Modismo? Conjunturalismo? Idiotismo? Falta do que dizer?
A jornalista parece muito mal informada, e totalmente perdida. Sem saber o que dizer, ela inventa que Saboia "era de esquerda", apenas porque trabalhou com Celso Amorim, que era e é de esquerda, tanto que se filou ao PT, caso único na história do Itamaraty.
Não lhe ocorre que diplomatas profissionais exercem suas funções profissionalmente, sem precisar se filiar a qualquer corrente ideológica ou partidária. Menos os "políticos", claro, o que não era o caso de Saboia.
A comparação com Snowden, ou com Assange, é totalmente estapafúrdia, típica de um cérebro desmiolado.
"Queridinho da direita e da oposição", é outra afirmação completamente sem sentido, que ela não imputa a Saboia, mas à oposição, e a essa coisa inexistente no Brasil, que se chama Direita.
Alguém já encontrou a Dona Direita por aí, fazendo campanha?
Se eu quiser falar com a Dona Direita, eu telefono para quem?
Se eu quiser falar com a Dona Direita, eu telefono para quem?
Nisso resultam esses cursos de jornalismo e essa reserva de mercado idiota: vários idiotas acabam se tornando jornalistas.
Paulo Roberto de Almeida
O nosso Edward Snowden
Patrícia Campos Mello
Folha de S.Paulo, 28/08/2013
É irônico que Eduardo Saboia vá se transformar em queridinho da direita e da oposição, com direito a loas dos presidenciáveis Aécio Neves e Eduardo Campos.Na página de apoio a Saboia no Facebook, há uma multidão de pessoas criticando o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, e a política externa "comunista" ou "terceiro-mundista" dos presidentes Lula e Dilma.
Saboia era de esquerda. Trabalhou cinco anos como assessor direto do então chanceler Celso Amorim. Era muito próximo do embaixador na Bolívia, Marcel Biato, que foi braço direito de Marco Aurélio Garcia.
Não se trata de ser de oposição ou criticar a política externa brasileira.
As ressalvas de Saboia eram específicas em relação ao tratamento que estava sendo dado a Roger Pinto e à atuação do Brasil com a Bolívia.
"A ideologia do senador não estava em consideração, foi uma ação humanitária, ele estava correndo perigo de vida", disse-me o diplomata, da última vez que conversamos. Ele votou na presidente Dilma.
"Não se trata de um tapa contra a política externa brasileira."
Saboia cometeu, sim, uma insubordinação.
Mas o contexto humanitário justifica essa insubordinação.
O senador não comia há vários dias e estava muito deprimido. O tal grupo de trabalho tinha como função "empurrar com a barriga"uma situação que já durava 15 meses.
A situação do senador era inadmissível. O governo de Evo Morales se recusou a dar salvo-conduto para o senador para que ele pudesse ir para o Brasil em segurança, fato inconcebível. Até ditaduras militares concediam salvo-conduto. Durante meses, Evo usou os torcedores corintianos como moeda de troca (os torcedores, aliás, foram libertados por meio da negociação de Saboia).
Nenhuma realpolitik do governo brasileiro com seus vizinhos e parceiros comerciais do sul justifica essa situação.
Eduardo Saboia é o nosso Edward Snowden. Ele sabia das consequências que sua insubordinação traria, mas mesmo assim seguiu em frente, fazendo a coisa certa.
Por que é que a Unasul foi célere ao condenar a recusa do Reino Unido de dar salvo-conduto a Julian Assange, o fundador do Wikileaks asilado na embaixado do Equador em Londres?
Por que é que o Mercosul afirmou em documento, assinado na cúpula de julho, que os Estados não podem "impedir a implementação" do direito de asilo "por qualquer meio" - referindo-se a Edward Snowden?
Em que Roger Pinto é diferente?
Ele é acusado de crimes comuns, podem dizer.
Ora, Assange também é acusado, inclusive de estupro.
E Snowden também será, por violar confidencialidade.
De mais a mais, há cerca de 100 asilados políticos bolivianos no Brasil, todos políticos de oposição e familiares vindos desde que Evo assumiu --a maioria está cheia de processos e afirma que o governo de Evo usa o judiciário como instrumento de perseguição política.
O fato é que Pinto faz oposição a Evo, e o Brasil não quer "fazer marola" com a Bolívia. A Bolívia que não hesita em fazer marola com o Brasil --vide a revista do avião do ministro Celso Amorim, a expropriação das refinarias da Petrobras na Bolívia em 2006, etc. etc. A lista é longa.
Patrícia Campos Mello é repórter especial da Folha e escreve para o site, às sextas, sobre política e economia internacional. Foi correspondente em Washington durante quatro anos, onde cobriu a eleição do presidente Barack Obama, a crise financeira e a guerra do Afeganistão, acompanhando as tropas americanas. Em Nova York, cobriu os atentados de 11 de Setembro. Formou-se em Jornalismo na Universidade de São Paulo e tem mestrado em Economia e Jornalismo pela New York University. É autora dos livros "O Mundo Tem Medo da China" (Mostarda, 2005) e "Índia - da Miséria à Potência" (Planeta, 2008).
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