O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

terça-feira, 9 de novembro de 2021

Mini-reflexões sob a forma de perguntas em torno do suicídio de uma nação - Paulo Roberto de Almeida

Mini-reflexões sob a forma de perguntas em torno do suicídio de uma nação

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

  

Ministros do STF, que “conversam” com parlamentares, tendem a apoiar uma acomodação em relação às emendas direcionadas pelo arbítrio dos “amigos” do dinheiro público. Estarão oficializando a imoralidade no processo orçamentário? Vão contribuir para um maior afundamento do Brasil?

Custo a crer que o rebaixamento oficial de qualquer critério ético e até mesmo racional na aplicação de recursos públicos se torne um padrão na administração dos negócios governamentais. 

O patrimonialismo sacramentado e garantido pelos três poderes passará a ser uma prática “normal” na gestão das contas públicas? 

Estamos assistindo à construção de um suicídio lento do que antes parecia ser uma promessa de democracia num país em desenvolvimento?

Como podem supostas elites políticas participar dessa montagem de um processo “legal”  e oficial de um estupro orçamentário permanente? 

Quando foi que o Brasil ingressou na bandalheira geral como norma de governo? A sociedade civil em geral, as elites econômicas em especial, os guardiões da constitucionalidade não estão se dando conta de que estão construindo um Estado monstruoso, um país inviável na simples organização das contas públicas?

As perguntas básicas são estas: quando foi, como foi, por que foi que o Brasil enveredou pela via do “jeitinho” imoral de decidir sobre a peça central de qualquer regime democrático, que é o orçamento público? Quem, quais foram os responsáveis pela morte de um Estado responsável?

Como é possível conviver com tais níveis de degradação moral como as que assistimos no momento do esquartejamento ritual do orçamento anual em centenas de emendas paroquiais que representam a irracionalidade suprema da aplicação das receitas dos impostos?

Os legisladores perderam definitivamente a vergonha e os órgãos de controle se eximem de suas responsabilidades? O planejamento do orçamento em projetos racionais de aplicação dos recursos arrecadados deixou de existir? 

Instalou-se o repasto das hienas como forma normal de repartição dos despojos do Estado?

Minhas perguntas são apenas o reflexo de minhas perplexidades em face do espetáculo contínuo de degradação do processo orçamentário no Brasil. As pessoas não repararam que estamos construindo um país inviável? Até quando persistiremos a ser os lemingues de mafiosos inconscientes?

Até quando continuará a derrocada institucional do Brasil? Como para os desafios climáticos, estamos legando apenas desastres orçamentários e na dívida pública para nossos filhos e netos? Eles irão se juntar aos milhões de refugiados econômicos que já transitam do Sul para o Norte do planeta? 

Os pobres já estão emigrando há muito tempo? E agora, além dos miseráveis, quadros formados, cérebros produtivos também já desistiram de conviver com a imoralidade e a desfaçatez dos políticos? Pessoas dignas já não suportam a imoralidade e a corrupção de nossos círculos dirigentes?

Os políticos estão finalmente conseguindo implantar seus desejos inconfessáveis? A canalização tranquila dos recursos da União para a miríade de esmolas particularistas com as quais vão viabilizar eternas reeleições? Estilhaçar dotações orçamentárias em milhares de emendas oportunistas é o seu projeto de nação? 

No momento, eu não tenho as respostas ao desafio que representa construir um país viável, mas já tenho muitas perguntas que, por enquanto, representam um questionamento pessoal. Não sei se os ilustres dirigentes e as elites econômicas também as têm para si. 

Este é apenas um exercício intelectual.

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4013, 9 novembro 2021, 2 p.

 

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

A crise energética no Brasil e no mundo: entrevista de Paulo Roberto de Almeida ao jornal A União, da Paraíba

 Na semana passada, dei uma entrevista ao jornalista Luiz Carlos Nascimento Sousa, do jornal A União, da Paraíba, sobre crise energética no Brasil e no mundo. Acabo de receber um arquivo pdf do jornal, com minha entrevista resumida, publicada neste domingo 7 de novembro de 2021.

Reproduzo apenas as partes que interessam ao tema selecionado pelo jornalista que tratou apenas de energia, mas nem tudo o que eu disse foi integrado nesta seleção.

Paulo Roberto de Almeida








Un Mundo made in China: La larga marcha hacia la creación de un nuevo orden global - Gustavo A. Girado

Um livro importante sobre a China atual, que vou tratar de adquirir. Não está disponível na Amazon, vou tentar livreiros em Buenos Aires: 

No results for Gustavo Girado, Un Mundo made in China: La larga marcha hacia la creación de un nuevo orden global in Books.

Paulo Roberto de Almeida 

Un Mundo made in China: La larga marcha hacia la creación de un nuevo orden global 

Nueva obra del sinólogo argentino Gustavo A. Girado

Observatorio de la política china, 5/11/2005

https://politica-china.org/secciones/un-mundo-made-in-china-la-larga-marcha-hacia-la-creacion-de-un-nuevo-orden-global


 El mundo que se configuró luego de la Segunda Guerra Mundial adquirió la forma de los vencedores. China, sumida en ese entonces en un largo conflicto armado, no fue parte de esa definición: sus valores y sus intereses, como los de la mayoría de los Estados asiáticos, no fueron tenidos en cuenta. El país, que supo ser un imperio, transitaba un “siglo de humillación”. Pero las cosas cambiaron, y China cree que ha llegado el momento de volver a ocupar el lugar que nunca debió haber dejado. Para conseguirlo, sabe que no puede seguir dependiendo de Occidente.

China despliega una serie de políticas de alcance global condensadas en la Nueva Ruta de la Seda, el fabuloso proyecto de infraestructura que hoy abarca a más de 70 países. Y acelera el salto tecnológico a través del desarrollo científico y el 5G. Al hacerlo, va modelando un mundo a su imagen y semejanza, un mundo Made in China. Esto la hace más interdependiente, la conecta más y más con el resto del planeta, a la vez que limita los intentos de EEUU por detenerla. Su ascenso es imparable.

En “Capital intelectual”, Buenos Aires, Argentina.

ISBN: 978-987-614-638-8

Páginas: 248.




domingo, 7 de novembro de 2021

Cambridge Scholars Publishing: oferta de publicação de livros em inglês

 Acabo de receber esta proposta. Talvez interesse a alguém esta possibilidade. Suponho que se trate de publicação contra pagamento, mas não fui verificar. Em todo caso, não pretendo apresentar nenhum projeto concreto agora.

Paulo Roberto de Almeida

A mega corrupção do Orçamento Secreto: #CPIdoBolsolão - Breno Pires (Estadão)

 O MAIOR ESCÂNDALO deste desgoverno, um CRIME CONTINUADO e disfarçado: o Bolsolão

A denúncia por Breno Pires, do Estadão, do mega escândalo do bolsonarismo e da CD  em torno das emendas parlamentares, a corrupção oficializada nos dutos secretos do orçamento, no link abaixo.

Uma roubalheira geral comandada pelo atual governo, que se equipara, em tudo e por tudo, aos piores crimes do PT e do Lula no Mensalão e no Petrolão, com a diferença de que, sob Bolsonaro e Lira, os desvios criminosos se dão pela via semilegal das emendas dos parlamentares que apoiam o desgoverno atual, o pior da história.

Em outros termos, além da corrupção direta pelo estupro do orçamento, se dá também a destruição deliberada de uma das instituições centrais na democracia, que é o exercício parlamentar de elaboração e implementação do orçamento público. Nunca a frágil democracia brasileira, que já é de baixíssima qualidade, foi tão conspurcada e deformada quanto sob o desgoverno de Bolsonaro. 

Como AGU, PGR e CGU não cumprirão seus respectivos deveres de defender a ordem legal, cabe ao TCU, ao STF, e a parte do Congresso comprometida com a ordem constitucional (poucos partidos e poucos parlamentares tão somente) empreender o trabalho de defesa da democracia e das instituições CONTRA a QUADRILHA de meliantes que opera o ESTUPRO orçamentário em detrimento da sociedade.

Cabe uma CPI do Bolsolão!

Paulo Roberto de Almeida

Thread by @brenopires on Thread Reader App https://threadreaderapp.com/thread/1457158969542299648.html 

BRENO PIRES @brenopires 

ORÇAMENTO SECRETO

A thread da investigação

1. A apuração começa em dezembro de 2020, quando ouvi relatos de compra de apoio pelo governo para eleger Arthur Lira presidente da Câmara. Foi o marco zero da série de reportagens que culminou na liminar do STF que barrou o esquema.


H-Diplo: novas resenhas de livros - Diane Labrosse

 New items have been posted in H-Diplo.

Please help us keep H-Net free and accessible. $25 from each of our subscribers would fund H-Net for two years. Click here to make a tax-deductible donation online.


1.

H-Diplo Publication Schedule, 08 to 19 November

by Diane N. Labrosse

The H-Diplo publication schedule for the period 08 to 19 November is as follows:

Week of 08 November:

1. H-Diplo Roundtable Review of Lorenz Lüthi,  Cold Wars: Asia, The Middle East, Europe. Cambridge: Cambridge University Press, 2020.

Introduction by Andrew Preston, University of Cambridge

Reviewers:

Lloyd Gardner, Emeritus Rutgers University

Frank Gerits, Utrecht University

Artemy Kalinovsky, Temple University

Valeria Zanier, Katholieke Universiteit Leuven

Ketian Zhang, George Mason University

2. H-Diplo Essay Series on Learning the Scholar’s Craft: Reflections of Historians and International Relations Scholars.

The Making of a Russian Cold War Historian during the Last Years of the Soviet Union

Essay by Vladislav Zubok, London School of Economics

3.  H-Diplo Article Review of G. Bruce Strang, “‘Mésentente Cordiale:’ Italian Policy and the Failure of the Easter Accords 1937-1938,” Diplomacy & Statecraft, 32:1 (2021), 31-59.

Reviewed by Jacopo Pili, University of Rome Tor Vergata

4. H-Diplo Article Review of Igor Lukes, “Was the Cold War Avoidable? Did the West Seek to Win It? A Contribution to the Debate,” Diplomacy & Statecraft 32:2 (June 2021): 375-393.

Reviewed by László Borhi, Indiana University Bloomington/Institute of History, Center for Humanities Budapest

5. H-Diplo/ISSF Article Review of Marc Trachtenberg, “The United States and the NATO Non-extension Assurances of 1990: New Light on an Old Problem?” International Security 45:3 (2021): 162-203. 

Reviewed by Julie Garey, Northeastern University

6. H-Diplo Roundtable Review of Brendan Rittenhouse Green, The Revolution that Failed: Nuclear Competition, Arms Control, and the Cold War (New York: Cambridge University Press, 2020). 

Introduction by Caitlin Talmadge, Georgetown University

Reviewed by:

Fiona S. Cunningham, George Washington University

Charles L. Glaser, George Washington University

Vipin Narang, The Massachusetts Institute of Technology

Marc Trachtenberg, University of California, Berkeley

Week of 15 November

1. H-Diplo/ISSF Roundtable Review of Rosemary A. Kelanic, Black Gold and Blackmail: Oil and Great Power Politics. Ithaca: Cornell University Press: 2020; and Emily Meierding, The Oil Wars Myth: Petroleum and the Causes of International Conflict. Ithaca: Cornell University Press: 2020.

Introduction by Jeffrey G. Karam, Lebanese American University

Reviewed by:

Emma Ashford, the Atlantic Council

Jeff D. Colgan, Brown University

Anand Toprani, U.S. Naval War College,

Maria Julia Trombetta, University of Nottingham Ningbo China

2. H-Diplo Essay Series on Learning the Scholar’s Craft: Reflections of Historians and International Relations Scholars.

Essay by Charles E. Neu, Professor Emeritus, Brown University

3. H-Diplo Review of John Campbell. Nigeria and the Nation-State: Rethinking Diplomacy with the Postcolonial World. Lanham: Rowman & Littlefield, 2020.

Reviewed by Sobukwe Odinga, University of California, Los Angeles

4. H-Diplo Article Review of Brandon Webb, “‘How to Raise a Curtain’: Security, Surveillance, and Mobility in Canada’s Cold War-Era Exchanges, 1955–65,” Cold War History 21:2 (March 2021): 215-233.  

Reviewed by Jennifer Anderson, Global Affairs Canada, Historical Section

5. H-Diplo Review of Odd Arne Westad. Empire and Righteous Nation: 600 Years of China-Korea Relations. Cambridge, MA: Harvard University Press, 2021.

Reviewed by Xiaobing Li, University of Central Oklahoma

6. H-Diplo Article Review Forum on “The Korean War Prisoners Who Chose Neutral Nations.” The Journal of American-East Asian Relations 27:3 (2020): 213-307. 

Introduction by Thomas Maddux, Emeritus California State University Northridge  

Reviewers:

Leonardo Barbosa, Hong Kong University of Science and Technology

Charles Young, Southern Arkansas University

William Stueck, Emeritus University of Georgia

 

With best regards,

Diane Labrosse, H-Diplo managing editor

sábado, 6 de novembro de 2021

Benvenuto na Itália? Mai suceso - José Horta Manzano

 

Bolsonaro na Itália – benvenuto? Por José Horta Manzano

… Saudades do tempo em que visita de chefe de Estado estrangeiro era um acontecimento. Tanto cá quanto além-fronteiras, era a mesma festa. Algumas visitas chegaram a marcar a história.

Bolsonaro na Itália

Saudades do tempo em que visita de chefe de Estado estrangeiro era um acontecimento. Tanto cá quanto além-fronteiras, era a mesma festa. Algumas visitas chegaram a marcar a história.

Em 1961, finzinho de maio e começo de junho, John F. Kennedy, então presidente dos EUA, esteve de visita à França, presidida pelo general De Gaulle. Durante a estada, Jacqueline Kennedy, a esposa do visitante, chamou a atenção de todos. Era bela, tinha uma graça especial e, qualidade maior: falava francês. O velho general se derreteu.

Foi engraçado o dia em que a senhora Kennedy, orgulhosa das origens de sua família, contou a De Gaulle: “O senhor sabe, eu tenho ascendência francesa!”. E o general, de bate-pronto: “Pois imagine a senhora que eu também!”.

Pouco antes de embarcar de volta para os EUA, o presidente americano deu uma entrevista coletiva. Logo na abertura, o homem mais poderoso do planeta mostrou que tinha forte senso de humor. Fez cara dramática e declarou, sério: “I do not think it altogether inappropriate to introduce myself to this audience. I am the man who accompanied Jacqueline Kennedy to Paris. And I have enjoyed it.” Trocando em miúdos, fica mais ou menos assim: “Pensando bem, não acho inapropriado me apresentar a esta plateia. Sou o homem que acompanhou Jacqueline Kennedy em Paris. E gostei muito.

A tradição de visitas de dirigentes brasileiros a países estrangeiros é antiga. Começou já nos tempos do imperador, quando viagens eram vagarosas e podiam demorar semanas. Das menos antigas, lembro de JK nos EUA, de FHC na França, de Lula passeando de carruagem com a rainha da Inglaterra. Todos sempre foram bem recebidos. Aliás, todos os dirigentes brasileiros sempre foram recebidos com simpatia aonde quer que se dirigissem. Correligionário ou não do presidente, todo brasileiro sentia uma pontinha de orgulho.

Agora que terminou a vilegiatura que nosso capitão fez em terras italianas, a gente sente muita tristeza. Não me lembro de ter jamais visto, no exterior, manifestações de protesto contra a visita de presidente nosso. Essas viagens costumam ser instantes de confraternização, aqueles momentos em se põem (temporariamente) as querelas de molho. Com Bolsonaro, não foi possível. Como dizem por aqui, “sua fama o precede” – antes mesmo de ele apontar na esquina, todos já sabem de que barro é feito o personagem.

Falando do capitão, Elio Gaspari resumiu com maestria: “Pisou no pé da chanceler alemã Angela Merkel, teve uma conversa desconexa com o presidente turco, conversou com garçons e, por não usar máscara nem tomar vacina, ficou sem o aperto de mão do primeiro-ministro Mário Draghi.”. Foi um vexame atrás do outro.

O capítulo mais impressionante ocorreu justamente no deslocamento sentimental ao vilarejo de origem da família. Era pra ser um momento apolítico, que não se prestava a manifestações. Mas deu chabu. A proverbial belicosidade do capitão suscita sentimentos pouco pacíficos. Aconteceu o contrário do esperado.

Em Pádua, os manifestantes estavam tão exaltados, que a polícia teve de intervir com canhões de água. A visita à basílica de Santo Antônio teve de ser cancelada. O bispo da diocese negou-se a receber Bolsonaro. Disse que, se o presidente desejasse, podia vir como um fiel comum, mas que não seria recebido com honras de visitante especial. O capitão desistiu.

Em Anguillara Veneta, a cidadezinha de origem da família, estava prevista uma recepção na prefeitura, para entrega do diploma de cidadão honorário. A intensidade das manifestações de rua não permitiram. De última hora, mudou-se o programa. O almoço e a entrega do canudo foram feitos num restaurante situado fora da cidade, instalado num casarão do século 19. Para não fomentar uma revolta entre os moradores, a prefeita resolveu pagar do próprio bolso. Pelo jeitão sofisticado do restaurante (e pelo volume da comitiva presidencial), imagino que a prefeita se arrependeu da hora em que teve a ideia de conferir o título de cidadão a Bolsonaro.

Bolsonaro na Itália

E assim continuamos. Se já era malvisto, o capitão confirmou a fama e virou empesteado, daqueles que todos querem ver pelas costas. Nenhum dirigente estrangeiro quer ser visto em sua companhia, que é pra não perder popularidade nem votos no país natal.

Na COP26, Ninguém acreditou nas boas intenções do Brasil; a ausência do chefe dá dois recados. Primeiro, de que ele não esta ligando a mínima para aquele circo; segundo, de que o compromisso brasileiro não passa de encenação pra inglês ver – perdão! – pra escocês ver (a conferência é na Escócia).

Se a Lega (partido da extrema-direita italiana) já era vista com desconfiança, as honras oferecidas a Bolsonaro hão de ter tido o efeito contrário. Fortaleceram a convicção de que se trata de um agrupamento de gente pouco recomendável. Quem é amigo de Bolsonaro bom sujeito não é.

 Resumo da ópera

Eles, que estão longe, ainda podem dar-se ao luxo de se esquivar do capitão, de ignorá-lo, de dar-lhe as costas, de fingir que não viram. Os que estão no Brasil e são obrigados a sobreviver com os sustos diários aplicados no país por aquele estropício, ah!, isso já uma outra história. Deve fazer parte de nosso carma coletivo.

 Disclaimer

No título, usei a palavra italiana benvenuto, que se traduz por bem-vindo. É ironia.

__________________________________________________________

JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

O que fazem as elites brasileiras? Nada?!?! - Bolivar Lamounier e Paulo Roberto de Almeida

 Transcrevo, em primeiro lugar, postagem de Bolivar Lamounier, que trata de questões sobre as quais também venho me ocupando há um bocado de tempo. Depois, coloco minha reação a seus argumentos, tambem objeto de um longo comentário meu em sua postagem original.

Com a palavra, Bolivar Lamounier:

A INSUFICIÊNCIA DAS ELITES

Bolívar Lamounier -  06.11.2021

Faz tempo que venho martelando a tecla dos riscos a que o Brasil está exposto enquanto não conseguir pelo menos dobrar sua renda média anual por habitante, que é atualmente cerca de 12 mil dólares. Não conseguir pelo menos dobrá-la é o que se chama estar aprisionado na “armadilha do baixo crescimento”. 

Ontem fiz referência a um excelente livro publicado em 1994 pela Harvard Business School Press, intitulado THE WORLD IN 2020 – POWER, CULTURE AND PROSPERITY. Nas trezentas páginas do livro, há uma única referência ao Brasil e à Argentina. Transcrevo-a: “It is quite possible that a country  like  Argentina   will recover some of the ground that it has lost this century. It will not  regain the living standards which, in relative terms,  it had a hundred years ago – it is not going to be as rich as Northern Europe or the US – but it could enjoy a period of considerable prosperity, if only it can sustain a modicum of political stability. From a brutal economic point of view, it does not need to  achieve a full-western style democracy, but what it does need is competente and corruption-free administration. Brazil, with its even greater resources , could have an  extraordinary impact on the continent, given a decade of such government”.  

Observem que o livro aponta para um futuro que NÃO aconteceu, nem na Argentina nem no Brasil, no referido período de 26 anos. Tem tudo a ver com a tese que tenho aqui martelado: a de que, nos próximos 20 anos, não temos condições de superar o  ritmo medíocre de crescimento econômico e pior ainda de redistribuição da renda e de avanço educacional, científico e tecnológico  em que afundamos (a “armadilha do baixo crescimento”). Com o sistema político disfuncional, instável e corrupto de que dispomos, vamos seguir patinando no mesmo lugar, só que pior, com mais violência e araçatubas muito mais numerosas.  

Onde devemos buscar as causas dessa tragédia? O subtítulo do livro dá uma boa indicação: “power, culture and prosperity”, ou seja, a prosperity depende de dois grandes grupos de fatores, o poder e a cultura. 

Acontece que “poder” não é uma categoria que se reduza só à máquina de Estado, a forças militares e policiais e a boçais de todo tipo controlando as instituições legislativas, judiciais e administrativas. Ter eleições e através delas escolher os titulares de tais instituições é fundamental, mas não suficiente, diria mesmo totalmente insuficiente, se, subjacente às instituições, não tivermos  elites (no sentido neutro do termo, obviamente) que as ancorem, balizem e inspirem. No Brasil, o termo elite designa alguns milhares de indivíduos que se deram bem na vida particular, mas que não sentem responsabilidade alguma em relação ao país, que não interagem entre si em busca de soluções e, principalmente, que não falam. Um país no qual as elites não falam, não se manifestam, não expressam seus pontos de vista e preferências, é uma anedota de mau gosto.   

Em qualquer país, é possível distinguir três camadas sociais bem nítidas. A mais alta em renda e escolaridade (cerca de 20%) é aquela que, se quiser, compreenderá os problemas e poderá ajudar a resolvê-los. Poderá ajudar a melhorar a qualidade da vida pública. Fincará o pé no combate á corrupção. Na camada intermediária (digamos, 40%), não temos propriamente ricos, mas temos resource owners, quero dizer, pessoas que  percebem para que lado o vento está soprando, e podem recorrer a seus recursos (capacidade de ler um jornal, tempo disponível para conversar sobre questões públicas, reunir-se com amigos e vizinhos etc; tudo isso é “recurso” que pode ser utilizado para aumentar o alcance dos posicionamentos tomados pela camada superior. Os 40% mais baixos em renda e escolaridade são pobres demais para ajudar. Pedir a um pobre-diabo que sai de casa às 5:30 para o trabalho e chega de volta às 20:00, exausto, que contribua significativamente para melhorar o país, é pura demagogia.

O problema é que, para transformar os percentuais da população e os respectivos  recursos em poder político, é preciso ter cultura. Como já falei em escolaridade, é óbvio que não estou sendo redundante, dizendo a mesma coisa pela segunda vez. Não, cultura é um termo mais amplo, que emprego para designar as áreas de convergência e divergência existentes na sociedade, áreas que precisam ser conhecidas para que as elites falem realmente como elites. Faz trinta anos, mais ou menos, que tento abordar essa questão em meus trabalhos de pesquisa, mas esbarro num obstáculo invencível: a ignorância dos que poderiam patrociná-los. Ignorância sem fim. São indivíduos e entidades que não conseguem compreender estas duas afirmações elementares: 1) as instituições formais de governo não pairam no ar, acima de nossas cabeças, e nem conseguem agir como deveriam, sem a “cultura”, vale dizer, um balizamento mais amplo que as oriente; 2) para conhecer o substrato das instituições, ou seja, o que de fato as sustenta e baliza, é preciso estudar o assunto em profundidade, com  metodologias apropriadas. Bate-boca é muito bom para botequim, mas, para ajudar o país a se livrar da “armadilha do baixo crescimento”, não serve.”

======

Agora, este escrevinhador:

Bolívar Lamounier trata aqui de um tema com o qual há muito tempo também estou muito preocupado e que ele resume, provavelmente de forma intencional, numa frase: “as elites não falam”. 

Eureka! 

Tenho falado muito dessas elites medíocres, que geralmente exibem suas posses (alguns de seus membros são mais discretos), mas o que choca, realmente, é o fato que elas raramente falam sobre o Brasil, sobre o futuro do país que também é delas (e como), ou pelo menos deveriam se ocupar dessa nação que tem, sim, muitas elites, mas que não parecem ter nenhuma preocupação com o estado presente e a evolução futura de uma nação que parece perdida no tempo e no espaço (e isso precede o desgoverno do capitão). 

Não tem nenhum líder das elites que se aventuraria a fazer um chamamento aos seus colegas para debater sobre os impasses atuais e os desafios futuros do Brasil? 

À diferença da Revolução francesa, que em 1789 começou com a convocação dos États Généraux — entre eles o Tiers État, aquele que não era “nada”, segundo o Abade Sieyès, mas que queria ser tudo — e a apresentação dos Cahiers de Doléances (cadernos de reclamações, de pedidos e de demandas). No nosso caso, o Tiers État está mais próximo da segunda categoria identificada por Bolivar Lamounier, e o que se busca é realmente la crème de la crème de la société, nossos grandes burgueses, capitalistas e banqueiros, para que eles possam, por uma vez, se ocupar do futuro do país no qual obtêm fabulosos lucros e subsídios estatais, proteção e apoio dos bancos públicos. 

Já nem me refiro ao alto mandarinato do serviço público, à aristocracia da magistratura, que possuem mais privilégios do que os nobres do Ancien Régime, pois estes não estão interessados em nada, a não ser em preservar e se possível aumentar suas mordomias e prebendas.  

Creio que o que falta ao Brasil é um partido das elites, ou pelo menos um clube de reflexões, onde elas possam, entre charutos e champagne, discutir um pouco sobre o destino das elites. Eu e Bolivar também pertencemos às elites, mas se trata apenas de uma elite intelectual, pois não teriamos dinheiro para frequentar esses lugares exclusivos das verdadeiras elites.

Seria pedir muito que elas pensassem um pouco no país e falassem entre si sobre o que fazer com esse Prometeu acorrentado, esse Gulliver amarrado pelo liliputianos do estamento parlamentar?

Pela sugestão:

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 6/11/2021


sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Devolução de comenda da Ordem de Rio Branco (2005) - Paulo Roberto de Almeida

 Em 2005, ao ter o Itamaraty agraciado com a Ordem de Rio Branco, no grau de Grande Oficial, o então presidente da Câmara dos Deputados, depois afastado do cargo por corrupção, eu considerei devolver a minha comenda, preparei memorando, transcrito abaixo, ao chefe do Cerimonial do Itamaraty, na qualidade de Secretário do Conselho da Ordem, procedendo a tal gesto.

Na última hora, contudo, amigos e colegas de carreira, sabedores de minha intenção (pois fiquei chocado não só com tal personagem, mas também diversos outros, me demoveram de fazê-lo, basicamente por duas razões: causaria uma "comoção desnecessária" no Itamaraty e a comenda concedida ao político corrupto não deveria ser confundida com a minha, dada a um membro da carreira, ao passo que o ladrão vulgar tinha sido agraciado na categoria de "contemplados externos".

Não desisti ainda de devolver...

1466. “Ordem de Rio Branco: Memorandum”, Brasília, 2 de setembro de 2005, 1 p. Comunicação ao Chefe do Cerimonial do Itamaraty, na qualidade de Secretário do Conselho da Ordem, a propósito da distinção concedida no grau de Cavaleiro. Não encaminhada. 


Memorandum ao Sr. Chefe do Cerimonial do Itamaraty

 

Brasília, em 2 de setembro de 2005

 

Ordem de Rio Branco. Cavaleiro

Pedido de desligamento.

Paulo Roberto de Almeida.

 

            Senhor Chefe do Cerimonial,

            Dirijo-me a Vossa Excelência na qualidade de Secretário do Conselho da Ordem de Rio Branco, de conformidade com o disposto no Regulamento do Decreto nº 51.697, de 5 de fevereiro de 1963, que dispõe sobre a concessão dessa honraria, com a qual fui distinguido, em 1986, quando Segundo Secretário, no grau de Cavaleiro do quadro Ordinário.

            Muito embora o referido Regulamento não preveja retrocessão ou recusa ulterior dessa distinção – estando apenas nele previsto a suspensão, pelo Conselho da Ordem, do “direito de usar a insígnia por motivo de condenação judiciária ou prática de atos contrários ao sentimento de honra e à dignidade nacional”, o que não se aplica ao meu caso –, venho, por meio deste Memorandum e por razões de ordem estritamente pessoal, solicitar a Vossa Excelência minha exclusão dos quadros dessa Ordem. 

Acompanha este Memorandum o estojo que contém as insígnias da ordem com que fui contemplado. Tão pronto localize, entre meus papéis, o respectivo diploma que me foi entregue na ocasião, providenciarei sua entrega a Vossa Excelência. 

 

Respeitosamente,

 

Paulo Roberto de Almeida

Ministro de Segunda Classe

 

Anexo: estojo com as insígnias da Ordem de Rio Branco, grau: Cavaleiro. 

 



O multilateralismo em crise - Ngaire Woods

 The Telegraph, Londres – 5.11.2021

Is Multilateralism a Fig Leaf?

International organizations must manage a constant tension between the interests of their most powerful member states and those of the rest. Three factors – leadership, effective internal processes, and transparency – are crucial to managing these strains.

Ngaire Woods

 

Oxford - International organizations are currently plagued by allegations of powerful states wielding undue influence over outcomes. These include recent revelations about Australia, Japan, Saudi Arabia, and other countries pushing back against the United Nations on climate change, suggestions that senior World Bank officials intervened to boost China’s ranking in the Bank’s Doing Business index, and suspicions that China influenced the World Health Organization’s approach to the COVID-19 pandemic.

Underlying all these controversies is the simple reality that powerful countries exert great influence over multilateral organizations. But their clout does not render multilateralism impossible. Rather, it is a force that must be actively managed and counterbalanced.

The undue influence of some countries in multilateral institutions is of course not new, but the shifting global balance of power has brought it back into focus. For example, the recent Doing Business fracas prompted arguments implying that otherwise technocratic and evidence-based institutions such as the World Bank were at risk of being led by managers too attentive to China’s concerns. As Anne Krueger writes, “Like Caesar’s wife, IMF and World Bank leaders must be well above suspicion in overseeing these institutions’ work and safeguarding the integrity of the data on which that work relies.”

But history tells a different story. The United States has long dominated the World Bank, in both its formal and informal governance. In the 1960s, it was said that the US hardly needed to exercise its formal powers over the organization, because its staff worked with one eye constantly trained on the preferences of the US government, a few blocks away in the center of Washington, DC. As the historian Catherine Gwin noted, “The result was a strong and enduring American imprint on all aspects of the Bank, including its structure, general policy direction, and the manner of granting loans.”

The US government has typically channeled its preferences through the World Bank’s senior management. In 2006, an independent panel commissioned by the Bank to evaluate its research criticized the way in which “research was used to proselytize on behalf of Bank policy, often without taking a balanced view of the evidence, and without expressing appropriate skepticism.” Moreover, “[i]nternal research that was favorable to Bank positions was given great prominence, and unfavorable research ignored.” The panel lamented that, “when the Bank leadership selectively appeals to relatively new and untested research as hard evidence that its preferred policies work, it lends unwarranted confidence to the Bank’s prescriptions.”

Other powerful countries also exercise influence over international organizations’ senior management and staff. In the International Monetary Fund’s 2014 surveillance review, for example, staff noted the “additional internal pressure and scrutiny associated with surveillance of systemic economies.” And in a background paper on evenhandedness for the review, nearly 60% of IMF mission-chief respondents who worked on advanced economies acknowledged “pressure to dilute the candor of staff reports in order to avoid upsetting the country authorities.”

But international organizations need the backing of powerful countries in order to be effective, and they have historically secured that backing by giving these countries special rights. For example, whereas the US stayed out of the League of Nations in the 1920s, it was persuaded to join the UN, the IMF, and the World Bank after World War II. This was not least because the US gained a say over these organizations’ leadership, hosted their headquarters, and had outsize decision-making power (a veto in the UN Security Council and weighted voting power in the IMF and World Bank). China’s leading position within the Asian Infrastructure Investment Bank today reflects similar considerations.

At the same time, powerful countries must accept some constraints in order to persuade and co-opt others to participate in multilateral institutions. For this reason, strong states create organizations that give votes to other states, with formal decision-making arrangements that (however weakly) limit their power to decide unilaterally what the institution does.

The result is a constant constructive tension between the interests of the most powerful and those of everyone else. Three factors are crucial to managing the inevitable strains.

First, leadership is vital. The role of any multilateral institution’s leader includes not only “speaking truth to power,” but also mobilizing smaller countries to ensure their voices are heard in counteracting the influence of the powerful. Yet, such offsetting influence will be muted as long as powerful states control the appointment and reappointment of organizations’ senior leadership – as the US and the European Union(and increasingly China) do at the World Bank and the IMF. As matters stand, the heads of these institutions are implicitly accountable to the leading powers.

Second, in principle, formal governance arrangements guaranteeing the representation of all members, rules about staffing and funding, and decision-making processes permit all member states to hold an institution to account. But the effective operation of such mechanisms requires attention, information, and experience. Currently, too many countries are represented in multilateral institutions by officials who serve brief terms and have little access to information. This makes them easy to outmaneuver. Less powerful countries need to train and equip their representatives appropriately to serve on the boards of international organizations, so that they can hold their own and constrain the undue influence of the more powerful.

Lastly, transparency is crucial. The trend toward open evaluations conducted by independent evaluation offices, and the increased publicity surrounding efforts by some countries to influence international organizations, are uncomfortable for all participants, but they are vital in the pursuit of effective cooperation.

Given today’s heightened geopolitical tensions, complaints about some countries’ supposedly excessive sway in multilateral institutions may become more frequent. More accountable leadership, effective representation, and transparency are the best tools for counteracting, detecting, and mitigating it.(P.S.)

 

Ngaire Woods is Dean of the Blavatnik School of Government at the University of Oxford.