https://www.lhistoire.fr/rubrique/cin%C3%A9ma
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;
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quinta-feira, 27 de abril de 2023
Lançamento conjunto: Construtores da Nação, projetos para o Brasil de Cairu a Merquior, de Paulo Roberto de Almeida; A História do Brasil pelas suas Constituições, de Rodrigo Saraiva Marinho
Finalmente, um evento que estava aguardando desde algum tempo:
Papo de boteco: Lula define postura na guerra da Ucrânia apoiado em sabedoria de botequim - William Waack (O Estado de S. Paulo)
Papo de boteco: Lula define postura na guerra da Ucrânia apoiado em sabedoria de botequim
William Waack
O Estado de S. Paulo, 27/04/2023
A política externa atual do Brasil em relação ao conflito na Ucrânia é a política externa do Lula. Ela consiste na promoção da imagem pessoal do presidente como um estadista de grande projeção internacional.
O principal problema dessa política é o notável distanciamento entre a visão que Lula tem do cenário internacional e a realidade dos fatos. Nesse sentido, as bobagens que ele tem reiterado sobre causas, evolução (no sentido cronológico) e possíveis resultados do conflito não são apenas deslizes retóricos.
São distorções trazidas pela ignorância de como funciona a ordem internacional em transformação e o motivo das ações das potências envolvidas. Junto da incapacidade de entender e formular o que seja o interesse nacional brasileiro, que Lula confunde (como fazem populistas em qualquer lugar) com interesses políticos pessoais.
Uma das imprecisões históricas mais reveladoras da falta de visão internacional de Lula foi a afirmação de que a China merece um crédito especial como possível negociadora no conflito da Ucrânia pois “não faz guerra há muito tempo”. A história da moderna China, como a de todas as grandes potências, é a história de suas grandes guerras (de conquista, civil ou ambas). E a China está se preparando para a maior delas, contra os EUA.
A afirmação, feita por Lula, de que não adianta “discutir quem está certo ou quem está errado” no caso da Ucrânia implica desprezo do presidente brasileiro a princípios de Direito Internacional. A preservação desses princípios foi durante décadas o norte da política externa brasileira.
Outra bobagem retórica – “Você só vai discutir acerto de contas quando pararem de dar tiros” – expõe incapacidade de entendimento das relações internacionais. Não se esperava que Lula se dedicasse a interpretar a frase célebre de Clausewitz (A guerra é a continuação da política por outros meios), mas qualquer político realista e realmente pragmático sabe bem o que significa.
A guerra imposta pela Rússia à Ucrânia é uma guerra imperialista clássica de conquista inflamada por nacionalismo e chauvinismo de séculos, dos czares aos bolchevistas, além do típico anseio por segurança (diante de ameaças reais ou percebidas, como a existência da Otan) de grandes potências. Ela se tornou fator definidor da ordem internacional que, simplificando, é a formação de dois formidáveis blocos geopolíticos. Guerra da Ucrânia e nova ordem são eventos com características próprias, mas que se tornaram inseparáveis e se condicionam mutuamente.
É bom observar que o chefe de governo espanhol, um político socialista ao lado de quem Lula proferiu as últimas declarações sobre a guerra, compartilha com outros dirigentes europeus de esquerda ou de direita o mesmo entendimento sobre a natureza do que está acontecendo. Eles não definem a postura externa de seus países apoiados em sabedoria de botequim.
O xadrez do acordo entre Mercosul e UE - O Estado de S. Paulo
O xadrez do acordo entre Mercosul e UE
O Estado de S. Paulo, 27/04/2023
Por ocasião da visita do presidente Lula da Silva à Europa, autoridades afirmaram a ambição de ratificar o acordo entre Mercosul e União Europeia (UE) neste ano. Com boa-fé e pragmatismo, é possível. Mas nessa novela de quase 30 anos esses expedientes nem sempre estiveram presentes. É preciso evitar que os erros se repitam.
Mais do que o livre-comércio, o acordo inclui vertentes políticas e culturais. Ele “cria o quadro institucional necessário para facilitar a cooperação numa vasta gama de áreas de interesse mútuo, desde a proteção dos direitos humanos e do desenvolvimento sustentável até a regulação da economia digital e a luta contra o crime organizado”, apontou o vice-presidente da Comissão Europeia, Josep Borrell. “Esse acordo reforçará as nossas relações não só entre governos e instituições, mas também entre parlamentares, sociedade civil, empresários, estudantes, universidades, cientistas e criadores.”
É o primeiro acordo birregional abrangente do Mercosul e o maior da UE. As aproximações começaram em 1995, mas emperraram nos anos 2000 por relutâncias protecionistas: dos europeus, em relação à sua agropecuária; dos latino-americanos, à sua indústria. A conjunção das presidências de Michel Temer e de Mauricio Macri, na Argentina, deu tração às negociações e o acordo foi fechado em 2019. As rupturas geopolíticas recentes o tornam estratégico para reduzir dependências excessivas, diversificar cadeias de valor e estabelecer a cooperação com parceiros políticos e econômicos confiáveis.
Por isso, é preciso dissolver velhas resistências que voltam sob novas formas. A hostilidade dos fazendeiros europeus foi revigorada pelos humores antiglobalistas da nova direita e, sobretudo, pela preocupação ambiental – abastecida pelo antiambientalismo do ex-presidente Jair Bolsonaro. A UE insiste em vincular a ratificação a compromissos ambientais.
Seria cínico desmoralizar angústias legítimas com a preservação ambiental. Mas seria ingênuo ignorar o oportunismo de políticos europeus em apertar restrições para agradar tanto ao eleitorado jovem de esquerda (os “verdes”) quanto aos velhos agricultores.
Sem dar as costas nem bater de frente, a solução passa por elaborar, a partir do arcabouço aprovado, mecanismos de interesse mútuo. O Brasil já tem uma legislação ambiental de ponta e pode reforçar medidas de combate ao desmatamento, comprometendo-se, por exemplo, a recompor órgãos de fiscalização e aumentar gradualmente a participação orçamentária do Ministério do Meio Ambiente. A Europa, por sua vez, pode apoiar esses esforços com recursos técnicos e financeiros, especialmente em programas de inclusão social na Amazônia. Além disso, precisa renunciar à pretensão de vincular sanções comerciais ao descumprimento de metas ambientais, coisa estranha ao direito internacional ambiental.
O Mercosul faz bem em insistir que, além da proteção ambiental, o desenvolvimento sustentável deve se equilibrar em outros dois pilares: o social e o econômico. A própria Europa, para evitar o colapso desses pilares após a guerra na Ucrânia, se viu obrigada a exumar fontes de energia “suja”.
Nem por isso os governos petista e peronista devem ceder à tentação de reabrir negociações para erguer barreiras protecionistas. Lula fala em manter o direito de preferir produtos nacionais nas compras governamentais. Já existem exceções desse tipo e podem ser flexibilizadas, mas não se deve forçar a mão. Até porque o acordo prevê aberturas gradativas, dando tempo aos setores produtivos de ambos os lados para se modernizarem. Se o governo quer uma “neoindustrialização”, o melhor a fazer não é proteger a indústria, mas criar condições para que ela se torne competitiva, por exemplo, aprovando uma boa reforma tributária e investindo em desburocratização, infraestrutura e inovação para reduzir o “custo Brasil”.
Após quase três décadas, diversos estudos mostram que o acordo é comercialmente lucrativo para ambas as partes. Com boa-fé e pragmatismo, não será preciso gastar tanto tempo para que ele se torne também sustentável.
https://www.estadao.com.br/opiniao/o-xadrez-do-acordo-entre-mercosul-e-ue/
Antonov desmente fake news da imprensa brasileira - Revista Asas
Antonov desmente fake news da imprensa brasileira
Em meio ao conflito contra a Rússia e os desafios de continuar existindo, a fabricante ucraniana Antonov precisou emitir às 22 horas (horário local) desta terça-feira, 26 de abril, uma nota desmentindo uma fake news divulgada por veículos de imprensa no Brasil e por portais de ativismo político. Sem se preocuparem em checar a informação, as páginas publicaram a história de que a Antonov iria cancelar um investimento de 50 bilhões de dólares no Brasil por conta de declarações do presidente Lula. A notícia é falsa. A Antonov não tem um projeto desse para o Brasil muito menos tomou decisão de cancelá-lo, muito menos por motivações políticas.
Em nota, a Antonov negou a notícia inicialmente veiculada pela CNN Brasil e ainda alertou sobre a desinformação. “A fim de evitar manipulações e o agravamento da parceria internacional, bem como levando em consideração a atual situação internacional causada pela invasão em grande escala da Federação Russa na Ucrânia, a Antonov solicita gentilmente aos meios de comunicação de massa que verifiquem cuidadosamente as informações relacionadas aos atividades, que foi recebido de outras fontes”, diz o texto, divulgado nas redes sociais da empresa.
A Fake News supostamente se baseava em informações dadas por um escritório de advocacia e por fontes do próprio governo de São Paulo. A Antonov negou essa representação no Brasil, mas foi diplomática sobre futuras parcerias com o país: “A companhia Antonov enfatiza seu interesse no desenvolvimento da cooperação com a República Federativa do Brasil no campo de tecnologias de aviação e apreciará as iniciativas oficiais da parte brasileira no que diz respeito ao estabelecimento de cooperação mutuamente benéfica.”
O texto da empresa não cita em nenhum momento o presidente Lula, sem fazer qualquer juízo de valor sobre declarações do chefe de Estado brasileiro. Também não aborda a capacidade de investimento da Antonov em meio à situação bélica do país de origem.
Leia a versão traduzida do texto da Antonov:
“Atualmente, os meios de comunicação da República Federativa do Brasil estão compartilhando informações falsas de que a ANTONOV suspendeu as supostas negociações sobre o suposto lançamento da produção de aeronaves no Brasil.
A ANTONOV declara oficialmente que realiza constantemente consultas com parceiros estrangeiros de vários países, incluindo a República Federativa do Brasil, como parte de suas atividades visando a promoção de produtos e serviços no mercado externo.
No entanto, a ANTONOV não possui um representante autorizado no Brasil e não concedeu a quaisquer pessoas, incluindo escritórios de advocacia, qualquer autoridade para representar os interesses da Empresa.
A ANTONOV enfatiza seu interesse no desenvolvimento da cooperação com a República Federativa do Brasil no campo de tecnologias de aviação e apreciará as iniciativas oficiais da parte brasileira no que diz respeito ao estabelecimento de cooperação mutuamente benéfica.
Assim, a reportagem da imprensa brasileira não representa o posicionamento oficial da empresa ANTONOV.
A fim de evitar manipulações e o agravamento da parceria internacional, bem como levando em consideração a atual situação internacional causada pela invasão em grande escala da Federação Russa na Ucrânia, a ANTONOV solicita gentilmente aos meios de comunicação de massa que verifiquem cuidadosamente as informações relacionadas aos atividades, que foi recebido de outras fontes.”
A ignorância letrada, uma crítica contundente à academia, ainda se sustenta como conceito e como realidade? - Paulo Roberto de Almeida
Hoje, 26/04/2023, tomei conhecimento de que um antigo texto meu, elaborado improvisadamente entre duas ou três viagens entre um canto e outro do mundo, foi citado num livro do conhecido "provocador cultural" Antonio Risério, o que confesso não sabia, e sobre o qual gostaria de ser informado para adquirir e ler.
O texto, também provocador, é o seguinte, com todos os links a que ele teve direito, por publicações sucessivas, em periódicos acadêmicos com os quais colaborava, ou até um dos aviadores, sem que eu o tivesse encaminhado (eles o quiseram, dez anos depois de sua publicação original, e eu não objetei).
2169. “A Ignorância Letrada: ensaio sobre a mediocrização do ambiente acadêmico”, Dubai-São Paulo, 17/07/2010; Shanghai, 30/07/2010, 10 p. Ensaio sobre a crescente deterioração da qualidade da produção acadêmica brasileira na área de humanas, examinando a natureza do problema, suas causas, suas consequências mais evidentes e as evidências disponíveis. Disponível no blog Diplomatizzando (1/08/2010; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/08/sobre-ignorancia-letrada-algumas.html). Revista Espaço Acadêmico(ano 10, n. 111, agosto 2010, p. 120-127; link: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/10774; pdf: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/download/10774/5859). Publicada na revista acadêmica Espaço da Sophia (ano 4, n. 41; janeiro-março 2011; ISSN: 1981-318X). Reproduzido na revista Aeronáutica (Rio de Janeiro: Clube da Aeronáutica, vol. X, n. 308, julho a setembro 2020, p. 20-25; ISSN: 0486-6274; link: http://www.caer.org.br/downloads/revistas/revista308.pdf); disponível na plataforma Academia.edu (7/10/2020; link: https://www.academia.edu/44249737/2169_A_Ignorancia_Letrada_ensaio_sobre_a_mediocrizacao_do_ambiente_academico_2010_). Publicados n. 985, 1016 e 1469.
Todos os links acima, permanecem funcionais, mas eles reproduzem apenas o artigo em si, não necessariamente o debate que ele possa ter suscitado, e do qual não devo ter tomado conhecimento, pois que permaneci fora do Brasil (na China) até quase o final do ano de 2010.
Permito-me apenas reproduzir, abaixo, um comentário que permaneceu na postagem do meu blog Diplomatizzando.
Informo, por fim, que nunca mais voltei ao tema, e não mais fiz "pesquisas" para comprovar se as minhas críticas acerbas eram legitimas, na ocasião (provavelmente não), ou se elas se mantêm contra meus colegas de academia. Imagino que a qualidade tenha melhorado E piorado, pois, como naquele velho filme de faroeste italiano, temos de tudo, do bom, do mau e do feio.
Será que estou sendo injusto com minha "alma mater" (ironia involuntária)?
Não sei, preciso reler o trabalho, já quase esquecido, e repensar meu ataque feito com metralhadora ponto 50.
Aguardo críticas dos "companheiros" (no pun intended).
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 26/04/2023
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Excelente! Nunca pensei que fosse um dia encontrar um Cientista Social brasileiro sem fortes inclinações marxistas! (Desculpe a brincadeira. Isso é consequência da MINHA ignorância letrada, muito influenciada por um preconceito que surgiu devido a uns panelaços e gritaria enquanto eu fazia prova na Universidade).
Quanto ao assunto do artigo, lembro-me de ter sido fortemente influenciado pela escola quando ainda era uma inocente criança. Me diziam: Papai Noel existe; Jesus vai te salvar; o rico é rico porque toma do pobre; é uma injustiça social colher os frutos da sua iniciativa, criatividade e esforço pessoal.
Acredito que essa lavagem cerebral feita nas escolas, provavelmente influenciada por teorias ultrapassadas e inúteis, com conteúdo ideológico e gente mal intencionada por trás, ajude a perpetuar esse quadro de mediocrização do ambiente acadêmico, já tornando o indivíduo permanentemente desinformado antes mesmo dele perder a virgindade. É uma pena.
Parabéns pelo artigo e pelo blog! Um abraço!
Leonardo,
Acabo de voltar ao Brasil, depois de oito meses no exterior, tendo acompanhado pela internet alguns dos"debates" acadêmicos a propósito das eleições. Confesso a você que fiquei assustado com o que li e ouvi, pela extrema vulgaridade dos argumentos expostos, pelo militantismo da pior espécie exposto em todas as esferas e pela mediocridade continuada já por mim criticada neste ensaio. Você deve ter lido, por exemplo, o manifesto dos reitores a favor da candidata oficial. mandei uma carta resposta para a SBPC que obviamente não foi publicada, mas que você pode encontrar aqui neste blog, colocando carta dos reitores ou algo do genero.
Estou realmente assustado com a mediocrização galopante da academia brasileira.
O abraco do
Paulo R Almeida
quarta-feira, 26 de abril de 2023
How China Could Save Putin’s War in Ukraine - Liana Fix and Michael Kimmage (Foreign Affairs)
How China Could Save Putin’s War in Ukraine
The Logic—and Consequences—of Chinese Military Support for Russia
Foreign Affairs, April 26, 2023
https://www.foreignaffairs.com/china/how-china-could-save-putins-war-ukraine
Over the past year, China has made the best of Russia’s war against Ukraine, emerging as one of the conflict’s few beneficiaries. It has styled itself as a measured peacemaker while gaining substantial leverage over Russia. Beijing has been Moscow’s most conspicuous and consequential backer in the war, pledging a “no limits” partnership with Russia shortly before the February 2022 invasion and helping keep Russia’s wartime economy afloat. Moscow’s growing reliance on China has been lucrative and useful for Beijing—and this economic dependence will likely continue and deepen. China’s rhetorical commitment to “multipolarity” in geopolitics has encouraged many countries in the global South to remain aloof from the war, unwilling to rally to Ukraine’s cause. After crowing about its reconciliation of Iran and Saudi Arabia, China is now promoting its “peace plan” for Ukraine, an entirely unrealistic proposal that caters almost exclusively to Russia’s interests. (Notably, the plan includes no requirement for the withdrawal of Russian troops from Ukraine.) Whatever the flaws of this plan, it has still allowed Chinese leader Xi Jinping to present himself as a diplomatic mediator and to position China to play a part in Ukraine’s eventual reconstruction.
And yet for all it has gained as a putative bystander, China may not be willing to stay on the sidelines indefinitely. A defeated Russia is not in China’s interest. The Kremlin is Beijing’s most important partner in its opposition to the U.S.-led international order. Despite their many differences, China and Russia have joined forces to advance an alternative order with its own rules of war and peace, its own financial centers, and its own multilateral institutions. “Change is coming that hasn’t happened in 100 years,” Xi declared in April, at the end of a visit to Moscow. “And we are driving this change together.” A Russian humiliation in Ukraine would undermine this narrative, giving the United States greater latitude to focus its energies and resources on competing with China.
To prevent this outcome, China could opt to throw Russia a lifeline beyond economic and moral support and supply its partner with lethal military aid. It could do so to prolong the war, to stave off a Russian defeat, or to speed some kind of Russian victory. Chinese aid could be covert—designed, that is, not to be discovered by U.S. intelligence. Indeed, China’s delivery to Russia of goods such as so-called hunting rifles, which have both civilian and military uses, arguably already constitutes such support. Or Beijing’s involvement could be overt. The public announcement of weapons deliveries would signal a formal alliance with Russia, and China’s entry into the war would open a new chapter in international affairs, turning the conflict in Ukraine into a truly global one and inaugurating a far more adversarial relationship between China and the West.
The United States, which is accustomed to watching China closely, has described the provisioning of lethal aid to Russia as a redline. Washington has threatened severe repercussions (probably in the form of significant economic sanctions) should Beijing cross this line. U.S. officials should be firm and consistent in warning their Chinese counterparts against such a dangerous course of action. But they should also recognize that China will not be easily cowed by words or by the threat of further U.S. sanctions.
In addition to the U.S. response, Europe has an important role to play in deterring a more concerted Chinese intervention in the war. Despite the optics of French President Emmanuel Macron’s deferential visit to Beijing in April, China’s desire for access to the European economy remains a major source of leverage for EU states. Even if China is convinced that it cannot repair relations with a hostile United States, it knows that it has a lot to lose in Europe. To succeed, Europeans will have to make clear to China that any military support for Russia will incur a severe and united response from Europe. The United States and Europe should remind China that its participation in the war will not decrease Western support for Ukraine. Far from it, a Chinese entry will only spur further aid from the West, raising the costs and the stakes for all.
THE CHINESE CALCULUS
China has three broad interests regarding the war in Ukraine. The first is preventing Russian President Vladimir Putin’s downfall. Russia with Putin at the helm is a valuable asset for China. It figures in China’s Cold War–style rivalry with the United States. It provides cheap energy and sizable markets for China. Beijing does not want Putin to be replaced by a less friendly leader, nor does it want to see domestic instability in Russia induced by a lost war in Ukraine. The worst-case scenario, the fragmentation of the Russian state, could bring chaos to China’s borders, impeding China’s ability to trade with Central Asia, the South Caucasus, and Europe. Although Putin and Xi probably do not agree on how the war in Ukraine should end, they do agree that a clear Russian defeat would be intolerable.
China also understands that the war in Ukraine has ramifications for international order. Were the war to conclude on Western terms with a clear Ukrainian victory, the United States would define the war as a triumph for its international order, its rules, its power, and its diplomatic acumen. This would deal a blow to China’s aspirations for a new global order with Chinese (or Chinese-Russian) characteristics. But if, by contrast, the war were to drag on and continue to contribute to inflation and food insecurity around the world, China could frame the conflict as evidence of the failings of the preexisting U.S.-led international order. Thirty years of American hegemony have led us to this impasse, China could argue, while casting itself as a responsible stakeholder in its own alternative international order. More prosaically, China is happy for the war to carry on in so far as it keeps U.S. attention and resources pinned to Europe, far away from the Indo-Pacific.
China’s third interest, which may not be completely compatible with its second interest, is to have a meaningful stake in the aftermath of the war in Ukraine. Beijing is largely content to let Russia, Ukraine, and the West exhaust themselves in the fighting, but it wants to have a say in the eventual peace process and the postwar economic landscape of Ukraine. China had a growing economic relationship with Ukraine before the war, and it will doubtless play an extensive role in Ukraine’s postwar reconstruction. Although Kyiv insists that its supporters in the war should be the main beneficiaries of the opportunities that will come with the country’s revitalization, Ukraine may eventually turn to Beijing to help shoulder the enormity of its reconstruction needs. The peace plan Xi recently proposed to Putin in Moscow, however lopsided, is a sign that China wishes to be both a mediator and an economic player in Ukraine; it wants to be at the table so that whenever the war ends, it can act on its economic interests. China will do what it can to win the peace.
PROPPING UP PUTIN
The magnitude of these interests in the war ensures that China will not passively allow events in Ukraine to unfold however they will. Put negatively, China will go to considerable lengths to prevent the United States from succeeding in Ukraine. If the war continues to go badly for Russia, China will prop up Putin. Put positively, China will try to fit the war into its vision for regional and international order. It will, on the one hand, seek to expand commercial ties with Ukraine and Ukraine’s neighbors and, on the other hand, broaden the scope of action available to powers such as Russia that have flung off the rules written in Washington.
China could anchor itself in the war by making the risky decision to furnish Russia with lethal military assistance. Such support could be provided covertly. If this assistance went undetected or if it were not conclusively detected, China could still wear the mantle of peacemaker in Ukraine. So attired, it could drive a wedge between Europe and the United States—if Washington condemned Beijing for equipping the Russian war effort and took punitive measures but Europe refused to follow suit. European countries, fearing Chinese economic retaliation, could end up leaving Washington high and dry, fracturing the transatlantic alliance in the process.
Whatever covert support China delivered to Russia—including drones, artillery shells, and ammunition—would not bring Russia victory for the simple reason that Russia has no coherent path to victory in Ukraine. Chinese aid cannot fix the failures of Russia’s military leadership, the low morale among Russian troops, and the Kremlin’s impoverished strategic thinking. Yet material help from China could do a lot to prolong the war, to give Russia tactical advantages on the ground, and to convince a nervous Russian elite that Russia can continue fighting. Chinese assistance would increase Russia’s willingness to wage a long war, protecting Putin from the political vulnerabilities produced by his disastrous invasion.
China will not passively allow events in Ukraine to unfold however they will.
Suppose China went a step further and overtly entered the war on Russia’s side, making no attempt to conceal its weapons deliveries to Russia. Such a drastic move would represent China throwing down the gauntlet to the United States and Europe, brushing aside as trifling any Western threats of economic punishment. Chinese participation in the war would raise the stakes immeasurably for the United States and Europe. A Russian victory or partial victory with known Chinese support would make China a player in the broader landscape of European security. China’s joining up with Russia would demand greater military commitments to Ukraine from the United States and European countries already struggling with the demands of maintaining the Ukrainian war effort.
Overt support for Russia would fly in the face of public statements made by Chinese leaders since Putin launched his invasion, but there could be a strategic logic to such a bold move. China’s entry in the war would make the most sense as a preliminary distraction prior to a planned invasion of Taiwan months or years later. The resources that Western powers are forced to expend in Ukraine are resources they cannot immediately direct to Taiwan’s defense. Chinese participation in the Russian war effort would draw attention away from Taiwan and from the Indo-Pacific. In this scenario, the battlefield configurations in Ukraine might not matter that much to Beijing. China would simply hope that its involvement imposed costs on the West. It would not have to send a single soldier to Ukraine to do so. (The West has already proved that the course of the war can be affected without having to involve its uniformed soldiers.) Beijing’s announcement of direct and long-term military support to Russia would itself be transformative.
But it could also be disastrous for China. Russia might still lose the war. So far its military campaign has gone from failure to failure, and at every turn Ukraine has outperformed expectations. With Chinese fingerprints all over the war, a defeat for Russia would rebound on its backer. Indeed, this concern seems to have motivated China to stay on the sidelines, officials having come to the conclusion that Putin’s folly and ineptitude may not merit more than symbolic and situational support. China’s ambassador to the EU, Fu Cong, recently explained that China’s “no limit” friendship with Russia was “nothing but rhetoric.”
China could also stand to lose the very thing it has gained from the war, a privileged global position. By giving Russia its military support, China would join the ranks of pariah states such as Iran and North Korea. It would worsen its already adversarial relationship with the West, for which it would pay a substantial economic price. And China would be less able to paint itself as a benign international presence in a world spinning out of control. China’s aid would not just signal tacit approval of Russia’s many attacks on civilians but also enable such war crimes. By helping wage war against a country that has done nothing to provoke China and with which China once had decent relations, Xi would set an ugly precedent and instill fear in countries farther afield from Ukraine. In seeking to undermine the West, he would make a Chinese-led international order that much harder to construct.
EUROPE’S TRUMP CARD
Whatever the risks of China’s joining the war might be, Xi will not be persuaded of anything he does not already believe about Russia and Ukraine. Western rhetoric will not deflect China from its three core interests in the war, and Xi is well aware that he will face sanctions should he cross Western redlines by giving Russia lethal aid. U.S. and European officials still need to drive this message in tandem, emphasizing that the United States and Europe will forge a comprehensive Western response to any Chinese entry into the war. Together with like-minded partners in the Indo-Pacific, they will present a united front.
The Europeans in particular must communicate to China that their rejection of any Chinese deliveries of lethal weapons to Russia is a fundamentally European position and not merely the rhetoric of governments taking their cues from the United States. It should be stated repeatedly that the war in Ukraine is existential for Europeans, and impeding Chinese intervention is a fundamental European interest. By wading into the conflict, China would lose Europe. For their part, U.S. officials must impress on Beijing the United States’ patience and steely resolve in supporting the Ukrainian war effort. Demonstrating this fortitude and commitment to Ukraine’s cause should help Beijing see more starkly the risks of widening the war.
Os motivos para a brutal declaração de Lula sobre a guerra na Ucrânia - Clarín Online - Argentina
Para muitos analistas, não fica claro se essa decisão foi resultado de uma extraordinária imperícia diplomática ou produto de uma ingenuidade. Ou ambos.
É o que sugere The Economist para tentar explicar por que o recém-começado terceiro governo do líder do PT embarcou nesse conflito, pendendo para a narrativa da Rússia.
A ambição de Lula é devolver o Brasil ao lugar que ocupava na agenda internacional há 20 anos, na época de seus dois primeiros mandatos. Era um mundo diferente, e o brilho saudosista talvez o impeça de detectar os caminhos escabrosos deste presente.
Essa visão é ofuscada ainda mais pelas complicações internas que o governo enfrenta. O petista ganhou de Jair Bolsonaro por uma margem estreita de votos, que se reflete na falta de poder no Congresso e na construção de um gabinete do centro à direita, conectado com o país que ele tem que governar.
Um Brasil com um eleitorado de classe média que o escolheu, em grande parte, para não apoiar a misoginia e o fanatismo iliberal do candidato de extrema-direita. Ou seja, que optou pelo candidato que, na comparação, era mais liberal, não mais esquerdista -conceito que Lula, longe do folclore dos anos 70, talvez tenha enterrado para sempre nesta campanha-.
Esse é um espaço em que o presidente se sente à vontade. Nos seus dois governos anteriores, Lula jogou nas duas pontas do espectro. Promoveu uma política econômica ortodoxa que monitorava rigorosamente os gastos públicos, os lucros empresariais e os superávits gêmeos, ao mesmo tempo em que ele abraçava os Castro cubanos, conversava de igual para igual com Hugo Chávez, com o nicaraguense Ortega e com os Kirchner da Argentina.
Era um atalho para dissolver o risco de conflitos internos. Mas tudo mudou e esses players, os que ainda estão, já não têm o mesmo protagonismo. A guerra pode ter funcionado então como uma tentação para exibir essas rebeldias.
Tudo indica que essa guinada controversa, nos moldes dos parâmetros Leste-Oeste do século passado, foi aconselhada pelo veterano assessor internacional de Lula, Celso Amorim.
Essa visão, comum no chamado progressismo regional, concebe o drama ucraniano como a ponta de lança dos EUA contra a Rússia que, apesar de não ser mais a lendária União Soviética, mantém um enfrentamento com os Estados Unidos, o odiado império da Guerra Fria.
O principal prato chinês Mas não é a Rússia, e sim a China, que atrai especialmente o líder do PT, menos motivado ideologicamente por uma necessidade de crescimento que resolva uma realidade econômica limitada.
As autoridades brasileiras ouvem as críticas dos EUA sobre essas mutações, mas acusam Washington de falar muito e mostrar pouca consistência prática.
A recente viagem de Lula à China resultou em 10 bilhões de dólares em investimentos. Algumas semanas antes, o encontro com Joe Biden na Casa Branca teve como saldo zero compromissos monetários. Pior ainda, há um persistente êxodo de investidores americanos do Brasil.
Um dado paradigmático desse ciclo é a montadora Ford, que saiu do país há dois anos e agora está vendendo sua enorme fábrica na Bahia para a chinesa BYD que, segundo a Bloomberg, a usará para fabricar carros elétricos.
A intenção de Lula e sua equipe, dizem fontes diplomáticas a este cronista, é impulsionar as decisões de investimento com uma multiplicação de fábricas, acordos tecnológicos, negociações nas moedas nacionais e uma aliança econômica quase total com a China.
Esse passo pragmático é fácil de entender. Não assim a derrapagem sobre a Ucrânia. É difícil que tenham pedido a Lula uma contraprestação tão grande. No fim da sua viagem à China, o petista surpreendeu ao insistir em equiparar Kiev a Moscou na responsabilidade pela guerra. Ele confundiu a vítima com o criminoso.
Essa é uma noção grave que Lula já havia ensaiado em uma entrevista em maio do ano passado à revista Time, antes da eleição, na qual afirmou livremente que o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky "queria a guerra. Se ele não quisesse, teria negociado um pouco mais. É isso". Como assim? Negociado?!!
Essa visão polêmica ignora o fato de que não se trata de um conflito clássico com exércitos lutando nas fronteiras. A Rússia invadiu a Ucrânia e há um ano vem demolindo o país, massacrando civis, casas, hospitais e escolas para demonstrar um suposto direito do Kremlin de mandar em todo o território que fazia parte da URSS. Não é só a Ucrânia.
É por isso que o mundo assiste a esse cenário com horror, repudiando Moscou e se solidarizando com Kiev. Vale lembrar que a Ucrânia não é o Vietnã nem a Coreia.
Lula entrou nesse drama com o pé esquerdo, desgastando desnecessariamente a imagem do Brasil como defensor dos direitos humanos e afugentando o público europeu que o tinha recebido com aplausos.
Um ciclo maior dessa deterioração foi a crítica do brasileiro aos EUA e à Europa por fornecerem ajuda militar à Ucrânia e sancionarem a Rússia. Mas Lula sabe que, sem essas duas ferramentas, Putin teria vencido a guerra imediatamente.
Há alguns dias, Amorim conversou pelo telefone com o assessor de segurança nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, para esclarecer o que chamou de mal-entendidos e afirmar que o Brasil não apoia a visão chinesa da guerra e muito menos a da Rússia. Mas essas palavras se chocam com os gestos.
É interessante lembrar que o líder do PT chegou à presidência do Brasil com grande entusiasmo da Casa Branca, incomodada com Bolsonaro e com sua relação estreita com Putin, que o então presidente visitou dias antes do início desta guerra que nunca condenou.
Joe Biden foi um dos primeiros a parabenizar Lula após a vitória, desfazendo assim as acusações de fraude eleitoral que Bolsonaro lançava.
Após esse sinal, uma delegação chefiada por Sullivan viajou imediatamente a Brasília para convidar o presidente eleito para uma reunião em Washington. Esse encontro ocorreu neste ano, após a posse de Lula, e nele os dois presidentes condenaram a guerra e Moscou.
Naquela época nasceu um acordo entre as duas maiores economias do hemisfério, que compartilham a preocupação com a crise de representação que está dilacerando a região. Além disso, existe o interesse evidente dos EUA em construir uma aliança que modere o firme avanço da China e, em menor escala, da Rússia na América Central e do Sul. Essa parceria de confiança foi quebrada. É claro que, se houve ingenuidade, não foi apenas de Lula.
Submarinos e centrais atômicas Os laços do Brasil com a China são imparáveis. Até a tecnologia da China, o 5G da Huawei em vigor aqui desde 2021, visa inundar a estrutura de comunicações e os rudimentos da Internet das Coisas do gigante sul-americano.
A Huawei já tem duas fábricas de equipamentos de telecomunicações em São Paulo. Uma delas é uma fábrica inteligente inaugurada em março de 2022.
Do lado russo, há outros aspectos pouco abordados pela mídia que prometem um embate ainda mais acentuado com Washington. Lula, alinhado nesse aspecto com as negociações de Bolsonaro com Moscou, busca o apoio do setor de energia atômica russo para o fornecimento de combustível para o reator do submarino de propulsão nuclear brasileiro, que entrará em operação na próxima década.
Conforme lembrou a Folha de S.Paulo, o presidente quer manter contato com a Rosatom, estatal russa que lidera o mercado mundial de reatores, para a retomada da construção da central nuclear Angra 3, a maior das três de mesmo nome. Angra 1 e Angra 2 já estão em funcionamento.
A empresa russa já apresentou uma proposta com algumas garantias para esse projeto, concorrendo com a americana Westinghouse, a chinesa CNNC e a francesa EDF. As obras da central nuclear estão paralisadas desde 2015 devido a denúncias de corrupção na estatal brasileira Eletronuclear durante o fracassado governo petista de Dilma Rousseff, na época da Lava Jato.
Essas questões, e não apenas o destino da guerra na Ucrânia, foram tratadas na reunião do dia 17 deste mês, em Brasília, entre o chanceler russo, Sergei Lavrov, seu par brasileiro, Mauro Vieira, e o próprio presidente Lula.
Visita que ocorreu em meio ao repúdio internacional a essa presença, recebida com honras pelo governo brasileiro e que proclamou sua satisfação pelos múltiplos interesses comuns que unem os dois países.