Mas, as eventuais falhas na qualidade do material produzido nos últimos tempos não têm a ver, exatamente, com deficiências de serviço da própria institutição, e sim com as novas condições de trabalho, que impõem certas regras bizarras que não costumam, ou não costumavam fazer parte do menu habitual da Casa. Certas coisas só estando dentro para perceber, mas ainda assim seria preciso saber de onde partiram as ordens para fazer, não fazer, deixar de fazer, fazer outra coisa, inverter os processos, alterar procedimentos, deixar coisas sem registro escrito, tratar de certos assuntos por telefones ou mensagens eletrônicas à socapa, apagar os traços, enfim, tem todo um mundo que passa longe de nossa vã filosofia...
Paulo Roberto de Almeida
Diferença de postura
Blog do Mansueto Almeida
21 de julho de 2014
Nos últimos sete dias, o presidente dos EUA, Barak Obama, convocou entrevista coletiva para falar do ataque de terroristas ao voo MH17 na Ucrânia e sobre a crise entre Israel e Palestinos na faixa de Gaza.
Independentemente de concordamos ou não com aspectos da política de defesa e comercial dos EUA, o país tem um papel muito claro na defesa de suas posições e se alia com países com tradição democrática, apesar de o histórico condenável dos EUA no apoio de governos ditatoriais no passado, em especial, na América Latina.
No caso do Brasil, não vejo clareza na nossa política externa. O nosso problema parece ser pelo menos quatro. Primeiro, tem-se a nítida impressão que o país luta por um assento no Conselho de Segurança na ONU sem saber muito o que quer defender. O Brasil tem sido um defensor intransigente da democracia na América Latina? O país tem se destacado no âmbito mundial na defesa das minorias? Nos últimos anos, o governo brasileiro tem tido uma posição dúbia em relação a violação de direitos humanos na América Latina e o mesmo em relação aos grandes conflitos mundiais.
Segundo, o Brasil tem um corpo diplomático de excelente formação, o Itamaraty, instituição do Estado e do serviço público brasileiro que sempre foi respeitado pela sua qualidade técnica, desde a negociação de acordos internacionais até a solução do conflitos militares, como aquele que opunha Peru e Equador há décadas e que foi solucionado com a assinatura do Acordo Global e Definitivo de Paz, no Palácio Itamaraty, em Brasília, em 26 de outubro de 1998. Mas, nos últimos anos, há uma percepção de leigos e de diplomatas aposentados que o Palácio do Planalto passou a ter um consultor que, muitas vezes, parecer ser uma voz mais ativa do que o próprio Itamaraty na definição estratégica da política externa do país. Essa percepção pode ser equivocada, mas existe.
Terceiro, a atuação recente do Brasil na América Latina tem sido marcado por um atuação que parece muito mais ideológica do que voltada para defesa dos interesses do país. Há abundância de exemplos: a suspensão do Paraguai do Mercosul, a forma do ingresso da Venezuela no bloco, a ajuda financeira a Cuba, o tratamento dado à questão do Senador boliviano exilado na embaixada em La Paz e a posição dúbia brasileira em relação à crise política na Venezuela. De acordo com o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), presidente da comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal: “…o governo brasileiro está fazendo uma opção pelo que há de mais atrasado e populista”. (clique aqui para ler a entrevista completa do senador a revista Veja).
Quarto e último ponto, tenho uma grande esperança que os esforços do Brasil em construir uma agenda comum com os demais países do BRICS tenha sucesso e que a criação do Novo Banco de Desenvolvimento tenha algum êxito. Sou cético quanto a isso e, no caso dos BRICS, não vejo o Brasil tomando à frente na defesa intransigente da democracia, direitos humanos e, no caso mais recente, condenação das ações da Rússia na Ucrânia.
Enquanto o presidente dos EUA condenava de forma clara o papel omisso da Rússia no episódio que levou à queda do voo MH17 na Ucrânia, a nossa presidenta fez uma declaração infeliz reproduzida nos jornais deste final de semana e desta segunda-feira:
Tem um segmento da imprensa dizendo que este avião… que foi derrubado estava na rota da volta do avião do presidente Putin. Coincidia com o horário e com o percurso. Então, que o míssil poderia ser dirigido ao avião do presidente Putin.
Por onde começar? O “segmento da imprensa” era a mídia russa que afirma também que os corpos poderiam estar lá há meses e a Otan poderia ter derrubado o Boeing para testar lealdades.
O que leva a presidente de 200 milhões de brasileiros a embarcar nesta canoa furada de propaganda? E por que, enquanto escrevo, três dias depois da tragédia, em meio à indignação do mundo civilizado, a líder da sétima economia do mundo não se sente compelida a expressar luto pelo massacre de 298 civis inocentes? Esqueçamos, por um momento, a estadista. A avó do Gabriel não tem ganas de dizer algo sobre as 80 crianças mortas no voo MH17” (ver Lúcia Guimarães, o meridiano do MH17 no Estado de São Paulo).
A impressão que tenho da política externa brasileira é que ainda há uma ênfase excessiva no discurso anti-americano dos tempos da guerra fria e uma excessiva leniência com atitudes não democráticas de governos Latino Americanos ou de alguns dos nossos aliados dos BRICS.
Vamos torcer para que o Itamaraty volte a ser mais relevante no desenho e na condução da nossa política externa e que o nosso empenho nas alianças com países em desenvolvimento dependa cada vez menos de questões ideológicas das afinidades do partido no poder.
(Mansueto Almeida)
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