quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A tragedia da educacao brasileira - Percival Puggina

Apenas transcrevendo, com alguns comentários, e julgo ser suficientemente eloquente...

A crise dos trabalhadores em educação
por Percival Puggina
Mídia Sem Máscara, 17 de janeiro de 2011

Houve um tempo, longo tempo, tempo que cruza os séculos, em que o professor era símbolo de autoridade no pequeno e gigantesco espaço da sala de aula. Note-se que autoridade é um atributo moralmente superior ao poder, mas, quando fosse necessário, a valiosa autoridade do professor, fundada no saber e na conduta, vinha respaldada por poder. Nas últimas quatro décadas, infelizmente, a educação brasileira foi atacada em dois flancos pela esquerda delirante. E tanto a autoridade quanto o valor econômico e social do trabalho dos professores, reconhecidos há milênios em todas as civilizações, desabaram fragorosamente em nosso país.

Por um dos flancos, fustigou-a aquilo que Nelson Rodrigues chamava de Poder Jovem, acolhido entre aplausos por pedagogos de meia tigela como expressão de libertação para a criatividade. Todo poder ao jovem! A maturidade tornou-se um mal e a imaturidade, um bem a ser preservado. Era imprescindível erradicar as formas negativas da pedagogia. Coisas como certo e errado, sim e não, correção com caneta vermelha, entre outras práticas, precisavam ser substituídas por vaporosas sutilezas que não contrariassem os pupilos. Afinal, eles podem ser portadores natos de uma nova e superior forma de saber. Guardo como pérola desse disparate a frase do vate sergipano que adoça com sua voz aveludada os julgamentos do Supremo Tribunal Federal. No caso da reserva Raposa Serra do Sol, ele, o ministro Ayres Britto, em reverência à sabedoria indígena, lascou, citando Paulo Freire: “Não existe saber maior ou menor; existem apenas saberes diferentes”. De fato, o veterano Marco Aurélio Mello e o garoto Dias Toffoli exemplificam saberes diferentes, quantitativamente iguais, não é ministro? E viva Paulo Freire.

Pessoalmente ainda estou à espera de que algum desses guris maleducados das universidades brasileiras, depois de tantos anos de sua completa libertação, apresentem alguma contribuição à ciência, à técnica e à cultura nacional. Ao contrário, o que se vê é o país ocupando o 93º lugar no componente educação, entre 169 pesquisados. E não me surpreenderei se encontrar por aí doutos pedagogos convencidos de que o mundo, por pura inveja, se recusa a cair de joelhos diante da qualidade muito peculiar e superior do saber construído por nossos jovens. De minha parte, vejo o sucesso sempre ao alcance dos que queimaram pestana sobre os livros, levaram a sério seus estudos ou cavoucaram com responsabilidade seus espaços na vida pública ou na iniciativa privada, mediante capacidade de renúncia ao bem atual com vistas ao investimento no bem futuro maior. Esses jovens agem no contrafluxo do deslizamento que descrevi, arquitetado por uma escola de viés marxista, que está levando três anos inteiros para alfabetizar uma criança, quando nos meus anos de curso primário se aprendia isso em seis meses de aula. A educação, caro leitor, conceitual e deliberadamente, deixou de lado seus objetivos essenciais e se voltou para formar cidadãos conscientes, politicamente engajados. Enquanto não chegam lá, os cidadãozinhos treinam sua cidadaniazinha desrespeitando e espancando os professores.

Pelo outro flanco, e no mesmo tom, os professores politicamente engajados, abdicantes de sua autoridade, assumiram-se como "trabalhadores em educação". O conselheiro tutelar, escolhido em pleito de baixíssimo comparecimento, por força de preceito contra o qual nenhuma voz se ergue com suficiência, exerce mais autoridade nas escolas do que os professores ou os diretores. Estes, a seu turno, são, também eles, eleitos num concurso de promessas e de simpatia, com participação e engajamento dos alunos. No Brasil, amigo leitor, aluno vota para diretor! Vota para reitor de universidade! E ninguém se escandaliza! Por que será que os praças não elegem os comandantes e os pacientes não escolhem os diretores dos hospitais e centros de saúde? Quando o poste passa a desaguar no cachorro e o aluno a meter o dedo na cara do professor, ainda há quem se surpreenda.

O Ministério da Educação está veiculando nestes dias um comercial com o objetivo de ampliar o interesse pela carreira do magistério. Mostra uma obviedade: os povos que melhor se desenvolvem atribuem a seus professores o principal mérito por esses bons resultados. É claro que nossos professores ganham muito pouco, mas os maiores problemas, nesse particular, estão na péssima preparação dos graduados para o magistério e na falta de recursos didáticos nas escolas. De outra parte, veja quais os países bem sucedidos em seus objetivos sociais, com mais elevado Índice de Desenvolvimento Humano, que se reportam prioritariamente a fundamentos marxistas nas salas de aula e na formação de seus educadores. Duvido que encontre algum. A crise dos trabalhadores em educação é uma responsabilidade deles mesmos e das ideias que abraçam. É responsabilidade deles mesmos, como professores dos professores nos cursos de Educação, como alunos desses cursos na recepção passiva de ferramentas de trabalho comprovadamente erradas e ineficientes, como reprodutores acríticos do mau conhecimento adquirido. É, também, uma decorrência de suas reivindicações equivocadas, da busca de uma autonomia para fazer o que bem entendem que só é menor do que o desejo dos alunos de se comportarem do mesmo modo. É uma consequência de seus engajamentos, do desmonte que produziram na própria autoridade e dos líderes que vêm escolhendo para os representar.

Mas só aos professores, o senhor diz isso? Não, digo-o com muito maior ênfase a eles porque são, de fato, como informa a propaganda do MEC, os principais responsáveis pelo desenvolvimento social de qualquer nação. Enquanto os professores se submeterem às diretrizes de quem, com um tranco ideológico e partidário, os derruba à condição de meros trabalhadores em educação; enquanto se deixarem levar pelas cartilhas da pedagogia dominante; enquanto conviverem passivamente com a destruição de sua autoridade; enquanto tomarem como inegociável planos de carreira que nivelam competentes e incompetentes; e enquanto não refugarem uma organização que transforma o acesso ao comando da Escola em concurso de coleguismo e simpatia, viverão uma crise sem fim.

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Comentários (3)
3 Ter, 18 de janeiro de 2011 18:10 Paulo Barreto
Sou professsor do Ensino Fundamental II. Quero dizer que concordo plenamente com o artido de Percival Puggina. Passei recentemente num concurso para a Secretaria Municipal de Educação e Cultura e já estou com vontade de me demitir. Após assumir, embora já desconfiasse do que me esperava, constatei o que todos já sabem: que a educação pública é uma grande farsa. As escolas não passam de sucursal do inferno, os alunos, em sua maioria, são subalfabetizados, e os professores, ao mesmo tempo são vítimas e agentes do modelo descrito do artigo. Mas, ninguem fala em lutar por mudanças no modelo vigente, prefere-se viver de questiúnculas de repartição a encarar realisticamente a situação.

2 Seg, 17 de janeiro de 2011 21:31 Agapito Costa
Mais um brilhante comentário, que infelizmente poucos irão tomar conhecimento. Porém nos leva a muitas perguntas: a quem interessa tudo isso?
Vejamos: política e religião quando exercidas por pessoas desonestas formam simetrias perfeitas. Proliferam onde há miséria e ignorância:
Dentro desta linha de raciocínio pergunta-se.
Na atual conjuntura em que se encontra o “Brasil”, qual o político que gostaria de governar o pais tendo uma população de um bom nível de cultural ?
Por que tanto interesse em desarmar a população ?
E o sinistro “PNDH-3”, por que foi articulado nas caladas da noite ?

1 Seg, 17 de janeiro de 2011 15:43 Eduardo
Eu acho que a queda do respeito e e do nivel de educação coincidiu com a invasão do magisterio por professores militantes esquerdistas que privilegiam a doutrinação politica em prejuizo a educação verdadeira.

Nesse caso acho que o mercado regiu de forma coerente, já que tais individuos não merecem nem respeito e nem remureação digna, e é exatamente isso que eles recebem, ou pelo menos a maioria deles, visto que existem muitos mega-salarios nesse meio.

2 comentários:

  1. Agente estaremos condenados a ficar falando assim como estou escrevendo agora???

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  2. Acho que pode ficar um pouco mais pior, meu caro Mario, muito mais pior, se me permitem a adequação a estes tempos de BBB e outras vulgaridades...
    Sou moderadamente pessimista em matéria de crescimento econômico no Brasil -- ou seja, ele virá, mas continuará medíocre -- mas sou absolutamente pessimista quanto ao futuro da (des)educação no Brasil, pois só vejo mediocridade galopante pela frente...
    Paulo Roberto de Almeida

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