sábado, 12 de março de 2011

Ivo viu a uva... e concluiu que era um abacaxi: diplomacia dos novos tempos

Consertando bobagens anteriores, se arrependendo da perda de oportunidades, reparando infantilidades partidárias e anti-americanismos estúpidos...
Enfim, sempre é tempo para estabelecer não uma outra direção, mas o simples bom-senso...
Paulo Roberto de Almeida

Como Dilma vê o mundo
Claudio Dantas Sequeira
Revista ISTOÉ, 12/03/2011

NOVO OLHAR
Dilma muda a maneira de ver o papel do Brasil no mundo
Em menos de três meses de governo, a política externa é a área em que a presidente Dilma Rousseff mais tem deixado a sua marca. Embora ainda seja cedo para apontar rupturas definitivas, várias posições tomadas indicam um olhar próprio de Dilma sobre o papel do Brasil no mundo. A ênfase na defesa dos direitos humanos, o abandono do antiamericanismo e a obsessão por compreender melhor a China caracterizam o novo governo, que também se mantém mais distante dos apelos “bolivaristas” da América Latina. A mudança já surpreende a comunidade internacional e tem até irritado alguns parceiros da gestão Lula. Na segunda-feira 7, um almoço oferecido pela embaixada brasileira em Genebra à dissidente iraniana Shirin Ebadi, prêmio Nobel da Paz de 2003, deixou furioso o governo de Mahmoud Ahmadinejad. O gesto foi interpretado como uma afronta. Teerã teme que o governo brasileiro mude seu voto na ONU e passe a condenar o regime dos aiatolás. “A presidente Dilma chegou à conclusão de que é incompatível termos uma política de direitos humanos dentro do País e outra diferente lá fora”, justifica um assessor do Planalto. Isso explica por que o Itamaraty não pensou duas vezes ao apoiar as sanções do Conselho de Segurança contra o governo do ditador líbio Muamar Kadafi, chamado de “companheiro e irmão” pelo ex-presidente.

Marco Aurélio Garcia, assessor internacional da Presidência, que também trabalhou para Lula, evita comparações. “É normal que a presidente, tendo sido vítima da repressão militar, dê mais destaque à questão dos direitos humanos”, afirma Garcia. Mas ressalta que o Brasil já havia participado ativamente da criação do Conselho de Direitos Humanos da ONU em 2006. Os afagos feitos por Lula a Ahmadinejad, no entanto, deixaram a impressão de que o Brasil seria cúmplice dos abusos contra a oposição naquele país e até simpatizante de seu programa nuclear. Essa postura acabou prejudicando a articulação brasileira por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. A saída, agora, segundo fontes diplomáticas, é marcar distância em relação ao Irã.

A área de direitos humanos não é a única a sofrer a intervenção pessoal de Dilma. A presidente já mandou o chanceler Antonio Patriota dizer em Washington que não haverá mais “componentes ideológicos” na relação com os EUA. A visita do presidente Barack Obama no dia 19 servirá para pôr fim ao antiamericanismo que caracterizou a gestão de Celso Amorim. “A relação ganhará um novo impulso com o encontro de Obama e Dilma”, diz Garcia. Além de intensificar o volume de comércio bilateral, os dois governos devem atuar juntos em terceiros países, especialmente em nações africanas. A aproximação, é claro, não significa alinhamento. Ninguém espera, por exemplo, que o Brasil se alie aos EUA contra a China na questão cambial. Para o Itamaraty, tudo o que se refere a barreiras comerciais seguirá sendo tratado exclusivamente no âmbito da OMC.

O maior desafio da política externa para Dilma chama-se China. Se por um lado o Brasil tem superávit de US$ 5 bilhões, a pauta de exportação ainda é concentrada em commodities. E, para mudar essa dinâmica, a presidente acha que é necessário mudar a relação de “balcão de negócios” para um diálogo político estratégico com a China. Para isso, a presidente, que visitará aquele país em abril, autorizou o aumento do número de diplomatas na embaixada brasileira em Pequim, dos atuais dez para 23, igualando-a aos níveis das representações em Buenos Aires e Washington. Será aberto um terceiro consulado, na região de Cantão, e haverá cursos de capacitação no Itamaraty. Como sinal dos novos tempos, o chanceler Patriota, que já serviu na China, voltou a tomar aulas particulares de mandarim, duas vezes por semana.

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