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quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Professores sao contra a meritocracia; eles preferem a mediocracia... - artigo de Jose Goldemberg

Estou sabendo de manifestação e greve de professores (ou do sindicato de professores) no Rio de Janeiro, nesta semana, sendo que um dos slogans dos ditos cujos é:
Fim da Meritocracia.
Certamente: a meritocracia é uma coisa chata, pois premia os mais esforçados e deixa na amargura os incompetentes os vagabundos, os relapsos, uma tremenda injustiça.
Melhor é a isonomia, todo mundo ganhando o mesmo, socialisticamente, independentemente de resultados e do desempenho dos alunos. Afinal de contas, nossa Constituição coloca a igualdade como um dos valores fundamentais do país.
Essa coisa de meritocracia atrapalha tudo isso, os altos princípios constitucionais...
Esse professor aí abaixo, só pode ser maluco...
Nossa Constituição não está fazendo 25 anos (com 73 emendas) por nada. Ela está aí para isso mesmo: consagrar a mediocracia, e o atraso.
Paulo Roberto de Almeida

Universidade e meritocracia

19 de agosto de 2013
José Goldemberg * - O Estado de S.Paulo
Suficiente já foi dito sobre as propostas de plebiscito, democracia direta e outras que foram feitas pelo Poder Executivo em respostas às grandes manifestações populares de junho. Várias delas são notoriamente atabalhoadas e demagógicas e, felizmente, estão sendo gradativamente abandonadas, à medida que o bom senso se impõe.
Há, porém uma consequência duradoura e deletéria da orientação política geral que se implantou há cerca de dez anos no País, que é a de tentar agradar a todos os setores da sociedade e cooptá-los em nome do sucesso eleitoral e da permanência no poder. O que é alarmante é esse comportamento estar atingindo agora as melhores universidades brasileiras. Ora são cotas de diversos tipos para ingresso nas universidades públicas para compensar discriminações ocorridas no passado; ora são propostas de eleições diretas para dirigentes universitários, como se essas instituições de ensino superior fossem clubes recreativos ou sindicatos; ora é serviço civil obrigatório para resolver os problemas do precário atendimento médico à população; ora a importação de médicos - e por aí vai.
O que tudo isso tem em comum é que tenta eliminar algo fundamental: a meritocracia. Isto é, que a aptidão ou o conhecimento sejam o critério principal do sucesso, quer na conquista de cargos de direção, quer na realização de trabalhos técnicos e científicos, no caso das universidades.
A meritocracia foi uma das grandes conquistas da Revolução Francesa (1789-1799), em que foram eliminados os privilégios da aristocracia. O sucesso posterior de Napoleão Bonaparte como grande general deveu-se em grande parte à escolha de oficiais pelo mérito, e não por seus títulos de nobreza, como ocorria antes de 1789.
É esse o significado da palavra igualdade na trilogia que caracterizou aquela revolução - liberdade, igualdade e fraternidade. O que se almejava na ocasião era igual oportunidade para todos.
A mesma característica têm as grandes escolas de ensino superior criadas na França pós-revolução, como a Escola Politécnica de Paris, a Escola Normal Superior e a Escola Nacional de Administração, que formam até hoje os quadros dirigentes franceses e nas quais o ingresso é feito exclusivamente pelo mérito. Vale a pena mencionar aqui que a ideia básica da meritocracia foi incorporada até por Karl Marx, ao esboçar como seria um mundo onde a exploração do trabalho pelo capital fosse eliminada: um mundo em que "cada um daria de acordo com suas habilidades e cada um receberia de acordo com suas necessidades".
A meritocracia é um princípio que sempre esteve presente no desenvolvimento da ciência, área em que ela é soberana e o uso de títulos e de poder nada pode contra a evidência. A História está cheia de episódios em que autoridades tentaram suprimir ou manipular a evidência científica. Todas essas tentativas falharam.
As grandes universidades do mundo seguem o mesmo princípio e as brasileiras que pretendem atingir um nível comparável ao delas não poderiam adotar critérios diferentes. O que está ocorrendo no Brasil, contudo, é que existem visões conflitantes dentro do próprio governo federal quanto ao papel das universidades públicas.
Por um lado, o governo cria programas de incentivo à inovação tecnológica, promove estágios no exterior por meio do programa Ciência sem Fronteiras e de outros que se destinam a melhorar o desempenho das universidades, essencial para aumentar a competitividade econômica do País. Por outro, cria cotas sociais e raciais, que no curto e no médio prazos tendem a baixar o nível dessas universidades, que já deixam a desejar em muitas áreas.
Introduzir cotas nas universidades públicas brasileiras como instrumento para compensar/corrigir discriminação racial ou social pode ser mais fácil e menos oneroso do que resolver o problema fundamental, que é tornar o ensino médio melhor, o que daria mais oportunidades aos estudantes de menor renda. Mas essa é uma falsa solução.
O que a experiência nacional e internacional da introdução de cotas nas universidades nos diz é que elas não garantem que os alunos cotistas tenham o desempenho esperado, encorajam a evasão e, em particular nas áreas mais competitivas (medicina, engenharia e direito), podem levar a uma redução da qualidade dos cursos. Além disso, estabelecem um novo tipo de discriminação: contra o branco pobre (em relação ao negro pobre) e contra o pobre (branco ou negro) cuja família economizou para mandar o filho à escola privada a fim de prepará-lo melhor para os vestibulares. Há um documento recente sobre Ações Afirmativas nas Universidades Brasileiras, preparado pela Academia de Ciências do Estado de São Paulo, que discute essas questões.
Outro problema é a gestão das universidades públicas, ameaçada pela escolha de reitores por eleições diretas. Universidades têm autonomia didática, científica e administrativa, como determina o artigo 207 da Constituição da República, mas não são soberanas, sendo fundamental que não percam de vista os interesses gerais da sociedade. A eleição direta de reitores pela comunidade universitária implica sério risco de tornar as universidades prisioneiras de demandas corporativas.
Essa é a razão por que os reitores são escolhidos pelos governadores dos Estados nas universidades estaduais e pela presidente da República no caso das federais, em listas preparadas pelos conselhos universitários, nos quais os professores titulares são a maioria e os alunos e funcionários estão amplamente representados. Introduzir eleições diretas cria também o não menor risco de as universidades deixarem de cumprir suas funções básicas: o ensino, a pesquisa e a prestação de serviços à sociedade.
* José Goldemberg é professor emérito da USP e foi reitor da mesma universidade. 

12 comentários:

Anônimo disse...

Sindicalistas sempre foram contra a meritocracia. A diferença é que antes eles fingiam que não eram contra. Melhor assim. Que assumam o quanto são retrógrados.

Doni França disse...

E ainda há que acredite que no Brasil a que falta para a educação é investir 10% do PIB.

Aqui tudo se resolve com dinheiro. Até a burrice.

Pedro Magalhães Batista disse...

Qual será o futuro de alunos formados por professores não subordinados a um sistema meritocrático, ou pior, que o desprezam?

O fracasso desse modelo é evidente quando observamos os que têm funcionado pelo mundo. Quanto a isso, um artigo interessante na The Economist dessa semana sobre os países que melhor ensinam seus jovens a pensar: http://www.economist.com/news/books-and-arts/21583609-only-few-countries-are-teaching-children-how-think-best-and-brightest.

Novamente sindicalistas caminham em sentido contrário ao desenvolvimento econômico e social, eliminando qualquer forma de estímulo direto à melhor qualificação e aos melhores resultados na educação dos jovens brasileiros.

Wagner Luiz disse...

Meritocracia DE VERDADE realmente é boa para a sociedade, mas me diga como esse modelo criado pelo estado do RJ é FORJADO!! É um tipo de meritocracia que por exemplo só bonifica quem reprovar pouco, mas em muitos colégios alunos não tem bagagem de conhecimento nenhum e muitos entregam provas em branco sem se esforçar, mesmo melhorando a qualidade das aulas?? AÍ VEM A QUESTÃO: Eu como professor vou ser punido se o aluno já vem sem CONHECIMENTO NUNHUM E NÃO QUER SE ESFORÇAR??

Paulo Roberto de Almeida disse...

Wagner Luiz,
Existem diversas formas de avaliação dos alunos que visam medir tb a eficiência do professor, mas é um fato que os alunos chegam, e continuam, extremamente despreparados para tudo, e gde parte não procura fazer esforço para aprender.
Estou consciente de tudo isso e por isso mesmo que continuo a dizer que a miséria educacional brasileira é enorme. O quadro é muito pior e a situação é muito mais trágica do que sequer ousamos imaginar.
Se e quando resolvermos consertar, isso é tarefa para15 anos pelo menos e isso se tomarmos consciência do que está errado e começarmos a corrigir, o que sequer está perto de acontecer, com todo esse paulofreirismo desenfreado dos companheiros.
Concordo: a tarefa é gigantesca e provavelment envolveria a criação de uma outra carreira de professores, alheia aos vícios atuais, funcionando em outras bases, imunes à ação delituosa das atuais máfias sindicais controladas pelos militantes da esquerda radical.

Luiz Espindola disse...

Meritocracia funciona muito bem onde há igualdade de acesso ou o mais próximo disso possível. Fora isso, é uma perpetuação do status quo...
O depoimento do profº José Goldemberg colocado nesse post é o que, na Filosofia, chama-se de "Apelo à Autoridade". Esse professor pode saber bastante na área de Física, mas ele não pode ficar dando pitaco em assuntos que não domina. Seria o mesmo que um Sociólogo querem discorrer sobre Matemática Aplicada. Deste modo, é inócua a perspectiva dele sobre o que esta sendo tratado.
Cordialmente.

Paulo Roberto de Almeida disse...

Luiz Espínola,
Acho que vc não leu devidamente o artigo de Goldemberg. Ele se refere a vários temas, mas basicamente a acesso universitário (e nisso ele contra a cotas, preferindo o mérito), e gestão, muito incompetente na maior parte das universidades, pois os reitores não são gestores e sim professores que atuam nas mesmas bases políticas dos profissionais da política, ou seja, enganação, demagogia, embromação...
Ele tem plenamente razão.
Paulo Roberto de Almeida

Luiz Espindola disse...

Olá, Paulo Roberto.
Li sim e entendi muito bem o que ele quis dizer - no início fala sobre política de "cooptação" política através de políticas afirmativas; na sequência, disserta bastante sobre meritocracia (historicizando de forma bem genérica, porém isso até dá pra passar batido pelo tamanho da proposta dele e seu suporte teórico-metodológico limitado); e, no finzinho, conclui comentando sobre gestão.
Na parte de gestão, não dou pitaco porque estudei pouco sobre isso - pretendo me aprofundar por reconhecer o como ponto importante. Agora, acerca de meritocracia e políticas positivas, nessas posso tecer alguma crítica mais fundamentada, porque já pesquisei um pouco mais.
Mas, prezando pela parcimônia, vou usar a lógica interna para discutir: você usou meu raciocínio da fala anterior para desconstruir meu raciocínio da fala anterior!
Ao dizer que "reitores não são gestores e sim professores", estamos construindo uma ideia comum: "cada um no seu quadrado"! Isso, claro, quando se trata de trabalhar discurso com fundamento.
Por isso, reafirmo que o Goldemberg deu somente um pitaco, o que é permitido: o senso comum taí pra isso mesmo.
Agora, o que não podemos é utilizar essa concepção para formar um argumento desnaturalizado, posto que não é.
Abraço

Paulo Roberto de Almeida disse...

Luiz Espindola,
Vou tentar ser mais claro.
As universidades brasileiras exibem um índice de produtividade baixíssimo, próximo de zero, dezenas de funcionários inúteis por classe, e professores pouco "atarefados", seja em aulas, seja em pesquisa. A dedicação integral é um mito e uma grande mentira.
E isso por que?
Porque os reitores são professores, e portanto coniventes com os seus pares e incapazes de cobrar produção, resultados, economia.
Eu sou por cobrança, por mérito, por produtividade. As universidades brasileiras são medíocres pelo compadrismo, pelas máfias sindicais (de professores e de funcionários), pelo ambiente anti-mercado, pelas mentalidades atrasadas que nela estão.
Isso tem de mudar. A melhor forma de mudar é cortar o financiamento e obrigar a se ter reitores-gestores, com metas para serem cumpridas. E fazer os professores trabalharem, os alunos também por sinal.
Paulo Roberto de Almeida

Luiz Espindola disse...

Prezado Paulo,
Entendi seus comentários em relação à gestão universitária que, segundo você, prejudica a produtividade, os resultados etc.
Apesar de entender de forma um pouco distinta - a visão mercadológica é presente nas universidades e faz surgir um excesso de produção de qualidade questionável e que nunca são revisitados -, concordo que deva haver na reitoria gestores capacitados.
Não obstante, isso não é o bastante. A insuficiência reside na seguinte questão: por que o mercado deve ser referência quando se trata de educação?
O reitor-gestor, no meu ponto de vista, ou deve ter suas origens na área de educação e ter especialização na área de gestão ou, quando não, o vice-reitor deve ser um economista nato.
O que quero dizer com isso. Compreendo que as bases epistemológicas das áreas do conhecimento (no exemplo aqui: pedagogia e economia) são distintas e sua seara de atuação deve ser bem definida. Com o objetivo principal de uma universidade? Educação. Então, as diretrizes devem ser pautas por concepções educacionais, com as ponderações (assessoramento) do especialista em economia ou gestão. O que não pode é um economista, a frente de uma reitoria, querer utilizar sua base para gerir o campo educacional. Quando isso acontece, distorções prejudiciais acontecem. A louvada, pelo professor Goldemberg (o do pitaco acima), meritocracia torna-se um câncer se não bem desenvolvida no âmbito educacional: no ensino básico, existe manipulação de números para receber os ganhos; no ensino superior, os Currículos Lattes se enchem de “produção improdutiva” para que as verbas continuem a correr pelos corredores universitários, oriundas dos órgãos de fomento à pesquisa.
Por fim, existe, ainda como reflexo positivista, uma hierarquia nas áreas de conhecimento, na qual as humanas são preteridas. Na prática, ninguém dá pitaco, com se fundamentado fosse, em uma obra de um engenheiro de qualquer área ou em um trabalho de física quântica – no primeiro caso, pode matar alguém e, no segundo, é muito distante do “pitaqueiro”. Entretanto, quando se trata de sociedade ou educação, qualquer um tem uma solução na ponta da língua, por se achar o assunto próximo ao “pitaqueiro”. Contudo, um olhar desnaturalizado já constrói uma complexidade que não se vislumbra na “ponta do iceberg”.
Essa hierarquização que gera muita incoerência: o que se mais vê encabeçando as secretarias de educação pelo Brasil são economistas ou administradores. Por que não vemos educadores ou sociólogos como secretários de fazenda?
Novamente, volto a minha ideia de que “cada um no seu quadrado”!
Desculpe-me pelo tamanho do texto!
Com respeito,
Luiz Espindola.

Luiz Espindola disse...

Prezado Paulo,
Entendi seus comentários em relação à gestão universitária que, segundo você, prejudica a produtividade, os resultados etc.
Apesar de entender de forma um pouco distinta - a visão mercadológica é presente nas universidades e faz surgir um excesso de produção de qualidade questionável e que nunca são revisitados -, concordo que deva haver na reitoria gestores capacitados.
Não obstante, isso não é o bastante. A insuficiência reside na seguinte questão: por que o mercado deve ser referência quando se trata de educação?
O reitor-gestor, no meu ponto de vista, ou deve ter suas origens na área de educação e ter especialização na área de gestão ou, quando não, o vice-reitor deve ser um economista nato.
O que quero dizer com isso. Compreendo que as bases epistemológicas das áreas do conhecimento (no exemplo aqui: pedagogia e economia) são distintas e sua seara de atuação deve ser bem definida. Com o objetivo principal de uma universidade? Educação. Então, as diretrizes devem ser pautas por concepções educacionais, com as ponderações (assessoramento) do especialista em economia ou gestão. O que não pode é um economista, a frente de uma reitoria, querer utilizar sua base para gerir o campo educacional. Quando isso acontece, distorções prejudiciais acontecem. A louvada, pelo professor Goldemberg (o do pitaco acima), meritocracia torna-se um câncer se não bem desenvolvida no âmbito educacional: no ensino básico, existe manipulação de números para receber os ganhos; no ensino superior, os Currículos Lattes se enchem de “produção improdutiva” para que as verbas continuem a correr pelos corredores universitários, oriundas dos órgãos de fomento à pesquisa.
Por fim, existe, ainda como reflexo positivista, uma hierarquia nas áreas de conhecimento, na qual as humanas são preteridas. Na prática, ninguém dá pitaco, com se fundamentado fosse, em uma obra de um engenheiro de qualquer área ou em um trabalho de física quântica – no primeiro caso, pode matar alguém e, no segundo, é muito distante do “pitaqueiro”. Entretanto, quando se trata de sociedade ou educação, qualquer um tem uma solução na ponta da língua, por se achar o assunto próximo ao “pitaqueiro”. Contudo, um olhar desnaturalizado já constrói uma complexidade que não se vislumbra na “ponta do iceberg”.
Essa hierarquização que gera muita incoerência: o que se mais vê encabeçando as secretarias de educação pelo Brasil são economistas ou administradores. Por que não vemos educadores ou sociólogos como secretários de fazenda?
Novamente, volto a minha ideia de que “cada um no seu quadrado”!
Desculpe-me pelo tamanho do texto!
Com respeito,
Luiz Espindola.

Anônimo disse...

Essa tática já foi implementa nos estados unidos e foi um verdadeiro fracasso.

http://www.sindicatoapase.org.br/Sessao/2011/07-2011/TextoSess%C3%A3o%20de%20Estudos%2029_07.pdf