacional ainda.

Parte dos ativos em questão são aqueles que não se conseguiu privatizar lá atrás, no governo do PSDB, porque eram privatizações polêmicas. Um governo não eleito, de transição, consegue privatizar Petrobrás, Banco do Brasil, Caixa?
Tem muita coisa para fazer tirando esses três que você mencionou. Tem uma infinidade de participações do setor elétrico. O governo federal vai fazer programa de ajuda aos Estados. Tal qual fez no passado, poderá aceitar empresas estaduais em pagamento e as privatizar. Aqui no Rio de Janeiro, por exemplo, pode fazer isso com a Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgoto). Ou seja: trata-se de o governo federal fazer o que a Petrobrás está fazendo. Sem maior alarde, a Petrobrás vendeu uma porção de ativos, sem passar pelo rito e burocracia do Programa Nacional de Desestatização. Mas é fundamental que a Petrobrás tenha agilidade para fazer isso, com o mesmo intuito que é o do governo federal: reduzir o endividamento. Isso precisa ser feito com agilidade. Esse é um desafio que perpassa todos os outros. Você precisa recompor o fluxo de caixa do governo – que é o superávit primário. Mas não é com um superávit primário de 1%, 2% do PIB que você vai reduzir dramaticamente uma dívida que já está em 73% do PIB – que é onde se encontra, por ora, a dívida bruta.

Há economistas defendendo que uma medida prioritária é reduzir o juros da dívida. Como o sr. vê essa questão?
Infelizmente, isso você precisa combinar com os credores. Aqui é preciso clareza. O Brasil, no passado, teve problemas com a dívida externa. Aí era possível, com muita facilidade, transformar um credor estrangeiro em inimigo e tornar o assunto politizado e irracional. Agora é diferente. A dívida é interna. Os credores são os aposentados de fundos de pensão, os poupadores. É impensável fazer qualquer pirueta com os títulos e suas remunerações. Quantos milhões de aposentados são remunerados por fundos de pensão? Quantos compraram papéis no Tesouro Direto? Não há o que fazer, seja reduzir artificialmente os juros ou mexer na remuneração dos papéis. Isso torna o problema do endividamento público diferente do que foi no passado. Esse tema é parte do assunto que, no fundo, pertence ao Congresso. Corte de gastos do governo e aumento de tributos ou aumento da dívida: essa é a escolha do Congresso. Se não aceitar cortes, nem elevar impostos, o Congresso estará elevando a dívida. Mas estou otimista. O Brasil está enfrentando com mais maturidade temas importantes, como a reforma da Previdência.

É ano de eleição municipal e os especialistas em Previdência dizem que, na hora de mexer em direitos, as pessoas resistem. Uma agenda impopular pode mesmo ser aprovada agora?
As coisas que se dizem impopulares são meio enganosas. A coisa mais impopular que existe em economia é errar. O que esse governo não pode fazer é errar. Mas depois que você faz uma coisa impopular do jeito certo, todo mundo gosta. O Plano Real tinha muitas coisas impopulares. É preciso ter clareza de que mais importante do que fazer coisas populares é fazer correto. Se fizer correto, o povo vai gostar.

Qual será o desafio de Ilan Goldfajn à frente do Banco Central?
A escolha dele é muito boa. Ilan é uma macroeconomista de mão cheia e participou da criação do regime de metas. Nota dez para a escolha. Agora, o BC não é o centro do problema. O desafio é fiscal. O inimigo agora é outro. Claro que, se tudo der certo no fiscal, a taxa de câmbio tenderá a se valorizar e o Banco Central de Ilan vai enfrentar o que ocorreu comigo, com o Henrique (Meirelles, atual ministro da Fazenda e ex-presidente do BC): ver a apreciação cambial, com seus efeitos, como afetar a competitividade brasileira. Mas aí tomara que esse desafio apareça: vai significar que a economia vai bem.

Há apreensão em relação à saúde de bancos de médio porte. Poderia vir daí uma surpresa desagradável?
Pode ser, sim, que haja um razoável conteúdo de estresse creditício, tendo em vista o que ocorreu no nível de atividade. Mas hoje a qualidade de supervisão bancária, o nível de capitalização, a transparência na supervisão da qualidade das carteiras de crédito nos colocam num patamar muito melhor do que em 1993, seja nos bancos público, sobretudo nos privados, onde não vejo nada muito significativo. É uma situação ciclicamente difícil, mas está longe de ser uma mega desafio como foi lá atrás.

E os bancos públicos? Há especial preocupação com a Caixa.
É verdade. O Banco Central vai ter de ver isso. No caso da Caixa, há um complicador: o FGTS. As relações entre o FGTS e a Caixa merecem um destaque, uma transparência inicial. Deveria haver mais isolamento entre uma coisa e outra. A Caixa, por outro lado, como é um banco 100% do Tesouro, é quem efetua muitas políticas de governo e coloca no seu balanço. É um problema antigo. O Banco do Brasil sempre teve um minoritário privado, atento a essas coisas. Tanto que o Banco do Brasil manteve muito mais a sua integridade operacional e patrimonial nos últimos anos. O desafio é colocar a Caixa no mesmo padrão do Banco do Brasil. Aí talvez se possa, para melhorar a sua governança, abrir o capital da Caixa – até porque o dinheiro vai ser bem-vindo.

O sr. divulgou uma nota comemorando a nova direção do BNDES...
Entre o BNDES e o Tesouro ocorreram muitas operações exóticas. Há meio trilhão de títulos transferidos ao BNDES, numa modalidade de operação parecida com a que havia entre Tesouro e Banco do Brasil, que a gente chamava de conta movimento e achava um absurdo. O principal desafio de Maria Sílvia (Bastos Marques, nova presidente do BNDES), ao sentar na cadeira, é devolver meio trilhão ao Tesouro dessas operações. É uma coisa que só executivos experientes como ela têm conhecimento para fazer.

Muitos economistas dizem que o tempo desse governo é curto para mostrar resultados. O sr. concorda?
Vou começar com um lugar comum. O tempo é relativo. É uma das variáveis econômicas mais delicadas e interessantes. O tempo pode ser ampliado conforme o horizonte de expectativas se expande. Cada boa notícia aumenta o tempo deles. Você não pode encarar o pouco tempo como uma restrição para fazer só coisas de curto prazo. Eles podem trazer coisas cujos os efeitos integrais só serão sentidos muito lá na frente. Reforma da Previdência, por exemplo. Os efeitos não são imediatos, mas sobre as expectativas, são avassaladores.

O sr. parece mesmo otimista.
Estou. Abriu-se uma janela. A gente está olhando lá para fora, ainda deslumbrados. No calor dos acontecimentos, a gente não consegue discernir as coisas, mas daqui há dez anos, quando olharmos para trás, talvez a gente perceba que esse momento foi paradigmático. As pessoas querem reformas, falam em fazer coisas ambiciosas, que eram impossíveis. De repente, o impossível parece corriqueiro.

sábado, 21 de maio de 2016

Rubens Ricupero: entrevista sobre a nova política externa -- BBC

'Não adianta ter embaixada sem água e telefone', diz Ricupero

Por BBC |

Ex-ministro e amigo de Serra defende fechamento de representações diplomáticas brasileiras e diz que legitimidade do governo lá fora dependerá de êxito no combate a crise

BBC
Amigo de longa data de José Serra, o ex-secretário geral da Unctad (o órgão da ONU para comércio e desenvolvimento) Rubens Ricupero diz que "conversou bastante" com o novo chanceler quando este foi convidado a assumir o Ministério de Relações Exteriores pelo presidente interino Michel Temer.
"Procuramos - eu e (o ex-ministro do Desenvolvimento) Sergio Amaral - dar a ele (Serra) um pouco de nossa percepção da situação (das relações exteriores brasileiras)", diz o diplomata aposentado.
Rubens Ricupero
BBC Brasil
Rubens Ricupero
Ricupero, que também foi ministro da Fazenda do governo Itamar Franco e embaixador em Washington, nega que haja contradição no fato de Serra prometer uma "desideologização" da diplomacia brasileira e, ao mesmo tempo, enfatizar as relações com países de governos mais liberais, como a Argentina de Mauricio Macri.
Para ele, fechar representações em outros países em um contexto de escassez de recursos é uma questão de "bom senso". "De que adianta ter um número enorme de embaixadas e não ter dinheiro para pagar aluguel, água ou telefone?"
 
E o atual governo não precisa se preocupar com sua legitimidade no exterior. "No fundo, a reputação que este governo vai ter fora e dentro do Brasil dependerá de como ele enfrentar os problemas da economia e outras áreas. Ou seja, se vai acertar ou não", diz.
"É um pouco aquilo que se diz em inglês, 'Nothing succeeds like success' (Nada tem mais sucesso do que o sucesso). Se o governo tiver êxito vai ser aplaudido. Se não tiver, vai ser muito criticado."
Confira a entrevista que Ricupero concedeu à BBC Brasil, por telefone, da casa de uma de suas filhas, na França.

BBC Brasil: Serra prometeu "desideologizar" as relações exteriores, mas em seu primeiro discurso também falou na aproximação em países politicamente mais alinhados ao atual governo brasileiro, como Argentina e México. Isso não é uma contradição?
Rubens Ricupero: Não há contradição porque uma coisa é você apoiar uma ideologia clara, como era o bolivarianismo, com a qual o PT tem certa identidade. Outra muito diferente é reconhecer realisticamente que o Brasil precisa manter uma relação mais estreita com os dois grandes países latino-americanos que são comparáveis a nós em tamanho, economia e influência - o México, no norte, e a Argentina, no sul.

Isso não significa que haja menosprezo pelos outros. Os países (da Aliança) do Pacífico e mesmo Venezuela, Bolívia e Equador, todos são parceiros. Mas (ter como foco a Argentina) é uma atitude realista, da mesma forma que para a Franca a relação especial é com a Alemanha. Ninguém aqui imaginaria que essa é uma opção ideológica - é uma imposição da realidade.
Ideologia é postular uma relação especial com países distantes, com os quais temos pouco em comum até na vida econômica, como Cuba e Nicarágua, apenas porque eles fazem parte da aliança bolivariana.
BBC Brasil: Mas se a Argentina tivesse um governo kirchnerista a aposta não seria a mesma, seria?
Ricupero: Seria, porque, como disse, isso é uma imposição da própria vizinhança, da realidade. Agora, não há dúvida que facilita (a relação), como o ministro disse no discurso, o fato de Argentina e Brasil estarem sintonizados, passando por momentos semelhantes, com problemas graves de natureza econômica e com o mesmo tipo de transição. Também com novos governos que têm uma visão parecida sobre a necessidade de uma inserção internacional mais aberta. Isso facilita enormemente para que se comece a mudar o panorama do Mercosul.
Uma coisa é um Mercosul em que o Brasil quer negociar com outros países acordos de comércio e a Argentina faz corpo mole, como até poucos meses atrás. Outra é ter um parceiro que quer tanto quanto nós negociar ativamente com a União Europeia e outros países. Há uma atitude diferente.
México, Colômbia, Peru, Chile. Todos esses países querem se integrar no mundo, abrir-se ao comércio e ao investimento - mesma linha que o Brasil segue agora. Então é natural que você tenha mais afinidade com esses países.

BBC Brasil: A diplomacia de Lula foi marcada por uma expansão do ativismo do Brasil lá fora e um aumento do número de embaixadas e consulados. Serra pediu que fosse calculado quanto custaria fechar algumas dessas representações. Fará uma diplomacia mais contida?
Ricupero: A diplomacia de Lula e do chanceler Celso Amorim refletiu um grande momento positivo vivido pelo Brasil, inclusive na economia. Havia um contexto mundial favorável, com crescimento acelerado da China e alto preço das commododities. Agora, a situação mudou muito. Essa redução do ativismo já foi perceptível no governo Dilma.
Todo país em fase de dificuldades orçamentárias costuma reavaliar sua rede de representações para tirar melhor proveito dos recursos. Os ingleses recentemente, com os conservadores no poder, fecharam alguns postos diplomáticos e remodelaram outros. A França também fez isso. É apenas um reflexo das dificuldades.
De que adianta ter um número enorme de embaixadas e não ter dinheiro para pagar aluguel, água ou telefone? Tenho colegas aqui no exterior que não conseguem pagar conta da internet, telefone. Eu mesmo quando fui embaixador em Washington durante o governo (Fernando) Collor tive de pagar as contas da embaixada do meu bolso pra evitar um corte.
É melhor que, nesses casos, haja uma atitude de bom senso de fazer com que os gastos correspondam aos meios. É isso que eu acho que vai ser feito, mas isso não significa diminuir o nível de atividade. Você pode conseguir a mesma coisa utilizando melhor os recursos.
BBC Brasil: A expansão de embaixadas foi um erro?
Ricupero: Talvez menos que erro. Foi um entusiasmo precipitado. Julgou-se que aquele período de bonança duraria para sempre. E não só na política externa. Havia essa atitude com relação a todos os gastos do governo. Por isso eles se expandiram tanto.
BBC Brasil: O tom das notas emitidas em resposta a governos como Cuba, Nicarágua e Venezuela (que condenaram o impeachment da presidente Dilma Rousseff) causou polêmica e dividiu o Itamaraty. Para alguns, elas seriam muito incisivas, políticas. 
Ricupero: Não concordo. A surpresa seria se não houvesse reação. Porque as notas dos outros é que foram de uma agressividade inacreditável na convivência diplomática. A nota da Venezuela, por exemplo, é umas sete vezes mais longa que a nota de resposta. A do Brasil é enérgica, mas está dentro do formato diplomático tradicional. Não há nenhum juízo sobre o que está acontecendo na Venezuela ou Cuba, sobre como são as eleições nesses países. Nada que atente contra o princípio de não intervenção. Quem interveio no Brasil foram eles. Apenas respondemos a uma agressão.
BBC Brasil: O que esperar da diplomacia de Serra?
Ricupero: Uma diplomacia realista, pragmática e sóbria, comprometida com a ampliação de nossas exportações e atração de investimentos para ajudar o país a sair da crise. No momento o comércio exterior, o setor externo é um dos poucos setores da economia que está começando a apresentar bons resultados. É verdade que por razões negativas - as importações caíram muito. Mas há a expectativa de se ampliar as exportações, e, com isso, criar empregos no Brasil.
BBC Brasil: O atual governo não pode ter dificuldades para garantir sua legitimidade lá fora?
Ricupero: Não se pode dar muita importância a essas coisas. No começo, sempre há esse tipo de estranheza, porque obviamente aconteceu uma coisa (processo de impeachment) que não é trivial e é preciso explicar (isso lá fora). Mas o que tenho visto na imprensa internacional é uma descrição se não positiva, ao menos bem informada (do que está ocorrendo no Brasil). Os artigos que vi no New York Times, Financial Times, Economist, Le Monde refletem a complexidade do que está se passando.
No fundo, a reputação que este governo vai ter fora e dentro do Brasil dependerá de como ele vai enfrentar os problemas da economia e outras áreas. Ou seja, se vai acertar ou não. É um pouco aquilo que se diz em inglês "Nothing succeeds like success" (Nada tem mais sucesso do que o sucesso). Se o governo tiver êxito vai ser aplaudido. Se não tiver, vai ser muito criticado. Protesto na Venezuela: para alguns analistas, país estaria à beira de um colapso.
Temos no debate no exterior a mesma divisão que no Brasil. Há quem seja favorável e quem seja contra (o impeachment). Afinal, vivemos (com o impeachment) um dilema no sentido estrito, do dicionário: uma situação em que uma pessoa é obrigada a escolher entre duas alternativas ruins - tanto a continuação como a mudança (eram ruins). E aí foi preciso ver marginalmente qual oferecia uma esperança de melhora.
BBC Brasil: A crise política e econômica da Venezuela se aprofundou. Alguns analistas dizem que o país está à beira de um colapso. Como o Brasil deve se posicionar?
Ricupero: Quando era diplomata cuidei de Venezuela por muitos anos. Não sei qual a opinião do ministro (Serra) sobre isso, mas acredito que a gente deve se manter dentro do princípio de não intervenção. Sei que a situação está muito tensa e se agrava dia a dia, mas não vejo outra possibilidade. Os países têm de encontrar seus caminhos por seus próprios meios e os outros podem ajudar se forem solicitados. Os resultados que vimos no mundo de ações que violam esse principio de não ingerência - por exemplo, a invasão do Iraque, a derrubada do regime da Líbia - foram todos desastrosos, ainda que tenham vindo embrulhados nas melhores intenções.
BBC Brasil: Serra deu indicações de que deve apostar nas negociações de acordos bilaterais. As dificuldades econômicas não podem ser um empecilho para atrair o interesse de outros países? Quais os acordos mais prováveis?
Ricupero: Esses acordos já estão em andamento. Eu soube que (um acordo) com o Peru está praticamente concluído. Imagino que vai ser mais fácil com esses países que se mostram mais abertos, Peru, Chile, México, espero que a Colômbia também.No caso dos EUA, é possível que se encontre uma maneira de continuar o esforço que o (ex-)ministro Armando Monteiro estava fazendo para examinar todas as barreiras não-tarifárias. Com a União Europeia eu diria que vai ser prioridade máxima, porque em conjunto a UE é de longe o maior parceiro comercial do Brasil e a maior fonte de investimentos para o país. A China também deve receber atenção especial.
BBC Brasil: O Mercosul pode deixar de ser uma união aduaneira para virar área de livre comércio?
Ricupero: Não acho que isso seja uma decisão (do ministro), não está no discurso dele. Essa ideia de deixar a união aduaneira é complexa, precisaria ser analisada em todas as suas implicações. Há setores importantíssimos tanto no Brasil quanto na Argentina que teriam dificuldade se não houvesse a união aduaneira, como o automobilístico.

E o atual governo não precisa se preocupar com sua legitimidade no exterior. "No fundo, a reputação que este governo vai ter fora e dentro do Brasil dependerá de como ele enfrentar os problemas da economia e outras áreas. Ou seja, se vai acertar ou não", diz.
"É um pouco aquilo que se diz em inglês, 'Nothing succeeds like success' (Nada tem mais sucesso do que o sucesso). Se o governo tiver êxito vai ser aplaudido. Se não tiver, vai ser muito criticado."
Confira a entrevista que Ricupero concedeu à BBC Brasil, por telefone, da casa de uma de suas filhas, na França.
BBC Brasil: Serra prometeu "desideologizar" as relações exteriores, mas em seu primeiro discurso também falou na aproximação em países politicamente mais alinhados ao atual governo brasileiro, como Argentina e México. Isso não é uma contradição?
Rubens Ricupero: Não há contradição porque uma coisa é você apoiar uma ideologia clara, como era o bolivarianismo, com a qual o PT tem certa identidade. Outra muito diferente é reconhecer realisticamente que o Brasil precisa manter uma relação mais estreita com os dois grandes países latino-americanos que são comparáveis a nós em tamanho, economia e influência - o México, no norte, e a Argentina, no sul.

Isso não significa que haja menosprezo pelos outros. Os países (da Aliança) do Pacífico e mesmo Venezuela, Bolívia e Equador, todos são parceiros. Mas (ter como foco a Argentina) é uma atitude realista, da mesma forma que para a Franca a relação especial é com a Alemanha. Ninguém aqui imaginaria que essa é uma opção ideológica - é uma imposição da realidade.
Ideologia é postular uma relação especial com países distantes, com os quais temos pouco em comum até na vida econômica, como Cuba e Nicarágua, apenas porque eles fazem parte da aliança bolivariana.
BBC Brasil: Mas se a Argentina tivesse um governo kirchnerista a aposta não seria a mesma, seria?
Ricupero: Seria, porque, como disse, isso é uma imposição da própria vizinhança, da realidade. Agora, não há dúvida que facilita (a relação), como o ministro disse no discurso, o fato de Argentina e Brasil estarem sintonizados, passando por momentos semelhantes, com problemas graves de natureza econômica e com o mesmo tipo de transição. Também com novos governos que têm uma visão parecida sobre a necessidade de uma inserção internacional mais aberta. Isso facilita enormemente para que se comece a mudar o panorama do Mercosul.
Uma coisa é um Mercosul em que o Brasil quer negociar com outros países acordos de comércio e a Argentina faz corpo mole, como até poucos meses atrás. Outra é ter um parceiro que quer tanto quanto nós negociar ativamente com a União Europeia e outros países. Há uma atitude diferente.
México, Colômbia, Peru, Chile. Todos esses países querem se integrar no mundo, abrir-se ao comércio e ao investimento - mesma linha que o Brasil segue agora. Então é natural que você tenha mais afinidade com esses países.
Leia também: Maioria de brasileiros aprova entrada de refugiados no país, mas não na própria cidade ou casa, diz pesquisa
BBC Brasil: A diplomacia de Lula foi marcada por uma expansão do ativismo do Brasil lá fora e um aumento do número de embaixadas e consulados. Serra pediu que fosse calculado quanto custaria fechar algumas dessas representações. Fará uma diplomacia mais contida?
Ricupero: A diplomacia de Lula e do chanceler Celso Amorim refletiu um grande momento positivo vivido pelo Brasil, inclusive na economia. Havia um contexto mundial favorável, com crescimento acelerado da China e alto preço das commododities. Agora, a situação mudou muito. Essa redução do ativismo já foi perceptível no governo Dilma.
Todo país em fase de dificuldades orçamentárias costuma reavaliar sua rede de representações para tirar melhor proveito dos recursos. Os ingleses recentemente, com os conservadores no poder, fecharam alguns postos diplomáticos e remodelaram outros. A França também fez isso. É apenas um reflexo das dificuldades.
De que adianta ter um número enorme de embaixadas e não ter dinheiro para pagar aluguel, água ou telefone? Tenho colegas aqui no exterior que não conseguem pagar conta da internet, telefone. Eu mesmo quando fui embaixador em Washington durante o governo (Fernando) Collor tive de pagar as contas da embaixada do meu bolso pra evitar um corte.
É melhor que, nesses casos, haja uma atitude de bom senso de fazer com que os gastos correspondam aos meios. É isso que eu acho que vai ser feito, mas isso não significa diminuir o nível de atividade. Você pode conseguir a mesma coisa utilizando melhor os recursos.
BBC Brasil: A expansão de embaixadas foi um erro?
Ricupero: Talvez menos que erro. Foi um entusiasmo precipitado. Julgou-se que aquele período de bonança duraria para sempre. E não só na política externa. Havia essa atitude com relação a todos os gastos do governo. Por isso eles se expandiram tanto.
BBC Brasil: O tom das notas emitidas em resposta a governos como Cuba, Nicarágua e Venezuela (que condenaram o impeachment da presidente Dilma Rousseff) causou polêmica e dividiu o Itamaraty. Para alguns, elas seriam muito incisivas, políticas.
Ricupero: Não concordo. A surpresa seria se não houvesse reação. Porque as notas dos outros é que foram de uma agressividade inacreditável na convivência diplomática. A nota da Venezuela, por exemplo, é umas sete vezes mais longa que a nota de resposta. A do Brasil é enérgica, mas está dentro do formato diplomático tradicional. Não há nenhum juízo sobre o que está acontecendo na Venezuela ou Cuba, sobre como são as eleições nesses países. Nada que atente contra o princípio de não intervenção. Quem interveio no Brasil foram eles. Apenas respondemos a uma agressão.
BBC Brasil: O que esperar da diplomacia de Serra?
Ricupero: Uma diplomacia realista, pragmática e sóbria, comprometida com a ampliação de nossas exportações e atração de investimentos para ajudar o país a sair da crise. No momento o comércio exterior, o setor externo é um dos poucos setores da economia que está começando a apresentar bons resultados. É verdade que por razões negativas - as importações caíram muito. Mas há a expectativa de se ampliar as exportações, e, com isso, criar empregos no Brasil.
BBC Brasil: O atual governo não pode ter dificuldades para garantir sua legitimidade lá fora?
Ricupero: Não se pode dar muita importância a essas coisas. No começo, sempre há esse tipo de estranheza, porque obviamente aconteceu uma coisa (processo de impeachment) que não é trivial e é preciso explicar (isso lá fora). Mas o que tenho visto na imprensa internacional é uma descrição se não positiva, ao menos bem informada (do que está ocorrendo no Brasil). Os artigos que vi no New York Times, Financial Times, Economist, Le Monde refletem a complexidade do que está se passando.
No fundo, a reputação que este governo vai ter fora e dentro do Brasil dependerá de como ele vai enfrentar os problemas da economia e outras áreas. Ou seja, se vai acertar ou não. É um pouco aquilo que se diz em inglês "Nothing succeeds like success" (Nada tem mais sucesso do que o sucesso). Se o governo tiver êxito vai ser aplaudido. Se não tiver, vai ser muito criticado. Protesto na Venezuela: para alguns analistas, país estaria à beira de um colapso.
Temos no debate no exterior a mesma divisão que no Brasil. Há quem seja favorável e quem seja contra (o impeachment). Afinal, vivemos (com o impeachment) um dilema no sentido estrito, do dicionário: uma situação em que uma pessoa é obrigada a escolher entre duas alternativas ruins - tanto a continuação como a mudança (eram ruins). E aí foi preciso ver marginalmente qual oferecia uma esperança de melhora.
BBC Brasil: A crise política e econômica da Venezuela se aprofundou. Alguns analistas dizem que o país está à beira de um colapso. Como o Brasil deve se posicionar?
Ricupero: Quando era diplomata cuidei de Venezuela por muitos anos. Não sei qual a opinião do ministro (Serra) sobre isso, mas acredito que a gente deve se manter dentro do princípio de não intervenção. Sei que a situação está muito tensa e se agrava dia a dia, mas não vejo outra possibilidade. Os países têm de encontrar seus caminhos por seus próprios meios e os outros podem ajudar se forem solicitados. Os resultados que vimos no mundo de ações que violam esse principio de não ingerência - por exemplo, a invasão do Iraque, a derrubada do regime da Líbia - foram todos desastrosos, ainda que tenham vindo embrulhados nas melhores intenções.
BBC Brasil: Serra deu indicações de que deve apostar nas negociações de acordos bilaterais. As dificuldades econômicas não podem ser um empecilho para atrair o interesse de outros países? Quais os acordos mais prováveis?
Ricupero: Esses acordos já estão em andamento. Eu soube que (um acordo) com o Peru está praticamente concluído. Imagino que vai ser mais fácil com esses países que se mostram mais abertos, Peru, Chile, México, espero que a Colômbia também.No caso dos EUA, é possível que se encontre uma maneira de continuar o esforço que o (ex-)ministro Armando Monteiro estava fazendo para examinar todas as barreiras não-tarifárias. Com a União Europeia eu diria que vai ser prioridade máxima, porque em conjunto a UE é de longe o maior parceiro comercial do Brasil e a maior fonte de investimentos para o país. A China também deve receber atenção especial.
BBC Brasil: O Mercosul pode deixar de ser uma união aduaneira para virar área de livre comércio?
Ricupero: Não acho que isso seja uma decisão (do ministro), não está no discurso dele. Essa ideia de deixar a união aduaneira é complexa, precisaria ser analisada em todas as suas implicações. Há setores importantíssimos tanto no Brasil quanto na Argentina que teriam dificuldade se não houvesse a união aduaneira, como o automobilístico.

O fim do caminho, por um fotógrafo prospectivo: Orlando Brito (Piauí)

 

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Revista PIAUI

Edição 116 | Maio de 2016

 

Fim do caminho

A agonia de Dilma Rousseff nas imagens de um veterano de Brasília

Orlando Brito, Julia Duailibi

Em 9 de março de 2015, um dia depois do primeiro panelaço, Dilma conversou com jornalistas e deu sinais de que a crise havia se agravado ao mencionar, pela primeira vez, o impeachment 

 

FOTOS: ORLANDO BRITO 

Orlando Brito não gosta de se atrasar. Às cinco e quarenta da manhã, dirigindo seu carro, corria contra o tempo pela Esplanada dos Ministérios, ainda escura. Naquela manhã de março, havia uma possível foto a ser feita, e Brito estava ansioso para não perdê-la. “O horário é o endereço do tempo”, soltou a máxima num tom delicado e professoral. Lucia e Carol, duas câmeras alemãs da marca Leica, do modelo Typ 114, repousavam no banco do passageiro. Oitenta anos antes, Henri Cartier-Bresson começou a usar a sua Leica 35mm, com lentes de 50 milímetros – havia um inegável ar de romantismo acompanhando aquele fotógrafo no cerrado, em busca do seu “instante decisivo”. Detentor da credencial de número 1 entre os jornalistas que fazem a cobertura do Palácio do Planalto, depois de 51 anos de profissão, Brito, aos 66 anos, ainda parece um jovem entusiasmado diante da notícia – ou um foca, como se diz dos novatos que chegam às redações.

A foto que Brito não queria perder não deveria ser alvo de maiores aflições. Flagrar a presidente Dilma Rousseff pedalando pela manhã dificilmente seria um grande furo – os jornais já haviam captado a imagem das mais diferentes maneiras desde que o fantasma do impeachment a rondava. Mas Brito espanou qualquer hipótese de que pudesse estar perdendo tempo: “Eu não venho fotografá-la pedalando, já tenho um monte dessas fotos. Eu estou fazendo história, porra.” De fato, aquela era uma manhã de ressaca para a presidente. Na véspera, o PMDB, do vice Michel Temer, rompera oficialmente com o governo numa cerimônia que durou três minutos.

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Enredada pelas pedaladas fiscais, que embasaram o pedido de impeachment, Dilma passou os anos de 2015 e 2016 fazendo dieta e andando de bicicleta, sempre seguida por dois militares e um personaltrainer; as imagens, além de involuntariamente irônicas, eram uma espécie de metáfora perfeita para algo pouco compreensível, e foram exaustivamente usadas pela imprensa na cobertura da crise 

Não é sempre que Dilma se anima a pedalar no entorno do Palácio da Alvorada. Mas Brito estava otimista. “Eu venho quando tenho feelingFeeling é importante no jornalismo”, disse.

Às seis e dois da manhã, na avenida que dá acesso ao Alvorada, avançaram em nossa direção três bicicletas, escoltadas por dois carros à paisana. O feeling do fotógrafo estava certo. “Olha ela aí, olha ela aí”, repetiu Brito, animado e acelerando o carro na direção do grupo, que passou por nós na pista contrária e foi se distanciando pelo retrovisor. Dilma seguia na frente, pedalando sua bicicleta preta, da marca americana Specialized, com um capacete e um casaco amarelo. Tinha a cara fechada. Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, Brito me disse: “Fica fria que eu sei dominar aqui.” Continuou dirigindo e se afastando do grupo.

Poucos metros depois, estacionou o seu Renault Megane prata num bolsão entre as duas pistas da avenida vazia. Saltou com uma das câmeras na mão e ficou quieto, quase que de tocaia, olhando para o grupo que se distanciava cada vez mais. Até que Dilma fez um retorno abrupto, atravessou de uma pista para a outra e começou a pedalar em nossa direção, fazendo com que os carros da segurança, pegos de surpresa, a seguissem na contravenção.

Dilma, acompanhada por um general e um major já fora de forma, cada qual com sua bicicleta, aproximava-se do fotógrafo. Parecia um roteiro acordado previamente. Mas não. O tempo de Brasília deu a Brito não só o domínio dos códigos e da etiqueta no trato com as autoridades, como a capacidade de se antecipar a situações. Depois de dias fazendo aquela pauta, ele havia decifrado o trajeto escolhido por Dilma.

Quando a presidente estava a alguns metros de nós, Brito segurou a pequena máquina alemã com a mão esquerda, aproximou os olhos do visor e disparou com o dedo direito seis vezes. Só depois arriscou, em voz alta, um “Muito cedo, presidente”. Dilma não respondeu. Insistimos com um “Bom dia”. Dessa vez, ela respondeu – “Bom dia” –, quase que balbuciando, sem desviar os olhos de seu caminho. Os carros dos seguranças nos fecharam. Mas Brito já havia conseguido sua foto. Era o único fotógrafo por ali naquela manhã.

 

Desde 1965, Orlando Brito fotografa a República de Brasília. Nenhum presidente desde então escapou de suas lentes. Entre os fotógrafos do Planalto, é o que está há mais tempo na ativa, depois que Gervásio Baptista, uma referência no fotojornalismo político brasileiro, parou de fotografar em 2015, com mais de 90 anos. “Só pelo fato de estar aqui há muito tempo, de ser um cara tranquilo, não dar bola fora, tem muita gente que vem me contar coisa”, diz. Costuma ser mais bem informado do que muitos repórteres do Salão Verde da Câmara. Vira e mexe cochicha alguma boa no ouvido de um escolhido. Como um repórter, liga para suas fontes antes de sair de casa. Quer saber que acesso terá às autoridades em determinado evento, onde ficará o praticável para os fotógrafos se posicionarem, a qual distância estará do palco da presidente.

O pai foi prefeito na pequena cidade mineira de Janaúba e aliado de Juscelino Kubitschek. Quando JK anunciou a construção de Brasília, a prefeitada mineira seguiu o líder. Para lá foi Brito-pai, levando consigo um único dos sete filhos, Orlando. Os dois chegaram em 1957. Brito, que iria ver a mãe apenas um ano e meio depois, ajudava o pai a vender tijolos e cimento. Aos 7 anos, já se considerava um veterano de Brasília. “Conhecia os caminhos de terra que traziam cimento, tijolo e areia para os palácios. Eu ia na boleia dizendo ‘à direita, à esquerda’. No Alvorada, cansei de descarregar tijolos com minhas mãos.” O negócio do pai rendeu certo dinheiro à família, a ponto de Brito estudar num dos colégios da elite brasiliense, o Dom Bosco, por onde passou, entre outros, Fernando Collor de Mello.

Quando Brito tinha 15 anos, uma tia apareceu em sua casa com o marido, o fotógrafo Roberto Stuckert – pai de Ricardo e Roberto, hoje os fotógrafos oficiais de Lula e Dilma, respectivamente. O jovem passou a auxiliar o parente, carregando a bolsa com o equipamento fotográfico. Conseguiu um emprego no Última Hora, onde começou servindo cafezinho, até que o deixaram trabalhar no laboratório de imagens. Um dia faltou fotógrafo para uma pauta, e a missão caiu em suas mãos. Sua primeira foto, um prenúncio do que viria pela frente na sua carreira, foi do general Castello Branco, o primeiro dos presidentes da ditadura militar. Não saiu na capa, mas foi publicada no corpo do jornal. Era um começo.

Brito passou pelo jornal O Globo e se consolidou como um dos grandes da área na revista Veja, onde permaneceu por dezesseis anos. Ajudou a fundar a revista Caras, criou sua própria agência nos anos 90 e passou a fazer campanhas políticas. Atuou em todas as presidenciais do PSDB desde 1994. Hoje, mantém com quatro outros jornalistas um site de notícias chamado Os Divergentes.

De todos os poderosos que fotografou, tem um predileto. “Nada foi maior que conviver com doutor Ulysses no auge”, disse, lembrando ter sido “muito amigo” de Ulysses Guimarães. É do presidente da Constituinte uma de suas grandes fotos. Brito estava indo embora do Congresso, num dia de 1992, quando o viu chegar. Era outubro e o sol do final da tarde de Brasília estava forte. Achou bonita a imagem do líder do PMDB contra a luz e disparou sua câmera. Seis dias depois, Ulysses desapareceria num acidente de helicóptero no litoral fluminense. A foto, um perfil escuro de Ulysses na contraluz, da qual se destaca um halo, ilustrou a capa da revista Veja com o título “Por quem os sinos dobram”.

Hoje, Brito se ressente da falta de acesso ao poder. “Na ditadura era mais fácil ou difícil? Era mais fácil. Os censores ficavam nas redações, mas você poderia colher o material. Hoje, você não tem mais acesso.” Presos nos “chiqueirinhos” (apelido dos espaços em que a imprensa é confinada nas cerimônias palacianas), fotógrafos voltam suas lentes para um cenário produzido e insípido: uma autoridade sentada numa cadeira, na frente de um banner com uma propaganda institucional. Conseguir flagrar nesse ambiente um olhar, um balançar de cabeça ou uma expressão que diga algo sobre a conjuntura política é como achar ouro.

 

A despeito da cabeleira cacheada e grisalha e dos óculos de aros vermelhos, Brito é discreto. Seu tom de voz é baixo e sua fala é articulada. As duas pequenas Leicas penduradas nos ombros compõem um perfil que destoa da parafernália exibida por colegas de jornais e revistas. Ele gosta de dizer que existe algo de premonitório no fotojornalismo político. “Eu sempre digo que fotografia de política tem muito mais de futuro do que de passado. Um dia, passando por uma comissão na Câmara, vi o doutor Tancredo sozinho, com a mãozinha aqui”, contou, colocando a mão no baixo-ventre. “Achei aquilo estranho.” Um ano depois, Tancredo foi hospitalizado – morreria de uma diverticulite aguda que se tornou pública só depois da sua internação, em 1985.

Nos últimos meses, Brito passou a acompanhar Dilma com esse olhar premonitório. Observa a impaciência da presidente na maneira como ela raspa a sola do seu sapato pelo chão, nas piscadas mais lentas, acompanhadas de bufadas de ar. Repara na tensão corporal, na fisionomia triste e exausta. Registra com suas câmeras, não com muita simpatia pela personagem, mas com certa compaixão. “Não é só uma presidente com problema. É um ser humano passando por problemas.”

Num dos cliques mais reveladores da crise, Dilma parece velar o próprio governo, numa expressão de desamparo e resignação, sentada ao lado dos ministros Aloizio Mercadante e Celso Pansera (este último já fora do governo), como se fossem os parentes – um do PT, outro do PMDB – que lhe restaram.

Há, além dessa cena, imagens premonitórias da presidente com o vice. Muito antes do rompimento oficial entre Dilma e Temer, as fotos já mostravam que ali nunca houve sintonia, no máximo tolerância. Apesar do protocolo ditado pelos chefes de cerimonial, o registro que fica para as lentes de Brito é o mal-estar e o distanciamento incontornável entre os dois. Ao lado de Dilma, Temer não aparece como um “vice decorativo”. Ele não decora nada, antes rivaliza com ela. Há um antagonismo latente e às vezes explícito entre os personagens.

A foto da posse de Dilma, em 2011, incluída nesta edição, já anunciava a natureza dessa relação. Nela, Lula suspende o braço esquerdo de Dilma após lhe passar a faixa presidencial. Os dois se olham com cumplicidade. Foi esse o registro feito na ocasião pela maioria dos fotógrafos. No corte de Brito, porém, há um terceiro elemento que perturba a harmonia do momento e confere à cena outro sentido. É Michel Temer. Em pé, ao mesmo tempo próximo e distante de tudo, o vice aplaude o casal. As mãos rígidas e a posição dos braços sugerem um aplauso contido, em sintonia com o sorriso à meia-boca e o olhar fulminante. O conjunto fala por si. Orlando Brito não precisaria de mais nada para provar sua tese: “Fotografia de política tem muito mais de futuro do que de passado.”

Brasil dos companheiros: a "cultura" em tempos não convencionais

O Brasil teima em ser atrasado
Ronaldo Conde
Correio Braziliens, 19/05/2016

Acho que foi em 2012 ou 2013, não lembro. Um sujeito (não nos conhecíamos) do Ministério da Cultura telefonou-me: queria conversar comigo. Eu disse que sim. Ele queria que eu participasse da equipe que iria escrever o Plano Nacional de Cultura. Eu não estava afim – por isso fiz uma pergunta que ele não esperava: “Quanto você vai me pagar?” O sujeito aparentemente levou um susto: “Como? Quanto eu vou pagar?” Expliquei: “Você não ganha pelo seu trabalho? Então é justo que eu seja pago pelo meu trabalho”. Ele disse que me telefonaria depois. Desliguei - certo que o sujeito não me ligaria mais. Engano. Dois dias depois ele retornou e me ofereceu uma remuneração, que achei pouco – e fiz uma contraproposta. Ele aceitou no ato.

Eles queriam que eu escrevesse um texto sobre a assim chamada “cultura popular”, coisa simples, que liquidei em alguns dias.

Mas o que eu quero lhes dizer é que participei de duas reuniões com a “turma” que dominava o Ministério da Cultura. Numa delas, vi uma cena típica dos tempos: ao meu lado direito, um sujeito pôs sobre a mesa ostensivamente um chaveiro com a efígie de Trotsky; a duas pessoas dele, outro sujeito em resposta tinha sobre a mesa um chaveiro que homenageava Stalin. Pensei comigo: “O que estou fazendo aqui?”

Ouvi mais que falei. O que ouvi não me agradou. O jargão era o óbvio: desenvolvimento desigual e combinado, forças produtivas, cultura das elites, cultura do povo, alguém comentou que tinha lido um artigo sobre Eros Velúsia, uma bailarina que marcou época no chamado teatro de revista. Outro citou Antônio Cândido, um terceiro falou em Alfredo Bosi, um sujeito fez a exegese do circo, mas ninguém se pronunciou a respeito de uma política de cultura.

Bem, para resumir: escrevi meu texto, recebi o pagamento e nunca mais estive no Ministério da Cultura.

Às vezes, chegavam-me ecos do acontecia por lá, os quais não me agradavam. O fato é que o MC foi, como tantos outros ministérios, aparelhado pelo PT e pelo PCdoB, que refletiram na estrutura burocrática as alas e grupos e subgrupos desses partidos, cada qual buscando a hegemonia e o domínio sobre os demais. O Ministério da Cultura - visto de fora - não seguia itinerários administrativos e políticos determinados, como qualquer unidade da estrutura governamental, mas parecia um arquipélago de tendências e intenções partidárias. Com um adicional: muitas decisões eram estapafúrdias.

A liberação de grana refletia isso. Certa vez, li, espantado, que um poeta de quinta categoria de Brasília (eu li esse poeta e, por isso, sei exatamente por que ele é de quinta) foi indicado pelo ministério para “representar os escritores de Brasília na Feira Internacional de Frankfurt”. Não sei quais os critérios da escolha, mas o sujeitinho recebeu passagens, diárias e um pagamento adicional, muitas mordomias. Noutra ocasião, um grupo de escritores recebeu grana para, cada qual, se instalar numa capital do mundo (sim do mundo!) – e lá, captando o espírito do lugar, escrever um livro. Não sei também os critérios de escolha, como não sei se os livros foram escritos. Mas isto talvez não fosse o mais importante. A intenção talvez fosse cooptá-los, fazer um agrado, sei lá.

Não vou falar a respeito da Lei Rouanet - tão generosa para com os “amigos” e “aliados”. Outro dia, recebi no Facebook uma mensagem que listava doze projetos estranhos e absurdos favorecidos pela Lei Rouanet. Não vou falar sobre eles, mas muitos que nos últimos dias gritavam contra o impeachment da Dilma constavam da listagem. Uma das propostas beneficiadas foi uma peça escatológica, onde uns sujeitos, em círculo, enfiavam o dedo ou o nariz no rabicó dos outros.

Nesses tantos anos petistas, a chamada intelectualidade brasileira calou-se diante dos descalabros. Alguns – claro – porque estavam comprometidos e eram beneficiários; outros, não beneficiários, fizeram boca de siri por razões ideológicas; terceiros, nada disseram por prudência, talvez receio do patrulhamento que inevitavelmente viria.

Houve um tempo em que educação e cultura eram entendidas como complementares e, não, como duas coisas estanques, uma lá, outra cá. Eram tempos de gente da maior qualidade na sua direção: Capanema, Carlos Drummond de Andrade (chefe de gabinete de Capanema), Josué Montello, Augusto Meyer, José Honório Rodrigues, Adonias Filho, Edmundo Moniz, Edson Nery da Fonseca, José Simeão Leal. Gente que o regime militar afastou. Gente que desapareceu. Os governos petistas não trouxeram gente equivalente, mas convocou os chamados “núcleos de cultura” dos partidos dominantes, muitos dos quais são incapazes de definir cultura.

Todos falam nos danos econômicos, políticos, na dívida, na inflação, no emburacamento dos Fundos de Pensão, na corrupção, mas poucos falam nos danos na cultura. Falo de cadeira, pois jamais recebi um tostão furado pelos livros que escrevi (a não ser meus direitos autorais), jamais recebi um agrado e, à exceção da minha participação na elaboração do Plano Nacional de Cultura, recusei todos os demais convites que me fizeram. Não transformei minha vida intelectual em nenhuma badalação: não gosto sequer de noites de autógrafos, não participo de rodas, mas duvido que muitos pseudoescritores que vagam por aí tenham vendido mais livros que eu. O tal poetastro de quem falei acima não vendeu 1% do que eu vendi.

Reitero não vejo nenhum problema na volta do velho MEC, desde haja uma faxina e organização da instituição. Eu seria mais radical: eu, por exemplo, extinguiria o Ministério da Ciência e Tecnologia, fundiria CNPq e Capes, levava a FINEP para o BNDES. A fusão CNPq e Capes evitaria que pesquisadores brasileiros, que acham que o Estado é deles, recebessem, à sorrelfa, bolsas e auxílios de um e outro para o mesmo projeto.

O Estado brasileiro precisa ser refeito – e drasticamente reduzido com o fito de ser eficiente e eficaz.

Em tempo (1): Tudo bem que a participação dos estudantes seja essencial, que eles reivindiquem idem, que discutam idem, mas é essencial que eles estudem, que o ensino seja severo, que os professores sejam cultos, preparados e atualizados. Sei que os salários são baixos, as escolas precárias, mas não será com ocupações, depredações e agressões, que as coisas vão dar certo ou melhorar. A educação no Brasil, hoje, é uma vergonha – e parte da culpa cabe aos (àqueles) professores que não honram a sua profissão e dos estudantes (àqueles) que não estudam.

Em tempo (2): Hoje, vi na TV uma criança de escola pública dizer o seguinte: “A gente tem que estudar o que quer, o que a gente gosta - não o que eles querem que a gente estude”. Uma vez vi um sujeito do MEC (era um coordenador, um quadro intermediário) dizer: “Cada escola tem que ter o seu currículo definido pela comunidade”. Quando penso nas revoluções educacionais da Coreia do Sul e do Japão – sinto uma vontade de chorar copiosamente. O Brasil é um país que se recusa a ser minimamente civilizado.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Cesar Maia sobre o fim da diplomacia bolivariana do Brasil

Cesar Maia

O governo Temer mostra que a política externa bolivariana de Dilma e do PT foi para a lata do lixo

19/05/2016
O primeiro grande momento do início do governo Temer veio exatamente em cima do vetor mais polêmico do governo Lula-Dilma: a política externa. Os governos bolivarianos, por excesso de entusiasmo ou desinformação, fizeram uma incursão na política interna brasileira.
            
2. Infantilmente, se somaram à banda de música do PT/PCdoB/CUT/MST questionando a constitucionalidade do afastamento de Dilma. Uma intervenção descabida na autodeterminação brasileira. Os bolivarianos já haviam perdido uma batalha análoga numa situação semelhante com o Paraguai.
            
3. Se, neste caso, com toda a invasão coreográfica dos ministros de relações exteriores, inclusive do Brasil, foram ignorados pelos poderes e pela sociedade paraguaios, deveriam ter aprendido a lição.
            
4. Repetiram a dose através de notas, declarações e chamadas de volta dos embaixadores da Venezuela e El Salvador, só que agora provocando o Brasil. Ocorreu o esperado. O Brasil formalizou duramente seus protestos direcionando-os aos países bolivarianos e a Unasul. No dia seguinte, a moribunda econômica e politicamente Venezuela tentou mitigar. Era tarde.
            
5. No primeiro dia de governo Temer, através do chanceler José Serra, desmanchou-se qualquer resquício de memória do co-ministro Marco Aurélio Garcia. Se imaginavam que conseguiriam produzir algum ruído interno no Itamaraty, se iludiram. Ao contrário.
            
6. E à distância deram um forte aperto de mãos nos Estados Unidos e Reino Unido, afirmando a tradição histórica da política externa brasileira. Talvez os bolivarianos tenham imaginado que o ministro Serra, de raízes à esquerda, iria calar e ganhar tempo. Não contavam com a rapidez e contundência da resposta.
             
7. Os fatos terminaram prestando um enorme serviço ao governo Temer. Sem mobilidade internacional enquanto tiver um caráter provisório, o que impede viagens e fotos, visitas de chefes de governo ou de estado, foi logo no primeiro dia que Temer mostrou de que lado está seu governo. 
             
8. Um ato contundente de descolamento dos bolivarianos: não programado, inesperado, e logo no primeiro dia de governo. As fronteiras da política externa brasileira estão demarcadas, sem ser necessário tomar a iniciativa, apenas reagindo. Agora a OEA e a Unasul ficarão mansas. E o Mercosul entra em nova fase com o Brasil livre para mudar de azimute.

Meridiano 47: minhas colaborações - Paulo Roberto de Almeida

Terminei uma nova revisão de artigo (blind review) para a Meridiano 47.
Resolvi então usar o mecanismo de busca do boletim para verificar o que eu já tinha publicado nesse excelente veículo de produção acadêmica mais leve, ou seja, sem os padrões mais exigentes de um journal.
Vamos ver o que já saiu sob o meu nome...
Paulo Roberto de Almeida

Issue Title
 
Vol 15, No 145 (2014): Setembro-Outubro Nunca antes na diplomacia … A política externa brasileira em tempos não convencionais Abstract
Priscilla de Almeida Nogueira da Gama (esta uma resenha de meu livro)
 
Vol 15, No 146 (2014): Novembro-Dezembro O Instituto Brasileiro de Relações Internacionais e a Revista Brasileira de Política Internacional: contribuição intelectual (1954 a 2014) Abstract
Paulo Roberto de Almeida
 
Vol 16, No 150 (2015): Julho-Agosto Nota Liminar: A OMC e os desafios do Sistema Multilateral de Comércio Abstract
Rogério de Souza Farias, Paulo Roberto de Almeida
 
Vol 7, No 75 (2006): Outubro Caminhos da convergência da globalização. Abstract
PAULO ROBERTO DE ALMEIDA
 
Vol 6, No 60 (2005): Julho Idéias que mudaram o mundo Abstract
Paulo Roberto Almeida
 
Vol 8, No 85 (2007): Agosto Relações Internacionais do Brasil: versão academia Abstract
PAULO ROBERTO DE ALMEIDA
 
Vol 6, No 59 (2005): Junho Brasil e Argentina: um ensaio de história comparada Abstract
Paulo Roberto Almeida
 
Vol 6, No 58 (2005): Maio Tática do avestruz: a anti-globalização à procura do seu mundo Abstract
Paulo Roberto Almeida
 
Vol 8, No 78 (2007): Janeiro Fórum Social Mundial: nove objetivos gerais e alguns grandes equívocos Abstract
PAULO ROBERTO DE ALMEIDA
 
Vol 9, No 95 (2008): Junho Pequena lição de Realpolitik Abstract
Paulo Roberto Almeida
 
Vol 6, No 58 (2005): Maio O Poder Americano Abstract
Paulo Roberto Almeida
 
Vol 6, No 61 (2005): Agosto Prometeu desacorrentado: transformação tecnológica e desenvolvimento Abstract
Paulo Roberto Almeida
 
Vol 16, No 150 (2015): Julho-Agosto A longa marcha da OMC: do nascimento aos impasses atuais Abstract
Paulo Roberto de Almeida
 
Vol 7, No 74 (2006): Setembro A distribuição mundial de renda: caminhada para a convergência? Abstract
PAULO ROBERTO DE ALMEIDA
 
Vol 6, No 58 (2005): Maio Ensaios sobre o capitalismo no século XX Abstract
Paulo Roberto Almeida
 
Vol 6, No 55 (2005): Fevereiro A anti-globalização e o livre-comércio: angústia existencial Abstract
PAULO ROBERTO DE ALMEIDA
 
Vol 6, No 64 (2005): Novembro Mercosul para principiantes: instituições e regras básicas Abstract
PAULO ROBERTO DE ALMEIDA
 
Vol 6, No 57 (2005): Abril No meio do caminho tinha um mercado: tropeços dos anti-globalizadores Abstract
Paulo Roberto Almeida
 
Vol 6, No 60 (2005): Julho As relações entre o Brasil e os Estados Unidos em perspectiva histórica: da República Velha à redemocratização Abstract
PAULO ROBERTO DE ALMEIDA
 
Vol 7, No 75 (2006): Outubro Os acordos regionais e o sistema multilateral de comércio: o caso da América Latina. Abstract
PAULO ROBERTO DE ALMEIDA
 
Vol 7, No 67 (2006): Fevereiro As relações internacionais como oportunidade profissional: Respostas a algumas das questões mais colocadas pelos jovens que se voltam para as carreiras de relações internacionais Abstract
PAULO ROBERTO DE ALMEIDA
 
Vol 7, No 76 (2006): Novembro O contexto geopolítico da América do Sul: visão estratégica da integração regional Abstract
Paulo Roberto Almeida
 
Vol 6, No 56 (2005): Março Concentração da renda e desigualdades: a anti-globalização tem razão? Abstract
Paulo Roberto Almeida
 
Vol 7, No 68 (2006): Março Problemas conjunturais e estruturais da integração na América do Sul: a trajetória do Mercosul desde suas origens até 2006 Abstract
PAULO ROBERTO DE ALMEIDA
 
Vol 7, No 77 (2006): Dezembro Mercosul: uma revisão histórica e uma visão de futuro Abstract
Paulo Roberto Almeida
 
Vol 6, No 61 (2005): Agosto As relações entre o Brasil e os Estados Unidos em perspectiva histórica: problemas das relações bilaterais na fase contemporânea Abstract
Paulo Roberto Almeida
 
Vol 13, No 134 (2012): Novembro-Dezembro Relações Internacionais e Política Externa do Brasil Abstract
Paula Gomes Moreira
 
Vol 6, No 54 (2005): Janeiro Contra a anti-globalização Abstract
PAULO ROBERTO DE ALMEIDA
 
Vol 9, No 93 (2008): Abril Teses sobre o novo império e o cenário político-estratégico mundial: Os Estados Unidos e o Brasil nas relações internacionais Abstract
PAULO ROBERTO DE ALMEIDA
 
Vol 3, No 28-29 (2002): Novembro-Dezembro Uma longa moratória, permeada de ajustes?: a lógica da dívida externa brasileira na visão acadêmica Abstract
Paulo Roberto Almeida
 
Vol 6, No 59 (2005): Junho A China e seus interesses nacionais: algumas reflexões histórico-sociológicas Abstract
Paulo Roberto Almeida
 
Vol 6, No 65 (2005): Dezembro Perguntas impertinentes a um amigo anti-globalizador Abstract
PAULO ROBERTO DE ALMEIDA
 
Vol 9, No 94 (2008): Maio O legado de Henry Kissinger Abstract
PAULO ROBERTO DE ALMEIDA
 
Vol 6, No 63 (2005): Outubro Mercosul para principiantes: custos e benefícios Abstract
Paulo Roberto Almeida
 
Vol 4, No 30-31 (2003): Janeiro-Fevereiro Uma frase (in)feliz?: o que é bom para os EUA é bom para o Brasil? Abstract
Paulo Roberto Almeida
 
Vol 5, No 42-43 (2004): Janeiro-Fevereiro Um exercício comparativo de política externa: FHC e Lula em pespectiva. Abstract
Paulo Roberto Almeida
 
Vol 10, No 110 (2009): Setembro O Brasil e o G20 financeiro: alguns elementos analíticos Abstract
PAULO ROBERTO DE ALMEIDA
 
Vol 11, No 118 (2010): Maio Mudanças na economia mundial: perspectiva histórica de longo prazo Abstract
Paulo Roberto Almeida
 
Vol 3, No 23-24 (2002): Junho-Julho O boletim do império Abstract
Paulo Roberto Almeida
 
Vol 11, No 119 (2010): Junho A Arte de NÃO Fazer a Guerra: novos comentários à Estratégia Nacional de Defesa Abstract
Paulo Roberto Almeida
 
Vol 5, No 44-45 (2004): Março-Abril O debate sobre a globalização no Brasil: muita transpiração, pouca inspiração. Abstract
Paulo Roberto Almeida
 
Vol 10, No 113 (2009): Dezembro Sucessos e fracassos da diplomacia brasileira: uma visão histórica Abstract
PAULO ROBERTO DE ALMEIDA
 
Vol 3, No 25 (2002): Agosto Camaradas, agora é oficial: acabou o socialismo Abstract
Paulo Roberto Almeida
 
Vol 5, No 49 (2004): Agosto Contradições, insuficiências e impasses do movimento anti-globalizador Abstract
Paulo Roberto Almeida
 
Vol 9, No 101 (2008): Dezembro Fórum Surreal Mundial: pequena visita aos desvarios dos antiglobalizadores Abstract
PAULO ROBERTO DE ALMEIDA
 
Vol 4, No 32-33 (2003): Março-Abril O Brasil e o FMI: meio século de idas e vindas Abstract
Paulo Roberto Almeida
 
Vol 11, No 114 (2010): Janeiro O Fim da História, de Fukuyama, vinte anos depois: o que ficou? Abstract
PAULO ROBERTO DE ALMEIDA
 
Vol 5, No 50-51 (2004): Setembro-Outubro A anti-globalização tem idéias concretas sobre temas concretos? Abstract
PAULO ROBERTO DE ALMEIDA
 
Vol 2, No 17 (2001): Novembro Ideologia da política externa: sete teses idealistas Abstract
Paulo Roberto Almeida
 
Vol 5, No 47 (2004): Junho Interessa ao Brasil uma taxa sobre os movimentos de capitais? Abstract
Paulo Roberto Almeida
 
Vol 3, No 27 (2002): Outubro A América Latina e os Estados Unidos desde o 11 de setembro de 2001 Abstract
Paulo Roberto Almeida
 
Vol 3, No 28-29 (2002): Novembro-Dezembro Reflexões a propósito do centenário do Barão (ou das dificuldades e ver no plano interno as razões de nossos problemas) Abstract
Paulo Roberto Almeida
 
Vol 10, No 104 (2009): Março Estratégia Nacional de Defesa: comentários dissidentes Abstract
PAULO ROBERTO DE ALMEIDA
 
Vol 2, No 10\12 (2001): Abril-Maio-Junho Relações Internacionais e política externa do Brasil: uma perspectiva histórica Abstract
Paulo Roberto Almeida
 
Vol 3, No 28-29 (2002): Novembro-Dezembro Um Tocqueville avant la lettre: Hipólito da Costa como founding father do americanismo Abstract
Paulo Roberto Almeida
 
Vol 2, No 13 (2001): Julho Cenário econômico e político do debate hemisférico Abstract
Paulo Roberto Almeida
 
Vol 5, No 48 (2004): Julho Uma agenda sobre o quê não fazer: os equívocos da “sociedade civil” Abstract
PAULO ROBERTO DE ALMEIDA
 
Vol 2, No 14-15 (2001): Agosto-Setembro Mercosul e Alca: liaisons dangereuses? Abstract
Paulo Roberto Almeida
 
Vol 3, No 22 (2002): Maio O Brasil e as crises financeiras internacionais, 1995-2001 Abstract
Paulo Roberto Almeida
 
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