Um jovem na
Casa Branca contra a tortura na região
Assessor de Carter que pressionou por aberturas na
América Latina foi vítima de um câncer; ele estava afastado do poder
DENISE CHRISPIM MARIN - O Estado de S.Paulo, 12/01/2014
Em uma época crítica para o Brasil e outros países latino-americanos
submetidos a ditaduras, o final dos anos 70, os EUA mudaram sua política
exterior para pressionar essas nações a abrirem seus regimes e a banir as
prisões e as torturas. Essa guinada foi conduzida pelo presidente Jimmy Carter
e teve como operador o jovem cientista político Robert Pastor, então
conselheiro de Segurança Nacional para América Latina e Caribe. No dia 8,
Pastor morreu em Washington, aos 66 anos, vítima de câncer.
Pastor preparou a emblemática visita de Carter ao Brasil, entre os dias
29 e 31 de março de 1978, na qual presidente americano defendeu os
"princípios de Justiça econômica e de direitos humanos". O banquete
no Itamaraty foi limado do programa oficial, a pedido da Casa Branca, para
evitar seu discurso ao lado do presidente Ernesto Geisel.
Geisel advertiu o líder americano que seu governo não aceitava
interferência externa nesse tema. No ano anterior, o general rompera um acordo
de cooperação militar com os EUA em razão das pressões do Congresso americano
contra abusos. A oposição de Carter ao acordo nuclear Brasil-Alemanha agregava
tensão à relação entre Brasília e Washington.
Com a ajuda de Fernando Henrique Cardoso, Pastor organizou o encontro de
Carter com setores críticos ao regime militar - os arcebispos dom Paulo
Evaristo Arms e dom Eugênio Salles, o diretor do Estado, Julio de Mesquita
Neto, o empresário José Mindlin, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil,
Raymundo Faoro. A reunião deu-se no Rio Janeiro em 31 de março, quando o
governo comemorava 14 anos do golpe de Estado de 1964. Julio de Mesquita
mencionou a Carter a "falta de garantia para o exercício da liberdade de
imprensa".
A amizade de Pastor com FHC começara em 1977, quando o convidou para
visitar a Casa Branca. Na ocasião, descobriu que o futuro presidente brasileiro
não podia ingressar nos EUA sem obter antes um visto especial, em razão de sua
oposição ao regime militar brasileiro. Pastor pediu ao Departamento de Estado
para derrubar essa exigência. Findo o governo Carter, em 1981, Pastor voltou a
dedicar-se à Ciência Política. No Centro Carter, organizou e comandou o
programa de monitoramento de eleições.
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