segunda-feira, 15 de abril de 2013

Brasil: a crise fiscal demora mais um pouco, mas a cambial bate 'a porta...

Crise fiscal pode ser contornada, provisoriamente, pelos mesmos expedientes de que já vem se utilizando o governo: arrocho fiscal cada vez mais forte (ou seja, extração de recursos à força dos contribuintes, cidadãos privados ou empresas) e maquiagem das contas públicas, pensando que somos todos idiotas e ninguém percebe que o governo está manipulando fluxos de caixa de estatais e emissões do Tesouro. Enfim, crise fiscal é algo lento a ser construído, e depende quase inteiramente da capacidade (ou incapacidade, no caso) do governo continuar manipulando receitas públicas e extração privada.
Mas, déficit de transações correntes não pode ser manipulado, pelo menos não na proporção requerida pelo governo. Ele ainda pode compensar déficit nesse setor do Balanço de Pagamentos com recurso a emissões de bônus globais, mas chega um momento que o mercado pede um spread maior, e aí a coisa fica complicada.
Em qualquer hipótese, déficit na balança comercial não depende do governo e sim dos preços internacionais e da capacidade das empresas privadas em colocar seus produtos no exterior. E isso tem se revelado difícil. Balança de serviços, por sua vez, é sempre deficitária. Se os investimentos diretos e os fluxos financeiros não compensarem a perda, a situação da BP vai para o brejo, e aí não tem como enganar os estrangeiros, como o governo pretende nos enganar.
Quando os nacionais, primeiro, e os estrangeiros, depois, percebem as dificuldades, começa a aposta contra a moeda e a fuga de capitais: o déficit de transações correntes, portanto, passa repentinamente de 2 ou 3% do PIB para 4, 5, e aí a coisa dispara...
Só os EUA podem aguentar um déficit orçamentário de 7% do PIB e um déficit de transações correntes idem. Países como o Brasil, quando chegam a 5% há começam a ser penalizados pelo mercado, esse inimigo tão cruel dos espíritos ingênuos, dos primitivos econômicos e de outros alucinados alternativos.
Enfim, tudo isso para dizer que a situação do Brasil pode se agravar rapidamente.
Os leitores deste blog não poderão dizer que não foram avisados...
Paulo Roberto de Almeida

Maus sinais para 2013

14 de abril de 2013 | 2h 13
Editorial O Estado de S.Paulo
 
O mau estado da economia foi confirmado por mais um indicador nessa sexta-feira. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado uma prévia do PIB divulgado a cada três meses pelo IBGE, caiu 0,52% de janeiro para fevereiro. Desde 2005 foi o pior resultado nesse período. Foi também a maior variação negativa desde a queda de 0,84% em setembro do ano passado. O nível de atividade foi 1,88% mais alto que o de um ano antes. Em 12 meses, no entanto, o crescimento do índice, ajustado pelas condições sazonais, ficou em 0,83%, inferior, portanto, ao do PIB de janeiro a dezembro de 2012 (0,9%). Tomando-se o IBC-Br como referência para previsão, fica muito difícil acreditar em expansão econômica superior a 3% neste ano, embora a base de comparação seja baixa.
Por enquanto, só os dados da agricultura apontam algum resultado positivo em 2013. A safra de grãos e oleaginosas, calculada em até 184,04 milhões de toneladas, poderá ser 10,8% maior que a anterior. Um crescimento parecido, 11%, é estimado para a produção de cana pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Para o café, o último levantamento indica uma redução entre 1,3% e 7,6% em relação à safra anterior, mas essa diminuição, esperada a cada dois anos, deve ser insuficiente para neutralizar o desempenho de outros segmentos da produção rural.
O crescimento industrial deve continuar pouco expressivo. O PIB do setor deve aumentar 2,6%, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), mas os números conhecidos até agora são pouco entusiasmantes. Segundo o IBGE, a produção industrial diminuiu 2,5% em fevereiro, depois de ter crescido 2,6% em janeiro.
A indústria de transformação continua com dificuldades para crescer, segundo o último relatório de indicadores distribuído pela CNI. O setor, de acordo com o boletim, ainda não encontrou sua trajetória de crescimento, como apontam as oscilações dos indicadores de desempenho. O faturamento real caiu 3,7% em fevereiro. Já havia caído em janeiro. O uso da capacidade instalada recuou 1,9 ponto porcentual e isso praticamente anulou o avanço registrado no mês anterior.
Os estoques estão ajustados e isso amplia o potencial de recuperação, disse o diretor de políticas e estratégia da CNI, José Augusto Fernandes. A tendência é de recuperação, segundo ele, mas os custos industriais já cresceram 6,3% neste ano. O custo salarial, um dos mais importantes, continua em rápida elevação e no primeiro bimestre foi 2,2% superior ao de janeiro-fevereiro de 2012, descontada a inflação. Em fevereiro, a massa de salários foi 2,8% maior que a de um ano antes. No mês, o número de horas de trabalho foi 0,9% menor que em fevereiro de 2012.
Custos maiores com menos horas de trabalho e menor uso da capacidade instalada são incompatíveis com ganhos de eficiência e aumento da produção. O desempenho da indústria é fortemente vinculado ao comércio internacional. A produção industrial brasileira tem perdido espaço tanto no exterior quanto no mercado interno, por problemas bem conhecidos de competitividade. A escassez de mão de obra qualificada é um desses problemas e será "marca do mercado de trabalho em 2013", segundo o último informe conjuntural da CNI.
Essa escassez foi um dos motivos da retenção de pessoal em 2012, quando a produção do setor diminuiu 0,8% e a massa real de salários aumentou 5%. Com a perspectiva de reativação econômica em 2013, quem demitisse se arriscaria a disputar mão de obra num mercado mais apertado. O baixo desemprego em 2012, alardeado pela presidente Dilma Rousseff como sinal de sucesso de suas políticas, é explicável principalmente pelo fracasso da política educacional e pelo despreparo da maior parte dos trabalhadores. Não se forma capital humano com demagogia e populismo, as grandes marcas dos governos petistas no setor educacional.
Competitividade é a condição indispensável para conquistar espaços no mercado global e para manter contra os concorrentes o espaço conquistado. Não há, no comércio internacional, sistemas de cotas nem critérios sociais para atenuar a dureza da disputa. Se continuar incapaz de entender esses dados simples e evidentes, o governo brasileiro levará o País a um desastre comercial e cambial.

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