Um balanço sobre tão controvertida personagem nunca é final, pois a história desse período ainda se ressente de interpretações políticas para um e outro lado, mas o artigo ressalva justamente, o lado contraditório, muito pouco consensual, da maior parte das ações e iniciativas da "dama de ferro".
Paulo Roberto de Almeida
Um balanço final
O Globo, 24 de abril de 2013
O enterro de Margaret Thatcher,realizado na semana passada em Londres com toda pompa e circunstância, simbolizou o fim de uma batalha pelo futuro da Inglaterra.Ela foi a grande vencedora da luta pela modernização do país.Os perdedores foram os dogmáticos do velho Partido Trabalhista, que tudo pretenderam socializar e que, por pouco, não transformaram a Grã Bretanha num país de terceiro nível. Thatcher foi sempre implacável, por vezes mesmo cruel com os que lhe se opunham, fossem eles os generais argentinos, os mineiros galeses ou os burocratas das grandes empresas estatais. Sua força de convicção conduzia a uma visão maniqueista do mundo e uma ausência de sensibilidade social.Por isso, é muito difícil amá-la, como se pode amar Kennedy, Juscelino ou Churchill.Mas, a grande maioria de simpatizantes no desfile do féretro pelas ruas de Londres demonstrou que a sociedade britânica considerou Margaret Thatcher merecedora de respeito como uma grande líder.
Na Europa dos anos oitenta, após um período de lenta agonia,o marxismo e seu primo-irmão, o socialismo em todas as suas variantes, chegaram ao colapso. A União Soviética naufragou e os países do Leste europeu sacudiram um jugo de quarenta e cinco anos.Pelo mundo afora, todos os partidos comunistas que haviam amarrado sua sorte a Moscou foram liquidados.Da mesma forma, o socialismo fabiano que havia inspirado o Partido Trabalhista britânico chegou ao ponto de impasse completo, depois de tentar estatizar todas as forças produtivas da nação.Na década de oitenta, todas estas utopias se desvanceram deixando para trás um rastro enorme de sacrifícios inúteis e de sangue.
A virada foi um movimento das diversas sociedades europeias em busca de luz, uma revolta espontânea como ocorreu na Hungria em 1989,por exemplo, ou na derrubada do vergonhoso muro de Berlim. Margaret Thatcher e outros grandes líderes europeus como Helmut Kohl e Vaclav Havel, para citar apenas os mais conhecidos, foram os farois que deram norte às profundas tendências libertárias que sopravam na Europa dessa época. Esta é a melhor imagem que vai perdurar da filha do pequeno comerciante inglês que se tornou a primeira mulher chefe do governo britânico.
http://www.foreignaffairs.com/articles/139154/brendan-simms/how-thatcher-saved-britain-and-lost-europe
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