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quinta-feira, 9 de junho de 2011

Novas paranoias sul-americanas: questionamentos ao blogueiro...

Comentaristas, leitores, perguntadores em geral (e já tive também o mesmo tipo de questão entre meus alunos), toda a torcida de vários clubes brasileiros de futebol, 99,9% da população brasileira (e da Argentina também, ao que parece), tendo a frente o bravo pelotão de políticos de ocasião, de situação e provavelmente até de oposição, todos estes parecem manter pauras telúricas, medos latifundistas, temores territoriais e outras apreensões materiais quanto a um fato muito simples:

Estrangeiros vêm comprando terras, cada vez mais, em nossos países, na periferia, quero dizer, América Latina, África, esses lugares atrasados, que são geralmente atrasados porque justamente não desenvolveram sua economia a ponto de rivalizar com povos mais sortudos, ou talvez mais espertos, que hoje são prósperos e podem se dar ao luxo de comprar terras nessas paragens quase inóspitas.
Um pouco desses temores eu transmiti neste post:

Novas paranoias sul-americanas: estrangeiros compram terras (e os governos acham errado)

Alguns desses comentaristas e outros navegantes neste blog iconoclasta, me escrevem para perguntar se eu também não fico preocupado com duas coisas:

1) Será que não vamos perder soberania sobre nossas terras sagradas, será que os estrangeiros não vão abusar dessa situação de proprietários, será que eles não vão afetar nosso direitos de dispor livremente de nossas terras, que poderiam estar sendo direcionadas para utilizações que nós mesmos decidiríamos quais seriam: terras de plantação, áreas de preservação, sítios de lazer, reforma agrária para camponeses pobres, fazendas do agronegócio, parques de diversão tipo Disney World, enfim, qualquer coisa que decidamos soberanamente, nós, nacionais, e esses maravilhosos governos que nos representam? (Grande ponto de interrogação, ENORME)

2) Será que esses estrangeiros famintos -- aí pensamos naquela horda de chineses que precisam importar alimentos para não morrerem desnutridos, coitados -- não vão exportar tudo o que produzirem nessas terras, e subtrair assim preciosos alimentos de nossas boquinhas sequiosas por um bom feijão com arroz, uma galinha assada (e alimentada com milho nacional, claro), tomates fresquinhos e todas essas coisas que são tão abundantes atualmente em nossas mesas e que um dia poderão faltar por causa desse monopólio estrangeiro sobre terras escassas? Será ainda -- oh, que horror -- que esses estrangeiros não vão especular com essas terras, usá-las para esses jogos vis de mercados, provocando altas manipuladas dos preços das terras, apenas para lucrar às nossas custas? ((outro ENORME ponto de interrogação)

Tchan, tchan, tchan...

Com perdão pela teatralidade -- sempre quis ser romancista, mas nunca consegui, como vocês podem perceber -- é mais ou menos isso que pensam gregos e goianos a respeito da compra de terra por estrangeiros.
Por isso mesmo, nossos governos, sempre atentos a essas coisas de soberania territorial, se enrolam na bandeira e, farejando o perigo, já se preparam para proibir a compra de terras (em excesso, claro, um sitiozinho aqui e ali isso pode...) por estrangeiros não controláveis por nosso Estado sempre tão atento, sempre com vocação a Big Brother.

Seria isso, ou será que exagerei?

Pois bem, vocês já devem saber o que eu penso e acho que não preciso me alongar muito.

Gostaria apenas que alguém me apresentasse argumentos credíveis para justificar a perda de soberania ou os prejuízos econômicos.
Eu, sinceramente, não consigo perceber nenhum, e confesso que tenho pouca paciência com esses soberanismos ridículos em torno de terras que são ativos como quaisquer outros.
Ou seja, se estrangeiros vierem ao Brasil para tirar do buraco esses falidos clubes de futebol que todos fraudaram a Previdência, que fazem evasão fiscal todos os dias, que mantêm caixa dois para negociar no Caribe o repasse de jogadores, se são esses mafiosos estrangeiros que vêm ao Brasil, esses podem, mas os que vêm produzir alimentos para exportar, aí não pode???!!!

Não gostaria de ofender ninguém, mas eu acho tudo isso um grave sinal de debilidade mental: todos os governos, em qualquer país do mundo, podem, se desejarem, expropriar qualquer coisa em nome do interesse público, desde que atendam regras de indenização geralmente fixadas em leis e até na Constituição (para aqueles países mais prolixos como o nosso).

Eu não consigo perceber, depois, em que uma empresa agrícola trabalhando exclusivamente para a exportação possa representar, de alguma forma, uma ameaça para o país, para sua segurança alimentar, para seu abastecimento interno, sinceramente não consigo imaginar uma coisa dessas. É que não consigo imaginar um país tão estúpido que deixe de alimentar o seu próprio povo, se existe um mercado para isso, se empresários são livres para investirem no que quiserem, para produzir alimentos, ou até para reservar as terras para reservas privadas de preservação ambiental. Quer dizer que se eu quiser comprar 10 milhões de hectares de terras para entregá-las de volta à natureza, eu não posso? Serei proibido de ser um preservacionista?
Ou se eu quiser, como nacional, vender todos os meus sacos de milho para os chineses eu vou ser proibido de fazê-lo?

Não consigo imaginar um país tão estúpido a ponto de criar essas regras estúpidas.
Sinto muito soberanistas e catastrofistas econômicos, mas eu não consigo achar lógica, fundamentação jurídica, motivos econômicos para proibir a compra de terra por estrangeiros.
Só agem assim os muito estúpidos, aqueles que são contra o progresso econômico e a prosperidade social, aqueles tão energúmenos a ponto de acharem que os estrangeiros vêm aqui para complotar contra a nossa soberania e nos prejudicar economicamente, fazendo mal a si próprios, aliás...

Não gostaria de ter de voltar a questões tão estúpidas quanto essas...
Paulo Roberto de Almeida

6 comentários:

Thiago disse...

Também não entendo p argumento desse povo. E o mesmo que acontece com o petroleo.

Felipe disse...

Parabéns Senhor Paulo Roberto, gostei da satirização, não tanto da ridicularização. Consigo entender bem o seu ponto de vista e o por quê de afirmar categoricamente que não devemos nos preocupar em vender terras para estrangeiros pois não há supostos perigos diretos. Entendo também que devemos evitar sermos tão estadistas que talvez acabemos facistas. Mas sabemos bem o "treinamento" e a dificuldade que a China oferece para deixar seus chineses morarem em outras Soberanias, sabemos também o quanto eles receiam as vendas de seus próprios territórios, sendo eles os que mais comprar territórios. Entendo que o Senhor acha Estupidez essa cota que a Argentina quer estabelecer para a compra de terras, eu não acho tão estupido assim. Mas o debate é sempre saudável, cada um de acordo com suas opiniões é exatamente por isso que cada pais debate esses temas segundo o seu interesse.
De qualquer modo entendo a sua opinião, concordo também que não devemos ser tão radicais, fascistas e conspiracionistas. Parabéns pelos textos.

(Gostaria humildemente saber se o Senhor tem algum artigo sobre Direitos Humanos e Guantanamo, acho relevante essa discussão em tempos que os EUA ditos guardiães dos direitos humanos, mantenham com fins dissuasorios uma horrorosa nova Bastilha, procurei algo no blog relacionado, mas não encontrei).

Obrigado!

Paulo Roberto de Almeida disse...

Felipe,
Autorizar ou nao estrangeiros a comprar terras em seu pais nao tem muito a ver com o fascismo e sim o nacionalismo, rastaquera, rustico, da pior especie, que alias era uma caracteristica do fascismo também.
Que chineses ou argentinos queiram proibir essa compra, não me obriga a praticar as mesmas bobagens, na verdade uma estupidez economica. Se os chineses permitissem isso, teriam hoje uma agricultura muito mais desenvolvida e capitalizada, não a agricultura mediocre, de baixissima produtividade que tem hoje, incapaz de alimentar seu próprio povo e por isso mesmo obrigando-os a recorrer a abastecimento estrangeiro, via comercial ou via posse de terras em outros paises. Eles poderiam dobrar a producao permitindo investimentos estrangeiros em seu pais.
Ou seja, nao é porque eles são estúpidos (nessa matéria, nao em desenvolvimento industrial) que nós precisamos segui-los nessa estupidez.
Da mesma forma, os investimentos estrangeiros em terras argentinas sao para produzir a uma tecnologia superior e ser mais rentavel do que a simples compra comercial.
Ou seja, os argentinos estao sendo duplamente estupidos.
Que nos queiramos ser triplamente estupidos, isso eu realmente nao compreendo, mas se explica pelo fabuloso atraso mental que reina no Brasil.
Repito; isso nao tem a ver com fascimo e sim com burrice economica...

Nao tenho nada sobre Guantanamo e mesmo que tivesse nao seria no sentido que seu professor quer, para provar que os americanos tambem sao fascistas, rascistas e desrespeitadores dos DH.
Paulo Roberto de Almeida

Felipe disse...

Muito obrigado pela consideração e atenção Senhor Roberto, saio das leituras desse artigo com uma visão de mundo um pouco mais diferente, graças ao Senhor e a esse debate, estou verdadeiramente grato.
AH! E sobre Guantánamo o pedido não era para professor algum, mas leitura própria, é que andei discutindo com um amigo sobre a questão e ele me incutiu essa duvida: Será que Guantánamo seria de fato a nova bastilha? Dai, como sou um apreciador dos seus textos e visões do mundo, pensei em perguntar para saber se o Senhor não tem nada publicado com uma visão nova e particular sua de ver, de qualquer forma obrigado pela atenção.
Quero, por ultimo, parabenizá-lo, é que estou lendo Maquiavel e em conjunto lendo a sua re-leitura dele em Moderno Príncipe, interessante e criativo, estou conseguindo ligar o atual com o antigo, provando que os ensinamentos, como o Senhor mesmo disse "hiper-realistas" continuam em voga, Então fica aqui os meus parabéns e pedidos de desculpas, se ocasionei qualquer aborrecimento e/ou estupidez.

Felipe disse...

Muito obrigado pela consideração e atenção Senhor Roberto, saio das leituras desse artigo com uma visão de mundo um pouco mais diferente, graças ao Senhor e a esse debate, estou verdadeiramente grato.
AH! E sobre Guantánamo o pedido não era para professor algum, mas leitura própria, é que andei discutindo com um amigo sobre a questão e ele me incutiu essa duvida: Será que Guantánamo seria de fato a nova bastilha? Dai, como sou um apreciador dos seus textos e visões do mundo, pensei em perguntar para saber se o Senhor não tem nada publicado com uma visão nova e particular sua de ver, de qualquer forma obrigado pela atenção.
Quero, por ultimo, parabenizá-lo, é que estou lendo Maquiavel e em conjunto lendo a sua re-leitura dele em Moderno Príncipe, interessante e criativo, estou conseguindo ligar o atual com o antigo, provando que os ensinamentos, como o Senhor mesmo disse "hiper-realistas" continuam em voga, Então fica aqui os meus parabéns e pedidos de desculpas, se ocasionei qualquer aborrecimento e/ou estupidez.

Paulo Roberto de Almeida disse...

Felipe,
Você não me aborrece e não disse estupidez, apenas perguntou, e eu tentei responder. Desculpe se fui rude.
Guantanamo é o cavalo de batalha dos anti-imperialistas atuais, geralmente professores de humanidades...
Não sei por que eles não protestam contra o Gulag da Coreia do Norte, que já matou centenas de milhares de pessoas de fome...
Paulo Roberto de Almeida